Técnicas de pós-colheita e expansão da cultura da manga no Estado de São Paulo
TÉCNICAS DE PÓS-COLHEITA E EXPANSÃO DA CULTURA DA MANGA NO ESTADO DE SÃO PAULO1
INTRODUÇÃO
A manga (Mangífera indíca),espécie originária da Ásia, atualmente é produzida
em mais de 100 países. A maior parte é produzida em países em desenvolvimento,
como Índia, Paquistão, México, Brasil e China (Pizzol et al,1998).
No período de 1995/99, as exportações mundiais de manga cresceram a uma taxa
média de 8% ao ano. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação FAO, deverá ocorrer um aumento de 53% na demanda
mundial por manga, atingindo 459 mil toneladas de fruta importada em 2005
(Guedes & Vilela, 1999).
América do Norte, Europa, países do Extremo Oriente e Oriente Médio destacamse
com maiores taxas de crescimento de demanda pela manga. O mercado europeu, por
não fazer exigências como Estados Unidos e Japão, é mais acessível e também
mais disputado.
A produção de manga no Brasil apresenta grande potencial de crescimento para
exportação. Ela tem mostrado competitividade tanto em termos de preços
(especialmente depois da desvalorização cambial de 1999), como em termos de
qualidade. A utilização de técnicas de indução floral e de póscolheita tem
permitido explorar brechas de mercado, no momento em que se reduz a oferta dos
países concorrentes por causa da entressafra.
De acordo com Pizzol et al. (1998), em 1995, a manga representou 20% do volume
total de frutas exportadas pelo Brasil, perdendo apenas para a laranja. 0
crescimento maior verifica-se nos pomares formados para explorar o mercado
externo. Das áreas irrigadas do Vale do São Francisco, já saem quase 10% da
produção nacional. Os Estados Unidos e a Europa absorvem mais de 30% da
produção de manga irrigada do Vale do São Francisco 1.
A Tabela_1 mostra a evolução do volume exportado de manga pelo Brasil. Os dados
indicam um crescimento substantivo na década de 90, da ordem de 27% ao ano. Em
termos de valor, as exportações brasileiras de frutas na década de 90 cresceram
cerca de 10% ao ano.
A manga brasileira é direcionada principalmente para o mercado europeu e
norteamericano. As variedades preferidas possuem coloração vermelha e
brilhante, com fibras curtas e peso entre 250 e 600 g por unidade, para o
mercado dos EUA, e de 250 a 750 g por unidade para o mercado europeu (Pizzol et
al., 1998).
Em 2000, os Países Baixos foram responsáveis por mais da metade da manga
exportada pelo Brasil, seguido pelo Estados Unidos (25%) e demais países 24%.
A implantação de uma estratégia coordenada de produção e distribuição ao longo
do ano poderia aumentar ainda mais a participação da manga brasileira no
mercado externo. Tal estratégia, associada a ações para a manutenção do padrão
de qualidade da fruta, estaria dotando o produtor brasileiro de vantagens
comparativas importantes.
O Brasil está diante de um mercado em expansão. Com vasto território, clima
propício à expansão da cultura e utilização de técnicas necessárias para
obtenção de uma fruta de alta qualidade, o mercado de manga apresenta
perspectivas promissoras para o País.
O Estado de São Paulo vem apresentando números crescentes na produção de manga.
Embora esteja verificando-se uma expansão do consumo interno de manga,
indicações de técnicos e empresas ligadas à atividade relacionam esse aumento
da produção no Estado de São Paulo com a melhoria de qualidade e o aumento das
exportações.
O objetivo desse trabalho foi analisar a relação entre a adoção de técnicas de
melhoria da qualidade da manga produzida, exigidas na exportação, e a expansão
da cultura no Estado de São Paulo. De forma complementar, procurou-se analisar
indicadores econômicos na exportação, que, juntamente com a qualidade da manga
produzida, constituem parâmetros importantes para a análise da expansão da
atividade no Estado de São Paulo.
MATERIAL E MÉTODOS
Para a análise da qualidade da manga produzida no Estado de São Paulo em
relação às principais exigências dos mercados consumidores, utilizou-se como
parâmetro o grau de adequação do produtor às normas.
As exigências são publicadas pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento
2. A adequação do produtor foi verificada em pesquisa de campo, em duas cidades
do Estado de São Paulo: Monte Alto e Campo Limpo. Dentre essas exigências,
verificouse a adequação do produtor na adoção de técnicas de póscolheita,
necessárias à garantia de qualidade da manga produzida.
Também foram analisados dados referentes à competitividade da manga em termos
econômicos. Trabalhouse com estatísticas de preço de exportação e custos de
produção e comercialização no Estado de São Paulo, relacionando produção,
exportação e rentabilidade na atividade.
Foram elaborados indicadores de expansão da cultura da manga no Estado de São
Paulo, assim como de exportação na década de 90.
As fontes de dados utilizadas são a do Instituto Brasileiro de Fruticultura
(Ibraf), Instituto de Economia Agrícola SAASP, Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior e Ministério da Agricultura e do Abastecimento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Estado de São Paulo apresentou números crescentes na produção de manga. A
Tabela_2 mostra esses números no período de 19902000.
O número de pés plantados e a produção apresentaram crescimento significativo
no Estado de São Paulo. Esse crescimento de 98% na produção entre os anos de
ponta no período está vinculado ao número de pés novos. A produtividade, embora
variando menos, também mostrou crescimento no período. Para melhor visualizar
esses dados, a Tabela_2 apresenta o índice de crescimento no período, tomando a
safra 89/90 como ano base (1990 = 100).
A preocupação com a qualidade por parte dos produtores começa na précolheita. O
alto nível de umidade relativa do ar (acima de 50%), nas regiões produtoras,
conforma um ambiente propício ao desenvolvimento de doenças fúngicas e
bacterianas.
O Brasil apresenta ampla disseminação destas doenças, embora cause danos menos
expressivos nas regiões semi-áridas do Nordeste brasileiro e nas de microclima
seco, onde tem importância secundária.
Para exportar para EUA e Japão, é necessária a obtenção de autorização de seus
órgãos de defesa vegetal, que especificam as exigências 3.
O crescimento das exportações de manga, principalmente para os EUA e Europa,
tornou importante a padronização das técnicas de póscolheita para obtenção de
frutas de alta qualidade, exigência dos países importadores.
Através de pesquisa de campo, constatou-se uma relação direta entre os esforços
para obtenção de um fruto de qualidade e as exigências fitossanitárias dos
países de destino.
Em São Paulo, o monitoramento da manga é fiscalizado pelo Ministério da
Agricultura e do Abastecimento (MAA) em pomares com registro nesse ministério.
Esse monitoramento é realizado frente às exigências fitossanitárias exigidas
pelos EUA, que permitem a entrada de manga das variedades Palmer e Tommy
Atkins, isenta de vestígios de 2 espécies de mosca-das-frutas, Anastrepha
sppeCeratitis capitata.
O monitoramento tem início seis meses antes da exportação das frutas, sendo
realizado todas as semanas por um fiscal do MAA. São colocadas armadilhas para
atrair a mosca-da-fruta. O fiscal vai uma vez por semana no pomar, onde retira
as armadilhas e faz a contagem das moscas, qual a espécie e se é macho ou
fêmea. A quantidade permitida é, no máximo, 3 moscas/dia/armadilha. Se exceder
esse limite, o produtor é avisado para fazer um melhor controle fitossanitário.
As mangas monitoradas são levadas a um Packing House,onde passam por um
tratamento hidrotérmico para eliminação de qualquer vestígio de larvas na fruta
sob supervisão de um fiscal do MAA e outro do Serviço de Defesa Sanitária
Animal e Vegetal (Aphis) dos Estados Unidos. Primeiramente, as frutas são
separadas por peso, para um tratamento diferenciado. Esse processo foi
acompanhado em um Packíng Housesituado em Campo Limpo-SP. São verificados os
meios de transporte utilizados, inspeção do tratamento térmico, imersão em água
e choque térmico. Após todo esse processo, as frutas são colocadas em caixas e
armazenadas em local refrigerado, com temperatura controlada, para posterior
comercialização, junto com o Certificado Fitossanitário aprovado pelo Comitê de
Sanidade Vegetal do Cone Sul/ COSAVE.
Os "pallets" contendo as caixas são cobertos por uma tela de malha e
lacrados pelo APHIS e/ou SDA (Secretaria de Defesa Agropecuária).
Observou-se, nas visitas efetuadas, que o Estado de São Paulo possui e utiliza
toda a infraestrutura para produzir frutas de alta qualidade, obedecendo tanto
à padronização das técnicas de póscolheita como às exigências fitossanitárias
dos países importadores. Constatou-se, nos pomares e nos Packíng Houses,o
estabelecimento de rotina de trabalho visando a adequar a fruta às exigências
de qualidade para exportação.
Tanto nas exigências de qualidade quanto nos preços, o mercado externo tem
exercido influência marcante na produção de manga no Estado de São Paulo.
Em relação aos preços de mercado, foram utilizadas cotações referentes ao
período de 1990 a 2000 da manga exportada. Os dados mostram uma evolução
positiva dos preços de exportação na primeira metade da década de 90, até o ano
de 1995. A partir de 1996, verificase uma queda acentuada nas cotações. Essa
queda não foi acompanhada por uma redução nas exportações de manga, como
mostrado na Tabela_1, que continuou crescendo.
A Tabela_3 mostra os valores das exportações de manga e o preço unitário no
Brasil.
Os preços verificados para o Brasil, como um todo, são referência para os
preços de exportação no Estado de São Paulo, maior exportador brasileiro. Nesse
sentido, permite usálos como indicador da rentabilidade de exportadores
paulistas.
O custo de produção no ano de 2000 foi estimado em US$ 1.340/hectare/ano, para
uma produção estável de 12 toneladas/hectare 4. Isso significa um custo de US$
0,112/kg. Incluindo frete e outras despesas (carregamento, beneficiamento no
Packíng House, classificação, embalagem e comissão do Packing-House), o custo
de produção estaria em torno de US$ 0,300/kg.
Mesmo considerando o ano de 2000 como o de pior cotação no período considerado
(média de US$ 0,53/kg), essa cotação propicia uma margem de 43% sobre os
custos. Em termos de receita, representa US$ 2.760/hectare (12.000 kg x US$
0,23). Para um câmbio de US$ 1 = R$ 2,20, oferece uma margem atraente a
produtores que destinam sua produção ao mercado externo.
Ressalte-se, no entanto, que o preço médio de exportação apresenta uma
tendência negativa pronunciada a partir de 1995. Dado que a qualidade da fruta
oferecida é compatível com padrões exigidos de exportação, bem como não
diminuiu o plantio de pés novos nos últimos anos, é de se esperar um aumento da
oferta do produto para os próximos anos. Nesse sentido, a rentabilidade futura
pode não se manter tão atraente como a presente.
CONCLUSÕES
Os dados de produção, qualidade e preços apresentados, indicam que.
1 - A evolução da produção de manga no Estado de São Paulo vem crescendo nessa
década, com aumento do número de pés em produção.
2 - Parte dessa produção está sendo destinada ao mercado externo, com um volume
crescente em toda a década.
3 - A adoção de técnicas de póscolheita tem sido de fundamental importância
para adequar essa produção às exigências do mercado externo.
4 - Verificouse, na pesquisa de campo, uma preocupação constante com a
aquisição de qualidade, conformando regiões onde essa atividade adquiriu as
condições necessárias para a produção de manga com a qualidade exigida no
mercado externo.
5- Em relação à rentabilidade, os dados indicam ser essa atividade lucrativa,
mesmo com a queda de preço verificada na segunda metade da década de 90.
Esses dois fatores, qualidade e preço, propiciam competitividade à manga
produzida no Estado de São Paulo e destinada ao mercado externo, com influência
sobre a expansão da atividade.