Aplicação de auxinas e incisão anelar de ramos em pessegueiros cv. Diamante
Aplicação de auxinas e incisão anelar de ramos em pessegueiros cv. Diamante
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Application of auxins and ringing branches on peachs cv. Diamante
Ivar Antonio SartoriI, 2; Gilmar Arduino Bettio MarodinII
IEngenheiro Agrônomo, MSC., Fitotecnia pela Faculdade de Agronomia ' UFRGS e
Bolsista da CAPES. Fone: 0xx51 3223 0426 Rua Barão do triunfo, 718/702 Bairro
Azenha. Porto Alegre ' RS CEP 90130 '100. E-mail: ivar@vortex.ufrgs.br
IIEngenheiro Agrônomo, Drº., Profº. Adjunto do Departamento de Horticultura e
Silvicultura, Faculdade de Agronomia ' UFRGS. Av. Bento Gonçalves, 7712 Cx.P
776. Fone 0xx51 3316 6020 Porto Alegre ' RS CEP 91501 970 e-mail:
marodin@vortex.ufrgs.br
INTRODUÇÃO
A produção mundial de pêssegos e nectarinas, no ano de 2000, foi da ordem de
13,8 milhões de toneladas. O Brasil aparece como o 13º produtor mundial de
pêssego com 155 mil toneladas (FAO, 2000). O Rio Grande do Sul destaca-se como
o maior produtor nacional com aproximadamente 70 mil toneladas de pêssegos. Os
demais Estados brasileiros que se sobressaem na produção de pêssegos são SP, PR
e MG (Marodin & Sartori, 2000).
O consumo de pêssegos no Brasil ainda é pequeno, cerca de 0,85 kg por
habitante/ano (MEDEIROS & RASEIRA, 1998), o que caracteriza um grande
mercado a explorar. A produção de frutas com elevado padrão de qualidade, com
bom tamanho, aparência e sabor, é um dos fatores mais importantes no êxito
comercial de pomares de frutas de caroço para o consumo in natura (Ilha, 1997).
Aliado a isto, a coloração e o tamanho final do fruto são fatores determinantes
da qualidade dos frutos de caroço, ao ponto de terem sido convertidos nos
parâmetros decisivos para indicação da colheita. A utilização de técnicas, como
a aplicação de auxinas e a incisão anelar em ramos, pode influenciar
positivamente ambos os caracteres, principalmente em variedades precoces
(Almela et al., 1995; Agustí et al., 1996, 1998 e 1999).
Atualmente, existem várias auxinas sintéticas, as quais são utilizadas
comercialmente e registradas para frutas de caroço. Dentre as auxinas,
encontram-se: o 2,4-diclorofenoxiácetico (2,4-D); ácido 2,4,5-
triclorofenoxiacético; éster etílico de ácido 5-cloroindazol-8-acético (2,4,5-
TP); éster butilglicólico do ácido 2,4-diclorofenoxi-propiônico (2,4-DP); ácido
3,5,6-tricloro-2-piridil-oxiacético (3,5,6-TPA) (Agustí et al., 1996 e 1999;
Agustí, 2000; Juan et al., 1997).
A aplicação da auxina 3,5,6-TPA em pêssegos e nectarinas com concentrações
entre 10 a 15 mg L-1, em dias anteriores ao seu estádio pré-climatérico (Agustí
et al. 1999), obteve um incremento da produção de etileno dos frutos sem,
contudo, afetar o seu crescimento.
Em pessegueiros da cultivar Chiripá cultivadas na Depressão Central do RS, com
6 anos de idade, previamente raleados, Souza et al. (1998) constataram que o
uso de 2,4-DP proporcionou um aumento do diâmetro e a antecipação da colheita
dos frutos.
Utilizando o 2,4-DP e 3,5,6-TPA álcool amina, em concentrações de 10 e 20 mg.L-
1, com e sem incisão anelar, nas cultivares de pessegueiro 'Diamante' (Sartori
et al., 2000) e 'Sentinela' (Guerra et al., 2000) constatou-se a ocorrência de
uma antecipação de colheita de frutos em torno de 15 dias para ambas as
cultivares.
A época de aplicação das auxinas de síntese mais adequada, segundo Agustí et
al. (1996), é aquela do estádio de "endurecimento do caroço" ou
estádio de lignificação do endocarpo. Este período coincide com uma fase em que
o fruto detém seu crescimento, que antecede ao crescimento rápido da polpa,
correspondendo a uns 12 a 15 dias.
Na Espanha, foram estudadas a anelagem, ou a remoção de um anel completo de 3 a
4 mm de córtex do tronco ou pernadas principais, e a incisão anelar de ramos
com um simples corte completo de aproximadamente 1 mm de espessura no córtex
dos ramos principais. A incisão anelar foi a mais viável por ser de rápida
execução e de menor agressividade que o anelamento ou "girdling".A
ferida que se produz é de menor intensidade, o que facilita uma cicatrização
rápida e perfeita entre 10 e 15 dias. (Almela et al., 1995; Agustí et al., 1996
e 1998).
O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência de auxinas de síntese e a
incisão anelar em ramos, no aumento de tamanho dos frutos e na antecipação da
colheita do pessegueiro 'Diamante'.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado no setor de Horticultura da Estação Experimental
Agronômica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, situada à latitude
30º05'52" S e longitude 51º39'08" W e altitude média de 46 metros.
Tomou-se como área de trabalho um pomar de pessegueiros cv. Diamante. A
cultivar apresenta polpa amarela, firme, caroço aderente e de maturação
precoce, com 11 anos de idade, espaçamento entre plantas de 2,5 m e entre
linhas de 6,0 m enxertadas sobre o porta-enxerto 'Capdeboscq' e conduzido em
sistema de vaso aberto. O solo é um Podzólico Vermelho-Amarelo. O clima da
região é subtropical úmido - Cfa, com temperatura média do mês mais quente de
24,5ºC e a temperatura média do mês mais frio de 13ºC.
Como fontes de 3,5,6-TPA, foram utilizados os produtos comerciais Maxim® (10%
p/p) ácido livre e Fitogros® (0.5%) álcool amina e do 2,4-DP o Diclorprop®
(0,5%).
A incisão anelar foi realizada nos ramos principais da planta após o raleio de
frutos, fazendo-se uma incisão com uma tesoura aneladora com um ângulo completo
de 360º.
O delineamento experimental foi de blocos casualizados, uma planta por parcela
e quatro repetições. Os tratamentos testados foram: 1) 10 mg.L-1 de ácido
3,5,6-Tricloro-2-piridil-oxiacético (3,5,6-TPA álcool amina); 2) 20 mg.L-1 de
3,5,6-TPA álcool amina; 3) 30 mg.L-1 de 3,5,6-TPA álcool amina; 4) 20 mg.L-1 de
3,5,6-TPA álcool amina + incisão anelar; 5) 30 mg.L-1 de 3,5,6-TPA ácido livre;
6) 30 mg.L-1 de 3,5,6-TPA ácido livre + incisão anelar; 7) 25 mg.L-1 de 2,4-DP
éster; 8) 50 mg.L-1 de 2,4-DP éster; 9) 75 mg.L-1 de 2,4-DP éster + incisão
anelar; 10) 50 mg.L-1 de 2,4-DP éster + incisão anelar; 11) incisão anelar, e
12) Testemunha (sem incisão anelar e sem pulverização). Os tratamentos foram
efetuados na fase de lignificação do endocarpo - estádio II - no dia 24-09-
1999, em plantas previamente submetidas ao raleio manual de frutos. As
aplicações de fitorreguladores foram executadas com pulverizador costal manual,
gastando-se 1,25 litros de calda por planta, pulverizando principalmente os
frutos até o ponto de molhamento completo.
Do raleio até a colheita, foram feitas medições semanais em 10 frutos
previamente marcados dos diâmetros sutural (região saliente da fruta), não
sutural dos frutos, ambas na região equatorial do fruto, e do diâmetro
longitudinal, entre os pólos dos frutos. Da coletas, determinou-se a curva de
crescimento do fruto para os tratamentos.
Os frutos foram colhidos no início da mudança da coloração da epiderme, de
verde para amarela, durante as realizações das colheitas, em 05-11, 10-11, 12-
11, 19-11, 23-11, 26-11, 30-11, 06-12 e 10-12/ do ano de 1999. Os frutos de
cada planta foram manualmente classificados por tamanho. A classificação foi
realizada em três categorias, assim definidas: frutos de primeira, com diâmetro
superior a 57 mm; frutos de segunda, com diâmetro entre 57 e 48 mm, e frutos de
terceira, com diâmetro inferior a 48 mm. Os frutos de cada categoria, em cada
uma das colheitas, foram contados e imediatamente pesados em uma balança com
limite de confiança de 25 g por caixa. Avaliaram-se o número e o peso total de
frutos produzidos por planta, número e peso de frutos produzidos de primeira,
segunda e terceira categorias.
Na análise de variância, verificou-se a significância das diferenças obtidas
entre os tratamentos, através do teste F, ao nível de significância de 5%.
Quando da significância, procedeu-se a comparação entre médias, através do
teste de Tukey, em nível de 5% de probabilidade de erro. As análises foram
efetuadas através do programa SAS (1996).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O ácido 3,5,6-TPA álcool amina, já na menor concentração de 10 mg.L-1, foi
suficiente para incrementar o diâmetro sutural, não sutural e comprimento do
fruto (Tabela_1), estando em concordância com os dados obtidos por Agustí et
al. (1996 e 1999); Juan et al. (1997) e Agustí (2000), que verificaram na
dosagem de 15 mg.L-1 uma saturação da concentração. Observa-se, na Tabela_1,
que tanto para o diâmetro sutural, quanto para o não-sutural e comprimento do
fruto da última data de avaliação, em 06 de novembro de 1999, que a aplicação
do ácido 3,5,6-TPA, álcool amina das três concentrações, assim como a
associação com incisão anelar (I.A.), não alterou significativamente a
distribuição das médias para os três tratamentos, em comparação com a
testemunha. A Tabela_1 mostra também que 30 mg.L-1 3,5,6-TPA, ácido livre +
(I.A.), diferiu estatisticamente da testemunha, sendo superior nos três
parâmetros estudados. Porém, este tratamento não apresentou diferenças
estatísticas dos demais, com exceção da (I.A.), que apresentou resultados
semelhantes à testemunha nos parâmetros diâmetro não sutural e comprimento.
Para as concentrações de 30 mg.L-1 de 3,5,6-TPA, ácido livre, com e sem a
prática da incisão anelar, os dados foram superiores à formulação 3,5,6-TPA
álcool amina, com incremento em diâmetro de fruto em torno de 4 mm. Se,
comparados com a testemunha, este aumento foi da ordem de 7 mm de diâmetro
medidos na região equatorial do fruto (Tabela_1 e Figura_1). Esses dados estão
em concordância com resultados encontrados por Agustí et al. (1996 e 1999) para
diferentes cultivares de frutas de caroço; Juan et al. (1997), em cereja,
indicando que esta auxina em forma de ácido livre é mais ativa que na
formulação éster isopropil.
Na aplicação de 2,4-DP na formulação éster, nas três concentrações de 25; 50 e
75 mg.L-1, ocorreram ganhos de até 3 mm de incremento em diâmetro sutural do
fruto, em relação à testemunha (Tabela_1), apesar da não-existência da
diferença estatística. Estes dados estão corroborando com os resultados obtidos
por Agustí et al. (1996, 1997 e 1999) e Juan et al. (1997) em frutas de caroço.
Para esses autores, a concentração de 25 mg.L-1 foi considerada satisfatória
para incrementar de 3 a 4 mm o diâmetro dos frutos de diversas cultivares
estudadas.
O ácido 3,5,6-TPA ácido livre + (I.A.), na concentração de 30 mg.L-1,
proporcionou um incremento final de 7 mm no diâmetro do fruto, sendo superior à
testemunha. As concentrações de 20 mg.L-1 de 3,5,6-TPA álcool amina e 50 mg.L-
1 de 2,4-DP éster, associados com a incisão anelar, não proporcionaram vantagem
em relação ao tratamento isolado da incisão anelar. Se comparada com a
testemunha, a incisão anelar também não proporcionou aumento significativo do
tamanho do fruto, diferente dos dados encontrados por Agustí et al. (1998)
(Tabela_1).
A distribuição do peso nas diferentes colheitas e no peso total de frutos foi
superior para o tratamento 3,5,6-TPA ácido livre 30 mg.L-1 associado à incisão
anelar, destacando-se dos demais. Já, em 23-11-99 cerca de 65% dos frutos deste
tratamento haviam sido colhidos, enquanto, na testemunha, somente 15,24%.
Também se destaca a concentração de 20 mg.L-1 3,5,6-TPA álcool amina + (I.A.),
com uma antecipação de colheita de 50,88% até a data de 23-11-99. Os demais
tratamentos foram similares à testemunha. Os dados de produção por planta estão
amparados aos encontrados por Agustí et al. (1996), onde o peso total dos
frutos por planta normalmente não é alterado, havendo somente uma significativa
antecipação de colheita.
A classificação de frutos de primeira, segunda e terceira categoria estudadas
não revelou diferença significativa entre os tratamentos e a testemunha, mesmo
que alguns destaques, como 30 mg.L-1 de 3,5,6 TPA ácido livre + incisão anelar
e 10 mg.L-1 de 3,5,6 TPA álcool amina, resultaram em média 10 kg de frutos de
primeira categoria a mais que a testemunha.
CONCLUSÕES
1) Os tratamentos não aumentaram o peso total dos frutos.
2) O tratamento com 30 mg.L-1 de 3,5,6-TPA ácido livre, associado à incisão
anelar, resultou em incrementos de diâmetro e comprimento em relação à
testemunha, 43 dias após a aplicação dos tratamentos, porém não diferiu
estatisticamente dos outros tratamentos, à exceção da (I.A.) que apresentou
resultados semelhantes à testemunha nos parâmetros diâmetro não sutural e
comprimento.
3) Os tratamentos com 30 mg.L-1 de 3,5,6-TPA (ácido livre), com e sem incisão
anelar, 20 mg.L-1 de 3,5,6-TPA (álcool amina) + (I.A.) e 2,4-DP (Éster) 75
mg.L-1, resultaram em uma antecipação de colheita em 20 dias.
4) A distribuição dos frutos de primeira categoria foi superior para os
tratamentos 30 mg.L-1 de 3,5,6-TPA (ácido livre) + (I.A.) e 20 mg.L-1 de 3,5,6-
TPA (álcool amina), embora não diferindo estatisticamente da testemunha.