Produtividade e qualidade de genótipos de melão-amarelo em quatro ambientes
INTRODUÇÃO
A cultura do melão assume importância expressiva nos Estados da Região
Nordeste, por sua posição geográfica estratégica e, principalmente, pelas
condições edafoclimáticas excepcionais que, favorecendo a interação genótipo x
ambiente, proporcionam o desenvolvimento de frutos com elevado teor de sólidos
solúveis, suprindo a exigência dos países importadores. Os Estados do Rio
Grande do Norte, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Bahia é onde se concentra 90% da
área total plantada no Brasil. O Rio Grande do Norte é o principal exportador,
responsável por 90,6% do melão exportado (Dias et al., 1998), produzido na
região Oeste do Estado, conhecido como Pólo Agrícola Mossoró-Assu.
Apesar do excelente desempenho da cultura na região, diversos problemas de
natureza técnica preocupam os produtores e demais pessoas envolvidas no
processo de produção-comercialização. Dentre outros problemas que afetam a
cultura, destaca-se a falta de cultivares e/ou híbridos adaptados à região em
suas diversas épocas de plantio e que produzem frutos de qualidade para os
comércios interno e externo.
Algumas empresas produtoras de sementes têm investido em pesquisas, visando à
produção de híbridos que proporcionem rendimentos mais elevados. Como resultado
dessas pesquisas, os híbridos de melão do tipo "amarelo",
rapidamente, estão substituindo a cultivar Valenciano Amarelo, que, segundo
Costa e Pinto (1977), é suscetível às principais doenças, que tornam a cultura
da região extremamente vulnerável à ocorrência de alguma epifitotia (Lopes,
1991).
Porém, atualmente, a maioria destes híbridos utilizados tem apresentado
expressiva instabilidade nos diversos ambientes de cultivo, tendo conseqüências
na produção.
A maneira usual para a solução de problemas dessa natureza tem sido, segundo
Torres Filho et al. (1987), o teste de capacidade produtiva de certo número de
genótipos, cultivados por vários anos e locais, procedendo-se assim à análise
conjunta desses genótipos e comparando-as em relação à média da população.
Assim, este trabalho tem como objetivo identificar genótipos de melão-amarelo
com altos rendimentos para os ecossistemas do Pólo Agrícola Mossoró-Assu.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi desenvolvida na mesorregião Oeste do Estado do Rio Grande do
Norte, onde se localiza o Pólo Agrícola Mossoró-Assu, responsável por
praticamente toda a produção de melão do Estado. Foram selecionadas áreas de
cultivo comercial em quatro municípios: Mossoró, Carnaubais, Alto do Rodrigues
e Baraúna, nos quais foram instalados os experimentos durante o ano agrícola de
1998-1999.
A localização dos municípios é: Mossoró 5º11' S e 37º21' O; Alto do Rodrigues
5º16' S e 36º 12' O; Carnaubais 5º20' S e 36º50'O; Baraúna 5º05' S e 37º 38' O.
As condições de fertilidade do solo e a qualidade da água dos locais onde foram
instalados os experimentos estão contidas nas Tabelas_1 e 2, respectivamente.
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados completos,
com nove tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos consistiram de nove
genótipos oriundos de empresas produtoras de sementes (Rochedo, TSX-32096; PX
4910606, Gold Mine, PX-1010606; Yellow Queen; Gold Pride; Yellow King; AF-646 e
AF-682). Cada parcela ficou constituída por duas linhas de plantio de 5,0
metros de comprimento, contendo 10 covas com 2 plantas cada linha, espaçadas
2,0 x 0,5 m, obedecendo ao mesmo espaçamento dos gotejadores. Foi considerada
área útil o conjunto de 16 plantas centrais de uma das linhas. O experimento
ficou, portanto, com uma densidade populacional de 20.000 plantas/ha.
O preparo do solo da área experimental (aração, gradagem, sulcamento e
fechamento) para implantação da cultura, bem como a instalação e correção do
sistema de irrigação, foi realizado de acordo com recomendações para a cultura.
A cultura foi irrigada pelo método de gotejamento, com fertirrigação,
utilizando o programa de adubação recomendado para a cultura, após avaliação da
fertilidade do solo. O replantio foi realizado uma semana após o plantio. O
controle das plantas daninhas foi realizado através de capinas manuais. As
pulverizações com fungicidas foram realizadas em função do nível de infestação,
e, a partir do décimo dia da implantação, as aplicações ocorreram semanalmente.
A viragem dos frutos ocorreu entre 8 e 10 dias antes da colheita. Os frutos
foram colhidos no estádio de maturação comercial.
As características avaliadas foram: produtividade total, através da pesagem de
todos os frutos da área útil da parcela de cada tratamento, sendo estimado para
t/ha; produtividade comercial, pesando apenas os frutos com qualidade comercial
(frutos com ausência de danos e mancha na casca) expresso em t/ha; peso médio
dos frutos, expresso em kg/fruto e sólidos solúveis (SS). A concentração de
sólidos solúveis foi determinada através de refratômetro digital modelo PR-100
Palette, com correção automática de temperatura (escala de 0 a 32%), pela
retirada de uma fatia longitudinal de cada um dos três frutos que compõem cada
parcela experimental. Em seguida, procedeu-se à homogeneização da polpa destas
três fatias em um liquidificador doméstico. O suco obtido após o processamento
foi filtrado em papel de filtro. Foram retiradas algumas gotas do filtrado com
uma pipeta, para a realização de três leituras, através das quais se obteve o
valor médio da parcela, expresso em porcentagem (%).
Estas características foram submetidas à análise de variância de cada
experimento, separadamente, seguindo as recomendações de Gomes (1990). Em
seguida, procedeu-se à análise conjunta dos experimentos, de acordo com as
sugestões de Ferreira (2000).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O resultado da análise conjunta da produtividade total e produtividade
comercial revelou efeito do genótipo (G), do ambiente (A) e da interação (G x
A). Para a característica Peso médio de fruto, houve efeito apenas do genótipo
e do ambiente isolados. Para SS, houve efeito do genótipo e do ambiente para
todos os experimentos, mas foi possível verificar significância da interação,
apenas entre os ambientes de Mossoró e Carnaubais, por terem o QMresíduo
homogêneo, e com isso foi possível realizar apenas o teste de média entre os
genótipos dentro dos ambientes Alto do Rodrigues e Baraúna.
A produtividade total variou de 47,0 a 59,4 t/ha, maior que a média da região
(47,7 t/ha), com maior rendimento para os genótipos Rochedo, TSX-32096, Gold
Mine, PX-4010606, Yellow Queen e Gold Pride, que não diferiram entre si, com
média de 55,1 t/ha. Com relação aos ambientes, esses genótipos também
apresentaram maiores produtividades, com exceção em Alto do Rodrigues, em que
os genótipos TSX-32096, Gold Mine e Gold Pride e em Baraúna o PX-4910606, não
foram os mais produtivos (Tabela_3). O mesmo desempenho foi observado para a
produtividade comercial dos genótipos TSX-32096, Rochedo, Gold Mine, PX-4010606
e Gold Pride em Mossoró (40,1 t/ha) e Carnaubais (46,2 t/ha), incluindo os
genótipos AF-646, Yellow Queen e AF-682 em Baraúna (63,1 t/ha), ambiente que
proporcionou a maior produtividade comercial, superando em 53%, 75% e 166% os
ambientes de Carnaubais, Mossoró e Alto do Rodrigues, respectivamente (Tabela
4).
Os relatos indicam que esses genótipos se adaptam muito bem às condições do
Nordeste brasileiro, apresentando alta produtividade total, com média de 47,7
t/ha, variando pouco entre si, verificado em trabalhos de avaliação de
cultivares (Tabela_5). Mas o ambiente influencia muito o desempenho dos
genótipos, o que aconteceu com o aumento de produtividade total e comercial dos
genótipos AF-646, Yellow Queen e AF-682 em Baraúna, em relação a Mossoró e
Carnaubais, a mesma observação em Juazeiro-BA, em que esses genótipos superaram
os demais na avaliação feita por Costa et al. (2000).
Do melão produzido em Baraúna, 95,7% foi classificado como comercial, enquanto
em Alto do Rodrigues somente 40,2% do melão produzido se enquadrou nos padrões
de comercialização; a razão por essa baixa produtividade comercial deveu-se à
ocorrência de doenças, saúvas e ventos fortes na região, características que
não foram preestabelecidas no projeto, e por isso não foram analisadas e
caracterizadas, não evidenciado neste trabalho por não ter sido predeterminado
como metodologia.
O peso médio dos frutos contribui com o rendimento, como ocorreu com o genótipo
Rochedo, que produziu um número total de frutos menor que o PX-4010606 e Gold
Pride (dados não apresentados) e compensado com o maior peso médio do fruto, de
1,53 kg (Tabela_6), constitui, também, importante parâmetro de comercialização.
Os genótipos Rochedo, Yellow Queen, Gold Mine, AF-682, Yellow King, PX-4910606
e TSX-32096 não diferiram entre si, e os menores pesos médios foram observados
para Gold Pride e AF-646. Mas, em geral, produziram frutos com peso médio
abaixo da média da região Nordeste (1,78 kg), fato desejável para o mercado
exportador, que prefere frutos menores, ficando os maiores para o mercado
interno.
O peso médio dos frutos foi influenciado pelo ambiente de cultivo, variando de
1,07 kg em Mossoró, a 1,64 kg em Baraúna, contribuindo para obter-se maiores
rendimentos neste último.
O teor de sólidos solúveis para a maioria dos genótipos cultivados nos
municípios de Mossoró, Carnaubais e alguns do Alto do Rodrigues não se enquadra
na escala de melões aptos à comercialização, pela metodologia proposta por
Gorgatti Netto et al. (1994), que sugere a obtenção dos teores de SS,
utilizando-se apenas do suco extraído da polpa localizada na região equatorial
do fruto, onde há maior concentração de açúcares (Scott & MacGillvray,
1940). Desta forma, não há uma precisão nos reais valores do teor de SS
existentes nos frutos dos genótipos avaliados (Tabela_7).
Assim, há uma diferença para mais duas unidades (2º Brix) entre os dados
analisados, para que se possa classificar os frutos pela escala daquele autor.
Procedendo-se desta forma, todos os ambientes proporcionaram frutos aptos à
comercialização, dentre os quais Alto do Rodrigues e Baraúna apresentaram os
maiores índices.
Os genótipos que se destacaram, foram o TSX-32096 (11,3%), AF-646 (11,1%), PX-
4910606 (11,0%) e Yellow King (10,7%), sendo considerados melões extras,
principalmente quando cultivados em Baraúna. Esses valores estão semelhantes
aos encontrados no genótipo TSX-32096 (12,4%), avaliado por Menezes et al.
(2001), portanto, acima do exigido pelos mercados americano e europeu, que é de
9% e 8%, respectivamente.
A maior produtividade, peso médio dos frutos e teor de sólidos solúveis dos
frutos no ambiente de Baraúnas é explicada dentre o universo de fatores, pela
composição química do solo, caracterizado neste trabalho, principalmente, por
ter pH (6,5) exigido por essa cultura. E pela qualidade da água, também
relacionada ao pH (7,1). A eficiência da fertirrigação depende do pH do solo e
principalmente da água, uma vez que os nutrientes são fornecidos e
disponibilizados na água de irrigação; assim, o pH alto interfere negativamente
na absorção de nutrientes pelas plantas (Tabelas_1 e 2).
CONCLUSÕES
Considerando-se as condições nas quais o experimento foi conduzido, pode-se
concluir que não se pode recomendar um determinado híbrido de melão-amarelo
para toda a região produtora de melão do Oeste potiguar, devido cada ambiente
dessa região apresentar as suas peculiaridades de tipo de solo, água,
luminosidade, temperatura, pluviosidade, ocorrência de pragas e doenças, dentre
outras.