Efeito da intensidade do frio no tempo e percentagem de gemas brotadas em
macieira
Efeito da intensidade do frio no tempo e percentagem de gemas brotadas em
macieira1
Effect of the cold intensity in time and percentage of shoot buds in apple
trees
Gilberto Luiz PuttiI; José Luiz PetriII; Marta Elena MendezIII
IEng. Agr. M.Sc. Doutorado na Universidade Prase Pascal, Clermont Ferrand,
França. e-mail: gputti@valmont.clermont.inra.fr
IIEng. Agr. M.Sc. Epagri/Estação Experimental de Caçador, C.P. 591 ' 89500-000
' Caçador, SC, e-mail: petri@conection_.com.br
IIIEng. Agr. PhD ' Universidade Federal de Pelotas, Faculdade de Agronomia.
Elizeu Mariel. Pelotas, RS. e-mail: mendez@ufpel.tche.br
INTRODUÇÃO
A macieira necessita de períodos de baixas temperaturas (4º a 10ºC) no outono e
inverno, caso contrário a planta continuará em dormência ou apresentará uma
brotação e floração prolongada e irregular.
Segundo Chariani & Stelbius (1994), o requerimento de frio é um fator
limitante para a produção comercial de frutas de clima temperado em regiões de
inverno ameno. O conhecimento do requerimento de frio da espécie e da cultivar,
é fundamental para que se obtenha sucesso na produção. Quando não é satisfeita
a exigência em frio, nas macieiras, muitas gemas vegetativas e floríferas
permanecem dormentes, mesmo que as condições ambientais sejam favoráveis ao
crescimento (Weinberger, 1950; Petri, 1986).
Embora seja possível quebrar a dormência com produtos químicos, o resultado
final do crescimento, produção e qualidade sobre este sistema de produção é
inferior ao obtido com cultivares adaptadas (Hauage e Cummins, 2000).
Atualmente, tem-se à disposição uma diversidade de cultivares de macieira com
exigência de frio muito variável, desde 200 horas até 1700 horas. Segundo Dias
(1987), as espécies e cultivares que entram em dormência requerem uma
acumulação de frio de 1200 a menos de 200 horas de frio.
Para mensurar a quantidade de frio necessária para superar a dormência das
gemas, o método mais utilizado até o momento é o uso da soma diária das horas
abaixo de 7,2ºC, durante o período de maio a setembro. Atualmente, utilizam-se
métodos de unidades de frio em que não é considerado um valor fixo de
temperatura e pode-se calcular com os dados de temperatura máxima e mínima
diárias, diferindo do método de 7,2ºC, o qual necessita de um termohigrógrafo.
(Ebert et. al., 1986). Destaca-se que a variabilidade genética entre as
diversas cultivares de macieira tem limitado a determinação das exigências de
frio. A necessidade de quantificar o frio é importante por duas razões
independentes: para definir o requerimento de frio de uma cultivar e para
definir a quantidade de frio disponível em um local específico (Erez, 2000).
Existem técnicas para o estudo dos mecanismos envolvidos na dormência, que se
fundamentam na evolução do tempo necessário para a brotação de gemas isoladas,
submetidas a uma temperatura padrão, técnica chamada de estacas de nós isolada
(Putti, 2001).Um método tradicional de prever a necessidade de frio das
espécies e/ou cultivares consiste em submeter ramos inteiros, retirados das
árvores em diferentes épocas, a uma temperatura favorável ao crescimento,
computando o percentual de abertura de gemas após 21 dias ou o número de dias
necessários ao desenvolvimento de uma certa percentagem fixa, porém arbitrária,
de gemas (Citadin et.al., 2002). Esta técnica já foi utilizada em diversas
espécies frutíferas, dentre elas a macieira (Herter et. al., 1987; Mauget &
Rageau, 1987). Tamura et. al. (1998) utilizaram ramos de 25 cm de comprimento,
com cinco gemas florais. Chariani & Stelbiuns (1994) coletando ramos
semelhantes colocou-os em ambiente controlado com temperatura de 25ºC para a
brotação, e considerou a dormência superada quando no mínimo 50% das gemas
estivessem brotadas, em até 30 dias.
Com o desenvolvimento das novas cultivares de macieira como 'Condessa',
'Baronesa', 'Imperatriz' e 'Daiane', há necessidade de conhecer suas exigências
de frio em relação às cultivares Gala e Fuji que necessitam de 1115 UF e 1040
UF, respectivamente (Chariani e Stelbinns, 1994), para possibilitar a
determinação de regiões com maior potencial de plantio. O objetivo do trabalho
foi determinar a necessidade de frio de seis cultivares de macieira, através da
técnica de estacas de nós isolados e estacas com múltiplas gemas.
MATERIAL E MÉTODO
Ramos de macieira de crescimento do ano, medindo 20 a 25 cm de comprimento, das
cultivares 'Condessa', 'Baronesa', 'Daiane', 'Imperatriz', 'Fuji' e 'Gala'
foram coletados no dia 23/05/2000, sendo que os ramos das quatro primeiras
cultivares foram obtidos de um pomar no município de Fraiburgo, SC e das duas
últimas no município de Caçador, SC. Foram separados para cada cultivar quatro
lotes de 20 ramos, os quais foram submetidos a diferentes períodos de frio,
para o que utilizou-se uma câmara frigorífica a 3ºC (± 1ºC). Para cada hora na
câmara frigorífica a 3ºC, considerou-se uma unidade de frio (UF), medida pelo
modelo Carolina do Norte Modificado (Ebert, et. al., 1986). Os tratamentos
consistiram na exposição dos ramos a zero, 530, 1060 e 1590 UF, sendo que no
tratamento de zero UF, os ramos não passaram pela câmara frigorífica.
Após a efetivação dos tratamentos, cada lote foi dividido em duas partes: dez
ramos foram cortados, sendo utilizada somente a parte intermediária, com oito
centímetros, mantendo-se somente a gema superior e eliminando-se as demais
gemas axilares. A gema superior ficou a 1 cm abaixo do corte, sendo a
extremidade superior protegida com parafilme. Estas estacas foram colocadas em
bandejas com espuma fenólica e mantidas em câmara de crescimento a 25ºC (± 1ºC)
com fotoperíodo de 16 horas de luz. A variável analisada foi o tempo para
brotação em dias, sendo que a gema foi considerada brotada quando era observado
visualmente ponta verde nas gemas, porém sem estarem com as folhas abertas.
Os dez ramos restantes foram colocados em bandejas com espuma fenólica,
deixando-se 10 gemas por ramos, eliminando-se a gema apical e protegendo a
extremidade do ramo com parafilme. As mesmas foram colocadas em câmara de
crescimento a 25ºC (± 1ºC) com fotoperíodo de 16 horas de luz. A variável
observada foi a porcentagem de gemas brotadas aos 30 e 45 dias após terem sido
colocadas na câmara de crescimento.
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com dez repetições, e
o esquema de tratamentos foi fatorial com seis cultivares e quatro níveis de
unidades de frio. Os resultados do número de dias para brotação e porcentagem
de brotação foram submetidos à análise de variância. Os níveis do fator
qualitativo (cultivares) foram comparados pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade e os níveis do fator quantitativo (UF) foram submetidos à
regressão polinomial.
Para a variável porcentagem de gemas brotadas, os dados foram submetidos à
análise de variância fatorial com 5 cultivares e 3 níveis de UF, sendo que o
nível zero foi retirado por apresentar brotação das gemas axilares desprezível.
A cultivar Fuji também foi excluída, pois no nível 530 UF ocorreu brotação das
gemas axilares desprezíveis.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As cultivares estudadas se diferenciaram quanto ao número de dias para a
brotação das gemas (Tabela_1). Para o tratamento de zero unidade de frio, a cv.
Gala foi a que necessitou maior número de dias para a brotação, seguida da cv.
Fuji, sendo que a cv. Baronesa necessitou somente de 15,4 dias. O maior número
de dias para brotação das cvs. Gala e Fuji, em relação às demais cultivares, se
manteve com o aumento do número de unidades de frio, o mesmo ocorrendo com a
cultivar Baronesa, que apresentou o menor número de dias para a brotação.
Embora mostre uma tendência de quanto maior o número de UF recebida, menor o
número de dias para brotação, observou-se, na maioria das cultivares, um
aumento no número de dias para brotação de 1060 e 1560 UF, em relação a 530 UF.
Isto poderá estar relacionado com o fato de que, com 530 UF, não ocorreu ainda
a dormência profunda.
Destaca-se que todas as cultivares tiveram comportamento semelhante quando
foram expostas a diferentes UF (Figura_1). Para as cultivares que não foram
expostas ao frio, o tempo médio de brotação foi maior que 530 UF, o que pode
ter como causa a superação da paradormência. Já quando expostas a 1060 UF, a
brotação aumentou em relação a 530 UF, o que pode ser associado ao fato de que
quando os ramos foram coletados, estas gemas estavam no estádio de
paradormência e com o passar do tempo de exposição ao frio, entraram no estado
de endodormência (Lang, 1987). Quando os ramos receberam 1590 UF, a
endodormência estava superada, encontrando-se no estado de ecodormência, que
depende somente de condições favoráveis à brotação.
A variação do tempo médio de brotação entre as cultivares pode estar
relacionada não só às exigências do frio, mas também às exigências do calor,
após ser satisfeita a dormência para que ocorra a brotação.
Os resultados do tempo de brotação evidenciam que há uma relação entre a
profundidade de dormência e o tempo médio para a brotação, porém esta
metodologia não permite quantificar as necessidades de frio da cultivar. O fim
da paradormência seria detectado quando inicia-se um aumento do número de dias
para a brotação e da endodormência quando reduz-se e estabiliza-se o número de
dias para a brotação.
A porcentagem de gemas brotadas quando expostas a zero UF e 530 UF foram
baixas, em todas as cultivares, o que está relacionado a não ter sido atingidas
as exigências de frio, porém mostra que as que apresentaram maior porcentagem
de brotação são as de menor exigência em frio (Figuras_2 e 3).
A cultivar Condessa apresentou o mais alto percentual de brotação, confirmando
a referência de que é uma cultivar com pouca exigência de frio (Denardi &
Camilo, 1998a). Com 1060 UF essa cultivar apresentou porcentagem de brotação de
34 e 35% para avaliações aos 30 e 45 dias, respectivamente. Mike & Dennis
(1975), Weinberg (1950) e Chariani & Stelbiuns (1994) consideram o
requerimento de frio satisfeito quando no mínimo 50% das gemas brotarem após 30
dias.
A porcentagem de brotação aumentou em todas as cultivares nas avaliações aos 30
e 45 dias com o aumento das UF (Figuras_2 e 3). Este aumento foi maior nas
cultivares com menor exigência de frio. Para 1060 UF, as cultivares de menor
exigência de frio tiveram um aumento considerável na porcentagem de brotação,
quando receberam 1590 UF. Porém, as cvs. Gala e Fuji apresentaram um menor
percentual de gemas brotadas, apesar de terem recebido frio suficiente para
satisfazer suas exigências de 1115 UF para a Cv. Gala e 1040 UF para a Cv. Fuji
(Chariani e Stelbinns, 1994).
Os resultados mostram que esta metodologia para determinar as necessidades de
frio precisa ser melhor estudada pois, mesmo com alto número de UF, obteve-se
baixa porcentagem de brotação. Deve-se considerar que as gemas axilares
vegetativas requerem maior quantidade de frio que as gemas floríferas (Samish e
Lavee, 1962; Faust et. al., 1995). As gemas axilares das cvs. Gala e Fuji são
geralmente vegetativas, enquanto que as cvs. Condessa e Baronesa possuem gemas
axilares floríferas, com o que pode-se explicar a maior brotação destas
cultivares.
CONCLUSÕES
1) O método de estacas de nó isolado permite fazer comparações de profundidade
de dormência entre as cultivares de macieira.
2) O maior ou menor tempo médio para brotação pode estar relacionado não
somente às exigências de frio da cultivar, mas também às exigências térmicas
para a brotação.
3) A porcentagem de brotação foi menor nas cultivares de maior exigência de
frio ('Gala', 'Daiane' e 'Imperatriz') e maior nas cultivares de menor
exigência em frio ('Baronesa' e 'Condessa').