Efeitos de dose de nitrogênio, fósforo e potássio sobre os componentes da
produção e a qualidade de bananas 'Prata Anã' no distrito agroindustrial de
Jaíba
INTRODUÇÃO
A caracterização pós-colheita do cacho e dos frutos é essencial para o
bananicultor, pois a massa do cacho e a massa, comprimento e diâmetro do fruto
são critérios de seleção e classificação do produto. O conhecimento destas
características fornece subsídios para otimização do manejo e,
conseqüentemente, para melhoria da qualidade dos frutos produzidos (Dadzie
& Orchard, 1997). O comprimento e o diâmetro dos frutos são usados para
classificá-los como frutos de segunda, primeira e de exportação, em um programa
de adesão voluntária estabelecido pela Câmara Setorial de Frutas de São Paulo
para bananas do subgrupo Cavendish e pela Associação Central dos Fruticultores
do Norte de Minas ' ABANORTE para o subgrupo Prata (Ministério da Integração
Nacional, 2000).
As doses de fertilizantes aplicadas são fatores pré-colheita diretamente
relacionadas com a qualidade de bananas (Silva et al., 1999). Embora a relação
entre fertilização e produção de bananas seja intensamente estudada (Manica et
al., 1978; López & Espinosa, 1998), a sua relação com a qualidade dos
frutos tem recebido menos atenção, apesar da fertilização proporcionar
incrementos no peso e comprimento dos mesmos (Silva et al., 1998), melhorando,
portanto, a classificação de frutos (Martinez et al., 1997; Silva et al., 1998)
e de pencas (Silva et al., 1997). Por isso, os efeitos da adubação sobre a
qualidade dos frutos devem ser cuidadosamente considerados (Carvalho et al.,
1989), sendo necessário determinar as doses de nutrientes que resultem em
máxima produção econômica e melhor qualidade de bananas (Borges et al., 1997),
uma vez que os fertilizantes constituem, atualmente, um dos principais
componentes do custo de produção desta cultura. Além disso, poucos são os
trabalhos que visam determinar doses de fertilizantes para a variedade 'Prata
Anã' produzida sob alta tecnologia.
Este trabalho objetivou estabelecer doses de nitrogênio, fósforo e potássio,
visando otimizar os componentes da produção e de qualidade da banana 'Prata
Anã' produzida no Distrito Agroindustrial de Jaíba.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em lote da Plena Consultoria de Engenharia Agrícola
Ltda, no Distrito Agroindustrial de Jaíba, em Matias Cardoso ' Minas Gerais
(14º 50' S, 43º 55' W), a 472 m de altitude, sob um clima do tipo Aw, segundo a
classificação de Köppen. Foram utilizadas bananeiras (Musa spp) 'Prata Anã'
(AAB), com mudas provenientes de cultura de tecidos, plantadas em janeiro de
2000, no espaçamento 3,0 x 2,5 m. Adotou-se o sistema de irrigação por
microaspersão, sendo a lâmina de água estimada pela equação Penman-Monteith de
acordo com a evapotranspiração potencial de referência (ETo) média dos últimos
cinco dias, utilizando-se o coeficiente de cultura (Kc) de 0,9.
A área experimental era plana, com solo de textura arenosa, cujas
características químicas, antes da instalação do experimento, são indicadas na
Tabela_1, onde se nota a baixa fertilidade original do solo.
O experimento foi realizado com dez tratamentos constituídos de acordo com uma
matriz baconiana (Tabela_2), em que os tratamentos 1,2,3,4 avaliaram os efeitos
das doses de fósforo; 1,5,6,7 o efeito das doses de potássio e 1,8,9,10 o
efeito das doses de nitrogênio. O tratamento 1 refere-se às doses utilizadas
pelos produtores na região. O delineamento experimental utilizado foi o de
blocos casualizados com quatro repetições e uma touceira útil por parcela, com
bordaduras interna e externa. Cada touceira foi conduzida com três plantas
(mãe, filha e neta), avaliando-se a produção apenas da planta mãe, ou seja, o
primeiro ciclo. As plantas filha e neta foram selecionadas aos 6 e 11 meses
após o plantio, respectivamente.
As doses de fósforo (P) foram aplicadas na cova de plantio e repetidas, aos
seis meses em cobertura, sendo aplicadas à frente da planta mais jovem da
touceira. A fonte de fósforo foi o superfosfato triplo.
As doses de potássio (K) e nitrogênio (N) foram aplicadas em parcelas semanais
para simular a fertirrigação. Vinte por cento (20%) das doses foram aplicadas
durante as vinte primeiras semanas, trinta por cento (30%) entre a vigésima
primeira e quadragésima semana e cinqüenta por cento (50%) entre a quadragésima
primeira e a qüinquagésima quinta semana. O cloreto de potássio e a uréia foram
as fontes de potássio e nitrogênio, respectivamente, e as aplicações em
cobertura foram feitas em meia-lua sempre à frente da planta mais jovem da
touceira, seguidas de irrigação.
Aplicaram-se três toneladas/ha de calcário dolomítico, incorporado aos 20
centímetros superficiais, e 200 g/cova, misturado ao solo antes do plantio.
Como adubação orgânica foram aplicados no plantio, por cova, 10 kg de húmus e
aos 6 e 12 meses 10 litros de esterco bovino. Foram aplicados, também, 20 g de
ácido bórico e 30 g de sulfato de zinco, por cova no plantio, 15 g/cova de
sulfato de zinco a cada 60 dias e 12 l/ ha de arbore cálcio mais 9 l/ha de
arbore zinco, por hectare, por meio de adubação foliar, no décimo segundo mês
após o plantio. Estes dois últimos para a planta filha e a planta neta.
Os cachos foram colhidos cerca de um ano após o plantio, quando se observou
mudança de tonalidade na casca de verde-escuro para verde-claro, cerca de 90
dias após a antese. Os cachos foram despencados, determinando-se o número de
pencas e de frutos por cacho, massa do cacho, massa das pencas e massa média
dos frutos. Em dois frutos centrais da segunda penca, mediu-se o diâmetro na
região mediana do fruto, perpendicular ao seu maior eixo, e o comprimento total
e comercial. Considerou-se o comprimento total a medida do início da inserção
do fruto na almofada floral até a extremidade do fruto na sua face convexa,
paralelamente ao seu maior eixo. O comprimento comercial consistiu da medida da
polpa, na sua face convexa, paralelamente ao maior eixo do fruto.
Os frutos foram classificados segundo critérios recomendados pelo programa de
adesão voluntária da ABANORTE (Associação Central dos Fruticultores do Norte de
Minas Gerais) (Ministério da Integração Nacional, 2000), para frutos da
bananeira do subgrupo prata, de acordo com a Tabela_3.
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e de regressão,
utilizando o software SAEG.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos no primeiro ciclo de produção da bananeira 'Prata Anã',
cujas médias dos efeitos dos nutrientes estão na Tabela_4, não mostraram
efeitos significativos das doses de nitrogênio para nenhuma das variáveis
avaliadas. Entretanto, Manica et al. (1978) e Hedge e Srinivas (1991),
trabalhando com bananeira do subgrupo 'Cavendish' (cv. Nanicão), encontraram
efeito do nitrogênio no aumento do número de frutos por cacho.
Borges et al. (1997), trabalhando com bananeira 'Prata Anã' no primeiro ciclo
de produção, também não encontraram efeito de doses de nitrogênio para peso do
cacho, classificação das pencas como de primeira, segunda e terceira qualidade,
com base no peso dos frutos, número de frutos e de pencas por cacho e
comprimento do fruto central da segunda penca. O bom desenvolvimento da
bananeira sem nitrogênio, sugerido pelos autores, pode ser devido a bactérias
de vida livre fixadoras de nitrogênio, encontradas em associação com a
bananeira. Silva et al. (1997,1998) sugeriram ainda que a dose de nitrogênio
recomendada para a bananeira 'Prata Anã' sob irrigação está abaixo de 160 g/
touceira, faixa em que se encontra a dose de nitrogênio aplicada neste
experimento (150 g/touceira).
Borges e Silva (1995), trabalhando com cinco cultivares de bananeira,
constataram que a 'Prata' foi menos exigente em macronutrientes do que a
'Nanicão' (subgrupo 'Cavendish'). Este fato também pode explicar a razão da
resposta de bananeira do subgrupo 'Cavendish' à adubação nitrogenada, para
características de produção, enquanto a banana 'Prata Anã', que é do mesmo
grupo da 'Prata' (subgrupo Prata) e possui características semelhantes, não
responde a este nutriente.
As doses de fósforo não mostraram efeito significativo sobre a massa do cacho,
número de pencas por cacho, massa média da penca, número de frutos por cacho,
massa média do fruto, comprimento comercial e diâmetro do fruto. Tal fato deve-
se, provavelmente, ao baixo requerimento de fósforo pela cultura, já que o
fósforo é o macronutriente menos absorvido, com cerca de 6,3 gramas por planta
(exceto rizoma e raízes) estimados por Borges e Silva (1995), para a bananeira
'Prata' no primeiro ciclo. Entretanto, as doses de fósforo proporcionaram
redução significativa no comprimento total do fruto (Figura_1). Este fato deve
estar relacionado à inibição da síntese de amido por altas concentrações de
fósforo inorgânico, devido ao aumento das concentrações de fósforo no fruto
(Maia, 2001), que age inibindo a ação da ADP-Glicose Pirofosforilase que é uma
enzima chave na síntese do amido nos amiloplastos (Marschner, 1995), além da
redução da concentração de potássio no fruto (Maia, 2001), elemento-chave na
síntese de amido e na expansão celular (Marschner, 1995).
O potássio não proporcionou efeito significativo sobre a massa do cacho, o
número de pencas por cacho, a massa média da penca, o número de frutos por
cacho e o diâmetro do fruto. Estes resultados divergem dos obtidos por Hedge e
Srinivas (1991) que, trabalhando com bananeiras do subgrupo 'Cavendish',
encontraram efeito positivo de doses de potássio sobre o aumento do número de
pencas e número de frutos por cacho, além do peso do cacho. Entretanto, Borges
et al. (1997), trabalhando também com a bananeira 'Prata Anã', no primeiro
ciclo de produção, sob condições de irrigação, não encontraram efeitos de doses
de potássio sobre o número de frutos e pencas por cacho, e sobre a
classificação em pencas de primeira, segunda e terceira qualidade, com base no
peso dos frutos. Os autores encontraram, ainda, que a dose aplicada
proporcionou pequeno aumento no peso do cacho, o que não compensaria a
aplicação do nutriente devido ao custo da adubação. Esta ausência de resposta
para as doses de potássio, nas características avaliadas neste trabalho, está
relacionada ao fato de a bananeira 'Prata Anã' estar no primeiro ciclo de
produção, com a população ainda não totalmente estabelecida e estar se
adaptando, além do fato da planta mãe ser menos exigente que os rebentos quanto
à absorção de nutrientes (Gomes, 1988). O fracionamento semanal das doses de
potássio para simular fertirrigação, associado ao aumento da dose aplicada de
acordo com o desenvolvimento da planta, também contribuiu para a ausência de
resposta. Possivelmente, isto tornou o uso do adubo pela planta mais eficiente,
com menores perdas, pois, segundo Gomes (1988) e Samuels et al. (1978), a
absorção dos macronutrientes, dentre eles o potássio, torna-se mais intensa a
partir do quinto mês após o plantio. As doses de potássio resultaram em
aumentos lineares na massa e no comprimento total e comercial do fruto (Figura
2). Estes resultados confirmam a importância do potássio para o enchimento dos
frutos (Robinson, 1996), proporcionando frutos maiores e mais pesados devido à
sua importante função no transporte de fotoassimilados das folhas para os
frutos, na síntese de amido pela ativação da sintase do amido e na expansão
celular (Marschner, 1995).
A produtividade média obtida pelo experimento foi de 15,36 ton ha-1 sendo,
portanto, acima da média brasileira que é de 12,53 ton ha-1 (FAO, 2002) e de
acordo com a classificação sugerida pelo programa de adesão voluntária da
ABANORTE, considerando o comprimento comercial e diâmetro dos frutos da segunda
penca, os frutos de todos os tratamentos obtiveram classificação como fruto de
primeira, ou seja, frutos de alto valor de mercado. Considerando que o cacho da
bananeira 'Prata Anã' tem perfil de tronco de cone (Pereira, 1997), os frutos
das últimas pencas apresentaram classificação inferior. Isto indica que a dose
máxima de potássio incluiria maior número de frutos classificados como 'de
primeira'. Por sua vez, um maior número de frutos classificados como 'de
primeira' resultaria em maior lucratividade, pois, o valor pago pelos frutos
'de segunda' corresponde a apenas 40% do valor pago pelos 'de primeira'.
CONCLUSÕES
Considerando o primeiro ciclo de produção da banana 'Prata Anã' nas condições
avaliadas conclui-se que:
1) As doses de nitrogênio ou de fósforo, utilizadas pelos bananicultores do
Distrito Agroindustrial de Jaíba, podem ser reduzidas para 150 g/touceira/ano e
25 g/touceira, respectivamente, sem prejuízo dos componentes de produção e de
qualidade da banana 'Prata Anã'.
2) As doses de potássio podem ser aumentadas para 1000 g/touceira/ano,
aplicadas semanalmente, resultando no aumento da massa média, do comprimento
total e do comprimento comercial do fruto.
3) Há necessidade de redefinir as doses de potássio comumente usadas no
Distrito Agroindustrial de Jaíba.