Crescimento inicial de laranjeira 'Valência' sobre dois porta-enxertos em
função da adubação nitrogenada no plantio
PROPAGAÇÃO
INTRODUÇÃO
A adubação nitrogenada em pomares de citros, hoje fundamentada em fertilizantes
solúveis, como nitrato de amônio, uréia e sulfato de amônio, apresenta
empecilhos que reduzem sua eficácia. Entre eles, destacam-se os custos de
aplicação dos fertilizantes solúveis, especialmente referentes à mão-de-obra, a
máquinas e implementos, sendo muitas vezes necessárias mais de três aplicações
anuais durante a formação e condução dos pomares. Além disso, a eficiência
dessa adubação nitrogenada, em certas condições, pode ser inferior a 50%
(Mattos Junior et al., 2002). Essa baixa eficiência, ora advém das perdas de
nitrogênio no ambiente via lixiviação ou volatilização, ora pela inadequação
entre período de fertilização e período de demanda nutricional pela planta
cítrica. Os fertilizantes solúveis também podem acarretar danos ambientais
quando, por exemplo, há contaminação de lençóis freáticos por NO3- lixiviado
(Shaviv, 2001).
Uma técnica alternativa de fertilização consiste no emprego de adubos
encapsulados de liberação gradual (Chitolina, 1994a). As principais vantagens
dos fertilizantes de liberação lenta, segundo Shaviv (2001), são: fornecimento
regular e contínuo de nutrientes na época necessária para as plantas; menor
freqüência de aplicações; redução de perdas de nutriente por lixiviação,
denitrificação, imobilização e ainda volatilização; eliminação de danos
causados a sementes e raízes devido à alta concentração de sais; maior
praticidade no manuseio dos fertilizantes; redução da poluição ambiental pelo
NO3-, atribuindo valor ecológico à atividade agrícola (menor contaminação de
águas subterrâneas e superficiais); redução nos custos de produção. Dessa
maneira, a eficiência da adubação nitrogenada pode ser ampliada através do uso
de fertilizantes de liberação lenta, com significativa redução de perdas de N e
melhor disponibilização às plantas.
Um dos mais empregados e estudados fertilizantes de liberação lenta é a uréia
recoberta por enxofre ou SCU ("sulfur-coated urea") (Chitolina, 1994b). Este
fertilizante constitui-se de uréia recoberta por enxofre elementar, contendo em
torno de 31 a 38% de N e 17% de S. Cerca de um terço da quantidade aplicada de
SCU disponibiliza-se imediatamente após o contato do produto com água, devido à
existência de grânulos microfissurados ou até mesmo danificados durante o
manuseio. Por outro lado, outro terço da quantidade restante do fertilizante,
considerada perfeitamente recoberta, apresenta longo período de liberação,
ajustando-se às necessidades da planta, muitas vezes não chegando a 70% de
liberação total após 180 dias de aplicação. Finalmente, cerca de 15 a 25 % dos
nutrientes têm liberação ainda mais prolongada, o que resulta da perda natural
da permeabilidade da camada de recobrimento.
Quanto a estudos referentes ao emprego de fertilizantes de liberação lenta em
citros, durante a formação do pomar, além da predominância de estudos
conduzidos nos EUA, Espanha e Israel, nota-se que o enfoque principal é, em
geral, a comparação entre a eficiência de fertilizantes solúveis e de liberação
lenta em promover o crescimento vegetativo das plantas (Raigon et al., 1996).
Dessa forma, este trabalho teve o objetivo de avaliar o crescimento inicial de
laranjeira 'Valência' sobre dois porta-enxertos em função da adubação
nitrogenada durante o primeiro ano de plantio, comparando-se fontes e doses.
MATERIAL E MÉTODOS
Quatrocentas mudas da variedade 'Valência' (Citrus sinensis (L.) Osbeck)
enxertadas sobre limão 'Cravo'(Citrus limonia Osbeck) e citrumelo 4475
'Swingle' (Poncirus trifoliata(L.) Raf. xCitrus paradisi Macf.) foram plantadas
em espaçamento 7m x 3m, em 21 de março de 2001, sobre Argissolo Vermelo-Amarelo
distrófico, textura arenosa / argilosa, típico Paleudult, situado em
Piracicaba, São Paulo, com coordenadas geográficas 22º43' S, 43º38' W e 540
metros de altitude. O clima local é classificado, conforme Köeppen, como Cwa.
Aplicaram-se as seguintes fontes de fertilizantes para ambas as combinações
copa/porta-enxerto: uréia (45% de N), em dose correspondente a 80 g de N/
planta, dividida em quatro aplicações ao ano (15; 20; 35 e 30 %,
respectivamente, 1; 5; 7 e 8,5 meses após o pegamento das mudas); nitrato de
amônio (34% de N), em dose correspondente a 80 g de N/planta, dividida em
quatro aplicações ao ano (15; 20; 35 e 30 %, respectivamente, 1; 5; 7 e 8,5
meses após o pegamento das mudas); uréia recoberta por enxofre (SCU) (37% de
N), em doses correspondentes a 22,2; 50 e 80 g de N/planta, aplicadas em duas
condições: totalmente na cova de plantio ou metade da dose na cova e a outra
metade em cobertura após seis meses. A SCU usada tem tempo de liberação total
de cerca de oito a nove meses.
O delineamento experimental adotado foi o de blocos ao acaso, com cinco
repetições e um total de 16 tratamentos, em esquema fatorial 2 x 8 (porta-
enxerto x fertilização). A parcela experimental foi constituída de quatro
plantas em linha, com uma planta de bordadura entre duas parcelas. Após 12
meses do plantio, foram coletados os seguintes dados biométricos: comprimento
do enxerto, diâmetro do tronco 5 cm abaixo e acima do ponto de enxertia,
diâmetro de copa e teor de clorofila nas folhas, medido com clorofilômetro
digital portátil modelo SPAD 502 (Minolta Co., Japão). Amostraram-se como
padrão 10 folhas maduras, com cerca de 5 a 6 meses de idade, para cada planta.
A leitura foi realizada sobre a face superior da folha, independentemente do
lado, tomando-se certa distância da nervura central, já que esta altera a
leitura de teor real de clorofila. Procedeu-se a três medidas consecutivas no
mesmo ponto, sendo levada em consideração a sua média. Também foi realizada
análise foliar 12 meses após o plantio, amostrando-se por parcela 35 a 40
folhas maduras (cinco a seis meses de idade) e avaliando-se: N, P, K, Ca, Mg,
S, B, Fe, Cu, Zn e Mn, seguindo metodologia para análise de tecidos vegetais
descrita por Malavolta et al. (1997).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O diâmetro do tronco de citrumelo 'Swingle' foi superior ao de limão 'Cravo',
independentemente do fertilizante ou dose, após 12 meses do plantio (Tabela_1).
O 'Swingle', habitualmente, apresenta diâmetro de tronco maior que a variedade
copa enxertada sobre ele ou ainda quando comparado a outros porta-enxertos
cítricos (Pompeu Junior, 1991). Quanto ao diâmetro de tronco do enxerto, não
houve diferença entre os tratamentos (Tabela_1). Este resultado difere do
obtido por Obreza (1990), embora o autor tenha encontrado maior diâmetro de
tronco de enxerto em função de fertilizante de liberação lenta apenas dois anos
após o início dos tratamentos e em combinação diferente de variedade copa e
porta-enxerto. Também não houve diferença entre os tratamentos quanto ao
comprimento do enxerto, diâmetro de copa e teor foliar de clorofila (Tabela_1).
Foi realizada análise química de folhas maduras, com cinco a seis meses de
idade, 12 meses após o plantio (Tabela_2). De maneira geral, os teores foliares
estão adequados, comparando-se com resultados de amostras realizadas em ramos
não frutíferos de pomares em produção (Hanlon et al., 1995), sem haver
interação expressiva aparente com os tratamentos. Também não se constataram
quaisquer sintomas visuais de deficiências nutricionais.
A grande maioria dos autores não observou diferenças entre parâmetros de
crescimento vegetativo de plantas cítricas jovens submetidas a fertilizantes de
liberação lenta, como a uréia recoberta por enxofre, ou a fertilizantes
solúveis, independentemente da concentração de fertilizante, mesmo após três a
quatro anos de avaliação (Raigon et al., 1996; Zekri & Koo 1992). Contudo,
diferenças referentes a teor foliar de N e área foliar da copa foram
determinadas pelos mesmos autores em plantas cítricas fertilizadas com uréia
recoberta com enxofre e outros fertilizantes de liberação lenta, dois a quatro
anos após o plantio. Em geral, nenhum autor encontrou desenvolvimento
insatisfatório de plantas cítricas usando fertilização de liberação lenta. A
concordância entre os estudos citados indica que fertilizantes de liberação
lenta têm potencial de reduzir em 50% a freqüência de aplicação, comparados a
fertilizantes solúveis, especialmente os nitrogenados, sem prejuízo ao
desenvolvimento vegetativo das plantas cítricas (Raigon et al., 1996). Por
outro lado, Jackson & Davies (1984), estudando o crescimento de tangelo
'Orlando' (Citrus reticulata Blanco x Citrus paradisi Macf.) sobre Poncirus
trifoliata (L.) Raf. em função da aplicação da mesma dose de N, em três
tratamentos (fertilizante solúvel em quatro aplicações anuais; uréia recoberta
por enxofre aplicada uma vez; uréia recoberta por enxofre aplicada duas vezes
no ano), observaram, após dois anos, que as plantas fertilizadas apenas uma vez
ao ano atingiram 60% do tamanho final das plantas fertilizadas duas vezes ao
ano com uréia recoberta com enxofre ou quatro vezes ao ano com o fertilizante
solúvel.
Vale destacar que a absoluta maioria dos trabalhos envolvendo formação de
pomares cítricos com o uso de fertilizantes de liberação lenta foi realizada em
países de clima temperado ou subtropical do Hemisfério Norte. Em condições
tropicais, sabe-se que o tempo de liberação dos "slow-release" é
substancialmente diminuído, mas métodos para medição ou estimativa dessa
redução ainda não são bem definidos. Dessa forma, necessita-se de pesquisas
contínuas sobre o tema em regiões onde o consumo desse tipo de fertilizante
começa a crescer, como no Brasil (Girardi et al., 2001).
Como praticamente não houve incremento substancial em crescimento vegetativo
das mudas, em função do aumento de dose ou freqüência de aplicação da SCU,
poder-se-ia empregar comercialmente a menor dose em uma única aplicação,
barateando o uso deste fertilizante. Isso demonstra, teoricamente, uma alocação
mais racional dos recursos, proporcionada pelo uso de menores quantidades de
fertilizante devido às menores perdas de N com uso dos fertilizantes de
liberação lenta. O uso da SCU em replantios seria uma opção econômica, pois
envolve pequeno número de plantas, onde o custo de aplicação se torna mais
representativo, e, portanto, uma única ou duas aplicações anuais são
alternativas mais desejáveis. Assim, o citricultor dispõe de variadas opções de
manejo da adubação de formação do pomar, durante o primeiro ano de plantio,
tomando sua decisão conforme aspectos de disponibilidade e de viabilidade
econômica de fertilizantes, além de seu ajustamento à realidade edafoclimática
local.
CONCLUSÕES
1) Citrumelo 'Swingle' induziu maior diâmetro de tronco de porta-enxerto que
Limão 'Cravo', avaliado 12 meses após o plantio.
2) As diferentes fontes, doses e parcelamentos de nitrogênio não determinaram
diferenças de crescimento vegetativo da laranjeira 'Valência' enxertada sobre
Limão 'Cravo' e citrumelo 'Swingle' até 12 meses após o plantio.