Efeito de fungicidas cúpricos, aplicados isoladamente ou em combinação com
mancozeb, na expressão de sintomas de fitotoxicidade e controle da ferrugem
causada por Puccinia psidii em goiabeira
DEFESA FITOSSANITÁRIA
Efeito de fungicidas cúpricos, aplicados isoladamente ou em combinação com
mancozeb, na expressão de sintomas de fitotoxicidade e controle da ferrugem
causada por Puccinia psidii em goiabeira1
Effect of copper fungicides, sprayed alone or in combination with mancozeb, in
expression of phytotoxicity symptoms and rust control caused by Puccinia psidii
in guava
Antonio de GoesI, IV; Ricardo Duarte MartinsII; Renato Ferrari dos ReisIII
IProf. Departamento de Fitossanidade da FCAV/UNESP- Jaboticabal, Via de Acesso
Prof. Paulo D. Castellane, s/n CEP 14884-900. Fone (016) 3209-2640 - email:
agoes@fcav.unesp.br
IIDepartamento de Fitossanidade da FCAV/UNESP- Jaboticabal, Via de Acesso Prof.
Paulo D. Castellane, s/n CEP 14884-900. Fone (016) 3209-2640 - email:
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IIIAluno do Doutorado - Produção Vegetal da FCAV/UNESP- Jaboticabal, Via de
Acesso Prof. Paulo D. Castellane, s/n CEP 14884-900. Fone (016) 3209-2640 -
email: reisferrari@hotmail.com
IVBolsista CNPq
INTRODUÇÃO
A cultura da goiaba atualmente apresenta grande importância econômica no
Brasil, face às múltiplas formas de aproveitamento industrial dos frutos e
também devido ao aumento de seu consumo in natura.
No caso particular do Estado de São Paulo, a cultura apresenta vários problemas
de natureza fitossanitária, onde se destacam várias doenças, entre as quais a
ferrugem causada por Puccinia psidii Wint. De acordo com Galli (1980), essa se
constitui na doença mais importante da cultura no Estado de São Paulo. Além da
goiabeira, P. psidii afeta diversas espécies de plantas, incluindo-se
Eucaliptus, onde se constitui em doença de importância relevante em plantações
da África do Sul e da Austrália.
Em goiabeiras, o fungo P. psidii afeta tecidos jovens em desenvolvimento, tais
como folhas, botões florais, frutos e ramos. Sob condições favoráveis, a doença
causa grande abortamento de flores e queda de frutos em desenvolvimento, com
reflexos diretos na produtividade. Dependendo da severidade da doença, as
perdas podem chegar de 80 a 100%.
Para o controle da ferrugem, em épocas favoráveis à doença, são recomendadas
pulverizações com fungicidas cúpricos ou calda bordalesa (Andrade, 1951).
Entretanto, segundo o autor, aplicações de fungicidas cúpricos podem provocar
danos nas folhas e nos frutos em desenvolvimento.
Em eucalipto, sob condições de casa de vegetação, Ruiz et al. (1987)
verificaram eficiente ação curativa dos fungicidas sistêmicos oxicarboxin,
tridimenol e triforine, mesmo quando as plantas foram pulverizadas após seis
dias da inoculação, e já se mostravam sintomáticas. Segundo os autores, neste
estudo, foi verificado que benomyl e dithianon não controlaram totalmente o
fungo, enquanto captafol e propiconazole, embora altamente eficazes, provocaram
sintomas de fitotoxicidade, expressos na forma de encarquilhamento foliar,
principalmente nas folhas mais novas. Além dos fungicidas cúpricos, outros
fungicidas, como chlorothalonil, triadimefon, enxofre+mancozeb, captafol,
mancozeb, oxicarboxin e maneb, são também indicados para o controle da ferrugem
(Campacci et al., 1982; Martinez & Pereira, 1984; Ruiz et al., 1987).
Fungicidas à base de cobre, usados isoladamente, provocam sintomas leves de
fitotoxicidade nos frutos, caracterizado por um retículo superficial, de cor
pardo-escura, coalescendo nas áreas de escorrimento do produto aplicado
(Martinez & Pereira, 1984). Por outro lado, não há na literatura
informações quanto ao efeito da combinação de fungicida cúpricos e
etilenobisditiocarbamatos (maneb, mancozeb e zineb) no controle desta doença.
Segundo Maringoni & Kimati (1987), tal combinação apresenta efeito
sinergístico e, dessa forma, quando se visa ao controle de bactérias
fitopatogênicas, requer concentrações mais baixas dos cúpricos
O presente trabalho teve por objetivo avaliar o efeito de diferentes
formulações de fungicidas cúpricos, aplicados isoladamente ou em combinação com
mancozeb, no controle da ferrugem da goiabeira, sem produzir sintomas de
fitotoxicidade em botões florais e em frutos, em diferentes estádios de
desenvolvimento.
MATERIAIS E MÉTODOS
Experimento 1- Efeito de formulações de fungicidas cúpricos, aplicados
isoladamente ou em mistura com mancozeb, na expressão de sintomas de
fitotoxicidade em botões florais e em frutos
O experimento foi realizado em pomar comercial com espaçamento 5x6m, de 4 anos
de idade, da cultivar 'Paluma', localizado no município de Monte Alto-SP, em
agosto de 1998. A produção dessa área destinava-se ao consumo in natura. Os
estádios avaliados foram os seguintes: 1- botões florais; 2- frutos com
diâmetro inferior ou igual a 15 mm; 3- frutos com diâmetro entre 25 e 35 mm; 4-
frutos de diâmetro maior que 40 mm.
Foram testadas diferentes formulações de fungicidas cúpricos, isoladamente ou
em combinação com mancozeb (Tabela_1). Foram realizadas duas pulverizações em
intervalos quinzenais, utilizando-se de um pulverizador costal pressurizado a
CO2, com pressão de 60 lb/pol2, dotado de bico cônico, vazio tipo D-2, cuja
vazão foi de aproximadamente 2 L de calda por planta. A primeira aplicação foi
feita em 02-08-98 e a segunda, em 17-08-98.
Empregou-se o delineamento experimental com blocos ao acaso, com 8 tratamentos
e duas repetições, sendo cada parcela representada por uma planta, na qual
foram marcados 25 botões e 25 frutos para cada um dos estádios de
desenvolvimento preestabelecidos. As flores e frutos foram avaliados
semanalmente por ocasião de cada pulverização. O critério de avaliação
consistiu na determinação do número de flores ou frutos abortados e na
severidade dos sintomas de fitotoxicidade por ocasião da colheita dos frutos. O
nível de sintomas de fitotoxicidade foi estimado usando-se a seguinte escala de
notas: 0 (zero)- ausência de sintomas; 1- sintomas leves (frutos com leves
pontuações diminutas, pouco perceptíveis, sem restrição ao mercado de frutas
frescas); 2- sintomas moderados (frutas com pontuações pequenas e visíveis e
localizadas, às vezes em confluência, porém aceitas com restrição para o
mercado de frutas frescas), 3- sintomas severos (pontuações escuras bem
visíveis, ocupando espaços variáveis no fruto, rejeitados para mercado de
frutas frescas).
Experimento 2- Efeito de formulações de fungicidas cúpricos, aplicados
isoladamente ou em mistura com mancozeb, no controle da ferrugem em frutos de
goiabeira
O experimento foi realizado no município de Vista Alegre do Alto-SP, em junho e
julho de 1999, em pomar irrigado, com 6 anos de idade, da cultivar 'Paluma',
espaçamento 5x7m, conduzido com podas duas vezes por ano, visando a colheitas
na safra e na entressafra.
Para a avaliação, por ocasião da primeira pulverização, foram marcados 50
botões florais e 50 frutos com diâmetro inferior a 30 mm em cada planta, cujo
desenvolvimento foi acompanhado nas semanas subseqüentes. As avaliações
consistiram em inspeção visual, em intervalos semanais, após as aplicações dos
fungicidas, determinando-se o número de frutos com sintomas da doença.
Empregou-se o delineamento experimental em blocos ao acaso, com 9 tratamentos e
4 repetições, sendo cada parcela representada por uma planta. Foram realizadas
duas pulverizações, sendo a primeira em 02-06-99 e, a segunda, 16 dias após a
primeira. A metodologia utilizada para a aplicação dos fungicidas foi
semelhante à adotada no Experimento 1. Os tratamentos, nome comercial,
concentrações dos fungicidas e doses avaliadas encontram-se apresentados na
Tabela_1.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Efeito de formulações de fungicidas cúpricos, aplicados isoladamente ou em
mistura com mancozeb, na expressão de sintomas de fitotoxicidade em botões
florais e frutos
Nenhuma das formulações de fungicidas cúpricos ou mancozeb, avaliados
isoladamente ou em combinações, ocasionou abortamento de botões florais e
frutos com diâmetro menor ou igual a 15 mm em níveis estatisticamente
significativos, independentemente dos diferentes intervalos de avaliação
(Tabela_2). Aparentemente, a queda de botões florais deveu-se a razões
fisiológicas, possivelmente relacionadas ao descarte natural dos frutos.
Segundo Ray e Chonkar, citados por Medina (1988), a maior fertilização das
flores de goiabeira ocorre mediante polinização cruzada. Segundo os autores,
grande queda de frutos resulta de descarte fisiológico, naturalmente controlado
pela planta. Não se descarta também a possibilidade de que o abortamento
ocorrido seja devido à falta de irrigação, já que essa área não era irrigada,
ou devido a desequilíbrio nutricional. De acordo com registros climáticos
obtidos na estação agroclimatológica do Departamento de Ciências Exatas da FCAV
- Câmpus Jaboticabal, neste período, registrou-se precipitação de 59,4 mm. A
quantidade de chuvas no período não foi suficiente para compensar o déficit
hídrico acumulado que se situou em torno de 40 a 50 mm.
O número de frutos abortados, com diâmetro menor ou igual a 15 mm, foi muito
baixo nas avaliações efetuadas em 09 e 16-08-98, diferentemente aos observados
nas duas semanas subseqüentes, quando o percentual de frutos caídos variou de
cerca de 14-22% em 24-08 e 20-28% em 31-08. Nesses frutos, mesmo nos
eventualmente caídos, não foram observados sintomas aparentes de
fitotoxicidade, independentemente da formulação e combinações testadas.
Efeito de formulações de fungicidas cúpricos, aplicados isoladamente ou em
mistura com mancozeb, na expressão de sintomas em frutos com diâmetro menor ou
igual a 15 mm, entre 25 e 35 mm e maior ou igual a 40 mm
Não foram observados sintomas de fitotoxicidade em frutos com diâmetro menor ou
igual a 15 mm, independentemente da época e tratamentos avaliados (Tabela_3).
Em frutos com diâmetro entre 25 e 35 mm, observaram-se, na primeira avaliação,
sintomas de fitotoxicidade nos tratamentos constituídos por oxicloreto e
hidróxido de cobre (Tabela_3). Entretanto, tais sintomas foram classificados
como leves, mostrando-se superficiais, não excedendo notas de valores
superiores a 1, conforme escala empregada. Na avaliação subseqüente, nestes
tratamentos, foi observado evolução dos níveis de sintomas, atingindo nota 2.
Os tratamentos de óxido cuproso, isoladamente ou em mistura com mancozeb,
contribuíram para um aumento de fitotoxicidade, embora esses se restringissem a
níveis leves. Nas duas semanas subseqüentes, com exceção de mancozeb, em todos
os demais tratamentos, foram observados sintomas de fitotoxicidade. Entretanto,
verificou-se que esses sintomas foram de baixa expressão nas combinações com
mancozeb, em níveis moderados, onde se empregaram hidróxido de cobre e óxido
cuproso, e em níveis severos em áreas tratadas com oxicloreto de cobre.
Resultado também relevante diz respeito ao rápido desenvolvimento dos frutos
nos estádios entre 25 e 35 mm, cuja média se situou em torno de 4 mm de
diâmetro por dia. Essa multiplicação celular acelerada, associada à elevada
intensidade de radiação solar, pode constituir-se em fator que agrava a
expressão dos sintomas de fitotoxicidade, especialmente em frutos mais expostos
ao sol, o que pode ser dependente da cultivar usada na experimentação.
Em relação aos frutos com diâmetro igual ou superior a 40 mm, na primeira
avaliação, não foram observados sintomas de fitotoxicidade, independentemente
dos tratamentos avaliados (Tabela_3). Na avaliação subseqüente, realizada em
16-08, foram observados sintomas de fitotoxicidade em níveis leves nos
tratamentos constituídos por óxido cuproso e oxicloreto de cobre empregados
isoladamente ou em combinação com mancozeb. Por outro lado, sintomas moderados
foram observados apenas nos tratamentos com oxicloreto de cobre e óxido
cuproso.
Controle da ferrugem em frutos de goiabeira 'Paluma'
Verificou-se que nas três primeiras avaliações, realizadas em 09, 17 e 25-06-
99, não houve diferença estatística entre os tratamentos avaliados (Tabela_4).
Neste período, embora a incidência da ferrugem tenha sido baixa, todos os
tratamentos foram estatisticamente semelhantes à testemunha, sendo observados
níveis variados de incidência. Na quarta avaliação, verificou-se que, com
exceção de mancozeb, todos os demais diferiram estatisticamente da testemunha,
mostrando-se eficientes no controle da ferrugem da goiabeira. No caso da
combinação mancozeb-oxicloreto de cobre, essa apresentou eficiência
intermediária, não diferindo estatisticamente da testemunha e dos tratamentos
mais eficientes.
Os tratamentos mais eficientes no controle da ferrugem foram os constituídos
por óxido cuproso e hidróxido de cobre, isoladamente ou associado a mancozeb. A
eficiência destes tratamentos foi comparável ao tebuconazole, considerado
padrão pela sua eficiência.
No transcorrer das avaliações, o tratamento constituído por mancozeb,
juntamente com a testemunha foram os únicos que não contribuíram para a redução
nos níveis de incidência da doença. Nestes casos, foi verificado um incremento
no número de frutos sintomáticos, variando de 8% para 16%, em ambos os
tratamentos.
Os resultados quanto ao efeito fitotóxico oriundo da aplicação de fungicidas
cúpricos usados isoladamente, em frutos de goiabeira 'Paluma', de diâmetro
entre 25 e 35 mm, mostram-se convergentes às citações na literatura (Piccinini
& Pascholati, 1997). Tais efeitos constituem-se em obstáculo à produção de
frutos de alto padrão de qualidade, destinados ao mercado de frutas frescas.
O mancozeb e a combinação cúprico-mancozeb, como apresentado nesse trabalho,
mostram-se como alternativas importantes de controle a serem utilizadas pelos
produtores, sobretudo quando as condições climáticas favorecem a ocorrência de
P. psidii e, particularmente, nos estádios em que os frutos se encontram com
tamanho médio de 25 a 35 mm, menos suscetíveis à fitotoxicidade a esses
fungicidas. Por outro lado, quando sob condições favoráveis à doença e contando
com a predominância de frutos de diâmetro superior a 45 mm, é possível
compatibilizar o controle mediante o emprego das diferentes formulações de
fungicidas cúpricos.
Pressupõe-se que o nível moderado de fitotoxicidade verificado em frutos de
diâmetro maior ou igual a 40 mm, tratados com fungicidas cúpricos, aplicados
isoladamente, deve-se ao grau de desenvolvimento dos frutos, já que esses se
encontravam em fases próximas à maturação. Em relação às folhas, não foram
observados sintomas de fitotoxicidade, independentemente das formulações e
combinações avaliadas o que, de certa forma, se mostra divergente dos dados
citados por Andrade (1951).
Os níveis de controle da ferrugem obtidos mediante as diferentes formulações de
fungicidas à base de cobre confirmam resultados de pesquisas publicados por
Campacci (1982), onde se constatou que oxicloreto de cobre 50%, aplicado em
intervalo de 10 em 10 dias, foi eficiente no controle de P. psidii. Tais
resultados também convergem aos obtidos por Ferrari et al. (1997), os quais
verificaram que oxicloreto de cobre, mancozeb e clorotalonil se mostraram
eficientes no controle da ferrugem da goiabeira. Também foi verificado que os
resultados obtidos através do emprego de tebuconazole se mostram convergentes
aos apresentados por vários pesquisadores quanto à eficácia dos fungicidas
inibidores da biossíntese de ergosterol no controle de espécies de fungos
pertencentes ao Filo Basidiomycota (Forcelini, 1994), onde se enquadra P.
psidii. Tais resultados são também indicações quanto à viabilidade de rodízio
e/ou alternância do emprego destes produtos, havendo, portanto, possibilidade
da compatibilização dos mesmos e, assim, manejar mais adequadamente quanto aos
riscos de resistência do fungo aos fungicidas, como preconizado por Brent
(1995).
As alternativas de controle da ferrugem da goiabeira apresentada por cúpricos e
pela combinação cúpricos-mancozeb mostram-se de importância relevante,
principalmente em áreas onde são realizadas podas contínuas visando à produção
em diferentes épocas do ano, onde há formação freqüente de novos lançamentos, o
que contribui para maior predisposição para ocorrência da ferrugem. Nessas
áreas, é possível compatibilizar bom controle da doença, com menos danos à
qualidade dos frutos. Além disso, tais alternativas constituem-se também em
medida preventiva à ocorrência e/ou controle curativo da bacteriose da
goiabeira, causada por Erwinia psidii (Rodrigues Neto et al.), o que não
acontece com o uso do fungicida tebuconazole.
CONCLUSÕES
1. Oxicloreto de cobre, hidróxido de cobre e óxido cuproso, quando aplicados em
goiabeiras, não causam abortamento de flores e queda de frutos, porém causam
sintomas de fitotoxicidade em níveis severos em frutos de diâmetro entre 25 e
35 mm, reduzindo sua qualidade, podendo depreciá-los comercialmente; quando
aplicados em frutos de diâmetro superior a 40 mm, os sintomas de fitotoxicidade
são variáveis, situando-se entre leves e moderados, porém não se constituindo
em fator de depreciação comercial.
2. Aplicações de oxicloreto de cobre, hidróxido de cobre e óxido cuproso,
isoladamente ou em mistura com mancozeb, além de tebuconazole, controlam
eficientemente a ferrugem da goiabeira.