Home   |   Structure   |   Research   |   Resources   |   Members   |   Training   |   Activities   |   Contact

EN | PT

BrBRCVAg0100-29452004000200035

BrBRCVAg0100-29452004000200035

variedadeBr
ano2004
fonteScielo

O script do Java parece estar desligado, ou então houve um erro de comunicação. Ligue o script do Java para mais opções de representação.

Estabelecimento de normas DRIS para o diagnóstico nutricional do coqueiro-anão verde na região Norte Fluminense SOLOS E NUTRIÇÃO DE PLANTAS

Estabelecimento de normas DRIS para o diagnóstico nutricional do coqueiro-anão verde na região Norte Fluminense1

Establishment of DRIS norms for green dwarf coconut tree in the north of the state of Rio de Janeiro for nutritional diagnostic purpose

Anselmo Lúcio dos SantosI; Pedro Henrique MonneratII; Almy Júnior Cordeiro de CarvalhoIII IEng. Agr. Dr., Produção Vegetal. Bolsista da F APERJ/UENF, Av. Alberto Lamego, 2000, Campos dos Goytacazes-RJ - Brasil CEP 28013-600. Fone: 022 2726 1425 alsantos@uenf.br IIEng. Agr. Ph. D., Nutrição Mineral de Plantas. Professor Titular da UENF, Campos dos Goytacazes-RJ. Fone: 022 2726 1425 monnerat@uenf.br IIIEng. Agr. Dr., Fruticultura, Professor Associado da UENF, Campos dos Goytacazes-RJ. Fone: 022 2726 1426 almy@uenf.br

INTRODUÇÃO O coqueiro (Cocos nucifera L.) é uma palmeira conhecida mundialmente. Seu fruto pode ser utilizado para o consumo in natura, principalmente a água de coco, e para o processamento agroindustrial. Apesar de toda a importância, uma deficiência em relação aos dados de pesquisas sobre a cultura e, principalmente, àqueles ligados à nutrição mineral. As poucas informações existentes são, na maioria, para a variedade gigante ou para o coqueiro híbrido.

A idéia de se usar o teor do nutriente mineral como critério para avaliar o estado nutricional de plantas é muito atraente. Este princípio foi posto em prática, inicialmente, por Lagatu & Maume (1934) e seguido por muitos outros pesquisadores desde então (Bataglia et al., 1992). Atualmente, muitas publicações relatam aplicações e experiências com várias culturas (Malavolta et al., 1997).

A interpretação correta dos resultados de uma análise química de plantas depende de muita pesquisa para o estabelecimento de índices de calibração.

Entre os critérios mais usados para diagnóstico, são citados o nível crítico, faixas de concentração e o sistema integrado de diagnose e recomendação (DRIS).

O DRIS, apesar de muito difundido recentemente, ainda é pouco aplicado no Brasil e, realmente, precisa ser mais bem calibrado para um diagnóstico mais apurado. A diagnose visual, a análise química de solo, a análise química foliar, a exportação de nutrientes e a estimativa de produção têm sido utilizadas na determinação do estado nutricional e, por conseqüência, na necessidade de adubação de plantas. Esses métodos têm sido utilizados como alternativa para determinar, com maior exatidão, a quantidade de fertilizante a aplicar, vários dos quais extremamente dispendiosos e com resultados muitas vezes inconsistentes.

O sistema integrado de diagnose e recomendação (DRIS) foi desenvolvido como uma ferramenta de diagnóstico nutricional a partir de trabalhos com seringueiras (Hevea brasiliensis), nas décadas de 50 e 60 (Beaufils, 1973), e sua utilização tem sido feita em muitas espécies vegetais de importância agrícola. Na sua concepção, foi desenvolvido para tornar a interpretação menos dependente de variações de amostragens com respeito à idade e à origem do tecido vegetal, para permitir um ordenamento de nutrientes limitantes ao crescimento e para realçar a importância do equilíbrio nutricional da planta (Bataglia et al., 1992), permitindo, assim, um uso universal das normas DRIS. Ao DRIS, também, se atribui a vantagem de identificar alguns casos em que a produção está limitada por desequilíbrio nutricional, mesmo que nenhum dos nutrientes esteja abaixo de seu nível crítico. As principais desvantagens no uso do DRIS são a complexidade da metodologia, não indicando a probabilidade de resposta à adição do nutriente considerado limitante (Hallmark & Beverly, 1991) e a dependência entre os índices, ou seja, o teor de um nutriente pode afetar a interpretação de outro nutriente.

O DRIS baseia-se no cálculo de um índice para cada nutriente, comparando-se as relações entre um nutriente e cada um dos demais nutrientes na amostra sob diagnose com as relações envolvendo esse mesmo nutriente em uma população de alta produtividade. O índice DRIS nada mais é do que a média dos desvios das relações contendo um determinado nutriente em relação a seus respectivos valores ótimos. Cada relação entre nutrientes na população de alta produtividade constitui uma norma DRIS e tem sua respectiva média e coeficiente de variação. Índice DRIS negativo indica que o nutriente está abaixo do nível ótimo, enquanto índice positivo indica que o nutriente está acima do nível ótimo. Se o índice DRIS de um nutriente é igual a zero, este elemento está em equilíbrio com os outros nutrientes (Beaufils, 1973; Reis Jr. & Monnerat, 2002a).

Os índices dos nutrientes em uma amostra podem variar de positivos a negativos, mas o somatório destes índices sempre será igual a zero. O somatório dos valores absolutos destes índices forma o índice de equilíbrio nutricional (IEN), que expressa o equilíbrio nutricional da cultura amostrada. Quanto menor o IEN, menor será o desequilíbrio entre nutrientes.

Apesar de diversos autores terem adotado que a universalidade das normas DRIS é incontestável, vários outros têm questionado o uso universal das normas DRIS (Hallmark & Beverly, 1991; Reis Jr. & Monnerat, 2002b), pois diferenças entre normas geradas a partir de populações e locais distintos têm sido encontradas, demonstrando que as normas DRIS não são inteiramente independentes de condições locais ou épocas de amostragem (Reis Jr. & Monnerat, 2002b).

A concentração de elementos móveis na folha diminui com a idade, enquanto a concentração de elementos imóveis aumenta; logo, a relação entre um nutriente móvel e um imóvel não poderia manter-se constante ao longo do tempo. Esse fato derruba uma das premissas para o uso do DRIS em qualquer época de amostragem (Reis Jr., 1999). Dessa forma, suspeita-se que esta universalidade atribuída às normas DRIS possa ser responsável por falhas de diagnose encontradas com esta metodologia (Reis Jr., 1999).

O objetivo deste trabalho foi estabelecer normas DRIS e fazer sua aplicação no diagnóstico nutricional do coqueiro-anão verde na região Norte do Estado do Rio de Janeiro.

MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi desenvolvido de março de 2000 a dezembro de 2001, na região Norte do Estado do Rio de Janeiro, nos municípios de São João da Barra, no sítio São João, nas coordenadas geográficas 21º 41' 22'' S e 41º 03' 28'' W e de Quissamã, na fazenda Capivari, nas coordenadas geográficas 22º 05' 37'' S e 41º 17' 34'' W, empregando-se plantas de coqueiro-anão verde nesses dois locais. O coqueiral do sítio São João, por apresentar plantas mais produtivas, foi utilizado para estabelecimento das normas DRIS; as plantas da fazenda Capivari, por terem menores produtividades, foram diagnosticadas pelo DRIS, para avaliação de seu estado nutricional.

Na Tabela_1, são apresentados os resultados da análise química dos solos, pertencentes à classe Neossolo Flúvico Distrófico (Embrapa, 1999), desses dois locais onde foram instalados os ensaios. As análises foram feitas de acordo com metodologia proposta pela Embrapa (1979).

Amostras foliares foram coletadas e o número médio de frutos por planta contado a cada 132 dias, em média, perfazendo seis amostragens, entre março de 2000 e dezembro de 2001, nos dois locais. Coletaram-se seis folíolos da parte central da folha 14, sendo três de cada lado, retirando-se os 10 cm da parte central.

Em cada época de amostragem foliar, foi realizada, também, a contagem do número de frutos, e o número médio de frutos planta-1 ano-1 foi calculado em função dos três cachos mais próximos da colheita. Considerou-se a produção de 15 cachos planta-1 ano-1.

Os folíolos foram limpos com algodão embebido em água desionizada, removendo-se a nervura central e as bordas do limbo e secos em estufa de circulação forçada de ar, a 75 ºC, durante 48 horas. Os nutrientes P, K, Ca, Mg, S, Cl, B, Cu, Fe, Mn e Zn foram determinados de acordo com metodologia proposta por Malavolta et al. (1997) e o N, pelo método de Nessler (Jackson, 1958).

Para o estabelecimento das normas DRIS, utilizaram-se a fórmula original de Beaufils (1973) e os procedimentos (K = 10 e relação entre nutrientes > 1) adotados por Reis Jr. & Monnerat (2002a), utilizando-se das 35 melhores plantas do coqueiral do sítio São João, com seis anos de idade, cuja produtividade média foi de 227±16 frutos planta-1 ano-1. As normas DRIS obtidas foram utilizadas para diagnosticar o estado nutricional de coqueiros-anões verdes, com produtividades variadas, cultivados na fazenda Capivari. Os resultados das análises foliares dessas 35 plantas foram, também, empregadas para o estabelecimento de faixas de teores adequados e para a diagnose de coqueirais com baixa produtividade.

As plantas da fazenda Capivari foram agrupadas em 4 categorias, quanto ao número médio de frutos: <100; 101-150; 151-200 e >200 frutos planta-1 ano-1.

Cada categoria de produtividade foi composta por 18 plantas, com idade entre oito e dez anos.

Os dados de Mirisola Filho (1997) da composição mineral de coqueiros-anões verdes, com idade entre quatro e seis anos, apresentando produtividades variadas, obtidos de novembro de 1994 a maio de 1996, na mesma fazenda, foram, também, submetidos à diagnose pelo DRIS.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Os teores e seus respectivos desvios-padrões de macro e micronutrientes de 35 plantas de alta produtividade (227±16 frutos planta-1 ano-1), amostradas 6 vezes durante 2 anos (Tabela_2), podem constituir faixas adequadas para o coqueiro-anão verde no Norte Fluminense. Os teores obtidos estão bem acima dos níveis críticos apresentados por Magat (1991), para a folha 14 de coqueiro- anão, que são os seguintes: N = 18-20; P = 1,1-1,2; K = 6-8; Ca = 1,5-2,0; Mg = 2,5, em g kg-1, para os macronutrientes, e Fe = 40-45; Mn = 60 e B = 8, em mg kg-1, para os micronutrientes. Plantas que apresentarem teores dentro das faixas constantes da Tabela_2 podem ser consideradas adequadamente supridas desses nutrientes minerais; entretanto, não é necessário estar dentro da faixa para uma planta ser considerada bem suprida.

As normas DRIS (média das relações e os respectivos coeficientes de variação) obtidas da mesma população de plantas com alta produtividade, para serem utilizadas como referência para a diagnose nutricional do coqueiro-anão verde na região Norte Fluminense, constam da Tabela_3.

A diagnose do estado nutricional de coqueiros-anões verdes com diferentes produtividades, na fazenda Capivari (Tabela_4), usando-se as normas constantes da Tabela_3, apresentou a seguinte ordem decrescente de limitação por deficiência: K > Ca > B (Tabela_5), para as três menores produtividades e Ca>K>B, para a maior produtividade, pois os valores dos índices foram negativos e superiores, em termos absolutos, ao índice de equilíbrio nutricional médio (IENM), nos quatro grupos de produtividade. As plantas com a maior produtividade na fazenda Capivari apresentaram IENM menor que as de mais baixa produtividade, indicando que elas estariam mais equilibradas, nutricionalmente (Tabela_5). Entretanto, dentro das três faixas de menor produtividade, essa tendência não foi observada.

Mn e Mg apresentaram índices DRIS positivos e maiores que o IENM, sugerindo um eventual excesso pelo fato de os teores estarem acima das faixas de teores adequados (Tabelas_2 e 4). O baixo teor de K (Tabela_4), em comparação com as plantas com alta produtividade (Tabela_2), e o baixo valor do índice DRIS desse nutriente (Tabela_5) indicam que as plantas de coqueiro-anão da fazenda Capivari devem estar deficientes de K. Além disso, as plantas menos produtivas apresentam índice de K mais negativo (Tabela_5). Apesar de os teores de K no solo serem elevados (Tabela_1), isso não se refletiu em grande absorção pelas plantas. A absorção de K é fortemente inibida por elevados teores de Ca e Mg (Marschner, 1995); portanto, a interpretação da análise de solo para indicar a disponibilidade de K deve ser cuidadosa, e os teores de Ca e Mg devem ser levados em consideração, pois, nem sempre, elevados teores de K no solo indicam adequada nutrição potássica para o coqueiro, como, provavelmente, ocorreu no solo em que o coqueiral da fazenda Capivari foi instalado (Tabela_1). Uma provável deficiência de K é reforçada pelo baixo teor desse nutriente nas plantas menos produtivas (< 100 frutos planta-1 ano-1), inferior, inclusive, ao nível crítico apresentado por Magat (1991).

Apesar de o índice de Ca ter sido negativo e maior, em termos absolutos que o IENM, não parece haver deficiência, pois os teores estão bem acima do nível crítico de 1,5-2,0 g kg-1 relatado por Magat (1991), embora estejam abaixo dos teores observados na população de alta produtividade (Tabela_2). Os elevados teores de Mg na planta podem ser atribuídos à estreita relação Ca/Mg no solo (Tabela_1), diferentemente do solo da população de alta produtividade. Mirisola Filho (1997), também, encontrou altos teores foliares de Mg e, conseqüentemente, relação Ca/Mg menor que 1 na matéria seca de folhas do coqueiral localizado na mesma fazenda Capivari, amostrado entre 1994 e 1996.

Segundo esse mesmo autor, esse efeito pode estar ligado aos elevados teores de Mg encontrados no solo. Em coqueiro gigante, Schut (1975) encontrou razão Ca/Mg de 1,66. Os índices de Mn e de Mg positivos e maiores que o IENM (Tabela_5) sugerem que esses nutrientes estariam em excesso; todavia, eles não devem constituir problema para as plantas, pois os seus teores (Tabela_4) são pouco maiores que os das plantas de alta produtividade (Tabela_2). É necessário considerar que a existência de índices DRIS fortemente negativos pressupõe a ocorrência de índices DRIS positivos na mesma amplitude, pois o somatório dos índices deverá ser zero.

A água é um veículo extremamente importante para o processo de absorção de nutrientes pelas plantas e, quando um estresse hídrico, a absorção de nutrientes é uma das funções mais prejudicadas. Uma das razões para as deficiências nutricionais apontadas nas plantas da fazenda Capivari, no município de Quissamã, seria o déficit hídrico, que o sistema de irrigação utilizado no coqueiral, no período de condução dos ensaios, não atendeu plenamente à demanda hídrica das plantas. A região Norte Fluminense caracteriza-se por precipitação baixa e irregular durante o ano.

O estado nutricional do coqueiral da fazenda Capivari, avaliado entre março de 2000 e dezembro de 2001 (Tabela_4), mostra uma situação muito parecida com a existente nessa mesma cultura entre 1994 e 1996 (Tabela_6), conforme dados publicados por Mirisola Filho (1997). Ele encontrou teores (Tabela_6) que, ao serem comparados aos do sítio São João, no município de São João da Barra (Tabela_2), apontam teores reduzidos de K, Ca, B e Cl e teores mais elevados de Mg. Os baixos teores de K (Tabelas_6) vêm ocorrendo bastante tempo nessa propriedade, principalmente na área I, que é a mesma onde foram desenvolvidas as pesquisas entre março de 2000 e dezembro de 2001. Esse é mais um indicativo do estresse nutricional provocado pela possível deficiência desse nutriente.

Como reflexo, aparecem as baixas produtividades verificadas no levantamento feito.

Quando os teores de nutrientes minerais em coqueiro-anão verde, obtidos por Mirisola Filho (1997), na fazenda Capivari, entre 1994 e 1995 (Tabela_6), foram submetidos à avaliação do estado nutricional pelo método DRIS, empregando as normas estabelecidas presentemente, verificou-se que o índice DRIS mais negativo foi o de K, com alternância entre Ca, Cl e B (Tabela_7). Verifica-se, portanto, persistência da deficiência de K e menores teores de B nas plantas amostradas recentemente.

CONCLUSÕES 1. Estabeleceram-se normas DRIS e faixas de teores adequadas para coqueiro-anão verde na região Norte Fluminense.

2. A diagnose nutricional pelo método DRIS em um coqueiral com baixa produtividade indicou a seguinte ordem de limitação por deficiência nutricional: K > Ca > B.

3. Os coqueirais menos produtivos apresentaram teores de K mais baixos e menores índices DRIS de K.

4. Baixos teores de K em folhas de coqueiro foram associados a altos teores de Mg no solo.


transferir texto