Insulinomas do pâncreas: diagnóstico e tratamento
ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLEINTRODUÇÃO
Os insulinomas do pâncreas são neoplasias das células beta das ilhotas
pancreáticas, caracterizados pela produção excessiva de insulina, manifestada
por sintomas neurovegetativos e neuroglicopênicos secundários à hipoglicemia.
São causas de hiperinsulinismo orgânico: o adenoma benigno das células beta do
pâncreas, a microadenomatose difusa das ilhotas pancreáticas, a neoplasia
maligna das ilhotas pancreáticas e a nesidioblastose(9). Embora seja uma
neoplasia rara, o insulinoma constitui o mais freqüente dos tumores
neuroendócrinos do pâncreas(19). Este tipo de neoplasia foi relatado
inicialmente por NICHOLLS(31), em 1902, e WILDER(51), em 1927; entretanto, foi
a partir de WHIPPLE e FRANTZ(48), que se iniciou o melhor conhecimento da
doença. A dificuldade diagnóstica(7, 52) e os sintomas neuropsiquiátricos desta
doença freqüentemente levam a erros no diagnóstico(39). Em nosso meio, existem
poucas publicações a respeito dessa neoplasia(1, 2, 14, 26, 32).
O tratamento cirúrgico dos insulinomas constitui a melhor alternativa para a
terapêutica desta doença e o acompanhamento a longo prazo merece melhor atenção
(12).
O presente estudo tem como objetivo analisar as características clínicas,
cirúrgicas e anatomopatológicas de uma série de doentes portadores de
insulinoma de pâncreas tratados na Disciplina de Gastroenterologia Cirúrgica da
Universidade de São Paulo ' Escola Paulista de Medicina ' UNIFESP ' EPM.
CASUÍSTICA E MÉTODOS
No período de janeiro de 1986 a dezembro de 2001, foram estudados 12 doentes
consecutivos, portadores de insulinoma do pâncreas submetidos a tratamento
cirúrgico. Sete eram do sexo feminino e cinco do sexo masculino; suas idades
variavam de 17 a 74 anos, com média de 51 anos. O quadro clínico caracterizou-
se, fundamentalmente, pelos sintomas neuropsiquiátricos, sendo os mais
freqüentes: convulsões, sonolência, sudorese, alterações da personalidade e do
comportamento (Tabela_1).
O tempo decorrido entre o aparecimento dos sintomas e a procura por atendimento
médico variou de 1 a 14 anos. Nove doentes apresentavam melhora dos sintomas
com as refeições e em 11 deles os sintomas desapareciam totalmente com a
administração de glicose endovenosa. A tríade de Whipple característica foi
observada em 11 doentes e todos apresentavam três ou mais sintomas.
A dosagem de glicemia em jejum foi o principal método de laboratório na
investigação destes doentes, mostrando níveis iguais ou inferiores a 50 mg/dL
em 11 deles (média de 41,0 mg/dL). Somente um doente apresentou níveis de 58
mg/dL. O teste do jejum prolongado foi realizado em todos os doentes, mostrando
resultados positivos em todos. A dosagem da insulina sérica em jejum foi
realizada em 10 doentes, com resultados acima do limite superior da normalidade
em todos eles (média de 80,47); nestes doentes foi aplicada a relação insulina/
glicemia proposta por FAJANS e FLOYD(9), mostrando em todos valores superiores
a 0,3 (média de 2,02).
Entre os métodos de imagem, a ultra-sonografia abdominal identificou imagem
hipoecogênica na topografia de pâncreas em dois (16,6%) doentes; a tomografia
axial computadorizada mostrou lesão na topografia pancreática em três (25%), e
em um caso este exame sugeriu extensão hepática da doença. A arteriografia
seletiva do tronco celíaco foi utilizada em nove doentes, sendo que em dois
(22,22%) revelou lesão hipervascularizada na topografia pancreática. A
ecoendoscopia foi realizada em dois doentes, mostrando em ambos nódulo
hipoecóico. Em dois doentes da série também foi realizado o cateterismo
transparietal da veia porta com dosagem seriada de insulina, revelando valores
elevados. Com base na caracterização da hipoglicemia, secundária ao
hiperinsulinismo de origem pancreática, e tendo sido localizada ou não a lesão,
em todos os doentes da presente série foi indicado o tratamento cirúrgico. A
abordagem foi feita mediante incisão transversa supra-umbilical ampla, revisão
sistematizada da cavidade, exposição e palpação minuciosa da glândula. Em três
doentes foi realizada ultra-sonografia intra-operatória com transdutor de 5
MHZ.
Em todos os doentes foi realizada a monitorização da glicemia durante o ato
operatório. Uma vez localizado o insulinoma, procedeu-se a enucleação ou
ressecção pancreática, considerando a localização da lesão, multiplicidade, bem
como as condições clínicas do doente. O espécime ressecado foi submetido a
exame histopatológico e estudo imunohistoquímico mediante o método da Strepto-
Avidina-Biotina-Peroxidase. No que concerne à análise estatística, foram
realizados o teste t pareado para comparar dois grupos de informações com nível
de mensuração numérica, e o teste G de Cochran para comparar a incidência de
três ou mais grupos de características em uma amostra pareada.
RESULTADOS
Em sete doentes foi possível localizar a neoplasia no pré-operatório. Uma vez
realizada a abordagem da retrocavidade e exposição completa do pâncreas,
manobra de Kocher e palpação bidigital cuidadosa do pâncreas, foi possível
localizar todas as lesões que apresentavam consistência fibroelástica.
Caracterização das neoplasias
Em oito doentes foi encontrada lesão única e em quatro, lesões múltiplas. A
análise conjunta dos doentes permitiu coletar 16 lesões distribuídas no
pâncreas da seguinte maneira: corpo, seis (37%), cauda, sete (43,7%) e porção
cefálica, três (18,7%). O tamanho das neoplasias variou entre 0,5 e 4 cm. A
ultra-sonografia intra-operatória realizada em três doentes confirmou os
achados da palpação. Em dois casos foram realizadas biopsias por congelação,
devido à presença de gânglios peripancreáticos com aparente comprometimento.
Uma delas mostrou comprometimento neoplásico maligno.
A monitorização da glicemia antes, durante e após o ato cirúrgico evidenciou a
reversão dos níveis de hipoglicemia do pré-operatório para níveis de
hiperglicemia após ressecção da neoplasia.
Ressecção das lesões
Foi realizada a enucleação do insulinoma em quatro doentes e pancreatectomia
caudal ou corpo caudal em oito doentes, associada ou não à esplenectomia
(Tabela_2).
Níveis de glicemia
Em todos os doentes, a dosagem de glicemia realizada no 1o dia de pós-
operatório, revelou níveis superiores àqueles observados por ocasião da
caracterização da hipoglicemia, mostrando níveis que variavam de 130 a 280 mg/
dL, (média de 201,5 mg/dL) P <0,001*.
Estudo anatomopatológico
Todas as neoplasias eram bem delimitadas e de consistência fibroelástica; a
análise histológica revelou que 11 (91,7%) doentes apresentavam insulinoma
benigno e 1 (8,3%) era portador de insulinoma maligno. Para a imunohistoquímica
foram testados os seguintes marcadores tumorais: cromogranina, insulina,
gastrina, somatostatina e glucagon. Houve imunocoloração intracitoplasmática,
de forma granular, difusa para cromograninas na maioria das células tumorais em
todos os casos estudados. A imunoexpressão para insulina foi variável na
neoplasia, quer em número de células imunocoradas, quer na intensidade da
imunorreação, porém a grande maioria das células neoplásicas imunocorou. Em 10
doentes o estudo revelou tratar-se de insulinomas pluri-hormonais e somente em
dois mono-hormonais (Tabela_3).
Complicações
Entre as complicações abdominais, a fístula pancreática foi a mais freqüente,
observada em sete (58,3%) doentes; o diagnóstico da fístula baseou-se na
exteriorização de secreções pelo dreno de Penrose, com níveis de amilase
superiores a 1.000 UI/mL. O tratamento da fístula foi conservador. Um dos
doentes evoluiu com abscesso intracavitário, tratado por laparotomia e drenagem
no 22º dia de pós-operatório. A média de permanência hospitalar no pós-
operatório foi de 16,1 dias (variação de 9 a 25); houve infecção da ferida
operatória em dois doentes. Em 10 (83,3%) doentes observou-se hiperglicemia
transitória cujos valores normalizaram-se num período que variou de 2 a 21
dias.
Os níveis de glicemia no pós-operatório tardio estão detalhados na Tabela_4.
Dois doentes desenvolveram diabetes mellitus (16,6%): um controlado com o uso
de hipoglicemiante oral, o outro com insulina NPH em doses diárias de 22 UI.
Dois doentes morreram de complicações não relacionadas ao procedimento
cirúrgico: um de broncopneumonia 8 anos após a cirurgia, o outro por acidente
vascular cerebral, 6 anos depois.
O único doente com diagnóstico de insulinoma maligno, inicialmente evoluiu com
diabetes mellitus. Um ano após a cirurgia, novamente apresentou quadro clínico
de hipoglicemia, sendo confirmada a recidiva da neoplasia no remanescente
pancreático, além de disseminação hepática da doença.
DISCUSSÃO
O insulinoma é, sem dúvida, o mais freqüente dos tumores neuroendócrinos do
pâncreas, representando 70% de todos eles(37); séries iniciais reportam
distribuição semelhante entre o sexo feminino e o masculino, com 54% e 46%,
respectivamente(22); outras relatam seu predomínio no sexo masculino(19).
Grandes casuísticas mencionam discreta prevalência no sexo feminino (60%) sobre
o masculino (40%)(21, 35, 43). Na presente série, a incidência foi de 58,3%
para o sexo feminino e 41,7% para o masculino. A idade dos pacientes incidiu
com maior freqüência entre a 3a e a 7a décadas, dados compatíveis com os da
literatura, embora existam relatos da doença nos extremos da vida(16, 27).
No quadro clínico do insulinoma, desde os primeiros relatos(22, 51) até os
trabalhos mais recentes(26, 46, 53), chamam a atenção os sintomas
neuropsiquiátricos, bem como a inespecificidade dos sintomas gastrointestinais.
KAVLIE e WHITE(19) mostraram que 50% dos pacientes portadores de insulinoma,
antes de terem diagnosticada a doença neuroendócrina, haviam sido submetidos a
tratamento neuropsiquiátrico. Nesta casuística tal fato aconteceu em 75% dos
pacientes.
O marco histórico no diagnóstico desta doença é a descrição da
tríade,caracterizada por sintomas neuroglicopênicos, hipoglicemia inferior a 50
mg/dL e reversão dos sintomas com a administração de glicose(49). Apesar de não
ser patognomônica dos insulinomas, a tríade de Whipple é, ainda, a melhor forma
de se orientar no diagnóstico da hipoglicemia induzida pelo hiperinsulinismo
(17). Na casuística presente, a tríade foi observada em 91,6% dos pacientes,
constituindo-se na principal manifestação clínica da doença. A confirmação da
hipoglicemia, mediante dosagem da glicemia em jejum, é o primeiro passo e
considerado da maior importância pela literatura médica para o diagnóstico
inicial do insulinoma(49, 51). Este foi o exame que desencadeou a investigação
do hiperinsulinismo em todos os pacientes desta série. Da mesma forma, o teste
do jejum prolongado ainda é amplamente aceito, com resultados significativos no
diagnóstico da hipoglicemia secundária ao insulinoma. No estudo multicêntrico
realizado por STEFANINI et al.(43), de um total de 149 autores, o teste do
jejum prolongado foi empregado por 109 deles, com positividade para o
diagnóstico da doença de 95% e, quando associado à dosagem da insulina sérica
por métodos de radioimunoensaio, melhora consideravelmente o diagnóstico
laboratorial do insulinoma(26, 29). Na presente casuística mostrou-se positivo
na maioria dos pacientes nas primeiras 12 horas. O índice insulinemia/glicemia
(I/G)(9) sugere o diagnóstico de insulinoma quando seus valores atingem níveis
superiores a 0,3. Este índice foi obtido em 10 pacientes desta casuística,
atingindo valores significativos em todos.
A determinação topográfica da neoplasia nos períodos pré-operatório e
perioperatório, vem sendo dos aspectos mais estudados nos últimos anos e
considerada para alguns o padrão-ouro para o tratamento do insulinoma(44). Esta
localização tem resultados muito variáveis na literatura médica, sendo os
melhores índices conseqüência do aprimoramento dos métodos de laboratório e,
principalmente, do diagnóstico por imagem(35).
Entre os métodos de imagem não-invasivos utilizados no diagnóstico dos
insulinomas, destacam-se a ultra-sonografia, a tomografia computadorizada e a
ressonância magnética. A ultra-sonografia abdominal, considerada método
atraente e de simples execução, tem na posição retroperitonial do pâncreas seu
principal obstáculo, além de ser um exame operador dependente. Como
conseqüência, têm sido reportados resultados muito variáveis(10, 20), chegando
sua positividade a oscilar de 0%(1), 28,1%(26), até 63%(13). Na presente
casuística, a ultra-sonografia mostrou-se efetiva na localização da neoplasia,
em apenas 16,6% das vezes. A tomografia computadorizada é método freqüentemente
citado como de valor no diagnóstico das neoplasias do pâncreas, com seus
resultados variáveis, dependendo da técnica empregada. Técnicas convencionais
mostram positividade de 22%(1), 25%(26, 34, 44) e 43%(8), atingindo 64% com a
tomografia helicoidal(42) que, realizada em todos os pacientes desta
casuística, mostrou 25% de resultado positivo na localização do insulinoma.
Após a descrição inicial da arteriografia seletiva por cateterização do tronco
celíaco para o diagnóstico de insulinoma(3, 33), a localização pré-operatória
desta neoplasia melhorou consideravelmente, mostrando resultados positivos em
cerca de 70%(43) e de 80%(15); em nosso meio, foram observados resultados de
40%(1), até 54%(26) na localização do insulinoma.
Neste estudo, a arteriografia foi realizada em nove pacientes, com resultados
positivos em apenas dois (22,2%). As dosagens seriadas de insulina no sistema
portal, apesar de sua alta positividade na localização topográfica dos
insulinomas(47), é método sujeito a complicações e até mesmo a morte(4).
Contudo é considerado, na atualidade, o melhor recurso propedêutico visando a
localização dos insulinomas(26, 34, 47).
Não obstante a utilização dos métodos de diagnóstico anteriormente mencionados,
aproximadamente 20% dos insulinomas podem não ser localizados na fase pré-
operatória(18). Para estes, reserva-se a da ultra-sonografia intra-operatória,
que permite a localização das lesões com índices superiores a 95%(5, 6, 38,
41). Este recurso associado à palpação intra-operatória permite a identificação
de até 100 % dos insulinomas(17, 54). Graças a este recurso têm-se abandonado
as ressecções pancreáticas às cegas, sendo essa associação o melhor método de
localização dos insulinomas(6). O ultra-som intra-operatório foi empregado em
três dos doentes desta série, logrando identificar a lesão em todos. Embora os
insulinomas tivessem sua localização definida no pré-operatório, em apenas sete
doentes desta casuística, a identificação das lesões foi possível em todos
durante o ato operatório. Recentes avanços na investigação pré-operatória dos
insulinomas têm sido referidos nos últimos anos. Destaca-se a ecoendoscopia,
com resultados positivos de mais de 90%(36, 40); este método foi empregado com
sucesso em três doentes da presente casuística.
A exposição ampla do pâncreas mediante a abertura do ligamento gastrocólico e a
manobra de Kocher são procedimentos indispensáveis durante a cirurgia(48) e
foram realizados rotineiramente nos doentes desta série, permitindo a
visibilização e palpação de todas as lesões.
No que diz respeito à distribuição das lesões no pâncreas, alguns dados merecem
consideração. Trabalhos iniciais(48) mostram maior incidência no corpo e cauda
do pâncreas; posteriormente esta distribuição se fez notar, de maneira
uniforme, entre a cabeça, corpo e cauda do órgão(22, 39, 43, 50). A localização
extrapancreática dos insulinomas oscila entre 1% e 2%(43). Na presente série a
localização das lesões fez-se predominantemente no corpo e cauda (80,7%), sendo
18,7% de situação cefálica.
Embora a literatura afirme, de maneira quase unânime, que os insulinomas são
únicos entre 80% e 90% das vezes, restando, portanto, 10% a 20% de insulinomas
múltiplos(22, 26, 43), estes achados revelaram 66,6% de neoplasias únicas e
33,3% de neoplasias múltiplas, fato atribuído ao reduzido número de doentes
analisados.
A indicação cirúrgica em doentes com hipoglicemia orgânica baseia-se nos
seguintes fatos: a) ingestão contínua de hidratos de carbono que levaria à
obesidade, por vezes mórbida, dificultando posteriormente o procedimento
cirúrgico; b) hipoglicemias severas e repetidas, que provocariam deterioração
corticocerebral irreversível, chegando mesmo a estados demenciais ou seqüelas
neurológicas que exigem internações repetidas ou definitivas, mesmo após a cura
cirúrgica da hipoglicemia; c) desconhecimento da natureza histopatológica da
lesão(50). A maioria dos serviços tem utilizado, além de administração de
soluções glicosadas, a monitorização intra-operatória da glicemia(28), recurso
que, além de proteger o doente, orienta e caracteriza a remoção da lesão e o
sucesso do procedimento(19). A hiperglicemia, após remoção do insulinoma, foi
observada em 91,6% dos doentes que compõem esta casuística.
A enucleação é o procedimento mais citado em grandes casuísticas(22, 43, 50),
com maior indicação nos casos de lesões únicas, superficiais e, principalmente,
localizadas na cabeça do pâncreas(26). Este método deve ser abandonado em se
tratando de insulinoma maligno. Nesta casuística a enucleação como procedimento
único foi realizada em quatro doentes: em três destes, a lesão situava-se na
porção cefálica do pâncreas, e em um localizava-se no corpo. Num doente
submetido a pancreatectomia caudal, onde se localizava um insulinoma, a
enucleação foi empregada para remover um segundo insulinoma localizado no corpo
do pâncreas. Como outra opção cirúrgica no tratamento dos insulinomas, temos as
ressecções pancreáticas, procedimento de escolha para lesões de localização
caudal(43), profundas(26), na microadenomatose do pâncreas e nas lesões
malignas(26, 43). Este procedimento foi realizado em 66,6% de nossos pacientes.
Grandes séries(19, 26, 43) observaram maior incidência de complicações pós-
operatórias, notadamente fístulas e pseudocistos, naqueles submetidos a
enucleação. A fístula pancreática é, sem dúvida, a mais freqüente destas
complicações(19, 26, 29, 34, 37, 43, 44, 48, 53) e parece estar relacionada ao
tipo de cirurgia realizada, sendo habitualmente de evolução favorável(26, 43).
Esses achados coincidem com aqueles observados na presente série (58,3%), sendo
em quatro deles (57,2%) após ressecção pancreática e em três (42,8%) após
enucleação, todos de evolução favorável. A pancreatite aguda(21, 39), o
pseudocisto de pâncreas(43, 44, 53), também complicações dessa cirurgia, não
foram observadas nesta série. Menos freqüentes, porém importantes por sua
gravidade e necessitando de reintervenções, são as coleções purulentas
intracavitárias(39) observadas em um dos doentes.
A hiperglicemia observada no pós-operatório imediato e nos primeiros dias que
seguem à cirurgia é considerada fisiológica(43). Sua reversão, com
estabilização da glicemia em níveis normais, faz desta ocorrência fato
passageiro, recebendo por alguns a denominação de hiperglicemia transitória
(18). Sua persistência, em níveis patológicos, define a ocorrência do diabetes
mellitus, complicação considerada freqüente por alguns autores(19, 39, 45).
Este quadro foi observado em dois (16,6 %) doentes desta casuística, ambos
submetidos a pancreatectomia e controlados com hipoglicemiante oral. Quando
analisadas a enucleação versus pancreatectomia, observa-se vantagem discreta da
primeira, embora o número de doentes não permita conclusão no que se refere à
fístula e ao diabetes.
O desaparecimento dos sintomas de hipoglicemia, a normalização dos níveis de
glicemia, bem como a confirmação histopatológica da lesão(11), critérios
utilizados para caracterizar a cura dos doentes portadores de insulinoma após
ressecção cirúrgica, foram observados em todos os doentes da casuística
presente. Acompanhados por períodos que variaram de 2 a 96 meses, com média de
43 meses, não se observou recidiva dos sintomas em nenhum dos 11 doentes
portadores de insulinoma benigno. Um doente com insulinoma maligno e metástase
ganglionar teve recidiva dos sintomas, bem como hipoglicemia e hiperinsulinismo
1 ano e meio após a cirurgia.
O estudo imunohistoquímico dos insulinomas(23, 24, 25) permite caracterizar
melhor essas neoplasias, evidenciando que a maioria dos tumores endócrinos do
pâncreas produz mais de um hormônio. Embora a microscopia eletrônica forneça
dados ultra-estruturais dos insulinomas, a imunohistoquímica, além de permitir
realizar estudo retrospectivo de lesões fixadas em parafina, constitui-se no
método de escolha para o estudo das neoplasias endócrinas do pâncreas(30). Na
série em discussão, verificou-se que 83,3% dos pacientes com diagnóstico
clínico de insulinoma, eram portadores de tumores produtores de dois ou mais
hormônios.
Analisando dados da literatura e desta série, pode-se concluir que o tratamento
cirúrgico permitiu a reversão dos quadros clínico e laboratorial nos doentes
portadores de insulinoma do pâncreas.