Dispepsia funcional e depressão como fator associado
ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLEINTRODUÇÃO
A dispepsia divide-se em dois grandes grupos: um secundário, a doença orgânica,
e outro denominado dispepsia funcional (DF). A dispepsia orgânica (DO) pode ser
definida como a secundária a lesões específicas, como úlcera péptica,
esofagite, câncer gástrico e colelitíase. Assim, é um agrupamento de sintomas
resultantes de distintas doenças, sendo estudada a partir das mesmas(21).
No que se refere ao diagnóstico da DF, a falta de uniformidade em relação à
definição motivou a realização de reuniões de especialistas de diferentes
países, sendo mais conhecidas as de Chicago, nos EUA, e de Cortina e Roma, na
Itália. As conclusões do Consenso de Roma II foram publicadas em livro em 2000
(7) e representam o esforço da comunidade científica para, a partir das
investigações realizadas nos últimos anos, sistematizar o conhecimento a
respeito dos transtornos gastrointestinais funcionais.
O Consenso de Roma II(32) recomenda que a DF seja diagnosticada quando, em pelo
menos 12 semanas consecutivas ou não, nos últimos 12 meses, o paciente
apresentar:
1. dor ou desconforto no abdome superior, de caráter persistente ou
recurrente, com peso epigástrico pós-prandial e/ou saciedade precoce e/ou
náuseas e/ou vômitos e/ou distensão abdominal;
2. ausência de doença orgânica que possa explicar os sintomas;
3. ausência de evidências de que a dispepsia é aliviada pela evacuação ou
associada à alteração na freqüência ou na forma das fezes.
Essa definição(31) pretende abranger não só os pacientes que apresentam
sintomas sem explicação identificável pelos exames, mas também aqueles que
apresentam alterações fisiopatológicas ou microbiológicas de relevância clínica
incerta para explicar os sintomas como: gastrite por H. pylori, duodenite,
calculose vesicular, hipersensibilidade visceral ou alterações na motilidade
gastroduodenal.
O referido Consenso estabeleceu igualmente que pacientes com história clínica
de úlcera péptica crônica não devem ser diagnosticados como dispépticos
funcionais. Porém, aqueles que tiveram úlcera curada por erradicação do H.
pylori e continuam com sintomas devem receber esse diagnóstico. Ainda, segundo
o mesmo, as anormalidades fisiológicas mais investigadas em relação à
possibilidade de estarem associadas à dispepsia funcional são hipersecreção de
ácido gástrico, infecção por H. pylori, dismotilidade gastrointestinal,
hipersensibilidade visceral e fatores psicológicos.
DOTEVALL(6) propôs que a DF seja um distúrbio psicossomático, com início
multifatorial: fatores psicológicos, sociais e culturais que interagem com
variáveis biológicas. A maioria dos estudos sobre o tema(29, 30, 34) mostra que
pacientes com dispepsia apresentam mais interrupções em suas atividades diárias
do que indivíduos saudáveis.
A associação entre DF e depressão tem sido avaliada nos últimos anos mediante
diferentes métodos e instrumentos de pesquisa. Uma revisão dos principais
estudos sobre DF e sintomas psicológicos(4, 9, 12, 16, 17, 19, 24, 27) mostra
que a prevalência de depressão ou de sintomas depressivos é alta nos
dispépticos funcionais, indicando a existência de uma associação.
A bibliografia científica não apresenta estudos brasileiros que abordem o tema
e são poucos os estudos estrangeiros que utilizam a entrevista clínica para
confirmar o diagnóstico de depressão nos pacientes. Sendo assim, o objetivo
deste estudo foi verificar se depressão é fator associado à DF e investigar
outros fatores de risco para o problema.
MÉTODOS
O presente estudo faz parte do protocolo de investigação de um ensaio clínico
com o objetivo de estabelecer medidas efetivas de intervenção na DF. Foi
aprovado pelo Comitê de Ética local em 1999, e os pacientes, como critério de
inclusão, assinaram um termo de consentimento informado, detalhando os
procedimentos e objetivos da investigacão. Todos os pacientes que apresentaram
diagnóstico positivo para depressão foram encaminhados para atendimento no
Ambulatório de Psiquiatria do Hospital Universitário da Universidade Católica
de Pelotas, RS.
A avaliação inicial buscou diagnosticar dispepsia e identificar pacientes
dispépticos orgânicos e funcionais. As entrevistas foram realizadas entre março
de 2001 e março de 2002, no Ambulatório de Gastroenterologia do Hospital
Universitário. A amostra selecionada apresentava diagnóstico inicial de
dispepsia e idade entre 18 e 65 anos. Nesta mesma etapa foi aplicado um
instrumento de avaliacão socioeconômica.
No processo de diagnóstico foram utilizados os instrumentos propostos por Roma
II e os seguintes exames complementares: endoscopia digestiva, ultra-
sonografia, exames laboratoriais (uréia, creatinina, fosfatase alcalina, tempo
de protrombina, bilirrubinas, TGO, TGP, albumina, glicemia, prolactina, LH,
FSH, TRH ou TSH, T3 e T4, hemograma e exame parasitológico de fezes). Para
identificar a infecção por H. pylori foi realizado exame histopatológico. Os
pacientes enquadrados nos critérios de inclusão e que apresentaram queixa de
cólica biliar, intolerância à gordura e vômito pós-prandial foram encaminhados
para o exame ultra-sonográfico do abdome, com a finalidade de controlar a
variável presença de cálculo biliar (Figura_1). Os pacientes que não
apresentavam alterações nos exames que justificassem os sintomas eram
considerados como dispépticos funcionais.
A avaliação econômica foi realizada através da renda declarada pelos pacientes
e da aplicação de uma escala de avaliação econômica. Essa classificação
enquadra as pessoas em classes (A, B, C, D, ou E), a partir dos escores
alcançados. A letra A refere-se à classe social mais alta e a E, a mais baixa.
As demais variáveis investigadas foram: sexo, estado civil, escolaridade,
moradia, atividade laboral, tipo de atividade laboral, uso de álcool, fumo e
café.
Para avaliar a presença de depressão foram utilizadas a Escala de Hamilton
(HAM-D)(8) e a entrevista clínica do DSM-IV. A HAM-D é um instrumento composto
de 21 perguntas pontuadas quantitativamente: 10 com 5 alternativas (nunca,
algumas vezes, bastante vezes, quase sempre e sempre) e 11 com 3 alternativas
(nunca, algumas vezes e bastante vezes). A somatória dos pontos da escala
originou uma variável contínua, posteriormente dicotomizada, tendo sido
estabelecido o ponto de corte em mais de 17 pontos, que caracteriza depressão
moderada(20). A confiabilidade da escala varia entre 0,7 e 0,9 e a validade
varia de 0,67 a 0,9(18).
A entrevista clínica do DSM-IV classifica as queixas e as disfunções do
paciente em categorias diagnósticas(2). O método consiste em observar o
comportamento do paciente e em motivá-lo a descrever seus problemas
detalhadamente. O entrevistador traduz suas observações em termos de sinais e
sintomas para um diagnóstico descritivo (Transtornos dos Eixos I e II),
classificando-os em categorias nosológicas. Um diagnóstico dessa natureza,
embora ajude a prever a evolução futura e a selecionar o tratamento mais
eficaz, não possibilita conclusões quanto as suas causas.
Os pacientes que apresentaram sintomas sugestivos de depressão (acima de 17
pontos na HAM-D), foram posteriormente encaminhados para a entrevista clínica
do DSM-IV para a confirmação do diagnóstico.Essa entrevista foi realizada por
um único psiquiatra, integrante da equipe de pesquisa, que desconhecia a
avaliação anterior do paciente.
Os dados foram inseridos por duas digitadoras, de forma independente, em banco
de dados programado para amplitude e consistência no programa EpiInfo. A dupla
entrada de dados visava identificar eventuais erros de digitação. Também foi
realizada verificação automática dos dados no momento da digitação, através do
Check do EpiInfo.
A edição final dos dados e a análise foram realizadas no programa SPSS 10.1.
Inicialmente procedeu-se à análise univariada para descrição das freqüências
das variáveis de interesse. O teste do qui-quadrado foi utilizado na comparação
entre proporções e a regressão logística não condicional, na análise
multivariada. Nessa análise a significância estatística referente à introdução
de cada variável no modelo, foi avaliada através do teste de razão de
verossimilhança. A técnica da regressão logística foi utilizada para
estabelecer a chance de os pacientes com depressão apresentarem DF, visto que a
intenção era verificar os fatores a ela associados e controlar o efeito das
variáveis intervenientes sobre a variável de desfecho. Dessa forma, os dados
foram analisados hierarquicamente: no primeiro nível, incluíram'se as variáveis
socioeconômicas, que no teste de razões de verossimilhança apresentaram valor
de P£0,20 e no segundo, a variável depressão. No modelo hierarquizado, as
variáveis selecionadas no primeiro nível permaneceram no modelo subseqüente e
foram consideradas como fatores associados à DF. Cabe recordar que o desfecho
DF nesta amostra representa o oposto do desfecho DO, uma vez que a amostra é
constituída somente por pacientes dispépticos funcionais.
RESULTADOS
Dos 580 pacientes avaliados, 348 foram diagnosticados como dispépticos. Desses,
223 apresentavam dispepsia com causas orgânicas e 125 eram dispépticos
funcionais (Figura_1). Inicialmente foi avaliada a presença de depressão nos
grupos de DO e DF, constatando-se sua presença significativamente maior no
grupo DF (30,4%) em relação ao grupo DO (11,2%) (P<0,01) (Tabela_1).
Contudo, foi necessário verificar se não houve diferenças significativas entre
os grupos nas variáveis socioeconômicas que pudessem interferir nesse
resultado. Nesse exame foram constatadas diferenças significativas entre os
grupos nas variáveis idade e gênero (Tabela_1). Em relação à idade, existe
grande concentração de pacientes com DO na faixa entre 31 e 50 anos (72,2%),
enquanto entre os pacientes com DF, existe maior distribuição entre as faixas
etárias (22,4% até 30 anos, 48% entre 31 e 50 anos, 17,6% entre 51 e 60 anos e
12% com 61 anos ou mais) (P<0,01). A distribuição dos pacientes em relação ao
gênero foi a seguinte: entre os dispépticos funcionais 72% são mulheres,
enquanto nos dispépticos orgânicos as pacientes do sexo feminino correspondem a
58,2% (P<0,001).
No segundo momento da análise estatística, a técnica de regressão logística foi
realizada para identificar os fatores associados à DF e que a distinguem da DO
(Tabela_2). Através dessa análise, verificou-se a associação entre DF e as
variáveis estado civil e gênero: na primeira, os solteiros apresentaram 1,7
vezes mais chance de apresentar DF e na segunda, as mulheres que apresentaram
chance 1,85 maior de desenvolver DF. Nessa análise, os pacientes com depressão
apresentaram chance 3,46 vezes maior (IC 95%, 1,15 a 2,97) de apresentar DF
(Tabela_2). Contudo, as diferenças significativas apresentadas nos resultados
das variáveis estado civil e gênero tornaram necessitaram uma análise
multivariada complementar com o objetivo de controlar a influência destas
variáveis intervenientes sobre a variável de desfecho, DF.
A Figura_2 mostra os resultados da análise multivariada realizada através da
técnica de regressão logística. Nesta análise, permaneceram associados à DF o
gênero e a idade. As mulheres continuaram apresentando maior chance de DF (OR:
1,74, IC 95%, 1,05-2,89) e em relação á idade, os intervalos entre 31 e 50 anos
(OR:0,28 IC 95%, 0,13-0,54) e de 51 a 60 anos (OR: 0,41, IC 95%, 0,17-0,96)
continuaram apresentando efeito protetor, ou seja, indivíduos nessas faixas
etárias têm menor risco de apresentar DF.
A análise multivariada mostra também que, apesar dos fatores gênero e idade
estarem associados, esses não anulam a associação entre depressão e DF. Os
pacientes deprimidos têm três vezes mais chances de apresentarem depressão
quando comparados aos dispépticos orgânicos (OR 3.10 IC 95%, -1,71 -5,65). Após
a análise multivariada descrita, a chance de deprimidos apresentarem DF
continuou significativamente maior quando comparados com os não-deprimidos (OR:
3,10, IC 95%, -1,71 -5,65).
Dessa forma, a associação entre DF e depressão foi confirmada por dois
diferentes tipos de análise: a prevalência e os fatores associados.
DISCUSSÃO
Este estudo buscou verificar, através de um modelo de diagnóstico consistente,
se a depressão é quadro mais prevalente entre pacientes com DF do que os com
DO. O trabalho também procurou examinar a existência e a magnitude da
associação entre DF e fatores socioeconômicos e entre depressão e DF.
É importante assinalar a utilização, no presente estudo, da entrevista clínica
como um instrumento de confirmação do diagnóstico de depressão, fato incomum em
estudos sobre o tema os quais, em sua maioria, utilizam apenas testagem, o que
impossibilita a confirmação do diagnóstico. Além disso, buscou-se estabelecer
as chances de pacientes com depressão apresentarem DF. Na revisão da literatura
realizada pela equipe de pesquisa em bases de dados científicas consagradas
(SciELO, Medline e PsicoInfo), não foram encontrados trabalhos sobre o tema no
Brasil.
Os resultados evidenciaram maior prevalência (P<0,01) de deprimidos entre os
pacientes com DF (30,4%) em relação àqueles com DO (11,2%). Esses dados vão ao
encontro dos achados de outros estudos de metodologia semelhante (avaliação da
depressão através de escalas)(10, 15, 28) em que também houve maior percentual
de deprimidos entre pacientes com DF quando comparados aos pacientes com DO. A
utilização da entrevista clínica para a confirmação de diagnóstico de
depressão, procedimento utilizado no presente trabalho, foi encontrada em
apenas outro estudo(25) que teve o diagnóstico de depressão confirmado pela
entrevista clínica em 20,5% dos pacientes.
O passo seguinte do trabalho, uma análise da associação entre fatores
socioeconômicos e DF, mostrou resultados entre as variáveis idade, sexo
feminino e estado civil. Esse dado é semelhante ao de um estudo sobre
prevalência de dispepsia na cidade de Pelotas(21).
A análise muitivariada (que buscou controlar o efeito das variáveis citadas
sobre o desfecho) confirmou a associação entre depressão e DF (OR: 3,10 IC 95%,
1,71-5,65). Essa análise demonstrou que, na amostra estudada, os deprimidos têm
mais chances de apresentarem DF. Em relação às características dessa amostra,
deve-se assinalar que o presente estudo foi realizado somente na população que
procurou atendimento médico e, portanto, não pode se inferir se a mesma
associação deva ser encontrada nos pacientes com DF que não utilizaram os
serviços de saúde. Contudo, em estudo de base populacional(14) sobre
transtornos gastrointestinais funcionais, utilizando o Critério de Roma I, foi
encontrada associação entre DF e morbidade psicológica, sendo que neuroticismo,
depressão, ansiedade e angústia somática mostraram-se preditores para DF. Por
outro lado, estudo mais recente(11) aponta para um percentual
significativamente maior de deprimidos entre os pacientes com DF que procuraram
atendimento médico, quando comparados àqueles que não o procuraram.
A co-morbidade entre depressão e DF tem despertado opiniões antagônicas sobre o
significado e as causas dessa associação: os sintomas psicológicos seriam parte
da causa da doença ou decorrem do sofrimento provocado pelos sintomas de
dispepsia? Existe atividade de retroalimentação entre sintomas psíquicos e
somáticos? O delineamento do presente trabalho não permitiu que fossem feitas
inferências causais, podendo-se estar perante um viés de causalidade reversa.
Entretanto, o mesmo propicia indicativo de que a presença de depressão deva ser
levada em consideração durante avaliação do paciente e definição da estratégia
de tratamento.
Uma limitação deste estudo é a não utilização de grupo comparativo oriundo da
população geral. Contudo, em estudo de base populacional na mesma região(1),
foi encontrada prevalência de 10,2% de depressão (valor aproximado àquele
encontrado entre os pacientes com DO (11,2%) e inferior ao encontrado entre os
pacientes com DF (30,4%)).
Assim sendo, esses resultados permitem sugerir, como já o fazem outros estudos
(10), que um grupo de pacientes com DF poderia se beneficiar de programas de
tratamento caracterizados por acompanhamento contínuo e suporte emocional.
TALLEY(33) oferece um guia para o manuseio da DF na clínica diária. Segundo
esse autor, a utilização de terapia comportamental, psicoterapia, ou
antidepressivos deve ser considerada se a erradicação do H. pilory, o
tratamento baseado no sintoma predominante e/ou a terapia com inibidor da bomba
de próton falharam em obter melhoras. Em relação ao uso de antidepressivo, uma
meta-análise(13) que examinou 12 ensaios clínicos sobre transtornos
gastrointestinais, buscou identificar os efeitos do uso dessa medicação. Seus
resultados sugerem que, em especial os antidepressivos tricíclicos, parecem ser
efetivos na melhora de um em cada três pacientes tratados. Entretanto, ainda
segundo o artigo, se essa melhora é independente de tratamento farmacológico, é
algo que carece de maior avaliação.
Dentro dessa linha de investigação, outra meta-análise sobre o efeito do
tratamento da depressão sobre o esvaziamento gástrico(5), indicou que a melhora
clínica da depressão está relacionada a um esvaziamento gástrico mais
eficiente, ao mesmo tempo em que afirmou que a melhora não poderia ser
atribuída à ação farmacológica sobre o estômago. Por outro lado, estudo recente
(3) indica que os mesmos antidepressivos tricíclicos foram efetivos apenas no
tratamento de dor abdominal de pacientes com síndrome do intestino irritável,
sem evidências que justifiquem sua recomendação na DF.
Assim, ainda é incerto se os inibidores seletivos da recaptação de serotonina
(SSRIs) sejam alternativas de tratamento efetivas para DF, pois parecem ser
mais úteis em pacientes com constipação funcional (por suas qualidades
procinéticas), embora isso ainda não tenha sido amplamente estudado. Ampliando
a polêmica sobre o tema, outro estudo também recente(22), mostrou efetividade
da amitriptilina sobre os sintomas de DF. Para além da discussão sobre
efetividade do tratamento, é importante que se considerem os efeitos colaterais
dos psicofármacos (cólicas, náusea e diarréia no caso dos SSRIs pelo seu efeito
procinético, e constipação, no caso dos antidepressivos tricíclicos).
Meta-análise sobre a utilização de psicoterapia na DF(26) sugeriu a eficácia de
tratamento psicológico, seja ele com um grupo de apoio ou através de terapia
cognitivo-comportamental ou psicoterapia psicodinâmica interpessoal.
Entretanto, os benefícios a longo prazo não foram comprovados. Mesmo assim o
trabalho indica que a intervenção psicológica pode ser benéfica em casos
selecionados de DF.
A produção de estudos sobre esse tema é complexa, já que tratamentos
psicológicos são pouco utilizados como modalidade terapêutica para pacientes
com distúrbios gastrointestinais funcionais. Em cuidados primários de saúde e
em clínicas de gastroenterologia menos de 10% dos casos são tratados com
psicoterapia(23). Essa opção é, geralmente, considerada apenas para pacientes
com sintomas psicológicos mais evidentes ou para aqueles cujo tratamento
convencional não foi eficaz(30). A definição da melhor estratégia de tratamento
para os pacientes que mostram associação entre depressão e DF ainda não está
estabelecida, assim como não estão claramente estruturadas quais medidas
terapêuticas e de apoio social podem ser mais efetivas para uma melhora tanto
no quadro depressivo, quanto na sintomatologia gastrointestinal.
Concluindo, os resultados mostram forte associação entre DF e depressão em um
significativo grupo de pacientes e, ao mesmo tempo, sugerem a importância de
uma definição de estratégias para o diagnóstico de depressão nesse mesmo grupo,
bem como a definição de modelos específicos de tratamento.