Apêndice B. Os critérios diagnósticos de Roma III para os distúrbios
gastrointestinais funcionais
Apêndice B. Os critérios diagnósticos de Roma III para os distúrbios
gastrointestinais funcionais
A. DISTÚRBIOS ESOFÁGICOS FUNCIONAIS
A1. Pirose funcional
Os critérios* diagnósticos devem incluir todosos itens a seguir:
1. Queimação ou dor retroesternal;
2. Falta de evidência de que o refluxo gastroesofágico é a causa do sintoma;
3. Ausência de distúrbios da motilidade esofágica baseados em alterações
histopatológicas.
* Critérios preenchidos nos últimos 3 meses com início dos sintomas pelo menos
6 meses antes do diagnóstico.
A2. Dor torácica funcional de presumível origem esofágica
Os critérios* diagnósticos devem incluir todosos itens a seguir:
1. Dor ou desconforto retroesternal que não é em queimação;
2. Falta de evidência de que o refluxo gastroesofágico é a causa do sintoma;
3. Ausência de distúrbios da motilidade esofágica baseados em alterações
histopatológicas.
* Critérios preenchidos nos últimos 3 meses com início dos sintomas pelo menos
6 meses antes do diagnóstico.
A3. Disfagia funcional
Os critérios* diagnósticos devem incluir todosos itens a seguir:
A percepção da passagem dos alimentos, líquidos ou sólidos, ao longo do
1. esôfago. Na linguagem do paciente pode ser referido como alimento que tranca,
fica retido ou passa com dificuldade;
2. Falta de evidência de que o refluxo gastroesofágico é a causa do sintoma;
3. Ausência de distúrbios da motilidade esofágica baseados em alterações
histopatológicas.
* Critérios preenchidos nos últimos 3 meses com início dos sintomas pelo menos
6 meses antes do diagnóstico.
A4. Globus
Os critérios* diagnósticos devem incluir todosos itens a seguir:
1. Sensação não dolorosa persistente ou intermitente de presença de um nó
("bola"ou "bolo") ou de um corpo estranho na garganta;
2. Ocorrência da sensação entre as refeições;
3. Ausência de disfagia ou de odinofagia;
4. Falta de evidência de que o refluxo gastroesofágico é a causa do sintoma;
5. Ausência de distúrbios da motilidade esofágica baseados em alterações
histopatológicas.
* Critérios preenchidos nos últimos 3 meses com início dos sintomas pelo menos
6 meses antes do diagnóstico.
B. DISTÚRBIOS GASTRODUODENAIS FUNCIONAIS
B1. Dispepsia funcional
Os critérios* diagnósticos devem incluir todosos itens a seguir:
1. Um ou mais dos itens a seguir:
a. sensação incômoda de plenitude pós-prandial;
b. saciedade precoce
c. dor epigástrica
d. queimação epigástrica
2. Nenhuma evidência de doença estrutural (presente na endoscopia do trato
digestivo superior) que seja capaz de explicar os sintomas
* Critérios preenchidos nos últimos 3 meses com início dos sintomas pelo menos
6 meses antes do diagnóstico.
B1a. Síndrome do desconforto pós-prandial
Os critérios* diagnósticos devem incluir um ou ambos os itens a seguir:
1. Sensação incômoda de plenitude pós-prandial que ocorre após refeições
habituais, pelo menos várias vezes na semana;
2. Saciedade precoce que impede finalizar uma refeição comum, pelo menos várias
vezes na semana.
* Critérios preenchidos nos últimos 3 meses com início dos sintomas pelo menos
6 meses antes do diagnóstico.
Critérios de apoio
1. Empachamento/estufamento abdominal superior ou náusea pós-prandial ou
eructação excessiva podem estar presentes;
2. Síndrome da dor epigástrica pode coexistir.
B1b. Síndrome da dor epigástrica
Os critérios* diagnósticos devem incluir todos os itens a seguir:
1. Dor ou queimação localizada no epigástrio com intensidade moderada, pelo menos
uma vez por semana;
2. A dor é intermitente;
3. Não é generalizada ou localizada para outras regiões do abdome ou do tórax;
4. Não é aliviada com a defecação ou por flatulência;
5. Não preenche os critérios para os distúrbios da vesícula e do esfíncter de Oddi.
* Critérios preenchidos nos últimos 3 meses com início dos sintomas pelo menos
6 meses antes do diagnóstico.
Critérios de apoio
1. A dor pode ser em queimação, mas sem um componente retroesternal;
2. A dor é comumente induzida ou aliviada pelas refeições, mas pode ocorrer
também durante o jejum;
3. A síndrome do desconforto pós-prandial pode coexistir
B2. Distúrbios da eructação
B2a. Aerofagia
Os critérios* diagnósticos devem incluir todosos itens a seguir:
1. Aerofagia repetitiva e incômoda pelo menos várias vezes na semana;
2. Engolir o ar de modo que possa ser objetivamente observado ou medido.
* Critérios preenchidos nos últimos 3 meses com início dos sintomas pelo menos
6 meses antes do diagnóstico.
B2b. Eructação excessiva inespecífica
Os critérios* diagnósticos devem incluir todosos itens a seguir:
1. Aerofagia repetitiva e incômoda pelo menos várias vezes na semana;
2. Não há evidências de que engolir ar em excesso seja a causa do sintoma.
* Critérios preenchidos nos últimos 3 meses com início dos sintomas pelo menos
6 meses antes do diagnóstico.
B3. Distúrbios da náusea e do vômito
B3a. Náusea idiopática crônica
Os critérios* diagnósticos devem incluir todosos itens a seguir:
1. Náusea significativa, ocorrendo pelo menos algumas vezes na semana;
2. Habitualmente não está associada com vômito;
3. Ausência de anormalidades na endoscopia digestiva superior ou doença
metabólica que explique a náusea.
* Critérios preenchidos nos últimos 3 meses com início dos sintomas pelo menos
6 meses antes do diagnóstico.
B3b. Vômito funcional
Os critérios* diagnósticos devem incluir todosos itens a seguir:
1. Cerca de um ou mais episódios de vômito por semana;
2. Ausência de critério para distúrbio alimentar, ruminação ou distúrbio
psiquiátrico maior de acordo com o DSM-IV;
Ausência de vômito auto-induzido, uso crônico de canabinoide, ausência de
3. anormalidades no sistema nervoso central ou doenças metabólicas que expliquem
o vômito recorrente.
* Critérios preenchidos nos últimos 3 meses com início dos sintomas pelo menos
6 meses antes do diagnóstico.
B3c. Síndrome do vômito cíclico
Os critérios* diagnósticos devem incluir todosos itens a seguir:
1. Episódios de vômito que se repetem de forma semelhante, considerando-se o
início (agudo) e a duração (menos de 1 semana);
2. Três ou mais episódios distintos no ano anterior;
3. Ausência de náusea e de vômito entre os episódios.
Critérios de apoio
História ou histórico familiar de dores de cabeça tipo enxaqueca.
B4. Síndrome da ruminação em adultos
Os critérios* diagnósticos devem incluir todos os itens a seguir:
1. Regurgitação persistente ou recorrente do alimento recém-ingerido à boca,
sendo subsequentemente cuspido ou remastigado e engolido;
2. A regurgitação não é precedida por esforço de vômito.
Critérios de apoio
1. Os episódios de regurgitação geralmente não são precedidos de náusea;
2. Interrupção do processo quando o material regurgitado se torna ácido;
3. A regurgitação contém alimentos que são reconhecidos e cujo sabor é
agradável.
* Critérios preenchidos nos últimos 3 meses com início dos sintomas pelo menos
6 meses antes do diagnóstico.
C. DISTÚRBIOS INTESTINAIS FUNCIONAIS
C1. Síndrome do intestino irritável
Os critérios* diagnósticos devem incluir todos os itens a seguir:
Dor ou desconforto abdominal recorrente** pelo menos 3 dias/mês, nos últimos 3
meses, associada com dois ou mais dos seguintes:
1. Melhora com a defecação;
2. Início associado com mudança na frequência das evacuações;
3. Início associado com mudança no formato (aparência) das fezes.
* Critérios preenchidos nos últimos 3 meses com início dos sintomas pelo menos 6
meses antes do diagnóstico.
"Desconforto" significa uma sensação desconfortável não descrita como dor.
Recomenda-se que, para uma pessoa possa participar e ser incluida nos
** protocolos de pesquisas de fisiopatologia e em estudos clínicos, tenha
frequência de dor/desconforto de ao menos 2 dias por semana durante o período
de avaliação.
C2. Estufamento/Empachamento funcional
Os critérios* diagnósticos devem incluir os dois itens a seguir:
1. Sensação recorrente de estufamento/empachamento ou distensão visível por pelo
menos 3 dias/mês em 3 meses
2. Critérios insuficientes para diagnóstico de dispepsia funcional, síndrome do
intestino irritável ou outro distúrbio gastrointestinal funcional
* Critérios preenchidos nos últimos 3 meses com início dos sintomas pelo menos
6 meses antes do diagnóstico.
C3. Constipação funcional
Os critérios* diagnósticos devem incluir:
1. Dois ou mais dos seguintes:
a. Esforço evacuatório durante pelo menos 25% das defecações;
b. Fezes grumosas ou duras em pelo menos 25% das defecações;
c. Sensação de evacuação incompleta em pelo menos 25% das defecações;
d. Sensação de obstrução/bloqueio anorretal das fezes em pelo menos 25% das
defecações;
e. Manobras manuais para facilitar pelo menos 25% das defecações (por
exemplo, evacuação com ajuda digital, apoio do assoalho pélvico);
f. Menos de três evacuações por semana.
2. Fezes moles estão raramente presentes sem o uso de laxantes;
3. Critérios insuficientes para SII.
* Critérios preenchidos nos últimos 3 meses com início dos sintomas pelo menos
6 meses antes do diagnóstico.
C4. Diarreia funcional
Critérios diagnósticos*
Fezes moles ou aquosas sem dor, ocorrendo em pelo menos 75% das evacuações.
* Critérios preenchidos nos últimos 3 meses com início dos sintomas pelo menos
6 meses antes do diagnóstico
C5. Distúrbio intestinal funcional inespecífico
Critérios diagnósticos*
Sintomas intestinais não atribuíveis a uma etiologia orgânica e que não
preenchem critérios para as categorias definidas previamente.
* Critérios preenchidos nos últimos 3 meses com início dos sintomas pelo menos
6 meses antes do diagnóstico.
D. DOR ABDOMINAL FUNCIONAL
D. Síndrome da dor abdominal funcional
Os critérios* diagnósticos devem incluir todos os itens a seguir:
1. Dor abdominal contínua ou quase contínua;
2. Ausência ou relacionamento somente ocasional de dor com eventos fisiológicos
(por exemplo, alimentação, defecação ou menstruação);
3. Alguma diminuição no funcionamento diário;
4. A dor não é dissimulada (por exemplo, fingir-se de doente);
5. Sintomas insuficientes para atingir o critério para outro distúrbio
gastrointestinal funcional que explicariam a dor abdominal.
* Critérios preenchidos nos últimos 3 meses com início dos sintomas pelo menos
6 meses antes do diagnóstico.
E. DISTÚRBIOS FUNCIONAIS DA VESÍCULA BILIAR E DO ESFÍNCTER DE ODDI
E. Distúrbios funcionais da vesícula biliar e do esfíncter de Oddi
Critérios diagnósticos* devem incluir episódios de dor localizada no
epigástrico e/ou quadrante superior direito e todos os seguintes:
1. Episódios com duração de 30 minutos ou mais;
2. Sintomas recorrentes ocorrendo em diferentes intervalos de tempo (não
diariamente);
3. A dor aumenta até chegar a um nível que se mantém constante;
4. A dor é de moderada a grave, suficiente para interromper as atividades
cotidianas do paciente ou levá-lo a buscar por ajuda em serviço de emergência;
5. A dor não é aliviada pelas evacuações;
6. A dor não é aliviada por alteração postural;
7. A dor não é aliviada com antiácidos;
8. Exclusão de outras doenças estruturais que explicariam os sintomas.
Critério de apoio
A dor pode apresentar com um ou mais dos seguintes itens:
1. Estar associada com náusea e vômito;
2. Irradiar para as costas e/ou para a região subescapular direita;
3. Despertar do sono no meio da noite.
E1. Distúrbio funcional da vesícula biliar
Os critérios* diagnósticos devem incluir todos os itens a seguir:
1. Critério para distúrbio funcional da vesícula biliar e do esfíncter de Oddi;
2. A vesícula biliar está presente;
3. Enzimas hepáticas, bilirrubina conjugada e amilase/lipase normais.
E2. DISTÚRBIO FUNCIONAL DO ESFÍNCTER DE ODDI BILIAR
Os critérios* diagnósticos devem incluir todos os itens a seguir:
1. Critério para distúrbio funcional do esfíncter de Oddi;
2. Amilase/lipase normais.
Critério de apoio
Elevação temporária de transaminases, fosfatase alcalina ou bilirrubina
conjugada séricas, relacionada a, pelo menos, dois episódios de dor.
E3. Distúrbio funcional do esfíncter de Oddi pancreático
Os critérios* diagnósticos devem incluir ambos os itens a seguir:
1. Critérios para distúrbios funcionais da vesícula e do esfíncter de Oddi;
2. Amilase/lipase elevadas.
F. DISTÚRBIOS FUNCIONAIS ANORRETAIS
F1. Incontinência fecal funcional
Critérios diagnósticos*:
Eliminação recorrente e descontrolada de material fecal em indivíduo com
1. desenvolvimento correspondente a, pelo menos, 4 anos de idade associada a um ou
mais dos itens a seguir:
a. Funcionamento anormal dos músculos esfincterianos, normalmente enervados e
estruturalmente intactos;
b. Discreta anormalidade estrutural e/ou enervação da musculatura esfincteriana;
c. Hábito intestinal normal ou alterado (por exemplo, retenção fecal ou diarréia);
d. Causas psicológicas.
2. Exclusão de todos os itens seguintes:
Enervação anormal causada por lesão(ões) no cérebro (por exemplo, demência), na
a. medula espinhal, ou na inervação sacral, ou lesões mistas (por exemplo,
esclerose múltipla), ou como parte de neuropatia generalizada periférica ou
autonômica (por exemplo, em decorrência de diabetes);
b. Anormalidades da função esfincteriana anal associadas com uma doença sistêmica
(por exemplo, esclerodermia);
c. Anormalidades estruturais ou neurogênicas creditadas como causa mais importante
ou primária da incontinência fecal;
* Critérios preenchidos nos últimos 3 meses.
F2. Dor anorretal funcional
F2a. Proctalgia crônica
Os critérios* diagnósticos devem incluir todosos itens a seguir:
1. Dor ou dolorimento retal crônico ou recorrente;
2. Episódios devem durar 20 minutos ou mais;
Exclusão de outras causas de dor retal, tais como isquemia, doença
3. inflamatória intestinal, criptite, abscesso intramuscular, fissura anal,
hemorroida, prostatite e coccigodínia
* Critérios preenchidos nos últimos 3 meses com início dos sintomas pelo menos
6 meses antes do diagnóstico. A proctalgia crônica deve ser a seguir
caracterizada comoSíndrome do Elevador do Ânus ou como dor anorretal
inespecífica, baseada no exame digital retal.
F2a1. Síndrome do elevador do ânus
Critério diagnóstico;
Critérios de sintomas para proctalgia crônica e desconforto doloroso durante
tração posterior no músculo puborretal.
F2a2. Dor anorretal funcional inespecífica
Critério diagnóstico:
Critérios de sintoma para proctalgia crônica, mas sem desconforto doloroso
durante a tração posterior no músculo puborretal.
F2b. Proctalgia fugaz
Os critérios* diagnósticos devem incluir todosos itens a seguir:
1. Episódios recorrentes de dor localizada no ânus ou no reto baixo;
2. Os episódios duram de segundos a minutos;
Ausência de dor anorretal entre os episódios; Para propósitos de pesquisa, os
3. critérios devem ser preenchidos por 3 meses; entretanto, o diagnóstico clínico
e a avaliação devem ter sido feitos antes de 3 meses.
F3. Distúrbios funcionais da defecação
Critérios diagnósticos*
1. O paciente deve satisfazer os critérios diagnósticos para constipação funcional**;
2. Durante tentativas repetidas de defecar deve haver pelo menos dois dos seguintes
itens:
a. Evidência de incapacidade de evacuação, baseada no teste de expulsão do balão ou
por exames de imagem;
Contração inadequada dos músculos do assoalho pélvico (por exemplo, do esfíncter
b. anal ou do puborretal) ou menos de 20% de relaxamento da pressão esfincteriana de
repouso, avaliada por manometria, exame de imagem ou eletromiografia (EMG);
c. Força propulsiva evacuatória inadequada, avaliada por manometria ou exames de
imagem;
* Critérios preenchidos nos últimos 3 meses com início dos sintomas pelo menos
6 meses antes do diagnóstico.
** Critério diagnóstico para constipação funcional:
(1) Deve incluir dois ou mais dos seguintes itens: (a) esforço evacuatório
aumentado durante pelo menos 25% das defecações, (b) Fezes grumosas ou duras em
pelo menos 25% das defecações, (c) Sensação de evacuação incompleta em pelo
menos 25% das defecações, (d) Sensação de obstrução /bloqueio anorretal em pelo
menos 25% das defecações, (e) Manobras manuais para facilitar pelo menos 25%
das defecações (por exemplo, evacuação com ajuda digital, apoio do assoalho
pélvico), (f) Menos de três defecações por semana. (2) Fezes moles raramente
estão presentes sem o uso de laxantes. (3) Existem critérios insuficientes para
síndrome do intestino irritável.
F3a. Defecação dissinérgica
Critério diagnóstico*
Contração inapropriada dos músculos do assoalho pélvico ou menos de 20% de
relaxamento da pressão esfincteriana basal em repouso, com força propulsiva
adequada durante tentativa de evacuação
F3b. Propulsão defecatória inadequada
Critério diagnóstico*
Força propulsiva inadequada com ou sem contração inapropriada ou menos de 20%
de relaxamento esfincteriano anal durante tentativa de defecação.