Apego mãe - filho: estudo comparativo entre mães de parto normal e cesárea
PESQUISA
Apego mãe - filho: estudo comparativo entre mães de parto normal e cesárea
Mother-newborn attachment: a comparative study among mothers who had natural
births and caesarian sections
Apego madre-hijo: estudio comparativo entre madres de parto normal y cesárea
Semíramis Melani Melo RochaI; Érica SimpionatoII; Débora Falleiros de MelloIII
IProfessora Titular do Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Saúde
Pública da EERP/USP
IIAluna do curso de graduação em Enfermagem da EERP/USP
IIIProfessora Doutora do Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Saúde
Pública da EERP/USP
1 Introdução
Inúmeros estudos vêm sendo feitos para responder às perguntas sobre o que
favorece, perturba ou deflagra o apego entre pais e bebês, através de
observações clínicas, observações naturalistas das funções de pais,
entrevistas, observações estruturadas e estudos controlados. Os estudos
estendem-se por períodos que antecedem a gravidez, durante a gravidez, parto,
nascimento e após nascimento (1-5). Os controles necessários no estudo do apego
mãe - filho, possíveis na espécie animal, nem sempre o são no gênero humano.
Todos os estudos devem ser considerados dentro de seu contexto. As influências
culturais, os valores e as expectativas tanto da mãe como do observador, bem
como as estruturas e as políticas de assistência podem alterar ou limitar os
resultados.
Uma das perguntas que tem sido feita, com respostas controversas, é se existe
um período sensitivo em seres humanos ou não. Estes estudos procuram respostas
para perguntas como: o contato íntimo da mãe com o bebê nos primeiros minutos,
horas, dias de vida da criança altera a qualidade do apego mãe-filho ao longo
do tempo? O ambiente hospitalar, o retardamento do contato íntimo dos pais com
o bebê, em conseqüência de partos complicados, más condições de vitalidade da
criança têm influência nos sentimentos dos pais pelo bebê? O período sensitivo
parece ser um espaço de tempo imediatamente após o nascimento, durante o qual
os eventos que ocorrem têm o potencial para influenciar o desenvolvimento do
apego. Entretanto, é importante reconhecer que esse desenvolvimento é
influenciado por muitos eventos, alguns dos quais ocorrem antes da concepção.
Um estudo com base em várias investigações dão apoio ao princípio de um período
específico nos seres humanos, logo após o nascimento. Parece que muitos
processos são ativados para lançar a mãe para seu bebê, durante os primeiros
dias de vida (6). Manter a mãe e o bebê juntos logo após o nascimento parece
iniciar e estimular a operação de mecanismos sensoriais, hormonais,
fisiológicos, imunológicos e comportamentais conhecidos, que provavelmente
vinculam os pais ao bebê. Uma seqüência de interações entre a mãe e o bebê,
durante este período, ligando-os um ao outro e assegurando o desenvolvimento
posterior do apego reforçam a hipótese deste período sensitivo(6). A exploração
deste importante período, após o nascimento, poderá revelar novos conhecimentos
que apenas começamos a compreender.
Atualmente, é no hospital que se desenrolam os procedimentos relativos à
formação do apego (nascimento) e desapego (morte). As experiências que cercam
estes dois eventos na vida de um indivíduo estão sendo despojadas das tradições
e dos sistemas familiares de apoio.
Os cuidados a serem prestados à mãe e ao recém-nascido nas maternidades, nos
alojamentos conjuntos e berçários nas primeiras horas e dias pós-parto, pela
enfermagem, envolvem o conhecimento sobre este período chamado sensitivo.
As reações dos bebês recém-nascidos em um ambiente hospitalar são conhecidos e
conclui-se ser importante que a equipe de saúde materno-infantil conheça e
reforce o relacionamento adequado da mãe com seu filho, propiciando um
desenvolvimento sadio para a criança. O alojamento conjunto, embora tenha sido
uma modificação favorável relevante, em relação aos berçários tradicionais, que
separavam fisicamente a mãe do recém-nascido, por si só não garante mudanças de
atitude (7). São necessárias pesquisas de campo sistemáticas para que a
enfermagem, juntamente com demais membros de equipe de saúde possam atuar de
forma eficiente.
2 Objetivo
Comparar o comportamento de mães e bebês recém-nascidos de parto normal com o
comportamento de mães e bebês recém-nascidos de parto cesárea, nas primeiras 24
horas de vida, em um alojamento conjunto neonatal.
3 Metodologia
Este estudo de natureza qualitativa, constitui-se na observação de
comportamentos através do método narrativo com registro cursivo contínuo e
específico.
3.1 Definição de termos
O apego é definido como um relacionamento ímpar entre duas pessoas, específico
e duradouro ao longo do tempo (6). Operacionalmente, são usados como
indicadores do apego comportamentos tais como: acariciar, beijar, aconchegar,
prolongadas trocas de olhar que servem tanto para manter contato como para
mostrar afeição por uma determinada pessoa. Por consenso geral, apego é um laço
dos pais com o bebê e vínculo refere-se ao laço na direção oposta, do bebê para
os pais. Entretanto, na literatura encontramos apego com o mesmo significado
para relações nas duas direções.
3.2 Estratégia
A observação do comportamento é utilizada pela psicologia, sendo amplamente
empregada em pesquisas desenvolvidas sob o enfoque de diferentes abordagens
teóricas, tais como etologia, análise aplicada do comportamento e ecologia. A
importância atribuída às estratégias observacionais vincula-se, sobretudo, às
suas possibilidades de fornecer respostas a questões previamente formuladas,
avaliar o repertório comportamental dos sujeitos e os resultados de
intervenções. Pode-se obter um quadro mais fiel do comportamento estudado do
que aquele fornecido por outros métodos de coleta de dados, como por exemplo,
relatos e entrevistas (8).
As técnicas de observação do comportamento se desenvolveram concomitantemente
com o estudo do comportamento de crianças, a partir do século XIX, e ao longo
dos anos, muitas estratégias foram desenvolvidas e aperfeiçoadas, procurando
atender às várias necessidades dos estudos.
As estratégias observacionais podem ser classificadas em três métodos
principais: narrativo, amostragem e classificação. Selecionamos para esta
pesquisa o método narrativo, que descreve os eventos comportamentais tal como
eles ocorrem, preservando as suas seqüências temporais e propiciando
informações numerosas e detalhadas sobre os comportamentos em estudo. Dessa
forma, o pesquisador primeiro registra os eventos observados e só após
seleciona, classifica e analisa os comportamentos. O método narrativo abarca as
descrições diárias, os registros de incidentes críticos e os registros cursivos
(8).
Os registros cursivos são realizados dentro de um período de tempo ininterrupto
e consistem em registrar detalhadamente o que ocorre numa determinada situação,
de acordo com a seqüência temporal dos fatos, de forma que se possam visualizar
os eventos observados como de fato ocorreram.
Por serem contínuos no tempo, tais registros são também denominados de
registros contínuos. Para o propósito deste estudo, o observador fez o registro
da atuação materna relativa a voz, forma de acariciar, amamentação, maneira
como olha para o recém-nascido, troca de fraldas, maneira como fala de seu
filho para outras puérperas e quando o recém-nascido chora. Foram observados
também movimentos do recém-nascido e o ambiente. Essa seleção prévia
caracteriza a observação como registro cursivo contínuo específico .
Os registros realizados por meio desta técnica são relativos à localização,
posição e postura do sujeito; a eventos comportamentais, tais como respostas
motoras, expressões faciais e respostas vocais, e eventos ambientais, tais como
mudanças que ocorrem nos ambientes físico e social durante o período de
observação. Dessa forma, pretende-se um levantamento inicial do repertório
comportamental de mães e seus bebês recém-nascidos e uma descrição das
circunstâncias ambientais nas quais esses comportamentos ocorreram.
As categorias descritivas do comportamento correspondem às fases ativamente
determinadas de mudanças encontradas em uma forma de intercâmbio organismo-
ambiente (operação de comportamento), movimento, postura ou aparência
previamente exibidos. Em nosso caso, comportamentos relacionados à interação
entre a mãe e o recém-nascido.
A denominação das categorias de comportamento é uma questão de convenção. O
nome adotado foi o que mais pronta e convenientemente evocou a definição da
categoria em causa, em termos de serem observáveis. Assim, a voz foi
categorizada em não verbaliza, verbaliza muito, verbaliza pouco, com alteração
da entonação, sem alteração da entonação e verbaliza com voz infantil. Mas não
se deve esquecer que o nome apenas rotula uma descrição ou enunciado, para
economia de expressão: desta forma deve-se ter o cuidado de aplicá-lo apenas a
fenômenos que comportam a descrição que ele designa. Foi utilizado um roteiro
de observação, para anotação das observações.
3.3 Local
Para o desenvolvimento deste trabalho foram estudadas puérperas e recém-
nascidos internados na Maternidade do Complexo Aeroporto - Fundação e
Maternidade Sinhá Junqueira - MATER Ribeirão Preto - SP, na unidade de
alojamento conjunto, no período das primeiras 24 horas após o nascimento do
recém - nascido que apresentavam quadro clínico estável.
3.4 Aspectos Éticos
Antes de iniciarmos a pesquisa, o projeto foi enviado ao Comitê de Ética em
Pesquisa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo e ao Diretor Clínico da Maternidade do Complexo
Aeroporto ' Fundação e Maternidade Sinhá Junqueira ' MATER, sendo aprovado por
ambos.
As mães observadas receberam informação sobre a pesquisa e consentiram na
participação através de autorização por escrito.
3.5 Procedimentos
Inicialmente foi explicado a cada puérpera o desenho do estudo que seria
realizado, solicitando seu consentimento por escrito, conforme as normas do
Comitê de Ética em Pesquisa. Para garantir o anonimato, cada mãe e seu
respectivo recém-nascido recebeu um número na apresentação dos resultados.
A observadora permaneceu com as puérperas e com seu recém-nascido por dois
períodos, com duração de 3 horas cada, em plantões distintos, nas primeiras 24
horas que sucederam ao parto. A primeira observação foi realizada entre o
nascimento e até 12 horas de vida do recém-nascido, a segunda observação entre
12 e 24 horas de vida. Os resultados são utilizados numa reflexão sobre
cuidados às mães e bebês nas primeiras horas após o parto e não devem ser
tomados como comportamentos padronizáveis.
3.6 Descrição do ambiente
A Maternidade do Complexo Aeroporto-Fundação e Maternidade Sinhá Junqueira '
MATER se compõe por centro obstétrico, sala pré-parto, consultórios, recepção,
berçário para recém-nascidos que apresentem algum risco e um alojamento
conjunto. Esta unidade de alojamento conjunto contém 44 leitos e 44 berços,
distribuídos em 14 quartos, sendo oito quartos com quatro leitos e quatro
berços e seis quartos com dois leitos e dois berços. Os quartos se dispõem
pareados lado a lado. A MATER possui duas entradas, sendo uma somente para
funcionários e estagiários e outra para pacientes e visitas. A Maternidade
atende a gestante, a puérpera e o recém-nascido. Na unidade de alojamento
conjunto são atendidos as puérperas e seus recém-nascidos. O atendimento é
feito por médicos, enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem. Pela
manhã, os procedimentos realizados são: exames físicos nas mães; banho,
curativo umbilical e exame físico nos recém-nascidos. Neste momento, as mães
são incentivadas a realizarem esses procedimentos juntamente com os
profissionais. As mães, em geral ficam atentas e algumas participam, enquanto
outras preferem somente observar o que está sendo realizado. No início da
tarde, os profissionais realizam exame físico nas puérperas e no seu respectivo
recém-nascido. No restante da tarde, estes são atendidos conforme as
necessidades que se apresentam. Familiares e amigos das puérperas visitam-nas à
tarde. A limpeza dos quartos é feita diariamente à tarde. Observa-se que, pela
manhã, há maior movimentação nos quartos, com entrada de profissionais e
estagiários em maior freqüência. Os cuidados e procedimentos terapêuticos à
puérpera e recém-nascido são concentrados no período da manhã. A tarde há pouca
movimentação no ambiente, desta maneira, as puérperas tendem a descansar. A
maioria das mães se mostrou receptiva aos profissionais, abertas ao aprendizado
de técnicas de como cuidar de seu recém-nascido. Em média, as puérperas têm
recebido alta hospitalar 24 horas após o parto.
4 Resultados
Foram observados 14 binômios mãe-filho, durante as primeiras 24 horas de vida
do recém-nascido, sendo sete de parto normal e sete de parto cesárea. O período
de observação foi de 11 de maio de 2001 a 23 de janeiro de 2002.
O quadro_1 nos mostra que o perfil das mães observadas é semelhante quanto a
escolaridade. Entre as mães de parto normal, uma é considerada adolescente.
Houve mais primíparas entre as mães de parto cesárea e quanto ao estado civil,
houve mais casadas entre as mães de parto normal.
Entre os sete recém-nascidos de parto normal, dois eram do sexo feminino e
cinco do sexo masculino. O peso dos recém-nascidos variou entre 2060 e 3390
gramas e a altura variou entre 46 e 50 centímetros. Entre os recém-nascidos de
parto cesárea, cinco eram do sexo feminino e dois do sexo masculino. O peso
variou entre 2205 a 3965 gramas e a altura variou entre 44 e 50 centímetros.
(Quadro_2). O perfil dos recém-nascidos foi semelhante nos dois grupos, em
relação a estas variáveis.
Apresentamos a seguir a discussão sobre as categorias de comportamentos
observados em recém-nascidos e mães nas primeiras 12 horas após o nascimento e
entre 12 e 24 horas após o nascimento dos recém-nascidos de parto normal e
cesárea.
Voz: Comparação entre o primeiro e o segundo período de observação: as mães
passam a verbalizar mais no segundo período de observação, quando aparece com
mais freqüência a alteração da intonação da voz e a verbalização com voz
infantil.
Comparação entre mães de parto normal e parto cesárea: a freqüência de
verbalização é maior entre as mães de parto normal. A freqüência de alteração
de intonação da voz á maior entre as mães de parto normal, no primeiro período
de observação. A verbalização com voz infantil é mais freqüente entre mães de
parto cesárea no primeiro período de observação.
Forma_de_acariciar: Comparação entre o primeiro e o segundo período de
observação: entre as formas de acariciar, no primeiro período foram mais
freqüentes aproximar o corpo e segurar no colo, tanto em mães de parto normal
quanto cirúrgico. No segundo período, entre as mães de parto normal, foram mais
freqüentes segurar no colo, acariciar o corpo do recém-nascido e abraçar. Entre
as mães de parto cesárea, no segundo período de observação foram mais
freqüentes, aproximar do corpo, acariciar a face, segurar no colo e abraçar.
Comparação entre as mães de parto normal e parto cesárea: As formas de
acariciar aproximar o corpo e segurar no colo aparecem nos dois grupos com a
mesma freqüência . Acariciar a face e abraçar apareceu com mais freqüência
entre as mães de parto cesárea. Nos dois grupos acariciar muito o recém-nascido
aparece com mais freqüência no segundo período de observação.
Amamentação: Comparação entre o primeiro e o segundo período de observação em
partos normais: todas as mães amamentaram nos dois períodos, sendo mais
freqüente amamentar sentadas. No primeiro período duas mães amamentaram
deitadas e três no segundo período. Acariciar enquanto amamenta, conversar com
o recém-nascido e sorrir foi mais freqüente no segundo período de observação.
As mães demonstraram mais habilidade para amamentar no segundo período de
observação. Ficar com o recém-nascido no colo, após amamentá-lo, apresentou a
mesma freqüência nos dois períodos.
Comparação entre o primeiro e segundo período de observação em partos cesárea:
uma mãe não amamentou no primeiro período de observação. No primeiro período
foi mais freqüente amamentar deitada e, no segundo período, foi mais freqüente
amamentar sentada. Acariciar enquanto amamenta, conversar com o recém-nascido,
estimular o recém-nascido para mamar, sorrir enquanto amamenta e ficar com o
recém-nascido no colo após amamentá-lo foram mais freqüentes no segundo período
de observação. Amamentar com habilidade foi mais freqüente no segundo período
de observação.
Comparação entre as mães de parto normal e parto cesárea: olhar para o recém-
nascido enquanto amamenta é o comportamento mais freqüente nos dois períodos de
observação, entre os dois grupos de mães. As mães de parto cesárea
apresentaram, com maior freqüência o comportamento conversar com o recém-
nascido e acariciar o recém-nascido no segundo período de observação. As mães
de parto cesárea amamentaram deitadas em maior freqüência do que as mães de
parto normal, no primeiro período de observação. Amamentar com habilidade é
mais freqüente entre as mães de parto normal no primeiro período de observação.
No segundo período de observação é um comportamento apresentado por todas as
mães observadas, tanto de parto normal como cesárea. No primeiro período de
observação, estimular o recém-nascido para mamar, ficar com o recém-nascido no
colo e sorrir enquanto amamenta são mais freqüentes entre as mães de parto
normal e no segundo período a freqüência é a mesma entre os dois grupos.
Maneira_como_olha_para_o_recém-nascido: Olhar fixamente o recém-nascido foi um
comportamento apresentado por todas as mães de parto normal e de parto cesárea
nos dois períodos. Sorrir enquanto olha é um comportamento bastante freqüente.
Olhar face-a-face apresentou baixa freqüência.
Troca_de_fraldas: Comparação entre o primeiro e segundo período de observação:
a troca de fraldas ocorreu com mais freqüência no segundo período de observação
tanto entre mães de parto normal quanto em mães de parto cesárea. No segundo
período, quando ocorreu, a troca de fraldas foi com habilidade acompanhada de
observação do genital.
Comparação entre as mães de parto normal e de parto cesárea: as mães de parto
cesárea no segundo período de observação trocaram a fralda em maior freqüência.
Conversar com o recém-nascido aparece com mais freqüência entre as mães de
parto normal. Entre as mães que trocaram as fraldas do recém-nascido, todas
observaram os genitais, com a mesma freqüência, tanto as mães de parto normal
quanto as de parto cesárea. Movimentos suaves aparecem com mais freqüência no
segundo período de observação, entre as mães de parto cesárea.
Maneira_como_fala_de_seu_filho_para_outras_puérperas: Comparação entre o
primeiro e segundo período de observação: a conversa entre as mães foi mais
intensa no segundo período de observação, tanto entre mães de parto normal
quanto parto cesárea.
Comparação entre as mães de parto normal e de parto cesárea: no primeiro
período de observação as mães de parto normal verbalizaram com mais freqüência.
No segundo período, as mães de parto cesárea verbalizaram com maior freqüência.
Atuação_materna_durante_o_choro: No primeiro período de observação, duas mães
de parto normal não atuaram durante o choro de seu recém-nascido. No segundo
período de observação as mães de parto normal atenderam prontamente ao choro do
recém-nascido com mais freqüência.
Os comportamentos, pegar no colo, embalar e oferecer o peito, se intensificam
no segundo período de observação entre as mães de parto cesárea. O
comportamento acalmar o recém-nascido conversando aparece com mais freqüência
entre as mães de parto cesárea no segundo período de observação. O choro foi
menos freqüente no segundo período de observação tanto para o recém-nascido de
parto normal quanto de parto cesárea.
No primeiro período, as mães de parto cesárea atenderam prontamente ao choro,
pegaram no colo, embalaram e ofereceram o peito com mais freqüência que as mães
de parto normal. O choro foi mais intenso nos recém-nascidos de parto cesárea e
todas as mães de parto cesárea atuaram durante o choro no primeiro período. No
segundo período, as mães cujos recém-nascidos choraram, todas pegaram no colo.
O comportamento embalar e oferecer o peito ocorreu com maior freqüência nas
mães de parto cesárea. Acariciar ocorreu igualmente nos dois grupos
Movimentos_do_recém-nascido: Os recém-nascidos de parto normal apresentaram
maior freqüência do movimento mão-boca no primeiro período de observação. O
olhar alerta foi observado nos dois períodos entre os recém-nascidos de parto
normal e cesárea. Os dois grupos de recém-nascidos procuraram sugar com maior
freqüência no segundo período de observação.
Ambiente: No primeiro período de observação o ambiente das mães de parto normal
apresentava-se com maior movimentação de pessoas e com mais visitas do que o
ambiente das mães de parto cesárea. No segundo período o ambiente apresentou-se
com pouca movimentação de pessoas nos dois grupos e com mais visitas no grupo
das mães de parto cesárea.
5 Discussão
A voz da mãe e a forma de acariciar o recém-nascido devem ser cuidadosamente
observados, durante os cuidados de enfermagem, podem ser indicadores da
disposição da mãe para cuidar do recém-nascido. Constatamos que sua disposição
para manifestar estes comportamentos vai se intensificando com o passar das
horas.
Amamentar é um momento crítico nas primeiras 24 horas após o nascimento.
Observa-se que as mães de parto cesárea necessitam de mais atenção que as mães
de parto normal. Tanto as mães de parto normal quanto cesárea, apresentam
melhor desempenho, com o decorrer do período após o parto. Esta variação no
desempenho de amamentar, sugere maior atenção da enfermeira nas primeiras 12
horas após o parto.
Olhar para o recém-nascido e falar sobre ele é um indicador do cuidado que a
mãe está prestando ao seu recém-nascido. Ambos os grupos de mães demonstram
intensidade no olhar. A verbalização entre as mães de parto cesárea, vai se
intensificando com o passar das horas.
A troca de fraldas e atuação materna durante o choro, são indicadores do
desenvolvimento das habilidades maternas para cuidar do bebê. É
responsabilidade da enfermeira estar atenta para estes comportamentos, e
auxiliar as mães mais inexperientes, ou mais fragilizadas após o parto,
transmitindo-lhes segurança. Logo após o parto, tanto mães de parto normal,
como cesárea, são mais inseguras.
Os movimentos do recém-nascido são indicadores de uma interação importante
entre mãe e filho. Os comportamentos maternos são estimulados pelos
comportamentos do recém-nascido.
Enfatizamos a importância de ajudar a mãe a estar atenta ao seu bebê e
responder afetivamente as suas demonstrações de estabelecer contato.
O ambiente representa não só o espaço físico, mas o conjunto dos elementos que
constituem a cultura e o referencial de atuação. O parto hospitalar, a equipe
profissional , as visitas e os procedimentos realizados conformam a rede de
interações. Destaca-se que não existem padrões típicos naturais ou ideais de
categorias de comportamentos facilitadores ou antagônicos ao estabelecimento de
uma relação entre a mãe e o recém-nascido (9).
A interação entre mãe e filho é um sistema aberto, capaz de transformação e
reorganização dinâmica. As pré-disposições em jogo são as garantias de
sobrevivência física. São também predisposições para o desenvolvimento de um
sistema de adaptação, integração e desenvolvimento do indivíduo na realidade
social, meio natural da espécie humana (9).
A antiga imagem de um bebê que não via nem escutava por várias semanas após o
nascimento contribuiu para cegar os pais à rica gama de reações infantis que
colaboram para fortalecer rapidamente o apego. Hoje, as capacidade sensoriais
do recém-nascido são mais conhecidas e os profissionais que dão apoio aos pais
podem indicar-lhes toda riqueza do repertório comportamental da criança. O
comportamento do recém-nascido e as respostas instintivas dos pais confluem, no
período pós-natal, para alimentar o crescimento do apego entre as duas partes.
Os pais que apreciam e valorizam esta riqueza estão prontos a entrar num
diálogo mais rico com seu bebê (10).
A escolha da pessoa objeto de apego está muito mais na dependência do grau de
responsividade e de iniciativa para a interação do que em satisfação de
necessidades primárias da criança. Desta forma, o recém-nascido está mais
propenso a estabelecer relação de apego com a pessoa que interage com ele, do
que com a pessoa que o alimenta e cuida de sua higiene corporal, sem se
preocupar em manter os sinais de reciprocidade na comunicação interativa.
Os estados de consciência do recém-nascido correspondem as ações da mãe, cada
vez que uma ação sua evoca uma resposta , a mãe tem sua competência confirmada
(10).
6 Considerações finais
A comparação de categorias de comportamento observadas de mães e recém-nascidos
de parto normal e cesárea, nas primeiras 24 horas de vida do recém-nascido, em
um alojamento conjunto neonatal permitiu algumas considerações úteis para o
trabalho de enfermagem. Ao cuidar do binômio mãe-filho a enfermeira deve
considerar seu papel como facilitadora da relação de apego. Para tanto deve
conhecer o referencial teórico e os indicadores desta relação. Desenvolver a
observação de comportamento da mãe e do recém-nascido requer treinamento
específico.
Assim, sugerimos que a enfermeira desenvolva metodologias de assistência de
enfermagem apropriadas para o levantamento de dados (assesment) e diagnóstico
de enfermagem para prestar o cuidado em alojamento conjunto neonatal que
propiciem uma rede de relações interativas entre a mãe, o bebê e os
profissionais. A enfermeira deve atuar, também propiciando a segurança da mãe e
do recém-nascido para estabelecer vínculos bem sucedidos com o recém-nascido.
Agradecimentos: Trabalho financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico ' CNPq e Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo '
FAPESP.