Saúde mental como tema transversal no curriculo de enfermagem
DIRETRIZES CURRICULARES - IMPLEMENTAÇÃO E AVALIAÇÃO - RELATOS DE EXPERIÊNCIA
DAS DCN
Saúde mental como tema transversal no curriculo de enfermagem
Mental Health and its interdisciplinary teaching in the Nursing curriculum
Salud mental como tema transversal en el currículo de enfermería
Ana Ruth Macêdo Monteiro
Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora adjunta da Universidade Estadual
do Ceará, E-mail: renrut@uece.br
1 Introdução
O curso de graduação em Enfermagem vem passando por vários momentos de
reflexões com vistas às novas tendências da profissão que tem influência direta
das políticas públicas no atual cenário nacional.
A construção de um projeto político pedagógico que insira o profissional
enfermeiro na realidade político social vigente é o grande desafio a ser
enfrentado pelos docentes das Universidades públicas e privadas.
As Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Enfermagem
estabelecem que os conteúdos essenciais devem estar relacionados com o processo
saúde-doença do cidadão, da família e da comunidade, integrando à realidade
epidemiológica e profissional, proporcionando à integralidade das ações do
cuidar em enfermagem(1).
O mesmo documento estabelece que os conteúdos teóricos e práticos devem
contemplar a assistência de enfermagem em nível individual e coletivo prestada
à criança, ao adolescente, à mulher e ao idoso, considerando os determinantes
sócio-culturais, econômicos e ecológicos do processo saúde-doença, bem como, os
princípios éticos, legais e humanísticos inerentes ao cuidado humano.
Considerando essa discussão político-pedagógica, é que se reflete sobre a
transversalidade de alguns conteúdos necessários à prática do cuidar em
Enfermagem nas demais fases do ciclo de vida do indivíduo.
Foi contemplada, neste trabalho, a saúde mental como abordagem
transdisciplinar, com vistas a amparar o profissional, que se busca formar, no
cuidado ao cliente, família e comunidade.
Falar sobre saúde mental e a prática do enfermeiro de uma maneira geral, não é
uma das tarefas mais fáceis, pois, tem-se a idéia de que saúde mental está
apenas ligada a questões psiquiátricas, e que o enfermeiro só pode desenvolver
ações de saúde mental dentro dos hospitais psiquiátricos, hospitais-dia, CAPS/
NAPS ou outra, instituições de assistência psico-social.
Sabe-se que a prática assistencial do enfermeiro é voltada para a ação do
cuidar e, cuidar é mais que um ato, é uma atitude de ocupação, preocupação,
responsabilização e de envolvimento afetivo com outro. Então, ao prestar
cuidado, o profissional se torna responsável pelo corpo, mas um corpo vivo, com
sua subjetividade e significância(2).
O homem é um ser complexo com manifestações e respostas espirituais, psíquicas,
culturais, sociais e biológicas que interagem entre si e que o personificam,
tornando-o um ser singular.
É na singularidade do cliente que a enfermagem deve estabelecer suas
intervenções, sempre em busca de atingir as demais dimensões do homem. E,
dentre elas, encontra-se a saúde mental que exerce uma grande influência na
resposta à doença ou no processo de adaptação ao novo estilo de vida.
Percebe-se como a ação do enfermeiro tem amplitude e, o quanto sua prática não
pode estar restrita a apenas cuidar da doença ou preveni-la; quer seja, nos
níveis primário, secundário ou terciário. É preciso considerar o ser cuidado
como pensante e possuidor de vontade, sentimentos e expectativas.
Para dar tal resposta o enfermeiro, na sua formação básica, precisa de suporte.
E, se nos currículos acadêmicos a parte de saúde mental ainda continua sendo
abordada de forma dicotomizada, com certeza a reprodução na prática continuará
a mesma.
Questiona-se, porém, como aplicar a saúde mental na assistência de enfermagem
nos demais ciclos vitais do homem? Como ministrar conteúdos referentes à
criança e adolescente, ao adulto na sua fase reprodutiva, produtiva e ao idoso,
sem integrar aspectos ligados à saúde mental? Como realizar educação em saúde
sem considerar a comunicação como terapêutica em busca de uma relação de ajuda
junto ao cliente?
Diante de tais questões, vê-se uma grande lacuna na formação do enfermeiro e na
resposta que vem sendo dada pelos profissionais em sua prática assistencial,
voltada apenas para uma ação direcionada dentro do modelo biomédico.
Os enfermeiros estão cada vez mais preparados tecnicamente para intervirem em
situações críticas e especializadas, porém, deve-se considerar que esse saber é
utilizado em circunstâncias que envolvem pessoas e, portanto, exige momentos de
interação.
Sendo a comunicação um processo básico para toda a ação humana, na prática de
enfermagem não é diferente. Na relação com o cliente, é preciso que o
enfermeiro reconheça-o como ser humano único, que também tem esperança,
alegria, tristeza e medos e, que essa manifestação de sentimentos interfere no
seu processo saúde-doença.
A enfermeira possui uma ferramenta singular que pode ter mais influência sobre
os clientes do que qualquer outra ação terapêutica, que é ela mesmo, ou seja, o
modo como ela faz o uso de si mesma, nas interações individuais com o cliente
(3).
A competência interpessoal, usada pela enfermeira de modo terapêutico, vai
permitir que atenda às necessidades do paciente em todas as suas dimensões,
levando em consideração a sua cultura e o seu ambiente(4).
Para identificar fenômenos e propor intervenções, a enfermeira utiliza uma base
de dados fidedignos que são clarificados e validados junto ao cliente. Dessa
forma, ela consegue atender às suas necessidades, não com base nos seus valores
pessoais, mas nos valores da pessoa que está sendo assistida.
A prática assistencial do enfermeiro, necessariamente, está voltada para o
outro, e considerá-lo como ser biograficamente situado no mundo é contribuir
com a promoção da saúde do cliente.
Neste contexto, busca-se com este estudo averiguar a possibilidade do conteúdo
de saúde mental ser transversal nas disciplinas dos cursos de graduação em
enfermagem, descrevendo a experiência desenvolvida em uma universidade pública
e conhecendo a percepção dos acadêmicos sobre essa prática.
Para tanto, este estudo desenvolveu-se em uma universidade pública do Estado do
Ceará, com os alunos dos dois últimos semestres do curso de Enfermagem.
Participaram da pesquisa 27 alunos dentre os 54 matriculados no oitavo e nono
semestres. O instrumento utilizado foi o questionário, com perguntas abertas e
fechadas que foi entregue a todos os alunos juntamente com o termo de
consentimento que assegurava o sigilo das informações e o anonimato dos
sujeitos, bem como, a liberdade em desistir de participar sem que haja risco.
Utilizou-se a sigla Ac acompanhada de número para identificar os depoentes.
2 Descrição da experiência
A prática da saúde mental como conteúdo transversal no currículo do curso de
graduação em Enfermagem da Universidade Estadual do Ceará teve seu início no
ano de 2000, na disciplina de Enfermagem em Saúde do Adulto I (Saúde da
mulher).
Tal experiência foi apresentada no Seminário Nacional de Diretrizes em Educação
em Enfermagem - SENADEn sediado na cidade de Fortaleza sob o tema: Saúde Mental
na Disciplina de Enfermagem em Saúde do Adulto I. Os dados revelaram que 90,9%
dos alunos consideram o conteúdo importante por auxiliar no entendimento do
indivíduo na sua fase reprodutiva; 10,1% afirmou que o mesmo é necessário
porém, dispensável, já que o conteúdo específico da disciplina aborda tal
enfoque; 34,1% avalia a inserção do conteúdo de saúde mental na disciplina como
ótima, 56,8% como boa e 9,1% como regular. Quanto a sua aplicabilidade nas
aulas práticas, 45,4% conseguiu aplicar, 43,2% utilizou algumas vezes e 11,4%
não conseguiu aplicar. Quanto a continuidade do conteúdo, 93,2% considera que
deve continuar e 6,8% que não.
Após essa experiência inicial, foi dado continuidade à inserção em outras
disciplinas - Enfermagem em Saúde da Criança e do Adolescente, Enfermagem em
Saúde do Adulto II(adulto) e Enfermagem em Saúde do Adulto III(idoso), como
continuidade da Disciplina Enfermagem em Saúde Mental; ficando como uma parte
aplicada do conteúdo saúde mental.
Busca-se em cada disciplina, proporcionar ao aluno o desenvolvimento da
habilidade de avaliar o cliente em todos os seus aspectos, oferecendo-lhe uma
assistência holística, bem como, a oportunidade de refletir sobre a sua própria
condição de ser sujeito de seu processo saúde-doença.
O ser humano é ao mesmo tempo físico, psíquico, cultural, social, histórico.
Portanto, faz-se necessário introduzir e "desenvolver na educação
características cerebrais, mentais, culturais dos conhecimentos humano"(5:
14) e das disposições, tanto psíquicas quanto culturais, tornando a condição
humana essencial do ensino.
A partir dessas considerações, percebe-se o quanto é importante para a formação
do enfermeiro que este conheça o indivíduo em suas múltiplas facetas, com o
intuito de aproximar-se da sua essência enquanto ser assistido e, poder
oferecer-lhe uma assistência mais integralizada e mais adequada à sua condição
de ser-no-mundo.
Ao ser ofertado ao aluno conhecimentos sobre pré-natal, parto e puerpério, como
não abordar a condição emocional dessa mulher em momento tão significativo da
sua existência? Como não tomar ciência de manifestações psíquicas peculiares à
gravidez e ao puerpério e de que forma estas podem influenciar no novo ser em
formação? Essas e outras questões são tratadas na disciplina de Enfermagem em
Saúde do Adulto I no nosso currículo.
Na abordagem à criança e ao adolescente busca-se desenvolver conteúdos sobre o
desenvolvimento psicológico do homem, o ser adolescente, a criança/adolescente
hospitalizado, doenças crônicas, principais transtornos psiquiátricos na
criança e no adolescente e a assistência de enfermagem sistematizada e temas
emergentes como: violência doméstica, abuso sexual e dependência química. São
desenvolvidas aulas práticas em creches, salas de espera com adolescentes,
unidade de internação tipo enfermaria para pacientes oncológicos.
Os transtornos psiquiátricos no adulto e a saúde mental com clientes em
condição clínica e/ou cirúrgica são desenvolvidos na disciplina Enfermagem em
Saúde do Adulto II. São aplicadas, também, aulas práticas na rede hospitalar
voltadas ao conteúdo administrado.
Quanto à Saúde do idoso, ainda estão sendo desenvolvidas ações mais
integralizadas ao que é específico da disciplina. No momento, apenas o conteúdo
referente aos transtornos psiquiátricos no idoso, especificamente às demências
é o que está sendo enfocado.
3 Percepção dos alunos
Considerando que o conteúdo de saúde mental ainda não se encontra estruturado
na disciplina de Enfermagem em Saúde do Adulto III(Idoso), foi avaliado apenas
a inserção nas disciplinas de Enfermagem em Saúde da Criança e do Adolescente,
Enfermagem em Saúde do Adulto I(mulher), Enfermagem em Saúde do Adulto II
(adulto).
Dos alunos que participaram do estudo 37% é do nono semestre e 63% do oitavo.
No que diz respeito à inserção da saúde mental nas disciplinas já referidas,
18,5 % considerou ótima, 70,5% boa, e 11% como regular. Dentre as
justificativas afirmaram que perceberam o conteúdo bem mais inserido nas
disciplinas de Enfermagem em Saúde da criança e do Adolescente e Enfermagem em
Saúde do Adulto I, sendo pouco enfatizado em Saúde do Adulto II; que há
coerência entre a saúde mental e o conteúdo específico da disciplina; que a
disciplina é enriquecida com a saúde mental aplicada; que é regular por não
gostar de saúde mental; que possui uma visão ampla do conteúdo, facilitando a
assimilação; que o tempo é limitado para a bordagem teórica, sendo parcialmente
contemplado nas aulas práticas; que não sobrecarrega a disciplina de Enfermagem
em Saúde Mental; que ajuda o aluno a compreender melhor o contexto
biopsicossocial.
A partir dessas justificativas todos os alunos consideraram o conteúdo de saúde
mental junto às disciplinas importante, por auxiliar no entendimento do
indivíduo no seu ciclo de vida, bem como na vivência diária como profissional.
Percebe-se que a experiência de tornar a saúde mental aplicada às disciplinas
do curso de enfermagem promove um entrelaçamento de informações que dão ao
aluno embasamento para desenvolver sua prática com propriedade. Referem
importante a abordagem das várias dimensões do humano, sugerindo aspectos a
melhorar para obter um maior êxito na relação com o cliente.
A sociedade comporta as dimensões histórica, econômica, sociológica, religiosa
[...] O conhecimento pertinente deve reconhecer esse caráter multidimensional e
nele inserir estes dados [...] O conhecimento pertinente deve enfrentar a
complexidade [...] de fato há complexidade quando elementos diferentes são
inseparáveis constitutivos do todo [...] A complexidade é a união entre a
unidade e a multiplicidade(5:38).
Justifica-se, então, a intencionalidade de proporcionar essa interação entre
conteúdos que abrangem o todo do homem, a quem é direcionado o cuidar em
enfermagem. O mesmo autor revela que o recorte das disciplinas dificulta o
apreender "o que está tecido junto" e que o conhecimento
especializado é uma forma de abstração, extraindo o objeto do seu contexto, do
seu conjunto, da relação da parte com o todo(5).
Quanto à sua aplicabilidade 7,5% conseguiu aplicar o que foi visto, 81,5%
aplicou algumas vezes, mas acredita que poderá utilizar e 11% não conseguiu
aplicar, mas acredita que poderá utilizar.
Quanto à continuidade da saúde mental aplicada às disciplinas, 59,5% dos alunos
afirmam que deverá continuar; 15% que deverá ser inserido em outras
disciplinas, como Enfermagem em Saúde do Adulto III e Planejamento e Políticas
de Saúde; e 25,5% relata que deverá continuar com algumas sugestões como:
dirigir o conteúdo para as áreas de atuação do enfermeiro, principalmente em
Enfermagem em Saúde do Adulto II; outra disciplina para o conteúdo dos
transtornos psiquiáticos, como Enfermagem psiquiátrica.
Estes dados nos informam que há necessidade de se repensar a forma como estão
sendo dirigidas as aulas práticas durante as disciplinas que possuem a saúde
mental aplicada. A adesão e aceitação da proposta são explícitas, bem como o
envolvimento dos alunos, demonstrados pelas sugestões para melhoria da sua
aplicabilidade, denotando a importância de se manter a proposta.
Na formação do enfermeiro é fundamental que sejam desenvolvidos conhecimentos e
habilidades para a utilização de estratégias preventivas de doenças, estímulos
a comportamentos saudáveis na população a partir de ações educativas, que
requerem habilidade de comunicação e interação com grupo que só poderão ser
desenvolvidas a partir da adoção da transdisciplinaridade no currículo de
Enfermagem(6).
A experiência com a aplicabilidade da saúde mental nas disciplinas do curso
está sendo revelada como possibilidade para a vivência da
transdisciplinaridade, bem como a abertura para que outros conteúdos possam ser
inseridos.
A humanização do cuidado com o cliente cirúrgico, no cotidiano assistencial, o
enfermeiro se depara com seres que possuem individualidade, com problemas e
características próprias e, que, quando passa para a condição de pessoa
hospitalizada ou com algum agravo de saúde, ele está sob diversas
interferências em seu estado físico e/ou psíquico(7).
Quanto à percepção do acadêmico de enfermagem sobre a transversalidade do
conteúdo de saúde mental nas disciplinas eles assim se manisfestaram:
A saúde mental é um ponto fundamental para desenvolver uma atenção holística e,
portanto fundamental para o desenvolvimento da atenção de Enfermagem de
qualidade.(Ac. 8)
É importante realmente ter esta visão da saúde mental nestas disciplinas,
principalmente quando se vê saúde mental não como doença, mas sim como promoção
da saúde mental.(Ac. 24)
A saúde mental aplicada a várias disciplinas no curso de enfermagem é percebida
pelos alunos como base para oferecer ao cliente, família e comunidade uma
atenção globalizada. Essa visão dos acadêmicos mostra o quanto eles estão
atentos à assistência e se inserindo de maneira reflexiva no cotidiano da
profissão.
Compreender o humano é compreender sua unidade na diversidade, sua diversidade
na Unidade. É preciso conceber a unidade do múltiplo, a multiplicidade do uno.
A Educação deverá ilustrar este princípio de unidade/diversidade em todas as
esferas(5:55).
Acredita-se que trabalhar essa unidade/diversidade nos currículos dos cursos de
graduação é promover discussões que favoreçam reflexão crítica dos alunos,
dando-lhes subsídios através da transdisciplinaridade.
O objetivo das diretrizes curriculares é garantir a capacitação de
profissionais com autonomia e discernimento para assegurar a integralidade da
atenção e a qualidade e humanização do atendimento prestado aos indivíduos,
famílias e comunidades(1). A manifestação dos alunos elaborando sugestões para
essa prática de saúde mental aplicada, é uma resposta para o que está se
buscando, conforme os depoimentos abaixo:
Considero que a saúde mental é de grande importância para os alunos de
graduação, para isso é necessário que se reveja o modo de ensino e as formas de
avaliação durante as disciplinas de Saúde do adulto I e principalmente saúde do
Adulto II. Melhorando isso, existirá um grande proveito da Saúde mental na vida
pessoal, profissional e na aplicação desta.(Ac. 20)
Precisa haver uma ênfase maior nos conteúdos ministrados.(Ac. 12)
Uma abordagem maior em sala de aula, com dinâmicas que melhorem a percepção e
sensibilidade do docente para a abordagem em saúde mental. Aplicação do
conteúdo no campo de estágio, mais diretamente com estudos de casos específicos
sobre as condições de saúde mental dos pacientes, debates e atividades de
melhoria da qualidade de vida do paciente hospitalizado e sua família, o que
perpassa toda a questão do atendimento, do cuidado prestado ao paciente.(Ac. 3)
Percebe-se através dos relatos acima o compromisso dos alunos no sentido de
estarem buscando a sua formação generalista, humanista, crítica e reflexiva,
preconizada pelas diretrizes curriculares, como promotor da saúde integral do
ser humano.
Porém, é preciso reconhecer que a própria estrutura da universidade favorece a
fragmentação do conhecimento através de suas disciplinas. Mesmo com as mudanças
curriculares ainda há um predomínio da área biomédica e biológica dentro
inclusive das disciplinas das ciências da Enfermagem(8).
Para tanto, a educação deve mostrar e ilustrar a multifacetas do humano: o
humano, o social, individual, o histórico.. porém todos entrelaçados e
inseparáveis que se traduz no estudo da complexidade humana(9).
Como a enfermagem busca compreender o indivíduo como um todo, acredito que a
saúde mental deveria estar sempre presente nas disciplinas, tanto na saúde
mental do paciente quanto do aluno, que eu acho essencial.(Ac.15)
Este relato é um clamor para o humano, centrando a atenção não apenas na saúde
mental do cliente, mas de quem cuida, pois a promoção da saúde mental é
intrínseca ao processo saúde doença, e, essa relação só será possível a partir
de um trabalho interno do cuidador.
Morin(5) faz a relação entre a visão simplificada e a complexa, e considera que
na visão complexa não apenas "a parte está no todo, mas que o todo está no
interior da parte, que está no interior do todo"(5:128).
Acredita-se que com a (re)construção do projeto político pedagógico, os cursos
de enfermagem tem caminhado em busca de um paradigma centrado na integralidade
das ações do cuidar, com reflexões acerca da prática docente e de como será a
atuação junto aos alunos no processo de des-organização/auto-organização do
conhecimento em enfermagem.
4 Considerações finais
A transversalidade de conteúdos no currículo de cursos de Graduação em
Enfermagem se faz necessário quando se busca a integralização das ações no
processo de cuidar.
É com esse pensamento que acreditamos na possibilidade desta realidade com a
saúde mental, experienciando a sua projeção além da disciplina específica -
Enfermagem em Saúde Mental e aplicando-a a conteúdos das disciplinas de
Enfermagem em Saúde do Adulto I, Enfermagem em saúde do Adulto II e Enfermagem
em Saúde da Criança e do Adolescente.
A percepção dos alunos sobre a inserção da saúde mental em disciplinas no
sentido de construir conhecimento com uma visão globalizada do homem, que
favoreça a ação com o cliente, foi revelada nos depoimentos como importante,
com reflexões críticas e sugestões que denotavam um compromisso com a formação
do enfermeiro.
Perceber a enfermagem em sua complexidade é repensar a formação do enfermeiro
sem dicotomias, sem especializar as abordagens, mas antes buscar a integração
entre os conteúdos, a aproximação das partes, acreditando que a visão dual não
permite ver o homem em sua essência e nem mesmo atingi-lo para que o cuidado
possa ser processado.