Características, freqüência e fatores presentes na ocorrência de lesão de
mamilos em nutrizes
PESQUISA
Características, freqüência e fatores presentes na ocorrência de lesão de
mamilos em nutrizes
Characteristics, frequency and factors present in nipples damage occurence in
lactating women
Caracteristicas, frecuencia y factores presentes en la aparición de lesión en
los pezones de mujeres en la lactancia
Gilcéria Tochika ShimodaI; Isilia Aparecida SilvaII; Jair Lício Ferreira
SantosIII
IMestre em Enfermagem Obstétrica. Enfermeira do Hospital Universitário da
Universidade de São Paulo
IIProfessor Titular do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e
Psiquiátrica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo
IIIProfessor Titular do Departamento de Medicina Social da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
1. INTRODUÇÃO
O aleitamento materno exclusivo até 6 meses de vida da criança ainda não é uma
prática consolidada na nossa sociedade, tornando-se o seu incentivo alvo de
programas nacionais e tema para pesquisadores das mais diversas áreas,
interessados em compreender partes deste processo que se apresenta de forma tão
complexa para o ser humano.
Em recente pesquisa do Ministério da Saúde, se observou em todas as capitais
brasileiras, queda acentuada da prevalência de aleitamento materno exclusivo,
de acordo com a idade da criança. Os menores índices foram da região sudeste,
com prevalência de 42,8% no primeiro mês de vida e aos 6 meses de apenas 8,3%.
São Paulo tem o quinto menor índice de prevalência no primeiro mês de vida
entre as capitais (36,2%), diminuindo para 7,6% aos 6 meses de vida da criança
(1). Segundo a Organização Mundial da Saúde, atualmente, no mundo todo, menos
de 35% dos lactentes recebem leite materno exclusivo durante os 4 primeiros
meses de vida, mesmo que este possa ser mantido sem prejuízos para a criança no
período mínimo de seis meses de vida, sem necessidade de complementação(2,3).
Dentre os fatores que contribuem para o desmame precoce, encontra-se a lesão de
mamilo, que, sendo um elemento causador de dor e sofrimento, interfere na
sensação de prazer e satisfação da mulher que amamenta, constituindo-se em uma
das justificativas para a interrupção do aleitamento, dependendo da forma como
ela enfrenta esta situação(4,5).
A lesão de mamilo induzida pela amamentação tem particularidades únicas, pois é
potencialmente recorrente, causando distúrbios intermitentes para o tecido
cutâneo, com subseqüente redução da taxa de epitelização e demora na
cicatrização, quando comparado a outros tipos de lesões(6).
Segundo a literatura, a causa básica da lesão de mamilo é uma alteração no
padrão de sucção do recém-nascido (RN), que pode ser provocado por presença de
ingurgitamento mamário, ou ainda, o uso da chupeta, como fator que predispõe o
RN a realizar sucção inadequada durante a mamada, devido a uma confusão de
bicos mudando o padrão de sucção(7-10).
Mulheres de pele muito clara estão mais sujeitas ao desenvolvimento de lesões
de mamilo, porém alguns estudos não encontraram evidências que comprovassem
este fato(11-13).
Dentre as abordagens que visam contribuir para a profilaxia das lesões do
mamilo, há o consenso entre os autores quanto ao estímulo da sucção correta do
RN ao seio materno. Acrescentando o posicionamento adequado do RN em relação à
mãe e mama, a pega correta em região de mamilo e aréola, que deve estar macia e
flexível e a retirada adequada do RN do seio ao término da mamada(14,15).
Como é possível verificar na literatura, os fatores relacionados à lesão de
mamilo são diversos. Na prática, porém, determinar exatamente a causa da lesão
às vezes se torna difícil, pois quando esta é detectada, há casos em que se
observa que a pega do RN está adequada, as mamas sem sinais de ingurgitamento,
com região mamilo-areolar flexível, sugerindo que podem existir outros fatores
a serem investigados, ou que o fator causador da lesão não está visível naquela
avaliação. Mesmo com a assistência prestada no Alojamento Conjunto com relação
à prevenção e remissão da lesão de mamilo, convivemos freqüentemente com esta
problemática em nosso cotidiano, causadora de stress para as puérperas,
despertando, assim, alguns questionamentos na nossa prática assistencial.
Nesse sentido, acreditamos que para aprimorar a assistência prestada a essas
mulheres e desenvolver uma prática que antecipe os problemas ao invés de
fortalecer ações curativas, faz-se necessário o conhecimento das
características das puérperas que desenvolvem lesão de mamilo e de seus filhos
e os fatores associados a esse tipo de lesão, assim como, lançar luzes a
questões salientadas na literatura e que carecem de evidências baseadas em
estudos, como a interferência do padrão de sucção do RN, obtendo dessa forma
importantes ferramentas para o planejamento da assistência em amamentação.
2. OBJETIVOS
- verificar a ocorrência das lesões de papila mamária, segundo características
de nascimento do RN e características pessoais, anatômicas e obstétricas da
puérpera;
- caracterizar o padrão de sucção dos RN, cujas mães apresentam lesão de
mamilo;
- verificar as condições de cicatrização dos mamilos das puérperas, na consulta
pós-alta hospitalar.
3. MÉTODO
3.1 Local
O estudo foi desenvolvido na unidade de Alojamento Conjunto (AC) do Hospital
Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP), onde há um programa de
orientações em grupo, compreendendo temas relacionados a cuidados ao RN, à
puérpera e amamentação. Na ocasião da alta hospitalar é agendada uma consulta
de Enfermagem para a puérpera e o RN, cerca de 10 dias após o parto.
3.2 População do estudo, amostra e procedimentos de coleta de dados
Fizeram parte do estudo, 84 mulheres que apresentaram lesão de mamilo e seus
filhos, denominadas "grupo de puérperas de acesso"(16), as quais foram
acompanhadas pela pesquisadora durante a internação e em consulta de enfermagem
pós-alta, no período de maio a novembro de 2000. Em uma segunda fase do estudo,
as puérperas e seus RN foram acompanhados pela pesquisadora na ocasião da
consulta pós-alta hospitalar, o número amostral foi reduzido para 60 puérperas
e seus respectivos RN, pois 24 destas foram excluídas do estudo por diferentes
razões, entre elas, o absenteísmo ou por intercorrências ocorridas com o RN.
Concomitante ao acompanhamento dessas mulheres, para a coleta de dados, com
intuito de se ter um panorama geral da situação de lesão de mamilo apresentada
pelas mulheres internadas no AC do HU-USP, procedeu-se a um estudo
retrospectivo, através do prontuário de puérperas atendidas naquela unidade.
Nesse levantamento, totalizaram 1020 puérperas e seus respectivos RN,
denominado no estudo de "grupo de puérperas alvo"(16), que foi constituído por
todas as puérperas atendidas no AC do HU-USP que amamentaram os seus RN durante
a internação, incluindo-se as 84 que foram acompanhadas pela pesquisadora.
3.3 Tratamento dos dados
Os dados foram tratados e apresentados de forma descritiva, em tabelas e em
gráficos, e os testes estatísticos utilizados foram: Teste de Associação pelo
Qui-Quadrado e Teste de duas médias. Todos os testes foram aplicados admitindo-
se uma probabilidade de ocorrência para o erro de primeira espécie de 5%(17).
3.4 Aspectos éticos
O projeto desta pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HU-
USP, tendo sido garantido todos os procedimentos éticos previstos pela
legislação em vigência.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Das 1020 nutrizes, que estiveram internadas no AC do HU-USP, 538 (52,75%)
apresentaram lesão de mamilo, indicando que esta intercorrência ainda acontece
com bastante freqüência entre as mulheres atendidas naquele serviço.
Ao analisarmos a distribuição das puérperas segundo a presença ou ausência de
lesão de mamilo e a paridade, constatou-se diferença estatística significativa
(c2observado= 8,34; c2crítico= 5,99; gl= 2) na ocorrência de lesão entre as
mulheres, com predominância nas primíparas, em que 272 (57,51%) delas foram
acometidas, confirmando dados encontrados na literatura(13).
É possível se explicar a lesão de mamilo tão freqüente nas primíparas, em
virtude destas estarem expondo o tecido mamilo areolar pela primeira vez a esse
tipo de solicitação, bem como à inexperiência na técnica de amamentar,
exigindo, por isso, uma atenção especial por parte do profissional de saúde na
assistência em aleitamento materno para essas mulheres.
Quanto à cor da pele, constatamos diferença estatisticamente significativa para
as mulheres deste estudo (c2 observado=18,69, c2 crítico=7,815, gl=3), com
predomínio da ocorrência de lesão de mamilo para as mulheres brancas, 379
(56,48%), e amarelas, 5 (71,43%), sendo para as mulheres pardas e negras, 137
(47,90%) e 17 (30,36%) respectivamente, as quais apresentaram menor índice de
lesão de mamilo, havendo concordância com os resultados de outros estudos que
vêm demonstrando a maior freqüência das lesões em mulheres de pele clara
(12,13).
Podemos inferir que as mulheres de pele escura têm menor propensão para
apresentar lesão de mamilo durante a amamentação, pois a região mamilo areolar
é mais pigmentada, com maior quantidade de melanina, o que pode traduzir-se em
aumento da resistência da pele aos traumatismos causados pela sucção do RN.
A relação entre o tipo de mamilo e ocorrência de lesão, para este estudo,
mostrou-se não ser estatisticamente significante (c2 observado=3,69, c2
crítico=5,991, gl=2). Dentre as mulheres com mamilos protrusos, 844 (100%),
observamos que 435 (51,54%) apresentaram lesão e 409 (48,46%) não apresentaram,
seguido daquelas cujos mamilos foram classificados como semiprotrusos, 90
(57,32%) mulheres com lesão e 67 (42,68%) sem lesão.
Observamos na nossa experiência, que para as puérperas com mamilos não
protrusos, muitas vezes há uma dificuldade do RN em apreender a região mamilo
areolar adequadamente, havendo uma insistência na tentativa de apreensão,
principalmente quando o local da aréola não é macio e flexível, em casos de
estase láctea nos seios galactóforos ou quando a epiderme no local é mais
endurecida. Esta dificuldade torna-se maior nos casos de mamilos anômalos, ou
seja, planos, umbilicados e semi-umbilicados, quando muitas vezes, o RN precisa
do auxílio de intermediário de silicone para conseguir mamar. Talvez esse fato
explique, mesmo empiricamente, o resultado obtido neste estudo, em que das 19
(100%) mulheres com mamilos dessa classificação, 13 (68,42%) destas,
apresentaram lesão de mamilo.
Quanto ao tipo de parto aos quais as mulheres foram submetidas, constatamos que
esse fator não foi relevante para o aparecimento da lesão de mamilo. Quando as
mulheres são comparadas, segundo as modalidades de parto, não há diferença
estatisticamente significante, mesmo tendo encontrado 286 (52,77%) puérperas
com lesão de mamilo que deram à luz em condições de parto normal (c2 observado=
1,81, c2 crítico= 7,815, gl= 3).
Estes resultados contrariam a literatura(13), que sugere maior incidência de
lesão em mulheres de parto cesárea. Esperávamos encontrar resultado semelhante,
pois observamos na nossa prática, que mulheres submetidas à cesariana
geralmente relatam intensidade maior de dor em incisão cirúrgica no pós-parto
imediato, podendo dificultar o posicionamento adequado do RN para amamentar e,
como conseqüência, interferir na pega correta do RN ao seio materno, porém não
foi o que ocorreu.
Ao investigarmos a associação entre o tipo de anestesia recebido pelas mulheres
e a ocorrência de lesão de mamilo, encontramos diferença estatisticamente
significativa para esta variável (c2 observado=12,14, c2 crítico=11,668, gl=4).
Houve uma predominância de freqüência para as mulheres que receberam anestesia
peridural, 54 (69,23%). O inverso ocorreu com as mulheres que não receberam
anestesia, em que 44 (55,70%) desse grupo não apresentaram lesão de mamilo.
Nesse aspecto, vale considerar que as mulheres que não receberam anestesia são
aquelas que tiveram partos normais sem episiotomia, o que nos levaria a inferir
que isso pode traduzir-se em ausência de desconfortos relacionados à presença
de dor em incisão cirúrgica abdominal ou perineal, favorecendo o posicionamento
adequado da puérpera ao amamentar o seu filho, bem como o fato do RN não ter
recebido nenhum tipo de substância anestésica ao nascimento. Os RN, cujas mães
receberam doses altas de substâncias anestésicas, tendem a ficar mais
sonolentos e com sucção mais débil(18). Este fato poderia comprometer a sucção
adequada do RN ao seio materno, favorecendo o aparecimento de lesões.
Entre as 527 (100%) puérperas, que deram à luz a RN de sexo masculino, 265
(50,28%) apresentaram lesão e das 439 (100%) puérperas que deram à luz RN de
sexo feminino, 273 (55,38%) apresentaram lesão, no entanto, com relação ao sexo
do RN, observamos que não houve diferença estatisticamente significante quando
comparamos as puérperas que apresentaram e as que não apresentaram lesão de
mamilo (c2 observado=2,45, c2 crítico=3,84, gl=1).
Os dados relativos ao peso ao nascer dos RN deste estudo, mostram que a maioria
deles, encontra-se entre 2500 a 3500 gramas. Dentre estes, 372 (52,62%) são
filhos de puérperas que apresentaram lesão de mamilo. Na faixa de peso ao
nascer dos RN entre 3500 a 5200 gramas, também observamos um número maior de
crianças cujas mães apresentaram lesão de mamilo, 145 (55,77%). Por outro lado,
nas crianças com peso entre 1500 a 2500 gramas, o número de puérperas que
apresentou lesão de papila foi menor, 21 (39,62%) puérperas. Porém, não se
encontrou diferença estatisticamente significante para o peso do RN e
ocorrência da lesão de papila entre as mulheres estudadas (c2observado=4,62,
c2crítico=5,99, gl=2).
Houve diferença estatisticamente significativa (c2observado=15,66,
c2crítico=5,991, gl=2) para a variável idade gestacional do RN pelo Capurro
somático, em que houve predomínio da incidência de mulheres que apresentaram
lesão de mamilo (412 54,43%), cujos filhos estavam na faixa entre 37 1/7 e 40
semanas. Das puérperas cujos RN tinham idade gestacional entre 32 1/7 a 37
semanas, considerados pré-termo, 58 (100%) puérperas, a minoria 16 (27,59%)
apresentou lesão de mamilo.
Podemos inferir que RN pré-termos podem ter força de sucção menor, significando
menor solicitação do tecido mamilar, bem como ter adiado o momento da primeira
mamada, para estabilização das condições clínicas do mesmo, e terem que
permanecer internados no berçário, com horários de mamadas preestabelecidos,
significando solicitação do tecido mamilar com menor freqüência.
Das 538 puérperas que apresentaram lesão de mamilo durante a internação, 84
(15,61%) delas, e seus respectivos RN, constituíram o grupo de mulheres que
foram acompanhadas pela pesquisadora, e realizada a observação da mamada do RN
durante a internação, em momento logo após a detecção da lesão, bem como na
ocasião da consulta pós-alta hospitalar, constituindo o "grupo de puérperas de
acesso".
Para estas, procedeu-se a realização da inspeção de mamas e mamilos, em que foi
seguido um protocolo detalhando os aspectos a serem considerados para esta
finalidade.
Ao classificarmos os tipos de lesão encontrados ao exame físico, em papila
mamária direita e esquerda, não foi considerado o mesmo tipo de lesão em
ocorrências simultâneas, em uma mesma papila. Observa-se nessa classificação
que para algumas mulheres, ocorreram lesões de tipos diferentes localizadas em
uma mesma papila. Portanto, quando ocorriam duas ou mais lesões do mesmo tipo
em uma mesma papila, foi considerada somente uma ocorrência. Quando as lesões
eram de tipos diferentes, foram consideradas todas as ocorrências.
O tipo de lesão mais freqüentemente encontrado nas puérperas do estudo foi a
escoriação, com ocorrência de 60 (68,96%) lesões em papila direita e 58
(63,04%) lesões em papila esquerda, e em seguida, tivemos a lesão tipo
vesícula, com ocorrência de 18 (20,69%) lesões em papila direita e 21 (22,83%)
lesões em papila esquerda.
Segundo a literatura, as lesões tipo escoriação e vesícula são muito freqüentes
e, em geral precedem as que são mais profundas e extensas, passando a serem
classificadas como fissuras ou mesmo, atingem graus mais avançados de agressão
ao tecido papilar. Indicam assim, a necessidade de medidas e atenções para que
lesões superficiais não se agravem comprometendo a manutenção da lactação(19).
Observamos que muitas vezes a lesão de mamilo é denominada genericamente como
fissura, porém, na classificação adotada neste estudo(10,20), a incidência de
fissuras, tanto verticais como circulares, foi pequena, abrangendo apenas 19
(10,62%) do total de lesões.
Ao relacionarmos o tipo de mamilo e o tipo de lesão, não foi considerado o
mesmo tipo de lesão ocorrido simultaneamente em um mesmo mamilo. Observamos
pelos dados obtidos que há diferença estatisticamente significativa na
ocorrência dos tipos de lesão quando comparamos os tipos de mamilo (c2
observado= 9,32, c2 crítico= 7,82, gl= 3). A maior freqüência de escoriação, 75
(63,56%), foi encontrada em mamilos tipo protruso, da mesma forma que este tipo
de mamilo apresentou maior incidência de lesão vesiculosa 33 (84,62%),
contrariando a literatura, que apontam que as escoriações estão relacionadas
aos mamilos semiprotrusos, e as fissuras aos mamilos protrusos(20). Em nosso
estudo, as fissuras apareceram em 9 (47,37%) puérperas com mamilos protrusos e
10 (52,63%) com mamilos semiprotrusos.
Com relação à avaliação da mamada propriamente dita, foram observados tanto
aspectos relativos à mãe como com relação ao RN. Considerou-se o n= 84 (100%)
na observação realizada no momento da internação, e n= 60 (100%) na observação
realizada no momento da consulta pós-alta hospitalar.
Os itens de técnica de amamentação relacionados à mãe, observados durante a
mamada na internação, mostram que a maioria, 44 (52,38%), das puérperas
amamentou sentada na cadeira, seguida de 31 (36,90%) que amamentaram sentadas
na beirada da cama. Acreditamos que amamentar na beirada da cama é uma posição
desfavorável para a mãe, pois esta posição não permite o recosto das espáduas,
fazendo com que ela adote uma postura desconfortável para si, sendo este um
cuidado que a equipe pode facilmente providenciar, orientando a mãe a buscar
posição mais confortável e providenciando local mais apropriado.
Com relação à postura materna, no período de internação, a minoria das
puérperas adota uma postura adequada, que permite o seu conforto durante a
mamada. Somente 18 (21,43%) delas tinham os ombros relaxados, e apenas 28
(33,33%) recostavam as costas. Ainda, apenas 12 (14,29%) utilizavam o apoio de
travesseiros para colocar-se de uma maneira mais confortável e apenas 35
(41,67%) delas apoiavam os pés, em uma escadinha disponível em cada leito,
durante a mamada. Observamos que a puérpera, no afã de apaziguar o choro do RN,
coloca-se muitas vezes numa postura inadequada durante a mamada, buscando
atender às necessidades do seu filho o mais rápido possível, em detrimento ao
seu próprio conforto e bem-estar.
Com relação à forma de apoiar a mama durante a mamada, 37 (44,05%) puérperas
seguraram-na com os dedos indicador e médio, em forma de tesoura, o que não é
indicado, pois dessa forma, a mãe retira parte da região mamilo-areolar da boca
do RN, fazendo com que o mesmo apreenda somente o mamilo e acabe lesando-o.
Quanto ao uso do sutiã, a maioria, 59 (70,24%) das puérperas utiliza-
o corretamente, ou abaixando-o ou usando o que tem abertura central,
permitindo, das duas formas, o sustento adequado das mamas e conseqüente
posicionamento correto do mamilo em direção à boca do RN.
Para a retirada do RN da mama, a maioria, 69 (82,14%), das puérperas espera que
o RN solte espontaneamente o mamilo ao término da mamada, o que para elas,
também significa um estado de saciedade do RN. No entanto, 8 (9,52%) delas
retiraram o RN do seio de maneira inadequada, sem o auxílio do dedo mínimo,
sendo este, associado a dor e surgimento de traumatismos, pois o RN, ao ser
retirado dessa forma abrupta, traciona o mamilo para si, tentando manter a
apreensão. Quando a mamada tiver que ser interrompida, a mãe deve colocar o seu
dedo mínimo no canto da rima bucal do RN e pressionar levemente até que ele
solte o mamilo suavemente(6). Observamos que muitas vezes, esta conduta de
retirar o RN da mama, tão logo ele pare a sucção, que não necessariamente
significa que ele está satisfeito, demonstra a ansiedade materna em concluir
rapidamente a mamada, no entanto é um elemento a mais para o aparecimento de
lesões.
A avaliação da mamada na consulta pós-alta hospitalar foi realizada em momento
ao final da consulta, com a puérpera sentada em cadeira disponível no
consultório.Quando comparadas à primeira observação da mamada realizada durante
a internação, podemos observar que, na consulta, a puérpera já mais relaxada e
familiarizada com a amamentação, busca postura mais confortável, com ombros
relaxados, 39 (65%), e espáduas recostadas no encosto da cadeira, 50 (83,33%).
Poucas puérperas, 11 (18,33%), apoiaram a mama de forma inadequada, "em
tesoura". A maioria, 50 (83,33%), das puérperas posicionou adequadamente o
sutiã ao amamentar, abaixando-o ou utilizando modelo com abertura central, e
todas retiraram o RN da mama de forma adequada, com auxílio do dedo mínimo, ou
aguardando que o RN soltasse espontaneamente o mamilo ao término da mamada.
Compreende-se que após o domínio das técnicas de amamentação, a puérpera muitas
vezes está mais tranqüila, mais experiente, seguindo as orientações recebidas
durante o período de internação.
Durante a internação e na ocasião da consulta pós-alta hospitalar, realizou-se
também, a observação detalhada da sucção do RN ao seio materno.
Na observação da mamada durante a internação, observamos que 92,86% dos RN
mamavam com a língua posicionada de forma adequada sob mamilo e aréola, 84,52%
apreenderam região mamilo-areolar sem dificuldade, 86,90% tinham bochechas
redondas sem formação de covinhas, 96,43% com sucção forte, 80,95% apresentavam
sugadas lentas e não superficiais, 84,52% com presença de movimento ântero-
posterior da ATM, 95,24% tinham a cabeça apoiada de forma adequada nos braços
materno, e 85,71% dos RN estavam ativos.
Observamos, no entanto, que apenas 66,67% dos RN tinham o corpo alinhado na
posição céfalo-caudal e de frente para a mãe e 71,43% tocavam a mama materna
com o queixo. O não alinhamento do corpo do RN ventralmente ao da mãe, favorece
com que o mesmo permaneça longe do seio materno, apreendendo somente mamilo e
não toda a região areolar, como preconizado. Observamos ainda que somente
33,33% dos RN tinham a boca bem aberta e 34,52% tinham o lábio inferior virado
para fora, indicando uma abertura de boca insuficiente para a apreensão de
toda, ou da maior parte, da região areolar pelo RN.
Ao tomarmos os parâmetros de avaliação de mamada, verificou-se que dos 84
(100%) RN observados durante a mamada, apenas 5 (5,95%) apresentavam uma pega
adequada, sem nenhuma alteração nos itens observados.
Na observação da mamada no momento da consulta pós-alta hospitalar, dos 60
(100%) RN, 26 (43,33%) apresentavam pega adequada, indicando progressiva
melhora na dinâmica de sucção. Dos 34 (56,67%) RN que apresentavam pega
inadequada, as alterações mais observadas foram com relação à apreensão
incorreta da região mamilo-areolar, o mesmo ocorrendo durante a primeira
avaliação, na ocasião da internação. Lembramos que uma das causas de lesão de
mamilo citada em literatura é a apreensão de insuficiente tecido mamilo-areolar
pelo RN, fazendo com que extraia pouco volume de leite, além de exercer pressão
com as gengivas em uma superfície muito restrita do mamilo(7).
Na ocasião da observação da mamada do RN, em ambos os momentos de coleta de
dados, durante a internação e na consulta pós-alta hospitalar, foi registrada a
duração da mamada, desde o momento da apreensão da região mamilo-areolar pelo
RN até o momento em que a mamada foi concluída.
Segundo os resultados apresentados, a diferença entre a média de tempo de
mamada, por ocasião da internação (18,25 minutos), foi significantemente maior
do que o tempo de mamada após a alta (13,17 minutos), com p=0,0006651. É
importante deixar o RN mamar o tempo que quiser, desde que o esteja fazendo de
forma eficiente, não existindo limite de tempo preestabelecido, podendo variar
de um RN para outro, dependendo do momento e da sua fome(21), portanto, mãe e
filho necessitam de apoio e atenção, em especial nas primeiras experiências de
amamentar e mamar, pois a inexperiência de ambos e os curtos períodos de
vigília do RN, possivelmente influenciam na duração maior de mamada com
conseqüentes desconfortos maternos.
Na consulta pós-alta hospitalar, com relação às condições dos mamilos, a
maioria das puérperas, 44 (73,33%) apresentava mamilos íntegros, e 16 (26,67%)
mamilos com lesão em processo final de cicatrização. Para a maioria das
puérperas, 35 (58,33%), a cicatrização completa da lesão de mamilo ocorreu
entre 5 e 6 dias após o parto, indicando que o período da primeira semana é
crítico, em que a puérpera precisa de estímulo e seguimento para a manutenção
da lactação.
5. CONCLUSÕES
- A idade gestacional do RN foi estatisticamente significativa para a
ocorrência da lesão de mamilo na puérpera. Não houve significância estatística,
com relação ao sexo e o peso do RN ao nascer.
- Aa características maternas estatisticamente significantes para a ocorrência
lesão de mamilo foram: a cor da pele, a paridade e o tipo de anestesia recebido
no parto. Não houve significância estatística para o tipo de parto e o tipo de
mamilo.
- Encontrou-se uma relação estatisticamente significativa para o mamilo tipo
protruso e a ocorrência de lesão de mamilo tipo escoriação e vesícula.
- Com relação ao padrão de sucção do RN, observados na mamada durante a
internação, constatou-se que apenas 5,95% apresentavam pega e dinâmica de
sucção totalmente adequadas, enquanto que na consulta pós-alta hospitalar,
constatou-se que 43,33% dos RN o apresentavam, indicando progressiva melhora de
performance na dinâmica de sucção dessas crianças.
- Os itens de técnica de amamentação relacionados à mãe, observados na mamada
durante a internação, mostraram que a puérpera posiciona-se de forma
inapropriada e desconfortável, buscando atender às necessidades do filho o mais
rápido possível. Na consulta pós-alta hospitalar, constatou-se que a puérpera,
já mais relaxada e familiarizada com a amamentação, busca postura mais
confortável, apóia a mama de forma mais adequada, e retira o RN da mama de
forma apropriada.
- A média do tempo de mamada avaliada no período de internação (18,25 minutos)
foi significantemente maior do que o tempo de duração de mamada após a alta
(13,17 minutos).
- A maioria das puérperas, 73,33%, apresentaram mamilos completamente
cicatrizados e 16 (26,67%) na ocasião da consulta pós-alta, que ocorreu para a
maioria delas (58,33%), de 5 a 6 dias após o parto.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao realizarmos este estudo, procuramos dar ênfase a um tema relevante a nossa
prática assistencial à puérpera, mais especificamente voltado para a promoção
do aleitamento materno, buscando algo que criasse subsídios para o
aperfeiçoamento dos cuidados prestados a esta mulher.
O alto índice de RN, que apresentou padrão inadequado de sucção, verificado na
avaliação da mamada indica a necessidade de acompanhamento mais amiúde da
puérpera, desde a primeira vez em que amamenta o seu filho e no decorrer do seu
período de internação, buscando detectar e resolver precocemente sinais de
intercorrência na amamentação, evitando que esta se torne um obstáculo à
manutenção da lactação.
O conhecimento dos fatores presentes na ocorrência de lesão de mamilo permite-
nos observar a necessidade de orientação desde o pré-natal, momento propício e
valorizado pelas mulheres, quanto aos aspectos referentes às propriedades do
leite materno, técnica de amamentação, indicando a necessidade de redobrada
atenção para as mulheres primíparas, de pele clara.
Para a intercorrência lesão de mamilo, o período que segue a primeira semana
pós-parto é considerado crítico. É nessa fase que percebemos que ocorrem as
adaptações maternas e do RN, em que havendo melhora de adequação da sucção é
possível se promover melhores condições para cicatrização mamilar, preservação
futura dos mamilos e minimização dos desconfortos para a mulher.
Acreditar que a amamentação é um recurso de magna importância para a saúde da
criança, exige de nós profissionais, uma igual qualificação da crença de que
esta prática só vale a pena ser exercida quando resulta em prazer, com o mínimo
de desconforto e sacrifícios desnecessários, suportadas pelas mulheres.
Em uma relação, todas as partes merecem cuidados zelosos e iguais. De nossa
parte, cuidemos de aprofundar os conhecimentos através de novas investigações
para a promoção da saúde e bem-estar maternos e do neonato.