Construção de escalas de figuras à luz da filosofia
REFLEXÃO
Construção de escalas de figuras à luz da filosofia
Construction of optometric scales in the light of philosophy
Construcción de escalas de figuras según la filosofia
Rosane Arruda DantasI; Lorita Marlena Freitag PagliucaII; Rui Verlaine Oliveira
MoreiraIII
IEnfermeira. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. Professora
Substituta. Universidade Federal do Ceará. rosane_dantas@yahoo.com
IIEnfermeira. Professora Doutora Titular. Universidade Federal do Ceará.
Coordenadora do Projeto Saúde Ocular/CNPq. pagliuca@ufc.br
IIIFilósofo. Professor Pós-Doutor Titular. Universidade Federal do Ceará.
ruiverlaine@yahoo.com.br
1. INTRODUÇÃO
A verdadeira noção de método provoca a destruição do paradigma dominante da
ciência, e traz a idéia de estratégia para o conhecimento e para as ações no
caminho pretendido; estratégia é diferente de programa, que é o determinado e
deve ser seguido. O método da enfermagem tem de surgir dela mesma; constrói-se
por si, não vem de cima para baixo para ser aplicado.
Tradicionalmente, no desenvolvimento de estudos científicos, o pesquisador
parte de algo predefinido em busca de respostas. Pode partir tendo em mente o
resultado previsto ou descobrir as respostas durante a investigação. Mas a
realidade muda e se transforma; por isso, a idéia de um método rígido e
predefinido, chamado de programa, embora necessário, é insuficiente. O método é
simultaneamente programa e estratégia e, por retroação de seus resultados, pode
modificar o programa; portanto o método aprende(1).
Como estratégia, o método não descarta a necessidade de se fazer um projeto; no
entanto, não é preciso segui-lo à risca, é aberto e aceita a experiência como
um ponto imprescindível na construção do caminho. O método como caminho se
dissolve no caminhar e só pode nascer durante a pesquisa; tem início a partir
de algo e prefigura um fim, utilizando-se da iniciativa, da invenção, da
estratégia e da arte para alcançá-lo(1).
É por meio desse caminhar que surge o novo, o inesperado. Isto pode exigir a
reformulação de todo o caminho, para justificá-lo, explicá-lo e fundamentá-lo,
a exemplo do ocorrido nos estudos com a escala de figuras, a qual é utilizada
em exame clínico oftalmológico e em triagens e, é um dos métodos usados para a
determinação da acuidade visual de crianças de 4 a 6 anos. A acuidade visual é
determinada pela menor imagem formada na retina, cuja forma pode ser percebida
(2).
A escala optométrica, caracteriza-se por um quadro branco onde estão dispostas
figuras de vários diâmetros e cor preta, chamadas de optótipos. A organização
dos optótipos é em ordem decrescente; os de igual tamanho apresentam-se na
mesma linha horizontal, correspondendo cada um à coeficiente de visão que varia
de 0,1 (10%) a 1,0 (100%).
Na estruturação das fileiras deste instrumento, existem princípios científicos
baseados na óptica fisiológica, tais como: ângulo visual, contraste, distância
entre os optótipos na escala, espessura dos optótipos, distância da escala ao
examinado, entre outros. Tais princípios determinam como e onde a figura deverá
estar para ser capaz de estabelecer um coeficiente visual; a aplicação destes
transforma a figura em um optótipo. Este constitui o principal fator a
diferenciar as escalas que utilizam o mesmo ângulo de visão e o expoente na
identificação da acuidade visual, pois é pela capacidade de enxergá-lo que ela
é determinada.
No grupo das escalas de figuras, é possível incluir os hielogrifos de
Carlevaro, os optótipos geométricos de Casanovas, as figuras de Fooks, os
optótipos de Rossano, as figuras de Casanovas e Corominas, entre outras. A
partir da idade escolar, estas podem variar em relação à direção do símbolo,
como o Anillo de Landolt, a Mira de Foucalt, o optótipo de Márquez, o Anillo de
Palomar Collado e a letra E de Snellen. Existem, porém, outros, formados por
letras e números para indivíduos alfabetizados(3) .
Na construção destas escalas, entretanto, o maior enfoque é atribuído
exatamente aos princípios ópticos, e muitas vezes não se questiona a percepção
da criança diante deste instrumento. Isto pode levar um examinador inexperiente
ou inabilitado para lidar com a clientela a obter falsos resultados.
Durante o uso da escala de figura algo novo surgiu: a necessidade de questionar
a percepção da criança diante deste instrumento. Quando se tem como cliente a
criança, é imprescindível lembrar suas peculiaridades no crescimento e
desenvolvimento quanto ao sistema visual.
Ao nascer, a visão da criança é rudimentar e no decorrer do seu crescimento e
desenvolvimento, evolui, recebendo influência dos fatores ambientais e
psicobiológicos. A criança adquire experiência visual no que a rodeia, num
processo de estimulação visual. O período sensório-motor, que se encontra entre
zero e 2 anos, embasa o desenvolvimento cognitivo, dando suporte a integração
de pessoas e objetos com o meio ambiente(4).
Como os pré-escolares encontram-se em uma fase de crescimento e
desenvolvimento, este resultado da acuidade visual depende, da seleção de
figuras adequadas. Referidas figuras devem ser encontradas no seu cotidiano. A
importância de cada optótipo, para propiciar um resultado fiel do exame, é
perceptível. Por isso, para identificar o optótipo, a criança precisa conhecer
a figura em análise.
Ademais sem a correta compreensão da figura, o teste torna-se inviável, pois o
fator cognitivo sobressairá em relação à capacidade visual. Por este motivo, a
percepção dos optótipos torna-se tão importante quanto os cálculos necessários
para transformar uma figura em optótipo e oferecer um resultado para acuidade
visual.
O método de construção das escalas parte da lei da refração, de conhecimentos
anatomo-fisiológicos das estruturas oculares e dos princípios ópticos que
determinam a acuidade visual. No entanto, após o processo de formação da
imagem, com a passagem do raio de luz pela estruturas ópticas, a transformação
do estímulo luminoso em elétrico e sua chegada ao córtex occipital do cérebro,
inicia-se o processo de percepção da imagem que envolve o aprendizado visual.
Existe a necessidade de fundamentar o novo, embasar o método de construção das
escalas por meio da forma e do conteúdo. A forma permanece a mesma dentro da
perspectiva da lei da refração para justificar a identificação da acuidade
visual; o que se modifica é o conteúdo ante a percepção da criança. Isso surgiu
da experiência com o uso da escala e da necessidade de fundamentação científica
e filosófica, por meio da forma e conteúdo, justificando a presença e a
importância desse novo aspecto inserido no estudo das escalas optométricas.
A relevância deste estudo encontra-se direcionamento para novos aspectos,
quebrando o paradigma de método rígido e predefinido, e na valorização da
experiência como ponto de partida para descobertas.
As descobertas advêm de novos conhecimentos, tanto do empírico como do
científico. Conhecimento empírico é aquele sentido individualmente pelas
diversas pessoas; é acentuadamente subjetivo e desorganizado. Conhecimento
científico é a organização do conhecimento empírico; é o conhecimento das
coisas pelas causas; é objetivo, tem uma uniformidade; o que era unicamente
qualitativo passa nesse momento a ser predominantemente quantitativo. Neste
caso, o conhecimento empírico direciona o científico. Existe conhecimento
abstrato quando se extrai de singulares o geral; o que é igual a todos são as
leis e/ou teorias, fórmulas quantitativas elaboradas pela razão. Já o concreto:
qualitativo, particular, subjetivo e surgido da experiência, é o novo.
A questão da gênese diz respeito à busca do conhecimento, pois muito se tem
discutido sobre a existência de fontes ideais de conhecimento. Deveria a
experiência ser privilegiada, ou a razão? Como determinada concepção de método
científico se apóia numa filosofia da ciência e esta numa teoria do
conhecimento. Essa discussão tem dado origem a intermináveis polêmicas que se
espraiam da teoria do conhecimento para a filosofia da ciência (5). Desse modo,
tenta-se agora fundamentar os novos aspectos encontrados na construção das
escalas optométricas de figuras conforme sua forma e conteúdo.
2. PERCURSO METODOLÓGICO
Trata-se de uma reflexão (bibliográfico-analítica), tendo como base a
dissertação intitulada "Validação de figuras e seleção de optótipos para uma
escala Optométrica"(6). Tenciona-se nesta seção embasar filosoficamente a forma
e o conteúdo do método descrito pela autora para a construção de escalas
optométricas de figuras.
Pode-se dizer que a forma reconhecida para o estudo conserva a idéia de
Aristóteles na qual é a causa ou razão de ser da coisa, razão pela qual uma
coisa é o que ela é; é o ato ou a atualidade da coisa mesma, isto é, o começo e
o fim do seu devir. No entanto, deve-se incluir no contexto a referência de
Bacon quando fala da forma como objeto próprio da ciência natural, como ato e
causa eficiente, justamente como a forma aristotélica, e que se diferencia
desta somente porque não se deixa agarrar, como julgava Aristóteles, pelo
procedimento dedutivo ou pelo intelecto intuitivo mas só pela indução
experimental. Deste conceito de forma aproxima-se o sentido com o qual a
palavra é usada por Hegel; a forma nesse sentido é a maneira de manifestar a
essência ou a substância de uma coisa(7).
Para tal argumentação, é importante incluir a definição de matéria e
diferenciá-la da forma. Segundo Kant(7), "a matéria do conceito é o objetivo e
a forma dele é a universalidade". Entretanto, a matéria também é vista como
aquilo que permanece por via das mudanças opostas, das mudanças quantitativas
ou nas mudanças qualitativas. Para facilitar o entendimento, tem-se
respectivamente, como exemplo, o movimento de um móvel que permanece o mesmo,
embora esteja ora aqui, ora lá, mude de tamanho, ou se encontre em bom estado
de conservação ou não.
O conceito da matéria como potência se entrelaça em Platão e Aristóteles com
aquele da matéria como sujeito. Platão diz que a matéria não perde a própria
potência. Já Aristóteles identifica a matéria com a potência, refere que todas
as coisas produzidas seja pela natureza, seja pela arte, possuem matéria, já
que a possibilidade que cada uma tem de ser ou não ser é para cada uma delas a
sua matéria. Mas a potência não é, conforme Aristóteles, somente a
possibilidade pura de ser ou não ser; é uma potência operativa e ativa: uma
casa, por exemplo, existe potencialmente se não houver coisa alguma em seu
material que a impeça de tornar-se uma casa. E as coisas que tem em si próprias
o princípio de sua gênese existirão per se quando nada de externo o impeça(7).
No referente ao novo aspecto desenvolvido durante o processo de construção das
escalas de figuras representa um conteúdo a mais inserido na forma que são as
escalas optométricas. O conteúdo é determinado pela forma; esta última, porém,
é permanente; o que varia é o conteúdo. Assim, forma e conteúdo trabalham
permanentemente juntos, cada um com sua característica.
Conforme o quadro_1, existe o aspecto formal e o aspecto material. O objeto
formal é o aspecto sob o qual a coisa é estudada; por exemplo, o aspecto sob o
qual cada ciência estuda a escala optométrica de figuras. O objeto material vai
receber a forma; é o conteúdo que é estudado, no caso, a enfermagem quando
estuda a percepção da criança em face da escala de figuras. A matéria é o
conteúdo e a forma. A forma (variante e invariante) deve acompanhar o conteúdo
que muda com o tempo. A escala, que é a forma, deve acompanhar as mudanças do
conteúdo. Na forma, existem aspectos invariáveis e variáveis; estes últimos
devem representar o conteúdo, desenvolvido de acordo com o conhecimento.
Nesta questão, o método de construção das escalas optométricas de figuras foi
fundamentado na filosofia da ciência e no ato do conhecimento. Este último é
uma atividade do intelecto, um motor contínuo e efetivo que interliga o homem
ao mundo, visando a explicação e compreensão de tudo que o cerca. Sendo assim,
a epistemologia busca a objetividade e validade universais; por meio de duas
vertentes distintas: a analítica e a histórica(8).
Como se viu, o estudo até então abrangeu uma revisão bibliográfica sobre as
escalas optométricas, associada a estudos reflexivos sobre sua utilização e
pertinentes a leituras sobre a filosofia, a estrutura do conhecimento e a
epistemologia. Para a continuação do enfoque referenciado, a base será o resumo
do ensaio de mestrado e a argumentação de sua validade segundo os aspectos que
envolvem sua forma e conteúdo.
4. O MÉTODO DE CONSTRUÇÃO COM A FORMA E O CONTEÚDO DAS ESCALAS OPTOMÉTRICAS
Ante a constatação da necessidade de respeitar os aspectos culturais de
determinada região, foi elaborada uma escala de figuras obedecendo um método
para a seleção dos optótipos. Foram identificadas e validadas figuras
conhecidas no cotidiano de crianças de 4 a 6 anos. Tais figuras, depois de
enquadradas nos princípios ópticos para transformar figuras, tornaram-se
optótipos(6).
A experiência revelou-se fundamental na construção do caminho, pois segundo o
uso das escalas optométricas em triagens no Projeto Saúde Ocular, permitiu
constatar, as tabelas existentes possuíam fatores que dificultavam esta tarefa.
Por isso, integrantes do projeto afirmam que, sem a correta compreensão da
figura, o teste torna-se inviável, porque o fator cognitivo sobressairá em
relação à capacidade visual(9).
"O exercício de abstrair os fenômenos da prática, no processo de refletir,
conceituar e definir os elementos que compõem a assistência, estimula e
impulsiona a reflexão científica a respeito do fazer. É necessário realizar
revisões teóricas, buscar experiências na área, criar, imaginar, refletir sobre
a sua própria visão de mundo, reformulando ou propondo novos caminhos"(10).
Por este motivo, considerou-se que uma figura adequada torna-se tão importante
quanto os cálculos exigidos para transformar uma figura em optótipo e oferecer
um resultado para acuidade visual(6). O método descrito na elaboração do
trabalho para fundamentar o crescimento e o desenvolvimento da criança no
processo de construção das escalas de figuras reflete os novos aspectos
abordados sobre o tema.
"A construção do saber profissional, voltado à intervenção, escolhe um olhar
crítico, no exercício de trazer a prática para a teoria, aplicando-lhe o choque
da crítica. Isto faz com que a prática se renove através de retroalimentação
teórica, voltando à pratica com um novo dimensionamento"(10).
Reformulando a idéia inicial observa-se que a matéria no caso das escalas é o
material do qual esta se constitui, ou seja, madeira, papel ou figura
projetada. Observa-se que a matéria inicial é modificada com base em uma forma
que reflete a escala.
A matéria-prima é pura potência, quer dizer, é capaz de converter-se em
qualquer corpo, graças a sua absoluta indeterminação original. Por sua vez, a
forma substancial é ato. Porquanto é por ela que a matéria se torna corpo. E
por isto se diz que a forma é ato da matéria. Ao contrário, recebendo a forma,
a matéria, por estar dotada de quantidade, quer dizer, de dimensões e, por
conseguinte, de finitude, limita e restringe a forma, determina-a, e portanto,
a individualiza(11) .
Vê-se, pois, que o termo de matéria reflete ao sentido amplo da linguagem
corrente, para alguns filósofos, a matéria é a substância transcendental porque
se reporta ao ser, superando qualquer categoria. Aristóteles inventou a teoria
hilemórfica da matéria prima e forma, para resolver a antimonia grega da
mudança ou devir cósmico. Ao sujeito preexistente da mudança substancial,
Aristóteles chama-lhe também substrato e natureza subjacente(12).
Assim, a matéria como sujeito do devir não é ainda o ente (ser atual), mas um
princípio ou componente de ser. É ser apenas potencialmente, porque está
indeterminada. Não pode existir sem a forma determinante. O conceito de
matéria-prima é, pois, abstrato e correlato do conceito de forma(13).
É por isso que Aristóteles ao introduzir a noção de forma, em muitas passagens
de suas obras, especialmente na física e na metafísica, a considera como a
causa material. Afirma que a matéria é aquilo com o qual se faz algo, enquanto
a forma é aquilo que determina a matéria para ser algo, isto é, aquilo pelo
qual algo é o que é. Assim, em uma mesa de madeira, a madeira é a matéria
constituinte da mesa, e o modelo que seguiu o carpinteiro é sua forma(12).
Deste ponto de vista, a relação entre matéria e forma pode ser comparada com a
relação entre potência e ato. Efetivamente, sendo a forma aquilo que é, a forma
será a atualidade do que era potencialmente. Ainda que a relação matéria-forma
se aplique a realidade em um sentido muito geral e, por assim dizer, estático,
a relação potência-ato se aplica a realidade que está em movimento. A relação
potência-ato nos faz compreender como cabem (ontologicamente) as coisas; a
relação matéria-forma nos permite entender como estão compostas as coisas(14).
Embasando-se nas noções de matéria e forma, como mostra o quadro_2, observa-se
que a matéria é a escala optométrica em si, ou seja, depois de construída e
pronta para uso. Já a forma é o que foi desenvolvido até gerar a matéria e que
pode ser modificado conforme os novos conhecimentos adquiridos. Envolve os
cálculos ópticos e a lei da refração, além da anatomia e fisiologia ocular.
Durante o uso da escala de figuras, a forma poderá ser modificada para adequar-
se à realidade encontrada. Alguns aspectos do método que define a forma
permanecem invariáveis, tais como as leis da refração que embasam os cálculos
ópticos; entretanto, a adequação regional dos optótipos de acordo com o aspecto
cultural é um aspecto da forma variável.
O conteúdo que neste caso determina a forma da nova escala é a cultura já que o
conteúdo de um conceito é a sua compreensão. No caso da percepção da criança
diante das figuras da escala optométrica, está relacionada ao seu contexto
ambiental, visão de mundo e estrutura social. Duas pessoas podem ler uma mesma
realidade e chegar a conclusões bem diferentes, pois o que o sujeito apreende
em relação ao objeto depende dos instrumentos de registro, das estruturas
mentais, das estruturas orgânicas específicas para o ato de conhecer,
disponíveis naquele momento.
"Os corpos aparecem ao mesmo tempo como ativos e passivos. Estão sujeitos ao
que a ciência chama inércia, quer dizer, a uma impotência para modificar por si
mesmo seu estado, e ao mesmo tempo manifestam, sob a provocação de agentes
físicos, atividades determinadas: estes dois aspectos contrários das realidades
corporais se explicam pelo duplo princípio que os constitui: a matéria é,
assim, princípio de passividade e de inércia, enquanto que a forma é princípio
de atividade"(15) .
O conteúdo ora apresentado é atual no referente a escala, no entanto, não pode
ser visto como finito, deve ser trabalhado e embasado, permanecendo aberto a
novas concepções.
Assim, a complexidade existente no processo de mediação entre a construção
teórica e a intervenção na prática, entre o pensamento e a ação, explica que o
contato com a realidade profissional requer se analisar o que acontece, além do
que, é preciso lançar um olhar crítico, tomar uma posição e decidir por um
caminho para intervir. A maneira como este processo é conduzido é que define a
relação que os profissionais estabelecem, entre o pensar e o fazer Por outro
lado o estimulo à revisão, ampliação e inovação das formas tradicionais de
assistir, alarga os horizontes e, muitas vezes, abre novos espaços de atuação
para os profissionais e, principalmente, para assumir a responsabilidade pela
prática profissional(10).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A questão filosófica direcionada para a matéria, a forma e o conteúdo demonstra
a infinitude do conhecimento e revela que a visão de determinada pesquisa em um
momento pode ser redimensionada em outro. A percepção do homem de determinada
matéria é limitada e à medida que o indivíduo encontra-se aberto a questionar
ou aceitar mudanças, a matéria pode ser modificada pela forma por meio de
vários conteúdos, conforme a visão do pesquisador.
O estudo empírico foi importante para mostrar que a experiência é sim ponto
crucial para questionamentos e direcionamento da prática, que pode envolver a
enfermagem ou diversas ciências(6).
No entanto, nos desenhos dos escolares, sempre haverá uma parte desconhecida
que poderá contribuir para um resultado diferente; além disso, a realidade é
dinâmica e pode levar a uma mudança nos desenhos infantis. Por isso, é
necessário explicar que a nova escala poderá ser aplicada para o grupo de pré-
escolares de Fortaleza, desde que estes permaneçam com as mesmas
características; se o grupo não apresentar as mesmas características não se
pode deformá-lo para encaixá-lo na teoria. Se servir só para alguns, é preciso
considerar aqueles que fogem à regra.
É importante lembrar que, apesar das fases do crescimento e do desenvolvimento
infantil determinarem características comuns nos desenhos a serem encontrados
segundo a idade, até os desenhos de uma casa feitos por uma criança de 4 anos,
por exemplo, terão características peculiares conforme a sua cultura e o seu
aprendizado visual; por isso, o método de construção da escala permanece
válido, desde que se tenha a clientela definida. E, não é necessário seguir
todo esse método, apenas validar a escala, observando as características da
clientela a ser examinada e a adequação desta tabela; caso contrário, o ideal é
modificar, redimensionar a forma da mesma.
Algo considerado verdade hoje pode em outro momento ser desvelado e
desacreditado, isso instiga o pesquisador a estar aberto para receber o novo,
mesmo de forma inesperada, devendo permanecer sempre atento para percebê-lo.
Além disso, é importante diferenciar matéria, forma e conteúdo no intuito de
aprimorar os estudos geradores de fatos novos para a ciência.