Conjunto de Dados Mínimos em Enfermagem: identificação de categorias e itens
para a prática de enfermagem em saúde ocupacional ambulatorial
PESQUISA
Conjunto de Dados Mínimos em Enfermagem: identificação de categorias e itens
para a prática de enfermagem em saúde ocupacional ambulatorial
Nursing Minimum Data Set: identifying of categories and items for the nursing
practice in ambulatory occupational health
Conjunto de Datos Mínimos de Enfermería: identificación de categorías y ítems
para la práctica de enfermería en salud ocupacional
Denise Tolfo SilveiraI; Heimar de Fátima MarinII
IDoutoranda pelo Programa de Pós Graduação do Departamento de Enfermagem da
UNIFESP, bolsista PQI/CAPES, Professora Assistente do Departamento de
Enfermagem Médico-Cirúrgico da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS)
IILivre Docente, Doutora em Ciências, Professor Associado do Departamento de
Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). heimar@denf.epm.br
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1. INTRODUÇÃO
Na enfermagem, os recursos da informatização adicionaram à profissão mais
eficiência, organização, velocidade e versatilidade. A utilização da
informática no ensino e na pesquisa facilitou a revisão de literatura e a
coleta de dados para a elaboração de pesquisa em enfermagem e cuidados de saúde
(1).
Sendo o cuidado o foco de atenção da enfermagem, seus profissionais são
responsáveis pela produção e gerenciamento de informações que influenciam
direta e indiretamente a qualidade e o resultado dos serviços prestados. Os
Sistemas de Informação em Enfermagem (SIE) começaram a ser definidos e
implantados para apoiar a prática assistencial e facilitar a atividade do
enfermeiro em adquirir, armazenar e analisar dados dos pacientes, com a
finalidade de definir as necessidades e o planejamento do cuidado(2).
Os sistemas de informação são instrumentos usados para processar os dados e
produzir a informação. No desenvolvimento dos sistemas de informação
automatizados, cada elemento [dado] é definido e classificado(3). Os dados são
classificados nos termos como serão usados pelo usuário, por exemplo: dados
financeiros, dados do paciente, dados de recursos humanos, dentre outros.
O aumento no volume de dados e a conseqüente expansão dos sistemas
computadorizados de informação, em instituições de saúde, resultaram no
desenvolvimento de inúmeros métodos de documentação. Esses avanços
possibilitaram que as ações de enfermagem fossem sustentadas com base em dados
organizados por meio de documentação exata e específica, disponibilizados aos
profissionais.
Entretanto, fatores como dificuldade na padronização do vocabulário de
enfermagem e o fato de que as ações muitas vezes são planejadas de forma mais
intuitiva do que sistematizada, fazem com que o enfer-meiro pouco explore os
sistemas de informação para produzir informação a partir dos dados coletados
com a finalidade de descrever e sustentar as suas práticas.
Um sistema de informação em saúde deve produzir informações que possibilitem: a
tomada de decisões sobre as ações a serem implementadas, acompanhamento ou
controle da execução (eficiência e eficácia) das ações propostas, e a avaliação
do impacto (efetividade) alcançado sobre a situação de saúde inicial(4).
A disponibilidade de informações para o profissional que atua nas atividades
relacionadas à saúde ocupacional, possibilita o acesso a um conjunto de
ferramentas para realizar sua ação e prestar assistência com qualidade (4).
Contudo, a grande dificuldade até o momento é não somente com relação ao acesso
e transformação dos dados em informações úteis para determinada ação ou
planejamento em saúde e segurança no trabalho, como também na criação de
ferramentas tecnológicas disponíveis para utilização por múltiplos usuários, de
modo a retratar as diferentes realidades.
A falta de dados específicos de enfermagem nas bases de dados pode estar
relacionada à falha dos profissionais em acordar sobre um conjunto de dados
claro, definido, validado, confiável e padronizado. A questão é qual o tipo de
informação e que tipo de elementos [dados] são essenciais para garantir o
cuidado e descrever os diagnósticos, intervenções e resultados de enfermagem
(5).
Uma das primeiras tentativas de padronizar um conjunto de dados essenciais para
a prática de enfermagem foi desenvolvido por Werley e Lang(6) em 1988, o
Conjunto de Dados Mínimos de Enfermagem (Nursing Minimum Data Set NMDS). A
inclusão de elementos de enfermagem divididos em categorias, oferece um
conjunto de dados relacionados, através do qual, os dados essenciais são
organizados, classificados, processados, acessados e pesquisados, como apoio ao
gerenciamento do cuidado prestado pelos profissionais de saúde nos diferentes
cenários.
Outro conjunto de dados, desenvolvido com o objetivo de suprir as necessidades
de dados para a administração de enfermagem, foi o Conjunto de Dados Mínimos de
Gerenciamento de Enfermagem (Nursing Management Minimum Data Set NMMDS),
proposto por Delaney e Huber(7).
Tais projetos mostram a importância de selecionar e analisar dados que possam
fornecer a informação necessária ao enfermeiro no momento de estabelecer um
plano de cuidados factível, com melhor benefício possível ao paciente/cliente.
Porém, deve-se salientar que o levantamento inicial de dados de enfermagem é
uma ferramenta básica para identificar as necessidades do cliente e para
elaborar e registro do processo de enfermagem. Estes dados, quando coletados e
processados produzem a informação de enfermagem que, por sua vez, quando
analisada e interpretada, produzem o conhecimento de enfermagem(8,9).
Saber quais dados que são essenciais e suficientes para alimentar a execução do
processo têm sido o desafio para inúmeros pesquisadores e profissionais de
enfermagem que elaboram os instrumentos e protocolos de entrevista na consulta
de enfermagem. Existe uma tendência que se decida por instrumentos muito
abrangentes com a coleta de centenas de dados.
Assim, padronizar e identificar o conjunto mínimo de dados que forneça
informação suficiente e necessária ao atendimento é fundamental. Ou seja, os
dados coletados no processo de enfermagem, podem ser padronizados em um
conjunto de itens essenciais para área da saúde ocupacional que descreva a
prática, facilite as ações e a tomada de decisão e a pesquisa. Além disso, a
utilização de um conjunto de dados padronizado pode servir não só de apoio às
ações do profissional de enfermagem na saúde ocupacional, mas para atender a
produção de informação para fins de avaliação da qualidadeª e de resultados do
cuidado de saúde prestado ao cliente ou paciente.
2. REVISÃO DA LITERATURA
O Conjunto de Dados Mínimos de Enfermagem (Nursing Minimum Data Set NMDS),
proposto por Werley e Lang é definido como "um conjunto mínimo de itens [ou
elementos] de informações, categorias e definições uniformes, relativas à
dimensão específica da profissão de enfermagem e que atende as necessidades de
informação de múltiplos usuários no sistema de saúde"(6).
Os dezesseis elementos do Conjunto de Dados Mínimos de Enfermagem são divididos
em três categorias(6): itens demográficos do cliente ou pacientes
(identificação); itens do cuidado de enfermagem (dados do diagnóstico de
enfermagem, os dados de intervenção de enfermagem, os dados de resultados de
enfermagem, e os dados de intensidade do cuidado de enfermagem); e itens do
serviço (itens que ligam o profis-sional do cuidado e o local do serviço de
saúde).
Para Goossen et al(10), cinco aspectos são importantes com respeito ao Conjunto
de Dados Mínimos de Enfermagem: (a) os dados essenciais necessitam ser
identificados com as variáveis que desejamos sobre a informação; (b) cada
variável necessita ser definida com precisão o que é e o que não é; (c) o
universo de valores possíveis para cada variável ou dado deve ser determinado
em enfermagem estes valores, por exemplo, podem ser listados pelas
terminologias acordadas; (d) o atual dado do paciente pode ser documentado no
registro do paciente com o uso apropriado de terminologias, em particular para
variáveis; (e) finalmente, estes dados do paciente dos registros individuais
podem ser totalizados e codificados dentro das bases de dados para diferentes
propostas de gerenciamento, pesquisa, e criação das políticas para o cuidado em
saúde.
Construído a partir do Conjunto de Dados Mínimos de Enfermagem, o Conjunto de
Dados Mínimos de Gerenciamento de Enfermagem (Nursing Management Minimum Data
Set NMMDS) é um conjunto de elementos de dados necessários ao administrador de
enfermagem para tomar a decisão no gerenciamento e comparar a efetividade do
cuidado, através das instituições(7,11,12). Delaney e Huber(7) apontam que as
variáveis desta estrutura de base de dados têm seu foco no nível da unidade/
serviço de enfermagem. A partir deste, os dados podem ser combinados com
variáveis construídas do próprio sistema de informação da instituição, rede de
trabalho ou outras bases de dados.
Os dezessete elementos do Conjunto de Dados Mínimos de Gerenciamento de
Enfermagem são divididos em três categorias(7): ambiente (nove variáveis
conforme o contexto do ambiente de cuidado oferecido); recursos_de_enfermagem
(quatro variáveis essenciais que descrevem aspectos dos recursos humanos); e
recursos_financeiros (dados do tipo de pagamento, dados do tipo de reembolso,
dados do orçamento do cuidado de enfermagem por unidade/serviço e dados de
custo). Ressalta-se que os dados de custo são os custos diretos e indiretos por
unidade/serviço de cuidado de enfermagem, podendo ser usados nas estratégias de
redução(7,11).
Considerando tais estudos e observando a necessidade de padroni-zação de dados,
este artigo tem como objetivo descrever a categorização dos elementos
identificados na prática da consulta de enfermagem na saúde ocupacional
ambulatorial.
3. MÉTODO
Estudo descritivo retrospectivo(13). Os dados para análise neste estudo tiveram
como fonte a agenda de Enfermagem em Saúde Ocupacional (ESO) do Ambulatório do
Serviço de Enfermagem em Saúde Pública do Hospital de Clínicas de Porto Alegre
(HCPA). Foram coletados a partir dos registros de enfermagem utilizados no
ambulatório e dos registros da base de dados, de agosto de 1998 a agosto de
2003. Dos 106 prontuários utilizados, foram identificados 777 registros de
primeira consulta e consultas de retorno.
A forma de registro da consulta constituída naquele serviço compreende: dados
subjetivos (S.), dados objetivos (O.), interpretação (I.) e conduta (C.),
combinando assim dados obtidos através de entrevista e exame físico e dados
obtidos através dos resultados laboratoriais e diagnósticos clínicos. A partir
deste formato de registro foi utilizado um roteiro não estruturado para coleta
de dados.
Com vistas a atender a seleção dos termos utilizados a partir dos registros de
consulta de enfermagem, foram considerados as seguintes categorias e elementos
para análise:
- Categoria_"Itens_Demográficos_do_Paciente/Cliente": Elementos de
Identificação do Paciente/Cliente;
- Categoria_"Itens_do_Cuidado_de_Enfermagem": Elementos de Anamnese e
Exame Físico, Elementos de Diagnóstico de Enfermagem, Elementos de
Intervenções de Enfermagem, Elementos de Resultados de Enfermagem,
Elementos de Intensidade do Cuidado de Enfermagem;
- Categoria_"Itens_do_Serviço": Elementos da Unidade ou Serviço,
Elementos de Registro Único do Paciente/Cliente, Elementos do
Profissional Enfermeiro, Elementos de Data Admissão/Alta do Paciente/
Cliente, Elementos de Encaminhamento do Paciente/Cliente;
- Categoria_"Itens_da_Saúde_Ocupacional": Elementos da História
Ocupacional, Elementos de Fatores de Risco Ambiental, Elementos de
Saúde e Segurança Ocupacional.
- Categoria_"Ambiente": Elementos do Tipo de Unidade/Serviço de
Enfermagem, Elementos do Tipo de Paciente/Cliente e População
Atendida, Elementos do Volume de Cuidado de Enfermagem, Elementos de
Acreditação do Cuidado de Enfermagem, Elementos de Participação
Decisional, Elementos de Complexidade do Ambiente, Elementos de
Acesso Geográfico do Paciente/Cliente, Elementos do Método de Cuidado
de Enfermagem, Elementos de Complexidade da Tomada de Decisão
Clínica;
- Categoria_"Recursos_de_Enfermagem": Elementos do Perfil Demográfico
de Gerenciamento, Elementos da Equipe e Suporte de Enfermagem,
Elementos do Perfil Demográfico da Equipe de Enfermagem, Elementos de
Satisfação da Equipe de Enfermagem;
- Categoria_"Recursos_Financeiros": Elementos do Tipo de Pagamento,
Elementos do Tipo de Reembolso, Elementos do Orçamento do Cuidado de
Enfermagem por Unidade/Serviço, Elementos de Custo.
Os dados foram tratados e analisados com o auxílio da estatística
descritiva (freqüência e percentuais), através dos programas Excel
for Windows®e SPSS (Statistical Package for the Social Sciences)®(13-
15).
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Categorias e Elementos Identificados na Documentação de Enfermagem
Algumas definições são necessárias para compreensão da análise apresentada.
Entende-se por categorias, uma descrição sistemática, quantitativa dos
resultados verificados no estudo(13). Entende-se por elementos, as
características que definem os aspectos básicos da categoria a que pertence e
que são constituídos por dados. Entende-se por dados, os fatos não
interpretados e que têm atributos de valor e tipo sobre uma variável. Entende-
se por variáveis, qualquer qualidade de uma pessoa, grupo ou situação que varia
e assume diferentes valores (numéricos ou categóricos)(16). Entende-se por
informação, o produto final do processamento, análise e interpretação dos dado
(3,9).
4.1.1 Categoria "Itens Demográficos do Paciente/Cliente"
Entre os dados dos elementos de Identificação do paciente/cliente, os mais
freqüentes foram o nome (29,94% do total de registros) e a idade (28,26% do
total de registros). Dos dados encontrados, os que estão incluídos no Conjunto
Mínimo de Dados de Enfermagem são: sexo, data de nascimento (idade), raça e
residência (fone contato, procedência). Os dados incluídos na categoria
demográficos do paciente/cliente apresentaram baixa freqüência de presença nos
documentos analisados porque estão presentes no formulário eletrônico
padronizado pela instituição, não sendo necessário repeti-los nos registros de
anamnese e exame físico e na evolução de enfermagem.
4.1.2 Categoria "Itens do Cuidado de Enfermagem"
Entre os dados de anamnese, os mais freqüentes incluem: alimentação (93,0% do
total de registros), hidratação (89,42% do total de registros), atividade
física (79,87 % do total de registros), eliminações urinárias e intestinais
(42,84% do total de registros), e sono/repouso (16,39 % do total de registros).
Aqui estão presentes os elementos [dados] psicosocioculturais, entre os mais
freqüentes a auto-estima (19,35% do total de registros) e as necessidades
psicossociais (17,81% do total de registros).
Quanto aos dados relacionados ao exame físico, os mais freqüentes incluem:
pressão arterial (96,65% do total de registros), peso corporal (95,10% do total
de registros), comportamento (62,32% do total de registros), altura (29,94% do
total de registros), estado emocional (28,26% do total de registros),
neuromuscular (24,13% do total de registros), comunicação (18,84% do total de
registros), índice de massa corporal (IMC) (17,94% do total de registros),
nível de consciência (17,55% do total de registros), estado geral (16,77% do
total de registros) e mobilidade (11,35% do total de registros). O elemento
"resultados de exames laboratoriais e outros", estava presente em 28,77% do
total de registros analisados.
O predomínio dos dados de anamnese, de exame físico e de resultados de exames
laboratoriais com maior freqüência presentes nos registros como demonstrado
anteriormente, podem ser justificados à luz do referencial da teoria das
Necessidades Humanas Básicas de Maslow adotado para a realização do processo de
enfermagem no hospital em estudo. A prevalência da avaliação de enfermagem em
relação às necessidades biológicas do paciente/cliente, também pode ser
justificada pelo fato de práticas profissionais ainda muito impregnadas por uma
tradição em relacionar apenas os aspectos clínico-epidemiológicos ao planejar
os modos de intervenção(16).
Os elementos de Diagnóstico de enfermagem, foram identificados na documentação
analisada inseridos no item Impressão (I.) do enfermeiro sobre o cliente.
Optou-se por definir os dados dos elementos de Diagnóstico de enfermagem por
"Identificação dos problemas atuais ou potenciais do paciente/cliente", porque
foram observadas diferentes formas de registros na tentativa de julgar as
respostas do paciente/cliente relacionado aos problemas de saúde atuais ou
potenciais. Observa-se, que esta fase da aplicação do processo de enfermagem
combinou dados obtidos na entrevista de anamnese, no exame físico e nos
resultados de exames laboratoriais e até mesmo os diagnósticos médicos.
A freqüência elevada dos elementos de diagnóstico de enfermagem revela a
importância desta fase nos registros de documentação da enfermagem no HCPA que
desde a década de 70 realiza a redação sistematizada da assistência prestada,
utilizando a estrutura proposta por NANDA (North American Nursing Diagnosis
Association)(17).
Entre os elementos de Resultados de enfermagem, foram identificadas na
documentação analisada inseridos no item Impressões (I.) do enfermeiro sobre o
cliente. Cabe ressaltar que os dados sobre "Dificuldade de controle do
tratamento" e "Necessidades de informação sobre a doença atual e/ou
tratamento", foram encontradas nos registros referentes ao item Subjetivo (S.)
do registro utilizado, conforme já mencionado.
Entre os dados mais freqüentes relacionados ao Comportamento do cliente frente
ao tratamento proposto (84,4% do total de registros), incluem: "Aderente ao
tratamento proposto", "Demonstra interesse pelo tratamento", "Dificuldades em
aderir ao tratamento", "Não aderente ao tratamento proposto", "Interessado (a)
nas orientações de enferma-gem recebidas", entre outros.
Nos dados referentes à Capacidade de apreensão das orientações de enfermagem
(29,8% do total de registros), foram incluídos: "Interes-sado (a) nas
orientações de enfermagem recebidas", "Desmotivado (a) a seguir as orientações
recebidas", "Consciente do não cumpri-mento do tratamento dietético e atividade
física", entre outros.
Nos dados referentes ao Grau de conhecimento em relação ao tratamento da
patologia e situação de saúde (25,5% do total de registros), foram incluídos:
"Desanimado (a) frente ao estado de saúde", "Déficit de conhecimento sobre
patologias apresentadas", "Desinteressado (a) para mudança de hábitos",
"Dificuldade cognitiva em apreender orientações", "Bom entendimento do estado
de saúde", entre outros.
Os elementos de Intervenções de Enfermagem foram identificados na documentação
analisada inseridos no item Conduta (C.) de enfermagem. Aqui, os resultados
foram também categorizados para melhor apresentação, incluindo as orientações
sobre educação em saúde alimentares, atividade física, hábitos de vida, entre
outros; as orientações sobre o atendimento às medidas de promoção, proteção e
reabilitação ocupacional: exercícios posturais e ergonomia, região afetada, e
outros; o agendamento para consulta de retorno; e a alta ambulatorial.
Entre os achados mais freqüentes estão os dados de Orientações para a melhoria
da informação sobre o processo da doença ou dano e, para o autocuidado (108,4%
do total de registros), onde foram incluídos: "Reforço orientações anteriores",
"Oriento medidas terapêuticas para o alívio da dor", "Oriento sobre o
tratamento", "Orientado riscos a saúde causados pela patologia ou dano
apresentado", "Oriento sobre administração de medicamentos", entre outros.
Observa-se também maior freqüência dos dados de Orientações sobre educação em
saúde: alimentares (56,6% do total de registros) e atividade física (35,7% do
total de registros), dos dados de Orientação sobre o atendimento às medidas de
promoção, proteção e reabilitação ocupacional (35,5% do total de registros),
dos dados de Solicitação de exames (26,8% do total de registros). Tais achados,
revelam coerência com a freqüência dos dados de anamnese e exame físico
documentados. Evidencia ainda que as fases subseqüentes do processo de
enfermagem dependem da qualidade da avaliação inicial e da respectiva
documentação dos mesmos(9).
4.1.3 Categoria "Itens do Serviço"
Os dados incluídos nos elementos desta categoria (Elementos da Unidade ou
Serviço, Elementos de Registro Único do Paciente/Cliente e Elementos do
Profissional Enfermeiro) estão padronizados nos formulários de identificação
presentes nos documentos do prontuário do paciente e disponibilizados no
ambiente de aplicativos para gestão hospitalar descrito anteriormente, que
compõem o sistema de informação do HCPA.
Os elementos de Encaminhamento do Paciente/Cliente, foram identificados na
documentação analisada inseridos no item Conduta (C.) de enfermagem. Observa-se
uma maior freqüência dos dados de Encaminhamentos a especialistas da medicina
(20,9% do total de registros) em relação aos dados de Encaminhamentos aos
especialistas da enfermagem (5,1% do total de registros). Sendo o médico o
profissional na área da saúde com habilidade e experiência para o exame,
diagnóstico e tratamento da doença cabe o encaminhamento pela enfermeira
conforme a especialidade (ocupacional, clínica, cirúrgica, cardiologia,
nefrologia, endocrinologia, entre outros) para o atendimento às medidas de
promoção e proteção da saúde do paciente/cliente.
4.1.4 Categoria "Itens da Saúde Ocupacional"
Os elementos desta categoria foram identificados no item Subjetivo (S.) da
documentação de enfermagem, os quais estão relacionados à investigação do
enfermeiro sobre a saúde ocupacional do paciente/cliente.
Entre os dados mais freqüentes dos elementos da História ocupacional estão:
"Situação atual do trabalho" (25,2% do total de registros) e "Tipo de atividade
atual" (20,8% do total de registros).
Entre os dados mais freqüentes dos elementos de Saúde e segurança ocupacional
estão: "Sintomas da doença atual" (86,5% do total de registros), "Tratamento
atual" (63,3% do total de registros), "História médica" (16,6% do total de
registros) e "Diagnóstico médico" (11,2% do total de registros).
Nesta categoria, observa-se nos registros analisados um percentual baixo de
dados dos elementos de Fatores de risco ambiental e dados dos elementos de
História Ocupacional. O que chama a atenção é o fato de que a falta de dados
como: o tipo de atividade atual e anterior, o processo de trabalho, as
condições de trabalho, o ambiente de trabalho, o local e o setor de trabalho,
na fase inicial da aplicação do processo de enfermagem pode indicar uma falta
de informação para apoiar as necessidades reais ou potenciais do paciente/
cliente, especialmente na relação causal entre saúde e trabalho(18).
Contudo, pode-se inferir que a freqüência menor destes dados na coleta inicial
não significa que estes não tenham sido coletados, uma vez que nos registros
observados a impressão diagnóstica e as intervenções de enfermagem contemplam
informações que indicam o processamento destes dados. Vale notar porém, que a
habilidade do profisssional de enfermagem fazer a diferença nos resultados do
paciente, deve ser demonstrada na prática e refletida no registro, na
documentação realizada(18).
Essa limitação, pode ser justificada por uma prática puramente assistencial e
com uma abordagem neutra dos problemas de saúde, não distinguindo a
especificidade do biológico, do social, do econômico, do cultural, dos aspectos
organizacionais, ambientais e das próprias condições de vida do mundo do
trabalho. Por outro lado, uma explicação possível para este achado pode ser
também o cuidado do enfermeiro em não duplicar as informações presente, total
ou em parte, nos registros de anamnese médica. Entretanto, critica-se a falta
de visibilidade e disponibilidade de dados de enfermagem com elementos
específicos na saúde ocupacional para aplicação na prática profissional.
Destaca- se ainda que nas categorias"Ambiente", "Recursos de Enfermagem" e
"Recursos Financeiros"não foram identificados quaisquer elementos e dados nos
registros observados.
4.2 A proposta do Conjunto de Dados Essenciais de Enferma-gem na Área da Saúde
Ocupacional
Considerando que o levantamento de dados de enfermagem é ferramenta básica para
elaboração e registro do processo de enfermagem e que os estágios subseqüentes
do processo de enfermagem dependem da qualidade da avaliação inicial (anamnese
e exame físico) e sua respectiva documentação(9), verificam-se nos achados
deste estudo que os dados registrados não foram completamente trabalhados e
informados (processo de captura, armazenamento e processamento do dado para
informação) nas fases do registro da consulta de enfermagem para garantir a
transparência deste processo e a produção de um conhecimento que fundamente o
cuidado prestado.
A partir destes achados de pesquisa, pode-se inferir com base na literatura(5),
que a falta de dados específicos na enfermagem e a falha no registro da
documentação de enfermagem pode estar relacionada à falha dos profissionais em
acordar um conjunto de dados claro, definido, validado, confiável e padronizado
para inclusão.
Vale, portanto, considerar o que diz Goossen et al(10) ao afirmarem que os
elementos do conjunto de dados de enfermagem necessitam ser melhor
identificados, definidos, determinados e codificados dentro da base de dados
para diferentes propostas de gerenciamento de cuidado de saúde, pesquisas e
políticas. A validade do conteúdo deste conjunto de elementos deve estar
apoiada pela consistência da literatura e pelos achados da prática.
Para que a enfermagem em saúde ocupacional possa contribuir com a saúde dos
trabalhadores, é importante que se tenha visibilidade e disponibilidade de
dados de enfermagem devidamente registrados, consistentes e documentados, por
meio de uma base de conhecimento que viabilize o registro, a análise e a
recuperação dos dados. Entende-se que com a captação de dados essenciais, os
fatores determinantes e os mecanismos desencadeantes do processo saúde-doença
podem ser esclarecidos para que medidas específicas e indicadores sejam
estabelecidos, servindo de apoio ao planejamento, administração e avaliação das
ações de enfermagem.
Os dados apresentados no Quadro_1, integram o elenco dos elementos
identificados a partir dos termos selecionados nos registros sistemáticos de
consulta de enfermagem, como tentativa inicial de construção do conjunto de
dados essenciais de enfermagem na área de saúde ocupacional. Para tanto, o
referencial do Conjunto de Dados Mínimos de Enfermagem proposto por Werley e
Lang(6), o referencial do Conjunto de Dados Mínimos de Gerenciamento de
Enfermagem proposto Delaney e Huber(7) subsidiam a categorização e definição
dos elementos ora apresentada.
O Conjunto de Dados Essenciais de Enfermagem na Saúde Ocupacional pode permitir
ao profissional desta área identificar e melhorar o cuidado prestado, uma vez
que tem o potencial de proporcionar a comparação de dados específicos dos
clientes, das intervenções e dos resultados entre os diferentes contextos dos
serviços de cuidado em saúde. Ainda, a aplicação deste conjunto de dados tem o
potencial de assegurar que os serviços de Saúde Ocupacional tenham seus dados
efetivamente documentados para validar a prática profissional e para avançar o
conhecimento através da pesquisa nesta área.
Os elementos até aqui apresentados têm consistência com o referencial adotado,
embora o número de itens seja diferente. Nesta fase de estudo, a definição dos
elementos e dados estão sendo tratados para então avançar e responder ao
segundo objetivo específico desta pesquisa, ou seja, a construção da proposta
de um instrumento de consulta de enfermagem que contemple um conjunto de dados
essenciais na área da saúde ocupacional.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados iniciais deste estudo sugerem que os elementos demográficos do
paciente/cliente, elementos do cuidado de enfermagem, elementos do serviço e
elementos da saúde ocupacional, compreendem um conjunto de dados essenciais de
enfermagem na área da saúde ocupacional. Estruturado a partir dos registros
sistemáticos de enfermagem, descreve a diversidade e variabilidade das
atividades de enfermagem nesta área de atuação.
Nesta perspectiva, este estudo ressalta a importância de determinar um conjunto
de dados essenciais que tenha prioridade nos desenhos de formulários que
alimentam as bases de dados, para que estes dados possam ser melhor
documentados e estruturados nos sistemas de informação. E, a partir disso,
permitir que tais dados sejam melhor explorados pela enfermagem no sentido de
produzir a informação correta para desempenhar e descrever suas práticas de
cuidado na saúde ocupacional.