O perfil do aluno ingressante em uma universidade particular da cidade de São
Paulo
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O perfil do aluno ingressante em uma universidade particular da cidade de São
Paulo
Profile of new students in a private university of the São Paulo city
El perfil del alumno ingresante en una universidade particular de la cuidad de
São Paulo
Carlos Eduardo dos SantosI; Maria Madalena Januário LeiteII
IDoutor. Coordenador do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade São
Marcos, São Paulo
IIProfessora Doutora Associada do Departamento de Orientação Profissional da
Escola de Enfermagem da USP
1. INTRODUÇÃO
A grandeza de um país e sua afirmação no cenário internacional vincula-se à
educação de seu povo. Promover a cidadania, oferecendo os meios básicos para
que as pessoas se agarrem à passagem do tempo sem perder o fio da história,
deveria estar no bojo de qualquer realização governamental. Mas, ao longo dos
anos, o Brasil relegou a educação a um plano secundário. De um lado, o
despreparo, espelhado nos índices altíssimos de analfabetismo e, de outro, o
baixo nível de escolaridade.
Assim, a qualidade da educação sempre foi um dos problemas no Brasil e a
situação é agravada pelo processo de globalização e desenvolvimento tecnológico
não democratizado.
Uma educação que procura desenvolver a tomada de consciência e a atitude
crítica, graças a qual o homem escolhe e decide, liberta-o em lugar de submetê-
lo, de domesticá-lo, de adaptá-lo, como faz com muita freqüência a educação em
vigor num grande número de países no mundo, educação que tende a ajustar o
indivíduo a sociedade, em lugar de promovê-lo em sua própria linha(1).
Entretanto, em uma sociedade de classes como a nossa, a chamada classe
dominante tende a submeter as demais aos seus interesses básicos. E como as
escolas são instituições que nascem de necessidades sociais concretas e que,
como ocorre com os aparelhos institucionais, desenvolveram uma necessidade
intrínseca de se preservarem, e de permanecerem.
Para tanto, não é difícil entender que muitos e profundos pactos acabem sendo
celebrados entre o intuito de sobrevivência da sociedade como um todo e a
mencionada necessidade de permanência das escolas. Trata-se dos chamados pactos
de reprodução, que influenciam e impactam em propostas pedagógicas que não se
preocupam na formação de profissionais éticos e políticos.
Assim, o ensino superior não é uma prática independente, é sim influenciado
pelas condições sócio econômica e políticas, bem como das legislações gerais e
as específicas a cada área do saber estabelecido pelo Ministério da Educação.
A principal legislação da educação superior é a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional de 1996, com os Cursos de Enfermagem estabelecidos no seu
artigo 44(2).
Evidencia-se nas diretrizes que na construção do projeto político pedagógico
dos Cursos de graduação entre muitas interfaces uma das primeiras fases é
identificar que profissional que se quer formar, para que e como vai se formar.
A preocupação com o perfil do ingressante, não é novo na Enfermagem(3),
estudaram os ingressantes na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto e na Escola
de Enfermagem, ambas da Universidade de São Paulo. Neste estudo a população foi
de 312 alunos, sendo 182 da capital e 130 de Ribeirão Preto. Em sua grande
maioria jovens do sexo feminino, procedente em geral da cidade onde estava a
Escola e o seu ingresso no Curso era imediato após a conclusão do Colegial.
Outros autores(4) investigaram os fatores que influenciaram alunos ingressantes
na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo em 1981, em um estudo
quantitativo, na escolha da enfermagem como opção profissional mostrou que em
sua grande maioria eram jovens entre 18 e 22 anos, do sexo feminino,
procedentes da capital paulista e dependente economicamente dos pais.
Em relação à opção pelo curso, metade destes alunos apontou a enfermagem como
primeira opção profissional e a outra metade pretendia fazer outro Curso além
da Graduação em Enfermagem. Os fatores que influenciaram na escolha da
profissão foram interesse pelas ciências biológicas; desejo de ajudar pessoas;
preocupação com o nível de saúde da população; desenvolvimento da personalidade
com o objetivo de compreender melhor a pessoa; incentivo da família; interesse
financeiro; experiência de trabalho hospitalar ou comunitário; experiências com
hospitalização; ingresso mais fácil na área das ciências biológicas; status
profissional e enfermeiras na família.
Em um estudo qualitativo(5) evidenciou-se sentimentos contraditórios, de
importância, superioridade, decepção e liberdade do aluno ingressante. A época
da realização do estudo a autora apontava que já havia poucos estudos
correlatos sobre o assunto, doze anos após, ainda temos pouca produção nesta
temática.
No ano de 1995 temos três artigos publicados, um deles, "Acompanhamento da vida
escolar dos alunos ingressantes no curso de graduação em enfermagem numa escola
brasileira: período 1984 a 1988"(6), as autoras analisaram 336 alunos, em um
estudo quantitativo, no que concerne a forma de inserção, evidenciou-se que nos
anos de 1984 a 1986 todas as vagas foram preenchidas e nos anos de 1987 e 1988,
cinqüenta por cento das vagas foram preenchidas. O quantitativo de evasão do
Curso nos quatro anos foi de 137 desligamentos principalmente no segundo
terceiro e quarto semestres, 15 alunos trancaram a matrícula e concluíram o
Curso 166. As autoras consideraram o grave problema social, econômico e
educacional, à época, como possíveis fatores de evasão.
Em outro artigo(7), as autoras realizaram um levantamento em escolas de
enfermagem do país e os resultados mostraram que algumas possuem uma
programação voltada para as necessidades do aluno, entretanto a grande maioria
atende os alunos de maneira formal, geral e impessoal.
Temos, também na publicação de 1995 que os autores(8), levantaram dados de
ingressantes de 28 escolas de enfermagem do Estado de São Paulo. Apontou a
prevalência do sexo feminino, jovem, que realizaram curso preparatório para o
vestibular e entre outros resultados, ter ingressado pela afinidade com a
profissão e com a perspectiva de inserção no mercado de trabalho e a
remuneração.
Na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto(9), realizou-se um estudo sobre a
disciplina "Integração do aluno de Enfermagem na escola e na profissão", tendo
como sujeitos os alunos no primeiro dia de aula. Foi solicitado a eles que
descrevessem livremente "Como você se sente aqui hoje?". Ficaram evidenciados
dois sentimentos predominantes: de realização e de insegurança. Os de
realização foram sub agrupados em três sentimentos no sentido de vitória por
ter ultrapassado a barreira do vestibular, de valorização por estar numa
universidade e de esperança num futuro melhor. Os de insegurança foram sub
agrupados em no sentido de insegurança por enfrentar uma situação nova, medo
referente às incertezas quanto ao curso e ao futuro e o de solidão por
sentirem-se só entre novos conhecidos e longe dos amigos.
A partir desses estudos evidencia-se que os ingressantes nos Cursos de
Enfermagem são predominantemente jovens do sexo feminino, que demonstram muitos
sentimentos, às vezes contraditórios e que a forma como se dá à recepção a
estes e a execução do Projeto Pedagógico de um Curso é fundamental para sua
fixação ou não no mesmo.
O aluno de uma forma geral quer seja ingressante ou não, adquire no decorrer do
Curso competências e habilidades específicas para exercer a profissão de
enfermagem, mas no transcurso dessa vivência ele deve encontrar no docente um
profissional que seja um mediador e facilitador do processo educacional.
Em um estudo sobre a compreensão dos alunos quanto a disciplina Administração
aplicada à Enfermagem do Curso de Graduação em Enfermagem da USP(10) evidenciou
que ser aluno é voltar-se para o seu mundo vivido, que deve-se estar atenta
para o que dizem e como dizem e para tanto o professor deve refletir na forma
como falam, como se expressam corporalmente, como se sentem e pensam nas varias
situações de ensino.
Assim, os objetivos deste estudo são:
- Caracterizar os ingressantes de um curso de graduação em enfermagem
quanto a dados demográficos e formação anterior a graduação;
- Analisar as formas pela quais obtiveram informações sobre o curso;
- Verificar se os alunos são trabalhadores e em que área atuam e em
que tipo de instituição.
2. METODOLOGIA
Esse estudo é de natureza descritivo-exploratória, tendo objeto a inserção dos
acadêmicos no ano de 2004, ano em que iniciou-se o curso de graduação.
A população do estudo é constituída dos ingressantes da universidade no ano de
2004 que foram 50 sujeitos, sendo que 33 responderam o questionário.
Os dados foram colhidos por meio de um questionário no qual continha também o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Constou de perguntas abertas e
fechadas e questões de múltiplas escolhas que foram analisadas numa planilha
Excel com a freqüência simples e relativa dos resultados.
Os dados foram coletadas até o segundo mês de inserção do aluno no Curso.
3. RESULTADOS
Os alunos que enviaram os questionários de volta ao pesquisador, responderam
quase todas as perguntas. As respostas foram categorizadas nos termos definidos
nos objetivos propostos para o presente trabalho, como será apresentado a
seguir.
Dados demográficos
A maioria do alunos é do sexo feminino (92,0%), tinha entre 21 e 30 anos
(64,0%), casado (52.0%) e sem filhos (60,0%).
A presença significativa de adultos jovens e casados é um indicativo de que uma
boa parte dos ingressantes é trabalhador ou já possui obrigações familiares.
Sobre os alunos trabalhadores vale registrar ainda que 64,0% informaram
possuírem renda pessoal (64%), apesar de (56%) referirem trabalharem.
Mais da metade dos alunos (52,0%) moram na zona sul onde se localiza a atual
sede da faculdade. (32,0%) moram na zona leste e (4%) moram na zona oeste da
cidade. 12%moram nas cidades vizinhas do grande ABC. Essa distribuição indica a
forte inserção da faculdade na comunidade a que pertence, complementada pela
rede de transporte que servem à localidade.
Instituição de origem e tempo de inserção no ensino superior
Do total de alunos que responderam ao questionário, 56% provêm de escolas
públicas, 8% de escolas privadas, 24% fizeram o supletivo e 12% estudaram em
escolas publicas e privadas.
O tempo de inserção no ensino superior para 40 % dos alunos se deu após quatro
meses ou mais após a conclusão do segundo grau, 32% imediatamente após, 16%
após dois semestres, 4% após um semestre e 8% não responderam a questão.
Quanto ao local de trabalho
Dos 56% que referiram trabalhar cerca de 40% trabalha na zona sul, 8% na região
do Grande ABC, 4% na zona sul e 4% na zona leste da cidade de São Paulo.
Constata-se que a grande maioria dos alunos esta atuando na cidade sede da
instituição e grande parte esta na região onde esta instalada a universidade.
Na questão que abordava o número de empregos que possuía todos os alunos
responderam terem somente um emprego, cerca de 44% trabalham em tempo parcial e
12% em tempo integral, o que é um indicador que apesar de serem trabalhadores
tem tempo para estudar e conciliar o emprego com os horários da universidade.
Quanto ao tipo de instituição em que atuam 20% caracteriza a instituição como
privada não filantrópica, 16% em privada filantrópica, 12% referem ser
autônomos e 8% atuam em cooperativas.
Conhecimento do curso
Quando indagados como conheceram a existência do curso. 36% afirmaram ter
tomado conhecimento do curso por pessoas conhecidas, 32% referiram outros meios
mas não apontaram quais, 16% por meios de comunicação e 16% pelo site da
universidade, 8% por panfletos e 4% por divulgação em cursinho.
4. CONCLUSÕES
A caracterização demográfica dos ingressantes do curso em análise, no ano de
inserção de 2004, indicou que a população é constituída por adultos jovens,
predominantemente do sexo feminino, casados e sem filhos.
A grande maioria é aluno trabalhador e uma minoria trabalhador na área da
saúde, todos atuantes na região do entorno da universidade e tendo um emprego
somente e na sua maioria atuam em instituições privadas ou não filantrópicas.
Uma boa parte dos ingressantes fizeram seu ensino médio em escola pública e sua
inserção em instituição de ensino superior se deu na grande maioria acima de
dois a quatro semestres após a conclusão.
O seu conhecimento pelo curso foi através dos meios de comunicação. E
principalmente por pessoas, o que é um dado relevante já que o curso é novo e a
indicação deve ter partido de outros alunos de outros cursos que acreditam no
potencial da universidade, para indicarem a mesma para seus conhecidos.
O estudo indica que a inserção deste curso de enfermagem se deu em uma região
da cidade de São Paulo e esta atendendo a comunidade a que pertence, em
posições relativamente favoráveis. A atitude do Ingressante em relação ao seu
desenvolvimento demonstra possibilidades de crescimento, sendo desejável o
prosseguimento do estudo para acompanhamento do fenômeno a médio e longo prazo.