A visão administrativa do enfermeiro no macrossistema hospitalar: um estudo
reflexivo
PESQUISA
A visão administrativa do enfermeiro no macrossistema hospitalar: um estudo
reflexivo
The nurse's administrative point of view in the hospitalar macro system: a
reflexive study
El punto de vista administrativo del enfermero en el macro sistema
hospitalario: un estudio reflexivo
Fábia Maria de SouzaI; Enedina SoaresII
IEnfermeira do Instituto Dr. José Frota, Fortaleza, CE. Mestre pela
Universidade Federal do Ceará UFC
IIEnfermeira. Bolsista do Programa de Desenvolvimento Regional DCR/CNPq/DENF/
UFC, Fortaleza, CE
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1.INTRODUÇÃO
As alterações ocorridas na prestação de serviços de saúde, ao exemplo da
evolução tecnológica e das mudanças nas relações socioeconômicas, têm afetado,
por vezes, significativamente, os padrões de assistência e, conseqüentemente,
as práticas de enfermagem. Essas alterações têm despertado o interesse para a
elaboração de estudos sobre as práticas administrativas do enfermeiro e de suas
tendências, oferecendo, não raro, uma contribuição para o aprimoramento
profissional e participação mais efetiva na sociedade.
É bem verdade que, no desempenho das funções administrativas, o enfermeiro, tem
sido estimulado a solucionar problemas de outros profissionais e atender às
expectativas da instituição hospitalar, relegando a um plano inferior a
concretização do seu próprio serviço.
Uma das grandes responsabilidades do enfermeiro/administrador é o exercício da
liderança em suas atividades(1). Consideram que ser líder e saber administrar
são condições absolutamente necessárias para o eficiente trabalho do
profissional de enfermagem, alijado-o da função meramente assistencialista.
Atente-se aqui para o fato de o enfermeiro ter enfatizado mais a sua função
fiscalizadora dos serviços e até punitiva do pessoal sob sua orientação,
chegando a exercer uma liderança autoritária na viabilização de normas e
rotinas da instituição.
Ultimamente, tem se observado que os administradores de enfermagem continuam a
buscar soluções imediatistas para problemas essenciais, permeados de conflitos
e divergências, servindo apenas para atender o aqui e agora, enquanto os
encaminhamentos, a médio e a longo prazos, deixam de ser contemplados,
descaracterizando o que há de essencial na situação problema, implicando
superação do estresse gerado pelas demandas assistenciais e administrativas
apresentadas.
Diante dessas situações, sentiu-se a necessidade de realizar este estudo, com o
objetivo de investigar a visão administrativa do enfermeiro na gerência do
macro-sistema hospitalar, com vistas à reflexão do processo de mudanças apoiado
na Teoria Contingencial de Administração.
A enfermagem no contexto da administração
A enfermagem é uma profissão que tem evoluído consideravelmente nos últimos
anos, em função do desenvolvimento técnico-científico e de sua prática
profissional. Estudada e explicada sob diferentes enfoques, a práxis da
enfermagem tem contribuído muito para o desenvolvimento pessoal e profissional,
da categoria, o que faz com que ela necessite do apoio de outras ciências, como
a administração, para a expansão do conhecimento.
A enfermagem, por constituir um conjunto de ciências, humanas e sociais, busca,
na administração a utilização do método científico, capaz de tornar o trabalho
operacionalmente racional(2). Autores experientes(3-6), ao longo da História
têm defendido a administração como um instrumento de qualquer organização.
Como os estudos da administração retratam o papel clássico e histórico do
administrador o de alguém responsável pelo trabalho dos outros o ato de
administrar consiste em orientar, dirigir e controlar o esforço de um grupo de
indivíduos, para o objetivo comum(4).
A princípio, surgiram os pensadores Jean Jacques, Rousseau 1770-1778, e Karl
Marx, 1813-1883: o primeiro, concebendo o homem como indivíduo bom e pacífico,
passível de sofrer algum tipo de dano pela sociedade; o segundo, concedendo ao
Estado a dominação econômica do homem sobre o homem. Além da contribuição
desses filósofos, a administração recebeu a influência da Igreja Católica, com
sua estética de poder centralizado. O mesmo ocorreu em relação às organizações
militares, cujo princípio da unidade de comando e da hierarquia produziu a
dicotomia entre o pensar e o fazer. Os economistas liberais, que pregavam a
livre concorrência com a racionalização do trabalho, também ofereceram sua
contribuição à administração. De igual forma, a ciência administrativa foi
marcada pela revolução industrial, cujas mudanças no sistema social e
econômico, quando da substituição das tarefas artesanais pela máquina,
provocara aumento de produção, baixa de preços e, conseqüentemente, aumento do
consumo(2,5,6).
Por assim ser, consideramos positivo o entendimento da prática de enfermagem,
sob uma reflexão do que ela representa, à luz das teorias de administração,
tomando por base a consciência de que as teorias coexistem em diferentes graus.
Esse entendimento possibilita a realização de estudos, tendo por suporte as
contribuições das escolas do pensamento administrativo para a enfermagem.
Nas instituições de saúde consideradas rigidamente hierarquizadas, é
estabelecida a subordinação integral de um indivíduo a outro e de um serviço a
outro(2). Portanto, a enfermagem, como um desses serviços, reproduz, na sua
estrutura, esse modelo hierárquico.
A administração participativa, como forma mais significativa por conta da na
democratização das tomadas de decisões, estabelece melhor satisfação no
trabalho e aumento da produtividade.
A teoria da burocracia, desenvolvida por Marx Weber, na década de 40, surgiu
para estabelecer novos sistemas de controle de pessoal(5). Sua proposta tinha,
como fulcro, a eficiência organizacional, ou seja, mantinha um caráter racional
e uma sistemática divisão de trabalho, com exagerado apego às regras, normas e
regulamentos, em detrimento da valorização do contingente humano.
O Serviço de Enfermagem, via de regra, segue o modelo da instituição, isto é,
guia-se pelas propostas burocráticas, cuja valorização das normas e regras
parece se encaixar no enfoque desta teoria, por sinal a que mais tem
influenciado a sua prática administrativa.
Na enfermagem, todo tipo de cuidado indireto representa uma atividade
burocrática.Uma uma grande preocupação sobre essa questão reside nas disfunções
da burocracia, em que o enfermeiro se envolve excessivamente, desempenhando
funções-meio e delegando a outros, os cuidados com os pacientes(2).
Outra fundamentação teórica, que serve de referencial à prática da enfermagem,
é a Teoria Geral de Sistemas, desenvolvida na década de 60, que consiste em
três princípios básicos: os sistemas existem dentro de um sistema; os sistemas
são abertos; as funções de um sistema dependem de sua estrutura.
A Teoria Contingencial de Administração compreende uma relação funcional entre
variáveis ambientais e técnico-administrativas. Os aspectos prescritivos e
normativos da organização, nessa teoria, são substituídos pelo critério de
ajuste entre a organização, o ambiente e a tecnologia. A abordagem
contingencial é considerada interativa, por absorver conceitos de diferentes
teorias administrativas, não admitindo conceitos absolutos.
Infere-se, de tais considerações, que as teorias da administração são
universais, passíveis de utilização em qualquer área do conhecimento. Desta
forma, é indispensável aos enfermeiros, o conhecimento dos princípios
fundamentais da ciência administrativa.
A enfermagem é concebida como prática social, historicamente estruturada e
socialmente articulada, caracterizada como um trabalho em saúde, sendo parte de
um processo coletivo(7).
Esse trabalho da enfermagem, tanto no modelo de saúde individual como no modelo
de saúde coletiva, interage como parte complementar de um mesmo processo de
trabalho(8).
No âmbito da administração, o exercício de gerência do enfermeiro tem sido
determinado, dentre outros aspectos, talvez, pela cultura organizacional da
instituição. O contexto em que se realiza essa prática gerencial está
caracterizado por diversas necessidades e possibilidades que nem sempre se
aproximam do propósito de oferecer uma adequada assistência ao indivíduo.
Como referencial teórico, para a fundamentação deste estudo, optamos pela
Teoria Contingencial de Administração, por ser a mesma um importante artifício
na administração de empresas, em particular a empresa hospitalar, por oferecer
subsídios para o bom desempenho da gerência de enfermagem.
A palavra contingência significa algo incerto, que pode suceder ou não,
dependendo das circunstâncias(5). Refere-se a uma proposição, cuja verdade ou
falsidade somente podem ser conhecidas pela experiência e pela evidência e não
pela razão. A abordagem contingencial salienta que não se alcança a eficácia
organizacional seguindo um único e exclusivo modelo de organizacão. Não existe
uma forma única, ou seja, a melhor forma para organizar, no sentido de se
alcançar os objetivos diversos da organização, dentro de um ambiente, também
varia.
2. METODOLOGIA
Na elaboração deste estudo, sobre a prática de administração do enfermeiro no
Macro Sistema Hospitalar, pretendeu-se dar um cunho descritivo, com apoio da
Teoria Contingencial de Administração, tendo, ainda, como referência, a
experiência de enfermeiros administradores que somos e a acumulação de
conhecimentos teóricos adquiridos na formação profissional.
Assim, em um primeiro momento, foi realizado um rastreamento em seis hospitais
públicos de grande porte, localizado na região metropolitana de Fortaleza,
Ceará, seguido da aproximação dos enfermeiros que exerciam a função específica
de gerência dos serviços de enfermagem, tendo sido, dessa forma, selecionados 9
enfermeiros como participantes do estudo.
Esse critério foi estabelecido pelo fato de instituições dessa natureza
conterem maior quantitativo de enfermeiros, servirem de campo de estágio para
alunos de graduação e pós-graduação das áreas de saúde e áreas afins, além de
manterem uma dinâmica de trabalho com estruturação técnica.
Dos enfermeiros gerentes participantes, todos são do sexo feminino, encontram-
se na faixa etária entre o 25 e o 45 anos, têm entre 05 e 20 anos de formados.
Quanto ao regime de trabalho, todas eram estatutárias vinculadas a instituições
públicas e, por serem chefes de serviço, cumpriam uma carga horária de 40 horas
semanais.
Acerca de suas experiências em administração, relataram ter adquirido no dia-a-
dia, no próprio local de trabalho, e através de leituras complementares, sendo
que duas delas referiram participação em curso intensivo de gerência e, também,
que estão trabalhando como administradores, há quatro anos, em média.
A alocação de enfermeiros nas gerências dos serviços é uma decorrência da
indicação da gerência geral institucional, observada sua disponibilidade e
aceite para o exercício da função.
Os dados foram coletados no período de agosto a dezembro de 2002, mediante
entrevista livre, cujo procedimento considerou-se o mais usual e apropriado
para o trabalho de campo, permitindo ao pesquisador a obtenção de informações
contidas nas falas dos atores, enquanto objeto da pesquisa, com vivência nessa
realidade. Vale ressaltar que a coleta de dados somente teve início após a
apreciação e aprovação da proposta de pesquisa pelos dirigentes das
instituições envolvidas e aceitação das enfermeiras que se dispuseram a
participar deste estudo, depois de submetida à aprovação pelo conselho de Ética
da UFC.
Foram utilizados, como instrumentos para registro de informações, o gravador,
fita cassete, além do diário de campo, para as anotações de situações surgidas
durante as entrevistas.
Assegurou-se a todas as participantes da pesquisa, que seus depoimentos seriam
utilizados, exclusivamente, para fins do estudo em referência e que a sua
desistência de participação, por qualquer motivo, poderia ocorrer, quando fosse
desejada. Concomitantemente, foi solicitada a permissão das chefias dos setores
envolvidos para a realização do levantamento das informações, tidas como
essenciais ao estudo, contendo a seguinte questão norteadora: qual a sua visão
de administração na gerência do macrssistema hospitalar?
As entrevistas gravadas foram transcritas na íntegra constituindo matéria
pronta para a análise, envolvendo recortes do que foi relatado, trazendo a lume
importantes aspectos da realidade. Esse procedimento ocorreu com um único
questionamento acerca da Visão Gerencial do Enfermeiro, no Macrossitema
Hospitalar.
3. RESULTADOS
A organização e análise dos resultados provêm de revisão de literatura
específica, na busca da compreensão da Teoria Contingencial de Administração,
relacionada ao conhecimento de administração e aos depoimentos prestados pelas
enfermeiras. Dessa forma, procurou-se salvaguardar os princípios dessa teoria,
em que se preconiza a natureza sistêmica da instituição, a relação dos
objetivos organizacionais e individuais, dentro de uma proposta integrada, que
a própria teoria impõe.
Da leitura das falas das entrevistadas, acerca da visão de administração que o
enfermeiro tem no macrossitema hospitalar, inferimos que essa visão aponta para
duas atividades distintas: liderança e controle
3.1 Atividade de liderança
Quanto à atividade de liderança, pelo que observamos nos depoimentos, as
enfermeiras ressaltam, na figura do gerente, as atividades de liderança, como
uma característica necessária para o desenvolvimento eficaz de suas atividades
administrativo-gerenciais:
(...) Eu considero que a gerência de enfermagem é desenvolvida
visando à coordenação de todo pessoal de enfermagem, na
operacionalização do processo de cuidar. O gerente deve ter
liderança, visando atender às necessidades do grupo (E 9)
(...) Eu vejo que a gerência de enfermagem está voltada para a
administração de uma complexidade de ações.. Essas ações são
desenvolvidas através de liderança que o enfermeiro exerce (E 3).
Percebemos, nesses depoimentos, que as enfermeiras, no momento em que
acompanham as mudanças no setor saúde e na enfermagem, têm procurado atentar
para os novos conceitos de gerência no desenvolvimento de sua prática, no
sentido de contribuir para a melhoria de qualidade da assistência prestada.
Os conceitos de liderança vêm acompanhando a evolução das teorias
administrativas e estão intrinsecamente inseridos no contexto da enfermagem,
quando, ao situar a liderança no exercício da enfermagem hospitalar, procurou
fazer algumas considerações conceituais a respeito do seu significado
diferenciado, ocorrente mesmo entre os administradores(9).
A pluralidade de acepções acerca do significado de liderança atesta que alguns
autores consideram a liderança como supervisão, outros consideram-na um
sinônimo de gerenciamento e ainda há os que vinculam a liderança somente aos
aspectos informais da organização.
Sabe-se, portanto, que a supervisão é uma função gerencial, que demanda uma
delegação legal de autoridade a alguém, para poder agir, conforme a
necessidade. A liderança, ao contrário de gerenciamento, pode ser identificada
na sua estrutura formal e também nos grupos informais de trabalho.Evidencia-se
, portanto, que a liderança é entendida como um processo coletivo, para o qual
é necessário a integração de esforços individuais, buscando alcançar objetos
definidos e compartilhados pelo grupo(10). Daí o conceito de gerência/liderança
ser considerado mais abrangente, conforme demonstrado nas falas das
respondentes:
(...) Ser gerente no macro sistema hospitalar é estar supervisionando
o trabalho das equipes que ali desenvolvem as suas atividades,
chefiando e cobrando o desempenho de cada um, no sentido de prover
uma assistência adequada ao paciente. (E 2)
(...) A enfermeira gerente faz de tudo um pouco, ela é uma líder, uma
autoridade no serviço, tendo que ser forte nas suas decisões. Ela
representa a direção da instituição e coordena as atividades do
pessoal. Por isso ela tem uma responsabilidade grande, diante dos
dirigentes do hospital. (E 5)
Percebemos não existir uma visão uniforme de liderança, por parte dos gerentes
de enfermagem, até porque se acredita que essa uniformidade é dependente da
estrutura organizacional e da própria dificuldade que o enfermeiro tem, para
definir um estilo próprio de liderança. Observamos, também, que, muitas vezes,
as enfermeiras têm uma visão deturpada de gerência, confundindo os termos
liderança e chefia, com uso indistinto, mesmo quando se observa que a chefia
está voltada, apenas, para dirigir o serviço.
Observamos que o desenvolvimento das atividades de gerência no macrossistema
hospitalar, pelo menos em nossa óptica, ainda está muito voltado para o
exercício de uma liderança condicionada à obediência à autoridade maior do
hospital, que delega o poder de supervisionar os serviços, inclusive os da
alçada dos médicos.
A liderança tem sido necessária em todas as atividades do enfermeiro, caso se
deseje que o profissional exerça com competência o seu trabalho, mesmo que se
trate do desempenho de funções administrativas que envolvam a interação entre
as pessoas(1).Essa preocupação deriva do fato de o enfermeiro ter capacidade
para influenciar as pessoas, com vistas às mudanças, o que, de certa forma,
proporciona uma melhoria na prática de enfermagem.
Como podemos verificar, a liderança tem sido também uma preocupação importante
e permanente dos administradores das organizações e das instituições de saúde,
de forma geral, mercê da sua importância no aumento da produtividade e da
prestação de bens e serviços. Nessa questão, a ênfase maior é dada ao processo
dinâmico de liderança, que varia de situação para situação, envolvendo líderes
e liderados.
Sob o ponto de vista da Teoria Contingencial, em que pese o estilo de
liderança, observamos que o melhor estilo de liderança depende da situação que
envolve o líder e os liderados(11). Portanto, considera-se que essa abordagem é
a forma mais racional de se estabelecer métodos e técnicas de gerência/
liderança - é após o conhecimento do problema e da circunstância, levando em
conta o ambiente, as tecnologias, os homens e as organizações(12).
A visão das enfermeiras a respeito de liderança do grupo dá a idéia de que nem
sempre os conceitos estão de acordo com o que é aprendido na academia. O mesmo
acontece em relação ao desenvolvimento de suas atividades, que por vezes ficam
à mercê do modelo organizacional que cada serviço adota. As enfermeiras, por
acomodação, ou até para sobreviverem, evitam enfrentar situações que requerem o
exercício de liderança, até por considerá-las estressantes e incômodas.
Os depoimentos, a seguir, confirmam essa linha de pensamento e de atuação do
profissional de enfermagem, no exercício da gerencia /liderança:
(...) eu vejo a gerência no macrossitema hospitalar, como um trabalho
muito estressante. Prefiro não estar na liderança, isto é, em linha
de frente nas decisões. Muitas vezes, deixo para os médicos decidirem
qual a melhor forma de encaminhar certos problemas. (E 6)
(...) O Hospital é um local com dinâmica de trabalho estressante.
Muitas vezes ficamos insatisfeitas porque são muitas as exigências
sobre o trabalho administrativo da enfermeira, originando atritos que
muitos nem tomam conhecimento. (E 3)
Estes depoimentos dão a idéia do quanto as enfermeiras estão insatisfeitas com
a sua atuação na gerência do hospital e como líderes, revelando sinais de
frustração, sem contar com os sentimentos de impotência para qualquer tomada de
decisão que envolva o trabalho em equipe. Isso leva a crer que essas
enfermeiras, quando na função de chefia, deixam-se condicionar ao poder
hegemônico do médico.
A enfermeira deve estar ciente e disposta a assumir as responsabilidades de
liderança, considerando, para tal, a necessidade de conhecer cada pessoa, com
suas diferenças individuais, no momento em que assume o compromisso de líder
(9). A autora ressalta que as questões sobre liderança têm impulsionado o
surgimento de estudos e de teorias acerca dessa temática, que se confirmam
através de alguns autores(12,13), que defendem que o conceito básico de
liderança situacional consiste na premissa de que não existe um único estilo de
liderança apropriada para toda e qualquer situação.
Assim, na Teoria Contingencial, admite-se o dinamismo da organização, no
instante em que é feita a escolha, pelo líder, de diferentes estilos de
liderança em diferentes situações. A abordagem da liderança, nessa teoria,
considera a natureza dinâmica do processo, que sofre alteração em cada situação
apresentada, em decorrência da modificação na conduta do líder e dos liderados,
e, ainda, na própria situação.
3.2 Atividade de controle
Associadas às atividades administrativas, na visão das enfermeiras, no
Macrossitema Hospitalar estão também, as atividades de controle. Nas falas das
depoentes, ficou bem claro que as expectativas administrativas da enfermeira
gerente estão relacionadas mais intrinsecamente ao controle de pessoal e de
material, no que diz respeito à previsão e provisão de materiais e equipamentos
e de recursos humanos.
(...) A enfermeira, no papel de gerente, é um profissional muito
importante. Considero um agente controlador de todas as situações e
atividades desenvolvidas no hospital, visando ao bom atendimento da
assistência ao paciente. (E 3)
(...) Eu acho que, na atuação da enfermeira gerente eae tenta, de
todas as formas manter o controle das situações e atividades, que
envolvem a assistência, em todos os níveis e em todos setores, no
sentido de minimizar problemas. (E 6)
Esses depoimentos favorecem a compreensão de como as enfermeiras gerentes se
vêem, na sua prática administrativa. A visão é de um profissional que executa
atividades de controle da assistência ao paciente. Observa-se que elas se
apresentam confusas quanto à compreensão de sua prática gerencial, quando
focalizam o controle das ações que envolvem as atividades de enfermagem e dos
demais membros da instituição, como parte de seu trabalho no atendimento ao
paciente.
Estudos acerca do controle, têm surgido com maior ênfase a partir dos estudos
da teoria científica, quando Fayol, ao definir as funções básicas de uma
empresa, delineou as funções administrativas, enumerando, como seus elementos,
o planejamento, a organização, a coordenação/controle(1). O controle é, assim,
a quarta função administrativa, com força bastante para interagir com os demais
elementos citados anteriormente. É justamente esse elemento que vem
complementar o ciclo do processo administrativo no macrossistema hospitalar.
O controle emerge como uma função importante na visão de algumas enfermeiras
gerentes, pois deve ser exercido de forma acentuada e predominante sobre as
outras funções, integrando-se ao processo administrativo, conforme ilustrado
nos depoimentos que se seguem:
(...) A gerência de enfermagem está mais voltada para o controle das
ações desenvolvidas pelo pessoal de enfermagem para a assistência ao
paciente (...) acho que há pouco planejamento para assistir esse
paciente, para o qual devem ser utilizadas normas e rotinas como
instrumentos de controle para essas ações. (E 4)
(...) Considero o termo administrar, bem complexo pois envolve o
poder de decidir, de executar, de dinamizar e de controlar. Na minha
prática de gerência, tento fazer de tudo um pouco, mas o controle de
funcionários e de material é, sem dúvida, uma exigência maior das
instituições. (E 7)
(...) Gerenciar é administrar. Envolve desde o planejamento, à
organização, passando pela execução e pelo controle de todas as
tarefas realizadas em serviço. O controle é muito presente para que
as coisas aconteçam. (E 2).
Na visão dos entrevistados, o controle parece contribuir para a eficácia e
eficiência das atividades administrativas de enfermagem. Este deve envolver
todos os métodos utilizados na assistência ao paciente, o que pode conduzir a
uma reorganização de padrões e métodos de trabalho. Nesse sentido, a base da
gerência está no controle, representando este o fundamento de todos os sistemas
gerenciais.
Neste sentido, consideramos que um fator que contribui para a visão
administrativa do enfermeiro no macrossitema hospitalar, estar relacionado ao
ensino, quando integra nos currículos os processos de trabalho do enfermeiro -
cuidar e administrar. Entretanto, tal fato não é verificado na prática,
contrapondo-se a preocupação da academia sobre a formação do enfermeiro, com a
prática real que essa profissional revela.
As enfermeiras entrevistadas são enfáticas quando falam de sua formação
administrativa:
(...) A formação administrativa do enfermeiro tem contribuído muito
para manter o enfermeiro dependente de organização mais interessada
com os objetivos de controle da instituição, do que com os objetivos
da profissão como processo. (E 4)
( ...) A gerência de enfermagem deve estar voltada para o
planejamento da assistência de enfermagem, tanto direto como
indiretamente... Digo que cada profissional deveria se organizar para
executar as suas atividades e não depender somente da instituição. No
entanto, essa questão não fica bem definida para o enfermeiro, na sua
formação administrativa em correlação às atividades técnico
assistenciais. (E 2).
Consideramos ser esta uma situação polêmica que aponta, de um lado, para a
questão histórica e ideológica da enfermagem e do outro para as exigências do
mercado capitalista. Há, ainda, um outro aspecto que envolve os órgãos
formadores, cuja dificuldade aparece ao ser tentada a definição de qual tipo de
profissional deverá formar; mediante a busca de novos modelos de administração
que possam aproximar mais a enfermagem do seu real papel profissional, criando
condições, assim, para uma intervenção mais efetiva na realidade, e prestando,
por conseguinte, uma assistência de boa qualidade em todos os níveis de
atenção.
Somos levados a acreditar que os modelos de administração podem estar
conduzindo o gerente a uma nova concepção de organização. A abordagem
contingencial salienta que não se atinge a eficácia organizacional, seguindo um
único e exclusivo modelo organizacional, ou seja, não existe uma forma única
que seja a melhor para organizar, no sentido de alcançar objetivos variados, em
um ambiente também variado.
Essa abordagem apóia-se na filosofia de que a forma mais racional para se
estabelecer métodos e técnicas de gerência, ocorre após o conhecimento do
problema e da sua circunstância, levando em conta o ambiente, as tecnologias,
as pessoas e as organizações.
Para a Teoria da Contingência, não há uma maneira melhor para planejar, para
liderar, para organizar um grupo, tampouco para controlar as atividades da
organização. Chiavenato tem razão quando ressalta que o melhor conceito e a
melhor técnica a serem selecionados ,são aqueles que fluem após o conhecimento
das circunstâncias que envolvem o problema enfrentado.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na visão administrativa do enfermeiro no Marcossistema Hospitalar, observou-se
uma tendência associativa do exercício de gerência para as atividades de
liderança e de controle. Nessa circunstância, apesar dos profissionais de
enfermagem terem essa visão clara e determinada de sua função administrativa no
processo de trabalho, entendida como atividade de liderança e de controle,
ainda persistem certos comportamentos que se contrapõem à realidade, refletindo
contradições que existem no seu cotidiano.
Analisando as falas das enfermeiras, observa-se uma preocupação com o dinamismo
do processo de liderança, apontando elas uma variação de situação para
situação, tanto para o líder como para os liderados. Nesse sentido, a Teoria da
Contingência admite o dinamismo da organização e permite a escolha, pelo líder,
de diferentes estilos de liderança, em diferentes situações. Nessa abordagem,
não se consegue eficácia e eficiência da organização, seguindo um único estilo
de liderança, ou seja, não há um único e melhor modo para liderar.
Nos depoimentos utilizados para análise, foram mencionadas, pelas enfermeiras,
as atividades de controle, as quais apareceram como uma função intrínseca do
processo administrativo, sendo consideradas importantes para o gerente/
administrador, por permitirem a certificação de que tudo o que fora planejado,
acabara por se realizar.
Acreditamos que o controle, emergindo como uma função importante e valorizada
pelas enfermeiras, não pode ser exercido de forma acentuada e isolada,
sobrepondo-se às demais funções do processo administrativo. Além disso, não
pode, por si só, garantir a eficácia e a eficiência das atividades
administrativas da enfermeira.
A administração de enfermagem no Marcossistema Hospitalar não é tarefa das mais
fáceis. A dificuldade maior centra-se na ausência de uma prática reflexiva
voltada para as mudanças conceituais administrativas entendidas pelas
enfermeiras.
Dessa forma, deve o administrador estabelecer e desenvolver um tipo de
organização, cujas características se ajustem à natureza do trabalho a ser
realizado. Para tanto, deve existir uma perfeita adequação entre trabalho e
organização de Recursos Humanos, cujo modelo certo vai depender da natureza do
que será realizado e das necessidades das pessoas envolvidas.