Perfil sociodemográfico e clínico de uma equipe de enfermagem portadora de
Hipertensão Arterial
INTRODUÇÃO
Diferentemente do ocorrido por longo tempo, hoje inúmeras políticas públicas
estão sendo elaboradas, voltadas, sobretudo, à saúde da população,
principalmente com o intuito de melhorar a assistência às pessoas por meio de
ações de promoção, proteção e recuperação da saúde. Urge, porém, desenvolver
ações centradas na saúde do trabalhador, em virtude dos elevados índices de
morbimortalidade presentes nos profissionais da saúde, em especial as doenças
crônico-degenerativas, a exemplo das cardiovasculares.
Dentre as doenças cardiovasculares, destaca-se a Hipertensão Arterial Sistêmica
(HAS), patologia capaz de afetar as estruturas físicas e psicossociais dos
indivíduos. Isso é mais acentuado quando se trata de profissionais da
enfermagem que atuam na assistência aos pacientes portadores de doenças
cardiovasculares, mostrando a necessidade da avaliação da hipertensão arterial
desses profissionais, por conhecerem as formas de tratamento e complicações da
hipertensão.
A HAS possui diversos fatores de risco, tanto modificáveis quanto não
modificáveis. Como não modificáveis mencionam-se os seguintes: história
familiar de doença coronariana; idade avançada; sexo masculino e raça negra.
Quanto aos modificáveis, incluem: dislipidemia; tabagismo; etilismo, nível
sanguíneo de glicose elevada; obesidade; sedentarismo; estresse, má alimentação
e uso de contraceptivo(1).
A literatura tem descrito a associação entre trabalho profissional, doenças
cardiovasculares e a influência do trabalho na elevação da pressão arterial(2).
Nos dias atuais, as pessoas estão trabalhando com carga horária que lhe tomam
praticamente todo o dia, não restando condições para usufruírem de atividades
prazerosas como o lazer, prática de exercícios, educação, cultura, boa
alimentação e descanso, no qual são acessórios importantes para qualidade de
vida e promoção de saúde.
Estudos com profissionais de enfermagem identificaram fatores favoráveis ao
desencadeamento de doenças, como sobrecarga de trabalho, dificuldade em
delimitar os diferentes papéis, problemas nas relações interpessoais, carga
emocional, recursos inadequados e falta de poder de decisão e de reconhecimento
(3).
A enfermagem é reconhecida como uma atividade humanitária e de intenso
trabalho, que desempenha sua assistência voltada para o cuidar, sobretudo lida
com situações de sofrimento, dor e morte em diversos momentos dos horários
laborais.
Contudo, no processo do cuidar a equipe de enfermagem atua como cuidador do
outro, e na maioria das vezes se esquece de praticar o autocuidado. Vários
fatores concorrem para essa problemática, entre estes, a dupla jornada de
trabalho, a responsabilidade, muitas vezes de garantir a manutenção da família,
e outros compromissos referentes às condições econômicas. Todas contribuem para
o surgimento da hipertensão arterial, incluindo, ainda, o estresse advindo do
ambiente de trabalho e o constante desgaste emocional em face desse convívio.
Segundo evidenciado, alguns membros da equipe de enfermagem, já manifestaram
complicações em decorrência da hipertensão arterial durante as atividades
laborais, tais como: acidente vascular encefálico, angina instável e infarto
agudo do miocárdio, bem como se depararam com crise de hipertensão moderada,
por falta de acompanhamento e tratamento regular.
Diante dessas considerações, busca-se responder aos questionamentos: quais as
características sociodemográficas dos profissionais da equipe de enfermagem
portadores de hipertensão arterial? Que fatores de risco da hipertensão estão
presentes? Os profissionais participam de programas educativos de hipertensão
arterial?
Conforme se acredita, a resolução dessas questões poderá sensibilizar os
profissionais de enfermagem quanto à importância de alguns aspectos, tais como:
realização dos exames periódicos, tratamento regular da hipertensão e
modificações no estilo de vida. Dessa forma, espera-se contribuir para adoção
de um comportamento mais saudável, favorecendo o controle da HAS nesses
profissionais, além de evitar mais casos de hipertensão arterial.
Tem-se, então, como objetivo geral: avaliar as características dos
profissionais de enfermagem com HAS em um hospital de doenças cardiovasculares.
E específicos: identificar o perfil sociodemográfico da equipe de enfermagem
portadora de HAS; verificar os fatores de risco modificáveis e não-modificáveis
para HAS presentes nos profissionais de enfermagem; averiguar a participação
dos profissionais de enfermagem em programas educativos de HAS.
MÉTODOS
Tratou-se de um estudo descritivo-exploratório desenvolvido em uma instituição
pública de saúde, um hospital de nível terciário, com referência em atendimento
cardiovascular para as regiões do norte e nordeste do país, conveniado ao
Sistema Único de Saúde, situado em Fortaleza, CE. O mencionado hospital dispõe
de 306 leitos, dos quais 39 pertencem à unidade de terapia intensiva para
adultos, 12 pediátricas, 241 leitos clínicos e 14 semi-intensivos.
Da população do estudo fizeram parte 278 enfermeiros, 219 técnicos de
enfermagem e 421 auxiliares de enfermagem que trabalham na referida
instituição. A amostra foi composta aleatoriamente e constituída por 130
membros da equipe de enfermagem, a saber: enfermeiros, técnicos e auxiliares de
enferma-gem, que atenderam aos critérios de inclusão: trabalhar na instituição,
prestando assistência de enfermagem ao cliente; ser portador de hipertensão
arterial; ter idade superior a 18 anos; estar trabalhando no período da coleta
de dados; e apresentar condições físicas e emocionais para responder aos
questionamentos. Como critérios de exclusão, constaram: estar de férias ou
licença no período de coleta de dados e não fazer parte do quadro assistencial.
A coleta de dados foi realizada em outubro de 2008, por meio de uma entrevista,
com a utilização de um roteiro contendo perguntas abertas e fechadas,
relacionadas às características socio-demográficas, ao conhecimento da doença e
seus fatores de risco, as condutas terapêuticas, e à participação em programas
educativos para hipertensão arterial.
De posse dos resultados, estes foram apresentados e analisados de forma
estatística e descritiva, e tabulados em tabelas no programa Excel do Windows
XP Professional.
Em atendimento ao exigido, a aceitação dos profissionais de enfermagem em
participar do estudo foi registrada no termo de consentimento livre e
esclarecido. O estudo seguiu os preceitos da Resolução nº 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde(4). Para tanto, o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e
Pesquisa do referido hospital, sob parecer nº 548/08.
Os dados obtidos foram analisados por meio de estatística descritiva.
RESULTADOS
Caracterização dos profissionais segundo a categoria profissional e
características sociodemográficas
O grupo estudado, composto por 130 profissionais da equipe de enfermagem
portadores de HAS, foi assim distribuído: 36 (27,7%) enfermeiros, 38 (29,2%)
técnicos e 56 (43,1%) auxiliares de enfermagem.
Na Tabela_1 constam os dados concernentes à atividade laboral na referida
instituição dos 130 participantes do estudo. Em relação ao grau de
escolaridade, 72,3% possui nível médio, representados pelos auxiliares e
técnicos de enfermagem. Dos 36 enfermeiros, 6,2% possuíam somente graduação em
enfermagem, 20% fez uma especialização, 1,5% concluiu mestrado. Como observado,
nenhum participante do estudo tinha doutorado.
![](/img/revistas/reben/v64n1/a03tab01.jpg)
Quanto ao tempo de trabalho na instituição, segundo identificado, variou de
seis meses a 25 anos, com uma média de 17 anos. Constatou-se um predomínio de
pessoas com hipertensão arterial nas unidades fechadas (45,4%), seguidas pelo
setor de emergência (36,1%) e pelas unidades abertas, com 18,5% desses
profissionais. Foram consideradas unidades fechadas: unidades de terapia
intensiva, semi-intensiva e centro cirúrgico; e unidades abertas: enfermarias
clínicas e cirúrgicas. Estes aspectos são relevantes, pois os profissionais que
trabalham com pacientes críticos possuem maior carga de estresse, fator
favorável para elevação da pressão arterial.
Ainda, como os achados da pesquisa mostraram, esses profissionais trabalham com
escala de serviço em plantões alternados entre diurnos e noturnos (32,3%), em
somente diurnos (30,8%), em plantões noturnos (25,4%) e em escala diária nos
dias úteis (11,5%). Ressalta-se com esses dados que menos de um quarto prefere
trabalhar somente no horário noturno, enquanto a maioria prefere trabalhar no
horário diurno.
Com base na Tabela_2, verifica-se dentre os 130 entrevistados a predominância
do sexo feminino (79,2%), e apenas 20,8% do sexo masculino. A idade dos
participantes variou de 23 a 65 anos, com uma média de 45 anos de idade.
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Quanto ao estado civil, segundo se observou no estudo, a maioria dos
entrevistados (41,5%) eram casados; 27 (20,8%) solteiros, 36 (27,7%) separados
e 13 (10%) viúvos. Em relação à cor da pele, 85 (65,4%) referiram ter cor da
pele não-branca e 45 (34,6%) se consideram da cor branca.
Fatores de risco não-modificaveis e modificáveis presentes nos profissionais de
enfermagem
Em relação à hereditariedade, fator de risco não-modificável para HAS, como
informamos, 93 (71,5%) profissionais tinham história familiar da doença; 20
(15,4%) não tinham esse fator hereditário; e 17 (13,1%) não sabiam de casos na
família com a HAS (Tabela_3).
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Por ser uma doença crônica, a Diabetes Mellitus não tem cura, apenas controle.
Portanto, é um fator de risco não-modificável. Embora esta patologia tenha sido
identificada em 32 (24,6%) profissionais, a maioria (66,9%) afirmou não ser
portador e 11 (8,5%) não sabe se é portador. No caso das doenças crônicas,
existem dois fatores principais de complicações: o diagnóstico tardio e o
déficit de conhecimento.
Em prosseguimento à análise dos dados do estudo, a prática do tabagismo foi
detectada em 66 pessoas, as quais confirmaram já terem sido fumantes em alguma
época de suas vidas. Como evidenciado, os efeitos do tabagismo são maléficos em
curto ou longo prazo para a saúde. Destas pessoas, 46 (35,4%) permanecem
fumando cigarros, 20 (15,4%) pararam e as demais (49,2%) relataram jamais terem
fumado.
No referente ao etilismo, foram identificados 84 profissionais. Enquanto 57
(43,8%) referiram ainda serem consumidores de álcool etílico, embora apenas
socialmente, ou seja, uma ou duas vezes por semana, uma garrafa de cerveja, 27
(20,8%) informaram que pararam de ingerir álcool. O consumo do álcool, de certa
maneira, eleva a pressão arterial tanto aguda quanto cronicamente.
Sobre a dieta, 41 (31,5%) participantes aderem a uma dieta saudável, contudo,
foram citadas várias dificuldades pelos profissionais para manterem uma
alimentação saudável, entre estas, a carga horária de trabalho elevada,
levando-os a alimentar-se em local não-domiciliar, o que favorece a ingestão de
produtos industrializados, ricos em gorduras e carboidratos e pobre em frutas,
legumes e verduras. Dessa forma, torna-se impossível o controle dos tipos de
alimentação, sobretudo realizar uma educação alimentar em seu cotidiano.
Ainda como identificado a dislipidemia estava presente em 32 (24,6%)
profissionais portadores de hipertensão arterial; 55 (42.3%) negaram a
existência deste fator de risco; e 43 (33,1%) desconhecem a presença de
dislipidemia.
Outro fator de risco analisado foi o sedentarismo. De acordo com a resposta dos
entrevistados 81 (62,3%) deles não praticavam exercícios. Destes, 20 (24,7%)
nunca praticaram, enquanto 49 (37,7%) praticavam regularmente exercícios, tais
como: caminhada e atividade aeróbica em academia, de três a quatro vezes por
semana.
Caracterização dos profissionais segundo a participação em programas educativos
e realização de exames
Como mostra a Tabela_4, 97,7% dos profissionais entrevistados nunca participou
de programas educativos para HAS e somente 2,3% mencionou sua participação em
programas educativos promovidos pela própria instituição ou em outros locais.
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Esses programas educativos envolvem a participação das pessoas com HAS e
contemplam ações de educação em saúde, direcionadas ao controle da pressão
arterial a partir do conhecimento da doença e seus agravos de saúde,
contemplando também assuntos como orientação nutricional, prática de exercícios
físicos, controle do peso, e principalmente estimulando para o autocuidado e
adesão ao estilo de vida saudável.
Quanto à realização dos exames periódicos na instituição, 64 (49,2%) não
realizam, apesar da existência do Serviço Especializado em Engenharia de
Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT), que é regido pela norma
regulamentadora (NR) nº 4(5).
Dos 66 profissionais que relataram realizar exame periodicamente, 28 (21,5%) o
fazem por iniciativa própria e 38 (29,3%) conseguiram na instituição, após a
implantação do SESMT.
DISCUSSÃO
Os achados constataram a alta predominância (43,1%) de HAS nos auxiliares de
enfermagem. Tais dados condizem com um estudo desenvolvido em Salvador, BA, que
constatou também uma predominância da hipertensão arterial nos auxiliares de
enfermagem, perfazendo um percentual de 40,1%(6), este fato pode ser decorrente
do maior quantitativo da equipe de enfermagem ser desse profissional.
Ressalta-se ainda, que a dimensão da problemática acerca da hipertensão
arterial e a magnitude envolvendo a amostra estudada no presente estudo,
surpreendem pelos altos índices de hipertensão presentes nesses profissionais.
Tal dado ocorre por se tratar de um grupo ocupacional da saúde, no qual seria
esperado encontrar menor prevalência da doença, em virtude da equipe de
enfermagem ter oportunidade de adquirir informações acerca da patologia,
tratamento e prevenção, e ainda tem o papel de disseminá-las. Especialmente,
por se tratar de profissionais que trabalham em um hospital de referencia nas
áreas cardiovascular, torácica e pulmonar, e atuar como centro de ensino e
pesquisa.
O referido hospital promove assistência à população do Estado do Ceará, de
forma humanizada e de qualidade, contemplando programas de qualidade de vida
direcionados aos clientes e funcionários. Para tanto mantém uma equipe de saúde
ocupacional para atender a todos os trabalhadores da instituição(7).
Nessa ótica, esses profissionais são agentes privilegiados, pois além de
vivenciar a realidade de pacientes com complicações das doenças
cardiovasculares, fazem parte de uma equipe que articula os fatores
imprescindíveis para a promoção da saúde.
Outro fator importante é a questão do autocuidado. Em estudo realizado para
investigação da prática do autocuidado vivenciada pela mulher hipertensa,
evidenciou-se déficit de conhecimento e adesão parcial ao tratamento, bem como
prática ineficaz do autocuidado, sobretudo era influenciada pela idade, pelo
estágio de desenvolvimento e por problemas sociais, financeiros e de saúde(8).
Nesse estudo, evidenciou-se que a maioria dos profissionais apresenta escalas
mistas de trabalho, a saber: plantões de doze horas, no período diurno e
noturno, com frequente alternância dos turnos. Em se tratando dos locais de
trabalho da instituição, a maioria (81,5%) atua em unidades de cuidados aos
pacientes críticos, como unidades de terapia intensiva e emergências. Esse fato
pode ser decorrente das melhorias salariais, referentes às políticas de
gratificação para profissionais que desempenham suas atividades em ambientes de
cuidados intensivos. Além das condições econômicas mais favoráveis, há maior
disponibilidade de material e equipamento para o desempenho dos serviços, bem
como à segurança do profissional. Entretanto isso se faz contraditório à
oratória da sobrecarga de trabalho e a falta de tempo para cuidar-se.
Nas análises de estudos sobre a relação do trabalho da enfermagem em unidades
críticas e suas repercussões na saúde dos trabalhadores, a equipe de enfermagem
integra uma das parcelas de trabalhadores de saúde que estão, cotidianamente,
expostos às cargas de trabalho excessivas, ou seja, exigências ou demandas
psicobiológicas do processo de trabalho passiveis de gerar, ao longo do tempo,
desgaste das capacidades vitais do trabalhador(9). Tal afirmação corrobora com
o nosso estudo que constatou um predomínio de pessoas com hipertensão arterial
nas unidades fechadas e setor de emergência.
Preocupa, ainda, a exposição dessa categoria aos riscos, derivados do ambiente
de trabalho e das atividades laborais, pois estes interferem diretamente na
saúde e devem ser permanentemente monitorados pela equipe de segurança e saúde
ocupacional. As condições precárias de trabalho e o achatamento salarial,
associados às más condições de vida, agravam ainda mais a situação, sujeitando
os profissionais a manter mais de um vínculo de trabalho e a uma carga mensal
longa e desgastante(10).
Ao analisar as relações de gênero, confirmou-se a participação dominante do
sexo feminino (79,2%) na equipe de enfermagem, evidenciando uma feminilização
do trabalho dessa equipe, corroborando com um estudo realizado com a equipe de
enfermagem sobre gênero e trabalho noturno, o qual também constatou predomínio
de mulheres que trabalham a noite(11).
Quanto à faixa etária, a prevalência da hipertensão arterial aumenta
progressivamente com a idade, sendo superior a 50% entre os idosos. Contudo,
esse estudo mostrou que 79,2% dos profissionais estão na faixa etária
correspondente ao adulto (40 a 59 anos) e idoso (> 60 anos). Tais dados podem
ser decorrentes de ter sido realizado com profissionais economicamente ativos
(12).
E em relação à cor, a grande parte dos participantes desse estudo tem a cor da
pele não-branca (pardas e negras), somando um percentual de 65,4%. Tais dados
condizem com um estudo desenvolvido em Salvador-BA, o qual constatou que as
mulheres pardas ou negras apresentaram quase duas vezes mais hipertensão
arterial do que as brancas, 38,7% e 22,1%, respectivamente(6).
Como fatores de risco não-modificáveis, além da idade, sexo e raça, citados
anteriormente, tem-se a hereditariedade de HAS, cujos achados mostraram o
predomínio de 71,5% com história positiva de hipertensão na família, condizendo
com o estudo desenvolvido no sul do Brasil, o qual encontrou um índice de 56,3%
de prevalência da hipertensão tanto paterna quanto materna dos sujeitos
estudados(13).
Entre os fatores modificáveis, a dieta inadequada e o padrão sedentário de vida
estavam presentes na maioria dos profissionais de enfermagem participantes do
estudo.
Em relação à dieta, atualmente o mundo oferece dietas industrializadas
consideradas favoráveis aos fatores de riscos para a hipertensão. Agravados
pelo sedentarismo, esses fatores contribuem para a elevação de riscos para as
complicações tardias e imediatas da doença(14).
Outro aspecto relevante a ser considerado na dieta como fator de risco é o uso
do sal, principalmente quando adicionado à comida, no momento da refeição(13).
Conforme amplamente divulgado, a prática de atividade física é necessária e
importante. Contudo, deve-se avaliar a frequência e a intensidade dos
exercícios, pois nos estudos, dos autores ora citados, embora a maioria dos
entrevistados (71,9%) praticasse alguma atividade física com regularidade,
apresentavam sobrepeso(14).
Um estudo, ao buscar a prática de exercícios como um fator benéfico para o
estilo de vida e a prevenção e/ou controle dos níveis pressóricos, detectou que
os homens praticavam esporte no final de semana jogando futebol de salão, já as
mulheres não praticavam esportes e não exerciam qualquer tipo de atividade que
prevenisse o excesso de peso e, conseqüentemente, a hipertensão arterial,
confirmando a prevalência do sedentarismo na população urbana brasileira é
maior em mulheres do que em homens(15).
Prevenir e tratar a hipertensão arterial envolve ensinamentos para o
conhecimento da doença, de suas inter-relações, de suas complicações e implica,
na maioria das vezes, a exigência de mudanças de hábitos de vida(16).
Ao tratar a hipertensão deve-se ter em mente os fatores de risco associados e o
impacto do tratamento nestes fatores. Assim, apesar de um controle satisfatório
da hipertensão, outros fatores de risco potencialmente maiores podem sobrepor-
se, e, desse modo, a situação clínica do paciente não melhora(17).
Segundo se inferiu a partir dos dados desse estudo, quanto aos aspectos da
prevenção e controle da hipertensão arterial, os profissionais estão em
condições inadequadas. Portanto, tais resultados denotam a exposição desses
profissionais aos riscos ocupacionais. Reforçam, assim, a necessidade de um
acompanhamento regular desses profissionais mediante instituição formal dos
cuidados a serem implantados, sensibilizando todos os envolvidos no processo do
cuidar.
Embora tenham consciência acerca do assunto, os profissionais afirmaram ser
imprescindível a existência desse tipo de programa direcionado para as
categorias profissionais.
Os componentes da síndrome hipertensiva são muitas vezes fatores de risco
cardiovascular independentes. Dessa forma, os esquemas terapêuticos propostos
com intenção única de baixar os níveis pressóricos não obtiveram uma redução da
morbidade e mortalidade como esperado. Urge, então, desenvolver programas com
vistas à prevenção dos fatores de riscos modificáveis e maior adesão ao
tratamento da hipertensão arterial(17).
Propõem-se a educação em saúde, por ser reconhecida pelo seu potencial para
redução de custos junto a diversos contextos da assistência, por favorecer a
promoção do autocuidado e o desenvolvimento da responsabilidade sobre decisões
relacionadas à saúde, é vista, sobretudo, como questão importante, entretanto a
efetividade de estratégias utilizadas para tal fim vem merecendo debates(18).
A instituição, por meio do SESMT, tem o dever de elaborar e implementar o
Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) para programar as
ações preventivas ou corretivas das doenças e riscos ocupacionais. A Norma
Regulamentadora (NR) nº7 estabelece a obrigatoriedade dessa preparação com o
objetivo de promover e preservar a saúde de seus trabalhadores(5).
Algumas destas oportunidades de melhoria contínua podem ser desenvolvidas pelo
enfermeiro do trabalho, tais como: programas para gestantes, análise dos
indicadores de saúde, atividades educativas baseadas no diagnóstico das doenças
ocupacionais do ano anterior, acompanhamento de portadores de necessidades
especiais, subnormais e portadores de doenças crônico-degenerativas, programa e
registro de imunização no prontuário clínico e individual, reciclagem dos
profissionais do SESMT a cada dois anos, incentivo à pesquisa e divulgação em
saúde(19).
Para alcançar os objetivos da saúde ocupacional, é preciso haver uma
sistemática de monitoramento dos programas da medicina preventiva. Apesar de a
legislação brasileira ser uma das mais avançadas no mundo em relação à proteção
do trabalhador contra doenças e acidentes do trabalho, e embora este fato
denote grande evolução, nem sempre a legislação é cumprida e fiscalizada(20).
A enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde do ser humano e a
qualidade de vida da pessoa, família e coletividade. Tal como outros
profissionais de saúde, o enfermeiro também é vulnerável aos fatores que
predispõem às doenças crônicas não transmissíveis, como a hipertensão arterial.
Em virtude da potencialização dos fatores a que os profissionais da saúde estão
expostos, concentra maior possibilidade de falha no autocuidado desses
profissionais, sobretudo quando relacionado à hipertensão, considerada uma
enfermidade que se instala de maneira silenciosa.
Embora a enfermagem seja reconhecida como uma atividade penosa, por lidar com
situações de sofrimento e pela continuidade e disponibilidade exigidas por esse
trabalho, a equipe de enfermagem é um agente privilegiado na disseminação de
informações e conhecimento sobre a hipertensão arterial e suas complicações,
por atuar como intermediário entre o contato de uma rede de atendimento
multidisciplinar(6).
Além disso, a equipe de enfermagem executa atividades profissionais que
requerem não apenas a segurança da pessoa, família e comunidade que estão aos
seus cuidados, mas também exigem condições de trabalho que promovam a sua
própria segurança, especialmente a sua qualidade de vida no trabalho. Para
tanto, os profissionais devem desempenhar seu papel com competência técnica,
científica, ética e legal.
CONCLUSÕES
O sucesso para o controle da HAS nos profissionais de enfermagem está ligado ao
desenvolvimento de estratégias de educação em saúde e programas preventivos de
acompanhamento para esses profissionais. Além disso, ressaltam-se os riscos
inerentes ao ambiente de trabalho, no qual é composto não só da infra-estrutura
física e técnica, mas, pelas pessoas que o utilizam, pois são as pessoas que
contribuem ou não para um ambiente saudável e desejado. As suas atitudes são
vitais para a mudança de um ambiente organizacional.
De acordo com o estudo, os profissionais de enfermagem quanto aos aspectos da
prevenção e controle da hipertensão arterial estão em condições inadequadas. Os
resultados ora obtidos denotam a exposição desses profissionais aos riscos
ambientais e ocupacionais que possam contribuir a desenvolver tal patologia.
Reforça-se, portanto, a necessidade de um acompanhamento regular mediante
instituição formal dos cuidados a serem implantados, sensibilizando todos os
envolvidos no processo do cuidado.
Quanto ao perfil sociodemográfico da equipe de enfermagem portadora de HAS,
constatou-se predomínio das seguintes características: sexo feminino (79,2%),
idade entre 40 a 60 anos (68,4%), casado (41,5%), cor não-branca (65,4%).
Percebe-se que, como a maioria dos participantes do estudo são mulheres,
ressalta-se a importante inclusão de políticas públicas envolvidas na saúde da
mulher, além da hipertensão arterial, dando ênfase ao modelo holístico
biopsicossocial do cuidar.
Os fatores de riscos modificáveis estavam presentes nos profissionais de
enfermagem na seguinte ordem de prevalências: dieta inadequada (68,5%),
sedentarismo (62,3%), etilismo (43,8%), tabagismo (35,4%), diabetes mellitus
(24,6%) e dislipidemia (24,6%). E a hereditariedade, como não-modificável,
estava presente em 71,5% dos profissionais.
Desse modo, além da preocupação de controlar a pressão arterial deve-se
enfatizar a prevenção, por ser a melhor terapêutica, sobretudo o combate aos
fatores de risco, o qual deve ocorrer por meio de estratégias educativas de
saúde.
Ademais, a instituição possui uma parcela de contribuição relevante no processo
de adoecimento do profissional, decorrente da falta do controle de um ambiente
corporativo, por necessidade de adequação dos seguintes aspectos: definição das
políticas de recursos humanos, definições das tarefas a serem realizadas,
ofertas de condições físicas adequadas e estímulo frequente à integração das
pessoas e equipes.
As políticas públicas envolvendo a saúde do trabalhador contemplam ações de
promoção, proteção, e recuperação da saúde. Diante desta realidade, os
profissionais com ascendentes índices de fatores de risco devem receber
acompanhamento periódico e exercer uma prática de autocuidado favorável à
redução das complicações. Essa prática de autocuidado deve ser intensificada,
sobretudo, em pessoas já portadoras de HAS.
Em relação à participação em programa de educação em saúde para hipertensão ou
doenças cardiovasculares, verificou-se que 97,7% dos profissionais
entrevistados não participavam, embora concordassem que para minimizar as
consequências da hipertensão fosse necessário trabalhar os fatores de risco,
prevenindo assim as possíveis complicações.
Então, é necessária a elaboração e promoção de estratégias de incentivo e
adoção de medidas para controlar os fatores de risco da hipertensão por parte
da instituição e gestores, na expectativa de reduzir as co-morbidades e as
mortalidades. É preciso melhorar, particularmente, a qualidade de vida dos
profissionais, considerando também a necessidade da implantação de programas de
qualidade de vida, direcionada não só para os clientes, mas para os
profissionais, fomentado por uma equipe de saúde ocupacional interdisciplinar,
com vistas a evitar as doenças ocupacionais, com práticas voltadas para
sensibilização e responsabilidade referente ao autocuidado e estilo de vida.
Para isso, é indispensável reconhecer a educação em saúde como um processo
contínuo.
Sugere-se, ainda, que sejam selecionados profissionais de saúde para compor uma
equipe de prestação de serviços especializados e seguros aos trabalhadores.
Caberá a esta equipe estabelecer uma meta com assistência global que atenda às
necessidades dos servidores e valorize a diversidade de papéis, com vistas à
integralidade. Sobretudo, ressalta-se a importância para estimular os gestores
a inserir uma política de saúde direcionada para a população feminina e
masculina. Espera-se, assim, garantir a adesão de todos os profissionais ao
tratamento, sobretudo mediante a sua participação no processo do cuidar, fator
essencial.
Recomenda-se, portanto, a realização de outros estudos nesta linha de
investigação, sempre com foco no bem-estar do trabalhador de saúde, visando uma
abrangência de possibilidades para prestação de cuidados e vigília em relação
aos riscos a que estão expostos esses trabalhadores.