Dilemas éticos em UTI: contribuições da Teoria dos Valores de Max Scheler
INTRODUÇÃO
A terminalidade da vida no contexto do avanço biotecnológico tornou-se uma
problemática significativa para os profissionais de saúde(1). A bioética,
entendida como a ética aplicada à vida em um contexto social(2), permitiu o
surgimento do pensamento reflexivo como base para nortear as condutas
terapêuticas e a tomada de decisão frente aos dilemas éticos presentes nas
diversas áreas de atuação dos profissionais de saúde. O dilema ético em certa
medida configura-se como quebra do isolamento da própria consciência e a
reconquista da relevância da práxis livre e autônoma.
Os dilemas éticos podem ser entendidos como a necessidade de escolha entre duas
ou mais alternativas, igualmente desejáveis ou indesejáveis, passíveis de
questionamento moral, sendo necessários a reflexão e o diálogo transdisciplinar
para tomada de decisão, pois não há resposta pronta, conduta preestabelecida ou
valores absolutos(1,3).
As Unidades ou Centros de Terapia Intensiva apresentam, peculiarmente, os
dilemas éticos relacionados aos limites de ação terapêutica envolvidos com a
pluralidade dos valores das pessoas envolvidas(1). Estas unidades, que são
destinadas ao atendimento de pacientes graves ou de risco de morte(4),
apresentam aparatos tecnológicos e cuidados complexos que podem promover a
estabilização de quadros clínicos graves, salvando vidas, ou podem promover o
prolongamento do processo de morte de pacientes gerando sofrimento e ansiedade
para o paciente, para familiares e para a equipe multiprofissional,
especialmente para a enfermagem. O prolongamento exagerado da morte, quando a
mesma é inevitável, causando ansiedade e sofrimento é conhecido como
distanásia, também é compreendido como tratamento fútil ou obstinação
terapêutica(5).
O dilema ético está permeado pela cultura, filosofia e pelos valores que
baseiam as mesmas. A pluralidade dos diferentes contextos culturais de uma
sociedade que são constituídas de indivíduos que hierarquizam seus valores de
maneira singular baseados pela autonomia permite constantes indagações sobre as
questões que envolvem a vida e, principalmente, sua terminalidade.
A negociação de valores, nestas situações, permite que os direitos e os deveres
dos envolvidos sejam cumpridos e que a solução escolhida garanta mais
benefícios do que malefícios. Isso exige profissionais de saúde comprometidos
com a ética, e capazes de permitir a existência do diálogo multidisciplinar e a
participação da família para tomada de decisão, porém a participação do
enfermeiro no processo de tomada de decisão em situações que envolvem dilemas
éticos ainda apresenta uma série de obstáculos como o despreparo para
desenvolver o diálogo multiprofissional, o distanciamento de profissionais
devido ao sofrimento emocional que tais situações podem acarretar e o
comportamento passivo ou alienação que pode ser um indício do desconhecimento a
respeito da ética e da falta de reflexão sobre os próprios valores morais que
torna qualquer profissional incapaz de identificar e negociar valores em um
contexto social(6).
Tais obstáculos apresentam, como consequências, a insatisfação, angústia,
índices de Burnout, e é fato que o sofrimento moral acarreta consequências
significativas para os enfermeiros(7). O enfermeiro é um sujeito que busca,
naturalmente, realizar-se como profissional e como indivíduo. Os dilemas e
conflitos são um entrave para a conquista da realização profissional e para a
conquista da qualidade da assistência, pois uma depende da outra e são
requisitos para a qualidade total de uma instituição(8).
Este estudo surgiu a partir das experiências e reflexões proporcionadas no
ambiente hospitalar. O objeto deste estudo são as possibilidades de vivência de
dilemas éticos pelos enfermeiros da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um
Hospital Universitário sob a perspectiva filosófica de Max Scheler. Para
nortear esta reflexão formularam-se as seguintes questões: Os enfermeiros
vivenciam dilemas éticos? Quais? Que valores norteiam suas atitudes e decisões?
Como objetivo deste estudo tem-se o de refletir sobre os dilemas éticos
vivenciados por enfermeiros na Unidade de Terapia Intensiva, e os valores
norteiam suas atitudes e decisões tomando como base o referencial teórico de
Max Scheler. O estudo torna-se relevante tendo em vista a ocorrência de
diversas situações de conflitos éticos que o profissional de saúde enfrenta.
Além disso, ressalta-se a necessidade de uma educação intensiva e contínua dos
médicos e enfermeiros em ética(9), pois "a ética é um fazer, é uma ocupação,
que é preciso conhecer para ser levada a cabo com êxito. É uma tarefa dos
indivíduos, dos povos e das organizações, que pretendem com isso alcançar sua
plenitude ou, o que é idêntico, sua felicidade"(10).
As contribuições desse referencial no contexto da ética profissional são de
suma importância na medida em que para o avanço do saber faz-se necessário a
troca de visadas com outras disciplinas, configurando-se como intercessão de
variadas instâncias, já que a expressiva produção do saber da enfermagem
firmadas na intercessão de instâncias interdisciplinares e na pluralidade do
conhecimento científico, tem sobrepujado muitos paradigmas e desafios na
profissão.(11)
REFERENCIAL FILOSÓFICO
A teoria dos valores de Max Scheler aborda sobre a objetividade dos valores e
seu processo de apreensão de caráter emocional. Através da percepção emocional
afetiva pura se dá o acesso ao mundo dos valores éticos que estão fundados no
conhecimento do bem e moldam a conduta do homem. Para Scheler os valores
existem a priori, existem de forma objetiva, são independentes de qualquer
pessoalidade dos sujeitos que os portam, mas são apreendidos através de um
processo emocional(12). O sujeito precisa viver uma experiência que o levará ao
conhecimento do valor, de sua essência, que é captada através da intuição
emocional, que também é denominada "emoção pura" definida por Scheler como um
dom superior. A partir dessa premissa afirma-se que a racionalidade não é capaz
de abarcar em si toda amplitude da realidade(13).
Na medida em que os valores são conhecidos por cada sujeito a sua incorporação
exige sempre uma reorganização de sua hierarquia. Os valores, em Schelerº(4),
são hierarquizados em categorias do inferior ao superior, e compreendidos por
antíteses da seguinte forma: 1. Valores sensíveis (alegria-tristeza, dor-
prazer); 2. Valores da civilização (útil-danoso); 3. Valores vitais (nobre-
vulgar); 4. Valores espirituais ou culturais que incluem: Valores estéticos
(belo-feio), Valores ético-jurídicos (justo-injusto) e Valores especulativos
(verdadeiro-falso); 5. Valores religiosos (sagrado-profano).
A partir da hierarquização dos valores o indivíduo constrói o seu ethos. Na
medida em que se adquirem novos valores essa hierarquia é reorganizada. A
pessoa adquire os valores e o seu conteúdo apriorístico através de uma intuição
emocional. Como a liberdade é imprescindível para a ética, na medida em que um
indivíduo possui valores ele mesmo pode preferir ou preterir esses valores. "O
valor superior é captado como tal pelo ato de preferência e o inferior pelo ato
de preterição"(12). Depreende-se, a partir da leitura em Scheler, que os
valores sensíveis são importantes, entretanto encerram-se em si mesmos não
contemplando o homem por inteiro, por isso considera que uma ética baseada só
nos bens materiais e sensíveis acaba provocando o esvaziamento do homem
interior.
Na perspectiva scheleriana, só através do amor podemos chegar à realidade da
pessoa que constitui o núcleo ontológico do outro. Por outros meios, como os
racionais e científicos, podemos conhecer o caráter, o temperamento, nunca a
pessoa do outro. Por estes métodos, não identificamos a pessoa, mas somente
dados, sinais e particularidades e se ignora a que indivíduo pertencem(12). No
pensar de Scheler, destaca-se que "a pessoa individual não nos é dada senão no
ato de amor, e seu valor, enquanto valor individual não se nos revela senão
através desse ato"(15:318).
Nesse sentido, para cuidar é preciso conhecer o outro, o paciente, o familiar,
os profissionais, e estes não são constituídos somente por dados lógicos, mas
também por uma série de subjetividades, dentre elas, os valores. E, para que
esses valores sejam identificados, é preciso que exista uma relação permeada
pelo amor, que se torna a motivação para o agir, com base nos valores éticos.
Para a enfermagem, as premissas do pensamento de Scheler podem contribuir
significativamente na prática do cuidado, fortalecendo filosoficamente a sua
essência, subsidiando o exercício de uma ética baseada em princípios e, assim,
aprofundar estudos sobre a temática.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo, de abordagem qualitativa, modalidade esta que
permite compreender um problema da perspectiva dos sujeitos que o vivenciam, ou
seja, parte de sua vida diária, sua satisfação, desapontamentos, surpresas e
outras emoções e sentimentos(16).
A coleta de dados foi por meio de entrevista focalizada, visando buscar dos
enfermeiros, a narrativa de fatos que demonstrem a vivência de dilemas éticos.
O instrumento de coleta de dados foi elaborado com questões norteadoras as
quais permitiram que o entrevistado pudesse expressar sem restrições suas
experiências cabendo ao entrevistador somente nortear o diálogo: 'Você vivencia
algum dilema ético? Caso sim, quais? Que valores norteiam suas atitudes e
decisões?'
O cenário da pesquisa foi a Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital
Universitário em Niterói-RJ, no período de junho a agosto do ano de 2009. Os
sujeitos da pesquisa foram 10 enfermeiros com atuação profissional em UTI. Os
critérios de inclusão adotados foram que os enfermeiros tivessem mais de um ano
de experiência profissional em Unidade de Terapia Intensiva e aceitassem
participar da pesquisa.
As entrevistas foram gravadas, após o devido preenchimento do Consentimento
Livre e Esclarecido pelos enfermeiros a serem entrevistados, e posteriormente
foram transcritas na íntegra. Os dados foram coletados tendo sido resguardada a
liberdade do entrevistado em deixar de participar da pesquisa, sem prejuízo de
qualquer ordem.
Os enfermeiros entrevistados possuiam faixa etária entre 24 e 48 anos, sendo
oito do sexo feminino e dois do sexo masculino, e todos tinham mais de um ano
de experiência em UTI. Os enfermeiros exerciam, no período, atividades
gerenciais de coordenação, como diaristas ou plantonistas. A pesquisa respeitou
as determinações da Resolução 196/96/ CNS, tendo sido aprovada no Comitê de
Ética e Pesquisa do Hospital Universitário Antônio Pedro, mediante CEP CMM/
HUAP nº 070/09, e Protocolo CAAE nº 0054.0.258.000-09. Os dados foram
analisados e categorizados, sendo amparados teoricamente a partir do
referencial de Max Scheler.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As categorias que emergiram no estudo foram sobre "a vivência de dilemas
éticos" e "os valores norteadores dos enfermeiros". Os dilemas vivenciados
foram concernentes à terminalidade, no que se refere aos limites de
intervenções terapêuticas, utilização dos recursos materiais e transfusão de
sangue, em caso de restrição religiosa. Os valores que permeiam os dilemas
éticos vivenciados pelos enfermeiros foram identificados e classificados
conforme a hierarquia da Teoria dos Valores da seguinte forma: o amor pela
profissão, evidenciado como um dos valores sensoriais; a humildade, como um dos
valores vitais; o respeito, a dignidade, a justiça, constituindo valores ético-
jurídicos no âmbito dos valores culturais ou espirituais, além do conhecimento
científico, como valor lógico; e, finalmente o amor a Deus, dentre os valores
religiosos.
A VIVÊNCIA DE DILEMAS ÉTICOS
Os dilemas éticos são caracterizados pela necessidade de optar por uma
determinada alternativa dentre outras, onde haverá resultados igualmente
desejáveis ou indesejáveis, sendo imprescindível a reflexão de cada situação em
específico. Para os dilemas éticos não há resposta pronta, conduta
preestabelecida ou valores pré-determinados(3). As decisões podem ser
justificadas tecnicamente, porém são passíveis de questionamento, onde os
valores estão envolvidos. Os enfermeiros entrevistados relataram que
vivenciaram situações de dilemas éticos.
O dilema da conduta terapêutica estabelecida em pacientes terminais na UTI
Algumas apreensões apontam haver conflitos em relação a determinadas condutas
no exercício profissional, no diálogo interdisciplinar entre médicos e
enfermeiros, especialmente no que se refere à diferenças de abordagens no
cuidado.
Aquele conflito entre os profissionais onde às vezes a enfermagem
acha que tem que ter uma conduta com o doente e o médico acha que tem
que ter uma outra conduta. Os dilemas éticos são mais nesses
sentidos. E1
Você tem certeza que você quer aumentar a noradrenalina desse
paciente, tem certeza que é isso que você vai fazer? Não é que eu
preferia que ele morresse, mas porque olhar para ele daquela forma, e
depois para família enterrar seu ente querido e olhar para ele roxo.
E2
Eu tenho plantonistas que antes do doente parar (parada
cardiorrespiratória) ele fala 'não tem porque fazer manobra de
ressuscitação nesse paciente', ok, fechou ali. [...]. E temos aquele
dilema: fazer ou não fazer? Você está fazendo alguma coisa viável,
você está prorrogando a vida dele, você está aumentando o sofrimento
dele? E6
O dilema ético que eu vivencio lá é o investimento excessivo em
pacientes terminais, por exemplo, o uso excessivo de nora [... ]
sabemos que está errado, mas ficamos de mãos atadas, porque se não
aumentar irão nos cobrar. E9
Não existe um consenso a respeito das medidas terapêuticas aos pacientes
terminais, o que de fato caracteriza as situações apresentadas como um dilema
ético, ou seja, cada situação deve ser pensada unicamente, pois não há uma
conduta preestabelecida e qualquer decisão que for tomada acarretará um
resultado desfavorável. Outrossim, dentre as opções, deve ser escolhida a que
menos causará consequências danosas ao paciente, respeitando os princípios
éticos das pessoas envolvidas. Existem discussões a respeito da distanásia, que
signific o prolongamento exagerado da morte de um paciente causando ansiedade e
sofrimento, compreendido como tratamento fútil, quando as condutas
terapêuticas, que visam salvar a vida do paciente terminal, e causam grande
sofrimento por prolongar o processo de morte. A distanásia tornou-se um dilema
ético e considera-se uma obrigação moral parar o que é medicamente fútil e
oferecer conforto e amenização do sofrimento(2).
Pode-se destacar que os enfermeiros consideram mais importante a dignidade do
paciente e assumem uma postura mais ética em relação à vida do paciente
considerado terminal na UTI. Os profissionais determinam o que é necessário e o
que é fútil com base em seus valores.
O dilema da utilização de recursos materiais e infra-estrutura
Outro dilema ético mencionado pelos enfermeiros está relacionado ao uso da
tecnologia, seja de que ordem for, empregada em pacientes considerados graves
com menos chances de responder ao tratamento empreendido.
Os nossos dilemas são em relação ao material, ao quantitativo de
material, à insuficiência de determinadas coisas que a gente tem que
escolherpra quem vai. E1
[... ] um medicamento caríssimo, o médico diz que o paciente vai se
beneficiar com este medicamento e aí você fica na dúvida, não é toda
hora que você tem isso no hospital e então, faz ou não faz? Isso eu
estou falando de uma pessoa idosa, noventa e oito anos, diabética,
cheia de comorbidades, não estou falando de um cliente jovem, nós
temos vários parâmetros a estar trabalhando... mas, por outro lado,
isso me aflige, eu vou estar usando um dos poucos recursos que o
hospital tem para um paciente que tudo me leva, tudo me indica que
ele não vai responder, e normalmente ele não responde. E10
É notável que todos os dilemas éticos categorizados em discordância sobre as
condutas terapêuticas estabelecidas aos pacientes terminais e sobre o uso dos
recursos materiais estão intimamente relacionados. O dilema entre usar ou não
usar um material está relacionado, também, à discordância sobre uma terapêutica
estabelecida que tenha sido julgada como ineficaz ou fútil diante da finitude
da vida do paciente.
Os recursos materiais, a tecnologia, devem ter sua utilização direcionada ao
beneficio da dignidade humana, do homem interior e não em beneficio de
interesses da organização do homem, isto é, de interesses centrados nos
aspectos físicos, biológicos e materiais presentes no modelo biomédico e
hospitalocêntrico. Na Teoria dos Valores, as vantagens e os benefícios da
tecnologia "dependem apenas da sua correta orientação e compreensão, na medida
em que a transformação, o domínio e o controle da natureza externa forem
colocados a serviço da vida interior do espírito e não apenas em função dos
interesses da organização psicofísica do homem"(12).
O enfermeiro gerencia os recursos materiais para prestar assistência direta aos
pacientes, por isso na fala da E1, da E6 está evidenciada a preocupação com a
falta de material, pois se há pouco deve ser usado nos casos em que haverá
beneficio e não o desperdiço de materiais e exposição de pacientes a medidas
terapêuticas ineficazes. Esse dilema aparece também na fala de E8 ao relatar a
impossibilidade de atender pacientes viáveis pela ocupação dos leitos da UTI
com pacientes terminais. As Unidades de Terapia Intensiva são as que possuem os
custos mais altos dentro de um hospital(17) e é destinado ao tratamento de
pacientes que apresentam alta possibilidade de cura e reabilitação através do
uso das tecnologias presentes neste setor. Surge então o dilema:
[...] o que mais me conflita aqui no CTI é a clientela a qual é
atendida, porque geralmente são pacientes que não tem prognóstico
muito bom e às vezes você deixa de ter vaga para paciente viável...
então quando chega um paciente que realmente precisaria de uma
unidade de terapia intensiva não há leito. E8
Identifica-se então o mau uso dos recursos materiais disponíveis, ou seja, da
capacidade tecnológica da UTI, associado ao investimento em pacientes que
necessitavam de outra conduta terapêutica. Nesse aspecto, é interessante
considerar que o progresso industrial não tem valor senão sob a condição de não
atentar de um modo permanente contra os valores vitais(18), entendendo-se o
avanço industrial como avanço técnico científico. O aparato tecnológico
presente na UTI é extremamente útil, pois pode salvar a vida de um paciente.
Porém existem pacientes que, devido à sua condição física e ao processo
patológico, evoluem para o processo inevitável da morte. Um diálogo aberto
entre a equipe multidisciplinar possibilita identificar o momento em que a cura
não é mais possível e então iniciar uma assistência adequada.
Os cuidados paliativos como analgesia, suporte ventilatório, podem ser
realizados em uma unidade de cuidados paliativos. A elaboração de um protocolo
de administração de noradrenalina evitaria seu uso indiscriminado e obstinado.
Estas sugestões surgiram nos discursos dos enfermeiros demonstrando que esses
profissionais possuem uma ética cujos valores vitais e espirituais orientam a
utilização dos recursos materiais o que os torna capazes de direcionar o uso da
tecnologia de maneira justa. Numa abordagem transdisciplinar, a conduta
terapêutica não seria decidida somente pela equipe médica, e com a participação
da enfermagem, os cuidados não constituiriam apenas num suporte para medidas
curativistas.
O dilema da transfusão de sangue em paciente com restrições religiosas
A situação de necessidade de transfusão de sangue em pacientes que pertencem a
determinado segmento religioso com restrições nessa conduta, constitui um dos
dilemas éticos mais discutidos em literaturas. No relato de um dos enfermeiros,
o paciente era menor de idade, e os pais não permitiam a transfusão que
salvaria a vida da criança:
[E5] teve assim, um caso em que os pais de uma criança não queriam
autorizar a transfusão de sangue pra salvar a vida do próprio filho,
e essa situação causou um conflito ético muito grande que vivenciei.
Tem sido estabelecida uma conduta padronizada que leva a transfusão de sangue
ao paciente mesmo sem o consentimento do mesmo, pois o direito à vida é bem
jurídico de maior relevância não podendo ser transgredido pela liberdade da
própria pessoa(09). Na prática médica, é vedado desrespeitar o direito do
paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução
de práticas diagnosticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente peigo de
vida(20). No exercício da Enfermagem, o enfermeiro deve respeitar, reconhecer e
realizar ações que garantam o direito da pessoa, de tomar decisões sobre sua
saúde, tratamento, conforto e bem estar. Além dessa prerrogativa, é proibido ao
enfermeiro executar ou participar da assistência à saúde sem o consentimento da
pessoa ou de seu representante legal, exceto em iminente risco de morte(21).
Mesmo com controvérsias em relação a essa conduta que limita a autonomia
individual em favor dos valores fundamentais estabelecidos pela sociedade, o
Dever, outras religiões acreditam que é uma questão de coerência defender a
vida em primeiro lugar, pois é deste princípio fundamental que se justifica a
defesa dos demais direito, como o de possuir qualquer tipo de crença. Na
hierarquia dos valores, os valores religiosos e espirituais são colocados em
primeiro lugar, porém o retrato de nossa atual sociedade não apresenta essa
hierarquia de valores. O Estado é dito como laico e determina juridicamente que
os valores religiosos não podem interferir no direito a vida. É preciso também
compreender que o dilema ético também está relacionado e atravessado pela
cultura que os sujeitos estão inseridos. A cultura para a Teoria dos Valores
seria, portanto uma categoria do ser, não do saber e da experiência(22).
OS VALORES NORTEADORES DOS ENFERMEIROS
Em meio aos dilemas, alguns valores que norteiam as condutas dos enfermeiros no
cuidado ao paciente crítico são fundamentais, são apontados, indicando uma
ética pautada em princípios.
O amor pela profissão como valor sensível e a humildade como valor vital:
Pela ética material dos valores, os bens são fatos e os valores, essências. A
paixão é um valor sensorial que norteia a prática profissional: [E2]Sou assim
apaixonada pela minha profissão, amo o que eu faço amo de paixão. Por outro
lado, é na existência, no mundo, que a pessoa está originariamente em relação
com o eu-do-outro e assim é neste encontro que poderá ocorrer a emergência dos
valores vitais, como, por exemplo, a humildade. [E10][...] humildade para
aceitar crítica também, a humildade pra ouvir. Sendo a humildade uma reação,
atitude sentimental, ela é considerada um valor vital.
O respeito, a dignidade e a justiça: valores ético-jurídicos no cuidado ao
paciente na UTI
O enfermeiro, desde sua formação, é apresentado e confrontado com a questão
ética que é atravessada por uma série de valores relacionados ao respeito pelo
outro, dignidade, sobretudo em relação aos cuidados e também com relação ao
senso de justiça e consciência do dever cumprido:
Primeiramente, eu viso à qualidade da assistência, meu foco é no
paciente. Respeito ao paciente. E4
Acima de tudo, o respeito, e também ter um nível de conhecimento. A
partir do momento que você conhece sobre várias coisas, sobre
religião, sobre cultura, em que você passa a respeitar a pessoa, você
se torna mais responsável nas suas decisões [...]. Porque se você não
conhece o valor de cada cultura de certas pessoas, da religião você
não vai respeitar, você vai negligenciar aquilo e tomar a conduta que
você acha que é certa. E5
Para tomar uma decisão, o primeiro conceito pilar, norteador é a
questão da dignidade e do respeito e aí eu vou tentar aliar isso ao
conhecimento científico. Em alguns momentos, a gente percebe que ele
não está interagindo, mas de alguma forma isso pode ser muito bom
para o paciente, e aí você vai liberar pela questão da dignidade,
respeito eu acho que é o principal e, é lógico, nunca deixar de aliar
isso ao conhecimento científico. E6
Meus valores [...], a função da Unidade de Terapia Intensiva, ela
deve se usada para casos que podem ser revertidos. E7
[...] os valores que eu trago são os valores de respeito de tratar
bem as pessoas, fazer o melhor. E9
Tomando como base a ética material dos valores, aprendemos a metafísica na
visão de mundo, do homem e do absoluto na medida em que vemos a pessoa como
circundada por um cosmo de valores, que em última análise, deve ser reconhecido
e descoberto. É importante considerar que o homem é um microcosmo e que "todas
as gerações essenciais do ser, o ser físico, químico, vivo, espiritual, se
encontram e se cruzam no ser do homem; (...) E por isso, o ser do homem é
também o primeiro acesso a Deus"(22:16).
O conhecimento científico: valor lógico no exercício profissional
O conhecimento científico é uma dimensão sine qua non na formação do enfermeiro
e os seus esforços estão voltados para que este conhecimento não seja
infringido em sua práxis na medida em que ele recebeu todo um preparo para
exercer suas funções e habilidades sempre levando em conta essa exigência em
seu manejo laboral. Nesse sentido o conhecimento científico é um valor para o
enfermeiro que se relaciona com a dimensão polarizada vida-morte.
Num caso desses você tem que avaliar o doente clinicamente para
escolher não tem como ser por questões de caridade ou de sentimento,
porque você tem que ter o mesmo sentimento por todos eles, a vontade
de ajudar a todos eles.. E1
[... ] eu sou muito consciente em todas as coisas que faço. Então
quando eu chego para um médico e digo: 'acho que a conduta melhor é
essa... '; eu tenho plena certeza do que estou dizendo, [...] para
conquistar aquilo que eu acredito que é o correto. E8
[... ] se a enfermeira não estudar, ela não sabe argumentar [...] só
existe uma forma de você ser respeitado na nossa área, você é o
conhecimento que você detém. E9
O amor a Deus: valores religiosos presentes na UTI
O enfermeiro se mostra afetado pelo amor a Deus como valor, e esse amor que o
faz em certa medida nortear condutas éticas como demonstra o depoimento:
[E2]Bem, em primeiro lugar, eu acredito em Deus.
O amor é um conceito relevante na medida em que a pessoa humana se caracteriza
como ligação entre espírito e vida. Nesse sentido, a vinculação com Deus se dá
a partir da unidade, pois Deus é considerado espírito-individual, uma espécie
de mar para onde todos os rios tendem. Deve-se buscar a "solidariedade entre
todos os seres vivos, até chegar a uma solidariedade universal, que incluísse
juntamente o mundo e o próprio Deus"(23). Quando a pessoa tem a intenção de
realizar um valor superior, a mesma está adquirindo um valor bom, ou seja,
ético para si mesmo. Na Teoria dos Valores, bom é o que se manifesta na
realização de outro valor mais alto, sendo que o valor mais pleno em sua
hierarquia é o sagrado.
REFLETINDO SOBRE OS VALORES ÉTICOS NA ENFERMAGEM EM UTI
Os valores ético-jurídicos foram os mais citados e, no contexto em que
aparecem, os valores foram considerados éticos, na intenção de realizar um ato
bom. Muitos desses valores eram direcionados ao outro, o paciente. Os valores
que constituem o homem são apreendidos pela intuição emocional, por uma
vivência. Para a ciência o que não pode ser comprovado por métodos científicos
palpáveis, não pode ser considerado como verdade, o que causou um
distanciamento da enfermagem do seu fundamento axiológico. Da transgressão de
valores éticos surge a desumanização, a desmoralização do homem, a decadência
da pessoa que se transforma em objeto.
A enfermagem é a profissão em que os profissionais que a exercem de maneira
adequada atingem uma grande capacidade de estabelecer um vínculo com o outro.
Por isso, a humanização da assistência requer profissionais éticos, pois é a
ética que garante a humanização da assistência. Não se trata somente da ética
profissional, estabelecida nos códigos deontológicos, mas uma ética que se
inicia a partir de uma tomada de consciência e de vivência de valores
superiores. O que precisamos mais do que nunca como profissionais da saúde é de
trabalharmos para que se forme "uma nova imagem da constituição essencial do
homem", pois como diz o relevante texto a seg uir:
[...] as perguntas: o que é o homem? e qual é a sua posição no
interior do ser? Ocuparam-me mais essencialmente do que qualquer
outra pergunta filosófica. Tenho a satisfação de constatar que os
problemas [...] ganharam hoje o ponto central de toda a problemática
filosófica [... ] e que, muito para além do círculo dos especialistas
em filosofia, há biólogos, médicos, psicólogos e sociólogos
trabalhando em uma nova imagem da constituição essencial do homem
(05).
Atualmente há uma exaltação do materialismo, consumismo, e os valores sensíveis
estão sendo superiores aos outros valores e isso é observado na assistência a
saúde, em geral, além dos hospitais. Uma ética baseada somente nos valores
sensíveis, que para a Teoria dos Valores são inferiores, acaba produzindo o
esvaziamento do homem interior. O homem não encontra plenitude de vida ao
buscar somente os bens sensíveis e materiais, porém nossa sociedade está
repleta dessa realidade a tal ponto que o próprio homem se torna um objeto
material a ser consumido.
O enfermeiro, em sua práxis assistencial, deve buscar exercitar a plenitude de
vida no amor para uma aproximação aos valores. O amor é considerado na
perspectiva scheleriana como sendo "a forma fundamental da experiência dos
valores, já que amplia o mundo dos valores da pessoa que constitui seu sujeito,
tornando-a sensível para percebê-los afetivamente"(24). Pelo ódio, no entanto,
há um afastamento do mundo objetivo dos valores. No amor o homem descobre os
valores e torna-se capaz de optar por valores superiores que visam o bem comum,
a valorização de si mesmo e do outro. Através do amor o homem é capaz de optar
pelo certo, pelo bom, espontaneamente, livre do dever. O referencial proposto
considera a submissão ao Dever como algo desfavorável a construção de um
indivíduo ético: "Mandar significa suscitar um Dever a partir do exterior.
Porém, visto que o amor é um ato espontâneo, puramente interior e puramente
emocional, seria de todo vão suscitá-lo a partir do exterior"(24).
Para a concepção fenomenológica sheleriana, a simpatia ou o amor que se
estabelece num relacionamento permite que se conheça efetivamente a essência do
homem e possibilita uma comunicação plena entre as pessoas. Esse
relacionamento, que o enfermeiro estabelece rotineiramente para cuidar, é que
efetivamente o torna capaz de conhecer e atender a necessidade do outro, e que
afasta o estabelecimento de condutas terapêuticas inapropriadas baseadas
somente nos aspectos biológicos, racionais e científicos que não contemplam o
homem plenamente. Nesse sentido, destaca-se a solidariedade que envolve o amor
pelo próximo, pelo presente, pelo aqui e agora evidenciando a importância da
preservação do ser, a continuidade da vida. É uma transcendência imanente, uma
aura, um valor englobante. É uma ética que serve de cimento aos diferentes
grupos que atuam no mesmo espaço e tempo(25).
É importante o enfermeiro considerar que a percepção do outro, mediada pela
simpatia e pelo amor, possibilita a identificação de valores pessoais do outro
e de si mesmo. A Teoria dos Valores preconiza que "só pelo amor podemos chegar
à realidade da pessoa que constitui o núcleo ontológico do outro. Por outros
meios, como os racionais e científicos, podemos conhecer o caráter e o
temperamento, nunca a pessoa do outro". Pelos métodos racionais e científicos
não identificamos a pessoa, mas somente dados, sinais e particularidades, e se
ignora a que indivíduo pertencem(12). A fenomenologia sheleriana afirma essa
questão da seguinte maneira: "Ora, a pessoa individual não nos é dada senão no
ato de amor, e seu valor, enquanto valor individual não se nos revela senão
através desse ato"(15). Somando-se aos valores que permeiam as condutas
profissionais na UTI, a humildade como valor vital, foi também destacada no
estudo. Na verdade, os valores vitais não são reduzidos ao valor de coisa, pois
que o vital e a vida mesma não podem ser reduzidos a um conceito como uma
coisa. Como estados, se referem aos modos de sentimento vital como o sentimento
de saúde, doença; vigor, esgotamento. Como reações sentimentais, o contentar-
se, afligir-se; como reações instintivas, a angústia, a vingança, a cólera,
etc. Não podem, portanto, ser reduzidos ao valor de coisas agradáveis, nem
estão à altura de valores espirituais(26).
Um vínculo baseado na simpatia e no amor favorece aos profissionais adquirirem
valores superiores e esses valores superiores visam atender o outro mais
humanamente. Por isso entende-se o discurso que aparece repetido: o respeito
aliado ao conhecimento científico. O respeito e a dignidade, dentre os valores
espirituais ou culturais da Teoria em questão, são fundamentais nas relações
profissionais da equipe de saúde especialmente em meio a situações conflituosas
de condutas que permeiam o cuidado e a terapêutica do paciente. Para existir o
respeito, é preciso haver uma relação que permita o conhecimento do outro, o
conhecimento de sua essência, de seus valores. Essa relação é permeada pelo
amor que permite a comunicação, a experiência da singularidade do outro. O amor
traz o desejo de conhecer e quando amamos também valorizamos.
Nesse sentido é importante ressaltar que a práxis de saúde ocorre num esforço
coletivo e cooperativo, entre sujeitos, numa rede de relações que exige
interação e diálogo permanentes. Portanto, no trabalho em saúde especialmente,
no cuidado de Enfermagem, torna-se fundamental cuidar dessa rede de relações
permeada por assimetrias de saber e de poder(27). Por certo, o respeito, a
dignidade e a justiça, dentre os valores ético-jurídicos, e o conhecimento
científico, dentre os valores lógicos, são considerados valores superiores que
permitem a realização de um cuidado que satisfaz as necessidades do homem por
inteiro e não em partes, levando-se em conta dimensão maior da ordem do
cultural e espiritual em que estão inseridos. Percebe-se, também, que qualquer
valor que não é direcionado para o bem do homem torna-se um valor perdido.
O conhecimento científico, também no âmbito dos valores culturais na Teoria dos
Valores, foi ressaltado no estudo, consistindo diferencial marcante no discurso
profissional em meio à prática, tornando-se fator preponderante em UTI e
especialmente em questões conflituosas que envolvem vida e morte. No entanto,
devido à concepção positivista, o conhecimento só é considerado verídico quando
é isento das interferências do sujeito e de suas valorações e os atos
emocionais são desconsiderados por não permitirem o alcance de um conhecimento
autêntico, segundo seus métodos. O pensamento scheleriano a respeito disso
afirma que: "Deve-se levar em conta que essa concepção procede da ignorância,
essencialmente positivista, da íntima unidade que vincula, na experiência, o
valor do objeto com os atos emocionais"(28).
Certamente, o conhecimento científico, a razão, os dados clínicos mensuráveis,
são essenciais para o alcance da verdade e é fundamental para realizar um
cuidado eficaz. Porém, o cuidado, de enfermagem ou de medicina, é para a pessoa
e não para um objeto material. Realizar um cuidado com uma pessoa sem
considerar a importância de estabelecer uma relação de respeito é realizar uma
assistência mecanizada, é tratar a pessoa como um objeto, é estabelecer
relações amorais. O cuidado baseado só no conhecimento técnico-científico não
satisfaz as necessidades do homem. É preciso lembrar que: "fazer enfermagem é
fazer-se dentro do contexto da saúde e da cultura"(29:1169). Por esta razão,
torna-se oportuno o alerta para o fat e:
[...] são as universidades, que alicerçadas no tripé ensino/
pesquisa/extensão, [...] possam oportunizar intervenções capazes de
mobilizar, o ser-com-os-outros, a intersubjetividade, a
autenticidade, a solicitude e o desvelo, para que estes se reflitam
nas decisões e nos cuidados planejados e desenvolvidos com vista à
assistência integral e humaniza da na área de saúde(31).
Enfim, cabe destacar que, no cotidiano profissional, situações éticas coexistem
confrontando o enfermeiro por vezes em ocorrências inesperadas. Nesses
momentos, isolar e separar o homem do seu contato imediato com a existência e a
vida, com o fundamento de todas as coisas, significa uma limitação terrível do
homem(31). Não obstante serem, em grande parte, inevitáveis, não há como recuar
ou isolar-se dessas ocorrências; pelo contrário, deve-se possibilitar abertura
para uma discussão interdisciplinar dessas questões que perpassam as profissões
ligadas ao paciente, resgatando e repensando concepções próprias que se fundam
como valor em cada ser, e que permearão as condutas diante de intercorrência
ética.
CONCLUSÃO
O estudo evidencia que os enfermeiros apresentam uma singular capacidade de
adquirir valores superiores por meio do exercício de cuidar do outro. As
teorias filosóficas são importantes na medida em que ajudam a compreender o que
é o cuidado e o homem. Conhecer o homem faz parte do cuidar, do cuidar do outro
e do cuidar de si. Nesse sentido, a Teoria dos Valores pode contribuir como uma
filosofia singular para os profissionais de saúde no âmbito de situações de
dilemas éticos vivenciados especialmente em unidades de alta complexidade como
UTI, possibilitando rever valores pessoais de vida e repensar suas condutas.
Além disso, pode constituir importante fonte de inspiração para a enfermagem
por permitir a abordagem de uma ética humanizadora no cuidado à saúde.
As contribuições do estudo se evidenciam na medida em que as situações que
envolvem dilemas éticos no cotidiano profissional são frequentes e permeiam a
práxis não só do enfermeiro, mas dos demais membros da equipe de saúde,
especialmente os que exercem sua atividade laboral em Unidades de Terapia
Intensiva, requerendo por parte do profissional um fortalecimento acerca dos
valores interiores já que nortearão sua conduta na escolha de caminhos
decisivos diante de cada situação ética conflitante. É preciso que os
enfermeiros fundamentem seus valores a partir de uma reflexão profunda, no
individual e no coletivo, para que, descobrindo-se como um sujeito de valor,
torne-se capaz de defender o valor do outro em sua prática.