Perfil epidemiológico, clínico e de independência funcional de uma população
idosa institucionalizada
INTRODUÇÃO
O envelhecimento populacional é uma realidade na maioria das sociedades atuais,
decorrente de mudanças ocorridas em alguns indicadores de saúde, especialmente
naqueles relacionados a quedas na fecundidade e na mortalidade, que aliados aos
avanços tecnológicos e científicos, têm possibilitado um aumento na expectativa
de vida(1). Este é considerado um fenômeno mundial que, no Brasil, vem
ocorrendo de maneira bastante acelerada(2).
Estima-se que em 2050 o número de pessoas idosas no mundo poderá chegar a dois
bilhões de indivíduos. Os números atuais mostram que uma em cada dez pessoas
tem 60 anos de idade ou mais e, para 2050, a relação será, em média, de uma
para cinco em todo o mundo. Por sua vez, nos países desenvolvidos, prevê-se que
essa relação será de uma para três pessoas. A projeção do número de idosos com
100 anos ou mais de idade no ano de 2050 é de 2,2 milhões(2). Atualmente em
nosso país, a população idosa é de aproximadamente 18 milhões de pessoas(3). Em
Itaúna, município localizado na região Centro-Oeste de Minas Gerais, a
população idosa é de 7.597 pessoas, correspondendo a aproximadamente 8,9% da
população total do município(4).
Estudo descritivo realizado em Belo Horizonte-MG, com dados secundários da
Secretaria Municipal de Coordenação de Políticas Sociais, descreveu o perfil
epidemiológico da população idosa na cidade e encontrou que, em 2000, os idosos
representavam 9,1% do total da população residente na capital mineira (60,5%
mulheres e 39,4% homens). Encontrou-se que 2,9% dos idosos apresentavam algum
tipo de deficiência física, 16,4% de deficiência auditiva, 23,5% de dificuldade
para enxergar, 24,1% de dificuldade para caminhar ou subir escadas e que 3,8%
apresentavam problemas mentais. Os autores concluíram que a parcela de pessoas
idosas fragilizadas em Belo Horizonte era inferior à representada por aquelas
com boas condições de saúde(5).
A fragilização no processo de envelhecimento se constitui em uma síndrome de
origem multidimensional envolvendo um conjunto de fatores biológicos,
psicológicos e sociais que levam o idoso a um estado de maior vulnerabilidade e
ao maior risco de declínio funcional, de sofrer quedas, hospitalização e morte
(6).
Os idosos que desfrutam de boas condições de saúde e financeiras não trazem
preocupações para a família e tampouco para a sociedade. São bons consumidores,
além de ajudarem os seus familiares. Entretanto, quando ficam doentes e
dependentes, demandando gastos financeiros com doenças e cuidados, passam a
interferir na vida dos familiares, tornando-se uma fonte de preocupação.
No contexto social onde se insere a nova configuração da família, o ritmo de
vida imposto pelo mundo capitalista e as dificuldades de ordem financeira da
maioria das famílias brasileiras têm gerado obstáculos para a manutenção do
idoso em seu lar. Além disso, a geração que hoje é responsável por assistir os
mais velhos, sobretudo as mulheres, não está mais tão disponível para a
prestação dos cuidados como antes.
Sendo assim, em decorrência da intensificação no processo de envelhecimento
populacional somada à diminuição gradativa na capacidade da família em prestar
os cuidados necessários aos seus membros mais idosos, parece ocorrer um aumento
na demanda das pessoas por instituições de longa permanência para idosos
(ILPI), anteriormente denominadas como asilos.
A maioria dos idosos independentes permanece junto às famílias. Quando a
demanda por cuidados é mais intensa e sobrecarrega os familiares, os idosos,
algumas vezes, são institucionalizados. No Brasil, as próprias pessoas que
compõem as famílias assistem os idosos no maior período de tempo e tão bem
quanto possível. Quando ocorre a institucionalização, os familiares dos idosos
alegam ter chegado ao limite da capacidade de cuidar desses seus parentes(7).
A demanda por cuidados advém das várias alterações fisiológicas que ocorrem com
a senescência, com velocidades variáveis e mais ou menos acentuadas, de acordo
com as características pessoais de cada idoso. A principal alteração é a
diminuição progressiva na capacidade funcional, definida como competência para
executar atividades que lhes permitem cuidar de si próprios e viver
independentemente em seu meio(8).
A independência e a autonomia nas atividades da vida diária (AVDs) estão
relacionadas ao funcionamento integrado de quatro grandes funções: cognição,
humor, mobilidade e comunicação. Quando estas funções estão comprometidas,
direta ou indiretamente, de forma isolada ou associada, em consequência de uma
ou mais doenças, pode-se verificar um prejuízo na realização das AVDs(9).
É sabido que o envelhecimento aumenta o risco de doenças crônicas não-
transmissíveis que podem afetar a funcionalidade das pessoas levando-as a uma
situação de dependência para o desempenho de AVDs, como banhar-se, vestir-se,
alimentar-se, transferir-se da cama para a cadeira, usar o sanitário e manter a
continência urinária, anal ou ambas. Assim, os idosos requerem cuidados
pessoais em tempo integral. Essa dependência tende a aumentar em cerca de 5% na
faixa etária de 60 anos para cerca de 50% entre os idosos com 90 anos ou mais
(6).
Um dos instrumentos mais antigos e mais citados na literatura nacional e
internacional para avaliação da capacidade funcional é o Índice de
Independência em Atividade da Vida Diária (EIAVD)(10). Este instrumento foi
desenvolvido e publicado em 1963 por Sidney Katz e sua equipe, com o objetivo
de fazer uma avaliação dos resultados de tratamentos em idosos bem como
fornecer uma predição do prognóstico nos doentes crônicos(11). Em 2008, foi
publicada uma adaptação transcultural para o português da Escala de
Independência em Atividades da Vida Diária, usualmente denominada como Escala
de Katz(11). É um instrumento de medida das AVDs hierarquicamente relacionadas
e está organizado para mensurar a independência no desempenho de seis funções
consideradas básicas e biopsicossocialmente integradas: banhar-se, vestir-se,
ir ao banheiro, transferir-se da cama para a cadeira e vice-versa, ser
continente e alimentar-se(10). Cada função possui três alternativas
categorizadas desde independente a dependente(11).
A independência significa que a função é realizada sem supervisão. Esta
avaliação é feita de acordo com a situação real e não com a habilidade de
realizar a tarefa sem auxílio de terceiros. Então, se o sujeito tem capacidade
de executar uma função, mas se nega a cumpri-la, ou se as condições ambientais
são desfavoráveis, considera-se que ele não a realiza. Assim, um idoso que
necessita de que um parente esteja presente dentro do banheiro, por exemplo,
para que possa tomar banho é considerado dependente, apesar de ser capaz de
realizar o ato sem o auxílio direto(11-12).
O idoso muitas vezes é institucionalizado apresentando comprometimento em sua
capacidade funcional, em condições de grande fragilidade e necessitando de
cuidados de enfermagem. Além disso, não se conhece o perfil (epidemiológico,
clínico e de independência funcional) da população idosa institucionalizada em
Itaúna-MG. Assim, realizou-se este estudo para descrever o perfil dos idosos
institucionalizados neste município. Conhecer esta população poderá fornecer
subsídios que auxiliarão na formulação e implementação de políticas públicas
que possam melhor atender às reais necessidades dos idosos, assim como auxiliar
na alocação de recursos que possibilitem uma assistência mais adequada e que
possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida desses idosos.
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de um estudo descritivo transversal, desenvolvido nas duas
instituições de longa permanência para idosos (ILPI) existentes no município de
Itaúna-MG. Ambas são de caráter filantrópico, intituladas Instituição A e
Instituição B, preservando o sigilo quanto aos seus nomes. A instituição A tem
capacidade para 75 idosos e a instituição B para 45 idosos. Na instituição A, a
assistência era prestada por uma médica generalista, um psiquiatra, uma
psicóloga, uma assistente social, uma enfermeira, duas auxiliares de enfermagem
e 14 cuidadores leigos, que não possuíam formação e capacitação técnica, sendo
que 11 trabalhadores se revezavam em plantões de 12 por 24 horas no turno
diurno e 3 no noturno. A instituição B não possuía enfermeiro e a assistência
era prestada por três técnicas de enfermagem e sete cuidadores leigos. A
assistência de enfermagem nas duas instituições não era sistematizada.
A coleta dos dados foi realizada no período de 30 de abril a 30 de julho de
2009. A população do estudo foi constituída por idosos com 60 anos ou mais,
residentes nestas instituições durante o período da coleta de dados e que
concordaram em participar do estudo. Assim, a amostra final constituiu-se de 70
idosos na instituição A e 27 idosos na instituição B, perfazendo um total de 97
pessoas idosas.
Para a coleta de dados, utilizou-se um instrumento que abordava variáveis de
identificação do idoso, variáveis sócio-demográficas, condições clínicas e
variáveis referentes à avaliação funcional estabelecida segundo a Escala de
Katz. As informações foram coletadas com cada idoso, com seus familiares, em
seus prontuários ou com cuidadores e profissionais de saúde das instituições.
A avaliação da capacidade funcional, conforme a Escala de Katz, foi realizada
de acordo com os diferentes graus de independência funcional estabelecidos para
cada função, sendo os índices de 0 a 6: 0 - independente em todas as seis
funções; 1 - independente em cinco funções e dependente em uma função; 2 -
independente em quatro funções e dependente em duas; 3 - independente em três
funções e dependente em três; 4 - independente em duas funções e dependente em
quatro; 5 - independente em uma função e dependente em cinco funções; 6 -
dependente em todas as seis funções(11).
O instrumento foi aplicado por quatro enfermeiras, treinadas especificamente
para a colaboração na aquisição dos dados, sendo uma delas pesquisadora deste
estudo.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal
de Minas Gerais (Parecer COEP - ETIC 267/09). Para participar, cada idoso e seu
responsável foram convidados e receberam orientações sobre o estudo. Aqueles
que concordaram em participar assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido - TCLE, conforme preconiza a Resolução Nº196/96 do Conselho
Nacional de Saúde.
Todos os dados coletados foram digitados em uma planilha do Statistic Package
for Social Sciences (SPSS), versão 16.0 e foi realizado o procedimento de dupla
digitação para avaliação de consistência do banco de dados. Utilizou-se análise
descritiva com apresentação de frequências simples e percentuais, média,
desvio-padrão, valores máximos e valores mínimos.
RESULTADOS
Buscou-se conhecer as características dos idosos institucionalizados, avaliando
variáveis sócio-demográficas, clínicas e o nível de independência funcional
apresentado por eles.
Observou-se um predomínio de idosos do sexo feminino (59%). A idade dos idosos
variou entre 61 e 94 anos, com média de 77 anos e desvio padrão de 8,5 anos,
sendo que a maior parte deles estava com 80 ou mais anos (40%). Em relação ao
grau de escolaridade, 55% dos idosos institucionalizados eram analfabetos,
sendo 28% homens e 72% mulheres. Os idosos de cor ou raça branca eram maioria,
correspondendo a 67% da amostra estudada.
Em relação ao estado civil e número de filhos, encontrou-se um predomínio de
idosos solteiros (63%) e sem filhos (68%). Quanto ao local de procedência e
motivo da institucionalização, 49% dos idosos eram provenientes de domicílio
próprio e 30% moravam sozinhos e tinham dificuldades para realizar AVDs, sendo
este o motivo principal da institucionalização.
O tempo médio de institucionalização dos idosos foi de 70 meses, variando entre
1 e 328 meses. Observou-se que 10,3% deles eram tabagistas, 61,9% apresentavam
hipertensão arterial e 19,6% diabetes mellitus. A maioria (72,2%) foi
diagnosticada com doenças cardiovasculares, 35,1% com doenças neurológicas e
30,9% com doenças psiquiátricas.
A maioria dos idosos que compuseram a amostra (80,4%) faziam uso de
neurolépticos ou psicotrópicos e 57,7% faziam uso de medicamentos anti-
hipertensivos. Apenas 2,1% dos idosos não faziam uso de nenhum tipo de
medicamento.
Tabela_1
Ao determinar o nível de independência para a realização de atividades
pertencentes às seis funções: banhar-se, vestir-se, ir ao banheiro, transferir-
se da cama para a cadeira e vice-versa, ser continente e alimentar-se,
observou-se que 65,5% dos idosos eram dependentes para tomar banho, 51,7% para
vestir-se, 44,8% para usar o vaso sanitário, 33,3% para transferir-se, 55,2%
eram portadores de incontinência e 9,2% eram dependentes para alimentar-se.
Em relação ao Índice de Katz (IK) 23% dos indivíduos da amostra eram
independentes nas 6 funções (IK=0), 77% possuíam alguma dependência para AVDs
(IK=1, 2, 3, 4, 5 ou 6), sendo 12% dependentes em todas as funções (Tabela_2).
DISCUSSÃO
O processo acelerado de transição demográfica tem sido associado em diversos
países ao aumento na demanda por ILPI e esses fatos têm sido também vivenciados
atualmente no Brasil. A correlação multicausal entre a estrutura etária da
população e a demanda por ILPI é determinada pelo seu perfil social e de saúde.
Os principais fatores considerados predisponentes à institucionalização dos
idosos são: doenças crônico-degenerativas e suas sequelas, hospitalização
recente e dependência para realizar AVDs(13).
Associada a esses fatores, verifica-se uma nova configuração familiar, em que a
mulher está inserida no mercado de trabalho, não permanecendo mais tão
disponível para a prestação de cuidados aos idosos de sua família. A falta de
um cuidador, somada às dificuldades de ordem financeira da maioria das famílias
brasileiras, tem gerado obstáculos para a manutenção do idoso em seu lar.
O fato de muitos idosos brasileiros necessitarem morar sozinhos, de não
contarem com suporte social satisfatório, além de possuírem baixa renda pode
levar ao aumento na demanda dessas pessoas por ILPI.
A maioria dos idosos institucionalizados da cidade do interior de Minas Gerais
onde foi realizado este estudo era do sexo feminino, de raça branca, com média
de idade em torno de 77 anos. Esses dados foram semelhantes aos obtidos no
estudo conduzido com 94 idosos de quatro instituições de longa permanência do
interior de Minas Gerais. A autora constatou um predomínio de mulheres (62,8%),
que pode ser justificado pela maior expectativa de vida entre elas, e da raça
branca (68,1%). Apurou-se ainda uma média de idade em torno de 79,1 anos entre
aqueles idosos (±9,59)(14).
Em estudo com o objetivo de descrever o perfil de 80 octogenários de uma cidade
do interior de São Paulo-Brasil, observou-se que 58 eram mulheres idosas e 22
eram homens idosos(15). Em outro estudo brasileiro com o objetivo de
identificar as características demográficas, socioeconômicas e a situação de
saúde de 98 idosos da área de abrangência de um Programa de Saúde da Família
(PSF), constatou-se um predomínio na população idosa feminina (62,2%), com
média de idade de 69,9 anos para as mulheres e 68,8 anos para os homens(16). O
número de mulheres idosas é maior que o de homens em todos os grupos etários e
essa diferença torna-se ainda maior com o aumento da idade (75 anos e mais), em
consequência das maiores taxas de mortalidade experimentadas pelos homens e à
maior longevidade das mulheres(17).
Tratando-se de escolaridade, observou-se que a maioria dos idosos era
analfabeta, sendo que a porcentagem de mulheres analfabetas era maior que a de
homens analfabetos. Os idosos apresentavam baixo nível de escolaridade, e esse
declinava ainda mais com o aumento da idade, sendo essa situação mais frequente
nas mulheres, quando comparadas com os homens(17). O alto índice de
analfabetismo presente na população idosa se deve, principalmente, às
dificuldades de acesso à escola no passado(15,18). A diferença entre os sexos
reflete as menores oportunidades de acesso à escola sofridas pelas mulheres(17-
18), atribuídas a uma cultura que não valorizava a educação escolar para as
mulheres, que muitas vezes eram criadas para serem boas esposas, mães e donas-
de-casa(15).
A maioria dos idosos institucionalizados que compuseram a amostra era solteira,
sem filhos, provenientes de domicílio próprio, onde moravam sozinhos e tinham
dificuldades para realizar AVDs. O tempo médio de institucionalização era de 70
meses, variando entre 1 e 328 meses. Pelo fato de não terem condições físicas e
até mesmo psicossociais para viverem sozinhos, e por não terem suporte familiar
de filhos ou cônjuges, muitos se institucionalizaram. Os novos arranjos
familiares, como aqueles em que a mulher mora só, são mães solteiras ou casais
sem filhos e filhos que emigraram, reduzem a perspectiva de envelhecimento com
um suporte familiar, aumentando o risco para a institucionalização(13). Depois
que os idosos vão viver em ILPI, por lá permanecem por muito tempo ou até a
morte. Como a institucionalização, geralmente, é a última opção para os idosos,
a possibilidade de voltarem a viver na comunidade ou com a família é muito
pequena.
A maioria (72,2%) dos idosos institucionalizados apresentava doenças
cardiovasculares, 35,1% doenças neurológicas e 30,9% doenças psiquiátricas.
Observou-se que grande número de idosos (80,4%) fazia uso de neurolépticos ou
psicotrópicos e que 57,7% faziam uso de anti-hipertensivos. Estes resultados
corroboram os resultados de estudo realizado em quatro instituições de longa
permanência para idosos do interior de Minas Gerais, em que 52,1% dos idosos
institucionalizados usavam neurolépticos ou psicotrópicos e 38,3% anti-
hipertensivos(14).
Ao se avaliar o nível de independência para realização de AVDs, observou-se que
muitos dos idosos (77%) institucionalizados possuíam alguma dependência para
AVDs, sendo 23% deles independentes. Em estudo com o objetivo de identificar o
grau de independência para a realização de AVDs dos idosos residentes nas
instituições da cidade de Taubaté-SP, verificou-se que 37% dos idosos
institucionalizados podiam ser considerados independentes para o desempenho das
AVDs, segundo o Índice de Katz(12). Nas ILPI de Belo Horizonte, parcela
significativa dos idosos institucionalizados era de idosas independentes e
homens com menos de 65 anos. A maioria destas instituições não aceitavam idosos
portadores de alguma demência ou acamados e várias recusavam idosos
diagnosticados com doenças orgânicas(12). As instituições locais onde este
estudo foi realizado não apresentavam estes tipos de exigência para receber os
idosos que muitas vezes eram recebidos já nestas condições, o que poderia
justificar uma prevalência maior de idosos dependentes nestas ILPI.
Estudo realizado em Belo Horizonte evidenciou que, entre os idosos recenseados,
os que se encontravam fragilizados representavam uma pequena parcela da
população com 60 anos ou mais. Assim, devem ser propostos programas de
prevenção de agravos e ações de promoção da saúde para promover a manutenção da
capacidade funcional do idoso. Ao manter habilidades físicas e mentais
necessárias a uma vida de forma independente e autônoma, os idosos poderão
desfrutar de uma vida com maior qualidade no seu lar, junto de seus familiares,
evitando ou postergando uma institucionalização(5).
No Estatuto do Idoso, sancionado em agosto de 2003 e destinado a regular os
direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, consta
que os idosos gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa
humana, sendo asseguradas a eles, por lei ou por outros meios, facilidades para
a preservação de sua saúde física e mental, seu aperfeiçoamento moral,
intelectual, espiritual e social em condições de liberdade e dignidade. Consta
também que é obrigação da família, comunidade, sociedade e do Poder Público
assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida,
saúde, alimentação, educação, cultura, esporte, lazer, trabalho, cidadania,
liberdade, dignidade, respeito e convivência familiar e comunitária(7).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O envelhecimento populacional tem trazido preocupações para os profissionais
enfermeiros com relação ao planejamento e à implementação de cuidados que visem
melhorar a qualidade de vida dos idosos. Esta preocupação tem sido um incentivo
para a realização de estudos que possam melhor caracterizar este grupo e
discutir intervenções de enfermagem que mais se apliquem às situações clínicas
e problemas de vida desta população.
Os idosos que estão institucionalizados despertam uma preocupação ainda maior
pela fragilidade social, psicológica e física em que podem se encontrar.
Percebe-se que estes idosos demandam, progressivamente, cuidados de enfermagem
mais qualificados, justificados pelo nível de dependência, patologias
instaladas, número de medicamentos utilizados e riscos de complicações
apresentadas. Por outro lado, muitas ILPI não estão preparadas para oferecer um
cuidado adequado, sobretudo no que diz respeito à estrutura física e melhor
qualificação do pessoal que presta os cuidados, muitas vezes leigos e
despreparados.
Segundo os resultados obtidos, observou-se predomínio de idosos do sexo
feminino, com média de idade 77 anos, analfabetos, brancos, solteiros e sem
filhos. A maioria era proveniente de domicílio próprio, sendo que muitos idosos
moravam sozinhos e tinham dificuldades para realizar AVDs, motivo principal da
institucionalização. O tempo médio de institucionalização foi de 70 meses. O
tabagismo esteve presente entre os idosos que apresentavam doenças
cardiovasculares, neurológicas e psiquiátricas. Houve predomínio de uso de
neurolépticos/psicotrópicos e anti-hipertensivos pelos idosos. Verificou-se que
grande parte dos idosos institucionalizados encontrava-se em situação de
dependência para o desempenho de AVDs e requerendo cuidados pessoais em tempo
integral.
Para o incremento na qualidade de vida de idosos institucionalizados acredita-
se que diversos fatores devem ser monitorados, entre eles a capacidade
funcional, na maioria das vezes deficiente. No entanto, para oferecer uma
atenção adequada, segura, ética e com qualidade ao idoso, faz-se necessária a
efetivação de políticas públicas que atendam às reais necessidades desta
população, além da capacitação dos profissionais de enfermagem para o cuidado
do idoso institucionalizado. Dessa forma, os profissionais responsáveis pela
assistência prestada a essa população devem estar orientados sobre a
importância do cuidado integral e interdisciplinar, a fim contribuir para a
melhoria na qualidade de vida dos idosos naquelas comunidades.