Compreendendo o significado da liderança para o aluno de graduação em
enfermagem: uma abordagem fenomenológica
INTRODUÇÃO
Durante minha experiência profissional como enfermeira pude observar que há um
distanciamento entre a teoria e a prática da enfermagem levando o enfermeiro a
desenvolver seu processo de trabalho centrado no modelo gerencial hegemônico,
que privilegia o modelo funcional e que muitas vezes afasta o enfermeiro de seu
objeto de trabalho.
Esse perfil de enfermeiro não atende as suas próprias aspirações pessoais e
profissionais, gerando insatisfações e frustrações.
No trabalho em equipe multiprofissional o enfermeiro deverá assumir posição de
liderança. A liderança envolve compromisso, responsabilidade, empatia,
habilidade para tomada de decisões, comunicação e gerenciamento de forma
eficaz.
Diante disso, acredito que seja necessário um repensar sobre a prática de
enfermagem e sobre a formação dos futuros enfermeiros, a fim de impulsionar
mudanças na assistência, nas relações de trabalho e no gerenciamento.
Atualmente, atuando como docente, passei a refletir a importância que a
Educação Superior tem em formar profissionais competentes no exercício da
liderança, sendo fundamental a preocupação com este aspecto.
Creio ser necessário que os órgãos formadores se sensibilizem e efetivem um
processo ensino-aprendizagem no qual possibilitem o desenvolvimento de
habilidades próprias da função de líder, oferecendo oportunidades de vivenciar
situações práticas de exercício de liderança.
Hoje, liderança pode ser definida como um fenômeno tipicamente social, que
ocorre exclusivamente em grupos sociais. Pode-se definir como uma influência
interpessoal exercida numa dada situação e dirigida através do processo de
comunicação humana para a consecução de um ou mais objetivos específicos(1).
A enfermagem está passando por um processo de repensar e de redefinição de
funções, de maneira a assegurar seu papel e seu compromisso com a sociedade,
que nesse momento aspira maior qualidade na prestação da assistência à saúde
(2).
É necessário desmistificar o gerenciamento de enfermagem como uma disfunção, é
importante ao enfermeiro se apropriar desse espaço como um processo de trabalho
no contexto da produção em saúde(3).
Nos requisitos básicos para atuação dos enfermeiros, evidencia que eles
precisam ter capacidade de liderança e saber trabalhar em equipe. Essa é uma
demonstração de que o mercado de trabalho está solicitando do enfermeiro o
conhecimento e a aplicação das habilidades de liderança(4).
Dentre as habilidades de liderança exigidas destaca-se: conhecimento,
experiência, confiança, capacidade de trabalhar em equipe, de resolver
problemas, autodesenvolvimento, relacionamento interpessoal, comprometimento e
respeito entre a equipe e saber ouvir(4).
O perfil de profissional exigido requer habilidades cognitivas (saber) e
operacionais (saber fazer), sustentadas pela ética e comprometimento (saber
ser). A construção, a gestão dos processos e a formação de sujeitos é um grande
desafio(3).
Este perfil exigido pode ser observado nas novas políticas da educação,
formulando as diretrizes para formação humana no país, nos níveis de ensino
básico, médio e superior.
O curso de graduação deve possibilitar ao futuro enfermeiro, sua
instrumentalização para a intervenção na realidade, favorecendo a organização/
reorganização do trabalho.
Sendo assim, promover o desenvolvimento das habilidades da liderança durante o
processo de formação do enfermeiro tornou-se um desafio a ser vencido pelo
aluno e pela academia evitando-se muitos dos problemas que os enfermeiros
experienciam em seu trabalho que resultam do processo educacional.
O grande desafio consiste em que as escolas consigam aproximar a formação de
enfermagem das inovações decorrentes das diretrizes de maneira a qualificar o
enfermeiro para atuar com competência no atual contexto político-econômico e
cultural do país(5).
O ensino da Administração em Enfermagem, no que diz respeito às novas propostas
do Ministério da Educação, deverá proporcionar ao educando o desenvolvimento de
competências e habilidades, a fim de que este, quando for profissional, esteja
apto para o exercício do processo de trabalho gerencial, que tem como meios e
instrumentos a força de trabalho, os recursos físicos e materiais e o saber
administrativo. De modo geral, espera-se que os enfermeiros estejam aptos a
serem gestores e líderes na equipe de saúde(6).
Portanto, tenho como indagação: Qual a compreensão que o aluno da graduação em
enfermagem tem do ensino da liderança e qual a expectativa deste conhecimento
para a sua prática profissional?
OBJETIVO
Compreender o significado da liderança para o graduando em Enfermagem e a
expectativa relacionada à sua prática profissional.
TRAJETÓRIA METODOLÓGICA
Considero que a compreensão de significados dos sujeitos que vivenciam
diferentes situações é mais bem apreendida em abordagens qualitativas de
pesquisa e portanto, neste estudo busquei como vertente metodológica a
fenomenologia.
O caminho utilizado na pesquisa envolve três momentos: a descrição, a redução e
a compreensão fenomenológica.
A descriçãofenomenológica possui três elementos: a percepção, a consciência e o
sujeito. Busquei os depoimentos, para captar a percepção dos sujeitos do estudo
da significação produzida pela consciência para a compreensão da liderança na
formação do enfermeiro e a expectativa desta ação na prática profissional.
A redução fenomenológica acontece após a leitura e releituras dos discursos,
com o objetivo de selecionar as partes do discurso que são essenciais para
desvelar o fenômeno, experiências que são parte da consciência do sujeito para
chegar à essência. Com os depoimentos coletados e transcritos, realizou-se a
redução, refletindo sobre as falas, extraindo delas sua essência.
A compreensão fenomenológica é uma investigação das experiências, é uma forma
de interpretação. Com a essência e a fala dos sujeitos os temas foram
revelados, organizados e interpretados, realizando uma síntese das unidades
significativas encontradas e suas convergências, divergências e
idiossincrasias, relacionando com o referencial teórico de liderança em
enfermagem e formação para liderança em enfermagem.
Foi escolhido para o cenário do estudo, o curso de Enfermagem pertencente a uma
Universidade Filantrópica do Interior de São Paulo.
Os sujeitos da pesquisa foram alunos que cursavam o sétimo termo de curso de
Graduação em Enfermagem que já haviam realizado a disciplina de administração
aplicada à enfermagem.
Os sujeitos do estudo caracterizam-se por serem provindos de escolas publicas,
alguns exercerem a profissão de auxiliar ou técnico de enfermagem, e outros que
necessitam trabalhar locais diversificados para poderem custear o curso de
graduação em enfermagem recebendo bolsa - auxilio para pagamento das
mensalidades.
O número de sujeitos considerados como sujeitos da pesquisa, foi definido no
decorrer do estudo, a partir das descrições obtidas nos depoimentos e
suficientes para responder a interrogação proposta, perfazendo um total de 15
alunos.
Os depoimentos foram numerados de I a XV, analisados individualmente (análise
idiográfica) e posteriormente analisados globalmente (análise nomotética). Nos
discursos as unidades de significado foram mantidas em negrito e numeradas em
numeral arábico, na seqüência em que apareciam. Posteriormente estas unidades
foram reduzidas fenomenologicamente e interpretadas para estruturar o fenômeno
resgatando assim, sua essência.
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (of.215/2006).
As entrevistas foram realizadas utilizando-se gravação digital, os sujeitos
foram informados antes da entrevista, o propósito do estudo, a dinâmica da
entrevista, a garantia do anonimato e sobre a destruição do conteúdo digital
gravado após a transcrição das falas. Todos os participantes autorizaram a
gravação da entrevista e a participação na pesquisa por meio da assinatura no
Termo de Consentimento Livre Esclarecido.
Foi adotada a seguinte questão norteadora: Qual a compreensão que você tem
sobre Liderança e como você espera aplicá-la em sua prática profissional?Neste
artigo fez-se um recorte do fenômeno revelado e serão apresentados dois temas:
Estilos de Liderança e Exercício da Liderança.
RESULTADOS E DISCUSÃO
O tema, Estilos de Liderança, diz respeito às diferentes formas que os alunos
vêm à atuação do líder. As unidades significativas foram resgatadas de momentos
que os alunos observaram a enfermeira principalmente no campo de estágio
curricular, atuando como líder da equipe de enfermagem, e interagindo de
diferentes formas com os liderados, no cotidiano da administração da
assistência de enfermagem. São elas: autoritária, democrática e contingêncial.
Assim, as falas desvelam a Liderança como um processo dinâmico, onde o
enfermeiro líder de uma equipe muda de estilo frente a diferentes situações. As
mudanças ocorrem no sentido de uma liderança democrática para autocrática. O
estilo de liderança democrática não é possível ser sempre adotado, às vezes, é
necessário ser autocrático.
[...] O enfermeiro tem que determinar certas funções para os
auxiliares técnicos [...] e vai supervisionar o que eles [...] estão
fazendo [...] (III-2).
[...] Existem vários tipos de lideres [...] (VII-1).
[...] o líder tem que ter momentos com pulso firme, mas tem que ser
flexível [...] (VIII-2).
Corroborando com este aspecto, deve ser considerada a corporalidade,
temporalidade e espacialidade do ser que lidera, e é resgatado no ensino, pela
influência de propostas político-sociais das sociedades que em diferentes
momentos, têm indicado a direção de um estilo autocrático para uma liderança
mais participativa(7).
No ensino, as contradições dos diferentes estilos de liderança são explicadas
pelos pressupostos da Teoria Contingencial de Liderança que propõe o
comportamento adaptativo do líder e a adoção de diferentes estilos de liderar
segundo as expectativas dos liderados, da organização e segundo as
características da situação, naquele momento(7).
O acadêmico de enfermagem pondera que o enfermeiro recém-formado tende a
assumir um estilo de liderança autocrático impondo-se e ditando regras, o que
em sua visão, não é adequada.
[...] não basta à enfermeira chegar e se impor aos funcionários [...]
muitas vezes a enfermeira recém formada, chega ao primeiro dia de
trabalho e se impõe colocando pose, eu sou a chefe eu que mando [...]
De forma autoritária (II-3)
Uma das principais diferenças que o principiante sente ao assumir o novo papel,
é que ele se vê em situações tendo que dar ao invés de receber apoio, pois é
ele quem tem que estar pronto a dar amparo às dúvidas dos outros, intervindo na
resolução de diferentes situações, mesmo sentindo-se despreparado. Isto não é
fácil para ele que até a poucos dias, podia contar com certa proteção que o
papel de aluno lhe conferia, pois, a professora o resguardava de incertezas,
dúvidas e medos que podia sentir(8).
O iniciante vai tomando decisões em função dos resultados de suas avaliações
que redirecionam seu agir, numa busca contínua de não permitir que nada fuja a
seu controle o que marcaria sua imperícia. Esses esforços nos remetem a um
terceiro momento: reconhecendo no poder um passaporte para cuidar, pois,
conforme está fazendo este balanço, suas ações indicam que está buscando formas
de selar sua identidade na interação poder-cuidar e expandindo projetos de
realização. Assim, para firmar sua identidade, o enfermeiro recém-formado quer
assumir responsabilidades, sentir-se como eixo, ser percebido como importante e
necessário, denunciando sua opção: a objeção ao exercício da liberdade de ser,
optando por uma estratégia paliativa de ter, na perícia em "dar conta de tudo",
um substitutivo para sua inabilidade criativa(8).
Portanto, conclui-se que não há um estilo ideal de liderança a ser adotado,
podendo este variar conforme a situação e os liderados. É desvelado que ao
assumir a liderança os egressos de enfermagem por sentirem-se despreparados
para o exercício, acabam assumindo postura centralizadora, com um estilo de
liderança autocrático, não sendo considerado o melhor estilo a ser adotado,
pois, este dificulta o trabalho em equipe e o desenvolvimento do processo de
trabalho.
O outro tema, Exercício da Liderança, desvela a percepção do aluno de graduação
em enfermagem enquanto sua vivência prática de Liderança. As unidades
significativas resgatadas nos discursos como: Percepção da Prática da
Liderança, No exercício da Liderança, Relacionamento Profissional, Supervisão
de Enfermagem e Aprendizagem da Liderança permitiram a proposição desse tema.
A Percepção da Prática da Liderança é desvelada após a vivência prática nos
estágios curriculares Relatam que alguns campos de estágio os levaram a
perceber que liderança é uma ação participativa, na qual o líder respeita a
função de cada liderado e toma decisões que serão benéficas para a equipe.
[...] passei em alguns campos de estagio e percebi que liderança é
uma ação em conjunto, entre enfermeiro e auxiliares [...] tem que ser
uma ação em conjunto [...] líder é aquele que sabe trabalhar junto,
que sabe ouvir a equipe... chegando num consenso sobre a maneira que
seria melhor para equipe tanto no trabalho, como as funções de cada
um [...] (II-1).
O acadêmico considera que a vivência prática da liderança em diversos campos de
estágio levou a percepção que liderança diferencia-se do que é idealizado na
teoria.
[...] liderança na teoria é muito bonita [...] bem diferente do que
tenho observado na prática durante os estágios [...] nos vários
campos que passei [...] (III-1).
Contribuindo com este aspecto há necessidade de que o enfermeiro docente
conheça os problemas vivenciados na prática assistencial, de modo que reflita,
analise e proponha alternativas de intervenção que contribuam para modificar a
situação do exercício profissional(9).
A Integração Docente Assistencial (IDA) pode contribuir para que os docentes
superem a dicotomia entre a teoria e a prática, devido a sua maior aproximação
com campo prático. Como conseqüências, possivelmente, terão ainda melhores
preparo técnico e conhecimento da realidade(10).
Apesar do reconhecimento das possibilidades de IDA no âmbito da enfermagem,
entende-se que a escola tem dado pouca importância ao seu papel transformador
na educação e na prática profissional(9).
As falas dos sujeitos desvelam uma dissociação da prática com a teoria,
enfatizando que a teoria é diferente da prática. A IDA é de grande importância
para promoção do processo de aprendizagem. As DCNS ressaltam ser necessária à
formação de profissional com senso crítico, capaz de resolver problemas e com
competência de liderança, muitas vezes esse exercício no mundo acadêmico,
torna-se impossibilitado pela falta de integração docente assistencial. Na
realidade dos sujeitos de pesquisa, por tratar-se de primeira turma do curso de
graduação em enfermagem fica explícito, pelos depoimentos, a falta de
integração dos serviços de saúde com a universidade, a qual encontrou durante o
estágio, dificuldade para essa integração. Os fatores que influenciaram foram:
as políticas das instituições de saúde e a falta de planejamento para
integração docente assistencial do curso de graduação em estudo.
Portanto, para vencer os desafios propostos e implementar o novo na formação do
enfermeiro, é necessário desvestir a roupa velha da dominação interessada no
desgaste do trabalho da enfermagem. A ocupação dos espaços deve ser planejada,
realizada e avaliada por profissionais competentes na dimensão ética, técnica,
estética e política, comprometida socialmente com o exercício da cidadania. O
enfermeiro pretendido constrói a cada instante, juntamente com os professores e
profissionais do campo de ação, a história da enfermagem(3).
Outra unidade significativa que contribuiu para a proposição do tema é: No
Exercício da Liderança, a qual revela, através das falas, a observação da
atuação do enfermeiro como líder ficando evidente que existe uma dificuldade do
enfermeiro em exercer a função de líder, sendo atribuída à falta de
conhecimento teórico do enfermeiro. O conhecimento é importante para o
exercício da liderança.
[...] observo que às vezes os enfermeiros não conseguem liderar uma
equipe porque não tem conhecimento teórico [...] (III-4).
Ao transportar-se para o cenário da enfermagem brasileira, compete ao
enfermeiro o gerenciamento da assistência de enfermagem prestada ao paciente,
sendo sua ação direcionada para o desenvolvimento de atividades
administrativas, assistenciais, educativas e de pesquisa com vistas ao
aprimoramento da prática profissional. O enfermeiro desenvolve uma gerência
mais orientada para as necessidades do serviço, para o cumprimento de
regulamentos, normas e tarefas reproduzindo o que é preconizado pela
organização e por outros profissionais, principalmente a equipe médica. Esta
forma de gerenciar contribui muitas vezes para o não atendimento das
necessidades do paciente e principalmente gera insatisfações nos membros da
equipe de enfermagem. Essa realidade vem suscitando inquietações e
questionamentos nos enfermeiros de instituições de ensino e serviço(11).
Desta maneira cabe a educação fornecer, de algum modo, os mapas de um mundo
complexo e constantemente agitado. Para isso a educação deverá ser organizada
em torno de quatro aprendizagens, que se constituirão para cada individuo, ao
longo de suas vidas nos quatro pilares do conhecimento: aprender a conhecer
isto é adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para poder
agir sobre o meio envolvente; aprender a viver junto, a fim de participar e a
cooperar com os outros em todas as atividades humanas, finalmente aprender a
ser, via essencial que integra os três precedentes(12).
A competência resulta da combinação dos conhecimentos. As falas dos sujeitos
desvelaram a importância do conhecimento teórico para o desenvolvimento da
liderança, para uma liderança eficaz, para um líder competente é necessária, a
combinação do aprender a conhecer, aprender fazer, aprender viver junto e
aprender a ser. A falta da vivência prática do fenômeno liderança é fator
contribuidor para que os sujeitos não mencionem a necessidade do
desenvolvimento da competência baseada nos quatro pilares.
Desta forma, concluir um curso de graduação significa momento de grande
realização e satisfação pessoal, mas muitas vezes é motivo de grande angústia e
ansiedade. Normalmente, o primeiro emprego é um desafio que acompanha o
profissional em seus primeiros meses de exercício profissional. O enfermeiro
recém-graduado enfrenta esse desafio com muita insegurança e receios, pois
encontra inúmeras dificuldades que se iniciam com o processo admissional e
continuam com a sua adaptação ao serviço de saúde(13).
Supervisão em enfermagem contribuiu como unidade significativa para a
proposição do tema. É desvelada por um único depoimento e é compreendida como
função exclusiva do enfermeiro e tem como prerrogativa determinar as funções da
equipe de enfermagem.
[...] O enfermeiro tem que determinar certas funções para os
auxiliares e técnicos [...] e vai supervisionar o que eles [...]
estão fazendo [...] (IV-2).
Desta forma, o entendimento das relações existentes entre políticas de saúde e
o trabalho da enfermeira, são importantes no desempenho da função supervisão,
pois esta é inerente a qualquer processo de trabalho e realiza-se em bases
coletivas(14).
O principal objetivo da supervisão é elevar a qualidade dos serviços prestados
e para contribuir para o aperfeiçoamento do pessoal e avaliar o seu desempenho,
visando à promoção da saúde, melhor recuperação do cliente e ao bom
funcionamento do estabelecimento de saúde(15).
A proposição do tema contou também com a unidade significativa; Aprendizagem da
Liderança, os depoimentos desvelaram o fenômeno liderança como um processo de
aprendizagem constante, passível de ser aprendida com a interação profissional
e relações sociais, de grande importância para o desenvolvimento do processo de
trabalho da enfermagem.
[...] aprendendo com a equipe, com os auxiliares que trabalharem
comigo, porque vejo que eles têm muita experiência [...] (III-5).
[...] é muito importante gente saber liderar e aonde é que existe o"
X "da questão, porque a faculdade não te dá pratica para isso, você
aprende na teoria, mas na prática! A prática você não tem no estagio
de ser líder, você vai ter prática no dia-a'dia, para aprender, então
acho que deveríamos ter a oportunidade de ter a prática para
aprender![...] vou saber como liderar no meu campo de trabalho, que
vou saber como liderar [...] (XIV-3).
As instituições formadoras apresentam deficiências em preparar o aluno para
assumir a função de liderança, constata-se a ocorrência de frustração e
desencantamento do enfermeiro com relação a essa atividade, como também uma
desilusão por parte do empregador, que alimenta a expectativa de contratar um
profissional apto a atuar com capacidade de liderança(2).
A LDB trouxe novas responsabilidades para as instituições de ensino superior,
seus docentes, discentes e sociedade, ao permitir a formação de diferentes
perfis profissionais de acordo com cada escola. Por serem conhecedores da
realidade social local e do mercado de trabalho, as instituições têm liberdade
para definir parte considerável de seus currículos plenos(16).
Essa autonomia das escolas deve ser questionada, já que elas possuem a opção de
escolher conteúdos que atendam somente às necessidades momentâneas do mercado
de trabalho. Ao formar profissionais voltados exclusivamente ao mercado de
trabalho, corre-se o risco de que a escola impressione a sociedade com a
máscara da excelência. Porém, em poucos anos, as mudanças tecnológicas acabam
por tornar, esses profissionais, obsoletos e descartáveis(16).
Os Cursos de Graduação em Enfermagem devem estar com o ensino voltado para a
formação de profissionais capazes de promover melhoria social, não se
restringindo apenas a estar formando profissionais para atender as necessidades
temporárias do mercado. Para isso, a LDB fala no ensino por competências, capaz
de formar profissional crítico-reflexivo, as quais o enfermeiro não acaba o
processo de formação ao sair da universidade, o processo educacional é
permanente.
As DCNS destacam a Liderança como uma das principais competências a ser
adquirida pelo enfermeiro. É salientado que durante o processo de aprendizagem
da liderança na graduação em enfermagem, em experiência vivenciada de liderança
os fez refletir qual o estilo de liderança seria melhor a ser adotado, sendo
necessário considerar o trabalho em equipe para a adoção de um estilo eficiente
para o desenvolvimento do trabalho e que o processo de aprendizagem trata-se de
um contínuo.
[...] tive uma experiência assim, como aluna, teve uma professora,
que fez um trabalho sobre liderança com a gente, e ela escolheu um
líder em cada grupo e disse: Vocês vão dar uma tarefa para cada um da
equipe, eles vão ter que dar palestras! E, tinha que montar uma
palestra, então, eu comecei a pedir para cada um quem queria dar
palestra: Fulano, você quer? Não, Fulano, você quer? Não! Ninguém
quis. Foi uma experiência que: eu perdi sono, começou [...] daí eu
parei e pensei? Que tipo de Líder eu vou ser? Então, [...] parei e
pensei [...] eu vou fazer tudo?... cheguei na professora e falei:
Professora vou poder escolher? Ela falou: Você como líder é para
escolher, e não, vai apresentar a palestra![...] líder, algumas vezes
você vai ter que ser duro! Vai ter que ser exigente! Porque você
também vai ter que puxar um pouco as rédias! é também ser
paternalista, porque senão as coisas desanda, , você tem que mostrar
o trabalho em conjunto[...] (XV-3)
Corroborando este aspecto, ensinar é definido como facilitar a aprendizagem,
criando condições para que o outro, a partir dele próprio aprenda e cresça. O
indivíduo é o centro da aprendizagem que se processa em função do
desenvolvimento e interesse do aluno. Coloca-se assim uma ênfase nas relações
interpessoais e no crescimento pessoal que delas resultam (17).
Desta forma, a experiência vivida pelo acadêmico colabora para a construção do
processo de aprendizagem e define como será a forma de exercitar a liderança.
CONCLUSÃO
Ao desvelar a essência do fenômeno pesquisado, os depoimentos revelam
convergências, divergências e idiossincrasias que permitem a compreensão da
percepção dos alunos sobre a liderança e sua prática profissional de liderança
em enfermagem.
As diferentes formas em que a liderança acontece, no tema Estilos de Liderança,
são formas mutantes do fenômeno e revelam-se como significados
transituacionais, influenciado pela política institucional, pelo ensino e
liderados. Entende-se como processo dinâmico à liderança e o estilo adotado
como forma de conduzir uma equipe, não existindo um estilo ideal de liderança.
É compreendido que o bom líder ampara os funcionários, promove escuta e não age
apenas de forma autoritária. Sua postura deve ser de compartilhamento com os
liderados para o desenvolvimento de um bom relacionamento.
No ensino, o estilo de liderança passou a ser discutido quando abordou as
formas participativas de gerenciamento de pessoal.
Outro tema destacado foi Exercício da Liderança, sendo enfatizada a dissociação
da teoria e da prática da liderança. Compreendido que, para ocorrer o fenômeno,
é necessário esforços das instituições educacionais e de saúde, com o objetivo
de formar profissionais com pensamento crítico-reflexivo, capaz de promover
mudanças sociais e que atenda as necessidades da atenção à saúde. A compreensão
do tema foi possível após a vivência prática dos estágios curriculares, sendo a
liderança compreendida como ação participativa.
As falas dos sujeitos desvelam a dissociação da teoria e prática. Neste
sentido, é importante destacar que a interação docente assistencial é de grande
relevância para a aprendizagem da liderança. A falta de integração dificulta o
exercício da liderança no mundo acadêmico. Na realidade dos sujeitos de
pesquisa, que são alunos da primeira turma do curso de graduação em enfermagem
da universidade em estudo, esta situação é relevante, pois a integração docente
assistencial ainda não está construída.
Considerando a abrangência do fenômeno liderança, podem ser contempladas outras
perspectivas e novas possibilidades dado os ilimitados horizontes que habitam
os seres no mundo.