Projetos de redução de emissões de gases de efeito estufa: desempenho e custos
de transação
1. INTRODUÇÃO
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC), ocorrida
em 1992, é um dos acordos mais relevantes da atualidade na busca pela redução
dos gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera. Desde então, reuniões
subsequentes a esse primeiro encontro ocorrem anualmente e, durante a terceira
delas, o Protocolo de Kyoto foi criado para servir de base para os debates que
perduram até os dias de hoje. Esse tratado determinou metas para os países
desenvolvidos e economias em transição (denominados Anexo I da CQNUMC), a fim
de reduzirem as emissões de GEE. Para facilitar o cumprimento dos objetivos
determinados, o Protocolo de Kyoto criou três instrumentos de mercado chamados
mecanismos de flexibilização; dentre eles, o que afeta diretamente os países em
desenvolvimento é o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), por meio do qual
as nações detentoras de metas podem cumprir seus compromissos de diminuição de
emissões investindo em projetos de redução nos países em desenvolvimento. Em
outras palavras, um país desenvolvido tem duas alternativas: investir em
tecnologia mais eficiente em seu próprio país ou utilizar os mecanismos de
flexibilização.
À luz da nova economia institucional, o objetivo principal neste trabalho é, a
partir da apresentação de um panorama mundial de distribuição dos MDLs,
analisar o desempenho dos projetos de redução de emissões de GEE implantados
nos países em desenvolvimento. As hipóteses centrais que nortearam a
investigação são descritas a seguir.
Hipótese 1 O perfil de distribuição dos projetos de mecanismo de
desenvolvimento limpo por sucesso de redução (desempenho dos
projetos) é influenciado pelas especificidades dos projetos, como
setor, escala, país, auditoria contratada, volume de emissões
reduzidas e estimadas, metodologia utilizada no projeto e ano de
emissão dos certificados de carbono.
Hipótese 2 Projetos de redução de emissão relacionados à
agricultura apresentam maior sucesso de redução de emissões.
Hipótese 3 Os custos de transação exercem influência sobre as
diferenças entre as reduções de emissão estimadas e as reduções de
emissão efetivamente realizadas nos projetos de mecanismo de
desenvolvimento limpo.
A pesquisa contou com dados secundários (análises de documentos oficiais e
bibliografia pertinente ao tema e análise das teorias da economia
institucional) e dados primários, por meio de entrevistas direcionadas aos
players do mercado brasileiro que tiveram projetos de MDL implantados e
certificados de carbono emitidos até março de 2009, totalizando 89 empresas.
Desse universo, 46% responderam à pesquisa. Os dados quantitativos provêm de
fontes disponíveis nos sites da Unep Risoe e United Nations Framework
Convention on Climate Change (UNFCCC), e os qualitativos são resultados das
análises e entrevistas.
2. MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO E O MERCADO DE CRÉDITOS DE CARBONO
A preocupação mundial com o aquecimento global abarca um novo enfoque em
relação à natureza do problema ambiental, uma vez que há um efeito em cadeia,
que se origina no meio ambiente, mas que se estende à economia e ao
comportamento social em geral. Como consequência da convergência de interesses
em diminuir as emissões dos GEE, as nações passaram a reunir-se com o intuito
de discutir a respeito das implicações e das soluções para esse problema. Um
importante acontecimento mundial, e um dos grandes propulsores do engajamento
global na resolução dos males decorrentes da intensificação do efeito estufa,
foi a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (CQNUMC),
estabelecida em 1992. Essa reunião teve como principal resultado a tomada de
consciência sobre a necessidade de os países agirem conjuntamente, pois, caso
contrário, seria muito difícil solucionar a questão do aquecimento global
satisfatoriamente (CQNUMC, 2004a; CQNUMC, 2004b).
A primeira reunião da CQNUMC foi seguida de outros encontros anuais e, durante
o terceiro deles, estabeleceu-se o Protocolo de Kyoto, em 1997, um tratado
criado para dar maior sustentação às proposições inicialmente definidas,
proporcionando garantia organizacional e estrutural à Convenção. Esses
encontros anuais têm o propósito de melhor desenvolver as conclusões
anteriormente acordadas e definir novas tomadas de decisões. Apesar de Kyoto
ter sido estabelecido em 1997, esse documento serve ainda como base para as
reuniões posteriores que ocorrem até os dias de hoje, e suas premissas
permanecem, apesar de algumas modificações.
A criação do Protocolo somente foi possível porque diversos países com
políticas e economias distintas chegaram a um acordo voluntário e consensual, o
que significa dizer que todas as partes signatárias, sem exceção, concordaram
com as regras estipuladas. O fato de ser um contrato voluntário significa que
os países trabalham com a ideia de que os outros irão cumprir suas metas por
meio de self-enforcing, e ser consensual significa que todos concordam com as
regras determinadas. O problema é que, ao atender a essas duas condições, pode-
se chegar a objetivos de redução não muito elevados (CHANDER e TULKENS, 2006).
O tratado de Kyoto é um tratado mundial com vinculação legal, segundo o qual os
países industrializados (e demais pertencentes ao Anexo I da CQNUMC) deveriam
reduzir suas emissões combinadas de gases de efeito estufa em torno de 5,2% em
relação aos níveis de 1990, no período compreendido entre 2008 e 2012, primeiro
período de Kyoto. Esse documento somente entraria em vigor depois de ratificado
por 55 países do Anexo I, que representassem pelo menos 55% das emissões de GEE
ocorridas no ano de 1990. CHADWICK (2006) aponta Kyoto como o mais ambicioso
sistema de controle de poluição jamais acontecido até sua adoção.
Reuniões anuais continuaram acontecendo, e em 2012, em Doha, foi acordado o
segundo período de compromisso de Kyoto, de janeiro de 2013 a dezembro 2020,
incluindo novos compromissos para as Partes do Anexo I, que se comprometeram em
reduzir as emissões de GEE em pelo menos 18% abaixo dos níveis de 1990.
O Protocolo é um documento que apresenta uma linguagem de natureza técnica
baseada no entendimento jurídico internacional. Trata-se de um acordo de
difícil concordância de ideias entre as partes negociantes. O documento
resultante não é totalmente objetivo e em alguns pontos caracteriza-se pela
ausência de definições claras e unívocas. As dúvidas em relação às informações
são alvo constante de críticas e discussões, que ocorrem desde sua criação até
os dias de hoje. No entanto, é de interesse geral que atualizações e melhorias
sejam feitas para maior aceitação e, por essa razão, as discussões ocorridas
nas reuniões posteriores à criação do Protocolo continuam a acontecer, numa
tentativa de adaptação à realidade e ao interesse da maioria.
2.1. Princípios do Protocolo de Kyoto
Para facilitar o cumprimento das metas de redução, o Protocolo de Kyoto criou
instrumentos de mercado chamados mecanismos de flexibilização, a implementação
conjunta, o comércio de emissões e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
Os três instrumentos permitem a criação e o desenvolvimento do mercado de
carbono.
A implementação conjunta consiste em que os países industrializados compensem
suas emissões participando de projetos e sumidouros em outros países do Anexo
I. O comércio de emissões permite que países desenvolvidos negociem entre si
quotas de emissão acordadas em Kyoto (CQNUMC, 2004a).
Finalmente, o mecanismo que afeta diretamente os países em desenvolvimento é o
mecanismo de desenvolvimento limpo, por meio do qual os países industrializados
podem cumprir seus compromissos de redução investindo em projetos que evitem as
emissões de gases de efeito estufa nos países em desenvolvimento.
Em outras palavras, um país desenvolvido tem duas alternativas: investir em
tecnologia mais eficiente em seu próprio país, ou utilizar os mecanismos de
flexibilização. Como consequência da implantação de projetos de redução no
âmbito de Kyoto, surgiram os certificados de carbono, comercializáveis e
equivalentes ao volume de redução das emissões dos GEE efetivamente alcançada
depois da implantação de um projeto.
O mercado de créditos de carbono abrange a comercialização de certificados(1)
resultantes da adoção de Kyoto, além de outros programas de redução como os de
licenças para poluir. Existem diferentes tipos de comércio de certificados,
muitos deles voluntários e sem padronização. No entanto, em geral seguem
algumas linhas básicas comuns a todos, embasadas em conceitos teóricos pensados
muito antes da criação do Protocolo de Kyoto. Assim sendo, não há um único
mercado de carbono, definido por uma única commodity, por apenas um contrato. O
que é comumente chamado de mercado de carbono é, assim, uma coleção de diversas
transações, por meio das quais volumes de reduções de emissões de GEE são
comercializados, diferenciando-se em relação a tamanho, formato e
regulamentação. Essas transações podem ser também separadas em Kyoto
compliancee non-Kyoto compliance, que seriam os créditos de carbono que
obedecem aos parâmetros impostos pelo Protocolo ou não. As informações
referentes a esse mercado são limitadas e, principalmente, de difícil
mensuração, pois não há uma câmara central de compensação para as transações,
além de não ser obrigatória a publicação dos preços e negociações (GODOY,
2009).
3. ECONOMIA INSTITUCIONAL, NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL E O MERCADO DE CARBONO
A discussão sobre as medidas para lidar com as mudanças climáticas incorre na
definição de qual a solução mais eficiente para a degradação de recursos
naturais, rotulada como uma externalidade negativa. Externalidades negativas ou
deseconomias de aglomeração surgem quando as atividades das empresas não geram
somente resultados positivos, mas também negativos a outros, em consequência de
uma definição imprecisa dos direitos de propriedade privados. O ar é um bem
público, um recurso de propriedade comum a toda sociedade, de difícil
mensuração e transacionalização, e o mercado de carbono surge como uma
tentativa de definir os direitos de propriedade sobre a poluição atmosférica,
internalizando essa externalidade negativa (PINDYCK e RUBINFELD, 1999).
Pigou (1920) apresenta como solução para as externalidades negativas a criação
de taxas (taxa pigouviana) em valor equivalente ao custo (benefício) da
externalidade gerada. Tal solução sugere a valoração econômica da degradação e,
por meio da intervenção do Estado, adota o sistema de taxação.
Nos anos 1960, o prêmio Nobel Ronald Coase, em seu artigo "The problem of
social cost", propôs uma nova forma de analisar essa questão (COASE, 1960). Ele
considera que as soluções privadas, em geral, envolvem custos menores, isso
porque, caso não haja custos de transação (CT), os resultados não seriam
afetados pela ação do Estado. A partir dessa lógica, nasce a linha teórica
denominada de nova economia institucional, que tem como um de seus
entendimentos que o Estado deve criar condições, por meio de definição de
direitos de propriedade, para que os agentes econômicos negociem livremente no
mercado os chamados bens ambientais, como a redução da poluição atmosférica. O
comércio de carbono traz em sua essência a lógica apresentada por Coase, uma
vez que viabiliza um instrumento, que visa à apropriação de um bem livre
(2)
a partir de comércio de certificados de redução (MUELLER, 2002).
No mercado de carbono, transações acontecem podendo emergir custos de
transação, nesse sentido é importante o entendimento dos pressupostos das
teorias dos CT. Os custos de transação são os recursos alocados para coordenar
a produção do bem, como a elaboração de contratos, a obtenção de novas
informações sobre o produto e concorrentes, a barganha, a condução das
negociações e o monitoramento do processo. North (1990) ainda diferencia os
custos de transação dos de transformação, pois estes últimos são os custos
decorrentes da modificação do insumo em produto, e custos de produção, a soma
dos dois custos (WILLIAMSON, 1985; NORTH, 1994; ZYLBERSZTAJN e SZTAJN, 2002).
Esses custos podem ser divididos em custos de transação ex antee ex post. Os
primeiros são os relativos às negociações prévias consequentes das definições
das características do objeto transacionado, que abrangem os custos necessários
à coleta de informações, à negociação, à elaboração de contratos e de
salvaguardas contratuais. Os custos ex postsão os possíveis custos de
adaptações às cláusulas inicialmente acordadas, como custos de monitoramento,
administrativos, e custos de rompimento contratual (WILLIAMSON, 1993, apud
ZYLBERSZTAJN, 1995; WILLIAMSON, 1993).
Os custos de transação estão presentes em cada etapa do processo de implantação
de um projeto de mecanismo de desenvolvimento limpo, tais como na elaboração do
contrato inicial de apresentação do projeto; na validação; na aprovação; no
registro no Comitê Executivo do MDL(3); no processo de monitoramento do
projeto; na certificação; na emissão dos certificados de emissões reduzidas e
na definição da metodologia a ser utilizada nos projetos. Custos muito elevados
podem ser um entrave à entrada de novas empresas interessadas em implantar
projetos de MDL, sendo interesse deste trabalho identificar sua relevância.
4. SUCESSO DE REDUÇÃO E PANORAMA DOS PROJETOS DE MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO
LIMPO MUNDIAIS
O proponente deve entrar com uma documentação específica (DCP ' Documento de
Concepção do Projeto) junto ao Comitê Executivo do MDL para ter seu projeto
aprovado. O documento deve contemplar todas as características da atividade
pretendida, com a descrição do projeto bastante detalhada, incluindo dados
sobre projeções de reduções de emissões que intenciona alcançar depois de sua
implantação (Quadro_1). Os tipos de informações necessárias são determinados
pela UNFCCC, e os proponentes são obrigados a seguir o padrão específico de
preenchimento do documento. Esse processo de levantamento de dados está sujeito
a falhas, uma vez que se trabalha com estimativas do que será o projeto.
![](/img/revistas/rausp/v48n2/a10qua01.jpg)
O processo de análise de viabilidade dos projetos é bastante rigoroso e, depois
de o MDL ser finalmente aprovado e estar efetivamente em funcionamento, é
necessário verificar se as reduções de emissões estão realmente ocorrendo de
acordo com as estimativas inicialmente propostas. A partir dessa contraposição
de emissões projetadas e efetivas é que os certificados de carbono serão
emitidos.
O objetivo das análises dos dados mundiais dos projetos de MDL neste trabalho é
identificar a ocorrência de discrepâncias entre as reduções realizadas e
projetadas. Para identificar essas diferenças define-se Sucesso de Redução (SR)
(desempenho) como a relação entre as reduções de emissões efetivas e estimadas.
Assim, quanto mais próximo de 100%, maior o cumprimento das projeções; quanto
mais afastado desse valor, maiores os erros de estimativas. Num segundo
momento, com o intuito de verificar qual o papel dos custos de transação nos
SR, os projetos brasileiros são investigados mais a fundo no tópico seguinte.
O levantamento de dados para o estudo sobre os MDLs mundiais inclui os projetos
de mecanismo de desenvolvimento limpo que tiveram certificado de redução de
emissões emitidas até março de 2009. O universo de análise global inclui 33
países e 472 projetos de MDL
(4)
. As análises levam em conta diversas variáveis (Quadro_2), e a consolidação
das informações é separada por volume de reduções e por número de projetos.
Isso se faz necessário, pois o perfil de distribuição dos projetos difere
quando analisados esses dois fatores, podendo ocorrer, por exemplo, de apenas
um projeto ter mais volume de redução do que dezenas de outros pertencentes a
outro setor.
[/img/revistas/rausp/v48n2/a10qua02.jpg]
Os principais setores analisados foram:
• Agricultura ' recuperação e destruição de metano proveniente de
esterco e resíduos de atividades agrícolas ou agroindustriais que se
decomporiam anaerobicamente na ausência da atividade do projeto.
• Biomassa' projetos que visem à geração de energia por meio de
utilização de biomassa ou outra matéria orgânica que de outra forma
teria sido abandonada até decompor-se em condições anaeróbicas.
• Geotérmica' atividades relacionadas com geração de energia
geotérmica, em substituição a atividades mais poluentes.
• Redução de HFCs' projetos que buscam a redução de gases
halocarbonos e hexafluoretos.
• Resíduos sólidos ' tratamento aeróbico de águas residuais ou lodo
por sistemas anaeróbicos com recuperação e combustão de metano, como
tratamento de esgotos, compostagem, construção de aterros sanitários.
• Redução de N2O ' projetos industriais que buscam a redução de
gases N2O.
• Energia solar ' projetos de substituição de energia fóssil por
renovável, por meio de aproveitamento de energia solar.
• Energia eólica ' instalação de projetos que utilizam o vento como
fonte de energia em substituição a energias mais poluentes.
• Hidrelétrica ' atividades de projetos de geração de energia
renovável conectada à rede por meio de usinas hidrelétricas.
Como resultado das análises, 78% do mercado de MDL mundial pertence a três
países: Índia, 37%; China, 22%; Brasil, 19%. Em relação ao volume de redução de
emissões, verifica-se uma mudança nesse ranking principalmente em virtude do
alto volume de alguns projetos existentes na Coreia do Sul (China, 43%; Índia,
23%; Coreia do Sul, 14%; Brasil, 11%) (Gráfico_1). Os setores mais relevantes
em termos de volume de redução de emissões são projetos de HFC e N2O
(representando 84%do mercado), e em número de projetos biomassa, energia
hidrelétrica e eólica (representando 59%do mercado). Os projetos agrícolas têm
uma participação pequena em volume total (1%), mas, em termos de volume,
existem 38 projetos, representando 8% do total mundial (Gráfico_2).
Outra conclusão é de que a maioria dos projetos não cumpre as reduções
inicialmente estimadas. Esse perfil altera-se totalmente quando analisado o
volume de emissões reduzidas, uma vez que85%do volume alcança no mínimo 91% de
SR (Gráfico_3). Essa mudança de perfil ocorre principalmente em consequência da
existência de poucos projetos redutores de gases N2O e de HFC, mas com alto
volume de reduções, respondendo por 76% de todo o volume de reduções mundiais.
Esses dois setores apresentam alto potencial de redução de emissões, pois
trata-se de gases muito poluentes. Concluindo, projetos de redução de HFCs e
N2O projetaram suas reduções de GEE muito acima das expectativas inicialmente
propostas.
Em relação aos setores, os projetos com SR inferiores a 90% são nesta ordem:
projetos de resíduos sólidos, agricultura e troca de energia fóssil. Quando
analisados os números de projetos, os com mais projetos SR abaixo de 90% são:
resíduos sólidos, agricultura e energia eólica. Cabe ressaltar que os demais
setores também têm grandes percentuais de seus projetos em intervalos de baixo
SR (Gráfico_4).
A maioria dos projetos agrícolas cumpre menos do que 90% de SR, demonstrando a
baixa eficiência desses setores em termos de projeção de emissões. Quando
analisados números de projetos, a concentração abaixo de 90% é ainda maior
(Gráficos_5 e 6).
Em relação aos projetos brasileiros, 52% dos MDLs cumprem menos do que 90% de
SR; em relação ao volume de reduções, caem para 26% em razão de seu projeto de
N2O de alto volume de redução e com cumprimento acima de 110%, o que eleva a
média de cumprimento de redução. Dentre os setores relevantes com maior
concentração em SR abaixo de 90% estão agricultura, resíduos sólidos e
biomassa. Esses setores têm distribuição semelhante aos demais países, exceto
projetos agrícolas, que é pior no Brasil, pois todos estão abaixo de 90% de SR.
Cabe ressaltar que o Brasil é o país no mundo que tem maior número de projetos
com SR abaixo de 20%, em razão de projetos de agricultura e resíduos sólidos.
Assim, o setor no qual o projeto de MDL é desenvolvido tem grande influência na
distribuição do sucesso de redução, tanto em relação ao volume de redução de
emissões, quanto em número de projetos.
Um fato relevante é que a concentração dos SR pode alterar-se, dependendo da
metodologia utilizada, ou seja, um mesmo tipo de projeto que utiliza uma dada
metodologia apresenta um perfil de distribuição de SR, e o mesmo setor com
outra metodologia pode ter outro perfil de cumprimento das reduções. Essas
diferenças também podem ser observadas quando comparados os países, pois um
mesmo tipo de projeto ou metodologia tem perfil diferente conforme o país que o
adota, conclusão advogada nos pressupostos da economia institucional, que
concorda com o fato de que as particularidades locais podem afetar o resultado
econômico.
Quanto às diferenças constatadas nos perfis de distribuição dos SR por total de
volume de reduções, estimados e setores de projetos, não é possível afirmar que
se deram em razão dos custos de transação existentes nos projetos, pois podem
ser resultado tanto de problemas de organização, ou de má definição das
instituições, assimetria de informações, quanto dos demais custos existentes.
No entanto, em se tratando de metodologias, é possível afirmar com mais
acuidade que abrangem problemas de custos de transação. Uma metodologia
específica oferece uma série de procedimentos, fórmulas de cálculo e outras
informações referentes à estruturação do MDL. Além das definições de como se
dará a estimação das reduções dos GEE e de como se comportam as emissões dos
gases antes da implantação do projeto, faz parte do escopo da metodologia
determinar os detalhes e as especificidades do monitoramento das reduções que
porventura ocorram decorrentes da implantação do MDL. Para definir esses
procedimentos, é imprescindível reunir informações sobre atividades semelhantes
já existentes, detalhes sobre o setor, além de estabelecer como serão as
atividades adequadas para promover o monitoramento do projeto. Assim, qualquer
falha de informações em relação à concorrência, ou aos processos necessários
para o monitoramento, pode prejudicar o projeto e configura problemas
específicos de custos de transação.
Outro exemplo de variável que afeta o perfil dos SR são os anos em que os
certificados são emitidos. Com base nas análises conclui-se que, conforme o
período observado de emissão dos certificados de carbono, a distribuição dos SR
se altera. No entanto, não é possível concluir se esses dados são influenciados
somente pelos custos de transação, ou por outro motivo que, com os dados
disponíveis, não foi possível constatar.
Já a análise do perfil dos projetos de acordo com as auditorias adotadas
demonstra que, conforme a empresa contratada, o perfil do SR se modifica, e o
processo de verificação incorre diretamente em custos de transação. Com a ideia
de verificar se as reduções estão realmente ocorrendo, são contratadas empresas
de auditoria responsáveis pela constatação da veracidade das reduções. A
maneira como essas organizações executam suas auditorias segue um padrão de
medidas ditado pela UNFCCC, mas existem as particularidades de comportamento de
cada empresa e por isso é possível observar que há diferenças na distribuição
dos projetos por SR, dependendo da auditoria utilizada. Além desse fato, o
perfil dos MDLs também se altera, quando analisada a influência que uma mesma
auditoria exerce sobre a distribuição dos projetos em diferentes países, o que
ressalta que as particularidades locais podem afetar o comportamento dos
projetos, uma clara evidência da relevância dos custos de transação no sucesso
dos projetos.
Concluindo, pode-se dizer que as informações analisadas neste tópico sugeriram
que os custos de transação influenciam no perfil do SR. No entanto, apenas com
os dados mundiais disponíveis não foi possível determinar o sentido específico
dessa influência; as análises serão aprofundadas no tópico subsequente.
5. CUSTOS DE TRANSAÇÃO E OS PROJETOS DE REDUÇÃO DE EMISSÕES BRASILEIROS (MDL)
Este tópico é desenvolvido para mostrar as razões que poderiam afetar o sucesso
de redução de projetos de MDL no Brasil, identificando se os custos de
transação poderiam influenciar essas diferenças. Somando-se a isso, as análises
são focadas na identificação de se os custos de transação são barreiras para
desenvolver um projeto de MDL. A análise dos custos de transação busca levantar
a importância não somente dos valores financeiros, mas também daqueles custos
decorrentes de falta de informação, negociação e elaboração de contratos,
metodologias de cálculos erradas e relação com intemedíários. Tendo em vista as
dificuldades de mensurar esses dados caracterizados pela subjetividade e a não
possibilidade de quantificação, neste artigo lança-se mão de análise de
entrevistas com organizações mergulhadas no processo de MDL, os implantadores
de projetos.
A pesquisa também contou com a colaboração de formadores de opinião,
profissionais ligados aos projetos de MDL, tanto direta quanto indiretamente.
Foram entrevistados: um consultor de MDL, um professor consultor de projetos de
energia e MDL, um especialista de MDL e um profissional do mercado financeiro
ligado à área de carbono. As informações levantadas com esses entrevistados
serviram para aprofundar o conhecimento do mercado, além de melhorar a
elaboração do questionário.
O universo pesquisado equivale às 89 empresas com projetos de MDL implantados
no Brasil e que já tiveram certificados emitidos até março de 2009. Dos 89
projetos de MDL, distribuídos em 11 setores, 41 responderam à pesquisa,
correspondendo a 46% de respostas sobre o total de questionários enviados.
As conclusões sobre os projetos brasileiros partiram das análises dos projetos
mundiais, que serviram como ponto de partida para o aprofundamento dos
entendimentos e serviram como base para a construção dos questionários. A
pesquisa foi dividida em quatro questões de múltipla escolha e uma descritiva.
A primeira questão ("Classificar os motivos que, em sua opinião, influenciam a
decisão de as empresas implantarem um MDL") tem o objetivo de identificar os
interesses das empresas em implantar um projeto (Tabela_1). A princípio, os
projetos de MDL têm intuito meramente ambiental de diminuir emissões, mas podem
assumir uma dimensão maior, uma vez que são projetos que resultam em alterações
tecnológicas, em recursos financeiros com a venda de certificados e até mesmo
na possibilidade de aumentar a visibilidade da empresa no mercado.
A segunda questão ("Em geral, os projetos de MDL brasileiros e nos outros
países apresentam diferenças entre as reduções de emissões propostas nos DCPs e
as observadas depois do monitoramento/certificação. Em sua opinião, qual a
contribuição das variáveis a seguir para explicar as diferenças em seu projeto
de MDL, caso ocorram?") foi formulada para determinar quais as possíveis razões
que ocasionam as diferenças entre as reduções de emissão propostas inicialmente
nos projetos de MDL e as que realmente ocorreram, depois da verificação das
diminuições dos GEE (Tabela_2). A implantação de um MDL requer que o proponente
passe por uma série de etapas e, influenciado por diversas organizações, tenha
de obedecer a regras específicas e gerais. Com base nas respostas, as
conclusões da segunda questão buscam identificar e verificar se os custos de
transação exercem papel relevante nas diferenças de SR constatadas nos
projetos.
A terceira questão ("Em todo o processo de implantação do MDL, em geral, as
empresas encontram barreiras e/ou dificuldades em relação a:") tem o interesse
de levantar em que etapa do ciclo do MDL os entrevistados encontraram barreiras
e dificuldades (Tabela_3).
Reforçando os questionamentos das perguntas anteriores, a questão 4 ("Em sua
opinião, em que grau (de 0 a 5) as variáveis a seguir contribuíram para impedir
que uma empresa implante um novo projeto de MDL:") e a questão descritiva 5 ("O
que poderia ser modificado para melhorar o processo de MDL, ou para que mais
empresas façam projetos de MDL no Brasil?") foram formuladas para novamente
traçar um perfil de comportamento dos proponentes de MDL, levantando suas
dificuldades e opiniões sobre todo o processo de implantação de um projeto
(Tabela_4).
Como descrito no tópico 2 deste trabalho, os custos de transação podem ser
subdivididos em ex ante e ex post. As alternativas apresentadas nos
questionários enviados aos entrevistados podem ser relatadas conforme esse
entendimento, sendo possível separá-las como no Quadro_3.
Em relação ao Quadro_3, pode-se concluir que os custos de transação que
permeiam um projeto de MDL podem ser separados em custos ex ante, anteriores à
implantação de um projeto, e custos ex post, os que podem ocorrer depois de
implantado o projeto.
Os custos ex ante podem, ainda, ser separados em:
• custos de informação' aqueles decorrentes da procura por
informação, ou por falta e falhas de informação, que pode levar a
escolha errada de uma dada metodologia ou tecnologia, bem como afetar
a eficiência das organizações contratadas;
• custos de intermediários ' correspodem aos gastos com as
organizações que intermedeiam o processo do MDL e são responsáveis
pela finalização de cada estágio antes da aprovação final e da
implantação do projeto. Ou a contratação de uma consultoria, que não
é obrigatória, mas muitas vezes ocorre com a intenção de facilitar a
aprovação e implantação de um projeto;
• outros custos ' como aqueles decorrentes de tempo gasto entre a
preparação do projeto e depois de ele estar efetivamente em
andamento;
• custos de negociação ou elaboração de contratos ' são aqueles
resultantes da preparação dos documentos anteriores à implantação do
projeto, e os consequentes da procura pelo comprador dos créditos de
carbono. Como as negociações são feitas em mercado de balcão, sem
câmara de compensação, é mais difícil e custoso encontrar compradores
para seus certificados. Assim, essa procura incorre em custos de
transação.
Os custos ex post são os que podem emergir depois da implantação do projeto de
MDL, como custos de monitoramento, custos de adaptação resultantes de mudanças
que poderiam ocorrer depois de finalizada a primeira fase de Kyoto (2008 a
2012).
Com base nessa classificação, as análises das alternativas respondidas nos
questionários permitiram identificar quais desses custos exercem influências
mais significativas tanto como barreiras para implantação dos projetos quanto
como determinantes da eficiência dos MDL (sucesso de redução).
5.1. Conclusão geral sobre os projetos brasileiros
Segundo os entrevistados, primeiramente o que mais importa na hora de implantar
um projeto de MDL é o interesse em melhorias ambientais, mas os recursos
financeiros decorrentes da venda dos certificados exercem também papel decisivo
na decisão de desenvolver um projeto, funcionando como um forte atrativo. Os
custos de negociação decorrentes da venda dos créditos de carbono não são muito
altos, uma vez que, em geral, os entrevistados não tiveram muitos problemas em
encontrar compradores para seus créditos de carbono, e as consultorias
contratadas geralmente foram os intermediários entre vendedores e compradores.
Ainda com relação à falta de informação, a maior parte dos entrevistados
apontou dificuldades no entendimento do processo do MDL. De fato, é um processo
complexo, com vários estágios, muitas organizações envolvidas, repleto de
documentos de cunho jurídico internacional, o que dificulta ainda mais o
entendimento, sendo necessário muitas vezes contar com o apoio de consultorias
privadas.
Em relação às diferenças entre as reduções efetivas e as estimadas, segundo os
entrevistados, os custos de transação exercem papel importante na tentativa de
explicar as discrepâncias encontradas entre os SR, principalmente os custos de
informação e os custos de mensuração e monitoramento.
Existe muita insatisfação com as intermediadoras do projeto, como as
auditorias, ou a Autoridade Nacional Designada (AND)
(5)
e até mesmo o próprio Comitê Executivo do MDL. Entrevistados relatam que em
alguns casos as Entidades Operacionais Designadas (EODs)
(6)
, na hora de auditar e validar os projetos, acabam atrasando o processo, uma
vez que fazem muitas solicitações em diferentes momentos, o que causa mais
custos de transação para o proponente, pois os contratos têm de ser refeitos,
reavaliados, tomando muito tempo e gerando incertezas para os proponentes.
Alguns também sugerem que seja aumentado o número de EODs, pois assim, com
maior concorrência, a qualidade do serviço poderia melhorar.
Na mesma linha, os entrevistados demonstram insatisfação em relação à adoção de
uma metodologia não adequada, ocasionando, assim, um desenvolvimento
insatisfatório do projeto. Muitas vezes isso ocorre por problemas de falta de
informações, o que leva à escolha de uma metodologia inadequada ao tipo do
projeto, causando mais custos de transação. É mencionado que alguns cálculos
não abrangem todas as variáveis necessárias, como, por exemplo, as alterações
climáticas ou especificidades locais dos projetos brasileiros, o que resulta em
modelos matemáticos imprecisos. Segundo outro entrevistado, a fórmula de
cálculo disponibilizada pela UNFCCC considera que o peso da composição do lixo
não condiz com o padrão do lixo brasileiro. Por essa razão, segundo alguns
entrevistados, projetos de aterros sanitários apresentam diferenças nos SR.
Essa dificuldade de padronização de cálculo e metodologia pode ser extrapolada
para outros tipos de projetos, como os agrícolas.
Nessa mesma linha, um entrevistado aponta que existiam metodologias mais claras
e menos complexas no passado, mas que, na busca por diminuir oportunismos,
algumas regras ficaram mais rígidas, aumentando a complexidade e dificultando o
enquadramento dos projetos. Assim, existem metodologias que são atualizadas
constantemente, aumentando progressivamente os custos de transação a cada novo
pedido de aprovação. Também foi mencionado que, mesmo quando um MDL já existe e
busca apenas a renovação, às vezes, ainda assim, deve adotar outra metodologia
diversa daquela que o proponente tinha utilizado, além de ser necessário um
alto nível de exigência de comprovação das informações, o que dificulta ainda
mais a renovação dos projetos.
Em relação à legislação ambiental, apesar de ser uma etapa bastante complexa e
cheia de requisitos para aprovação, de acordo com a maioria dos proponentes,
esta não criou muitos problemas para a implantação de um MDL. As consultorias
também não constituem grande impeditivo e, de maneira geral, somente uma
pequena parte dos entrevistados considera que elas dificultam a implantação do
MDL.
Outra razão que aparece com um peso elevado de respostas resulta da insegurança
a respeito do que irá acontecer com o futuro do MDL, e se haverá compradores
para os certificados resultantes das reduções de emissões futuras, custos de
transação ex post ao projeto.
Outra grande reclamação apontada refere-se aos custos do projeto, tanto os
diretamente ligados à produção, como problemas decorrentes da tecnologia
empregada, com a empresa de engenharia, e também com os custos de transação
decorrentes dos gastos diretamente efetuados com as organizações, como taxas de
registro e de auditoria. Muitas vezes, esses custos superam até mesmo o ganho
com a venda dos certificados, o que inviabiliza a implantação de um projeto de
MDL.
Concluindo, os custos de transação fazem parte do ciclo do MDL e podem atuar
como barreiras para novos MDL, pois estão presentes desde a elaboração de
contratos, levantamento de informações, monitoramento, negociações e demais
gastos resultantes do arcabouço institucional que dá sustentação às relações
entre as organizações existentes e as normas necessárias ao andamento do MDL.
Os custos de transação também afetam o sucesso de redução dos projetos,
principalmente os resultantes de assimetria de informações e problemas de
mensuração dos cálculos de estimativas.
A UNFCCC está atenta à diminuição dos custos de transação. O Comitê Executivo
do MDL, por exemplo, criou o MDL programático, por meio do qual diversos
proponentes podem fazer apenas um pedido junto ao Comitê, não sendo necessário
um processo para cada interessado, bastando haver características comuns e
entrarem com um pedido geral. Essa é uma grande ferramenta que, embora
incipiente, está sendo bastante discutida nas reuniões do MDL. Outra atitude do
Comitê do MDL são as discussões constantes, por meio das reuniões trimestrais
do MDL a respeito de simplificação e consolidação das metodologias. Outros
fatores que poderiam diminuir os custos seriam as melhorias de relacionamento
entre proponentes e organizações, a redução de taxas referentes ao processo e a
maior disseminação de informações.
6. CONCLUSÃO
A conscientização maior dos países em relação ao aumento da concentração dos
GEE na atmosfera desencadeou a criação do Protocolo de Kyoto como tentativa de
minimizar as emissões excessivas dos gases. A princípio, sua criação já foi um
avanço, independentemente de os objetivos propostos serem alcançados ou de suas
metas não serem muito agressivas. Kyoto sinaliza antes uma consciência global
no sentido de que algo deve ser feito para mitigar as mudanças climáticas e não
apenas uma tentativa de alteração de atitudes de uma minoria interessada.
O entendimento do Protocolo, bem como de suas atualizações, é tarefa bastante
complexa, uma vez que se trata de documentos que utilizam linguagem de natureza
técnica baseada no entendimento jurídico internacional. Suas regras nem sempre
são objetivas e, em alguns pontos, caracterizadas pela ausência de definições
claras e unívocas, o que provoca críticas e discussões que ocorrem desde sua
criação até os dias de hoje. Isso foi comprovado neste trabalho, uma vez que a
dificuldade em obter informações sobre o MDL é constantemente apontada pelos
entrevistados na pesquisa. No entanto, deve ser enfatizado que o Protocolo é um
acordo que pressupõe a possibilidade de alterações na busca de melhorias e,
segundo suas premissas, por meio do aprendizado contínuo, espera-se que os
erros sejam reduzidos para tornar todo o processo mais eficiente e adaptado à
realidade.
A complexidade de Kyoto e, consequentemente, do Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo resulta de uma série de instituições e organizações responsáveis por seu
desenvolvimento. Ao mesmo tempo em que é necessário um aparato institucional
para evitar oportunismos e falhas de procedimentos de implantação de um MDL, o
excesso de normas e de organizações acaba dificultando a implantação de novos
projetos. Assim, surgem os custos de transação inerentes a todas as etapas do
ciclo do projeto, que podem afetar a eficiência de um projeto e influenciar a
decisão de um proponente em implantar um MDL.
Em relação ao panorama mundial de distribuição dos projetos de MDL, os países
com maior número de MDLs são Índia, China e Brasil. Quando analisado o total de
certificados emitidos, essa classificação se altera, e os países com maior
volume reduzido são China, Índia, Coreia do Sul e Brasil. Os setores mais
relevantes em termos de volume de redução de emissões são HFC, N2O e, quando
analisado o número de projetos, o setor de biomassa é o primeiro, seguido por
energia hidrelétrica e energia eólica. Os projetos agrícolas têm uma
participação de 8% em número de projetos, estando entre os dez setores com
maior quantidade de projetos de MDL. A participação não é tão relevante, pois
existem setores com uma concentração grande de projetos. Em termos de volume, o
setor agrícola detém apenas 1%, principalmente por causa dos projetos com alto
potencial de redução de HFC e NO2.
Ao considerar o desempenho do MDL (sucesso de redução) em número de projetos, a
maioria dos MDLs não cumpriu a estimativa de redução. No entanto, em termos de
volume de reduções de emissões, a maioria dos projetos cumpriu mais de 91% do
SR.
Os setores agrícolas, tanto os mundiais quanto os brasileiros, são os com
menores percentuais de sucesso de redução; assim, os setores menos eficientes
são os de resíduos sólidos e agricultura (no Brasil, agricultura e resíduos
sólidos). Pode-se levantar a hipótese de que essas diferenças ocorrem em razão
de problemas com metodologia de cálculo que afetam as projeções de reduções.
Com base nas análises das respostas dos entrevistados dos projetos brasileiros
de MDL, conclui-se que, como o ciclo do MDL é composto de diversas etapas,
entremeadas por organizações e normas específicas, podem ocorrer falhas de
informação que desencadeiam problemas de cálculos, ineficiências das entidades
intermediárias, além de negociações inadequadas. Os custos também podem atuar
como barreiras para novos MDL, estando presentes desde a elaboração de
contratos, o levantamento de informações, o monitoramento, as negociações e
demais gastos resultantes do arcabouço institucional que dá sustentação às
relações entre as organizações existentes e as normas necessárias ao andamento
do MDL. Os custos de transação analisados neste trabalho, tanto os ex ante
quanto os ex post(WILLIAMSON, 1985; 1993), afetam o sucesso de redução dos MDLs
brasileiros e são barreiras ao crescimento desse mercado de carbono. Os mais
relevantes são os ex ante, basicamente os decorrentes de falta ou falhas de
informações e os de mensuração e monitoramento.
NOTAS
(1) Crédito de carbono, certificado de carbono, certificado de redução de
emissão, essa é a nomenclatura utilizada no projeto para designar genericamente
os certificados resultantes das reduções de emissão dos CO2e, englobando
reduções certificadas de emissões (RCE) do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
(MDL) e os demais certificados de redução de emissões resultantes de outros
mercados.
(2) Bem livre é aquele cuja oferta é ilimitada, pode ser consumido sem custos
e, por isso mesmo, não é passível de apropriação privada.
(3) O Comitê Executivo do MDL foi constituído para supervisionar o processo do
MDL e tem a função de tornar públicas as informações sobre as atividades de
projeto de MDL, promover a emissão dos certificados, dentre outras funções.
(4) A base de dados dos projetos está disponível no site da UNFCCC (2010) e no
da Unep Risoe (2009).
(5) A Autoridade Nacional Designada (AND) é definida pelo país em
desenvolvimento que pretende hospedar um projeto de MDL. Seu objetivo principal
é aprovar ou não os projetos, analisando sua contribuição para o
desenvolvimento sustentável, e verificar se as demais premissas estão sendo
cumpridas.
(6) A Entidade Operacional Designada (EOD) é uma entidade jurídica (nacional ou
internacional), credenciada pelo Comitê Executivo do MDL e que faz a validação,
a verificação e a certificação da atividade do projeto.