Ensaio sobre as virtudes do capital de risco corporativo para projetos de alta
tecnologia no setor agrícola: a trajetória inovadora da Alellyx Applied
Genomics e da CanaVialis
1. INTRODUÇÃO
A competitividade e a busca por novos empreendimentos de alta lucratividade
levaram grupos econômicos norte-americanos a diversificar seus investimentos
corporativos em diferentes negócios inovadores. Essas iniciativas, devido ao
elevado risco ou incerteza, ficaram conhecidas como modalidades de capital de
risco. Block e MacMillan (1993) reafirmam a importância do capital de risco
para a prática de estratégias inovadoras. Para os autores, o capital de risco
corporativo, desde a década de 1980, vem sendo utilizado como um método
sistematizado encontrado por grupos tradicionais para praticar o
empreendedorismo e realizar suas estratégias de negócios, seja de inovação,
seja de busca por espaços emergentes. Essa é uma alternativa principalmente
para as grandes organizações, nas quais a capacidade para empreender e inovar
tornou-se mais difícil de ser mantida ao longo do tempo e apenas um pequeno
grupo consegue ser efetivamente inovador.
Em resumo, o capital de risco contribuiu sobremaneira para que os empresários
norte-americanos conseguissem enfrentar com razoável sucesso os primeiros anos
da década de 1980. O incentivo ao empreendedorismo foi, segundo Block e
MacMillan (1993), o principal responsável pelo crescimento econômico dos
Estados Unidos, motivo pelo qual tal prática tem sido rapidamente disseminada
para outros países que também visam ao crescimento econômico.
Desde então (anos 1980), o investimento de risco corporativo vem sendo
utilizado como um método sistematizado, daí ser considerado por alguns autores
como um modelo, encontrado pelos grupos tradicionais para praticar o
empreendedorismo e realizar suas estratégias de negócios (BLOCK e MACMILLAN,
1993), quer de inovação, quer de busca por novas oportunidades e por espaços
emergentes. Em outros termos, trata-se de uma alternativa, principalmente para
setores em que a capacidade para empreender e inovar é muito mais difícil de
manter e de ser sustentada.
A biotecnologia constitui um desses setores em que a inovação e o
empreendedorismo se transformaram em pré-requisitos para a sobrevivência das
empresas. Em cenários de incertezas e de acirrada concorrência, tende a ser
mais frequente a associação entre o capital de risco e as iniciativas de
empreendedorismo científico (KENNEY, 1986; FAULKNER, SENKER e VELHO, 1995).
Segundo Judice e Baêta (2005, p.174),
"a pesquisa científica é a fonte básica de conhecimentos para o
desenvolvimento de produtos e serviços biotecnológicos e gerou o
modelo empresarial clássico do setor, o cientista-empresário, e a
típica micro e pequena empresa spin-offuniversitária".
Esse modelo tem sido particularmente bem-sucedido nos Estados Unidos, a exemplo
do Silicon Valley, em que os fundos de capital de risco têm direcionado parcela
substancial de seus investimentos em startups ligadas à biotecnologia e às
tecnologias limpas (FERRARY e GRANOVETTER, 2009), a ponto de configurarem uma
nova vocação nessa região, que já foi palco para o surgimento de
empreendimentos revolucionários no campo das tecnologias da informação.
Também em relação ao Brasil, a área da biotecnologia tem se expandido.
Levantamento realizado pela Fundação Biominas identificou em 2009 a existência
de cerca de 253 empresas com negócios relacionados às ciências biológicas em 18
unidades da Federação. Há menos de dez anos, eram 80 as empresas com esse
perfil. Dessas 253 empresas, 43% atuavam no segmento da biotecnologia, e mais
de 80% desse universo encontrava-se aglomerado em polos regionais nos estados
de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul (FUNDAÇÃO
BIOMINAS, 2009). A expansão dos fundos de capital de risco poderia adensar
ainda mais iniciativas desse tipo, assim como as chances de sucesso de
empreendimentos no campo da biotecnologia, emergentes no país, em especial, se
se considerar o perfil dessas empresas: majoritariamente composto por micro e
pequenas empresas (MPE) jovens, quase metade delas (47,7%) com menos de dez
funcionários e 72,7% com menos de 20 empregados. Embora sejam pequenas
empresas, elas têm o potencial para gerar empregos de alta qualificação:
juntas, essas empresas geravam à época da pesquisa aproximadamente seis mil
postos de trabalho, a maioria deles (cerca de 45%) envolvidos em rotinas de
pesquisa e desenvolvimento (P&D) (FUNDAÇÃO BIOMINAS, 2009).
Neste artigo testaram-se teorias sobre o capital de risco corporativo de
empresas de sucesso propostas por Block e MacMillan (1993) e Mackewicz e
Partner (2003), utilizando o método de estudo de caso de duas empresas de
pesquisa em biotecnologia. O caso demonstra a trajetória inovadora desses dois
bioempreendimentos de alta tecnologia, que nasceram na universidade brasileira,
isto é, foram spin-offs acadêmicos do bem-sucedido Projeto Genoma, fomentado
com recursos públicos pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp). Tal projeto envolveu pesquisadores vinculados a 35 laboratórios de
cinco universidades paulistas e resultou no sequenciamento e mapeamento do DNA
da bactéria Xylella fastidiosa, que causa nos laranjais a clorose variegada dos
citros (CVC), mais conhecida como "doença do amarelinho" (DAL POZ, 2000). Ao
concluir tal sequenciamento, cinco dos principais pesquisadores egressos desse
projeto foram convidados pela unidade do grupo brasileiro Votorantim, que
realiza investimentos em novos negócios, a Votorantim Novos Negócios (VNN),
para transformar os conhecimentos acumulados ao longo do Projeto Genoma em
produtos comercializáveis de biotecnologia com aplicação na agricultura.
Contando com o aporte de capital de risco da VNN, foi criada em 2002 a primeira
empresa brasileira de genômica vegetal, a Alellyx Applied Genomics, e, um ano
depois, a empresa CanaVialis, voltada ao melhoramento genético de cana-de-
açúcar. Posteriormente, em 2008, ambas as empresas foram vendidas para a norte-
americana Monsanto, um dos maiores grupos multinacionais de pesquisa e produção
de alimentos no mundo.
Em face de tal contexto, este artigo foi desenvolvido em torno da seguinte
questão: Como as atividades de capital de risco podem estimular as iniciativas
de empreendedorismo científico na área de melhoramento genético agrícola? Os
resultados encontrados demonstraram que a atividade de venturing realizada pela
VNN foi capaz de promover, em estágios iniciais de maturação do investimento,
não só trajetórias de inovação e de aprendizado tecnológico para as duas
empresas, Alellyx e CanaVialis, mas também iniciativas de empreendedorismo
científico, com relativo êxito, em empresas de biotecnologia no Brasil.
Contudo, essas estratégias de investimentos corporativos ocultam, em sua
essência, objetivos presididos pela lógica de retorno financeiro desses ativos
e que se sobrepõem aos interesses de desenvolvimento de tecnologias críticas
para o País.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Venture capitale venturing corporativo
O capital de risco, tradução para o português de venture capital(VC),
corresponde ao capital empregado em estágios iniciais, intermediários ou
avançados de uma firma em novos ciclos de crescimento (ERIKSON, 2005). Os
fundos de VC nos Estados Unidos são normalmente constituídos por companhias de
seguro, doações educacionais, fundos de pensão, famílias ricas e investidores
individuais, conhecidos como investidores anjos. No Brasil, costumam ser
formados principalmente por recursos do governo, fundos de previdência e
investidores familiares. A gestão dos fundos é tradicionalmente feita por
empresas profissionais de capital de risco, as quais procuram investir recursos
em setores nos quais o retorno do investimento é acima da média de mercado.
Na visão de Gompers e Lerner (2001), para que se entenda a indústria do capital
de risco, é necessário que se conheça todo o ciclo de risco, o qual é
constituído basicamente por quatro fases: captação, investimento, monitoramento
e saída. O ciclo que começa com o levantamento do fundo de risco tem na fase de
investimento as seguintes etapas: prospecção, ou recebimento das propostas;
seleção das propostas mediante análise dos projetos, avaliação do risco e
retorno para realização efetiva dos investimentos. A realização dos
investimentos é dividida em fases durante os primeiros três anos, o que
significa que, se os resultados não forem atingidos nas etapas previstas,
existe a opção de abandono da empresa (GOMPERS e LERNER, 2001). É na fase de
monitoramento que se observa se os resultados previstos estão se realizando;
nela há também adição de valor em consequência do compartilhamento da gestão. O
ciclo continua quando a empresa de VC consegue retornar o capital aos
acionistas por mecanismos de saída, e se renova quando o capitalista de risco
levanta fundos adicionais para serem reinvestidos (GOMPERS e LERNER, 2001). A
forma de saída mais utilizada pelos capitalistas de risco é a emissão pública
inicial (Initial Public Offerings' IPO); no Brasil, entretanto, a venda para
investidores estratégicos é ainda a opção mais utilizada.
Pesquisa realizada por Tyebjee e Bruno (1984) em relação ao prazo de retorno
dos investimentos mostram que os típicos capitalistas de risco buscam obter
seus ganhos em um tempo médio de cinco a dez anos após os investimentos
iniciais. Portanto, a lógica do VC é a do alto retorno do investimento, já que
comprovadamente, mesmo nos fundos considerados bem-sucedidos, apenas um terço
dos investimentos consegue manter-se ao longo do tempo. No entanto, o que
diferencia a atividade de venture de outros tipos de investimento são o risco e
a incerteza. O risco está ligado à capacidade de empreender, de ganhar e de
perder.
A esse respeito, Block e MacMillan (1993) consideram como projetos de risco os
que apresentam as seguintes características: atividades novas para a
organização, iniciadas ou conduzidas internamente. Projetos que envolvem alto
risco, elevadas perdas e incerteza em relação aos negócios organizacionais são,
durante algum tempo, gerenciados separadamente e são empreendidos com a
finalidade de aumento das vendas, lucro, produtividade ou qualidade. Em relação
à origem do capital, Block e MacMillan (1993) afirmam que o venture pode ter
origem externa, por aquisição; e interna, que corresponde ao Internal Corporate
Ventures (ICVs), que inclui novos produtos, desenvolvimento de novos mercados,
comercialização de novas tecnologias, projetos inovadores e a diversificação de
mercado. Chesbrough, Win e West (2006), pela experiência da Xerox, relatam a
importância do Corporate Venture Capital (CVC) para a indústria norte-americana
nos anos 1980 na exploração de novos negócios. A empresa conseguiu praticar o
modelo de inovação aberta, pelo uso de venture capital, proveniente de fontes
externas. Para os autores, o VC é capaz de converter ambíguas e vagas ideias em
poderosas e valiosas tecnologias, sendo elemento essencial na produção da
inovação aberta.
Assim, o capital de risco e os venture capitalists, ou capitalistas
empreendedores do risco, desempenham um importante papel na condução da
inovação para o mercado, com diferenças fundamentais: enquanto o VC tradicional
tem como objetivo obter elevados ganhos financeiros, o CVC busca obter também
acesso a informações e conhecimento que ajudam a estratégia do negócio,
permitindo analisar oportunidades empreendedoras (VINTERGAARD, 2005). Pesquisas
empíricas sobre esse tema têm ressaltado a importância do capital de risco e o
interesse das corporações pelo investimento em empresas nascentes, tanto para
buscar mais rendimentos quanto para levar o empreendedorismo para o ambiente
organizacional, apesar de se saber que não há garantia de existência de
mercados eficientes na alocação de recursos para essas empresas (BRANSCOMB e
AUERSWALD, 2002; CHU, 2009). O estudo de Block e MacMillan (1993) sobre a
criação de novos negócios dentro de grandes empresas também evidencia a
necessidade do empreendedorismo, revelando que, para serem inovadoras e obterem
o sucesso financeiro, as corporações precisam criar um ambiente que favoreça a
inovação, ou a criação de ideias. Para isso, três elementos são fundamentais:
liderança que define e comunica a estratégia, unifica a visão, para atingir o
objetivo; cultura organizacional que encoraja e suporta as iniciativas e o
comportamento inovador; habilidades e práticas de gerenciamento para o controle
dos riscos individuais e organizacionais.
Block e MacMillan (1993) acreditam que esses três elementos podem ser
desenvolvidos e estão relacionados tanto com habilidades, conhecimento e
métodos de gerenciamento necessários para a gestão do risco individual quanto
com o empreendedorismo da corporação.
2.2. Estratégias empresariais do empreendimento de risco corporativo
A estratégia pode ser tanto da empresa investidora quanto da investida. No
estudo de Ernst, Witt e Brachtendorf (2005) realizado na Alemanha, os autores
identificaram nove estratégias do venturing corporativo: busca de novas
tecnologias; incentivo à capacidade inovadora; criação de unidades de negócios;
promoção do empreendedorismo; obtenção do retorno do investimento; melhora na
imagem da corporação; aumento do valor da companhia; uso não estratégico do
conhecimento; e abertura de novos mercados. Para as grandes empresas que não
dispõem ou não utilizam sua capacidade inovadora, a estratégia de unir-se a
pequenas empresas inovadoras mostra-se como uma alternativa. Mackewicz e
Partner (2003) acreditam que o acoplamento entre essas empresas é e permanecerá
como elemento-chave de uma estratégia orientada para o futuro da inovação. Esse
acoplamento entre as grandes e pequenas empresas frequentemente ocorre na
inovação radical, em que as corporações reconhecem que realizar uma mudança
rápida não é possível. Por outro lado, as empresas pequenas que desejam
realizá-la não dispõem de recursos ou das habilidades requeridas para operar em
um mercado de elevada incerteza. Nesse contexto, o modelo de venturing
corporativo mostra-se como um caminho ideal para a realização das estratégias,
seja de crescimento, seja de penetração no mercado das empresas envolvidas.
Estudo realizado por Mackewicz e Partner (2003), na Alemanha, envolvendo
entrevistas com 50 instituições relacionadas com programas de venturing,
identificou a presença de seis principais estratégias:
• inovadoras ' buscam a otimização de negócios existentes e a
importação de novas tecnologias, produtos e processos;
• vendedoras ' dão suporte à venda de seus produtos e estabelecem
grupos padrões, por exemplo, a Intel;
• observadoras ' obtêm informações sobre novas tecnologias e
mercados emergentes e usam os achados de P&D para seu plano
estratégico;
• renovadoras ' capturam novas áreas de negócios e identificam
possíveis formas de diversificação;
• empreendedoras ' fazem uso do potencial de patentes ainda não
utilizadas e de atividades periféricas, por exemplo, a British
Telecom;
• investidoras ' obtêm o retorno do investimento e de ideias sobre
novas tecnologias e mercados emergentes.
Além das principais estratégias, esse mesmo estudo também seis características
das grandes empresas inovadoras com programas de venturing: alto percentual de
participação de novos produtos no faturamento da empresa; grande número de
patentes registradas; elevada cultura inovadora, medida pelas ideias
implementadas; alto orçamento destinado a pesquisa e desenvolvimento; uso de
novas tecnologias em produção; processo oficial (formalização) de sugestões de
inovação dentro da empresa (MACKEWICZ e PARTNER, 2003). Para Mackewicz e
Partner (2003), a presença de tais características em uma empresa indica se ela
é ou não inovadora. Davila, Epstein e Shelton (2007) também concordam que as
empresas inovadoras possuem essas seis características e orientam a composição
de índices para avaliar o grau de inovação de uma empresa.
3. METODOLOGIA
3.1. Estratégia da pesquisa
Considerando o objetivo da pesquisa aqui apresentada, em que se propôs a
investigar de que forma atividades de venture capital estimulam iniciativas de
empreendedorismo científico, o estudo de caso foi o método que se mostrou mais
apropriado. De acordo com a proposição de Yin (2005, p.72), o estudo de caso
tem se mostrado como a melhor alternativa para as pesquisas em que há pouco
controle sobre os eventos investigados e quando o foco está voltado a fatos
contemporâneos dentro de um contexto da vida real.
Eisenhardt e Graebner (2007) afirmam que os estudos de caso correspondem a
estratégias de pesquisas que envolvem a utilização de um ou mais casos para
criar construções teóricas, proposições ou teorias. Nesta pesquisa, contou-se
com o estudo de caso de duas empresas, Alellyx e CanaVialis, com base nas
seguintes orientações:
• o objetivo ' testar as suposições propostas com a intenção de
"explorar em profundidade um fato atual" (CRESWELL, 2007, p.32).
Essas suposições teóricas foram desenvolvidas a partir de extensa
pesquisa, avaliadas e testadas por outros autores;
• o fato ' a Alellyx e a CanaVialis foram as primeiras empresas
brasileiras de pesquisa em biotecnologia a serem desenvolvidas por
meio do capital de risco pertencente a uma unidade de corporate
venturing, com capital exclusivamente nacional, a Votorantim Novos
Negócios, e que passou pelo ciclo de risco.
Para a análise das perguntas de pesquisas, utilizaram-se as proposições de
Block e MacMillan (1993) sobre a criação e a trajetória de novos negócios
dentro de grandes empresas, segundo as quais, para obterem o sucesso
financeiro, as corporações precisam criar um ambiente institucional que
favoreça a inovação. Para isso, três elementos são fundamentais: a liderança,
que define e dissemina a estratégia, e unifica a visão para atingir os
objetivos; a cultura organizacional, que encoraja e suporta as iniciativas e o
comportamento inovador; e as habilidades e práticas de gerenciamento para o
controle de riscos individuais e organizacionais.
Block e MacMillan (1993) estabeleceram um modelo de processo de venturing
composto por seis estágios, os quais conferem especial interesse às habilidades
gerenciais e de foco estratégico do líder empreendedor, conforme a Figura_1.
Ademais, foi estudada a orientação estratégica da VNN segundo os seis
principais objetivos estratégicos de CVC, de acordo com Mackewicz e Partner
(2003), conforme consta no Quadro_1.
3.2. Coleta de dados
Como foi exposto na introdução, as empresas Alellyx e CanaVialis foram spin-
offs do Projeto Genoma financiado pela Fapesp e desenvolvido pelo CVC de um
grupo nacional que passou pelo ciclo de capital de risco com sucesso. Conjugado
a isso, o fato de os pesquisadores vinculados a essas empresas terem assumido a
função de empreendedores científicos torna o caso relevante no Brasil que, ao
contrário de países como os Estados Unidos e a Alemanha, forma pesquisadores
principalmente para atender às demandas das universidades e não das empresas
(CGEE, 2010).
Os dados que suportam esta análise foram colhidos a partir de três fontes:
entrevistas e visitas presenciais semiestruturadas e organizadas por meio de
questionários, aplicadas em dois momentos, em 2009 e em 2012; análise de
documentos e registros em arquivos disponibilizados pela própria empresa, a
VNN. O princípio da triangulação (EISENHARDT e GRAEBNER, 2007) proporcionou a
contínua comparação dos dados das diferentes fontes para sua validação.
Com base nesse princípio, no período de janeiro a dezembro de 2009, ou seja,
cerca de um ano depois de ter ocorrido a venda dessas empresas para o grupo
multinacional Monsanto, foram realizadas quatro entrevistas com profissionais
que acompanharam toda a trajetória dessas organizações, desde sua criação,
passando pela incorporação pelo grupo VNN e posteriormente pelo processo de
venda. Dentre os entrevistados, constaram à época: o presidente da VNN; dois
dos principais executivos e cientistas da Alellyx e da CanaVialis que se
mantiveram na empresa até a época da venda; além de um executivo que permaneceu
à frente das empresas após a venda para a Monsanto até 2010, quando se
desligou desse grupo. Em 2012, esse mesmo executivo foi novamente entrevistado
com o propósito de avaliar a continuidade dos projetos conduzidos pelas
empresas Alellyx e CanaVialis após a incorporação pela Monsanto. As informações
coletadas de fontes secundárias também foram essenciais para que se elaborasse
todo o contexto em que o caso foi desenvolvido. Tal processo foi conduzido com
o objetivo de testar as teorias de Block e MacMillan (1993) e de Mackewicz e
Partner (2003).
4. RESULTADOS DA PESQUISA: A CONTRIBUIÇÃO DO CAPITAL DE RISCO PARA O ESTÍMULO A
BIOEMPREENDIMENTOS NO BRASIL
4.1. As origens da Votorantim Novos Negócios (VNN)
A VNN foi constituída em 2000, como uma unidade de negócios do Grupo
Votorantim, pertencente a um dos maiores grupos industriais do Brasil, que,
fundado em 1918, mantém controle familiar e possui atuação em mais de 100
municípios brasileiros, além de presença em 17 países. Suas operações são
concentradas nos setores de base da economia, como cimento, minérios, metais,
siderúrgico, suco de laranja, papel e celulose. Possui também atuação no
mercado financeiro e em projetos de biotecnologia e tecnologia da informação,
por meio dos investimentos de risco realizados com a VNN (VOTORANTIM, 2009). Os
dois focos principais da VNN são: atuar como um fundo multissetorial de capital
de risco direcionado para investimentos de alta tecnologia e buscar novas
oportunidades de negócios fora dos segmentos de atuação do grupo.
A VNN foi uma das empresas pioneiras no Brasil a investir em pesquisas
aplicadas na área de biotecnologia, conforme a Figura_2, promovendo a
integração proposta por Chesbrough e Rosenbloom (2002), por meio do capital de
risco, levando a inovação e o conhecimento ao mercado.
Além dos motivos já mencionados, o setor de biotecnologia foi escolhido pela
VNN devido à sua importância na área de pesquisa científica nacional, em função
da criação do Projeto Genoma; mercado, clima e região foram considerados
elementos favoráveis à tecnologia, além do fato de o Brasil ser um player
mundial em produtos como laranja, soja, cana-de-açúcar, eucalipto, dentre
outros. Fora isso, a participação da Votorantim nesses mercados, por meio da
Votorantim Celulose e Papel (VCP) que, após fusão com a Aracruz, tornou-se um
dos maiores players desse mercado global de papel e celulose, e da Citrovita
que, após fusão com a Citrosuco, se coloca entre as maiores empresas de suco de
laranja do mundo, são fatores que reforçaram essa decisão estratégica. Em
algumas apresentações feitas pela VNN, há a declaração de que essas culturas
são consideradas specialty cultures por grandes empresas como a Monsanto e a
DuPont, e há eminente necessidade de nova revolução tecnológica na agricultura
(VOTORANTIM NOVOS NEGÓCIOS, 2007). Os investimentos em biotecnologia pela VNN
foram realizados após a contratação de um dos coordenadores das pesquisas do
Projeto Genoma da Fapesp, o professor Fernando Reinach, então vinculado ao
Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP). No Grupo Votorantim,
como diretor executivo, ele tornou-se o responsável pela prospecção e seleção
de projetos na academia, os quais receberiam investimentos da VNN. Foi o
responsável pela coordenação e pelo desenvolvimento das duas empresas
analisadas neste artigo: a Alellyx, dedicada a pesquisa e desenvolvimento
tecnológico de biotecnologia aplicados ao agronegócio, e a CanaVialis, que se
dedica ao melhoramento genético tradicional de cana-de-açúcar. Além de ter sido
um dos líderes do projeto que mapeou o genoma da bactéria Xylella fastidiosa,
Fernando Reinach também acumulava experiência como empreendedor, tendo fundado,
no início da década de 1990, a empresa Genomic Engenharia Ltda. e, no ano 2000,
um data center. Ambas as empresas foram financiadas por capital privado, fato
fundamental para o sucesso dos empreendimentos.
A Figura_3, desenvolvida por Reinach (2008), descreve a relação que deveria
existir entre universidades, órgãos de fomento governamentais e o capital de
risco das empresas privadas para que as invenções se transformem em inovação. O
que se observa nos países em desenvolvimento, como o Brasil, é que esse ciclo
não flui adequadamente pela falta de recursos do governo e de outras fontes de
financiamento, principalmente de capital de risco do setor privado. Pesquisas
realizadas por Ho e Luban (2004), comparando os investimentos realizados no
Brasil com os de outros países, como, por exemplo, a Coreia do Sul, apontam
para o mesmo problema. Reinach (2002), como responsável pela seleção de
projetos inovadores para investimento da VNN, confirma o motivo pelo qual
ideias não se transformam em negócios: "É porque falta no Brasil o capital de
risco".
4.2. A criação e a trajetória das empresas Alellyx Applied Genomics e
CanaVialis
O Projeto Genoma e o projeto de sequenciamento genético da cana-de-açúcar
(Genoma Cana-de-Açúcar ' SucEST) acabaram gerando spin-offs importantes, entre
os quais as que mais se destacaram foram a Alellyx e CanaVialis, empresas
startupsde biotecnologia criadas por professores universitários no âmbito da
VNN. Iniciado em maio de 1997 e com investimentos da ordem US$ 13 milhões, o
Projeto Genoma tinha como finalidade decifrar e mapear o genoma da bactéria
Xylella fastidiosa, responsável pela doença conhecida como amarelinho da
laranja, um problema nacional que causa grandes prejuízos aos produtores de
cítricos, também patrocinadores do projeto juntamente com a Fapesp. Em novembro
de 1999, seu genoma foi sequenciado e publicou-se um trabalho científico na
revista Nature, em julho de 2000 (DAL POZ, 2000; FERRO, 2003). O Projeto Genoma
viabilizou a consolidação de competência e de expertise entre os pesquisadores
brasileiros no campo da biotecnologia, representando um marco para a ciência
brasileira que, nesse campo, passou a ser referência internacional. Apesar dos
investimentos no sequenciamento, a doença do cítrus continua sem solução e a
rede de sequenciamento que envolvia cerca de 200 cientistas provenientes de 35
laboratórios do País foi desfeita (FOLHA DE S.PAULO, 2011).
Em 2002, com o término do trabalho de sequenciamento do DNA da bactéria e
depois da realização de investimentos de US$ 40 milhões, provenientes de
capital de risco da VNN, gastos ao longo de quatro anos, foi constituída a
Alellyx. O capital humano qualificado, proveniente do Projeto Genoma, tornou-se
a base para a formação da empresa. Sua sede manteve-se em Campinas, ao lado da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da qual provinha a maior parte dos
pesquisadores (VOTORANTIM VENTURES, 2003; SIMÕES, 2009).
Com a fundação da empresa Alellyx, cinco dos principais pesquisadores
envolvidos com o Projeto Genoma transformaram-se em empresários com a missão de
transformar as informações gênicas em produto. Naquela época, a empresa era
formada basicamente por oito funcionários do setor administrativo, 12 pós-
doutores, três técnicos, 32 mestres e graduados. Para a Alellyx, segundo
afirmação publicada no próprio site da empresa na época, o primeiro passo que
deveria ser dado era conseguir realizar o sequenciamento genômico da laranja,
da cana-de-açúcar, do eucalipto, da uva e da soja, para que se transformasse
numa plataforma genômica, que pudesse ser utilizada para melhorar a
produtividade, qualidade e competitividade dessas importantes culturas
comerciais (FERRO, 2003). Entretanto, não obstante a Alellyx trabalhe com
diversas culturas, a maior parte do orçamento da empresa é destinado à cana-de-
açúcar. A meta da empresa é produzir cana-de-açúcar transgênica (REINACH, 2008)
Em março de 2003, também patrocinada pela VNN, foi constituída a empresa
CanaVialis, cujo objetivo era melhorar as variedades de cana-de-açúcar, não
envolvendo técnicas de sequenciamento genético, mas prestando serviços de
consultoria para os produtores. Assim como a Alellyx, sua base foi formada por
um grupo de pesquisadores com mais de 30 anos de experiência em desenvolver
variedades de cana-de-açúcar (SIMÕES, 2009), dissidentes da Rede
Interuniversitária para Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro (Ridesa). Em
entrevista, Reinach (2008) confirma que eram pesquisadores do governo que
participaram do antigo Instituto do Álcool, na década de 1970, e que já estavam
em período de aposentadoria sem recursos para desenvolver suas pesquisas.
Até 2005, o Brasil foi líder mundial na produção de álcool, mas em 2006,
mediante os subsídios oferecidos pelo governo, os Estados Unidos passaram a
ocupar a primeira posição, com produção de "18,5 bilhões de litros contra 17,4
bilhões nacionais" (MENDONÇA et al., 2008, p.7). O principal fator de
competitividade entre os países passou a ser o aumento da produtividade a baixo
custo. A VNN, como fundo de risco, entrou nesse negócio promissor da cana-de-
açúcar com a meta de transformar conhecimento em riqueza a partir da inovação,
como ocorre nos países desenvolvidos.
Essa parceria entre pesquisadores e uma empresa de capital de risco concretizou
o elo entre a universidade, a empresa e o governo, o tripé que sustenta o
Sistema Nacional de Inovação. As duas empresas criadas estavam essencialmente
voltadas à produção agrícola, com atividades bem definidas dentro do ciclo da
cana-de-açúcar.
Segundo um dos entrevistados na pesquisa, então executivo da Alellyx, esse tipo
de iniciativa não só transforma o conhecimento científico em produto ou serviço
de alto valor agregado, mas também comprova para a iniciativa privada que as
universidades podem gerar riqueza material. A parceria entre universidade,
empresa e governo, resultado da Alellyx, pelo ponto de vista da universidade,
seria uma forma de geração de conhecimento que poderia produzir patentes; pelo
ponto de vista da empresa, poderia ser o meio pelo qual a pesquisa seria levada
ao mercado por intermédio de produtos licenciados.
Dessa forma, é possível perceber a importância dos três vértices: o governo com
a responsabilidade de fornecer recursos, as universidades com a geração do
conhecimento e as empresas pela realização das ideias e elo com o mercado. Esse
tripé contém as instituições responsáveis pelo ciclo de geração de riqueza a
partir da inovação: a Alellyx e a CanaVialis formaram, junto com a Biocel,
constituída para produzir etanol a partir do bagaço da cana-de-açúcar, os três
eixos de desenvolvimento na produção de biocombustível para a VNN. As primeiras
empresas têm o posicionamento muito bem definido dentro da cadeia de valor de
biotecnologia de cana-de-açúcar (ver Figura_4), com o desenvolvimento de
atividades complementares.
Com o objetivo de trocar tecnologias e, supostamente, obter novos
investimentos, em maio de 2007 foi realizada uma parceria entre as empresas
VNN, Alellyx, CanaVialis e a multinacional norte-americana Monsanto. Pelo
acordo, a Monsanto poderia utilizar tecnologias desenvolvidas pelas empresas
brasileiras e produzir variedades de cana-de-açúcar resistentes às pragas,
proporcionando aumento da produtividade com redução de custo. Os objetivos
principais da parceria visavam: aumentar o teor de sacarose da cana, criar
variedades precoces, adaptar novas variedades a solos empobrecidos pela seca,
aperfeiçoar colheitas e gerar energia a partir do bagaço da cana.
Esse tipo de parceria traria benefícios tanto para a empresa quanto para os
pesquisadores brasileiros, já que a Monsanto investia, à época, cerca de US$
700 milhões por ano em pesquisas no mundo, segundo dados divulgados no portal
do Grupo Votorantim (2007) em 2007. Em contrapartida, as empresas Alellyx e
CanaVialis revelavam conhecimento e expertise em seu ramo de atividades, tendo
depositado dez patentes nos Estados Unidos até 2008 (ver Quadro_2); acumulado
contratos com 46 usinas de álcool, com produção de cana-de-açúcar em 1,1 milhão
de hectares, o que correspondia a cerca de 15% da produção total do mercado na
época; e, em especial, desenvolvido vários projetos, alguns em fase avançada de
experimentação em campo, focados na cultura da cana-de-açúcar (ver Figura_5).
Essa parceria foi o primeiro passo para a aquisição das duas empresas pela
Monsanto, concretizada em novembro de 2008 pelo valor de US$ 290 milhões (R$
616 milhões). A meta da Monsanto era elevar a produtividade da cana-de-açúcar
sem a necessidade de aumento da área cultivada (ANDRADE, 2008). Vale ressaltar
que, na época, outras multinacionais gigantes do setor, como DuPont, Bayer,
Basf e Syngenta, também haviam manifestado interesse na aquisição dessas
empresas.
Essa venda aconteceu sob críticas severas da opinião pública e de políticos,
inclusive do ministro da Ciência e Tecnologia no período, Sérgio Rezende
(INOVAÇÃO, 2009). O alvo das críticas do ministro era o recebimento de recursos
públicos para o financiamento de projetos provenientes da Financiadora de
Estudos e Projetos (Finep) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES). A Finep aprovou R$ 49,4 milhões em subvenção econômica para
pesquisa nas empresas, e o BNDES aprovou, em julho de 2007, financiamentos de
R$ 39,2 milhões para projetos visando ao melhoramento genético e ao aumento da
produtividade agrícola. O financiamento aprovado à Alellyx foi de R$ 28,9
milhões; já o crédito à CanaVialis somava R$ 10,3 milhões (JORNAL CANA, 2007).
Na época, o governo brasileiro acabou diminuindo a disponibilidade de recursos
públicos para investimentos em empresas de base tecnológica (FOLHA DE S.PAULO,
2011).
Apesar de as duas empresas terem sido vendidas para a Monsanto, a Votorantim
conseguiu beneficiar seu negócio, utilizando os conhecimentos adquiridos,
principalmente para a melhoria genética da cultura do eucalipto, gerando maior
produtividade na produção de papel e celulose.
A venda das empresas Alellyx e CanaVialis ocorreu em um momento em que o grupo
Votorantim reconheceu perdas de R$ 2,2 bilhões, devido a investimentos no
mercado de derivativos, e à aquisição da empresa Aracruz Papel e Celulose.
Simultaneamente a essa suposta dificuldade financeira do Banco Votorantim,
houve rumores de que esse teria sido o verdadeiro motivo da venda dessas
empresas, fato desmentido por Fernando Reinach em entrevista publicada no
jornal da Unicamp em novembro de 2008.
Com os recursos investidos, a Alellyx tornou-se referência mundial em
biotecnologia aplicada para o melhoramento da cana-de-açúcar, oferecendo
tecnologias inexistentes no Brasil e exterior, conforme exposto no Quadro_3.
Antes de ser vendida, sua equipe era composta por 140 funcionários, 22 doutores
e 17 mestres, instalados em uma área com 4.600 metros quadrados. Segundo
Reinach (INOVAÇÃO, 2009 p.9),
"o processo de venda das empresas pode ser considerado, neste caso, a
finalização de um processo bem-sucedido da trajetória inovadora do
capital de risco".
Com a compra da Alellyx e da CanaVialis e de várias outras empresas
relacionadas à produção de sementes de milho e algodão, a Monsanto passou a
focar seu negócio no desenvolvimento de plataformas tecnológicas. Em 2020, a
Monsanto espera lançar sua primeira cana-de-açúcar transgênica que, segundo a
empresa, chegará ao mercado como uma variedade resistente a herbicidas e
tolerante a insetos (NOTÍCIAS ECONOMIA ABRIL, 2010).
Quanto aos eventuais riscos de a Monsanto decidir priorizar as pesquisas com
milho nos Estados Unidos em decorrência de avanços na tecnologia de etanol de
segunda geração no Brasil e, dessa forma, reduzir os investimentos em P&D
na Alellyx e na CanaVialis, os entrevistados na pesquisa descartam essa
possibilidade. Segundo eles, as vantagens competitivas construídas ao longo dos
anos com os programas governamentais de apoio ao Proálcool e a própria natureza
de P&D na bioindústria requerem um tipo de evolução tecnológica
geograficamente dependente, no sentido de realizar um grande esforço de teste e
adequação de seus produtos ao ecossistema ambiental e das regiões onde está
inserida. Devido a esses condicionantes regionais, é pouco provável que haja
condições efetivas de transferência da pesquisa com os mesmos resultados
alcançados nas culturas locais no Brasil. Ao contrário, os entrevistados
acreditam que o efeito-demonstração causado pelos resultados desses dois
empreendimentos estimulou a atração de novos investimentos de players globais
como DuPont, Syngenta, Basf, Shell, Eli Lilly e Novozymes, entre outros, nesse
campo de atividade. Como ilustrativo dessa tendência, tem-se como exemplo o
nascente polo global de biotecnologia em Campinas, no estado de São Paulo.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados observados na pesquisa apresentada são consistentes com as
teorias apresentadas por Mackewicz e Partner (2003) e Block e MacMillan (1993).
Em outras palavras, existem evidências de que o capital de risco no Brasil,
assim como em outros países, desempenha papel fundamental para o
desenvolvimento de novas tecnologias, principalmente em empresas nascentes. O
estudo demonstra que, se por um lado os investimentos de Venture Capital
favorecem as corporações, que conseguem concretizar suas estratégias, por outro
esses mesmos investimentos contribuem para a formação empreendedora das
empresas que recebem os investimentos por meio do compartilhamento da gestão,
da formação de gestores, da possibilidade de obter acessos mediante a reputação
do grupo investidor, e da ampliação das chances de elevar a capacidade de
sobrevivência de pequenas empresas. No caso do Brasil, essa contribuição é
fundamental, pois comprova que com o apoio de grupos empresariais é possível
aumentar a capacidade de sobrevivência das pequenas empresas, transformar
cientistas em empreendedores, e conhecimento em produto, aproximando a academia
da empresa.
Ter investigado a trajetória de empresas como a Alellyx e a CanaVialis mostrou-
se como um terreno fértil para esse tipo de reflexão acerca das virtudes do
capital de risco corporativo, haja vista o fato de essas empresas terem
completado com sucesso o ciclo virtuoso de transformar o conhecimento da
pesquisa básica em inovação. Na origem de tudo estava o Projeto Genoma que,
estimulado por recursos e incentivos da Fapesp, conseguiu criar massa crítica
em uma área sem expertise no Brasil, mobilizando a formação de recursos humanos
no campo da biologia molecular e da bioinformática, com capacidade e domínio de
técnicas de biologia molecular para mapeamento de genomas de interesse do País,
em especial no campo da agricultura. Sem dúvida, o Projeto Genoma foi o grande
propulsor deste campo de pesquisas no País e, somado ao apoio do Venture
Capital, estimulou a criação de empresas como a Alellyx e CanaVialis. Com sua
venda para a Monsanto, fechou-se o ciclo que começou com a geração da pesquisa
básica e culminou na conversão desse conhecimento em inovação, com o
desenvolvimento e a comercialização de novos produtos e processos.
Ademais, a atuação dessas empresas no mercado, somada à expertise de
conhecimento que se consolidou no Brasil nesse campo de pesquisa, contribuíram
para incluir o País na rota tecnológica dos investimentos dos principais
players do setor de biotecnologia, estimulando a criação de um polo de atração
e possivelmente de exportação de biotecnologia na região de Campinas, no estado
de São Paulo.
Finalmente, este estudo comprova, a partir da análise da experiência da Alellyx
e da CanaVialis, que o empreendedorismo pode ser apreendido, sendo o
comportamento do empresário empreendedor essencial para que a inovação possa
ser levada ao mercado com êxito. Reforça, assim, que a atividade de venturing
realizada pelas organizações é essencial para desenvolver e acelerar novas
tecnologias de forma a promover a inovação; não obstante, a lógica do retorno
do investimento e da valorização dos ativos prevalece sobre os interesses de
desenvolvimento das tecnologias que são essenciais para o Brasil.