Gestão de periódicos científicos: estudo de casos em revistas da área de
Administração
1. INTRODUÇÃO
Na pesquisa apresentada, o objetivo é analisar a gestão editorial de periódicos
científicos da área de Administração no contexto brasileiro e propor uma
tipologia de seus modelos de gestão. A coleta de dados baseia-se em entrevistas
em profundidade com os editores e membros da equipe editorial de cada
periódico, além de documentos disponíveis (on-line e em papel) sobre cada um
deles.
A discussão proposta neste artigo ajuda a aprofundar o conhecimento dos modelos
de gestão de periódicos científicos, em um momento em que os modelos dominantes
estão sendo questionados, avaliando o panorama de publicação acadêmica em um
país que começa a despontar no cenário científico internacional. A principal
contribuição que se pretende é a construção teórica de um modelo de gestão de
periódicos científicos que vá além da mera contraposição entre modelos abertos
versus fechados, avançando na descrição dos processos de gestão científica e
administrativa que fazem parte de um periódico científico em combinação com seu
modelo de financiamento. Visa-se somar os resultados da pesquisa ao rol de
conhecimentos relativos ao processo de edição e gestão de revistas científicas,
inseridas especificamente nas práticas disciplinares do campo da Administração.
A presente pesquisa faz-se relevante em um momento em que a dominância do
lucrativo modelo de publicação científica, controlada por um pequeno número de
grandes publishers, tem sido crescentemente questionada, apontando para a
necessidade de se discutirem novos modelos baseados em repositórios abertos e
outros formatos não baseados no lucro (Beverungen, Böhm & Land, 2012;
Harvie, Lightfoot, Lilley & Weir, 2012). Hoje, o que acontece é que
os insumos básicos necessários à publicação (artigos e serviços
editoriais) são providos às editoras (publishers) a custo zero (ou,
no máximo, simbólico; alguns editores recebem pequena remuneração) e
os compradores do produto ainda subsidiam a produção, uma vez que
pagam salários de autores e editores. Adicionalmente, produziu-se um
mercado concentrado, do qual se estima que três gigantes (Reed
Elsevier, Springer e Wiley) respondam por mais de 40% dos periódicos
existentes (Camargo Jr., 2012, p. 2).
Assim, o estudo de modelos de gestão relacionados a esse ramo de atividade
fundamental para o desenvolvimento do conhecimento científico necessita ser
melhor investigado, particularmente com o objetivo de desvendar o potencial de
geração de novos modelos para a atividade de divulgação do conhecimento
científico.
O contexto brasileiro é particularmente interessante. A produção acadêmica de
pesquisadores brasileiros contada em artigos publicados anualmente em
periódicos indexados na Thomson Reuters decuplicou entre 1981 e 2008, passando
de 2.000 para 20.000 artigos no período (Adams & King, 2009). Com esse
aumento, comparando com toda a produção científica mundial, a porcentagem de
artigos com pelo menos um brasileiro como autor saltou de 0,44% em 1981 para
2,7%, em 2009, alcançando a 13ª colocação no ranking mundial da produção
científica (Rezende, 2011). Brasil é também o único país da América Latina a
investir mais de 1% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa, motivo pelo
qual conta com mais de 60% de toda a produção científica da região (Regalado,
2010).
Entretanto, esse crescimento na produção científica brasileira não é
correspondido com crescimento equivalente da relevância dos periódicos
científicos do País. Um dos motivos alegados para essa discrepância é a
preferência dos pesquisadores brasileiros pelos periódicos estrangeiros em
detrimento daqueles do próprio país (Teixeira, Silveira, Botelho &
Petroianu, 2012). Camargo Jr. (2012, p. 3) afirma que a "lógica atual de
classificação de revistas no Qualis, baseada em indicadores de citação, tende
indiretamente a privilegiar as publicações fechadas", as quais são
predominantemente estrangeiras, pois no Brasil a quase totalidade das
publicações científicas é aberta. Ainda de acordo com o autor, seria importante
que o Qualis fosse modificado no sentido de valorizar as revistas abertas,
sendo isso, em sua opinião, "um importante passo na superação do atual modelo
oligopolista, especialmente se acompanhada de medidas que viabilizassem o
financiamento da publicação" (Camargo Jr., 2012, p. 3). Esse cenário emergente
e paradoxal aponta a relevância do estudo de periódicos científicos
brasileiros.
Espera-se que os resultados da pesquisa possam contribuir não só para os
editores de revistas científicas, mas também para os responsáveis por decisões
que se referem às políticas de avaliação e fomento de periódicos científicos no
Brasil.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Entende-se que a principal função do periódico científico é registrar,
disseminar e comunicar o conhecimento científico de qualidade e de interesse
social. Com isso, permite-se estabelecer a prioridade das descobertas, indicar
a evolução de uma ciência e o andamento de atividades científicas, além de
servir como fonte de informações para o início de novas pesquisas e
trabalhos científicos (Adami & Marchiori, 2005, p. 77).
Como lembra Carvalho (2011, p. 39),
do impresso ao eletrônico as revistas persistem com o propósito de
comunicar o conhecimento produzido pelo homem [...] e atravessa os
séculos chamando para si a responsabilidade de veicular o
conhecimento científico e contribuir para a história humana.
Para cumprir sua função, os periódicos precisam pensar na gestão sustentável do
negócio, que envolve, de acordo com Dubini e Giglia (2009), as questões de
efetividade (alcançar os objetivos propostos), eficiência (minimizar os
recursos utilizados para alcançar os objetivos propostos) e durabilidade (a
possibilidade de operar com o tempo), este último aspecto frequentemente
implicando a introdução de soluções inovadoras para lidar com um contexto em
constante mudança.
Guanaes e Guimarães (2012) acrescentam que a sustentabilidade do periódico
envolve, além dos custos, outros aspectos relacionados diretamente ao uso de
plataformas on-line para publicação e edição de revistas científicas
(acessibilidade, recuperação de informações, navegabilidade e interatividade),
e também os parâmetros de qualidade que devem estar presentes em qualquer
revista científica (avaliação por pares, conselho editorial, corpo editorial,
entre outros).
2.1. Gestão científica e administrativa de periódicos
Com base na análise da literatura que se refere à edição e à publicação de
periódicos científicos (Población et al., 2003; Dias, 2006; Gruszynski, Golin
& Castedo, 2008; Bedeian, Van Fleet & Hyman III, 2009; Dubini &
Giglia, 2009; Gumieiro, 2009; Trzesniak, 2009; Gomes, 2010; Houghton &
Oppenheim, 2010; ASK, 2011; Guanaes & Guimarães, 2012), foi possível
identificar que a gestão de uma revista científica envolve dois grandes
aspectos, um científico e outro administrativo, cada qual com seus respectivos
custos.
O primeiro compreende o gerenciamento do processo de certificação científica,
visando à seleção e à divulgação de conhecimento de qualidade, respaldado pelos
atores envolvidos no processo de certificação de conteúdo. O segundo refere-se
aos processos de produção editorial e gráfica, gerência administrativa e
financeira, comunicação e marketing, essenciais para a produção adequada de um
periódico científico. Na Figura_1, esquematizam-se os dois processos de gestão.
No entanto, para pensar-se em um modelo de gestão para a publicação de
periódicos científicos, faz-se necessário conectar os aspectos identificados
relativos à gestão científica e à administrativa dentro de uma perspectiva mais
ampla, que permita compreender os fundamentos do negócio de edição de
periódicos científicos. Para isso, pode-se tomar por base os pilares que fazem
parte de um modelo de negócio, já que um de seus objetivos é a compreensão dos
mecanismos-chave de um empreendimento (Eriksson & Penker, 2000).
2.2. Modelos de negócios de periódicos
Para Teece (2010), no modelo de negócio articula-se a lógica do empreendimento,
são fornecidos dados e outras evidências que suportam a proposição de valor
para o cliente e delineia-se uma estrutura viável de receitas e custos para que
a empresa possa entregar esse valor. Para Baden-Fuller e Morgan (2010), um dos
papéis de um modelo de negócio é fornecer um conjunto de descritores genéricos
de como uma empresa se organiza para criar e distribuir valor de forma
rentável. Para isso, muitos trabalhos focam a descrição de formas típicas de
organização e comportamento em empresas, de tal modo que se possam rotular os
diferentes tipos de organização e comportamento e, em seguida, classificar as
empresas de acordo com elas (Baden-Fuller & Morgan, 2010). Para os autores,
o uso da noção de modelo de negócio como mecanismo de classificação fornece
valiosas maneiras para expandir a compreensão dos negócios e no desenvolvimento
de tipos ideais (Baden-Fuller & Morgan, 2010).
Para a presente pesquisa, a proposta de Stahler (2002) é útil pela segmentação
do modelo de negócio em quatro partes: proposição de valor, produtos ou
serviços oferecidos, arquitetura de valor e modelo de rendimentos. Para o
autor, enquanto a proposição de valor e a arquitetura de valor definem os
custos de um modelo de negócio, o modelo de rendimentos contém uma descrição de
quais fontes e de que forma a empresa gera suas receitas (Stahler, 2002).
2.3. Proposição e arquitetura de valor
Para Stahler (2002), a proposição de valor deve compreender uma descrição de
que valor os clientes e parceiros estão recebendo do negócio, sendo a criação
de valor essencial para atender às necessidades dos clientes e motivar os
parceiros a participar do negócio. O produto ou serviço oferecido pela empresa
deve buscar cumprir a proposição de valor e gerar o benefício prometido ao
cliente, sendo, portanto, o elo entre a empresa e seus clientes (Stahler,
2002). Pode-se dizer que os clientes e parceiros de um periódico são
essencialmente seus autores, leitores/pesquisadores, bibliotecas e avaliadores.
A arquitetura de valor delineia a cadeia de valor apresentando os agentes
econômicos que participam da criação de valor e seus respectivos papéis. O
objetivo da arquitetura de valor é criar o benefício prometido para o cliente
de um modo eficiente, assegurando a produção e a entrega do produto (Stahler,
2002). Para Gumieiro (2009), é a arquitetura de valor que organiza de modo mais
adequado e eficiente a casa publicadora para que ela possa oferecer a seus
clientes e parceiros as proposições de valor correspondentes. Percebe-se,
portanto, que a arquitetura de valor se relaciona com as categorias de gestão
científica e administrativa. São as atividades e os atores desse processo que
permitem criar valor no processo de publicação de um periódico científico, e
tais atividades certamente apresentam custos.
Os custos da gestão científica estão relacionados essencialmente ao que ASK
(2011) chama de certificação de conteúdo. A atividade que a certificação de
conteúdo envolve é a gestão do processo de revisão por pares, que inclui, de
acordo com Houghton e Oppenheim (2010), o gerenciamento das submissões
recebidas, a revisão inicial para verificação de adequação à política editorial
da revista (desk review) e o gerenciamento do processo de revisão por pares
externos. Tudo isso está ligado aos esforços que o periódico despende para
selecionar os artigos de melhor qualidade para publicação.
Os fatores que influenciam esse custo são, de acordo com ASK (2011): número de
artigos recebidos; taxa de rejeição do periódico; número de avaliadores por
artigo; número de rodadas de revisão. De fato, cada artigo submetido deve
passar pelo processo de revisão por pares e, quando uma grande quantidade de
artigos é rejeitada, por consequência, aumentam os custos daqueles aceitos para
publicação (SQW, 2004). Em alguns casos, editores científicos pré-selecionam os
manuscritos recebidos, diminuindo o número daqueles que efetivamente passam
pela revisão por pares, o que reduz os custos de encontrar avaliadores e
gerenciar o processo de avaliação, porém aumenta os custos internos (ASK,
2011).
Com relação aos custos das atividades de gestão administrativa, ASK (2011)
buscou dividi-los em duas categorias. Primeiramente, a publicação do conteúdo,
que considera os custos de formatação, referência cruzada, metadados,
composição tipográfica, edição, transformação em HTML e transferência de dados
para a plataforma que hospeda o conteúdo (ASK, 2011). Posteriormente, a gestão
e a preservação do conteúdo, que considera os custos de depreciação da
plataforma instalada ou o custo de licenciamento da plataforma, os custos de
manutenção anual de software e hardware e os custos com recursos humanos
associados à gestão da plataforma (ASK, 2011). Percebe-se que não foram
incluídos na análise os custos da eventual impressão da revista, somente sua
publicação em ambiente eletrônico.
Com relação aos custos associados a gestão, disponibilização e preservação de
conteúdos em plataformas digitais, ASK (2011) identificou que tais custos podem
variar bastante, dependendo do fato de a plataforma ser proprietária ou baseada
em software livre, da idade e das características da plataforma, do número de
artigos e documentos armazenados e da complexidade das plataformas em termos de
serviços oferecidos aos autores e leitores. Portanto, a incidência do
investimento na plataforma no preço dos artigos é difícil de calcular e mostra
ser bastante variável entre os publishers estudados (ASK, 2011). Já os custos
de manutenção da plataforma são mais fáceis de ser contabilizados e os
publishers entrevistados por ASK (2011) relataram gastos anuais variando de
170.000 a 400.000 USD, e sua incidência nos custos por artigo depende do número
de periódicos editados e do número de artigos publicado por periódico. Houghton
e Oppenheim (2010), com base em uma extensa literatura sobre o assunto,
estimaram ainda outras fontes de custos não consideradas na análise de ASK
(2011), entre as quais se destacam as atividades de impressão, distribuição,
marketing, hospedagem on-line e relacionamento com clientes.
Para que a arquitetura de valor funcione adequadamente, é necessário
estabelecer o modelo de rendimentos ou as fontes de receita do periódico, pois
será esse o insumo que impulsionará esse componente (Gumieiro, 2009). Stahler
(2002) acredita que é o modelo de receitas que vai dizer se o modelo de negócio
é sustentável.
2.4. Modelo de rendimentos / financiamento
Teece (2010) lembra que a indústria da informação sempre levantou questões
desafiadoras relacionadas ao modelo de negócio, pois muitas vezes é difícil
precificar a informação, e os consumidores têm muitas maneiras de obter certos
tipos sem pagar. Descobrir como obter receitas (ou seja, capturar valor) a
partir do fornecimento de informações aos clientes/usuários é um dos elementos
essenciais no design de um modelo de negócio no setor informacional (Teece,
2010).
No entanto, para um periódico científico que, diferentemente de outros setores
da indústria da informação e mais especificamente da indústria de publicação
(jornais diários, revistas, livros etc.), não tem por objetivo a obtenção de
lucro com a venda do produto, mas sim a disseminação de conhecimento científico
de qualidade, as receitas devem ser suficientes para no mínimo cobrir os custos
advindos da arquitetura de valor.
Certamente, se analisarem-se os grandes publishers comerciais que concentram a
publicação de expressiva parte dos periódicos editados nos Estados Unidos e na
Europa, ver-se-á que eles apresentam, segundo Morrison (2011), uma margem de
lucro alta: Elsevier (36%), Springer (33,9%), John Wiley & Sons (42%),
Informa (32,4%). No entanto, interessa para a presente pesquisa analisar
especificamente os periódicos no contexto brasileiro. Para isso, deve-se notar
o fato de que o acesso aberto no Brasil é praticamente uma regra, influenciado
por políticas da agência que realiza a avaliação de periódicos no Brasil
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior ' Capes) e pela
criação da Scientific Electronic Library Online (SciELO).
Para entender o modelo de rendimentos de acesso aberto, que é o mais comum
entre os periódicos brasileiros, a perspectiva adotada por Mueller (2011)
segmenta as modalidades de financiamento de periódicos em duas categorias:
interna e externa. O financiamento interno seriam
recursos originados pela própria entidade que publica o periódico
[...]: recursos advindos de assinaturas, vendas de fascículos avulsos
e taxas cobradas aos autores (Mueller, 2011, p. 208).
Já financiamento externo é considerado pela autora como "entidades que concedem
apoio financeiro aos periódicos, mas que não são e não têm ligação com a
entidade que edita o periódico beneficiado" (Mueller, 2011, p. 208). Como
exemplos dessa última categoria, a autora cita as agências federais Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), as fundações estaduais de
amparo à pesquisa, entidades comerciais, entre outros.
3. METODOLOGIA
Na pesquisa apresentada neste artigo posicionada como interpretativista, pois
nela busca-se compreender os fenômenos por meio dos significados que lhes são
atribuídos (Myers, 1997) , utiliza-se o método de estudo de casos múltiplos.
Esse método pode ser útil, na perspectiva interpretativista, para entender uma
questão sob múltiplos aspectos e identificar tendências e, na perspectiva
positivista, para generalização e replicação (Walsham, 1995; Creswell, 2012).
Foram escolhidos cinco casos para analisar os modelos de gestão de periódicos
científicos, os quais foram selecionados pelo critério de impacto (citações),
caracterizando-se uma amostra intencional. O impacto desses periódicos foi
identificado em dois estudos bibliométricos realizados por Machado-da-Silva,
Guarido Filho, Rossoni e Graeff (2008) e por Wood Jr. e Chueke (2008), que os
classificaram como os mais importantes da área de Administração no País. Os
periódicos escolhidos para compor o estudo são: Revista de Administração de
Empresas (RAE), Revista de Administração Contemporânea (RAC), Revista de
Administração da Universidade de São Paulo (RAUSP), Organização e Sociedade
(O&S) e Brazilian Administration Review (BAR). Esses periódicos também
estão classificados no topo do ranking brasileiro de periódicos produzido pela
Capes, o Qualis.
Primeiramente, buscou-se fazer uma contextualização, descrevendo brevemente o
histórico sobre a evolução dos periódicos da área e das avaliações realizadas
pela Capes para averiguar sua qualidade (Qualis). Foram identificadas também
algumas características (ano de criação e tipo de instituição editora) dos
periódicos nacionais e internacionais da área de Administração e Contabilidade
classificados no Qualis de 2012, um total de 267 periódicos.
Para coletar as informações específicas relativas à gestão dos periódicos da
amostra, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os editores e com
membros da equipe editorial dos periódicos. Além disso, utilizando-se a técnica
de análise documental, foram realizadas pesquisas nos websites das revistas e
nas edições impressas para obter informações específicas sobre cada periódico
estudado. A análise das entrevistas foi feita a partir do modelo teórico de
gestão de periódicos, apresentado na Figura_2, e elaborado com base na
literatura apresentada anteriormente. A partir das análises das entrevistas,
foi possível propor uma tipologia de modelos de gestão de periódicos
científicos.
* Gestão científica ' compreende o gerenciamento do processo de
certificação de conteúdo do periódico, visando à seleção e à divulgação
de conhecimento de qualidade, respaldada pelos atores envolvidos no
processo. Vale saber aqui como acontece o processo de avaliação de
artigos, quais são as etapas, os critérios considerados e os atores
envolvidos em cada uma das etapas. É importante saber também as
características dos grupos que garantem em parte a credibilidade
científica do periódico, ou seja, a sua equipe de editores e seu comitê
editorial.
* Gestão administrativa ' compreende o gerenciamento do processo de
publicação de um periódico científico. Depois de assegurada a qualidade
do conteúdo na gestão científica, esse conteúdo precisa tornar-se visível
para a comunidade interessada, precisa ser divulgado, publicado. Para
isso, são necessárias diversas atividades, que envolvem resumidamente os
processos de: produção editorial e gráfica (edição de texto, edição de
layout, diagramação, impressão); gestão administrativa e financeira
(gestão de pessoal, recursos financeiros, recursos materiais,
acompanhamento de serviços terceirizados, etc.); comunicação e marketing
(indexação em bases de dados, venda e distribuição). Vale saber aqui qual
equipe o periódico apresenta para realizar cada uma das atividades
necessárias ao processo de publicação do periódico e a infraestrutura que
possui para essas atividades.
* Modelo de financiamento ' a atividade de publicação de um periódico
científico apresenta custos e, portanto, precisa ser financiada de alguma
forma. Considerando-se que as revistas científicas no Brasil adotam
majoritariamente o acesso aberto, é necessário ter outras fontes de
financiamento além de assinaturas, já que estas diminuem bastante sua
representatividade na cobertura dos custos quando o periódico está
disponível em acesso aberto on-line. Assim, outras fontes de
financiamento interno podem ser: apoio da instituição mantenedora; taxas
cobradas aos autores. Ainda podem existir fontes externas de
financiamento, como apoio de agências federais, estaduais, entidades
comerciais entre outras. É importante saber o peso de cada elemento na
cobertura dos custos e se isso está sendo suficiente para manter a
publicação do periódico.
4. RESULTADOS
4.1. Contextualização e caracterização da área
A história da pós-graduação em Administração no Brasil começa na década de
1960, com o início do primeiro mestrado acadêmico na Fundação Getulio Vargas do
Rio de Janeiro. Posteriormente, na década de 1970, foram criados mais 13 cursos
de mestrado, dos quais um profissional e 12 acadêmicos. Nessa mesma década,
também começaram a funcionar os três primeiros cursos de doutorado:
Universidade de São Paulo (1975), Universidade Federal do Rio de Janeiro (1976)
e Fundação Getulio Vargas de São Paulo (1976).
Ressalta-se que nesse período o foco da pós-graduação ainda não era a pesquisa,
mas sim a formação e a capacitação de profissionais para atuação como
professores nas universidades (Bianchetti & Machado, 2009). O próximo
doutorado a ser criado foi o da Universidade Federal da Bahia, mas somente em
1993, quase 20 anos após o primeiro. Percebe-se que houve um aumento
significativo no número de cursos a partir da década de 2000. Até o final da
década de 1990, haviam sido criados 27 cursos de mestrado e oito de doutorado.
Entre 2000 e 2009, foram criados mais 46 cursos de mestrado e 15 de doutorado,
um aumento total de 174,3%.
A avaliação da pós-graduação por parte da Capes tem início no final da década
de 1970, sendo a primeira avaliação realizada em 1976. De acordo com
Balbachevsky (2005), a avaliação levada a cabo pela Capes possibilitou a
criação de uma conexão clara e direta entre desempenho e sucesso, ou seja,
quanto melhor a avaliação alcançada pelo programa, maiores eram suas
chances e as de seus pesquisadores de alcançar apoio, tanto em bolsas
de estudo como em recursos para pesquisa e infraestrutura
(Balbachevsky, 2005, p. 282).
Como parte da reforma do sistema de avaliação realizada entre 1996 e 1997 e
implementada a partir de 1998, a Capes criou a base Qualis, com o intuito de
construir
indicadores de produção científica fundamentados na qualidade das
revistas científicas utilizadas pelos programas de pós-graduação,
devendo estas receber uma classificação conforme critérios definidos
pelas comissões de áreas (Souza & Paula, 2002, p. 8).
Na área de Administração, a primeira avaliação de periódicos para inclusão na
base Qualis da área foi realizada em 2002. Os periódicos foram classificados de
acordo com o âmbito de circulação (local, nacional, internacional) e em termos
de reconhecimento científico (A, B ou C). A avaliação manteve-se assim nas
rodadas subsequentes, até 2007.
Após a avaliação trienal de 2007, o Comitê Técnico-Cientí-fico (CTC) da Capes
realizou uma avaliação dos critérios até então utilizados para a avaliação de
programas de pós-graduação, principalmente aqueles relacionados à composição da
base Qualis. Foi identificado que o critério de âmbito de circulação do
periódico estava sendo interpretado de maneiras diferentes pelas áreas, pois
algumas consideravam o local de publicação do periódico, outras o público-alvo
e outras uma mistura desses dois critérios (Sousa & Macedo, 2009). Além
disso, no estudo realizado pela equipe técnica, apontaram-se problemas com
relação à distribuição dos periódicos pelos estratos (algumas áreas
concentravam a maioria dos periódicos nos estratos superiores) e à variedade de
estratos à qual um periódico pertencia (em diferentes áreas de avaliação)
(Sousa & Macedo, 2009).
Com isso, o CTC redefiniu os estratos do Qualis, que passou a ser composto por
uma escala única, em ordem decrescente, A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5 e C (peso
zero). Os estratos superiores não deveriam abrigar mais de 20% da produção da
área e os periódicos deveriam estar regularmente distribuídos pelos estratos B
(Sousa & Macedo, 2009). O CTC recomendou em seu documento relativo à
reestruturação do Qualis que "os estratos superiores não sejam superpovoados, a
fim de que seja devidamente destacada a excelência ou o diferencial de
qualidade dos periódicos neles classificados" (Brasil, 2008). Além disso, os
critérios de cada área e a listagem final de periódicos classificados passaram
a ser aprovados pelo CTC.
Foi possível obter diretamente com a Coordenação de Gestão da Informação da
Capes os dados relativos às avaliações anteriores do Qualis da área de
Administração, Contabilidade e Turismo. Na avaliação de ano-base 2004, a base
continha 111 periódicos avaliados e esse número foi aumentando progressivamente
nas avaliações posteriores: 206 no ano-base 2005, 337 no ano-base 2006, 394 no
ano-base 2007, 570 no ano-base 2008. A avaliação do ano-base 2010 contou com
875 periódicos, a do ano-base 2011 com 825 e a avaliação mais recente (ano-base
2012), divulgada em 2013, contou com 1.087 periódicos avaliados.
Com a quantidade crescente e a restrição no percentual de periódicos que podem
ocupar os estratos superiores, pareceu inevitável a diversas comissões de área,
incluindo Administração, Contabilidade e Turismo, a utilização de um critério
discriminador como o fator de impacto (JCR) e o índice H (Scopus) para a
classificação dos periódicos em A1 e A2.
Os resultados da avaliação de periódicos são essenciais para a nota final da
avaliação do programa de pós-graduação. A cada produção que um docente
permanente de um programa da área publica em um veículo qualificado no Qualis,
o pesquisador acumula pontos: publicações em periódicos A1 contam 100 pontos e
em periódicos B5, 10 pontos; a média ideal considerada pela Capes é de 150
pontos por triênio. Esse quesito vem aumentando de peso a cada avaliação
trienal. Na avaliação de 2004, o item "produção intelectual" tinha o peso de
30% na nota do programa; na avaliação de 2007, o peso aumentou para 35%; e na
avaliação de 2010 chegou a cerca de 40%, se for incluída a produção de
discentes do programa.
Portanto, dada a necessidade de publicar mais, é natural que sejam criados mais
periódicos, para disseminar a produção científica dos pesquisadores da área. A
partir de uma análise da base Qualis mais recente (2012), mantendo-se apenas os
periódicos de Administração e Contabilidade (excluindo-se aqueles de outras
áreas, como: ciência da informação, economia, ciência política, psicologia,
etc.), chega-se a um total de 116 periódicos nacionais. Analisando-se a data de
criação de cada um, percebe-se que a maior parte deles, 76% ou 88 periódicos,
foi criada nos anos 2000.
Percebe-se que houve um aumento de 275% no número de periódicos analisando-se a
quantidade existente até 1999 com aquela da década de 2000. Isso pode ter
relação com o aumento do número de cursos de mestrado e doutorado na mesma
época. Com mais mestrandos e doutorandos, aumenta-se a quantidade de
publicações, havendo necessidade de mais veículos para divulgá-las. Mas é
possível haver relação também com a maior necessidade de publicar (engendrada
pela reestruturação da avaliação de programas em 1998 e do Qualis em 2008),
sendo a criação de novos periódicos uma das formas de possibilitar maior
disseminação da produção científica, e também com a popularização do uso da
Internet na década de 2000 como ferramenta para publicação de periódicos
eletrônicos.
Ainda analisando-se esse mesmo grupo de periódicos, pode-se perceber que a
expressiva maioria é editada / publicada por instituições de ensino superior
(IES) públicas (40%) e privadas (46%) e, em menor escala, por associações ou
sociedades científicas (6%), fundações e instituições públicas e privadas (5%),
conselhos ou associações de classe (3%).
Esse perfil é completamente diferente quando se consideram as revistas
estrangeiras classificadas no Qualis, um total de 151 revistas. No conjunto de
periódicos estrangeiros, a edição por parte de IES é pouco representativa
(apenas 9%). A ampla maioria dos periódicos é editada por publishers ou
editoras comerciais, seja individualmente (58%), seja em parceria com
associações científicas (9%), IES (2%) ou institutos de pesquisa (1%). Apesar
de o publisher ser fechado (não oferece acesso aberto aos artigos, na maioria
dos casos), sua infraestrutura e sua capacidade para a tarefa de publicação de
um periódico científico certamente geram um diferencial e, além disso, o
publisher tem recursos financeiros garantidos para investimento nas revistas, o
que nas IES públicas ou privadas não é sempre fácil de conseguir.
Como afirmam Dias e Garcia (2008, p. 81),
a maioria dos periódicos brasileiros é publicada por cursos,
instituições de ensino superior, associações de classe ou sociedades
científicas, em que inexiste a tradição de editores com formação
específica para o exercício da função.
Além disso, Targino e Garcia (2008, p. 69) lembram que
a maioria dos editores acadêmicos mantém atividades múltiplas e
enfrenta, no dia a dia, a concorrência das casas comerciais, com
pessoal, em geral, mais bem treinado, pelo menos no campo gerencial.
4.2. Caracterização do modelo de gestão
Nas Figuras_3, 4, 5 e 6 resumem-se as características do modelo de gestão
adotado pelos periódicos. Essa caracterização foi feita com base no modelo
teórico proposto na seção 3 e nas informações obtidas por meio das entrevistas
realizadas com os editores e membros de sua equipe editorial.
4.3. Tipologia de modelos de gestão
A partir da caracterização dos periódicos feita com base no modelo teórico
proposto e nas percepções de editores e assistentes editoriais, foi possível
propor uma tipologia de modelos de gestão de periódicos científicos,
apresentada na Figura_7.
* Modelo de gestão científica
- Processo de Avaliação ' MT1 (Modelo Tipo 1): cinco etapas ' verificação
de formato; desk review 1 (editor); desk review 2 (corpo/comitê
editorial/avaliadores); avaliação double-blind; alterações. MT2: três
etapas (desk review 1; avaliação double-blind; alterações).
- Desempate ' MT1: efetuado por um terceiro avaliador ou pelo editor
científico. MT2: efetuado pelo membro do corpo editorial científico
responsável pelo processo de avaliação do artigo.
- Comitê ' MT1: grupo endógeno e sem mandato. MT2: grupo diversificado e
sem mandato. MT3: grupo diversificado e com mandato.
- Editores ' MT1: grupo endógeno e com remuneração. MT2: grupo endógeno e
sem remuneração. MT3: grupo não endógeno e sem remuneração.
* Modelo de gestão administrativa
- Equipe Interna e Espaço Físico ' MT1: equipe reduzida, sem espaço
físico. MT2: equipe reduzida, com espaço físico. MT3: equipe ampla, com
espaço físico.
- Processos ' MT1: poucos processos terceirizados, contratação por
cotação. MT2: muitos processos terceirizados, contratação por licitação.
MT3: muitos processos terceirizados, contratação por cotação.
* Modelo de financiamento
- 1) Instituição mantenedora + CNPq.
- 2) Instituição mantenedora + assinaturas.
- 3) Instituição mantenedora + assinaturas + CNPq.
- 4) Entidades comerciais + assinaturas + Instituição man-tenedora +
CNPq.
Optou-se por realizar a segmentação dos periódicos da amostra por tipo de
instituição editora (associação científica, instituição de ensino superior
(IES) pública / privada) para, assim, buscar estabelecer o tipo de modelo de
gestão administrativa, científica e de financiamento adotado em cada segmento.
Percebe-se que periódicos editados por associações científicas tendem a adotar
um modelo de gestão científica que varia entre o tipo 1 e o tipo 3, um modelo
de gestão administrativa de tipo 1 e um modelo de financiamento que conta em
grande parte com o apoio da instituição mantenedora e com uma pequena ajuda do
governo federal por meio de projetos de apoio à editoração financiados pelo
CNPq. Ressalta-se que os periódicos desse grupo são apenas eletrônicos e,
portanto, não possuem assinaturas como fonte de renda, diferentemente dos
demais periódicos da amostra, os quais mantiveram a versão impressa do
periódico e possuem assinantes, principalmente bibliotecas de IES públicas e
privadas. Além disso, por serem apenas eletrônicos, possuem um modelo de gestão
administrativa distinto (MT1), com uma equipe interna menor e menos processos
terceirizados.
Os periódicos editados por IES públicas tendem a adotar um modelo de gestão
científica de tipo 2, um modelo de gestão administrativa de tipo 2 e um modelo
de financiamento diversificado, mas que também depende muito da instituição
mantenedora. Deve-se notar aqui que um dos periódicos editados por IES públicas
financia grande parte (46%) dos custos da publicação por meio do apoio de uma
entidade comercial (Fundação Instituto de Administração), o que destoa do
conjunto de revistas analisadas, as quais não contam com esse tipo de apoio. Os
periódicos de IES privadas tendem a adotar um modelo de gestão científica de
tipo 1, um modelo de gestão administrativa de tipo 3 e um modelo de
financiamento que também conta com uma boa parte do auxílio à publicação
proveniente da instituição mantenedora.
Essa tipologia proposta ainda precisa ser testada para verificar-se sua
validade em um conjunto maior de periódicos, tanto da área de Administração
quanto de outras áreas do conhecimento. Além disso, seria interessante realizar
essa análise com os periódicos estrangeiros da área. Supõe-se que o padrão das
revistas editadas fora do Brasil deva ser diferente, considerando que apenas
23% desse conjunto de periódicos é editado por IES ou associações científicas,
enquanto 92% dos periódicos brasileiros são editados por esses tipos de
instituições. Isso deve influenciar principalmente o modelo de financiamento
dos periódicos que, por ser o motor que impulsiona a arquitetura de valor do
periódico, acaba influenciando o modelo de gestão científica e administrativa
adotado (componentes da arquitetura de valor de um periódico científico).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na presente pesquisa, o objetivo foi analisar a gestão editorial de periódicos
científicos da área de Administração no contexto brasileiro e propor uma
tipologia de seus modelos de gestão. Para isso, primeiramente analisou-se a
literatura relativa à gestão de periódicos científicos no intuito de
estabelecer um modelo teórico em que se identificou que a gestão de um
periódico científico está relacionada ao entendimento de três aspectos: gestão
científica, gestão administrativa e modelo de financiamento.
A gestão científica representa, em suma, o gerenciamento do processo de
certificação de conteúdo do periódico (processo de avaliação dos artigos),
visando selecionar e publicar conhecimento de qualidade para a área. Para isso,
conta-se com diversos atores que colaboram nesse processo, sendo esses, além do
editor, os avaliadores, o corpo editorial científico e o comitê de política
editorial. Esse último, apesar de não estar envolvido diretamente no processo
de avaliação dos artigos, é responsável por traçar os objetivos e a linha de
atuação da revista, os quais influenciam o modo como o processo de avaliação é
executado.
Já a gestão administrativa representa o processo de publicação do periódico em
si, envolvendo, na maior parte dos casos, produção editorial e gráfica, gestão
administrativa e financeira, comunicação e marketing, atividades necessárias
para que o produto periódico possa ser publicado. Para realização dessas
atividades, o periódico precisa de uma equipe interna e/ou externa
(terceirizada) consistente e comprometida, além de infraestrutura física e
tecnológica adequada.
A publicação de um periódico científico apresenta custos, portanto é necessário
adotar uma estratégia para cobrir tais custos, essencialmente relacionados aos
processos de gestão científica e administrativa. O modelo de financiamento do
periódico pode contar com diversas fontes de recursos, como apoio da
mantenedora, assinaturas, apoio de agências federais, etc.
Nas entrevistas com os editores, identificou-se que nenhum deles apresentava
experiência anterior na edição de um periódico científico quando assumiu a
editoria do periódico em questão, o que corrobora a afirmação de Targino e
Garcia (2008) de que a maioria dos editores no Brasil não possui formação
adequada para exercer suas funções principais, além de ter outras atribuições,
como pesquisador de sua área. Os editores entrevistados acabaram aprendendo na
prática e com o auxílio de ex-editores que atuaram nas revistas. Seria
interessante que houvesse um curso para introduzir novos editores nesse meio de
publicação de um periódico científico, atividade que é extremamente importante
para o avanço da ciência. Além disso, a maioria dos editores não recebe tipo
algum de remuneração por seu trabalho e também não conta com o auxílio de um
editor-adjunto no processo, o que ajudaria a diminuir a carga de trabalho do
editor científico.
O processo de avaliação dos artigos executado pelas revistas é muito similar,
no entanto três dos periódicos apresentam um processo de triagem inicial mais
rigoroso, o que permite que sejam encaminhados ao double-blind review artigos
que já apresentam boa qualidade. O grande entrave do processo de avaliação em
todas as revistas é quando os artigos são encaminhados aos pareceristas. Em
muitos casos, eles demoram demais para dar uma resposta ou elaboram um parecer
fraco, o que muitas vezes exige do editor o trabalho de encontrar outro
avaliador e ficar cobrando uma resposta.
No entanto, é um processo difícil, pois os pareceristas são voluntários e
pesquisadores da área que possuem múltiplas atividades, então é complicado
exigir que respondam a tempo e que elaborem um parecer consistente e de
qualidade. Como um dos editores disse, talvez seja necessário um incentivo dos
órgãos que realizam a avaliação dos pesquisadores e dos programas de pós-
graduação para a realização dessa atividade, que é essencial para a construção
do conhecimento científico e sem a qual não é possível publicar um periódico.
Todas as revistas apresentam uma boa equipe (em termos quantitativos e
qualitativos) para a realização das atividades administrativas necessárias ao
processo de publicação do periódico. Para revistas impressas e com
periodicidade maior, a parte administrativa acaba sendo mais representativa em
termos de recursos (humanos e financeiros) despendidos, pelo fato de ter que
lidar com um grande número de processos terceirizados, gerenciados pela equipe
interna da revista. A infraestrutura física e tecnológica das revistas parece
ser adequada e suficiente para a realização das atividades básicas do
periódico. No caso dos periódicos da Anpad, as assistentes editoriais trabalham
em casa, mas contam com o suporte e auxílio da Anpad para compra de novos
equipamentos e manutenção, caso seja necessário.
Para o financiamento da publicação, a maior parte dos periódicos depende muito
do apoio da mantenedora, principalmente aqueles que são exclusivamente
eletrônicos, já que as assinaturas ainda representam boa parte dos recursos das
revistas impressas. No entanto, as assinaturas tendem a diminuir com a expansão
das TICs e o maior uso do meio eletrônico para leitura dos artigos que, no caso
de todas as revistas da amostra, estão disponíveis integralmente on-line. Na
verdade, como afirma uma das assistentes editoriais entrevistadas, as
assinaturas ainda se mantêm porque o Ministério da Educação (MEC) exige das
universidades, centros universitários e faculdades, a versão impressa de
determinados periódicos na biblioteca.
Percebe-se que os recursos fornecidos pelo CNPq aos periódicos são ínfimos e
não são nem de longe suficientes para auxiliar as revistas da área a cobrir os
custos totais da publicação do periódico. O CNPq financiou, em 2012, 247
projetos de apoio à editoração de periódicos no Brasil, despendendo um total de
R$ 5.798.690,00. No entanto, a distribuição dos recursos não é equitativa entre
as áreas do conhecimento. Ciências biológicas, exatas e da saúde recebem 55,4%
do total investido e representam apenas 27,6% dos projetos. Ciências humanas,
sociais aplicadas, linguística, letras e artes representam 53,8% dos projetos,
mas recebem apenas 27,4% dos recursos.
A partir das entrevistas com editores e membros de suas equipes editoriais
juntamente com as informações do modelo teórico de gestão de periódicos
proposto, foi possível elaborar uma tipologia de modelos de gestão. Ressalta-se
que essa tipologia ainda precisa ser testada para verificar sua validade em um
conjunto maior de periódicos, tanto da área de Administração quanto de outras
áreas do conhecimento.
Nessa tipologia proposta, percebe-se uma diferenciação dos modelos de gestão
científica, administrativa e de financiamento de acordo com a instituição
editora do periódico (associação científica, instituição de ensino superior
(IES) pública / privada). Em muitos casos, é a instituição mantenedora /
editora que contribui de forma mais significativa para o financiamento do
periódico. Sendo o financiamento a força motriz dos processos de gestão
administrativa (principalmente) e científica (secundariamente), o modelo de
gestão acaba dependendo majoritariamente da instituição que edita o periódico
e, portanto, do investimento e da importância que ela atribui à edição de uma
revista científica.
Nesse sentido, propõe-se para estudos futuros uma investigação sobre o processo
de governança em periódicos científicos, entendida como boas práticas de gestão
científica e administrativa buscando atender aos interesses dos diversos
stakeholders (mantenedora, IES, órgãos de fomento à pesquisa, leitores/
pesquisadores, autores, avaliadores) do processo de gestão editorial de forma
justa e equilibrada.
Futuramente, também seria interessante realizar essa análise relativa ao modelo
de gestão para os periódicos estrangeiros. Supõe-se que o padrão das revistas
editadas fora do Brasil deva ser diferente, considerando-se que apenas 23%
desse conjunto de periódicos é editado por IES ou associações científicas,
enquanto 92% dos periódicos brasileiros são editados por esses tipos de
instituições.