Projeções de mão de obra qualificada no Brasil: cenários para a disponibilidade
de engenheiros até 2020
Introdução
Dado o nível de amadurecimento do campo de estudos sobre projeções e
estimativas populacionais no Brasil, o uso de projeções demográficas pode
trazer importantes contribuições para o planejamento de atividades dos setores
privado e público no país. O cálculo dessas projeções pode ser extremamente
útil, por exemplo, para estimar o volume e a estrutura de uma população num
momento futuro, informações importantes para se antecipar às demandas por
serviços ou para estimar o público-alvo de políticas públicas.
Entretanto, quando se trata de projetar um grupo populacional muito específico,
como as pessoas com determinada formação acadêmica/profissional, há ainda amplo
espaço para aprimoramentos metodológicos. O presente estudo objetiva contribuir
nesse sentido, ao apresentar uma proposta metodológica de projeção populacional
com vistas a estimar, para determinado momento futuro, a disponibilidade de mão
de obra qualificada (isto é, com formação de nível superior em áreas
específicas do conhecimento) no mercado de trabalho brasileiro.
Construir cenários prospectivos sobre a disponibilidade da força de trabalho
ganha especial relevância no atual contexto econômico-demográfico do Brasil,
marcado, por um lado, pelo acelerado processo de envelhecimento populacional em
curso e, por outro, pelo forte ritmo de crescimento da economia observado nos
últimos anos.
Segundo os dados oficiais de projeções populacionais elaboradas pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2008), no Brasil, a População em
Idade Ativa (PIA) - entre 15 e 65 anos - deverá atingir seu pico,
em termos relativos, em 2023, quando corresponderá a aproximadamente 71% da
população do país e, em termos absolutos, por volta de 2028, com pouco menos de
151 milhões de pessoas. A partir deste ano, deve, então, verificar-se o
declínio deste grupo populacional, o que terá efeitos relevantes sobre a
disponibilidade de mão de obra no mercado de trabalho nacional.
Do ponto de vista econômico, o Brasil vem experimentando um desempenho mais
vigoroso nos últimos anos. Embora possa parecer um paradoxo, este ritmo de
crescimento tem acentuado as preocupações de empresários e estudiosos acerca de
um possível "apagão de mão de obra especializada".
Para colaborar com esse debate, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea) iniciou, em 2010, um projeto de pesquisa sobre o tema visando
compreender as perspectivas da demanda e da oferta de mão de obra qualificada
no Brasil nas próximas décadas.1 Como parte desse esforço, o presente estudo
traz uma proposta metodológica para projeção demográfica da disponibilidade de
profissionais especializados - com destaque, neste momento, para a
população com ensino superior em cursos de engenharia. Para os fins deste
trabalho, são denominados profissionais de engenharia (ou engenheiros) todos
aqueles indivíduos com formação em cursos de nível superior nas áreas de
engenharia, produção e construção, conforme classificação oficial adotada pelo
Censo da Educação Superior do Ministério da Educação (MEC).2
A metodologia proposta utiliza um conjunto de bases públicas de dados,
envolvendo o Censo da Educação Superior (divulgado pelo Ministério da Educação
- MEC), as Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (PNAD) e o Censo
Demográfico (ambos do IBGE), além de dados do Sistema de Informações sobre
Mortalidade (SIM/Datasus) do Ministério da Saúde (MS).
A seguir é feita uma breve revisão de literatura sobre projeções populacionais
e de força de trabalho. Posteriormente, apresentam-se a metodologia e os
resultados obtidos com a aplicação do método na simulação de cenários sobre a
disponibilidade no mercado de trabalho brasileiro, até 2020, da população com
diploma nas áreas de engenharias. Por fim, são tecidas algumas reflexões e
recomendações para estudos futuros.
Revisão de literatura - projeções demográficas e de força de trabalho
O campo de estudos demográficos tem longa tradição em discussão dos métodos e
técnicas de projeção populacional (ONU, 1956). Particularmente ao longo das
últimas décadas no Brasil, podem ser encontrados avanços nas diversas
metodologias de projeções populacionais em estudos como os de Beltrão et al.
(2000), Arriaga (2001), O'Neill et al. (2001), Jannuzzi (2007) e
Oliveira, Albuquerque e Lins (2004), além das projeções demográficas oficiais
realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2002;
2008).
O trabalho de O'Neill et al. (2001) faz uma síntese dos diversos métodos
alternativos para se calcularem projeções populacionais. É importante observar
que não existe um método que seja o melhor em todas as situações, mas sim
métodos que são mais adequados para cada contexto de disponibilidade de dados e
de qualidade das informações. No entanto, o método das componentes demográficas
(cohort-component method) costuma ser apontado como o mais consagrado para
projeção populacional (ARRIAGA, 2001; O'NEILL et al., 2001; ONU, 1956),
tendo como vantagem de se projetar, isoladamente, o comportamento de cada uma
das três variáveis demográficas (fecundidade, mortalidade e migrações).
Em linhas gerais, a projeção de populações por sexo e idade, a partir do método
das componentes demográficas, consiste na aplicação das taxas projetadas
(fecundidade, mortalidade e migrações) por idade para cada coorte de pessoas em
cada ano do período de projeção. A interação entre níveis e padrões de cada uma
destas componentes fornece os resultados desagregados por sexo e grupos etários
do número de óbitos, do saldo migratório e do número de nascimentos estimados a
cada ano.
A partir dessas informações projetadas, utiliza-se a equação compensadora
(também conhecida como equação de equilíbrio populacional) para se estimar a
população no momento seguinte. Trata-se de uma equação de fácil intuição, na
qual a população final de determinado território no momento t+n equivale à sua
população inicial no momento t, acrescida de seu crescimento vegetativo (nº de
nascimentos menos nº de óbitos por idade nesse período) e de seu saldo
migratório (nº de imigrantes menos nº de emigrantes durante esse mesmo
período).
Sua expressão analítica é representada na seguinte fórmula:
P(t + n)= P(t)+ B(t, t + n) - D(t, t + n) + I(t, t + n) - E(t, t + n)
(1)
Onde:
P(t + n) = população no ano t+n;
P(t) = população no ano t;
B(t, t + n) = nascimentos ocorridos entre o período t e t+n;
E(t, t + n) = emigrantes entre o período t e t+n;
D(t, t + n) = óbitos ocorridos entre o período t e t+n;
I(t, t + n) = imigrantes entre o período t e t+n;
t = momento inicial da projeção;
n = intervalo projetado.
Por meio desse método, apresentado aqui de maneira muito sucinta, é possível
simular o crescimento e a composição que determinada população vivenciará caso
se concretizem as suposições assumidas quanto ao comportamento futuro de cada
uma das componentes demográficas em termos de seus níveis e padrões por sexo e
idade (CEPAL, 2009). A construção de cenários acerca das perspectivas futuras
dessas variáveis, em si, constitui uma das mais delicadas etapas da projeção
populacional, na medida em que a formulação de hipóteses necessita, ao mesmo
tempo, manter a coerência com as informações disponíveis observadas nas
tendências passadas e lidar com a sensibilidade na alteração dos resultados da
projeção diante das trajetórias estimadas.
Projeções de força de trabalho e de mão de obra qualificada
Projeções demográficas também podem fornecer importantes contribuições em
questões ligadas ao contexto econômico de um país e às suas políticas
educacionais e de formação profissional. Estimativas populacionais dessa
natureza permitem, por exemplo, avaliar situações futuras de maior ou menor
disponibilidade de profissionais com determinadas formações acadêmicas no
mercado de trabalho, sinalizando sobre eventuais necessidades de ajustes em
programas de formação profissional (JANNUZZI, 2000; NEUGART; SCHÖMANN, 2002;
JANNUZZI; VANETI, 2010).
No Brasil, desde a década de 1980, existe uma trajetória de estudos
prospectivos sobre a disponibilidade de força de trabalho na economia do país,
entre os quais podem ser destacados os de Henriques (1985), Camarano (1986),
Neupert, Calheiros e Theodoro (1989), Januzzi (2000), Wajnman e Rios Neto
(1999; 2000) e Ipea (2006). Essa linha de pesquisa tem por foco as projeções da
População Economicamente Ativa (PEA) do país, a partir das quais é possível
estimar o tamanho, a estrutura e o ritmo de crescimento da população disponível
para o trabalho. Na bibliografia internacional, merecem destaque as
experiências consolidadas dos Estados Unidos (BLS, 2010) e do Canadá (HRSDC,
2008), com suas pesquisas periódicas sobre o tema. O trabalho de Bijak et al.
(2007) também traz importante contribuição ao construir projeções da PEA para
27 países europeus, incorporando reflexões sobre questões como migração
internacional e envelhecimento populacional.
Em linhas gerais, tais projeções são realizadas a partir da estimação dos
futuros níveis das taxas específicas de atividade (TEA), que representam a
proporção de uma população tida como "economicamente ativa", por
sexo, em cada grupo etário. Assim, a projeção da PEA seria resultado da
aplicação dessas taxas específicas de atividade estimadas sobre uma projeção
populacional desagregada por sexo e idade.3
Apesar de a literatura citada avançar nas projeções de força de trabalho no
Brasil, o cálculo de projeções de pessoas com determinada formação acadêmica/
profissional não parece tão disseminado no país. Eijis (1994) destaca que,
mesmo em nível internacional, projeções do lado da oferta do mercado de
trabalho constituem elemento relativamente pouco explorado em projeções de
força de trabalho. Normalmente, apenas uma projeção do total da disponibilidade
de força de trabalho é feita, sem nenhuma segmentação que as remeta ao tipo de
formação desses profissionais. Segundo Eijis (1994, p. 17), os métodos mais
comumente utilizados para projetar disponibilidades futuras de mão de obra são
dois:
• Método por contabilidade de estoque (em inglês, stock accounting
method) - equivalente à projeção da PEA, parte de estimativas
das taxas de participação de subgrupos específicos (tais como por
idade, gênero e/ou etnia) no mercado de trabalho, a fim de projetar o
crescimento populacional desses subgrupos, tendo por foco descrever a
População Economicamente Ativa em termos de perfis etário, étnico e
de gênero, entre outros;
• Método do fluxo de entrada e saída - utiliza estimativas da
evolução do fluxo de entrada e de saída no mercado de trabalho, em
geral por gênero e faixa etária, para obter projeções da composição
da força de trabalho.
Eijis (1994) enumera quatro institutos que liderariam, no mundo ocidental, a
aplicação de métodos de projeção de força de trabalho: o norte-americano Bureau
of Labor Statistics (BLS); o alemão Institute of Employment Research (IAB, na
sigla original); o britânico Institute for Employment Research (IER); e o
holandês Research Centre for Education and the Labour Market (ROA, na sigla
original). No que diz respeito a projeções do lado da oferta, o autor assevera
que a prática adotada por esses quatro institutos varia entre um e outro dos
métodos mencionados anteriormente, inclusive utilizando aspectos de ambos.
Em publicação mais recente, organizada por Neugart e Schömann (2003), é
fornecida uma visão geral de projeções feitas em uma gama maior de institutos
de pesquisa, que abrangem Alemanha, Áustria, Canadá, Espanha, Estados Unidos,
França, Holanda, Irlanda, Japão e Reino Unido. Cada um dos estudos realizados
nesses países adapta os métodos de stock accounting e de fluxos de entrada e
saída às especificidades da formação e do mercado de trabalho em seus países,
bem como à disponibilidade de dados. Buscando desenvolver uma metodologia
global capaz de realizar comparações entre países, KC et al. (2010) apresentam
uma compreensiva pesquisa em que são construídas projeções demográficas por
nível educacional (o que os autores chamam de education-specific population
projections) para 120 países (abrangendo 93% da população mundial em 2005), com
resultados desagregados por sexo, grupos etários e nível de escolaridade.
Um grande desafio de projeções de força de trabalho, contudo, é associar o tipo
de qualificação obtida nos bancos escolares à função desempenhada no mercado de
trabalho. Neugart e Schömann (2002), assim como Freeman (2007), argumentam que
o alcance de tal objetivo enriquece o nível de informação que se toma como
referência para formulação e planejamento de políticas educacionais mediadas
pelas perspectivas da evolução do mercado de trabalho.
Não obstante, convém ressalvar que, via de regra, não existe uma
correspondência exata entre a área de formação acadêmica de uma pessoa e o tipo
de ocupação que ela irá exercer no mercado de trabalho. Modelos que assumem uma
relação unívoca entre ocupação e qualificação acadêmica pecam por desconsiderar
os mecanismos de ajuste que operam no mercado de trabalho, em especial a
substituição comumente observada entre concluintes de variados cursos técnicos
e superiores nas diversas ocupações (BLAUG, 1967 apud CÖRVERS; HEIJKE, 2004).
Assim, para a construção de projeções sobre a disponibilidade de um perfil
profissional específico, devem ser considerados: requerimento técnico
suficientemente especializado para o exercício de tal função (por exemplo,
gerenciamento de obras é uma função típica do engenheiro civil em razão de
especificidades técnicas); delimitação legal acerca das qualificações que
habilitam para determinada ocupação (por exemplo, atualmente, professores de
educação básica precisam ser licenciados na área que ensinam); e agregação dos
dados de áreas de formação e/ou de ocupações até o limite em que se incorporem
a contento as diversas qualificações e funções substituíveis entre si. Nesse
caso, dependendo do nível de agregação que se faça necessário, a agregação
tende a aproximar a projeção de estimativas da disponibilidade futura da PEA, e
não de um tipo de profissional específico.
Focado no setor elétrico e preocupado com as perspectivas de envelhecimento
populacional no país, o Departamento de Energia dos Estados Unidos preparou um
relatório para o Congresso norte-americano acerca da oferta e demanda, até
2015, de engenheiros de energia e de profissionais instaladores e reparadores
de linhas elétricas aéreas (UNITED STATES, 2006). Nesse relatório, o método
empregado para projetar o número de engenheiros que se formariam até 2015 tomou
como base a projeção global do número de concluintes universitários, realizada
pelo Instituto de Educação e Ciências (IES) norte-americano. Considerando a
proporção desses diplomas que foram conferidos nos cursos de engenharia
elétrica em relação ao total, o estudo assumiu como constante para todo o
período projetado a proporção observada em 2002 (um pouco acima de 1%). Em
termos metodológicos, no entanto, o relatório não apresenta em detalhes o
método utilizado na consideração de questões como a migração, aposentadoria ou
mortalidade desses profissionais.
Na América Latina, podem ser destacados os estudos de Goic (1994; 1999) durante
a década de 1990. No primeiro trabalho, o autor calculou uma estimativa da
disponibilidade de médicos no Chile, para 1994, e a projetou para 1998 e 2003,
enquanto, no segundo, atualizou os resultados para o ano de 2008.4 O método
aplicado pelo autor parte de um modelo simplificado de entrada e saída da
atividade profissional, em que o número de médicos num ano t+1 depende do
estoque já existente desses profissionais no ano t, bem como do número de
concluintes em cursos de nível superior nesse período e daqueles médicos que
deixarão a atividade profissional por razões de falecimento ou de aposentadoria
no mesmo período. A metodologia utilizada fornece resultados sem desagregação
por sexo ou idade, tratando apenas do contingente total de médicos ativos no
Chile.
O número de médicos que saem das universidades e ingressam na carreira foi
projetado com base nos dados de contingente de ingressos e egressos nas
universidades entre 1977 e 1992 (considerando uma mortalidade acadêmica de
20%). O autor não especifica, contudo, o método de projeção aplicado. Para
estimar as saídas do mercado de trabalho, Goic (1994; 1999) estimou os óbitos
dos médicos levando em conta uma taxa de mortalidade de cinco por mil
(ligeiramente inferior àquela observada para a população chilena em geral). A
saída por motivos de aposentadoria foi estimada aplicando-se uma taxa de
aposentadoria anual de 0,5% (definida ad hoc) e uma idade de corte de 70 anos,
a partir da qual todos os médicos eram considerados aposentados. Nas projeções,
o autor incorporou a imigração dos médicos que se graduaram no exterior
habilitados para exercer a profissão no país, sem, contudo, especificar o
método de projeção ou tecer considerações sobre a emigração de médicos
chilenos.
Um dos poucos estudos brasileiros com foco na projeção de profissionais com
formação específica é a dissertação de mestrado de Rodrigues (2008). Nesse
trabalho, a autora projeta o número de médicos que deverão estar em exercício
no Estado de Minas Gerais, para 2010, 2015 e 2020, dando importante
contribuição para os estudos de projeções de profissionais no Brasil, ao
sistematizar a literatura e trazer reflexões sobre o tema.
Em linhas gerais, o método empregado pela autora baseia-se numa combinação da
equação compensadora com o modelo simplificado das entradas e saídas no mercado
de trabalho utilizado por Goic (1994, 1999), posteriormente sistematizado por
Bastías et al. (2000). A ideia central subjacente a essa metodologia foi
incorporada ao presente estudo e será apresentada com mais detalhes a seguir.
Em termos dos dados empregados, o trabalho de Rodrigues utiliza algumas fontes
públicas, como as Tábuas de Vida, do IBGE, calculadas para o Estado de Minas
Gerais, e informações sobre ensino superior do Ministério da Educação (MEC). No
entanto, a projeção elaborada pela autora toma como principal fonte de dados
uma série de informações obtidas no Sistema Integrado de Entidades Médicas
(Siem), que constitui um registro administrativo ligado ao Conselho Federal de
Medicina (CFM) - não sendo, portanto, uma fonte pública de dados, o que
dificulta eventuais replicações futuras do modelo por ela desenvolvido.
Além disso, o tratamento dos dados teve de considerar algumas particularidades
próprias à profissão médica (regulamentação e o papel desempenhado pelos
conselhos estadual e federal da profissão), bem como a disponibilidade de dados
sobre a profissão. A estimativa do número de profissionais que se formaram e
ingressam na carreira, por exemplo, foi feita com base na relação entre o
número de novas inscrições no Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais
(CRM/MG) num ano t e o número de vagas ofertadas pelas universidades no ano t-
6 (mantendo essa razão constante para todo período da projeção). As taxas
líquidas de migração (TLM) projetadas até 2020 supuseram constantes as TLMs
registradas pelo Siem/CRM/MG em 2007.5
Dadas essas particulares enfrentadas por Rodrigues (2008), pode ser
extremamente difícil, e em alguns casos até inviável, replicar a metodologia da
autora para outras categorias profissionais sem que sejam feitas algumas
adaptações no método e nas fontes de dados envolvidas.
Metodologia
A metodologia utilizada neste estudo concentra-se na produção (output) do
sistema educacional em termos da formação de indivíduos com habilidades e
competências específicas, tanto cognitivas quanto profissionais. Tem-se como
foco, portanto, a projeção do volume e da estrutura etária da população
disponível no mercado de trabalho que tenha sido formada pelo sistema
educacional brasileiro.6
A abordagem é a mesma adotada pelos estudos de Goic (1994; 1999), Bastías et
al. (2000) e Rodrigues (2008). Em linhas gerais, o método baseia-se numa
combinação da equação compensadora com o modelo simplificado das entradas e
saídas no mercado de trabalho utilizado por esses autores. Essa combinação
contribui com um importante ponto de partida para projeções do estoque de força
de trabalho com nível superior de escolaridade, ao adaptar a equação de
equilíbrio populacional tradicional com variáveis mais adequadas para se
analisar a entrada e saída de profissionais no mercado de trabalho, de forma a
considerar sua composição demográfica.
A informação do número de nascimentos - que exercia papel de entrada na
população total na versão original da equação compensadora - é
substituída pelo fluxo de egressos de cursos universitários na área de
conhecimento considerada. Por sua vez, a informação do número de óbitos -
que exercia papel de saída da população total - passa a contabilizar
aquelas pessoas que deixam o mercado de trabalho por razões tanto de óbito
quanto de aposentadoria. A projeção pode ser calculada ano a ano com resultados
desagregados por sexo e grupos quinquenais de idade. A Figura_1 apresenta um
esquema do modelo.
![](/img/revistas/rbepop/v30n2/a10fig01.jpg)
A lógica por trás da equação compensadora em sua versão original é mantida. Ou
seja, o tamanho da população com diploma em uma área específica de formação
dentro de determinado território no momento t+n equivale ao seu estoque inicial
de pessoas formadas naquela área no momento t, acrescido do número de egressos
do sistema educacional naquela área durante esse período, subtraindo-se o
número de pessoas com tal diploma que saíram do mercado de trabalho no período
(por razões de aposentadoria ou óbito) e acrescendo-se o saldo migratório desse
território (nº de imigrantes menos nº de emigrantes no mesmo período,
considerados apenas aqueles com formação na especialidade em questão).
Com base nesse método, será possível simular − a partir dos pressupostos
assumidos para o comportamento futuro das componentes de mortalidade e migração
(variáveis de natureza demográfica) e das componentes de aposentadorias e
egressos do sistema de ensino superior (variáveis com naturezas mais política e
econômica) − o ritmo de crescimento, a composição etária e o tamanho da
população que estará disponível no mercado de trabalho brasileiro com
determinada formação educacional.
As subseções a seguir apresentam os procedimentos metodológicos e as fontes de
dados tomados como base para aplicação da metodologia no estudo de caso dos
profissionais formados em cursos de nível superior classificados pelo
Ministério da Educação como sendo da área de engenharia, produção e
construção.7
Dado que estão incluídos nessa mesma categoria cursos com grau tanto de
bacharelado como tecnólogo, que possuem diferentes dinâmicas de funcionamento e
expansão, as etapas de projeção descritas a seguir foram realizadas
considerando-se separadamente esses tipos de curso. A apresentação dos
resultados, contudo, será feita para o agregado dos profissionais de
engenharia.
População no ano base
Na presente metodologia, a população no ano base equivale ao estoque inicial de
pessoas com determinada credencial - isto é, com formação específica em
uma área do conhecimento. No caso, a credencial de interesse é o diploma de
nível superior em cursos da área de engenharia, produção e construção. A
população detentora dessa credencial no ano base pode ser obtida no Censo
Demográfico 2000, do IBGE (variável v4355 - Código do curso mais elevado
concluído). A forma de organização dos dados permite fácil acesso a essa
informação, de forma desagregada por sexo e grupos quinquenais de idade. A data
de referência do Censo é 1º de agosto de 2000.
Conforme afirmado anteriormente, não existe uma correspondência exata entre a
área de formação acadêmica de uma pessoa e o tipo de ocupação que essa pessoa
irá exercer no mercado de trabalho. Assim, é necessário reconhecer que uma
parcela dessa população obtida para o ano base da projeção encontra-se
empregada em ocupações outras que não as típicas de sua área de formação.
No caso do presente trabalho, foi possível observar que, em 2000, 24% das
pessoas empregadas em ocupações típicas de engenharia não possuíam diploma nas
áreas relacionadas à engenharia.8 Da mesma maneira, verificou-se que 69% dos
diplomados nas áreas de engenharia não estavam empregados em ocupações típicas
da área, naquele ano. Nesses casos, pode-se esperar encontrá-los numa das
seguintes situações: inseridos em outras ocupações; desempregados; exercendo
atividades como profissionais não assalariados; emigrantes para outros países;
ou simplesmente fora do mercado de trabalho.
Nos Estados Unidos, por exemplo, a porcentagem de engenheiros trabalhando fora
de suas ocupações típicas, em 1999, era de aproximadamente 68% (NSF, 2003, p.
250). Essa proporcionalidade pode ser entendida como uma taxa de desvio e
ocorre em função do ajuste do próprio mercado de trabalho, em termos do que as
oportunidades de emprego exigem dos profissionais disponíveis, bem como das
ofertas salariais que esses profissionais recebem em cada tipo de ocupação.
Em princípio, essas taxas de desvio não comprometem os resultados da presente
metodologia. Isso porque a metodologia se presta a projetar a quantidade de
pessoas disponíveis no mercado de trabalho com uma formação universitária
específica, ou seja, aquelas pessoas que receberam uma formação voltada para
determinadas habilidades e competências cognitivas e profissionais específicas
para exercer determinado grupo de ocupações. A proporção da população projetada
que efetivamente se "desviará" (e acabará por atuar em ocupações
diferentes daquelas próprias à sua área de formação) dependerá do futuro ajuste
do mercado de trabalho em função dos atrativos salariais que estarão vigentes
dentro e fora do ramo de atividade.
A entrada no mercado de trabalho como função fecundidade
As informações sobre os egressos universitários podem ser obtidas no Censo da
Educação Superior, realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) do Ministério da Educação (MEC),
cujos dados estão disponíveis para o período de 1995 a 2009. Por meio deste
Censo, é possível obter informações acerca do número de vagas, inscrições,
matrículas, ingressantes e concluintes dos cursos de nível superior autorizados
pelo MEC e oferecidos por instituições de ensino superior (IES) de todo o país.
Para fins deste trabalho, serão utilizados os dados referentes aos ingressantes
e concluintes dos cursos de bacharelado e de tecnologia nas áreas de
engenharias.
Volume de concluintes do ensino superior
A informação sobre volume do fluxo de concluintes do ensino superior para o
período de 2000 a 2009 foi obtida a partir dos registros do Censo da Educação
Superior (Inep/MEC). Para os anos posteriores a 2009, o método utilizado
consistiu em estimar a taxa de sucesso acadêmico geral do curso e aplicá-la
sobre o número de ingressantes entre 2005 e 2009 e sobre os ingressantes
projetados para o período de 2010 a 2015.
As estimativas do índice de titulação (que seria o complemento da taxa de
evasão) têm papel importante para o presente estudo, por se tratar de uma
variável diretamente relacionada à quantidade de alunos que se formam nas
instituições de ensino superior e, consequentemente, à quantidade de
profissionais que estarão futuramente disponíveis no mercado de trabalho. Além
disso, trata-se de uma questão passível de ser objeto de política pública que,
se bem desenhada e implementada, pode modificar significativamente o fluxo de
concluintes no médio prazo.
Estudando a evasão no ensino superior brasileiro, Silva Filho et al. (2007)
definem a evasão total de um curso como a porcentagem de alunos que, tendo
entrado no ano t, não obtiveram o diploma ao final de determinado número de
anos. O complemento dessa taxa é que os autores definem como o "índice de
titulação". Tomando como base os dados disponibilizados no Censo da
Educação Superior, este índice seria calculado como a proporção do número de
formados em certo ano em relação ao número de ingressantes quatro anos antes.
No presente estudo, entende-se que o índice de titulação deve ser calculado
tendo-se como referência o número de anos que um aluno levaria, em média, para
se formar no curso analisado. Dessa forma, sua fórmula de cálculo seria:
[/img/revistas/rbepop/v30n2/a10img01.jpg]
Onde:
T é o índice de titulação do curso;
i refere-se ao curso analisado;
t corresponde ao ano de ingresso dos alunos de referência;
C é o número de alunos que concluíram o curso;
n refere-se ao número médio de anos que um aluno levaria para se formar no
curso;
I é o número de alunos ingressantes.
Como reconhecem Silva Filho et al. (2007), essa forma de cálculo da titulação
do curso apresenta algumas limitações, em especial por utilizar uma análise de
período que mistura alunos concluintes provenientes de diferentes anos de
ingresso. Em termos ideais, esse índice deveria ser calculado a partir de uma
análise longitudinal que acompanharia a evolução de uma coorte de estudantes
desde seu ingresso no curso até a sua saída. Contudo, os dados disponíveis no
Censo da Educação Superior até a sua edição de 2008 não permitem esse tipo de
análise por estarem agregados ao nível do curso e não do aluno. A partir de
2009, o Censo da Educação Superior passou a dispor de uma identificação de cada
estudante matriculado, o que permitirá, no futuro, estimar de forma mais
precisa as taxas de evasão e de titulação para aqueles que tenham ingressado a
partir de 2009.
Considerando o período de 2000 a 2009, utilizou-se a equação (2) para calcular
o índice de titulação dos alunos, por sexo, dos cursos de bacharelado e de
tecnologia nas áreas de engenharia, produção e construção. O tempo médio de
graduação desses alunos foi estimado com base na diferença média entre o ano de
ingresso e o de conclusão de todos os alunos que foram considerados concluintes
no Censo da Educação Superior em 2009. Dessa forma, n assumiu valores de quatro
anos para os cursos de tecnologia e de seis para os de bacharelado.
Como o número de observações não permitiria identificar uma tendência
consistente desses índices de titulação, optou-se por aplicar índices fixos
para todo o período da projeção. Dessa forma, os índices de titulação
utilizados nas projeções foram calculados por meio de regressão linear simples
por mínimos quadrados ordinários, em que o número de alunos concluintes no ano
t+n-1 é considerado variável dependente, enquanto o número de estudantes que
ingressaram no ano t é considerado variável explicativa. Para a utilização do
método dos mínimos quadrados, empregou-se o seguinte modelo:
[/img/revistas/rbepop/v30n2/a10img02.jpg]
Onde:
C é o número de concluintes;
I corresponde ao número de ingressantes;
i refere-se ao tipo de curso (bacharelado ou curso superior de tecnologia);
trefere-se ao ano em que é contado o número de concluintes;
né o número de anos que se assume terem levado os ingressantes do ano t para
finalizar seu curso, sendo n=6 quando i=bacharelado en=4 quando i=curso
superior de tecnologia.
Neste caso, interessa-nos o índice de titulação dado pela estimativa obtida
para o parâmetro βi na equação (3). A partir do número de alunos ingressantes e
concluintes a cada ano entre 2000 e 2009, o método é aplicado separadamente
para o curso de bacharelado e o superior de tecnologia. Os resultados obtidos
são apresentados na Tabela_1.
[/img/revistas/rbepop/v30n2/a10tab01.jpg]
Os índices de titulação βi foram aplicados sobre o número de ingressantes
registrado nos Censos da Educação Superior de 2005 até 2009 para projetar o
volume de concluintes no intervalo de 2010 até 2014. Para os anos posteriores a
2014, as mesmas taxas foram mantidas constantes e aplicadas ao número de
ingressantes projetado de acordo com diferentes cenários.
A projeção desse volume do fluxo de concluintes pode ser realizada utilizando-
se distintos conjuntos de hipóteses com diferentes tendências para o
comportamento da expansão do ensino superior no país. A depender do objetivo
perseguido, por exemplo, podem ser calculadas projeções que comparem a dinâmica
da formação de recursos humanos nas intuições públicas e nas privadas. A
construção de cenários dessa natureza pode ser útil para simulação dos
possíveis resultados que seriam obtidos diante de eventuais alterações na
política educacional brasileira.
No presente estudo, cada cenário foi construído supondo diferentes ritmos de
expansão do número de ingressantes nos cursos de engenharia, produção e
construção.
• Cenário 1 (congelamento): a título de ilustração, esse cenário
assume que haveria um congelamento na expansão dos alunos
ingressantes nos cursos de engenharia. Assim, até 2020, o número de
ingressantes a cada ano seria igual àquele observado em 2009. Embora
seja um cenário irrealista, sua trajetória pode servir de referencial
analítico para uma situação extremamente dramática em que não haveria
expansão do ensino superior nessas áreas.
1º cenário:
Pt = P2009
• Cenário 2 (esfriamento): tomou-se como hipótese que o ensino
superior nas áreas de engenharia repetiria, entre 2010 e 2020, o
menor ritmo de expansão no número de alunos ingressantes observado em
cinco anos consecutivos registrados de 2000 a 2009.
2º cenário:
Pt = Menor taxa observada em cinco anos consecutivos *Pt-1
• Cenário 3 (manutenção): o cenário intermediário foi construído
supondo-se que a expansão dos ensinos em engenharia conseguiria
manter, entre 2010 e 2020, o mesmo ritmo de expansão observado de
2000 a 2009. Partiu-se, portanto, da taxa média de crescimento
geométrico observada em todo o período, que foi de aproximadamente
10% para os cursos de bacharelado e 17% para os de tecnólogo.
3º cenário:
Pt = Taxa média *Pt-1 (para 2010 < t< 2015)
• Cenário 4 (aquecimento): tomou-se como hipótese que o ensino
superior nas áreas de engenharia repetiria, entre 2010 e 2020, o
mesmo ritmo de expansão recorde no número de alunos ingressantes
observado em cinco anos consecutivos registrados de 2000 a 2009.
4º cenário:
Pt = Maior taxa observada em cinco anos consecutivos *Pt-1 (para 2010
< t < 2015)
Composição por sexo e idade do fluxo de concluintes do ensino superior
O nível de desagregação dos dados do Censo da Educação Superior permite
identificar a composição demográfica (em termos de sexo e estrutura etária por
grupos quinquenais) apenas dos alunos que ingressaram nas IES entre 2000 e
2009. A única informação sobre o perfil dos alunos concluintes é a sua
composição por sexo. Para estimar a estrutura etária dos egressos em um ano t,
assumiu-se que sua composição etária seria igual àquela observada no grupo de
ingressantes no ano t-5 somados seis anos de diferença, no caso dos cursos de
bacharelado, e no ano t-2 somados três anos de diferença, para os cursos de
tecnólogo. Este procedimento, portanto, assume como pressuposto que o tempo
médio para um aluno se formar seria de seis anos para bacharéis e três anos
para tecnólogos, além de considerar que a idade não afetaria as taxas de evasão
ao longo do curso.
No caso dos alunos de bacharelado, por exemplo, a estrutura etária daqueles que
concluem o curso superior entre 2005 e 2014 diz respeito aos ingressantes
registrados entre 2000 e 2009. Para os alunos que o concluíram antes de 2005,
contudo, foi necessário adotar um procedimento alternativo, já que não existem
informações sobre a estrutura etária dos estudantes que ingressaram nas IES
antes de 2000. Nesses casos, foi atribuída a esses egressos a estrutura etária
média dos alunos que ingressaram em 2000 e 2001.
A composição etária do quantitativo esperado de concluintes para o período de
2015 a 2020 dependeria da estrutura etária observada para os ingressantes entre
2010 e 2015. Como ainda não existe observação disponível para esses anos,
procedeu-se de forma análoga à descrita no parágrafo anterior: aos ingressantes
entre 2010 e 2015 foi atribuída a estrutura etária média dos dois últimos anos
para os quais há observações disponíveis, ou seja, 2008 e 2009, para o caso do
ano de 2010 e assim sucessivamente.
A saída do mercado de trabalho como função mortalidade
Como a metodologia ora descrita destina-se à análise e projeção da
disponibilidade de força de trabalho com formação em áreas específicas do
conhecimento, a função mortalidade da equação compensadora passa a ser
calculada em termos da saída do mercado de trabalho por razões tanto de óbito
como de aposentadoria. Para os fins do presente trabalho, são desconsideradas
as saídas temporárias do mercado de trabalho, uma vez que estas pouco impactam
o estoque geral da força de trabalho disponível (BASTÍAS et al., 2000).9
Mortalidade
Uma ampla bibliografia discute os diferenciais de morbidade e mortalidade entre
grupos populacionais segundo suas características socioeconômicas (CORDEIRO;
SILVA, 2001; MESSIAS, 2003; MULLER, 2002; PÉREZ; TURRA, 2008; SILVA; PAIM;
COSTA, 1999). Apesar das dificuldades para realização de estudos conclusivos,
as evidências empíricas disponíveis tendem a apontar que indivíduos com maiores
níveis de escolaridade tenderiam a apresentar nível da mortalidade inferior à
média do total da população em geral. Isso ocorreria na medida em que seu nível
educacional estaria relacionado com menores chances de esses indivíduos
passarem por privações de condições econômicas e materiais, estarem expostos a
riscos de acidentes de trabalho e adotarem comportamentos de risco relacionados
a alimentação, acompanhamento médico, etc. (MULLER, 2002; PÉREZ; TURRA, 2008).
Um desafio inicial para se projetar a mortalidade das pessoas com ensino
superior no Brasil é justamente encontrar as informações que sejam as mais
fidedignas possíveis ao perfil de mortalidade desse grupo. Uma primeira
alternativa seria utilizar como proxy as informações de óbito das pessoas que
possuem pelo menos 12 ou mais anos de estudo (o que seria equivalente à pessoa
ter cursado pelo menos o primeiro ano da faculdade) registradas pelo Ministério
da Saúde por meio do seu Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/
Datasus).
Contudo, os problemas na qualidade de registro da informação de escolaridade
nas declarações de óbito poderiam comprometer a fidedignidade do dado ao
incorrer em sub-registro dos óbitos nos diferentes níveis de escolaridade. Em
2000, por exemplo, pelo menos 44,1% das declarações de óbito registradas pelo
Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) não apresentavam informação
sobre a escolaridade da pessoa falecida. Embora venha diminuindo, esta
proporção ainda se mantém elevada, chegando a pelo menos 35,6% em 2008.
Em face da dificuldade de se estimarem as taxas específicas de mortalidade
experimentadas pela população com ensino superior, optou-se, nesse estudo, por
utilizar as informações de mortalidade da população do Distrito Federal,
independentemente do seu grau de escolaridade. Tal opção deve-se ao fato de o
Distrito Federal (DF) ser a Unidade da Federação com a maior expectativa de
vida do país. Em 2008, por exemplo, a esperança de vida ao nascer no DF era de
75,8 anos de idade, enquanto para o total do Brasil correspondia a 73 anos
(BRASIL, 2009).
A título de comparação, a presente projeção também foi realizada utilizando-se
as taxas de mortalidade da população brasileira em geral. O resultado obtido
para 2020 no cenário médio da projeção se diferencia em cerca de 1% (menos de
22 mil pessoas) dos resultados encontrados pela projeção que partiu das
informações da mortalidade do Distrito Federal. Além disso, como destacado por
Patarra (1996) e Camarano e Kanso (2009), a componente demográfica que
desempenha papel mais importante para fins de projeção populacional é a
fecundidade (que teria aqui equivalência no fluxo de novos profissionais
advindos do sistema de ensino). A mortalidade apresenta impacto menor sobre os
resultados.
A projeção da mortalidade teve como ponto de partida as taxas específicas de
mortalidade por grupos quinquenais de idade estimadas por sexo entre 2000 e
2007. Estas taxas foram calculadas e posteriormente suavizadas (médias móveis)
a partir das informações sobre óbitos fornecidas pelo Sistema de Informações
sobre Mortalidade do banco de dados do Sistema Único de Saúde do Ministério da
Saúde (SIM/Datasus/MS), e de população, extraídas das edições da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE) e do Censo Demográfico. Para o
número de óbitos de determinado ano, calculou-se a média dos óbitos ocorridos e
registrados ao longo dos anos t-1, t e t+1, conforme procedimento adotado por
Oliveira, Albuquerque e Lins (2004).
Para projeção destas taxas, aplicou-se método análogo ao empregado pelo IBGE em
suas projeções oficiais (OLIVEIRA; ALBUQUERQUE; LINS, 2004), em que se utiliza
uma função logística para interpolar os logaritmos das taxas específicas de
mortalidade entre 2000 e 2020.10 Para tanto, foram tomadas como base a
tendência observada entre 2000 e 2007 e a tábua limite de mortalidade de 2100
construída pelo U. S. Bureau of the Census (apud OLIVEIRA; ALBUQUERQUE; LINS,
2004).
Depois de estimadas e projetadas, as taxas específicas de mortalidade por sexo
e por grupos quinquenais de idade foram convertidas em probabilidades de morte
Q(x, 5) entre as duas idades x e x+5, para que se obtivessem as razões de
sobrevivência a serem aplicadas na projeção populacional. Para tanto, tomou-se
como base o estudo de Reed e Merrell (1939), conforme procedimento adotado por
Oliveira, Albuquerque e Lins (2004).
Aposentadoria
Um dos desafios dessa proposta metodológica é incorporar a dinâmica das
aposentadorias como um fator adicional para saída do mercado de trabalho. Isso
ocorre por dois motivos: primeiro, a aposentadoria não significa
necessariamente a retirada definitiva do mercado de trabalho; e, segundo,
existe uma série de fatores que influenciam a idade de entrada e saída do
mercado de trabalho, como níveis de "educação, renda, condição no
domicílio, composição das famílias, sistema de previdência social, legislação,
ciclos econômicos, grau de urbanização, mortalidade e, particularmente, para as
mulheres, estado conjugal e fecundidade" (IPEA, 2006, p. 85).11
Para lidar com essa questão em suas projeções, diferentes estudos aplicam uma
idade de corte a partir da qual a população projetada passa a ser considerada
aposentada e, portanto, excluída da força de trabalho (BASTÍAS et al., 2000;
RODRIGUES, 2008). Para o caso chileno, Goic (1994; 1999) utiliza uma idade de
corte combinada com taxas de aposentadoria (tasa de retiro) por idade. A
construção dessas taxas específicas de aposentadoria no Brasil exige lidar com
uma série de questões metodológicas, e sua incorporação na presente metodologia
ficará reservada para um momento futuro.
Por ora, optou-se por trabalhar apenas com uma idade de corte de 70 anos para
aposentadorias, procedimento adotado também nos estudos de Goic (1994; 1999),
Bastías et al. (2000) e Rodrigues (2008). Assim, considerou-se que todos os
homens e mulheres com nível superior de escolaridade sairão definitivamente do
mercado de trabalho a partir dessa idade. Tal suposição parece consistente,
visto que, segundo os dados de 2009 captados pela PNAD (IBGE), 99,2% da
população economicamente ativa com nível superior de escolaridade, no Brasil,
tinha menos de 70 anos de idade.12
Migração
Finalmente, deve-se observar que, para os fins deste exercício, as variáveis
migratórias foram desconsideradas. Trabalhar aqui com a premissa de que a
população seja fechada à migração internacional não deve afetar os resultados
gerais encontrados pelo presente estudo, visto que o peso quantitativo da mão
de obra estrangeira no estoque de profissionais ocupados no Brasil nas áreas de
engenharias é pouco expressivo (Gráfico_1).
[/img/revistas/rbepop/v30n2/a10gra01.jpg]
Embora se observe um aumento, em termos absolutos, do número de estrangeiros
trabalhando com carteira assinada em ocupações de engenharia, produção e
construção no Brasil, esse contingente de estrangeiros nunca ultrapassou 3.800
pessoas entre 2000 e 2009. Em termos absolutos, houve um crescimento de 21% do
número de estrangeiros trabalhando com carteira nessas ocupações entre 2003
(3.071) e 2009 (3.725), o que ocorreu, em particular, nos setores de
infraestrutura, administração pública, saúde e educação, construção residencial
e, principalmente, petróleo e gás.
Em termos relativos, contudo, a participação desses estrangeiros nas ocupações
de engenharias vem caindo no país em todos os setores econômicos, desde 2000,
atingindo 0,9%, em 2009, para o agregado da economia brasileira. A baixa
expressividade da participação dos estrangeiros com carteira assinada em
ocupações nas áreas de engenharia, produção e construção (seja para o agregado
da economia, seja dentro de cada setor de atividade) reforça que os resultados
do presente estudo não ficariam comprometidos ao se ignorar a imigração
internacional.
As migrações internas, por sua vez, não são relevantes nesse momento, tendo em
vista que a metodologia aqui proposta é voltada para projetar a mão de obra
qualificada disponível no mercado de trabalho do país.
Projeções de profissionais com graduação em engenharia, produção e construção
no Brasil entre 2010 e 2020
Foram consideradas população base para projeção as 525.390 pessoas captadas
pelo Censo Demográfico brasileiro de 2000 que se declararam com diploma nas
áreas de engenharia (incluindo tecnólogos e bacharéis) e tinham menos de 70
anos de idade.
O Gráfico_2 mostra a estrutura etária dos engenheiros, por sexo, em 2000. Além
da visível predominância de profissionais do sexo masculino nessas áreas, chama
a atenção o fato de que, em 2000, mais da metade (51%) dos diplomados nas áreas
de engenharias, no país, eram homens entre 35 e 55 anos de idade.
[/img/revistas/rbepop/v30n2/a10gra02.jpg]
Projeção dos ingressos e egressos dos cursos de engenharia, produção e
construção
Alunos ingressantes
Segundo os dados do Censo da Educação Superior (INEP/MEC), 77.633 pessoas
ingressaram na graduação em algum curso superior nas áreas de engenharia,
produção e construção, em 2000. O número de ingressantes a cada ano foi
crescente durante todo o período inicial de análise, tendo sido registrados
198.593 novos alunos em 2009, com uma taxa média geométrica de crescimento
anual de 11,0%. O Gráfico_3 apresenta a evolução entre 2000 e 2009 do número
desses ingressantes, segundo tipos de curso (bacharelado e tecnologia).
Observa-se que, embora os cursos de bacharelado respondam pela maior parcela
dos alunos ingressantes nas áreas de engenharia, produção e construção, foram
os de tecnólogo que tiveram o maior crescimento relativo na década, chegando a
responder por 16,6% de todos os alunos ingressantes na área.
[/img/revistas/rbepop/v30n2/a10gra03.jpg]
Conforme a metodologia apresentada anteriormente, foram construídos quatro
cenários supondo-se diferentes ritmos de expansão do número de ingressantes em
cursos de nível superior nas áreas de engenharias. Os cenários variam entre uma
perspectiva extremamente pessimista - marcada por um congelamento do
número de ingressantes a partir de 2009 - e outra extremamente otimista
-assumindo que o ensino superior nas áreas de engenharias repetiria, para
a década de 2010-2020, o mesmo ritmo de expansão recorde observado em cinco
anos consecutivos registrados dentro da década de 2000-2009.
A partir dos cenários 2 a 4, as taxas estimadas de expansão do número de
ingressantes nos cursos de engenharia, produção e construção entre 2010 e 2020
seriam, respectivamente, de 7,7%, 11,8% e 16,8%. Caso o cenário intermediário
se confirme, por exemplo, isto significa que o número de alunos ingressantes
nos cursos de engenharias, em 2020, será 3,4 vezes maior do que o daqueles que
ingressaram em 2009, e 8,7 vezes superior ao dos que entraram em 2000 (Gráfico
4).
[/img/revistas/rbepop/v30n2/a10gra04.jpg]
Aqui cabe lembrar que as etapas metodológicas de projeção foram realizadas
separadamente para os cursos de bacharelado e de tecnólogo, considerando as
diferentes tendências recentes de suas respectivas redes de ensino. Os
resultados apresentados, contudo, referem-se ao agregado dos profissionais de
engenharia.
Alunos concluintes
Quanto ao número de concluintes, observa-se que houve um importante incremento,
ainda que menos intenso quando comparado ao dos ingressantes. O número de
alunos que se diplomaram nessas áreas passou de 24.148, em 2000, para 56.537 em
2009 (Gráfico_5). Assim, o número de concluintes dos cursos de engenharia,
produção e construção (fluxo de engenheiros adicionados anualmente ao mercado
de trabalho) cresceu a uma taxa geométrica média de 9,9% ao ano, entre 2000 e
2009.
[/img/revistas/rbepop/v30n2/a10gra05.jpg]
Nos três cenários construídos, as taxas estimadas entre 2000 e 2020 foram,
respectivamente, de 10,0%, 11,3% e 13,1%. Caso, por exemplo, o cenário
intermediário se confirme, isto significa que o número de concluintes, em 2020,
será 3,6 vezes maior do que o de formados em 2009 e 8,4 superior ao daqueles
formados em 2000.
Aqui cabe destacar que o número de pessoas que se formarão nos cursos de
engenharias entre 2011 e 2016 depende, em larga medida, do número de alunos que
já estão atualmente matriculados nas instituições de ensino superior. Esta
ponderação evidencia que existe pouca ou nenhuma margem de manobra para alterar
significativamente o número de engenheiros que estarão disponíveis no mercado
de trabalho brasileiro tendo como horizonte o ano de 2020. Uma das poucas
alternativas que se poderia fazer no curto prazo para alcançar resultados mais
imediatos na expansão quantitativa do número de concluintes do ensino superior
seria por meio de políticas destinadas a reduzir a taxa de evasão acadêmica.
Desenhar uma política voltada para essa questão, contudo, exigiria uma análise
aprofundada sobre os fatores que levam à evasão acadêmica - o que não é
objeto de estudo do presente trabalho.
Projeção das taxas específicas de mortalidade
As estimativas das probabilidades de morte obtidas conforme a metodologia
apresentada anteriormente podem ser consultadas nas Tabelas_1 e 2 do Anexo.
[/img/revistas/rbepop/v30n2/a10ane01.jpg]
[/img/revistas/rbepop/v30n2/a10ane02.jpg]
Resultados gerais das projeções da disponibilidade de engenheiros no mercado de
trabalho brasileiro até 2020
Ao incorporar paulatinamente os concluintes universitários ao estoque de
engenheiros captados pelo Censo Demográfico 2000, submetendo-os à dinâmica de
mortalidade e de aposentadorias, observa-se que, caso as hipóteses traçadas se
confirmem, o estoque projetado de engenheiros tenderá a aumentar
expressivamente até 2020. Considerando o estoque inicial, em 2000, de pessoas
com diploma em engenharias, estima-se que a disponibilidade de engenheiros no
mercado de trabalho brasileiro (o estoque de engenheiros abaixo de 70 anos de
idade) tenha crescido a uma taxa geométrica média de 4,9% ao ano entre 2000 e
2009.
A depender da evolução dos níveis de mortalidade e, principalmente, do ritmo de
expansão de vagas e concluintes no ensino superior entre 2010 e 2015, a oferta
de engenheiros no mercado de trabalho brasileiro no período de 2010 a 2020
poderá crescer a uma taxa de 7,8%, 8,5% ou 9,7% ao ano, respectivamente,
conforme os cenários projetados. Neste caso, o tamanho da população com diploma
nos cursos de engenharias no mercado de trabalho brasileiro deverá se situar
entre 1,9 e 2,3 milhões de pessoas em 2020 (Gráfico_6). Nota-se que, mesmo em
um cenário irrealista de congelamento da expansão de matrículas para novos
alunos de engenharias a partir de 2009, o estoque de engenheiros disponível no
mercado de trabalho em 2020 seria quase o dobro do estimado para 2009.
[/img/revistas/rbepop/v30n2/a10gra06.jpg]
Ao confrontar o volume de engenheiros aqui estimados com o valor registrado no
Censo Demográfico de 2010, observa-se uma diferença consideravelmente pequena.
O Censo 2010 registrou no Brasil um total de 897.447 engenheiros com menos de
70 anos de idade. Segundo a estimativa do presente estudo, esse número foi
estimado em 897.015, o que significa um "erro" de 0,0481% (432
pessoas). Trata-se de um resultado satisfatório, pois sugere que as estimativas
utilizadas de taxas de mortalidade e de evasão acadêmica estariam coerentes.
Por um lado, é mesmo esperado que o "tamanho do erro" seja menor nos
anos iniciais da projeção e que esse erro cresça conforme se amplie o seu
horizonte temporal. Por outro, esse erro inicial pareceu satisfatoriamente
pequeno, sugerindo consistência da metodologia.
O Gráfico_7 apresenta a pirâmide populacional que se observa no estoque de
engenheiros captados em 2000 pelo Censo Demográfico (IBGE) e a pirâmide
populacional estimada do estoque de engenheiros projetados para 2020, caso o
cenário intermediário se confirme. Uma primeira alteração que se observará,
caso as tendências recentes incorporadas no cenário se concretizarem, é um
aumento na participação relativa das mulheres na oferta da força de trabalho
qualificada com diploma nas áreas de engenharia. Outra alteração significativa
ocorrerá no perfil etário dos engenheiros brasileiros, que apresentará uma
estrutura etária mais rejuvenescida.
[/img/revistas/rbepop/v30n2/a10gra07.jpg]
Esta mudança, em particular, decorrerá em função dos novos engenheiros egressos
das instituições de ensino superior que deverão ser adicionados ao mercado de
trabalho. O ritmo de formação desses profissionais e seu perfil etário, mais
jovem em relação ao estoque de engenheiros que já se encontram no mercado de
trabalho, deverão levar a um rejuvenescimento relativo da oferta geral de mão
de obra nas engenharias no país.
Faz-se necessário advertir, novamente, que uma parcela dessa população estimada
com a projeção poderá vir a se empregar em outras ocupações que não possuem
relação com sua área de formação, uma vez que não existe uma correspondência
unívoca entre a área de formação acadêmica de uma pessoa e o tipo de ocupação
que ela irá exercer no mercado de trabalho. Em 2000, por exemplo, observou-se
que 69% das pessoas diplomadas nas áreas de engenharia não estavam empregadas
em ocupações típicas da área. Esta proporção não deve ser entendida,
necessariamente, como uma taxa de desvio perniciosa. Ainda é natural esperar
que tal desvio ocorra em virtude do ajuste do próprio mercado de trabalho, em
termos, por exemplo, da disponibilidade de profissionais e das oportunidades de
ocupação e atrativos salariais que o mercado está disposto a pagar.
Considerações finais
Este estudo estimou três projeções sobre a disponibilidade de mão de obra
qualificada nas áreas de engenharia no mercado de trabalho brasileiro até o ano
de 2020. Os cenários se diferenciam em função dos possíveis ritmos de expansão
a serem observados no número ingressantes e concluintes em cursos de ensino
superior nestas áreas. Caso as tendências recentes incorporadas nos cenários se
concretizarem, o mercado de trabalho brasileiro poderá contar, em 2020, com um
estoque entre 1,9 e 2,3 milhões de pessoas formadas em engenharias por
instituições brasileiras de ensino superior.
Os resultados apontam ainda que, durante a próxima década, será possível
observar duas tendências relevantes na formação da mão de obra qualifica nas
áreas de engenharia no país: o rejuvenescimento e a feminização dessa força de
trabalho, que passará a ter maior participação relativa de profissionais mais
jovens e do sexo feminino.
O método proposto apresenta alguns pontos interessantes para se projetar a
disponibilidade no mercado de trabalho brasileiro de mão de obra qualificada
com ensino superior em áreas específicas do conhecimento. O primeiro refere-se
ao fato de serem utilizadas apenas bases de dados de uso público. Além disso,
seu desenho permite fácil replicação da análise para quaisquer áreas de
formação de ensino superior no Brasil. A metodologia permite ainda a construção
de cenários alternativos que simulem diferentes políticas de expansão ou
restrição de vagas em instituições de ensino superior, apresentando resultados
consistentes para horizontes de curto e médio prazos (de 5 a 10 anos).
Numa futura agenda de pesquisa, a metodologia aqui proposta necessitará de
novos refinamentos, particularmente no que tange a enfrentar o desafio de se
antecipar às possíveis alterações que ocorrerão no regime previdenciário
brasileiro e simular seus efeitos sobre a evolução da dinâmica de aposentadoria
da força de trabalho disponível no mercado. Poderá ainda contribuir para o
avanço dessa linha de pesquisa a incorporação de um modelo profluxo (também
conhecido como modelo profluxo escolar) para o ensino de nível superior, nos
moldes dos modelos utilizados por Klein (2003) e Golgher (2004).
A metodologia também carece de um maior refinamento, a fim de incorporar a
questão migratória, tendo em vista que as disponibilidades de universidades e
da própria atividade econômica (demandante de força de trabalho) encontram-se
distribuídas de maneira muito desigual no território brasileiro. Por sua vez,
as perspectivas de maior inserção do Brasil na economia internacional, aliadas
ao possível aumento da demanda por mão de obra nos países em avançado estágio
de envelhecimento populacional, sugerem que a questão da migração internacional
poderá ganhar relevância no médio e no longo prazos (RIOS-NETO, 2005). Outros
aprimoramentos poderão ser realizados de forma a incorporar métodos
probabilísticos de projeção do número de alunos ingressantes e a partir de uma
modelagem mais sensível das taxas de evasão acadêmica.
Para além do aprimoramento da presente metodologia, vislumbram-se diversas
outras perspectivas de pesquisa relacionadas ao tema. Uma delas diz respeito à
aplicação da presente metodologia para outras formações acadêmica/profissionais
estratégicas, como os profissionais de medicina, por exemplo. Outros
desdobramentos poderiam incluir ainda uma revisão da metodologia, de forma a
adaptá-la para a formação de profissionais de nível técnico, bem como
profissionais com mestrado e doutorado.
O avanço desta linha de pesquisa exige constante revisão e refinamento de seus
métodos e das hipóteses empregadas. Requer também uma reflexão sobre a questão
da qualidade do ensino superior que tem formado os profissionais brasileiros,
assim como sobre a expansão da educação profissional, científica e tecnológica
no país. Por ora, espera-se que este estudo contribua com os debates sobre
projeções demográficas aplicadas ao mercado de trabalho e à disponibilidade de
mão de obra qualificada no Brasil.