Desenvolvimento de coleções em bibliotecas universitárias: uma abordagem
quantitativa
1 Introdução
Tradicionalmente, bibliotecas universitárias têm a missão de prover a infra-
estrutura bibliográfica, documentária e informacional para apoiar todas as
atividades inerentes à universidade (RUSSO, 2007). Este tipo de biblioteca
surgiu na Idade Média ligada às ordens religiosas, que deram sustentação ao
movimento de criação das universidades. Naquela época, os livros eram
manuscritos, o que dificultava e encarecia sua reprodução, mas, apesar disso,
as universidades sempre dispuseram de bibliotecas, mesmo que de forma
rudimentar (CARVALHO, 2004; VERGER, 1999).
Com o passar do tempo, o número de estudantes universitários começou a
aumentar, ocasionando um crescimento da produção intelectual, coincidindo com a
decadência da Idade Média, o surgimento do Renascimento e a difusão, na Europa,
da tecnologia de reprodução por tipos móveis. Comparadas aos padrões atuais, as
coleções existentes nas bibliotecas, antes do advento da imprensa no Ocidente,
caracterizavam-se por serem de pequeno porte. As mudanças atingiram a
biblioteca universitária: "quanto mais se lia, mais se produzia conhecimento o
que aumentava o campo para novos estudos. Este ciclo cresceu aumentando a
relação entre a universidade, a biblioteca e os seus leitores" (MORIGI; SOUTO,
2005, p. 191).
Cabe à biblioteca universitária satisfazer as demandas informacionais de seus
usuários para que eles desempenhem adequadamente suas atividades de ensino,
pesquisa e extensão. Uma das funções que mais necessita de atenção na
administração de uma biblioteca é o desenvolvimento de coleções, processo
conhecido durante muito tempo apenas como seleção. Desde então, tem sido
destacada na literatura como uma das mais importantes atividades intelectuais
do bibliotecário, muito embora a mesma literatura reporte a dificuldade de
tornar a teoria em prática sistemática.
As coleções, que eram formadas de maneira elementar exigem, na atualidade, uma
gestão criteriosa e atenta em seu processo de desenvolvimento, de modo que seja
possível determinar diretrizes para nortear sua implementação. Para se atingir
o objetivo último do desenvolvimento de coleções - a satisfação dos usuários -
é importante coletar e organizar os dados referentes ao comportamento dos
mesmos, visando apoiar a tomada de decisão.
Smith (1981) sugere que a análise das citações oriundas das teses e
dissertações pode servir como um estudo do usuário, pois elas oferecem dados
que podem gerar informações valiosas quanto àquele comportamento.
Considerando-se pertinente o proposto por Smith (1981), investiga-se o
comportamento de uso dos materiais informacionais dos alunos de doutorado do
Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) da Escola de Administração
(EA) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pela análise das
citações expressas nas teses por eles elaboradas, objetivando-se estabelecer
diretrizes para apoiar a tomada de decisão quanto ao desenvolvimento de
coleções da Biblioteca Setorial da EA (BSEA).
Intenciona-se, ainda, encontrar respostas para duas indagações identificadas
como problemas de pesquisa: (a) seriam as referências citadas nas teses de
Administração um indicador representativo que possa servir de base para a
elaboração de uma política de desenvolvimento de coleções na área? (b) como o
usuário, aluno de doutorado em Administração, se comporta no uso dos materiais
informacionais?
O foco desta investigação encontra-se no comportamento de uso do material
informacional dos alunos de pós-graduação, pois os alunos de graduação da UFRGS
já se encontram contemplados com uma política de desenvolvimento de coleções,
que vem sendo desenvolvida pelo Sistema de Bibliotecas da UFRGS por meio da
metodologia BiblioGrad (STREHL; CASTANHO, 2007). Além disso, optou-se pelo
estudo das citações utilizadas na elaboração das teses porque elas representam
estudos originais, constituem-se em uma contribuição real para a especialidade
e o material informacional utilizado na sua elaboração apresenta o que há de
mais atual sobre o assunto abordado.
Objetiva-se identificar: (a) a tipologia dos materiais bibliográficos
empregados nas citações, visando a melhorar a distribuição dos recursos
financeiros disponíveis para investimento em inclusão, substituição e
prioridades na coleção geral da biblioteca; (b) a idade da literatura dos
materiais informacionais citados, pretendendo o armazenamento retrospectivo da
coleção; (c) os títulos de periódicos citados, determinando a coleção-núcleo e
preparando possíveis cortes na coleção devido a, por exemplo, eventuais
reduções no orçamento da biblioteca; e (d) a preferência dos idiomas dos
materiais consultados, distinguindo os que devem ocorrer nos materiais
bibliográficos selecionados em futuras aquisições.
2 Desenvolvimento de coleções
Pode-se afirmar que a Biblioteca de Alexandria, na Antiguidade, representava o
resultado da seleção de algumas obras que eram "[...] símbolo da liberdade de
expressão e de compromisso com a memória social daquele período". Da mesma
forma, na Idade Média, a seleção das obras colecionadas representava o
resultado de uma lógica cristã. Dos "tabletes de argila ao documento eletrônico
não há como formar e desenvolver coleções sem se deparar com questões próprias
da natureza do processo, tais como o que se vai colecionar, por que, para quê e
para quem colecionar" (WEITZEL, 2002, p. 61). No Renascimento, o processo de
seleção foi tratado de modo mais sistemático pelo médico francês Gabriel Naudé
(1600-1653), em sua obra Avis pour dresser une bibliothèque e, na Idade
Moderna, colecionava-se praticamente tudo o que existia, pois a produção
editorial encontrava-se em seu estágio inicial.
Contudo, foi na segunda metade do século XX, que o desenvolvimento de coleções
tornou-se importante devido à irracionalidade de se adquirir todo o material
informacional que era produzido. Este vinha adquirindo proporções gigantescas,
devido ao fenômeno conhecido como explosão informacional (FONSECA, 2007;
WEITZEL, 2002). O processo inicia-se, mais precisamente, nas bibliotecas
universitárias de países anglo-saxões, em grande medida, em virtude das
restrições orçamentárias. Entretanto, mesmo que não houvesse tais restrições, o
crescimento exponencial das coleções e a carência de espaço físico obrigavam os
bibliotecários a implementarem políticas mais precisas de descarte e
armazenamento. Ou seja, a atividade de desenvolvimento de coleções surge como
resposta à explosão bibliográfica.
Vergueiro (1989, p. 15) assevera que o "desenvolvimento de coleções é, acima de
tudo, um trabalho de planejamento [...] trata-se de um processo que ao mesmo
tempo, afeta e é afetado por muitos fatores externos a ele". Como exemplo, há
as novas tecnologias de informação e comunicação e a integração crescente das
fontes eletrônicas aos acervos e serviços existentes nas bibliotecas, que, de
acordo com Cunha (2000), até 2010 provocariam grandes transformações nos
serviços de desenvolvimento de coleções e aquisição.
Menos inquietante, Vergueiro (1997, p. 101) nos apresenta uma perspectiva de
muitas e não de grandes transformações: "Num mundo onde materiais impressos
conviverão - espera-se que em harmonia - com todas as demais fontes
eletronicamente disponíveis, serão muitas as implicações para as atividades
daqueles profissionais responsáveis pelo desenvolvimento das coleções".
Contudo, apesar da previsão de grandes transformações nos serviços de
desenvolvimento de coleções feita por Cunha (2000) e de muitas transformações
previstas por Vergueiro (1997), "[...] os princípios para desenvolvimento de
coleções que regem os documentos impressos são os mesmos que regem os objetos
digitais" (WEITZEL, 2006, p. 8); ou como conclui Vergueiro (1997, p. 104), "as
preocupações dos profissionais de informação, no que diz respeito ao
desenvolvimento de coleções, manterão grande nível de similaridade com as que
possuem no ambiente da informação predominantemente impressa".
Da mesma maneira que as restrições orçamentárias, a explosão informacional e a
carência de espaço físico promoveram a disciplina de desenvolvimento de
coleções no século passado, as novas mídias e as tecnologias de informação e
comunicação tornam o desenvolvimento de coleções o centro das atenções na
atualidade.
A questão da acumulação versus a seleção orientada para a qualidade, a
relevância e o acesso à informação renascem, e, "do ponto de vista teórico, os
dois grandes momentos apresentados são fundamentais e se complementam para
explicar a importância do processo de desenvolvimento de coleções para a
organização do conhecimento" (WEITZEL, 2006, p. 66). Ou ainda, de acordo com
Vergueiro (1997, p. 104), "talvez a importância social da atividade tenha até
mesmo sido incrementada pelo advento das tecnologias de informação eletrônica,
ao invés de ter sido minimizada".
2.1 Desenvolvimento de coleções na biblioteca universitária
A crescente complexidade das atividades de geração e comunicação da informação
provocou uma especialização das bibliotecas e os novos desafios na organização
dos estoques de informação distanciaram as unidades de informação entre si.
Apesar disso, pontos em comum continuaram existindo, pois, independentemente
dos usuários atendidos e das características ambientais, as funções de seleção,
aquisição, tratamento, organização, armazenamento e atendimento de referência
são encontradas nos mais diversos tipos de bibliotecas (DIAS, 2006).
Percebe-se que os diferentes tipos de bibliotecas sentem de forma desigual a
pressão exercida tanto pela informação disponível eletronicamente, quanto pelas
novas tecnologias de informação e comunicação. Segundo Vergueiro (1997), por
suas peculiaridades, as bibliotecas de pesquisa sentiriam mais rapidamente e
com mais intensidade as mudanças provocadas pela informação disponível em meio
eletrônico do que as bibliotecas públicas. Por esta razão, de acordo com o tipo
de biblioteca, uma ou outra etapa do desenvolvimento de coleções é enfatizada.
No caso da biblioteca universitária, devido aos seus objetivos institucionais e
tipo de clientela, a ênfase encontra-se na avaliação e no desbastamento da
coleção (WEITZEL, 2006).
A preocupação com a política de desenvolvimento de coleções na biblioteca
universitária brasileira surge entre o final da década de 70 e início de 80, do
século passado. Na ocasião, Antonio Miranda enumerava os problemas enfrentados
para formar coleções nestas bibliotecas, tais como censura e inflação; e Nice
Figueiredo pesquisava, por solicitação da Capes, a situação da seleção e
aquisição de material bibliográfico nas bibliotecas acadêmicas.
Naqueles tempos, não havia literatura em português sobre o assunto e o ensino
da disciplina de Formação e Desenvolvimento de Coleções tinha sido recém-
introduzido nas escolas de Biblioteconomia. Apesar de o contexto atual
encontrar-se mais favorável, passou o tempo, e as bibliotecas universitárias
brasileiras quase não modificaram suas atividades de desenvolvimento de
coleções (WEITZEL, 2006). Dessa forma, os fenômenos "especialização das
bibliotecas" e "explosão bibliográfica" remetem-nos aos questionamentos de
Vergueiro (1993, p. 19): "Afinal, estão as coleções sendo realmente
desenvolvidas com critérios neste país? Estão elas seguindo qualquer tipo de
parâmetro para seu desenvolvimento?"
Cuidar da formação adequada da coleção é uma das tarefas mais importantes e
significativas do trabalho do bibliotecário. Tarefa importante porque lhe
permite antecipar-se às demandas informacionais da comunidade usuária, pelo
planejamento, visando adequar-se aos ambientes/fatores/interlocutores em que a
biblioteca está inserida, tais como: direção da unidade, política, legislação,
mudanças sociais ou demográficas, mercado editorial, inovações tecnológicas e
padrões de desempenho exigidos (DIAS; PIRES, 2003).
No ambiente das bibliotecas universitárias, o desenvolvimento de coleções
requer a compreensão das demandas informacionais dos autores das teses. Estas
demandas podem ser difíceis de discernir, mas a análise de citações das teses
possibilitará a compreensão clara de sua natureza (WILLIAMS; FLETCHER, 2006).
As bibliotecas acadêmicas não podem perder de vista os interesses de informação
de seus usuários. Neste campo de atuação, a utilização de critérios
quantitativos no processo de desenvolvimento de coleções pode ajudar a
estabelecer um acervo capaz de atender a estes interesses e demandas,
colaborando no processo decisório.
3 Tomada de decisão e desenvolvimento de coleções
A tomada de decisão consiste basicamente na identificação do problema, na
coleta e análise de informações sobre ele e na conversão dessas informações em
ação (BUCHANAN, O'CONNELL, 2006). Há uma busca contínua por novas ferramentas e
novos modos de pensar para ajudar neste processo e, sob esta perspectiva,
métodos quantitativos são instrumentos que devem ser considerados.
Tarapanoff, Miranda e Araújo Júnior (2004, p. 127) definem a tomada de decisão
como "[... um] conjunto de atitudes que buscam a resolução de um problema
específico (planejamento, organização, controle, estatística, etc.)". Percebe-
se assim que a tomada de decisão é muito mais do que o momento final da
escolha, é um processo complexo de reflexão, investigação e análise
(TARAPANOFF, 2001).
Neste sentido, destaca-se que, no processo de desenvolvimento de coleções, a
interpretação das análises quantitativas das coleções é um instrumento auxiliar
na tomada de decisão, que se relaciona com planejamento, seleção, revisão e
desbastamento, sendo "[...] impraticável desenvolver uma coleção que reúna
todos os itens publicados em qualquer área do conhecimento" (FIGUEIREDO; LIMA,
1998, p. 81, grifos dos autores).
Entre os métodos e as técnicas do processo decisório, Dias e Pires (2003, p.
27) incluem a Bibliometria "[...] que elabora indicadores de tendências,
gráficos, figuras e mapas que sintetizarão as informações para a tomada de
decisão". A Bibliometria investiga o uso dos documentos, buscando padrões
quantitativos para análise e, tal pesquisa pode servir como ferramenta auxiliar
do planejamento.
A Bibliometria oferece, a partir do estabelecimento de padrões quantitativos,
modelos de comportamento, não só do conhecimento ou da literatura, mas também
das necessidades informacionais centradas no usuário, acumulando dados que,
devidamente agrupados, auxiliam o processo de tomada de decisão (TARAPANOFF;
MIRANDA; ARAÚJO JÚNIOR, 2004, p. 97).
Visando monitorar o ambiente, a coleta e a análise de informações sobre um
determinado problema, a Bibliometria representa uma ferramenta importante no
momento de apoiar a tomada de decisão. Considera-se que a realização de um
estudo bibliométrico por meio da análise das citações utilizadas na elaboração
de teses acadêmicas constitui ferramenta importante para apoiar a tomada de
decisão quanto ao desenvolvimento de coleções de bibliotecas universitárias,
pois, a partir das inferências feitas, podem ser definidas diretrizes para
apoiar este processo.
Estudos bibliométricos, quando aplicados da forma aqui proposta, são uma das
atividades que buscam desenvolver e controlar o conhecimento dentro da
biblioteca. Estes estudos fazem parte da etapa responsável pela análise do
ambiente, tendo como meta principal oferecer informações confiáveis para apoiar
o processo decisório.
4 Análise de citações e desenvolvimento de coleções
Algumas metodologias tentam identificar a relevância das coleções existentes
estudando a circulação e o uso dos materiais disponíveis na biblioteca, e,
entre elas, destaca-se a análise de citações que se aplica perfeitamente às
coleções de bibliotecas universitárias ou especializadas.
Destaca-se aqui o método estruturalista defendido por Baughman (1977; 1976),
que permite um monitoramento do uso da coleção e dos ambientes para
operacionalizar o desenvolvimento de coleções por meio de estudos empíricos. O
método consiste em mapear o relacionamento entre: (I) o uso; (II) o conjunto de
demandas em potencial; e (III) a Biblioteconomia. Segundo o autor, o
desenvolvimento de coleções se encontra na interseção entre: (a) o
planejamento, ou na intenção de adquirir os materiais informacionais de acordo
com as metas, objetivos e prioridades da biblioteca e seus usuários; (b) a
implementação, ou o ato de disponibilizar os materiais adquiridos; e (c) a
avaliação, do alcance, ou não, das metas, objetivos e prioridades
estabelecidas.
Baughman (1977; 1976) utilizou a bibliometria para elaborar sua investigação
sobre a literatura de Sociologia para analisar a idade dos materiais, o idioma
mais utilizado, os possíveis assuntos relacionados e os núcleos de
publicadores. Na abordagem estruturalista, o monitoramento do uso e das
demandas permite ao bibliotecário tomar decisões quanto ao desenvolvimento de
coleções, pois associa o uso efetivo à demanda potencial.
Regressando à realidade brasileira, encontra-se a proposta metodológica de
Oliveira (2004) para um sistema interativo de sugestões de aquisição de livros
utilizando a análise de citações, baseada nos indicativos de demandas dos
próprios usuários, em seus trabalhos científicos. A proposta mostra-se
excelente, entretanto, pretende-se que a utilização de um estudo analítico das
citações utilizadas nas teses tenha uma aplicação mais abrangente, não se
restringindo a uma lista de sugestões de livros para aquisição.
Diversos autores detêm-se nas utilidades e limitações da análise de citações
como apoio à tomada de decisão, no desenvolvimento de coleções. Segundo Broadus
(1977), em uma situação ideal, o desenvolvimento de coleções deve ser executado
por um bibliotecário que seja também especialista no assunto, porém, na
ausência desse profissional, a análise de citações pode fornecer uma orientação
útil para o bibliotecário não especializado.
A utilização da frequência de citações pode determinar a seleção da coleção-
núcleo dos periódicos, mas pode ser considerada insuficiente para determinar
todas as seleções (GARFIELD, 1977). Contudo, listas de periódicos oriundas dos
estudos de citações não devem representar o fator preponderante no momento da
compra, mas podem ser úteis para identificar os periódicos que devem ter
avaliação mais acurada pelos bibliotecários familiarizados com as demandas de
seus usuários (LINE, 1978).
Smith (1981) esclarece que a citação não é responsável pela qualidade ou
importância dos materiais citados, e Spinak (1998, p. 144, tradução nossa)
concorda quando afirma que "[...] os números refletem a quantidade ou atividade
e de certa maneira a produtividade, mas não a qualidade e conteúdo das
publicações".
Também se pode considerar que a validade de examinar as citações como medida de
qualidade requer sua classificação em pelo menos três grupos: essenciais,
suplementares e negativas (MEADOWS, 1999). Inclusive, porque, ao fazer uma
citação, o autor pode ter outras motivações que não a simples fundamentação
fática e/ou teórica de uma afirmativa, tais como: citação-recompensa, citação
política, citação-álibi, citação-persuasão e a auto citação (LE COADIC, 2004).
Lancaster (2004) declara método de validade duvidosa avaliar o acervo de uma
biblioteca universitária com base nas referências contidas em suas teses. Seu
argumento baseia-se em um comportamento denominado "princípio do menor
esforço", ou seja, quanto mais acessível for uma fonte de informação, maior a
probabilidade de ela ser citada. As pesquisas em que Lancaster se baseia para
esta declaração são da década de 60 e 70, do século passado, e a edição em
língua inglesa de seu livro tem copyright de 1993. Sendo assim, acredita-se que
no século XXI o acesso facilitado à informação pela Internet nos meios
acadêmicos tenha superado este princípio.
Muito embora apresente limitações, o estudo analítico das citações revela-se
uma interessante ferramenta de apoio às decisões administrativas, pois permite:
(a) analisar atividades de pesquisa realizadas na instituição (SMITH, 1981);
(b) distribuir os recursos financeiros disponíveis para investimento entre a
coleção de periódicos e a de monografias (DEVIN; KELLOG, 1990); (c) decidir
sobre a gerência da coleção (GREENE, 1993); (d) avaliar o uso de uma coleção de
periódicos (SYLVIA, 1998); (e) escolher o tipo de material, por exemplo,
literatura cinzenta, que deve fazer parte da coleção da biblioteca (URBANO
SALIDO, 2000); (f) armazenar a coleção em depósitos por sua antiguidade
(ACKERSON, 2001); (g) selecionar os idiomas das obras que farão parte do acervo
(KNIEVEL; KELLSEY, 2005); e (h) estudar os usuários como um método indireto de
análise (URBANO SALIDO, 2001).
Percebe-se que as utilidades arroladas anteriormente encontram-se dispersas na
literatura, resultado de diferentes estudos, em diferentes épocas. Destaca-se
aqui a intenção desta pesquisa de reuni-las em uma única investigação.
4.1 Análise de citação como método de estudo do usuário
De acordo com Weitzel (2006, p. 21), "os estudos da comunidade são instrumentos
importantes para a administração de bibliotecas de um modo geral e para o
processo de desenvolvimento de coleções em particular". Estudos da comunidade
ou estudo de usuários podem ser classificados como orientados ao uso,
orientados ao usuário, básicos e/ou aplicados. Neste âmbito, a análise de
citações de teses é considerada um estudo básico orientado ao uso, pois visa a
obter conhecimento sobre o padrão de comunicação do usuário interno da
biblioteca (DIAS, PIRES, 2004).
Na literatura, são encontrados alguns autores que consideram possível estudar a
comunidade usuária pela análise das citações oriundas das teses e dissertações,
pois esta análise pode servir como método indireto de estudo do usuário, dado
que este tipo de investigação permite desenvolver estruturas teóricas a
respeito da expectativa do uso dos materiais futuros, baseados nos critérios
comuns dos materiais já utilizados (KOVACS, 1990; SMITH, 1981; TARAPANOFF;
MIRANDA; ARAÚJO JÚNIOR, 2004; TUÑÓN BRYDGES, 2005; URBANO SALIDO, 2001).
Acredita-se também que sejam particularmente atraentes, pois as respostas
obtidas a partir da análise das citações utilizadas na elaboração das teses
apresentam a vantagem de não serem contaminadas por opiniões dos usuários
participantes da investigação. Além disso, as informações podem ser descritas,
contadas e os dados podem ser coletados com relativa facilidade (TUÑÓN;
BRYDGES, 2005). Nesta circunstância, o bibliotecário instrumentaliza-se para o
planejamento do desenvolvimento de coleções em bibliotecas universitárias,
funcionando como um mecanismo que permite adequar a coleção às demandas
informacionais de seus usuários.
5 Procedimentos de coleta dos dados
O primeiro passo para obter os dados empíricos da pesquisa foi a consulta ao
banco de dados, que mantém os dados catalográficos de todas as teses defendidas
na UFRGS, o SABi. Para pertencer ao universo da investigação a tese cujas
citações serão investigadas deve ter sido defendida no PPGA/ EA/UFRGS de 1999,
ano da primeira defesa, até 2007; e ter sido orientada por professores
pertencentes ao Departamento de Ciências Administrativas (DCA). Foram
recuperadas 85 teses que obedeciam aos critérios estabelecidos para esta
pesquisa.
Ao tabular os resultados da busca no SABi, percebeu-se que a definição da
amostra seria complexa, pois a distribuição das 85 teses se apresentava de
forma irregular quanto ao ano de defesa e à área de concentração, como pode ser
visualizado na TAB._1. Atualmente, o PPGA encontra-se estruturado em seis áreas
de concentração, a saber: Contabilidade e Finanças (CF); Gestão da Tecnologia e
da Produção (GTP); Marketing (MKT); Organizações (ORG); Recursos Humanos (RH);
e Sistemas de Informação e de Apoio à Decisão (SIAD).
A distribuição temporal dos dados revela grande variabilidade tanto por área de
concentração, quanto no total. Por área de concentração, GTP lidera o total de
teses defendidas, enquanto MKT apresenta maior regularidade com pelo menos uma
tese defendida por ano. CF apresenta a menor frequência de tese por área,
concentrando suas defesas nos anos de 2005 e 2006.
Entretanto, no total se percebe substancial evolução nas teses defendidas em
relação a 1999, ainda que com alguma irregularidade para cima (2005 e 2006) e
para baixo (2002, 2003 e 2007). Tais padrões podem ser atribuídos à
complexidade do processo de elaboração de uma tese, no caso geral; e às
especificidades de cada linha de pesquisa, nos casos específicos.
Reunidas as informações sobre cada uma das 85 teses, tabulou-se 13.298 citações
utilizadas, cuja distribuição por área de concentração está sumariada na TAB.
2.
Considerando-se as observações de Vieira (2003) sobre parâmetro e estimativa
usados nas técnicas de definição de amostragem na estatística descritiva, assim
como o alerta de Oliveira e Grácio (2005) sobre os procedimentos estatísticos
para a determinação do tamanho de uma amostra casual simples, decidiu-se
utilizar um procedimento de recenseamento do objeto de estudo com a inclusão de
todas as citações das teses disponíveis na ocasião da coleta dos dados,
considerado material empírico adequado para a investigação.
6 Análise dos dados
Com a intenção de obter um panorama geral dos dados, iniciou-se o trabalho pela
apresentação da estatística descritiva das citações utilizadas nas teses. Na
TAB._3 é possível visualizar a média, a variância, o coeficiente de variação e
o máximo e o mínimo das citações por ano de defesa da tese.
A TAB._3 mostra que há variabilidade temporal também nas citações. Em média, as
citações variam de 138,78 em 2006, a 216,67 em 2003, com substancial dispersão
em cada ano, como mostra o desvio padrão, que varia de 40,50 em 2003, a 109,54
em 2007. O máximo e o mínimo de citações ajudam a completar o panorama da
dispersão das referências utilizadas. O máximo de referências varia de 211 em
2002, a 455 em 2004; e o mínimo varia de 32 em 2005, a 176 em 2003.
O coeficiente de variação permite a comparação entre variáveis com diferentes
unidades de medida e, neste caso, revela que os anos de 1999 e 2001 tiveram um
comportamento similar, pois o coeficiente de variação é muito próximo:
respectivamente, 0,29 e 0,30. A mesma avaliação serve para os anos de 2000 e
2006 que apresentam coeficientes de variação 0,43 e 0,42. Os anos de 2004 e
2007, que apresentam um coeficiente de variação alto, de 0,67 e 0,74,
respectivamente, evidenciam um uso do material informacional muito acima dos
outros anos.
Em suma, com exceção do ano de 2003, que apresenta um uso menos disperso dos
documentos, como indicam o coeficiente de variação (0,19) e o desvio padrão
(40,50), via de regra, não se encontrou um padrão de comportamento de uso do
material informacional nos autores das teses, dificultando o planejamento e a
alocação de recursos. Mas será que é possível identificar qual área do
conhecimento é responsável pelo uso deste material informacional acima da
média? A TAB._4 mostra a tabulação dos dados por área de concentração.
Verifica-se que duas áreas apresentam alto coeficiente de variação: RH com 0,55
e ORG com 0,48. De fato, a média de citações utilizadas na elaboração das teses
destas áreas está acima das outras, revelando que estas são as áreas com maior
demanda informacional. Observando-se os mesmos indicadores, percebe-se que GTP
e SIAD são as áreas em que os autores apresentam um uso mais parcimonioso dos
itens informacionais, visto que apresentam baixo coeficiente de variação.
Vale observar que, sem considerar o coeficiente de variação, fica-se com a
percepção distorcida de que a área de CF tem indicadores mais parcimoniosos que
GTP, o que não ocorre, porquanto CF apresenta a menor média, o menor desvio
padrão e a menor máxima das áreas estudadas, mas seu coeficiente de variação é
alto: 0,43.
Criam-se, dessa forma, categorias de uso dos itens informacionais. Ou seja, nos
estudos que utilizam análise de citações de teses como apoio à tomada de
decisão em desenvolvimento de coleções e que envolvam diferentes áreas e
subáreas do conhecimento; pode-se classificar o coeficiente de variação
resultante da estatística descritiva de cada área ou subárea numa ordem
decrescente, dividindo-os em pelo menos três categorias de uso, a saber: (a) o
coeficiente de variação com valor mais alto representa a categoria uso intenso
dos itens informacionais; (b) o coeficiente de variação que apresenta seu valor
entre o mais alto e o mais baixo, representa a categoria uso intermediário dos
itens informacionais; e (c) o coeficiente de variação com valor mais baixo
representa a categoria uso parcimonioso dos itens informacionais.
O grau de dificuldade do processo de desenvolvimento de coleções de determinada
área ou subárea será proporcional à categoria de uso a qual ela pertence. O
QUAD._1 mostra as áreas de concentração do PPGA/EA/UFRGS e suas respectivas
categorias de uso dos itens informacionais, de acordo com a tabulação dos dados
da pesquisa.
Dado este panorama geral, passou-se para a análise das citações pela tipologia
dos materiais, seguida da análise acerca da idade da literatura dos documentos,
dos títulos dos periódicos citados e das preferências dos idiomas dos materiais
consultados pelos autores das teses. Para classificar as referências foi
elaborada uma lista de possíveis tipologias, de acordo com as normas para
elaboração de referências da Associação Brasileira de Normas Técnicas (2002),
que norteiam a descrição das referências citadas nas teses estudadas.
6.1 Tipologia
Encontrou-se 29 tipologias entre as 13.298 citações empregadas nas teses
pesquisadas. Para melhorar a análise, agruparam-se os materiais informacionais
semelhantes, independentemente de seu suporte físico. Entre os dados agrupados,
destacam-se três tipos de documentos mais utilizados na elaboração das teses:
livros, publicação periódica e anais de evento, que juntos representam 91,34%
da população estudada.
Este percentual pode sugerir que a distribuição dos recursos financeiros
disponíveis para investimento em inclusão, substituição ou prioridades na
coleção geral da biblioteca devam ser feitas na mesma proporção da ocorrência
das tipologias. Entretanto, tornou-se necessário verificar se o comportamento
da amostra se revelava idêntico em cada uma das áreas de concentração do PPGA.
Assim, tabulou-se de forma agregada a tipologia dos documentos em cada área de
concentração para confirmar, ou não, o comportamento verificado.
As áreas de GTP, ORG e RH reproduzem o comportamento da amostra estudada: uso
preferencial de livros seguidos de publicações periódicas na elaboração das
teses. Nas áreas de CF, MKT e SIAD há o inverso: uma preferência pelo uso da
publicação periódica seguida do livro.
Desta forma, deve-se ter cuidado ao distribuir os recursos financeiros
disponíveis para inclusão, substituição e prioridades na coleção, respeitando
estas peculiaridades. O uso de sites como material informacional na elaboração
das teses destacou-se em três áreas: GTP, MKT e SIAD. Verificou-se também se a
preferência pela tipologia do material apresentava-se como um comportamento ao
longo dos anos estudados. Constatou-se que no ano de 2005 foi maior o uso de
publicações periódicas (44,06%). Nos demais anos, foram utilizados
preferencialmente livros na elaboração das teses.
Entende-se que a análise dos dados da pesquisa por tipologia corrobora as
afirmações de Devin e Kellog (1990), possibilitando distribuir os recursos
financeiros disponíveis para investimento de forma eficaz. Considera-se também
que os dados tabulados permitem escolher o tipo de material que deve fazer
parte da coleção, como destacou Urbano Salido (2000).
6.2 Idade da literatura
Optou-se por utilizar o termo idade da literatura ao invés do termo
obsolescência comumente usado. Esta opção deve-se à concordância com
Tarapanoff, Miranda e Araújo Júnior (2004, p. 95) quando argumentam que não se
pode afirmar com exatidão que determinado documento se tornou obsoleto só por
ele ter caído em desuso, considerando, assim, que os conceitos que ele contém
não possuem mais validade. "Nesse sentido, a expressão mais adequada para
definir a perda de representatividade [do item informacional] é idade da
literatura".
Segundo Gapen e Milner (1981), a idade da literatura é um assunto de interesse
prático para bibliotecários que administram coleções crescentes em espaços
finitos, pois apesar da previsão acerca das alterações que os avanços
tecnológicos provocariam nos dispositivos de armazenamento e consequentemente
no depósito das informações nas bibliotecas, ela ocorreu somente para alguns
tipos de materiais informacionais, como periódicos científicos; e alguns tipos
de bibliotecas, como as universitárias.
Line (1993) afirma que pouca investigação foi levada a cabo em situações reais
de bibliotecas, e que a maioria dos estudos sobre idade da literatura aborda
citações de periódicos, provavelmente devido aos índices de citação que
facilitam este tipo de investigação. Todavia, de forma pouco usual, esta
pesquisa se propõe a avaliar a idade da literatura em uma situação real de
biblioteca.
A TAB._6 apresenta um panorama geral da idade da literatura das citações das
teses estudadas. Os materiais citados encontram-se concentrados na década de
1990, com 50,73%, e no período de 2000 até 2007, com 25% do total dos dados
tabulados. Excepcionalmente, uma das referências utilizadas reporta-se ao livro
A Riqueza das Nações, de Adam Smith, com data de 1776*. Como a referência
encontra-se na língua portuguesa, acredita-se ter ocorrido um equívoco na
descrição do material, entretanto não se entrou no mérito do conteúdo das
referências.
A análise dos dados tabulados permite sugerir que os materiais informacionais
com datas anteriores a 1989 sejam armazenados de forma organizada, em espaço
físico separado, constituindo um acervo fechado com acesso intermediado pelo
pessoal da biblioteca. Assim, libera-se mais espaço no salão principal para a
coleção com acesso livre, permitindo um crescimento confortável do acervo e
melhorando a circulação dos usuários no local.
De acordo com Genoni (2008), o problema de armazenamento e eliminação de
material informacional impresso em desuso vem sendo estudado nos Estados Unidos
da América, Reino Unido e Austrália. O resultado da pesquisa nas bibliotecas
acadêmicas australianas traz algumas indicações, como: (a) a grave escassez de
espaço físico para armazenamento das coleções impressas; (b) a incerteza quanto
ao planejamento sobre este assunto para o futuro; (c) muitas dúvidas quanto ao
modo de hierarquizar o material para armazenamento ou eliminação apresentando
ambivalência, por exemplo, em relação à necessidade de continuar a manter
cópias impressas de periódicos que estão disponíveis eletronicamente; e (d) a
busca da solução de armazenamento por meio da cooperação.
Analisando-se os dados desta pesquisa quanto à idade da literatura, pode-se
afiançar que o estudo analítico das citações realmente se revela uma ferramenta
útil no apoio de decisões administrativas sobre a gerência da coleção, tal como
afirmaram Greene (1983) e Ackerson (2001).
6.3 títulos de periódicos
O resultado da análise dos periódicos citados pelos autores das teses estudadas
pode determinar quais títulos devem formar a coleção-núcleo da BSEA, além de
fornecer importantes informações no momento de tomar a decisão quanto ao
investimento do orçamento da biblioteca.
De acordo com Sylvia (1998), é possível avaliar o uso de uma coleção de
periódicos pelo estudo analítico das citações, tarefa também empreendida por
Vallmitjana e Sabaté (2008) que nos apresentam uma matriz comparativa de
diversos trabalhos que utilizam a análise de citação de teses como ferramenta
para avaliar as demandas de informação dos pesquisadores.
Acrescentou-se à matriz de Vallmitjana e Sabaté (2008) os dados desta
investigação visando a indicar que ela se encontra dentro de um padrão
internacional, como pode ser visualizado no QUAD.2.
Destaca-se ali a pesquisa de Buchanan, desenvolvida nos USA, utilizando as
teses de Ciência Política publicadas de 1979 até 1989, por guardar similaridade
com este estudo quanto ao percentual de uso de artigos de periódicos na
elaboração das teses, 37% e 38%, respectivamente. Ambos os estudos também
revelam semelhança na proporção do uso de periódicos na sua relação com o
número total de citações utilizadas na elaboração das teses: 8,9% no caso
norte-americano e 8,5% no caso brasileiro.
Identificaram-se os títulos dos periódicos mais citados pelos autores das teses
estudadas. O banco de dados revelou um conjunto de 5.068 citações de periódicos
utilizadas na elaboração das 85 teses estudadas, que se encontram distribuídos
entre 1.131 títulos. A observação dos dados revela que a relação encontrada
entre o número de citações e o número de periódicos é de 4,48, e a média de
artigos citados por tese é de 59,62.
Uma vez identificados os títulos dos artigos citados na elaboração das teses
que fazem parte desta pesquisa, utiliza-se a Lei de Bradford (1985) para
determinar a coleção núcleo de periódicos, dividindo o resultado apurado em
três zonas:
a) a primeira zona apresenta 33,27% das citações, ou 1.686 citações
distribuídas em 17 títulos, ou 1,53% dos periódicos da especialidade. São pouco
numerosos e possuem artigos relevantes para a formação de um acervo sobre o
assunto. Aqui a relação entre o número de citações e o número de periódicos é
de 99,18;
b) na segunda zona encontram-se 33,64% das citações, ou 1.705 citações
distribuídas em 115 títulos, ou 10,20% dos periódicos que não são da
especialidade, mas possuem conteúdo que abarca o núcleo da literatura. Aqui a
relação entre o número de citações e o número de periódicos é de 14,82; e
c) a terceira zona apresenta 33,09% das citações, ou 1677 citações distribuídas
em 999 títulos, ou 88,27% dos periódicos que possuem relação remota com a
especialidade examinada. Aqui a relação entre o número de citações e o número
de periódicos é de 1,67.
Na perspectiva de um equilíbrio entre as diferentes áreas de concentração do
PPGA, passou-se a analisar os periódicos por área, colocando-se uma lupa sobre
os títulos apurados na primeira zona do panorama geral, reunindo-os com os
títulos das primeiras zonas apurados nas seis áreas de concentração, formando
uma única lista com 72 títulos de periódicos. Procedeu-se, então, à eliminação
dos títulos que se encontravam repetidos, restando, assim, 40 títulos que
constituem a coleção núcleo, de acordo com os autores das teses estudadas.
Dessa forma, é fortemente recomendada a aquisição dos 40 títulos pertencentes à
coleção-núcleo apurada neste estudo, após consulta ao Portal à época da
aquisição para verificar sua disponibilidade e os períodos de embargo na
ocasião. No presente, uma decisão quanto ao investimento do orçamento da
biblioteca em publicações periódicas passa por uma análise da disponibilidade
dos mesmos no Portal de Periódicos Capes, principal fonte de informação técnica
e científica das Instituições de Ensino Superior no Brasil.
6.4 Preferência dos idiomas
Distinguindo-se a preferência dos idiomas apresentada nos documentos utilizados
na elaboração das teses estudadas, pode-se inferir quais deles devem ocorrer
nos materiais bibliográficos selecionados em futuras aquisições por compra,
doação ou permuta.
A tabulação dos dados da amostra estudada, visualizados na TAB._7, demonstrou
uma preferência pela língua inglesa representando 54,75%, seguida pela
portuguesa com 40,26% e a ocorrência 4,99% de outros idiomas. Este resultado
confirma o que foi determinado na Política de Seleção da Biblioteca Setorial da
EA, editada em 2006, que dá preferência ao idioma português seguido do inglês.
A verificação dos idiomas preferenciais utilizados pelos autores das teses ao
elaborá-las levou a outra questão: Em que tipo de material informacional ocorre
determinado idioma? A TAB._8 apresenta os dados que respondem a esta indagação.
Nossa análise concentra-se nos três tipos de materiais mais utilizados. Os
anais de evento (60,68%) e os livros (53,04) apresentam maior frequência em
língua portuguesa. Entretanto, a ocorrência de 40,12% de livros em língua
inglesa deve ser considerada no momento de seleção de novos materiais que farão
parte da coleção. Já dentre as publicações periódicas há um grande destaque da
língua inglesa com 83,5% das ocorrências.
7 Conclusão
Apresentou-se um estudo fundamentado em autores cuja produção científica vem
contribuindo, significativamente, para que se analise o papel dos estudos
métricos na produção e avaliação científica.
Julga-se que os resultados apresentados tenham atingido os objetivos desta
investigação com êxito, além de produzir uma reflexão teórica sobre as questões
relacionadas ao significado da ligação entre a produção científica registrada e
o processo de tomada de decisões na formação das coleções de bibliotecas
universitárias.
Além disso, indiretamente, realizou-se uma reflexão sobre o difícil processo de
avaliação dos programas de pós-graduação, considerando que cada área do
conhecimento, e neste caso, uma única disciplina, tem domínios e
especificidades que se precisa reconhecer e caracterizar.
Muitas bibliotecas acadêmicas começaram a observar as citações apresentadas nas
teses produzidas por seus alunos como evidência das habilidades desenvolvidas
por eles para pesquisar. Elas também servem como um indicador parcial da
qualidade das obras utilizadas por eles na elaboração de suas monografias.
Estudá-las, tem ajudado as bibliotecas universitárias a conduzir o
desenvolvimento de suas coleções.
Por fim, encontraram-se as respostas para os dois problemas de pesquisa:
a) sim, os usuários, alunos de doutorado em Administração estudados comportam-
se de maneira diferenciada no uso da informação, sendo possível, inclusive,
categorizá-los (intenso, intermediário e parcimonioso); e
b) sim, as referências citadas nas teses são indicadores representativos que
servem de base para a elaboração de uma política de desenvolvimento de
coleções, repercutindo, inclusive, na sua atualização.