Documentos convencionais e não convencionais em administração, ciências
contábeis e economia: estudo sobre sua utilização pelos alunos de graduação
1 Introdução
Os documentos tradicionalmente utilizados e recomendados para o desenvolvimento
de pesquisas e trabalhos científicos são constituídos de textos que, antes de
sua publicação, devem ter sido submetidos a uma avaliação prévia sob a forma de
peer-review. Esses sistemas geralmente consistem na utilização de dois ou mais
pareceristas especializados que avaliam aspectos diversos do texto (tais como
bibliografia utilizada, metodologia adotada e interpretação dos resultados
obtidos). Essas formas de avaliação, usualmente utilizadas pelas revistas
científicas, têm como objetivo garantir a qualidade dos textos publicados,
constituindo importante subsídio aos autores e editores, em face das
recomendações e sugestões efetuadas.
Esse cuidado maior na avaliação e seleção de textos submetidos à publicação faz
com que os docentes recomendem aos seus alunos o uso de artigos publicados em
revistas científicas, como subsídio à realização de trabalhos acadêmicos ou
como reforço de conteúdos apresentados em sala de aula. Apesar dessa
recomendação, verifica-se o crescimento do uso de documentos considerados não
convencionais (também denominados de literatura cinzenta no âmbito das Ciências
da Informação), como relatórios de pesquisa, relatórios técnicos, documentos
governamentais, textos disponíveis na Internet, entre outros.
Há que se ressaltar que essas fontes alternativas geralmente não sofrem o mesmo
fluxo no processo de análise e rigorosa avaliação preliminar dos pares, como
ocorre com os artigos publicados nas revistas científicas, o que pode
comprometer a qualidade dos conceitos e informações apresentados. Por outro
lado, é importante considerar que esse tipo de documento pode constituir-se,
por vezes, na única fonte primária disponível sobre determinados assuntos ou
temas emergentes, ampliando a importância do seu estudo nas Ciências Sociais
Aplicadas.
Com o uso cada vez mais intenso da Internet, crescem as facilidades de
publicação e utilização de textos diversos, contribuindo para uma rápida
difusão de conceitos, idéias e proposições, que resultam de pesquisas e
indicadores setoriais, embora se deva considerar a ausência de um controle de
qualidade eficaz, pelo menos para uma parte dos textos disponíveis. Essa
facilidade tem levado os alunos de graduação ao uso mais intensivo de textos
publicados fora dos canais usuais de difusão científica, conforme observado por
Parreiras et al. (2006) e Côrtes (2006).
Como a publicação de artigos científicos geralmente demanda um tempo maior do
que aquele empregado na elaboração de relatórios técnicos ou no preparo de
matérias de cunho jornalístico, assuntos emergentes acabam sendo divulgados com
antecedência pelos canais não acadêmicos, tais como jornais, revistas de
divulgação e sites de conteúdo diverso. Desta forma, podem constituir, conforme
a conveniência e necessidade do professor, material didático suplementar para
uso em sala de aula ou subsídio ao estudo de temas mais específicos. Soma-se a
isso o fato já mencionado de que, por vezes, esses textos não convencionais ao
ambiente acadêmico são a única fonte primária de informação disponível sobre
determinados temas, ampliando a importância da discussão sobre seu uso no
âmbito das Ciências Sociais Aplicadas.
Essas formas de comunicação não apenas tornam mais rápido o acesso aos
resultados de pesquisas, relatórios, estudos e análises, como também criam
situações antes não verificadas em meios mais convencionais. Justifica-se essa
pesquisa em razão do uso crescente de textos e informações disponibilizados
fora dos canais convencionais de comunicação científica. Acredita-se que seja
importante para docentes e pesquisadores estabelecer melhor entendimento do
tema, possibilitando uma orientação aos alunos quanto ao uso da literatura
cinzenta e prospectando usos didáticos para essas fontes de informação.
Considerando essa perspectiva, foi desenvolvida uma pesquisa com o objetivo de
trazer à discussão alguns aspectos relacionados ao uso de fontes não
convencionais pelos alunos dos cursos mencionados, fornecendo elementos que
possibilitem maior entendimento e compreensão deste tema. Para atender a esse
objetivo, foi desenvolvida uma pesquisa do tipo survey, com uma população
composta por alunos do último ano de graduação dos cursos de Administração de
Empresas, Ciências Contábeis e Economia, do período noturno, de uma única
instituição de ensino superior, de caráter privado, localizada na cidade de São
Paulo.
Mais especificamente, partindo do pressuposto de que os alunos de graduação são
usuários mais freqüentes de fontes de informações não convencionais (literatura
cinzenta e material jornalístico ou de divulgação) do que de trabalhos
científicos, o problema que se apresenta é: "quais documentos não convencionais
são mais utilizados pelos alunos de graduação em Administração, Ciências
Contábeis e Economia e como eles são avaliados por esse grupo?".
2 Revisão da literatura
Para subsidiar o desenvolvimento desta pesquisa, o levantamento bibliográfico
foi efetuado em duas vertentes. Inicialmente, buscou-se caracterizar as
diferenças entre a literatura branca e cinzenta (dentro da área das Ciências da
Informação), incluindo algumas considerações sobre a evolução desses termos.
Posteriormente, foram pesquisados atributos que pudessem ser utilizados para
melhor qualificar as fontes de informação (jornais, revistas e sites, por
exemplo) e os seus produtos (fundamentalmente, textos e informações
disponibilizados).
A revisão da literatura auxiliou tanto o desenvolvimento do survey, fornecendo
elementos para a elaboração do instrumento de pesquisa e seleção das
publicações analisadas, quanto a interpretação dos resultados obtidos.
2.1 A literatura branca e cinzenta
Ao longo da vida acadêmica, os alunos de graduação são instruídos quanto ao
uso, em seus trabalhos e pesquisas, de referências obtidas em revistas
científicas, exatamente por serem publicações cujos critérios de aceitação
garantem uma qualidade adequada em relação à metodologia utilizada e aos
conceitos emitidos. No contexto das Ciências da Informação, essas fontes são
habitualmente chamadas de literatura branca (PARREIRAS et al., 2006; CÔRTES,
2006; CORREIA, 2001; CORREIA; BORBINHA, 2001). Este é um movimento que teria o
seu início remotamente ligado à Revolução Industrial, intensificando-se até a
Segunda Guerra Mundial, sendo essa classe de documentos denominada "literatura
de informes" (CARVALHO, 2001). Com a Segunda Guerra, o grande esforço
empreendido pelos Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha levou a um aumento
considerável na quantidade de pesquisas em diversas áreas do conhecimento. A
urgência da guerra demandava rapidez na publicação dos resultados entre
cientistas e centros de pesquisa. Essa tendência se manteve no pós-guerra,
especialmente em pesquisas relacionadas ao uso da energia nuclear e avanços
tecnológicos.
Na década de 1970, o tipo de material constituído por relatórios, resumos,
pareceres, anotações e artigos, publicados na forma de preprints e
disponibilizados fora dos canais formais de difusão científica, passou a ser
denominado, com maior freqüência, de literatura cinzenta. A expressão,
originalmente cunhada no final do século XIX, está associada ao costume europeu
de dar nomes de cores a diferentes tipos de documentos (CARVALHO, 2001). Esse
amplo conjunto é estudado pelas Ciências da Informação, verificando-se um
crescimento das pesquisas sobre este tema nos últimos anos (FUNARO; NORONHA,
2006; WEBSTER, 2004; PACE, 2002).
Para melhor entendimento do termo "literatura cinzenta", é interessante
verificar algumas definições adicionais. Perez Álvares-Ossorio (1988), adotando
uma definição mais ampla, considera como literatura cinzenta o conjunto de
documentos dos mais variados tipos que não são publicados em canais habituais
de transmissão científica. Por sua vez, Correia e Borbinha (2001) consideram
que a literatura cinzenta abrange uma gama de textos técnicos ou científicos,
tais como relatórios de pesquisa, relatórios técnicos, teses, dissertações,
documentos governamentais, entre outros tipos.
É interessante notar que a definição de literatura cinzenta sofre variações com
o passar do tempo. Segundo Artus (1994), a literatura cinzenta seria
disponibilizada - ao menos em uma etapa inicial - a um público científico
restrito ou a grupos fechados. Entretanto, com o uso cada vez mais intenso da
Internet e com as facilidades de comunicação por ela propiciadas, essa
característica tende a ser cada vez menos importante. Sobre isso, Cendón (2002,
p.31) apresenta algumas considerações acerca das facilidades propiciadas pelas
redes de comunicação: "As novas tecnologias não só permitem maior facilidade de
se obterem dados atualizados, como também oferecem ao usuário maior
flexibilidade na busca e na manipulação dos dados".
Algumas definições levam em conta aspectos comerciais. Comberousse (1995)
define a literatura cinzenta como sendo o conjunto de documentos (relatórios,
teses e anais de congressos, por exemplo) que escapam aos circuitos comerciais,
representando uma fonte de informações inéditas e com forte valor agregado. De
maneira similar, Siegel (2004) comenta que literatura cinzenta é o material que
não está disponível em canais de venda, em uma alusão aos livros ou revistas
científicas usualmente acessíveis mediante assinatura individual ou de sistemas
acadêmicos de busca.
Segundo Correia e Neto (2001), a literatura cinzenta inclui informações tais
como relatórios, atas de reuniões técnico-científicas, teses e dissertações,
traduções não comercializáveis e documentos oficiais não publicados
comercialmente, normas e especificações técnicas, entre outras, disponíveis na
forma impressa ou eletrônica.
Carvalho (2001) considera que as divergências de opiniões sobre os documentos
que podem ser enquadrados nesse tipo de produção não são tão significativas,
avaliando que as definições não diferem muito em sua essência. Desta forma, a
literatura cinzenta pode ser entendida como um conjunto de documentos técnicos
ou científicos, dos mais variados tipos, tais como relatórios, manuais,
apostilas, resumos, sites diversos, entre outros, disponíveis nas mais variadas
formas (sejam elas eletrônicas ou impressas), publicados fora dos canais
habituais de transmissão científica, e que não são submetidos à análise prévia
sob a forma de peer-review ou por uma comissão editorial.
Embora sejam constatadas algumas variações entre pesquisadores, entende-se como
literatura cinzenta todo texto técnico ou científico não submetido à apreciação
ou avaliação sob a forma de peer-review, que garanta a qualidade da metodologia
utilizada e dos conceitos emitidos. Adicionalmente, há pesquisadores que
incluem a escolha pelos editores ou conselho editorial como um diferencial que
permite a separação entre literatura cinzenta ou branca, na medida em que essa
seleção garante maior qualidade do texto publicado (CÔRTES, 2004; CORREIA,
2001).
Com a utilização crescente dos meios eletrônicos de armazenamento e difusão,
assim como das redes de comunicação, a literatura cinzenta teve o seu uso
ampliado. Atualmente, parece correto considerar que uma parte das informações
recebidas na academia é obtida a partir de textos incluídos nesse grupo, sendo
divulgadas ou disponibilizadas por meio de canais informais diversos. Mesmo com
o predomínio dessa característica e, em que pese a ausência de um controle de
qualidade usualmente aceito na academia, a literatura cinzenta reveste-se de
grande importância, especialmente pela rápida difusão de informações e
conhecimentos, e pela sua especial importância como fonte primária.
Conforme mencionado, esse tipo de literatura constitui, não raramente, a única
fonte primária disponível sobre determinados assuntos ou temas emergentes.
Relatórios produzidos por órgãos governamentais ou entidades do terceiro setor,
por exemplo, ao apresentarem levantamentos sobre contextos ou condições sociais
e econômicas de regiões ou setores específicos, são potencialmente úteis ao
incremento de pesquisas acadêmicas, favorecendo o desenvolvimento de outros
estudos e análises. Nesse escopo, Correia e Borbinha (2001) e Almeida (2000)
consideram que ela é de grande valor para os pesquisadores porque provê
informação que não apareceria em outras fontes, sendo habitualmente mais
sucinta e focada, como acontece com os relatórios técnicos.
Sua análise mostra-se importante também no estudo de temas inovadores ou
interdisciplinares, conforme manifestado por Correia e Neto (2001):
embora tais relatórios muitas vezes se destinem apenas a informar a
entidade patrocinadora acerca do trabalho realizado, são importantes
fontes de informação primária que freqüentemente não chega a ser
publicada de outra forma, porque, em virtude do caráter
interdisciplinar do trabalho, não existem publicações periódicas às
quais esses conteúdos possam ser submetidos para publicação, caso os
seus autores pretendam divulgar os resultados obtidos (CORREIA; NETO,
2001, p. 4).
Desta forma, apenas os resultados da pesquisa e suas conclusões mais afeitas a
uma área específica do conhecimento são divulgados em eventos ou revistas
científicas, ficando perdida a informação multidisciplinar eventualmente obtida
durante o desenvolvimento da pesquisa.
Ao contrário do que ocorre com a chamada literatura branca, em que os critérios
de seleção, análise e publicação garantem uma qualidade mínima, a literatura
cinzenta apresentaria diferentes gradações, sendo possível encontrar documentos
com elevado grau de confiabilidade e importância (por exemplo, resultados de
pesquisas de órgãos como IBGE e Receita Federal) e outros que suscitariam
dúvidas sobre sua relevância ou consistência (como notas preliminares e
pessoais sobre um determinado tema).
Um exemplo dessa situação pode ser verificado no dia-a-dia acadêmico. Embora
autores como Correia e Neto (2001) e Comberousse (1995), por exemplo,
considerem como literatura cinzenta as dissertações ou teses desenvolvidas em
programas regulares de mestrado ou doutorado, parece correto considerar que
elas têm um peso acadêmico muito maior do que apostilas, sendo usualmente
tomadas como referências válidas.
Tendo em perspectiva essas diferenças e pesos entre documentos considerados
como literatura cinzenta, Di Cesare e Sala (1995) desenvolveram uma proposta de
gradação, considerando como cinza-claro, portanto de maior valor, notas e atas
de reuniões e encontros, passando pelos relatórios e teses (enquadrados como
cinza-médio) e chegando ao cinza-escuro, de menor valor, e que são
exemplificados pelas comunicações privadas e materiais não publicados.
Há que se considerar, adicionalmente, a mudança de classificação sofrida por
alguns textos, que passam da literatura cinzenta para a branca à medida que são
submetidos e aceitos pelos canais convencionais de divulgação científica. Para
exemplificar essa situação, têm-se os casos em que um relatório de pesquisa
resulta em um artigo publicado por uma revista científica ou quando uma
dissertação ou tese passa pelo mesmo processo.
2.2 Fontes de informação: algumas características e atributos
À classificação de fontes de informação como literatura branca ou cinzenta (e
os tons intermediários), podem ser associados outros parâmetros que compõem uma
matriz multidimensional, abrangendo diferentes aspectos. Para que essa análise
seja mais abrangente, é necessário verificar não apenas a informação
disponibilizada, mas também o sistema que gera ou distribui essa informação.
Sendo assim, entende-se que não basta somente analisar a qualidade dos textos
publicados por uma revista científica, mas considerar outros aspectos de igual
relevância. Para isso, foram considerados quesitos tais como nível de
utilização, facilidade de acesso, qualidade, atualidade e veracidade, os quais
são detalhados e justificados no decorrer deste tópico. A aplicação desses
quesitos também foi efetuada em outras fontes de informação estudadas, como
sites e bases eletrônicas.
Dentro da perspectiva em que diferentes quesitos são considerados, Arouck
(2001), por exemplo, identificou três níveis para a avaliação de sistemas
informacionais: a qualidade do sistema (nível técnico); a qualidade da
informação (nível semântico); e o uso do sistema (nível de eficácia), que
envolve a satisfação do usuário, o impacto individual, impacto no grupo de
trabalho ou na organização. Freitas e Kladis (1995) partem da análise dos
atributos das informações para, em um segundo momento, avaliar a eficiência dos
sistemas. Segundo os autores,...
... as informações fornecidas por um sistema de informação devem
atender a alguns atributos para que possam ser significativas no
momento da tomada de decisão. Quando esses atributos não são
observados, a própria eficiência do sistema começa a ser questionada.
(FREITAS; KLADIS, 1995, p. 79).
Eles destacam atributos da informação, como, por exemplo: finalidade, modo e
formato, redundância e eficiência, velocidade, freqüência, custo, valor,
confiabilidade e precisão, exatidão, validade e atualidade. Esta foi a
perspectiva adotada por Côrtes (2008), que também faz ponderações sobre
atributos da informação, buscando melhor qualificar seu uso sob diferentes
aspectos.
Moresi (2000), por sua vez, apresenta a classificação da informação segundo a
sua finalidade quanto à expectativa dos clientes (usuários da informação);
proposição adotada por Ribeiro (2005), que ressalta a tendência na avaliação de
sistemas informacionais de acordo com a necessidade dos usuários. Dacol,
Stollenwerk e Dou (1999) fazem uma retrospectiva do assunto, abordando a
análise com ênfase no conteúdo e a avaliação da informação centrada no usuário.
Discorrem também sobre abordagens mistas, utilizando novos modelos e novos
critérios: a) Modelo de Marchand (com oito dimensões inter-relacionadas); b)
Modelo de Olaisen (com quatro categorias de qualidade e valor); c) Modelo de
Figueiredo (estudos de usos e usuários da informação); d) Modelo de Lang
(estudo de fontes de referência em bibliotecas); e) Modelo de Perel e Young
(estudo de fontes para Inteligência Competitiva).
Outros trabalhos mostram aspectos diversos sobre a avaliação de sistemas ou
fontes de informação e seus produtos. Zambon et al. (2006), por exemplo,
discorrem sobre a fidedignidade de modelos de sistemas, enquanto Xifra-Heras
(1975) tece considerações sobre a informação cotidiana. Dias (2002) apresenta
um modelo para avaliação de sistemas de informação, enquanto Tarapanoff, Araújo
Júnior e Cormier (2000) falam sobre o valor da informação e sua validade em
processos decisórios. Nehmy e Paim (1998) discorrem sobre a questão da
qualidade da informação.
Considerando os quesitos utilizados na pesquisa para a qualificação das
publicações analisadas, o primeiro deles (nível de utilização) revela a
efetividade dos estímulos recebidos pelos usuários, sendo um reflexo da
qualidade do sistema que provê as informações (DIAS, 2002). Arouck (2001)
pondera que este é um dos quesitos usualmente utilizados para qualificar os
sistemas informacionais. Adicionalmente, Côrtes (2008) observa que, sendo um
atributo que indica a quantidade de vezes que uma informação é empregada, o
nível de utilização possibilita prospectar as necessidades dos usuários em
relação a um determinado tipo ou serviço de informação.
Em relação aos jornais, periódicos não científicos e sites comerciais, uma
característica que tem especial relevância é a facilidade de acesso, sendo um
predicado que repercute na competitividade da publicação. Para Tarapanoff,
Araújo Júnior e Cormier (2000), a postura competitiva associa-se à proatividade
em atender às demandas dos usuários, estando intimamente relacionada à
antecipação de tendências, à melhor oferta de produtos e serviços e também à
facilidade de acesso.
A qualidade constitui um constructo elaborado pela combinação de impressões
diversas, sendo o mais abrangente dos quesitos adotados. Dias (2002) observa
que o "princípio da qualidade" está associado aos fatores que determinam o grau
de satisfação do usuário final, o que reforça a idéia de um amplo constructo.
Sobre isso, Paim, Nehmy e Guimarães (1996) consideram que, embora ela possa ser
entendida como uma matriz multidimensional, não há consenso na literatura sobre
definições teóricas e operacionais da qualidade da informação. Apesar disso,
segundo esses autores, há uma tendência em estudar a qualidade sob três
vertentes: valor transcendente, aspectos intrínsecos e atributos
contingenciais. Arouck (2001), a partir de uma ampla revisão bibliográfica,
reforça o uso de uma matriz multidimensional para a análise da qualidade da
informação.
Segundo Xifra-Heras (1975), um grande número de critérios pode ser adotado para
estabelecer uma tipologia do fenômeno informativo. Segundo ele, a informação
não se define pelo seu objetivo, mas pelo seu fim, possibilitando uma série de
classificações. Uma delas é a informação cotidiana, que se divulga mediante os
meios de comunicação de massa (como a imprensa). Embora Xifra-Heras (1975)
reconheça a falta de precisão dessa denominação, ela tem a vantagem de que o
adjetivo cotidiano pressupõe duas características essenciais desse tipo de
informação: a atualidade e a periodicidade. Prosseguindo, Xifra-Heras (1975)
considera que a atualidade é essencial para a informação cotidiana (aquela
divulgada pelos meios de comunicação). Segundo o autor, a atualidade verifica-
se não apenas em novos fatos (relacionados ao momento atual). Ela pode
verificar-se em fatos passados divulgados pela primeira vez ou que se
apresentam atuais em razão de novos acontecimentos. A mesma opinião é
manifestada por Côrtes (2008, p. 29): "mesmo uma informação gerada há algum
tempo pode ser atual à medida que fornece subsídios ao entendimento de certos
contextos ou situações (ou seja, ela é condizente com o momento presente)".
Quanto à veracidade, ela representa a capacidade de a publicação ser verdadeira
ou representar a verdade. Entretanto, este é um atributo nem sempre lembrado
pelos autores. Em pesquisa realizada por Arouck (2001), prospectando artigos
referentes à qualidade da informação, a veracidade é mencionada em apenas dois
trabalhos de um total de quatorze analisados. Apesar da aparente pequena
relevância dada a esse atributo, ele foi utilizado na pesquisa como uma forma
de identificar, nos entrevistados, o grau de credibilidade das publicações
analisadas.
3 Considerações sobre a metodologia utilizada
Em busca de melhor compreensão dos aspectos relacionados ao uso de fontes de
documentos não convencionais pelos alunos de graduação em Administração,
Ciências Contábeis e Economia, a pesquisa foi dividida em três fases: a)
revisão da literatura; b) coleta e tratamento de dados e c) interpretação dos
resultados.
Devido ao caráter prospectivo desta pesquisa, no qual a quantificação das
diferentes características das publicações ou fontes de referência foi prevista
e a análise dos dados obtidos foi efetuada de acordo com um projeto previamente
estabelecido, o estudo decorrente assume um caráter exploratório. Como tal,
busca aumentar a compreensão de um fenômeno ainda pouco conhecido.
Consequentemente, algumas delimitações foram adotadas (garantindo maior rigor
metodológico) e outras são previamente conhecidas (sendo inerentes ao método
empregado), conforme detalhado a seguir nos tópicos referentes à coleta e
tratamento de dados, e à interpretação dos resultados.
3.1Coleta de dados
Para melhor explicar o trabalho de coleta de dados, este tópico foi subdivido
em três itens (População e Amostra, Fontes de Referência Selecionadas e
Instrumento de Pesquisa), conforme detalhado a seguir.
3.1.1 População e amostra
O levantamento foi efetuado com alunos do último ano de graduação dos cursos de
Administração, Ciências Contábeis e Economia, de uma instituição particular de
ensino superior localizada na cidade de São Paulo (constituindo a população
analisada), que opinaram sobre nove atributos que qualificam fontes de
referência previamente selecionadas e seus respectivos produtos (textos e
informações disponibilizadas).
Foram entrevistados 145 estudantes, compondo uma amostra que pode ser
considerada casual (BISQUEIRA ALZINA; CASTELLÁ SARRIERA; MARTÍNEZ, 2004) ou por
conveniência (APPOLINÁRIO, 2004), o que a caracteriza como não probabilística.
Estimativas e levantamentos da instituição de origem desses estudantes indicam
que o índice de ocupação dos alunos do último ano de graduação supera os 90% e
a grande maioria trabalha diretamente em atividades relacionadas aos seus
cursos ou exerce cargos administrativos em um senso mais amplo.
O survey foi subsidiado por pesquisa bibliográfica (COOPER; SCHINDLER, 2003) e
de campo (BABBIE, 2003; MALHOTRA et al., 2005), e a interpretação dos
resultados foi realizada com auxílio da estatística descritiva (DANCEY; REIDY,
2006; BISQUERRA ALZINA; CASTELLÁ SARRIERA; MARTÍNEZ, 2004; COSTA NETO, 2002;
CARVER; NASH, 2000; FONSECA; MARTINS, 1996; MORETTIN; BUSSAB, 1981). Buscando
subsídios para uma comparação dos resultados obtidos, especialmente no que se
refere à utilização da literatura cinzenta, foi investigado, adicionalmente, o
uso de literatura branca, conforme detalhado a seguir, em Fontes de referência
selecionadas.
3.1.2 Fontes de referência selecionadas
A vivência em sala de aula indica que os alunos buscam informações não apenas
nos livros indicados ou nos artigos científicos sugeridos como leitura
complementar pelos professores. É necessário considerar que os estudantes,
diante da facilidade e oferta de meios de comunicação, utilizam fontes
alternativas àquelas usualmente referenciadas pelos docentes. Para a população
analisada, essa busca por informações ocorre não apenas por razões acadêmicas,
mas também pela necessidade profissional de se manterem atualizados.
Sobre isso é interessante verificar a pesquisa de Ghisi, Famá e Pimenta Júnior
(2001) sobre estratégias didáticas para o ensino de economia e finanças. Os
autores destacam as fontes de informação que os estudantes pesquisados utilizam
para obter conhecimento: jornais (39,7%), sala de aula (12,7%), revistas
(11,11%) e Internet (9,5%). Cendón (2002) reforça o uso de bases de dados e
serviços de informação de natureza comercial pelos administradores no
acompanhamento da concorrência, identificação de ameaças, prospecção de
oportunidades e aumento da competitividade.
As fontes selecionadas para esta pesquisa foram publicações classificadas como
literatura cinzenta e fontes jornalísticas especializadas que atendem a pelo
menos três dos seguintes requisitos: notoriedade, facilidade de acesso,
qualidade, atualidade e veracidade. Adicionalmente, foi incluído um grupo que
reúne revistas científicas e trabalhos apresentados em congressos, tendo como
finalidade estabelecer uma comparação entre o uso de documentos que podem ser
classificados como literatura branca e aqueles pertencentes aos grupos
mencionados:
Jornais de grande circulação - foram considerados jornais que apresentam
cadernos ou suplementos especiais para a área de economia e negócios ou que
sejam exclusivamente dedicados a essas áreas. A pesquisa analisou os jornais O
Estado de S.Paulo (Caderno de Economia), Folha de S. Paulo (suplemento
Dinheiro), Gazeta Mercantil e Valor Econômico.
Revistas de grande circulação - publicações dirigidas ao público interessado em
negócios e que apresentam matérias voltadas para as áreas de finanças,
marketing, gestão de carreiras, gestão de pessoal. Foram escolhidas a Revista
Exame e Você S.A.
Informações geradas por órgãos governamentais e organização não governamental -
informações disponibilizadas pelo IBGE, Receita Federal, Banco Central e
DIEESE.
Provedores privados de informação - empresas que, mediante pagamento, fornecem
serviços de informação sobre legislação, normas e procedimentos legais,
jurisprudência, finanças, contabilidade, entre outros. Na pesquisa, esse grupo
é constituído pelo IOB - Thomson e Mapa Fiscal.
Literatura científica - grupo formado por revistas científicas e trabalhos
apresentados em congressos (aqui classificados como literatura branca).
Os termos mencionados como qualificativos para a escolha de publicações ou
fontes de informação, embora tenham caráter subjetivo, permitem selecionar
publicações que possuam atributo ou condição capaz de distingui-las de outras,
determinando sua escolha.
É sempre importante lembrar que percepções sobre qualidade, atualidade e
veracidade - melhor qualificar as fontes pesquisadas - são subjetivas, e
constituem um constructo resultante da percepção, pensamento e combinação de
impressões passadas e presentes.
3.1.3 Instrumento de pesquisa
O instrumento de pesquisa constitui-se em um questionário (QUADRO_I), em que,
para cada fonte de informação previamente selecionada, os entrevistados puderam
manifestar sua opinião por meio da aplicação de uma escala Likert com seis
posições (0 a 5). Adicionalmente, os quesitos utilizados foram explicados na
parte inferior do questionário, procurando evitar dúvidas por parte dos
entrevistados. O instrumento de pesquisa foi originalmente testado e validado
em um grupo de alunos que não participaram da pesquisa final. Com isso, foi
possível aprimorar o questionário, tanto em sua forma quanto em seu conteúdo,
facilitando sua utilização final (COOPER; SCHINDLER, 2003; HILL; HILL, 2002;
MALHOTRA et al., 2005).
As respostas foram tabuladas e processadas com a utilização do software SPSS
(Statistical Package for the Social Sciences), visando à obtenção de parâmetros
estatísticos descritivos, facilitando a análise e a interpretação das opiniões
coletadas. Para isso, buscou-se apoio em bibliografia especializada para melhor
uso do software adotado e para a correta interpretação dos resultados (DANCEY;
REIDY, 2006; BISQUERRA ALZINA; CASTELLÁ SARRIERA; MARTÍNEZ, 2004; COSTA NETO,
2002; CARVER; NASH, 2000; PESTANA; GAGEIRO, 2000; FONSECA; MARTINS, 1996;
MORETTIN; BUSSAB, 1981).
4 Resultados da pesquisa
A seguir, são apresentados os resultados e as respectivas interpretações para
cada grupo, abrangendo fontes de informação classificadas como literatura
cinzenta. Foi efetuada a comparação com os resultados obtidos para o grupo
literatura científica, utilizada como parâmetro comparativo.
4.1 Literatura científica
Integram esse grupo revistas científicas e trabalhos apresentados em
congressos, em um sentido mais amplo, buscando qualificar o uso de literatura
branca pelos alunos. Objetivou-se estabelecer um parâmetro que permitisse
verificar o hábito de consultar publicações científicas comparativamente às
publicações consideradas como literatura cinzenta ou de caráter jornalístico
(ou ainda de divulgação).
Identificou-se que, apesar de os entrevistados serem alunos do último ano de
graduação, o nível de utilização da literatura científica é baixo (média =
2,02, desvio padrão = 1,84). É interessante notar que os entrevistados
indicaram certa dificuldade de acesso (média = 2,39, desvio padrão = 1,73), mas
isso não corresponde à realidade da instituição de origem desses estudantes,
pois ela possui uma boa biblioteca, com amplo acervo e facilidade de acesso a
textos acadêmicos, incluindo a base de dados Business Source Premier (EBSCO).
Talvez essa "dificuldade de acesso" seja mais um reflexo de um hábito pouco
desenvolvido de pesquisar textos e trabalhos científicos, ensejando
perspectivas para estudos posteriores.
Apesar do baixo nível de utilização, a qualidade (média = 2,84; desvio padrão =
1,69), a atualidade (média = 2,84; desvio padrão = 1,68) e a veracidade (média
= 2,92; desvio padrão = 1,64) ficaram acima do ponto central da escala
utilizada (0 a 5), conforme pode ser visto na TAB._1 e na FIG._1. Quando levado
em consideração o nível de utilização, esse resultado pode ser um indicativo de
que esses quesitos foram possivelmente avaliados mais com base em percepções
colhidas de professores do que como resultado do uso efetivo.
4.1 Jornais de grande circulação
Integram esse grupo os jornais O Estado de S. Paulo (caderno de Economia),
Folha de S. Paulo (suplemento Dinheiro), Gazeta Mercantil e Valor Econômico. O
nível de utilização apresentou média igual a 2,4 (desvio padrão de 1,79),
mostrando um uso razoável das fontes de informação pertencentes a esse grupo.
Em função disso, a qualidade (média = 3,3; desvio padrão = 1,56), atualidade
(média = 3,6; desvio padrão = 1,62) e veracidade (média = 3,3; desvio padrão =
1,55) puderam ser avaliadas com maior adequação, conforme apresentado na TAB._2
e na FIG._2.
O grupo entrevistado mostrou uso um pouco mais intenso de jornais (média =
2,4), em comparação à literatura científica (média = 2,02). É possível que esse
uso tenha levado a uma melhor avaliação do grupo representado pelos Jornais de
Grande Circulação nos demais quesitos (Tabela_2).
Verificou-se que, para a população pesquisada, os cadernos ou suplementos de
economia e negócios e os jornais especializados nesse segmento representam
fonte de referência e informação. Os três quesitos (qualidade, atualidade e
veracidade) contribuem de maneira praticamente igual para a boa avaliação desse
grupo, com destaque para a atualidade (um pouco melhor avaliada).
A dinâmica dessas publicações, com edições diárias e informações atuais, o
baixo custo e a facilidade de acesso constituem ingredientes importantes que
incentivam o uso habitual dessas fontes. Essa característica pode ser aplicada
favoravelmente para fins didáticos, uma vez que textos jornalísticos
selecionados podem ser utilizados para fomentar discussões e auxiliar na
aplicação prática de conceitos e teorias.
O uso de documentos não convencionais pode constituir-se em uma estratégia de
ensino, desde que amparado por critérios definidos pelos professores, atraindo
o interesse do aluno de graduação para temas considerados mais áridos. Conforme
os resultados da pesquisa indicam, há uma preferência dos alunos por esse tipo
de texto comparativamente à literatura científica.
Sobre isso, é interessante verificar algumas considerações encontradas na
literatura. Anderson e Baldwin (2003), por exemplo, propõem uma estratégia de
pesquisa, desenvolvida com alunos de graduação, em que a literatura cinzenta
(relatórios técnicos, websites, e-prints e preprints, por exemplo) seja
utilizada para que um entendimento inicial do tema pesquisado seja
estabelecido. Posteriormente, os estudantes utilizariam a literatura branca,
ampliando e aprofundando o tema pesquisado.
Uma evidência que aponta para a eficácia de técnicas de ensino baseadas na
leitura de textos adicionais pode ser verificada em Camargos, Camargos e
Machado (2006). Em pesquisa sobre as preferências de ensino, desenvolvida com
graduandos em Administração, os autores verificaram, por exemplo, que "os
alunos têm preferência pelos professores que incentivam a leitura (63,4%), o
uso da biblioteca (80,3%) e a busca por outros livros/textos, além dos que
estão indicados na bibliografia do curso (77%)" (CAMARGOS, CAMARGOS e MACHADO,
2006, p.10).
4.1.2 Revistas de grande circulação
Constituído pelas Revistas Exame e Você S.A., este grupo apresentou resultados
similares aos obtidos pelo grupo "Jornais de Grande Circulação", conforme pode
ser verificado na Tabela_2. A média para o quesito nível de utilização foi de
2,47 (desvio padrão = 1,75). Os quesitos qualidade (média = 3,2; desvio padrão
= 1,53), atualidade (média = 3,5; desvio padrão = 1,53) e veracidade (média =
3,1; desvio padrão = 1,55) também foram bem avaliados, com um leve destaque
para a atualidade (FIG._3), mantendo a semelhança com o grupo formado pelos
Jornais de Grande Circulação.
Similarmente ao que ocorre com os jornais (ou cadernos de jornais)
especializados na área de economia e negócios, os estudantes entrevistados têm
no grupo das Revistas de Grande Circulação uma fonte razoável de referência e
informação. Em relação à literatura científica, o grupo analisado mostrou um
uso levemente mais intenso (média de 2,5 para as revistas contra uma média de
2,02 para a literatura científica).
A atualidade é um quesito bem avaliado pela população analisada, sendo um dos
motivos que contribuem para a aceitação dessas publicações (juntamente com a
qualidade e a veracidade). Embora o trabalho jornalístico não apresente o rigor
metodológico necessário aos textos acadêmicos, ele pode ser potencialmente útil
na análise preliminar de casos, ajudando no entendimento de contextos políticos
e econômicos.
Sobre isso, é oportuno mencionar Rezende (2002, p.122): "A formulação
estratégica de qualquer negócio sempre é feita a partir das informações
disponíveis e, portanto, nenhuma estratégia consegue ser melhor que a
informação da qual é derivada". Prosseguindo, a autora comenta que a
inteligência competitiva consiste no monitoramento do ambiente concorrencial e
não apenas no ambiente mercadológico, afirmando que "será a habilidade com que
a empresa coleta, organiza, analisa e implementa mudanças a partir de
informações, integrando-as ao processo de melhoria contínua de suas atividades,
que irá determinar a sua excelência" (REZENDE, 2002, p.122).
Dentro desse escopo, as informações jornalísticas bem qualificadas podem
constituir-se em material de referência para os gestores de empresas e
negócios. É importante reforçar a importância do docente ao ajudar os alunos na
seleção e bom uso dessas fontes, por apresentarem informações atualizadas sobre
empresas, novas legislações ou normas.
Acredita-se que, quando bem selecionados, artigos de revistas possam constituir
material potencialmente útil para aulas, ajudando a dinamizar discussões e
criando cenários úteis à aplicação de teorias científicas. Além disso, o texto
jornalístico de boa procedência tem o mérito de incentivar a leitura, criando
um hábito que ajuda na formação de pessoas mais críticas.
4.1.3 Informações geradas por Órgãos Governamentais e ONG
Embora sejam considerados literatura cinzenta, os estudos, informes e
relatórios publicados pelo IBGE, Receita Federal, Banco Central e DIEESE têm
sua relevância comparável aos artigos publicados em revistas científicas.
Devido à natureza do trabalho que desenvolvem, organizações como IBGE e DIEESE
possuem grandes quantidades de dados primários, estabelecendo-se em fonte
primordial para a realização de diversos estudos. Por outro lado, órgãos como a
Receita Federal e o Banco Central, além de terem dados relacionados à natureza
de suas atribuições (que podem subsidiar a realização de estudos e análises),
têm em seus informes um caráter normativo, regulatório ou interpretativo da
legislação vigente.
Verificou-se que o nível de utilização é baixo (média = 1,5, desvio padrão =
1,75), repercutindo na avaliação da qualidade, atualidade e veracidade.
Verifica-se que o desvio padrão calculado é superior à média, comprometendo o
resultado obtido (TAB._3).
Mesmo assim, as médias verificadas (qualidade = 2,4; atualidade = 2,5;
veracidade = 2,6) permitem concluir que as pessoas que não utilizam essas
fontes de informação têm uma percepção razoável delas, embora seja necessário
ressalvar que os respectivos desvios padrão são elevados (qualidade = 1,83;
atualidade = 1,87; veracidade = 1,89).
Dos grupos analisados, é um dos que têm um dos menores níveis de utilização,
apresentando resultado um pouco inferior ao grupo "Literatura Científica"
(médias 1,5 e 2,02 respectivamente). Em ambos os casos, o desvio padrão é
elevado.
Isso leva a crer que existe um potencial de uso a ser explorado dos estudantes
entrevistados. Embora o trabalho não tenha analisado questões relativas às
interfaces de utilização e, portanto, não ofereça subsídios para a afirmação
que se segue, supõe-se que um dos empecilhos à utilização dessas fontes seja a
dificuldade de encontrar a informação desejada nos respectivos sites na
Internet. Outra razão que pode ser suposta é a falta de conhecimento mais amplo
quanto aos conteúdos disponíveis.
Sobre o uso dessas fontes em estratégias de ensino, é oportuno verificar o
trabalho de Miranda e Miranda (2006). Discutindo a interdisciplinaridade e os
métodos de ensino de contabilidade, os autores discorrem sobre a aplicação de
conhecimentos obtidos após a discussão de casos e o desenvolvimento, por parte
dos alunos, de resumos de leituras. Segundo eles, essas estratégias
facilitariam o desenvolvimento da capacidade de utilização de informações,
gerando e permitindo o teste de novas idéias, levando a um aprimoramento
pessoal dos alunos e a uma melhor gestão de seu próprio aprendizado. Uma
possibilidade, por exemplo, é a utilização de textos disponíveis em sites
oficiais (com normas regulatórias e orientações sobre a legislação) para o
desenvolvimento de estudos específicos.
Oliveira (2004) mostra que, dentre as fontes de informação mais utilizadas por
executivos, incluem-se as publicações governamentais, o que indica a
importância do seu uso por parte dos alunos. Uma sugestão que pode ampliar o
uso dessas fontes de informação é utilizar em aula os dados oriundos dessas
fontes primárias, permitindo a elaboração de análises que expliquem
determinados contextos socioeconômicos necessários à formulação de planos de
negócio e estratégia de marketing, por exemplo.
4.2 Provedores privados de informação
Esse grupo é composto por empresas que fornecem serviços de informação sobre
legislação, normas e procedimentos legais, jurisprudência, finanças,
contabilidade, entre outros, mediante pagamento de assinaturas, sendo
representado na pesquisa pelo IOB - Thomson e Mapa Fiscal. A TAB._3 mostra
conjuntamente os resultados para os grupos "Órgãos Governamentais e ONG" e
"Provedores Privados de Informação", possibilitando uma comparação direta entre
eles.
Verificou-se que, em função do baixo nível de utilização (média de 1,02 para o
grupo, com desvio padrão de 1,62), esse grupo teve sua qualidade (média = 2,0;
desvio padrão = 1,88), atualidade (média = 2,2; desvio padrão = 2,08) e
veracidade (média = 2,2; desvio padrão = 2,04) mal avaliadas, como indica a
FIG._5. Os desvios padrão obtidos foram elevados, comprometendo a análise das
médias. De qualquer forma, o baixo nível de utilização mostra que, para os
estudantes de graduação entrevistados, os Provedores Privados de Informação não
constituem fonte primordial de informação ou referência. A média obtida para o
nível de utilização foi praticamente a metade daquela calculada para a
literatura científica, revelando o baixíssimo uso dessas fontes.
5 Conclusões
O estudo empreendido constatou que as fontes de informação usuais para os
alunos entrevistados são aquelas que integram os grupos "Jornais de Grande
Circulação" e "Revistas de Grande Circulação", o que é indicado pelo nível de
utilização observado. O grupo "Informações Geradas por Órgãos Governamentais e
Organização Não Governamental", congregando o IBGE, Banco Central, Receita
Federal e DIEESE, não constitui fonte importante de informações para os alunos
entrevistados, ficando à frente apenas dos "Provedores Privados de Informação"
(que cobram pelos serviços prestados).
Mesmo considerando os três grupos mais utilizados (jornais, revistas e
literatura científica), verifica-se que o nível de utilização é no máximo
razoável, evidenciando uma falta de "apetite para a leitura" entre os alunos
entrevistados. Além disso, uma análise dos resultados permite inferir que os
entrevistados têm uma preferência pela informação já trabalhada ou processada e
interpretada (informações jornalísticas), uma vez que fontes potenciais de
dados primários são muito pouco utilizadas.
Embora os alunos tenham relatado uma baixa facilidade de acesso às diversas
fontes de informações analisadas, isso pode ser mais um sintoma da falta de
hábito de leitura do que uma dificuldade em acessar determinadas fontes.
Jornais e revistas de grande circulação amplamente disponíveis (inclusive na
biblioteca da instituição de origem desses estudantes) obtiveram média pouco
superior a três no quesito facilidade de acesso.
É possível que a baixa utilização das fontes do grupo "Informações Geradas por
Órgãos Governamentais e Organização Não Governamental" também seja explicada
pela dificuldade em localizar as informações desejadas em meio a interfaces nem
sempre amigáveis e pela própria falta de hábito dos entrevistados, embora essa
explicação não possa ser confirmada pela pesquisa realizada.
Não obstante o fato de algumas fontes de informação serem pouco utilizadas, a
percepção geral dos entrevistados tende a ser boa (mesmo entre os não
usuários), indicando a existência de uso potencial ainda não explorado (ou a
ser efetivado). Acredita-se que a participação dos docentes como catalisadores
dessa reação, em prol do aumento do número de leitores e usuários de
informações qualificadas, seja de fundamental importância.
Levando em conta algumas características inicialmente consideradas negativas,
tais como a ausência de peer-review, a baixa perenidade e a ausência de
controle bibliográfico, o uso da literatura cinzenta deve ser considerado uma
opção válida, especialmente como fonte primária de dados e informações, a
partir de relatórios e informes publicados em sites oficiais, por exemplo. É
necessário, todavia, que esse uso seja orientado e supervisionado pelos
docentes.
A pesquisa realizada demonstra que a leitura é um hábito pouco difundido entre
os estudantes, independente de a fonte ser on-line ou impressa. Esta é uma
situação percebida pelos docentes em seu dia-a-dia em sala de aula, refletindo-
se não somente na qualidade dos textos e trabalhos produzidos pelos alunos, mas
também na fundamentação da informação assimilada.
O instrumento de pesquisa mostrou-se adequado ao entendimento inicial de um
cenário bastante complexo, abrindo espaço para seu aprimoramento futuro.
Avalia-se que essa pesquisa possa ser replicada em outras instituições de
ensino, abrangendo também alunos de pós-graduação lato sensu, atraindo novos
pesquisadores e ampliando os resultados obtidos.