A democratização da sociedade internacional e o Brasil: ensaio sobre uma
mutação histórica de longo prazo (1815-1997)
Como se desenvolveram a construção da ordem política e econômica mundial e o
estabelecimento da própria "sociedade internacional" desde o século XIX até
nossos dias? Teriam esses processos de longo prazo conservado os mesmos traços
hegemônicos e as mesmas linhas de dominação política e de subordinação
econômica que caracterizaram os grandes impérios do passado? Seria a Pax
Americana do século XX a sucessora direta da Pax Britannica do século XIX e
teria esta reproduzido em escala transcontinental, nos três oceanos nos quais a
Royal Navy navegou soberanamente, o mesmo tipo de monopólio do poder e de
centralização econômica que a Pax Romana trouxe ao mundo antigo, ou que outros
impérios ' islâmico, chinês, persa ' consagraram em suas respectivas esferas de
dominação? Como o Brasil inseriu-se nesse mundo de relações assimétricas e de
soberanias diferenciadas e qual foi seu relacionamento com uma ordem
internacional dotada, reconhecidamente, de um baixo coeficiente intrínseco de
democracia em suas fases iniciais (e quiçá ainda hoje)?
O presente artigo, de caráter ensaístico e exploratório, toca no próprio âmago
da construção da ordem internacional, a partir da primeira metade do século XIX
até a atual fase de reestruturação dessa mesma ordem. A ênfase é colocada nas
instituições intergovernamentais, de caráter econômico e de tipo multilateral,
de cujos processos constitutivos participou o Brasil e às quais ele veio a
aderir precocemente, reconheça-se de imediato. Com efeito, o Brasil foi um dos
países ditos "periféricos" que mais participaram da construção da ordem
internacional desde meados do século XIX até os dias que correm.
O estudo parte de um pressuposto empírico, na verdade uma das constatações mais
recorrentes da politologia clássica, o de que o poder se distribui
desigualmente na república e na sociedade internacional, envolvendo tanto
aspectos coercivos (uso ou ameaça de sanções físicas) como normativos (legais)
ou compensatórios. Com efeito, desde a antigüidade clássica que se distinguem
diferentes estruturas de poder: oligarquia, autocracia, democracia,
plutocracia. Aristóteles, por exemplo, concebeu três tipos fundamentais de
estruturas políticas ' monarquia, aristocracia e democracia ' e suas derivações
deformadas ' ditadura, oligarquia e oclocracia. Marx relacionou diretamente o
poder político com as fontes de poder econômico nas sociedades de classes. Max
Weber, por sua vez, se preocupava com as fontes de legitimidade do poder
político, para ele baseadas num relação de autoridade que envolvia papéis
políticos, funções desempenhadas na vida societal e posições ocupadas por
diferentes estamentos ou grupos sociais.
A sociedade internacional, a despeito de seu caráter difuso ' isto é, não
definida territorialmente e heterogênea do ponto de vista civilizacional ' não
é muito diferente da civis ou da república, construindo progressivamente
instituições para disciplinar a autoridade especificamente política ou o poder
essencialmente econômico. O poder, a autoridade e a liderança não se mantêm
indefinidamente pela coerção, assim como a estratificação social ' ou societal,
neste caso ' evolui em função das mudanças nas técnicas e nos mercados. Os
conceitos de Macht, Power, Puissance, tão bem estudados por Raymond Aron em
muitas de suas obras hoje clássicas, são ainda mais válidos na esfera da
sociedade internacional do que no âmbito puramente societal ou doméstico. Como
evoluiu, portanto, a sociedade internacional desde princípios do século XIX até
o final do século XX e como seus atores principais, os Estados nacionais, foram
aceitando determinadas limitações de soberania em prol de uma "ordem
internacional" ainda pouco definida e certamente mutável em termos políticos e
econômicos? Estas são as grandes linhas conceituais da discussão basicamente
histórica que se procederá a seguir, com ênfase na participação do Brasil nesse
"sistema em construção".
Um mundo restaurado: a sociedade internacional pós-napoleônica
Assim como o moderno Estado nacional não é uma cópia ampliada da Cidade-Estado
grega, a sociedade internacional da era contemporânea não é uma reprodução,
ainda que melhorada, da ordem internacional da idade moderna, que esteve
marcada pela afirmação unilateral do poder militar e por uma vontade hegemônica
de vocação imperialista. O império napoleônico representou provavelmente o auge
dessa concepção "militarista" da sociedade política, uma autocracia quiçá
benevolente com as massas e socialmente mais "democrática" que as monarquias
derrocadas em quase toda a Europa ' no sentido de retirar o poder político e
econômico das velhas aristocracias para colocá-lo nas mãos da burguesia ' mais
ainda assim basicamente inaceitável para os que não eram franceses (ou parentes
da família de Napoleão). O regime de hegemonia coletiva que se desenha em
princípios do século XIX na Europa, a partir do Congresso de Viena, contribui
para a afirmação de um sistema de Estados que retoma alguns dos princípios do
mundo vestfaliano: soberania e independência dos Estados "cristãos", tutela e
contenção mútua nas diferentes esferas de influência.
O princípio do legitimismo dinástico e a tentativa de se formar uma "santa liga
dos príncipes cristãos" se encaixavam mal, por certo, com o espírito e o
projeto kantianos da uma paz universal e duradoura, fundamentalmente baseados,
este últimos, na existência de repúblicas democráticas. Mas, ainda assim, o
sistema de Viena contribui para orquestrar uma nova e inédita realidade nas
relações internacionais: uma espécie de hegemonia difusa que permite a
emergência oportuna de instituições de cooperação interestatal que iriam se
desenvolver enormemente no decorrer da segunda metade do século passado e ao
longo deste. Em Viena, apenas cinco nações determinaram o perfil da sociedade
internacional pós-napoleônica, o que aliás estava perfeitamente de acordo, no
plano da sociologia política, com os sistemas oligárquicos e as poucas
democracias censitárias que então dominavam o espectro político europeu.
O Brasil emergia para o mundo nesse contexto de reorganização da ordem
internacional, tendo passado do status de colônia ao de Reino unido no mesmo
movimento que levou da hegemonia napoleônica ao "concerto europeu".
Considerando-se o longo período de paz do século XIX, a primeira observação a
ser feita no que se refere à "macropolítica" institucional da ordem
internacional é, precisamente, as grandes diferenças que marcam os cenários
políticos e econômicos internacionais respectivos sob os quais terão de atuar,
numa primeira etapa, a experiente mas enfraquecida diplomacia portuguesa
transplantada ao novo mundo, logo depois, em 1822, a incipiente diplomacia do
jovem Estado independente e, finalmente, a segura "diplomacia imperial" do
Segundo Reinado, que forneceria tantos bons quadros à diplomacia republicana,
no final do século.
Observa-se, em primeiro lugar, uma grande mudança na quantidade e também na
qualidade dos atores participando do chamado jogo internacional. Com efeito, no
Congresso de Viena, em 1815, estiveram representadas oito nações "cristãs":
Grã-Bretanha, Prússia, Rússia, Áustria, França, Espanha, Suécia e Portugal,
este apenas em virtude de sua relação privilegiada com a Grã-Bretanha e
basicamente no contexto de seu envolvimento, embora involuntário e marginal,
com o grande drama napoleônico que agitou a Europa na seqüência da Revolução
francesa. As relações de força e de poder desenhadas naquela primeira grande
conferência diplomática da época contemporânea continuaram a dominar os
desenvolvimentos diplomáticos (e militares) durante a maior parte do século
XIX, relações de poder algo temperadas, é verdade, pela Doutrina Monroe '
proclamada unilateralmente pelos Estados Unidos, secundados pela própria Grã-
Bretanha ' e seu modesto poder de coerção ou de "dissuasão" contra as potências
recolonizadoras da Santa Aliança.
Em Viena foram debatidos, quase que exclusivamente, os interesses das grandes
potências e acomodados os desejos das menores. Portugal teve de ceder de volta
a Guiana à França e aceder à pressão inglesa para restringir o alcance do
tráfico de escravos. Quanto ao Brasil, que logo mais buscaria sua legitimação
internacional depois do movimento da independência, ele é, em face do novo
equilíbrio político europeu que emerge dos compromissos de 1815, uma nação
claramente periférica no quadro do sistema de alianças e da diplomacia dos
congressos. Dois dos temas tratados em Viena, ainda que de forma secundária,
interessariam diretamente à jovem nação sul-americana: a livre navegabilidade
dos rios internacionais, sobretudo para fins comerciais, e a restrição ao
tráfico de negros africanos, sustento econômico da poderosa classe mercantil
carioca, que constituía aliás a própria base política do poder imperial.
Transformados ambos em princípios reconhecidos das relações entre Estados, eles
estariam no centro das relações exteriores do País, marcando de forma indelével
os primeiros passos da diplomacia brasileira.
Nessa fase, as forças incipientes do primeiro capitalismo industrial e a
afirmação ainda relativamente tímida da "ordem burguesa" não são suficientes
para romper com a soberania política absoluta dos Estados nacionais em favor da
construção de uma ordem internacional que privilegiasse o poder da técnica no
confronto com a técnica do poder. São finalmente poucas as instituições
intergovernamentais surgidas na primeira metade do século XIX, praticamente
nenhuma que tivesse tido continuidade ou seguimento nas décadas seguintes,
marcadas por intensos intercâmbios comerciais, tecnológicos e financeiros. Se
os esforços de alguns promotores do "liberal-internacionalismo" capitalista nos
anos "heróicos" da burguesia ascendente poderiam talvez, retrospectivamente,
orgulhar filósofos como Immanuel Kant ou Adam Smith, eles não lograram contudo
impulsionar organizações de cooperação industrial ou comercial de cunho "supra-
nacional", ou pelo menos "desnacionalizado".
Das caldeiras da primeira Revolução Industrial aos motores da segunda
A Exposição Universal do Cristal Palace, em Londres, realizada pela "iniciativa
privada" em 1851, é provavelmente o fato histórico relevante a ser considerado
nesta análise da construção da ordem internacional a partir das organizações de
cooperação técnica de caráter multilateral. Ela praticamente dá a partida a uma
série de conferências, congressos e seminários industriais que estão na origem
da constituição das primeiras entidades intergovernamentais que se perpe-tuarão
neste século.
Como diz um estudioso dessa questão, o norte-americano Craig Murphy, muitos
historiadores consideram essas conferências técnicas como sendo uma espécie de
"low politics", colocando-as de fora do sistema inaugurado pelo Congresso de
Viena, supostamente enquadrado no reino essencialmente diplomático da "high
politics". Mas, como ele também lembra, mesmo o Congresso de Viena tratou da
internacionalização dos rios e do tráfico de escravos. As conferências de
caráter técnico, à diferença dos grandes congressos políticos, "se converteram
em meios para os governos nacionais explorar os interesses comuns potenciais
sem necessariamente comprometer-se em ratificar ou obrigar-se por qualquer
regime que poderia ser proposto".1
Os encontros políticos envolvendo altos dirigentes continuavam a ser o terreno
preferido de manobras da "oligarquia" do poder mundial, enquanto que as
reuniões de caráter técnico permitiam a incorporação de potências médias e
mesmo de pequenos parceiros ou de nações periféricas, como o Brasil. Na
Conferência de Paz de Paris, de 1856, por exemplo, participaram tão somente
algumas poucas nações "civilizadas" da Europa, essencialmente a Grã-Bretanha e
a França, proclamando princípios (como os da guerra marítima) que depois seriam
"oferecidos" ao resto da comunidade "civilizada", inclusive ao Brasil (que a
eles vem a aderir no ano seguinte).
Vejamos com maior grau de detalhamento histórico a evolução da sociedade
internacional desde o incipiente "plurilateralismo otimista" de meados do
século XIX até a afirmação do "multilateralismo nacionalista" do começo do
atual. As primeiras instituições internacionais foram constituídas para tratar
de questões eminentemente práticas, interessando a resolução de problemas
técnicos vinculados ao crescente intercâmbio entre as economias capitalistas,
como transporte ferroviário e comunicações. É o caso, por exemplo, das
entidades de cooperação técnica no terreno das comunicações (telegráfica,
ferroviária e postal), das uniões de defesa da propriedade intelectual (União
de Paris, sobre propriedade industrial) e da União Internacional de Bruxelas
para a publicação das tarifas aduaneiras.2 Uma avaliação sintética da presença
mundial da diplomacia brasileira revelaria uma ampla adesão à maior parte dos
principais organismos internacionais de cooperação e de coordenação nas áreas
técnica e econômica, senão a todos eles.
O primeiro instrumento "plurilateral" a regulamentar as regras para o
tratamento da propriedade alheia em situações de conflito consistiu, na
verdade, de um conjunto de princípios de direito marítimo, adotados pela França
e a Grã-Bretanha em 1855 para regular suas relações com os neutros durante a
guerra da Criméia, contra a Rússia, normas essas que depois foram
"multilateralizadas" de maneira unilateral. Em resposta ao convite formulado
pelos dois países para sua participação no arranjo, o Brasil ' que de certo
modo aplicava esses princípios desde o início dos conflitos na Bacia do Prata,
para atender aliás aos interesses do comércio europeu na região ' declarou que
nenhum corsário poderia ser armado, aprovisionado ou admitido com suas presas
nos portos brasileiros e que os súditos do Império se absteriam de tomar parte
em armamento de corsários ou quaisquer outros atos opostos aos deveres de
estrita neutralidade.
Depois da guerra, o Congresso de Paris formalizou, pelo tratado de paz de 30 de
março de 1856, a abolição do corso e os princípios de direito marítimo segundo
os quais o pavilhão neutro cobre a mercadoria inimiga, com exceção do
contrabando de guerra, sendo que a mercadoria neutra não poderia ser apresada
sob pavilhão inimigo. Ficava também estipulado que os bloqueios, para serem
obrigatórios, deveriam ser efetivos, isto é, mantidos por força suficiente para
proibir realmente o acesso ao litoral inimigo. Os demais países foram
convidados a aderir a esses princípios, à condição que eles fossem considerados
indivisíveis e aceitos sem restrição alguma; por Nota de 18 de Março de 1857, o
Brasil resolveu aceitar esses princípios, fazendo inclusive, consoante sua
tradicional postura legalista e jurisdicista no plano das relações
internacionais, uma declaração quanto à conveniência de recorrer-se, "tanto
quanto as circunstâncias o permitirem, à mediação de potência amiga, nos casos
de dissensão internacional, antes de apelar-se ao uso da força".3
Dois outros exemplos precoces de regulação multilateral de "acesso a mercados",
envolvendo interesses comerciais de número amplo de países na penetração
marítima de rios e portos da Europa setentrional, consistiram nos tratados
concluídos "entre várias potências da Europa e da América" com os reinos de
Hanôver e da Bélgica, respectivamente em 1861 e 1863, para a abolição
definitiva, por meio do resgate, dos direitos de peagem dos rios Stade (na
desembocadura do Elba) e do Escalda: a diplomacia imperial participou das
negociações e, depois de consultas ao Conselho de Estado e devidamente
autorizada por decretos executivos, realizou o pagamento da parte que cabia ao
Brasil em cada um dos arranjos.4
No que se refere especificamente ao Brasil, ainda que a medida não tenha
resultado de negociação multilateral ' talvez mais da "pressão internacional" '
caberia uma menção ao decreto de 7 de dezembro de 1866, que abriu os rios
Amazonas, Tocantins, Tapajós, Madeira, Negro e São Francisco à navegação dos
navios mercantes de todas as nações.5
As conferências, congressos e exposições internacionais, a maior parte
convocada pelos próprios soberanos dos países patrocinadores, tenderam a
multiplicar-se na segunda metade do século XIX, solicitando a atenção das
chancelarias e dos serviços econômicos dos países "civilizados". Os congressos
industriais ou comerciais e, em especial, as "exposições universais" serviam de
quadro inicial de discussão substantiva de determinados temas de interesse
momentâneo, abrindo assim o caminho a conferências diplomáticas e ao
estabelecimento das primeiras "uniões intergovernamentais".
Foi o caso, por exemplo, da "Conferência de Paris destinada a examinar questões
concernentes à proteção da propriedade industrial", realizada em Paris em 1883,
mas cujas bases tinham sido colocadas na Exposição Universal de Viena de 1873,
mediante um congresso que já estabelecia a iniciativa de uma "união de
proteção". Foi o caso, igualmente do Congresso Internacional do Comércio e da
Indústria de Bruxelas, nesse mesmo ano, na qual se avançariam os trabalhos para
uma convenção sobre o intercâmbio de documentos oficiais e, mais adiante, para
o estabelecimento de uma União Internacional para a Publicação das Tarifas
Aduaneiras, com sede em Bruxelas. Essa capital também concentrou a maior parte
das atividades de cooperação internacional em matéria de transportes
ferroviários e marítimos, enquanto Berna ficava com as uniões sobre
comunicações e propriedade intelectual.6
A multiplicação das organizações de cooperação
Entre 1860 e princípios do século XX, várias organizações intergovernamentais
foram fundadas em diversas áreas de interesse econômico, ausentando-se tão
somente o Brasil daquelas entidades marcadamente regionais (interligações
ferroviárias na Europa, por exemplo) ou voltadas para atividades de âmbito
restrito (produtos típicos do hemisfério norte). Essas "uniões" tinham como
tarefa precípua promover a indústria e o comércio, pela interconexão de obras
de infra-estrutura e de comunicações (União Telegráfica Internacional, União
Postal Universal, associações internacionais dos congressos de ferrovias, de
navegação, União Radiotelegráfica Universal), pelo estabelecimento de padrões
industriais e de propriedade intelectual (Bureau Internacional de Pesos e
Medidas, uniões internacionais para a proteção da propriedade industrial e das
obras literárias e artísticas), pela facilitação do trânsito aduaneiro (como a
União Internacional para a Publicação das Tarifas Aduaneiras, criada em
Bruxelas em 1890, ou, mais adiante, o Bureau Internacional de Estatísticas
Comerciais), ou ainda administrando conflitos interestatais no terreno da
arbitragem (como as duas conferências da Haia) e promovendo a educação e a
pesquisa (como a Associação Geodética Internacional, de 1864, e as associações
internacionais de sismologia, de matemática e de cartografia, de princípios do
século).
Para uma visão global do papel dessas organizações na estruturação do
capitalismo industrial moderno, é essencial uma consulta ao estudo já citado de
Craig Murphy, International Organization and Industrial Change, que relaciona
as principais, se não todas as, entidades criadas entre 1860 e 1914. 7 No
capítulo 2 de seu livro, dedicado a "Building the Public International
Nations", Murphy cita mais de 30 organizações globais de caráter
intergovernamental, fundadas entre 1860 e 1914, nas áreas e datas seguintes:
1. Promovendo a Indústria
1.1. Infra-estrutura:
1865: União Telegráfica Internacional
1874: União Postal Universal
1884: Associação Internacional do Congresso de Ferrovias
1890: Escritório Central do Transporte Ferroviário Internacional
1894: Associação Internacional Permanente dos Congressos de Navegação
1905: Conferência Diplomática do Direito Marítimo Internacional
1906: União Radiotelegráfica Universal
1909: Associação Internacional Permanente dos Congressos Rodoviários
1.2. Padrões Industriais e Propriedade Intelectual:
1875: Bureau Internacional de Pesos e Medidas
1883: União Internacional para a Proteção da Propriedade Industrial
1886: União Internacional para a Proteção das Obras Literárias e
Artísticas
1912: Bureau Internacional de Química Analítica da Alimentação Humana
e Animal
1.3. Comércio:
1890: União Internacional para a Publicação das Tarifas Aduaneiras
1893: Conferência da Haia sobre o Direito Internacional Privado
1913: Bureau Internacional de Estatísticas Comerciais
2. Administrando Conflitos Sociais Potenciais
2.1. Trabalho:
1901: Escritório Internacional do Trabalho
2.2. Agricultura:
1879: Comissão Internacional do Álamo
1901: Conselho Internacional para o Estudo do Mar
1902: União Internacional do Açúcar
1905: Instituto Internacional da Agricultura
3. Reforçando os Estados e o Sistema de Estados
3.1. Ordem Pública:
1875: Comissão Penitenciária Internacional
1910: Instituto Internacional de Ciências Administrativas
3.2. Administrando conflitos interestatais:
1899: Corte Permanente de Arbitragem (I Conferência da Haia; ouviu 15
casos entre 1902 e 1920)
1907: Corte Internacional de Presas (II Conferência; não ratificada e
não entrou em vigor)
4. Reforçando a Sociedade
4.1. Direitos Humanos:
1890: Escritório Internacional Marítimo contra o Tráfico Escravo
4.2. Salvamento e Bem-estar:
1907: Bureau de Informações e Investigação relativo à Ajuda para
Estrangeiros
4.3. Saúde:
1900: Comissão de Revisão da Nomenclatura das Causas de Morte
1907: Escritório Internacional de Higiene Pública
1912: Associação Internacional de Banhos Públicos e da Limpeza
4.4. Educação e Pesquisa:
1864: Associação Geodética Internacional
1903: Associação Internacional de Sismologia
1908: Comissão Internacional para o Ensino das Matemáticas
1909: Bureau Central para a Cartografia Internacional
O Brasil e a construção da ordem econômica internacional no século XIX
A despeito de sua reação de cautela em relação aos tratados comerciais, o
Brasil já vinha contraindo convenções bilaterais sobre navegação e transporte
de correspondência, todos contendo dispositivos relativos a pagamentos postais,
bem como acordos protegendo invenções e marcas de comércio e de fábrica. O novo
quadro regulatório, de âmbito multilateral, permitiu uma certa "economia"
negociatória e, no que se refere ao "clearing" das transações postais
correntes, a uniformização das regras aplicadas ao câmbio de moedas, que podia
assim desenvolver-se em amplas bases geográficas. Algumas dessas reuniões
plurilaterais permitiram, por exemplo, introduzir um pouco de harmonização
técnica e de uniformidade metrológica nos diferentes padrões e normas
utilizados pelos diversos países participando do vasto mercado capitalista, o
que era essencial para uma circulação ampliada de bens e equipamentos objeto de
comércio internacional: estão nesse caso as convenções sobre o metro e sobre
pesos e medidas em geral ou, ainda, as normas sobre sinais marítimos,
importante fator de padronização das comunicações nos oceanos.
Sem pretender ser exaustivo, o Quadro reproduzido abaixo relaciona os
principais instrumentos multilaterais de interesse econômico, no período em
consideração, objeto de negociação ou de adesão brasileira, a começar pela
Convenção Telegráfica Internacional, de 1864, antecessora da atual UIT. Essa
primeira "união telegráfica" foi acordada entre reduzido número de países
(Brasil, França, Haiti, Itália e Portugal unicamente) e seu objetivo precípuo
era o estabelecimento de um cabo telegráfico transatlântico unindo a Europa à
América, a ser construído segundo um regime de concessão; protocolo de 1869,
adicional à Convenção de 1864, reduziu o prazo de concessão que tinha sido dado
ao contratante original, outro, em 1872, anulou a Convenção original,
substituída pela de 1875, contraída em São Petersburgo com base na de 1864.
Essa última convenção, celebrada entre 15 países europeus e a Pérsia, recebeu a
adesão do Brasil em 1877; a ela se seguiu a conferência de Berlim, em 1885, que
fixou tarifas regulares, mas, na de Paris, em 1890, se decidiu a criação de
três grupos de países dispondo de taxas diferenciadas, em função da extensão de
seus respectivos territórios. Ainda em relação às comunicações telegráficas,
deve-se mencionar a convenção internacional de 1884, criando uma união para a
proteção dos cabos submarinos, assinada em Paris por 38 Estados, entre os quais
o Brasil, e que retomava trabalhos desenvolvidos em congresso internacional de
telegrafia reunido em Roma doze anos antes.
Brasil ' Acordos e organizações econômicas multilaterais, 1864-1890
1864(16.05) Convenção Telegráfica Internacional: Paris, estabeleceu
União Telegráfica Internacional, em vigor em 1865 com 20 Estados
europeus; em 1869 foi estabelecido em Berna um Escritório
Internacional de Telegrafia; tratado estabelecia princípios para o
tratamento dos telegramas; ainda em 1864 se acordou entre Brasil,
França, Haiti, Itália e Portugal, a instalação de linha telegráfica
transatlântica, mas um protocolo de 1869 reduziu o prazo de concessão
dado ao contratante original; outro, de 1872, anulou a Convenção
original, substituída pela de 1875, contraída em São Petersburgo;
1868 (27.02) Código comercial de sinais marítimos: aceitação pelo
Brasil desse instrumento proposto por uma comissão anglo-francesa
para uso geral, logo disseminado como padrão de comunicação no mar;
1874 (09.10) União Geral dos Correios: assinado em Berna entre 20
países europeus, os Estados Unidos e o Egito; o Brasil aderiu em
1877, depois do Japão, da Índia britânica e de várias colônias
européias; estabeleceu as bases da convenção mais elaborada de 1878;
1875 (20.05) Convenção Internacional do Metro: assinada em Paris, por
18 Estados, que estabeleceram um Escritório Internacional de Pesos e
Medidas voltado para a internacionalização do sistema decimal; ele
tinha sido precocemente adotado no Brasil, mas encontrou sérias
resistências nos países anglo-saxões;
1875 (10-22.07) Convenção Telegráfica Internacional: celebrada em São
Petersburgo entre 15 países europeus e a Pérsia, com base na de 1864;
o Brasil aderiu em 1877; a conferência de Berlim (1885) fixou tarifas
regulares, mas em Paris (1890) se decidiu criar três grupos com taxas
diferentes, em função da extensão do território;
1878 (01.07) Convenção Postal Universal: celebrada em Paris em
conferência com mais de 30 países, criando uma União com sede em
Berna; Brasil ratificou em setembro desse ano; o território dos
Estados partes forma uma zona única, regida pelos mesmos princípios
relativos ao tratamento das expedições postais (liberdade de
trânsito, taxa de porte uniforme etc);
1879 (28.07) Regulamento do Serviço Internacional Telegráfico,
firmado em Londres, para entrar em vigor em 1880; Brasil aderiu em
dezembro de 1879;
1883 (20.03) Convenção criando a União para a proteção da propriedade
industrial: concluída em Paris, estabeleceu o princípio do tratamento
nacional para as invenções de residentes estrangeiros e fixou um
escritório em Berna; ratificada pelo Brasil em julho de 1883;
1884 (14.03) Convenção Internacional criando uma união para a
proteção dos cabos submarinos: assinada em Paris por 38 Estados,
sobre a base de trabalhos desenvolvidos no III Congresso
Internacional de Telegrafia (Roma, 1872); Brasil ratificou a
convenção em agosto;
1886 União Internacional para a Proteção das Obras Literárias e
Artísticas (Berna); revista em Berlim, em 13.11.1908, versão à qual
aderiu o Brasil em 18.07.1921;
1886 (15.03) Convenção para a troca de documentos oficiais e
publicações científicas e literárias: assinada em Bruxelas; Brasil
ratificou em 1888, tendo decreto do Governo Provisório de 1890 criado
um escritório de permutas anexo à Biblioteca Nacional;
1890 (5.07) Convenção relativa ao estabelecimento de uma União
Internacional para a Publicação das Tarifas Aduaneiras: firmada em
Bruxelas e ratificada pelo Brasil em setembro desse ano; deu origem,
bem mais tarde, à Organização Mundial das Alfândegas.
Fonte: Cardoso de Oliveira, Actos Diplomaticos do Brasil
Outra importante convenção internacional abordou a questão das comunicações
postais, objeto de reunião realizada em Berna em 1874, da qual resultaria uma
união geral dos correios, atual União Postal Universal: o Brasil a ela aderiu
já em 1877, integrando um pequeno batalhão de países pioneiros na facilitação
das comunicações postais. No ano seguinte, nova conferência postal realizada em
Paris e assistida pelo Brasil decide confirmar a sede do secretariado da União
em Berna e estabelecer algumas regras para seu funcionamento: o território dos
Estados partes forma uma zona única, regida pelos mesmos princípios relativos
ao tratamento das expedições postais (liberdade de trânsito, taxa de porte
uniforme etc.). Também para facilitar as comunicações entre os países, foram
realizadas diferentes conferências ferroviárias, com vistas a unificar bitolas,
definir padrões de correspondência e de trânsito das locomotivas, equipamentos
e pessoal, mas elas tinham âmbito essencialmente europeu e delas o Brasil
esteve compreensivelmente ausente.
Já se mencionou a convenção de Paris de 1883, criando uma união internacional
para a proteção da propriedade industrial, cujo mérito principal foi o de
estabelecer o princípio do tratamento nacional para as invenções de residentes
estrangeiros.8 Menos conhecida é a convenção de Bruxelas de 1886 para o
intercâmbio recíproco de documentos governamentais (jornais oficiais, textos
legais, publicações de caráter científico ou cultural), com o objetivo de
aproximar os Estados e povos e diminuir os motivos de conflitos entre eles.
Finalmente, o governo imperial também participou dos preparativos para a
criação de um escritório internacional para a divulgação das tarifas aduaneiras
dos países: ele foi efetivamente instituído, também em Bruxelas, mas quando o
Brasil já se constituíra em República, e seria a base do futuro Conselho de
Cooperação Aduaneiro, mais tarde Organização Mundial das Alfândegas.
No estudo da emergência do multilateralismo econômico e da crescente inserção
internacional do Brasil não se poderia tampouco descurar a dimensão regional ou
propriamente hemisférica da atuação da diplomacia brasileira, que no final do
Império e sobretudo a partir da República passa a dar cada vez mais atenção às
suas relações com os vizinhos continentais. Com efeito, na penúltima década do
século XIX, os países americanos começaram um movimento de aproximação
política, processo do qual resultaria, mais adiante, um Escritório Comercial
das Américas, embrião da futura União Pan-Americana. Na área econômico-
comercial, eles começaram a reproduzir alguns dos instrumentos multilaterais em
negociação no plano internacional, tendo adotado, em longa conferência
realizada em Montevidéu em 1889 entre Estados sul-americanos, acordos sobre
patentes, sobre propriedade literária e artística, sobre marcas de fábrica e de
comércio e sobre direito comercial internacional, nenhum deles, entretanto,
aprovado pelo Brasil.9
Mais relevante, a despeito da grande distância entre as pretensões iniciais dos
Estados Unidos e seus parcos resultados práticos, foi a Primeira Conferência
Internacional Americana, realizada em Washington, de outubro de 1889 a abril de
1890, tendo portanto o Brasil nela ingressado como monarquia e terminado como
república. O Governo imperial manteve, desde o início, reticências em relação a
vários temas que seriam debatidos na conferência de Washington, em especial no
que se refere à possibilidade de abertura comercial e ao tratamento da
propriedade intelectual, cuja regulamentação era amplamente satisfatória no
Brasil. A pretensão dos Estados Unidos de discutir a criação de uma American
Customs Union, para a promoção do comércio hemisférico ' dispondo inclusive de
uma "moeda de prata comum, com curso legal em todas as transações comerciais" '
foi deixada de lado, mas se aprovaram resoluções sobre, entre outros temas,
união monetária, tratados comerciais, direito de tonelagem, sistema métrico,
bancos, nomenclatura de mercadorias estrangeiras, estrada de ferro continental,
propriedade literária e artística, patentes de invenção e marcas de fábrica,
direito comercial, convênio sanitário, navegação dos rios, linhas de navegação
e telégrafo. 10 Dessa conferência também resultaria o estabelecimento de um
Escritório Internacional Americano, que publicaria um Boletim em três línguas
com todas as tarifas vigentes nos países, todos os regulamentos oficiais de
comércio exterior, extratos dos tratados de comércio e de correios existentes
entre as repúblicas americanas, ademais de dados estatísticos importantes sobre
o comércio exterior e a oferta de produtos nacionais.11
Finalmente, como uma experiência precursora das futuras negociações sobre
produtos de base e de disciplinamento das condições de concorrência numa
indústria interessando tanto países avançados como territórios periféricos ou
dependentes, deve-se mencionar a conferência açucareira realizada em Londres de
novembro a dezembro de 1887, da qual o Brasil, dela tendo sido convidado a
participar, esteve entretanto ausente por dificuldades de ordem prática. Seu
objetivo, segundo informa o Relatório de 1889, era o de "chegar a um acordo que
suprimisse os prêmios [isto é, subsídios] concedidos àquele produto", sendo
estabelecido um controle estrito, por meio das administrações fiscais
nacionais, sobre a produção e comercialização de açúcar. Plenipotenciário
diplomático brasileiro assistiu à conferência de assinatura, realizada em
agosto de 1888, da qual resultou uma Convenção sobre as indústrias do açúcar,
firmada por dez Estados europeus, à exceção da França, da Dinamarca e do
próprio Brasil (não ratificada contudo).
As razões da oposição brasileira à convenção, não explicitadas em Nota à
Legação britânica de janeiro do ano seguinte, que simplesmente confirmou a
impossibilidade da adesão naquele momento, foram expostas no Relatório de 1889,
consistindo de objeções aos dispositivos dos artigos 2º e 3º, sobre proibição
de isenção de impostos ou concessão de créditos e sobre o tratamento uniforme
na produção de açúcar. Naquela conjuntura, em precoce manifestação de política
industrial, o Governo brasileiro mantinha uma regime de favor à indústria
açucareira, manifestado na isenção de direitos de exportação do produto e de
importação de equipamentos, bem como a concessão, para a fabricação de açúcar,
de garantia de juros (7% ao ano para empresas adotando métodos modernos de
produção) e outras vantagens creditícias aos engenhos centrais (custo de 6%,
apenas, sobre capitais concedidos às novas instalações).12
O mercado internacional do açúcar, que tinha se expandido bastante com a
elevação do padrão de vida e dos hábitos de consumo nos países desenvolvidos,
vivia, nessa conjuntura do final do século XIX, uma verdadeira guerra de
subsídios à produção e à exportação, além de tarifas alfandegárias proibitivas
entre os produtores europeus, que competiam com os países tropicais com seu
açúcar de beterraba.13 A Inglaterra, de longe o maior país consumidor, tinha
abolido os direitos de entrada e vinha lutando, desde 1865, pela adoção de
medidas antiprotecionistas. Embora concordando com os objetivos propostos pelos
ingleses, o Governo imperial manteve-se numa postura discreta, de recusa dos
arranjos negociados de maneira pouco clara com vistas a defender primariamente
os interesses de seus produtores de cana e dos fabricantes de açúcar,
submetidos à rude concorrência internacional. Essa atitude seria entretanto
modificada pelo Governo republicano, sob a orientação liberal do ministro
Joaquim Murtinho, que decide a adesão do Brasil ao Convênio de Bruxelas, de
1902, que pretendia suprimir todos os subsídios, diretos e indiretos, à
produção e exportação de açúcar, e a excluir do mercado europeu o produto
proveniente de países subvencionistas. Nessa fase, entretanto, Cuba já tinha
alcançado sua supremacia no setor e a posição do Brasil era francamente
marginal nos mercados internacionais.
Uma modesta democratização do sistema internacional
Mais para o final do século, o leque de participantes do "sistema"
internacional continua a ser ampliado, um pouco por consenso, outro tanto
devido ao reconhecimento da emergência de novos atores, como seria o caso do
Japão depois de suas vitoriosas guerras contra a China e a Rússia. Na Primeira
Conferência de Paz da Haia (1899), por exemplo, participaram tão somente 26
países, número elevado a 44 na segunda conferência (1907). O Brasil esteve
ausente da primeira, mas compareceu à Segunda Conferência Internacional da Paz
da Haia, representado por Rui Barbosa.
Como informa ainda Murphy, nas conferências da paz da Haia, os representantes
militares, influenciados pela idéias geopolíticas do estrategista naval norte-
americano Alfred Mahan, superavam em furor e eloqüência os advogados
internacionalistas. Uma outra escola também presente na segunda Conferência
eram os delegados do império austro-húngaro e alemães, que pertenciam a um
grupo de pensamento que poderia ser identificado à escola da "redenção-pela-
guerra". Quando a segunda conferência começou a especificar os campos nos quais
a arbitragem iria ser obrigatória, a Alemanha lutou, com a Áustria-Hungria,
para evitar a extensão da arbitragem obrigatória num grande número de campos:
colisões no mar, correios e telégrafos (telefone), medidas dos navios, pesos e
medidas, docagem, propriedade intelectual, igualdade de estrangeiros frente à
tributação, direito internacional privado, procedimentos civis e comerciais,
tarifas aduaneiras, direito de estrangeiros sobre propriedades, regulação de
companhias, sistemas monetários, reivindicações pecuniárias e de danos,
proteção internacional de trabalhadores, salários de marinheiros e outros casos
como epizootias, reivindicações por danos de guerra e regulações sanitárias.
Evidentemente, conclui Murphy, nenhum dos poderes tinha vontade de concretizar
a terceira conferência da Haia, planejada para 1914.14
Nesse período, de extrema exacerbação dos nacionalismos, de retorno ao
protecionismo comercial e de ascensão potencial dos conflitos entre as
"potências imperialistas", ocorre também um refluxo das organizações
multilaterais. De fato, as atividades das uniões internacionais são cada vez
mais contaminadas por considerações nacionais, o que leva ao insucesso de
muitas delas: praticamente um terço delas não sobreviveu à Primeira Guerra
Mundial, como relata Murphy.15 As relativas à infra-estrutura, à indústria, à
propriedade intelectual e ao comércio sobreviveram, muito embora algumas
tiveram seu potencial diminuído com o desaparecimento de alguns de seus
patrocinadores tradicionais (reis e príncipes). O historiador norte-americano
apresenta a lista das organizações que foram abolidas antes de 1920:
1. Administrando Conflitos Sociais Potenciais
1.1. Agricultura:
União Internacional do Açúcar: cessou com a I Guerra
2. Reforçando os Estados e o Sistema de Estados
2.1. Administrando conflitos interestatais:
Corte Internacional de Presas [marítimas]: cessou com a I Guerra
Corte Permanente de Justiça Internacional: maior parte das funções
foi para a Corte Internacional de Justiça, resultante do Tratado de
Versalhes
3. Reforçando a Sociedade:
3.1. Direitos Humanos:
Escritório Internacional Marítimo contra o Tráfico Escravo: algumas
funções foram para a Liga das Nações e depois para a ONU
3.2. Salvamento e Bem-estar:
Bureau de Informações e Investigação relativo à Ajuda para
Estrangeiros: cessou com a I Guerra
3.3. Saúde:
1900: Comissão de Revisão da Nomenclatura das Causas de Morte: maior
parte das funções foi para a Liga das Nações e depois para a ONU
Associação Internacional de Banhos Públicos e da Limpeza: cessou com
a I Guerra
3.4. Educação e Pesquisa:
Associação Geodética Internacional: privatizada na I Guerra
Comitê Internacional Meteorológico: privatizado na Longa depressão
Associação Internacional de Sismologia: privatizada na I Guerra
Bureau Central para a Cartografia Internacional: maior parte das
funções foi para a Liga das Nações e depois para a ONU
Quais foram as razões fundamentais que explicam o desaparecimento dessas
organizações, técnicas em sua maior parte? Segundo Murphy, apesar da unificação
de padrões industriais e dos avanços materiais, a Europa permaneceu
politicamente dividida. Entre 1885 e 1900, ocorreu na Europa um processo de
unificação de mercados similar ao que ocorreria depois dos Tratados de Roma e
da unificação de mercados comunitária. Mas, os conflitos comerciais se instalam
rapidamente: a Alemanha começou a "tomar" mercados dos britânicos, graças a sua
posição central e maior eficiência mercadológica.
As uniões eram verdadeiramente necessárias?, pergunta Murphy, apresentando em
seguida uma série de argumentos históricos, segundo o modelo contra-factual,
para sustentar seus argumentos. Elas certamente ajudaram a abrir os mercados
europeus e a fazê-los funcionar da mesma forma que no vasto território dos
Estados Unidos. A vastidão dos mercados é decisiva no sentido em que tem de
haver retorno para os importantes investimentos iniciais feitos em supridores,
serviços, marketing e em R&D (pesquisa e desenvolvimento). Antes das
uniões, os capitalistas já estavam construindo ferrovias em direção de outros
países, mas eles não poderiam, aparentemente, ter criado um grande mercado
apenas em virtude de suas ações isoladas, sem padronização ou regras comuns de
proteção à propriedade intelectual. Os governos poderiam bloquear, como de fato
o fizeram pouco depois, uma linha telegráfica em nome da segurança nacional, da
mesma forma como eles promoveram linhas não rentáveis em nome da defesa
nacional, do interesse público ou mesmo do imperialismo. Murphy pergunta se
acordos bilaterais poderiam ter funcionado no lugar das uniões. Num certo
sentido sim, e a maior parte das ligações transfronteiriças eram operadas num
quadro bilateral e, da mesma forma como os acordos comerciais, eles continham
quase todos a cláusula de nação-mais-favorecida (NMF). Mas, isso seria por
demais custoso em termos de operacionalização e administração: considerando-se
que a Europa pré-guerra era formada de 11 grandes países industriais (Alemanha,
Áustria-Hungria, Bélgica, Dinamarca, França, Grã-Bretanha, Itália, Países
Baixos, Rússia, Suécia e Suíça), seriam necessários 55 acordos bilaterais para
preencher o papel de um único acordo elaborado numa conferência multilateral.
Os liberal-internacionalistas do século XIX não podiam imaginar que conflitos
irremediáveis poderiam emergir a partir dos vastos mercados que eles estavam
interessados em criar. Mas, como diz Murphy, "a segunda revolução industrial
criou ou exacerbou todos os conflitos que levaram à Grande Guerra. O dinamismo
das economias industriais da Europa começou a ameaçar a velha ordem social ao
mesmo tempo em que a nova economia criava ressentimentos na periferia próxima
do centro industrial europeu e um desenvolvimento desigual entre os poderes
industriais. Todos esse conflitos combinaram-se para garantir que uma
modalidade competitiva de nacionalismo oficial tomaria o lugar do nacionalismo
benigno antecipado pelos liberais do século XIX. À medida em que a Europa se
endurecia em dois blocos competitivos, as instituições do século XX criadas
para enfrentar conflitos internacionais tornaram-se ineficazes. A maior parte
das instituições cooperativas da sociedade civil não eram simplesmente voltadas
para gerir um mundo no qual conflitos de interesse inerentes tomaram o lugar da
harmonia implícita de interesses; assim as Uniões Públicas Internacionais pouco
puderam fazer para evitar a crise final".16
Uma experiência frustrada de internacionalismo: a Liga das Nações
Baseada nos princípios saudavelmente democráticos de Wilson, a sociedade
internacional concebida em 1918 prometia um mundo mais aberto e consensual, mas
sua vinculação "genética" com a Paz de Versalhes certamente não contribuiu para
manter esse empenho. Em termos quantitativos, a Liga das Nações começou a
trabalhar com 42 países membros, o que parece enorme quando comparado ao
Congresso de Viena, um século antes, ou mesmo às conferências da Haia, mas que
na verdade corresponde à expansão dos Estados nacionais com o final dos grandes
império multiétnicos. Ela chegou a alcançar 63 membros na sua fase de maior
expansão, nos anos 30, mas, diversos países dela se retiraram, como
"pioneiramente" o Brasil (em 1926) e, mais tarde a Itália mussoliniana e a
Alemanha hitlerista, depois de 1933, ou o Japão, invasor da Manchúria em 1931 e
da própria China em 1937.
O elemento inédito, em termos histórico-institucionais, é a tendência crescente
à negociação de instrumentos plurilaterais e mesmo multilaterais, no lugar dos
tradicionais acordos bilaterais. Com efeito, até meados deste século, pelo
menos, os tratados bilaterais de amizade, comércio e navegação ' contendo ou
não a cláusula de nação-mais-favorecida ' representavam o instrumento mais
utilizado na vida econômica externa dos países: eles regulavam os diversos
aspectos da cooperação econômica e técnica bilateral, inclusive a proteção aos
nacionais e aos investimentos da outra parte. O sistema de Versalhes avançou na
direção de uma regulação multilateralista das relações internacionais, mas além
de seu penchant tipicamente político-militarista, ele deixava a desejar na
seleção dos instrumentos e mecanismos mobilizados para fazer "reviver" o
universo do padrão-ouro e o mundo do livre-cambismo, de resto mais proclamados
do que reais. Algumas conferências foram convocadas, reuniões mantidas sob a
égide da Sociedade das Nações, mas muito pouco pôde-se fazer em termos de
construção efetiva de uma ordem internacional duradoura no espaço histórico da
"segunda Guerra de Trinta Anos" em que parece ter vivido a Europa, e com ela
grande parte do mundo, entre 1914 e 1945. Keynes, aliás, em plena conferência
de Paris, já tinha alertado, em seu célebre "panfleto", sobre as Conseqüências
Econômicas da Paz, para as "loucuras econômicas" de Versalhes, como elementos
potenciais de uma nova desestabilização política do continente.
No plano econômico multilateral, o cenário é caracterizado por poucas
negociações e, de fato, nenhuma regulamentação substantiva, a não ser por
algumas conferências internacionais de cooperação, no âmbito da Liga das Nações
ou do Escritório de Bruxelas (dedicado à facilitação aduaneira e ao intercâmbio
de estatísticas e de pautas de comércio exterior). Os debates sobre questões
comerciais ou monetárias redundam em rotundos fracassos et pour cause: segundo
um historiador, a Liga das Nações "não era suficientemente universal para
conseguir uma conciliação geral, nem suficientemente coesiva para conseguir uma
ação decisiva como um concerto de potências".17
O entre-guerras, a não ser por algumas iniciativas da Liga das Nações em
questões de simplificação aduaneira e de mútua aceitação de cheques e notas
cambiais, não assiste a nenhum desenvolvimento notável do sistema comercial
multilateral, sendo antes um período de bilateralismo estrito, quando não de
"guerra comercial". Uma primeira conferência econômica da Liga, em 1927, tentou
converter esforços bilaterais e unilaterais de liberalização comercial em um
tratado de redução multilateral de tarifas, sob o princípio da NMF, mas o
tratado recebeu muito poucas ratificações para entrar em vigor, inclusive
porque os EUA não reduziram substancialmente suas tarifas. A Alemanha, apesar
de proibida pelo diktat de Versalhes, retomou inclusive sua liderança aérea,
estabelecendo as primeiras ligações internacionais fora de acordos. No plano
hemisférico, ocorrem algumas reuniões dedicadas ao tratamento comercial
uniforme, a questões arbitrais e outras matérias técnicas.
A crise de 1929 e a depressão que se seguiu determinaram um reforço ainda maior
das tendências protecionistas e de esquemas estritamente bilateralistas,
inclusive do ponto de vista dos pagamentos, com a introdução de acordos de
compensação. De fato, ela precipitou a desordem mundial pela próxima década e
meia. De uma forma geral, esse período foi incapaz de restabelecer as condições
de uma ordem internacional aceita por todos os parceiros, sobretudo em virtude
de atitudes defensivas por parte da Entente e o prosseguimento de políticas
coloniais.
Ainda assim, várias organizações internacionais emergem nesse período, como se
pode constatar pela lista transcrita abaixo, estabelecida mais uma vez de
maneira competente por Murphy.18
1. Promovendo a Indústria
1.1. Infra-estrutura:
1919: Comissão de Navegação Aérea
1920: Instituto Internacional de Refrigeração
1925: Comitê Consultivo para o Telégrafo e o Telefone
1926: Comitê de Peritos em Questões Aéreas
1927: Comitê Consultivo para o Rádio
1.2. Padrões Industriais e Propriedade Intelectual:
1926: Federação das Sociedades de Padronização
1934: Comissão Internacional para as Indústrias Alimentares
1.3. Comércio:
1919: Instituto Internacional de Comércio
1931: Escritório Internacional de Feiras (Exposições)
1.4. Administração:
1925: Instituto Internacional de Administração
2. Administrando Conflitos Sociais Potenciais
2.1. Trabalho:
1919: Organização Internacional do Trabalho
2.2. Agricultura:
1924: Escritório Internacional de Epizootias
1924: Escritório Internacional da Uva e do Vinho
1939: Comitê Assessor Internacional do Algodão
3. Reforçando os Estados e o Sistema de Estados
3.1. Ordem Pública:
1923: Interpol
1926: Academia Diplomática Internacional
3.2. Finanças Públicas:
1930: Banco de Compensações Internacionais
3.3. Administrando conflitos interestatais:
1920: Liga das Nações
1920: Corte Permanente de Justiça Internacional
3.4. Refugiados:
1939: Comitê Intergovernamental de Refugiados
4. Reforçando a Sociedade
4.1. Direitos Humanos:
1926: Instituto Internacional para o Direito Privado
4.2. Salvamento e Bem-estar:
1927: União Internacional de Socorro
1931: Organização da Defesa Civil Internacional
4.3. Saúde:
1919: Comissão Internacional para Medicina Militar
4.4. Educação e Pesquisa:
1921: Organização Hidrográfica Internacional
1925: Escritório Internacional de Educação
1925: Instituto Internacional de Cooperação Intelectual
O sistema onusiano do pós-guerra: promessas e limites
Argumentando sempre em termos de "democratização" do sistema internacional,
pode-se constatar que as Nações Unidas, finalmente, encetaram sua missão
universal de paz e desenvolvimento com pouco mais de 50 países membros,
alcançando quase 200 neste meio século de existência. Esse movimento de
ampliação da "base censitária" do sistema internacional tem sua equivalência no
plano dos processos de democratização social e política das principais
sociedades ocidentais, com uma lenta mas segura incorporação das massas
operárias aos benefícios da democracia política e do Estado de bem estar; nessa
evolução secular, o Brasil originalmente monárquico também abandonou o sistema
de voto censitário e as formas mais gritantes de exclusão social em favor de
formas restritas de inclusividade social no período republicano, movimento
acelerado no Estado varguista e completado na fase recente.
Na nova fase do pós-segunda guerra, o ordem internacional deixa de ser
formulada, segundo Murphy, pelos "fundamentalistas" da Liga das Nações e passa
a ser administrada pelos "keynesianos" das Nações Unidas, começando por Bretton
Woods. "Cooperação em finanças públicas, apoio aos refugiados e ajuda aos
países menos desenvolvidos são três áreas de atividade para as Nações Unidas
que não têm precedentes nas Uniões Internacionais Públicas" do período
anterior. 19 Mas, ele também estabelece claramente os limites sob os quais deve
passar a atuar a ONU: a Guerra Fria, iniciada praticamente com a inauguração
dessa entidade, "terminou com qualquer esperança de que uma organização mundial
pudesse estar no centro do sistema do pós-guerra de administração de conflitos
entre os grandes poderes". 20 O sistema das Nações Unidas "requeria o tipo de
consenso entre grandes poderes que tinha existido sob o sistema das
conferências européias do século XIX" e isso estava claro, pela atitude de
Stalin, que não iria mais ocorrer. A Revolução maoísta ' e o conseqüente
isolamento da China das Nações Unidas, durante várias décadas ', assim como o
conflito Norte-Sul também dificultou a emergência de algum tipo de "governo
mundial". Mas, o sistema das Nações Unidas era muito mais realista do que o da
Liga, embora a partir dos anos 60 ' a partir das independências de ex-colônias
européias ' a maioria automática do Terceiro Mundo na Assembléia Geral tenha
servido para retrair algo do antigo multilateralismo dos EUA: muitas novas
agências foram criadas desde então, precipitando talvez a crise de todo o
sistema.
De fato, a partir da segunda metade deste século, e com maior vigor a partir
dos anos 1960, os acordos multilaterais começaram a suplantar os instrumentos
bilaterais enquanto mecanismos reguladores da vida econômica das nações.
Inaugurados timidamente no último terço do século XIX, durante a fase do
capitalismo triunfante, mas interrompidos logo depois pelos desastres
políticos, econômicos e sociais das duas guerras mundiais e mais
particularmente pelos fenômenos da depressão e do protecionismo dos anos 30, os
instrumentos multilaterais passam a estar no centro da reconstrução da ordem
econômica internacional, que começou a ser elaborada, sob a égide da ONU, em
bases essencialmente contratuais e institucionalistas. 21
Os Estados, sob a discreta pressão da potência hegemônica nessa época, aceitam
transferir uma parte de suas soberanias respectivas ' ou melhor, de suas
competências reguladoras ' em favor de uma administração concertada de alguns
setores da vida econômica, sobretudo no campo do comércio, das finanças e dos
meios de pagamentos e adicionalmente no da regulação de alguns aspectos da vida
produtiva (como o das relações de trabalho, por exemplo). A conferência de
Bretton Woods (julho-agosto de 1944) é o marco inicial desse processo
"fundador" multilateral (com a criação do Fundo Monetário Internacional e do
Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento), que se desdobra
igualmente em Chicago (dezembro de 1944: Organização da Aviação Civil
Internacional) e no Quebec (1945: Organização para a Alimentação e
Agricultura), bem como nas várias conferências do pós-guerra em capitais
européias e em cidades norte-americanas (1946-47), preparatórias à conferência
sobre comércio e emprego de Havana (1947-48), que deveria completar o tripé
institucional concebido em Bretton Woods, acrescentando uma organização
dedicada exclusivamente ao comércio (mas num sentido amplo) às entidades já
criadas para os aspectos monetário (FMI) e financeiro (BIRD).
A emergência de novos instrumentos e instituições multilaterais de caráter
econômico se deu durante as três décadas seguintes ' reforma do GATT,
surgimento da UNCTAD, criação da ONUDI e de diversos outros foros para inserir
os países menos avançados na economia mundial ', culminando com a própria
tentativa de estabelecimento, pelos países em desenvolvimento, de uma "nova
ordem econômica internacional". 22 As grandes mudanças nos cenários político e
econômico mundiais, nos anos 1980, com a fragmentação política do chamado
Terceiro Mundo, a emergência da Ásia e a derrocada econômica do mundo
socialista, acarretaram situações inéditas do ponto de vista das relações
internacionais, sobretudo em sua vertente econômica. À "diplomacia comercial"
do tratamento especial e mais favorável para os países em desenvolvimento, isto
é, o estabelecimento de regimes concessionais sem reciprocidade ' propugnado
com bastante ênfase pelo Brasil durante os 1960-1980, marcados pela idéia
desenvolvimentista ' veio somar-se, nos anos 1990, a "diplomacia dos
investimentos", praticada por países asiáticos dotados de grande atratividade
para os capitais produtivos, e a "diplomacia do ajuste estrutural", em que se
empenharam nos anos 1980 os latino-americanos e africanos e se empenham ainda
hoje africanos e ex-socialistas. Os recursos limitados colocados à disposição
das instituições de financiamento sistêmico de desajustes estruturais
contrastam com a enormidade dos fluxos de capitais voláteis suscitada pela
integração dos mercados financeiros e o aparecimento de instrumentos derivados
de liquidez.
De modo geral, as instituições de Bretton Woods, a OCDE e a nova Organização
Mundial do Comércio ganham relevância em relação à UNCTAD, que pretendeu ser,
nos anos 1970, o principal foro negociador de uma "nova ordem econômica
internacional". 23 A OMC, por exemplo, passou a ser encarregada de administrar,
desde 1995, os resultados da mais complexa rodada de negociações comerciais
multilaterais ' envolvendo agricultura, serviços, investimentos e propriedade
intelectual, por exemplo ' já conhecida na história econômica contemporânea. O
FMI e o BIRD se vêm confrontados, cada um à sua maneira, a gigantescos fluxos
de capitais voláteis ou a necessidades insaciáveis de capitais para
investimentos, num contexto de instabilidade crescente dos mercados
financeiros. A OCDE se lança em iniciativas ' como a negociação de um Acordo
Multilateral sobre Investimentos ' que passam a evidenciar um novo papel
negociador, ademais de suas tradicionais funções enquanto foro de coordenação
de políticas macroeconômicas.
As organizações do multilateralismo contemporâneo
Como situar, nesse contexto, o papel da diplomacia multilateral? Ele se torna
certamente mais complexo, permanente e constante, e não apenas restrito aos
temas habituais ou exercido apenas por ocasião de grandes conferências, como no
passado. Esse tipo de diplomacia passa a tocar em terrenos não apenas
comerciais, ou pelo menos não classicamente econômicos: meio ambiente, recursos
naturais, tecnologias da informação e de comunicações, normas laborais,
questões sociais de um modo geral. 24 Os instrumentos jurídicos resultantes dos
diferentes foros negociadores acumulam-se com velocidade espantosa: à
multiplicidade particularista e pouco homogênea dos antigos acordos bilaterais
de tipo político sucede a enormidade quantitativa de atos multilaterais,
buscando aplicar um conjunto uniforme de regras institucionais ' acesso a
mercados, não-discriminação, solução de controvérsias ' a matérias complexas e
tematicamente diversas. Em outros termos, o adequado tratamento do escopo
jurídico e do quadro institucional das relações internacionais contemporâneas
tornou-se essencial para a plena compreensão dos modos possíveis de inserção
externa de um país como o Brasil.
O mundo hoje é, reconhecidamente, mais global do que nunca. Seja por efeito do
"fim da História", seja como resultado da unificação dos mercados capitalistas,
o "Mundo Livre", como argumenta Murphy, unificou a ordem inter-imperial do
começo do século e o sistema norte-americano expandiu-se para incluir o Japão.
Não está muito claro qual o papel relativo das organizações internacionais e o
do poder hegemônico, mas eles podem ser considerados como complementares.
Segundo esse historiador, "se a dissuasão nuclear pode ter servido para
'conter' o comunismo, as organizações mundiais facilitaram importantes formas
de cooperação entre países divididos pela ideologia. Elas permitiram que as
superpotências trabalhassem juntas para minimizar a proliferação nuclear e
conter alguns dos violentos conflitos nos quais elas estavam sustentando lados
opostos. O sistema da ONU também ajudou os adversários globais a usar recursos
comuns globais ' os oceanos, o radio-espectro e o espaço exterior ' sem chegar
às vias de fato. Finalmente, as organizações intergovernamentais globais
facilitaram o comércio e a cooperação social entre sistemas, tarefas largamente
empreendidas pelas atualmente desprezadas UNCTAD e UNESCO".25
Sem que seja mais necessário dividir o mundo entre sistemas opostos,
recorremos, uma vez mais, ao trabalho de Murphy para uma última relação das
organizações relevantes do multilateralismo contemporâneo:26
1. Promovendo a Indústria
1.1. Infra-estrutura:
1944: OIAC/ICAO (Organização Internacional da Aviação Civil)
1947: Junta Internacional de Registro de Freqüências
1948: Organização Internacional Consultiva Marítima
1957: Conselho Consultivo de Estudos Postais (UPU)
1964: Intelsat (Oganização Internacional de Telecomunicações por
Satélite)
1.2. Padrões Industriais e Propriedade Intelectual:
1944: Comissão das Nações Unidas para a Padronização
1946: ISO (Interrnational Standardization Oganization)
1952: Comitê Internacional do Direito Autoral
1955: Organização Internacional de Metrologia Legal
1961: União para a Proteção das Variedades Vegetais (UPOV)
1962: FAO/OMS Comissão do Codex Alimentarium
1967: OMPI (Organização Mundial da Propriedade Intelctual)
1.3. Comércio:
1948: GATT (Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio)
1950: Conselho de Cooperação Aduaneira
1964: Centro Internacional de Comércio
2. Administrando Conflitos Sociais Potenciais
2.1. Trabalho:
1959: Centro de Saúde e Segurança no Trabalho
1960: Instituto Internacional de Estudos Sociais (OIT)
1963: Centro de Treinamento Vocacional
2.2. Agricultura:
1944: Grupo Internacional de Estudos sobre a Borracha
1945: FAO (Organização para a Alimentação e a Agricultura)
1947: Grupo Internacional de Estudos sobre a Lã
1946: Comissão Internacional da Baleia
1948: Comissão Internacional do Arroz
1948: Comissão Sericícola Internacional
1949: Conselho Internacional do Trigo
1950: Conselho Internacional do Óleo de Oliva
1951: Conselho de Apelação de Origem de Queijos
1958: Organização Internacional do Açúcar
1962: Organização Internacional do Café
2.3. Outros velhos setores:
1956: Conselho Internacional do Estanho
1959: Grupo de Estudo Internacional do Chumbo e do Zinco
2.4. Países menos Avançados:
1945: Banco Mundial
1946: UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância)
1955: Instituto de Desenvolvimento Econômico
1956: Corporação Financeira Internacional
1957: Fundo Especial da ONU para o Desenvolvimento
1958: Centro para a Preservação da Propriedade Cultural
1960: Associação Internacional de Desenvolvimento
1962: Secretariado Internacional para o Serviço Voluntário
1963: Programa Alimentar Mundial
1964: UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o
Desenvolvimento)
1965: PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento)
1966: Centro Internacional para Solução de Controvérsias sobre
Investimentos
1966: Fundo das Nações Unidas para o "Capital" Desenvolvimento
1967: ONUDI (Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Industrial)
1968: Centro da OMS para o Suprimento de Água das Comunidades
1969: Fundos das Nações Unidas para Atividades de População
1970: Banco Internacional de Investimentos
3.Reforçando os Estados e o Sistema de Estados
3.1. Ordem Pública:
1963: Instituto das Nações Unidas para o Treinamento e a Pesquisa
1968: Conselho para o Processamento de Dados nos Governos
1968: Instituto das Nações Unidas para Pesquisa em Defesa Social
3.2. Finanças Públicas:
1945: FMI (Fundo Monetário Internacional)
3.3. Administrando conflitos interestatais:
1945: Organização das Nações Unidas
1945: Corte Internacional de Justiça
1956: AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica)
1970: Sistema Internacional de Informação Nuclear
3.4. Refugiados:
1943: Administração das Nações Unidas de Socorro e Reabilitação
1946: Organização Internacional de Refugiados
1950: Agência das Nações Unidas de Socorro e Obras (Palestina)
1951: ACNUR (Alto Comissariado para os Refugiados)
1951: Comitê Intergovernamental para as Migrações Européias
4. Reforçando a Sociedade
4.1. Direitos Humanos:
1945: Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas
1947: Centro das Nações Unidas contra o Apartheid
4.2. Salvamento e Bem-estar:
1950: Centro Internacional da Criança
1963: Instituto de Pesquisa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Social
4.3. Saúde:
1946: OMS (Organização Mundial da Saúde)
1955: Grupo Assessor das Nações Unidas sobre Proteínas e Calorias
1961: Junta Internacional de Controle de Narcóticos
1965: Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer
4.4. Educação e Pesquisa:
1945: UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência
e Cultura)
1946: Organização Meteorológica Mundial
1951: Instituto da UNESCO para a Educação
1960: Comissão Oceanográfica Internacional
1963: Instituto Internacional para o Planejamento Educacional
1970: Centro Internacional de Física Teórica
Construindo a paz universal?
Este longo itinerário histórico-analítico sobre a construção da ordem
internacional contemporânea permitiu constatar que, a despeito dos percalços
eventuais, a "comunidade internacional" se ampliou e se democratizou bastante
em relação aos padrões conhecidos no século XIX. As autorizações oficiais para
"guerra de corso", finalmente, foram banidas desde 1856 e não se encontram mais
em moda "presas" e "butins". Muito embora os bloqueios e a "diplomacia da
canhoneira" possam estar ainda eventualmente em uso, deve-se reconhecer que a
força do direito tende a ampliar sua margem de atuação em relação ao direito da
força. Trata-se de um desenvolvimento significativo em relação ao realismo cru
do século XIX, quando navios de guerra das nações "civilizadas" se achavam no
direito de violar impunemente, em nome de um conceito auto-assumido de
"justiça", as águas territoriais e, como ocorreu em algumas ocasiões, até mesmo
os portos brasileiros.
Por outro lado, a despeito de uma configuração basicamente "liberal"
apresentada pela "ordem econômica internacional" no século XIX e, inversamente,
das tendências fortemente estatizantes, intervencionistas e protecionistas
observadas em nosso próprio século, assim como das tentativas frustradas de
construção de uma "nova ordem econômica internacional" no período recente,
deve-se enfatizar a crescente interdependência do mundo econômico
contemporâneo. A revolução industrial, agora em sua terceira geração, chegou à
periferia, alterou radicalmente fluxos de intercâmbio de bens, serviços e
capitais e continua produzindo grandes modificações nos padrões de distribuição
da riqueza e da tecnologia proprietária em nível mundial. Certamente que, em
termos de poder e dinheiro, a "oligarquia econômica mundial" não é muito
diferente hoje do que ela era em meados ou finais do século XIX, mas novos
atores entram em cena ' as chamadas "economias emergentes" ' e os termos do
intercâmbio global não reproduzem mais necessariamente, pelo menos para alguns
desses atores, o tradicional padrão Norte-Sul de trocas entre bens primários e
produtos manufaturados.
Mais importante, ainda, uma fração crescente do "poder regulatório
internacional" deixou a esfera puramente bilateral das relações entre Estados
soberanos para concentrar-se cada vez mais no seio de organizações
intergovernamentais dotadas de staff técnico capacitado para lidar com os
complexos problemas da agenda econômica internacional. É evidente que o poder
real de propor, negociar e implementar medidas efetivas de acesso a mercados ou
normas disciplinadoras das relações econômicas internacionais permanece e
permanecerá com os Estados individuais, mormente com os mais poderosos dentre
eles. Mas, não resta dúvida que a emergência do multilateralismo econômico
representa um enorme avanço sobre a era dos "tratados desiguais" do século XIX.
Entre o cosmopolitismo esclarecido dos pioneiros do século passado, ao
organizar as primeiras reuniões fundacionais das "uniões" e "escritórios de
cooperação", e as grandes conferências globais onusianas deste final de século,
o mundo certamente evoluiu para melhor, no sentido em que se logrou diminuir
enormemente o potencial de conflito embutido nas divergências de interesses por
motivos econômicos. Muito embora as organizações originais de cooperação
industrial não tenham conseguido evitar dois desastrosos conflitos mundiais
neste mesmo século, o surgimento da ONU, em 1945, e a multiplicação de suas
agências especializadas desde então, fez com que o cenário político
internacional certamente se aproximasse um pouco mais dos projetos de "paz
perpétua" advogados pelo primeiro internacionalista liberal conseqüente: Kant.
O consenso tornou-se um princípio quase que imutável de negociação de
interesses econômicos divergentes e a global governance buscada desde os tempos
do filósofo de Königsberg vem sendo pacientemente construída, ainda que de
forma parcial e parcelada, pela miríade de instituições multilaterais hoje
existentes. A emergência do liberal-internacionalismo neste final de século
talvez não signifique a confirmação da paz universal, tal como pretendia Kant
no final do século XVIII, mas sem dúvida a guerra tornou-se bem mais difícil no
limiar do século XXI. Uma única guerra parece doravante justificada: a guerra
pelo desenvolvimento econômico e social de quase dois terços de países membros
do sistema internacional contemporâneo.
Notas
1 Cf. Craig N. Murphy, International Organization and Industrial Change: global
governance since 1850.Nova Iorque: Oxford University Press, 1994, p. 61.
2 A União Telegráfica Internacional, por exemplo, fundada em Paris em 1865 e
antecessora da atual União Internacional de Telecomunicações, é provavelmente a
decana dessas organizações multilaterais (mas, o Brasil já firmava, desde 1864,
um tratado com a França e outros países europeus sobre a construção de uma
linha telegráfica entre a Europa e a América); segue-se, em 1874, a Convenção
de Berna criando uma União Geral dos Correios, antecessora da atual União
Postal Universal; o Bureau International des Poids et Mesures, em 1875 (cuja
filiação brasileira demorou, apesar do País aplicar seus princípios); a
Convenção de Paris criando uma União para a proteção da propriedade industrial,
em 1883; a Convenção de Berna para a proteção das obras literárias e
artísticas, em 1886 (esta de adesão bem mais tardia), e, finalmente, a
Convenção de Bruxelas de 1890 criando uma União para a publicação das tarifas
aduaneiras, precursora da atual Organização Mundial das Alfândegas; o Brasil
esteve ausente, compreensivelmente, dos acordos regionais de ligação entre vias
férreas dos países europeus.
3 Cf. Relatório da Repartição dos Negócios Estrangeiros apresentado à
Assembléia Geral Legislativa na primeira Sessão da décima Legislatura [2de maio
de 1857]. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1857, pp. 13-15. Em sua Nota, o Governo Imperial saudava a "adoção de máximas
tão moderadas e justas" e declarava esperar que "a política sábia e generosa
que inspirou tão feliz iniciativa, regulará também a sua verdadeira prática,
evitando-se assim as divergências e conflitos que têm dado lugar em todas as
épocas as restrições dos 2° e 3° princípios, no tocante ao direito de visita e
a qualificação de mercadoria hostil..."; "... mas, em nome dos mesmos
princípios, é lícito ainda pedir às potências signatárias... a conseqüência
salutar que se contém nas máximas que elas proclamaram... que toda propriedade
particular inofensiva, sem exceção dos navios mercantes, deve ficar ao abrigo
do direito marítimo contra os ataques dos cruzadores de guerra".
4 Vide os tratados de 22 Junho 1861 (Hanover) e de 16 Julho 1863 (Bélgica) in;
José Manoel Cardoso de Oliveira, Actos Diplomaticos do Brasil. Rio de Janeiro:
Typ. do Jornal do Commercio, 1912,, vol. I, pp. 293-294 e 324-325 (existe ediç ão fac-similar: Brasília: Senado Federal, 1997, com introdução
e atualização dos atos multilaterais até 1996 por Paulo Roberto de Almeida);
segundo informam os Relatórios do MNE de 1862 e 1864, "o governo imperial teve
de desembolsar [no caso do rio Elba] 1.038 thalers, ou 1:417$081, quantia
insignificante, considerando-se a importância da negociação" (1862, p. 31), e
1.680 francos pelo trânsito no rio Escalda (1864, p. 24). Em contrapartida, o
Governo imperial recusou-se a contribuir para o resgate dos direitos de
passagem pelos estreitos de Sunda e de Belts, objeto de convenção de 1857, sob
administração da Dinamarca ("a fim de não contrair voluntariamente um ônus em
pura perda para os cofres públicos"), ou então propunha reciprocidade por
permitir a livre navegação no Amazonas e para o Paraguai; ver Oliveira, vol.
II, pp. 33-34 e Relató rios de 1871, p. 50, e de 1872, Anexo
I, p. 172.
5 Decreto nº 3.749, regulamentado em 31 de julho de 1867; cf. Oliveira, Actos,
vol. I, p. 381.
6 O Relatório de 1882 relaciona, assim, mais de dúzia de conferências,
congressos e exposições aos quais o Governo Imperial tinha sido convidado; cf.
Relatório apresentado à Assembléia Geral Legislativa na primeira sessão da
décima-oitava legislatura pelo Ministro e Secretário de Estado interino dos
Negócios Estrangeiros Franklin Americo de Menezes Doria. Rio de Janeiro:
Typographia Nacional, 1882, p. 35.
7 Ver a lista às pp. 47-48; a Tabela 3 (pp. 57-59) traz a relação das
conferências européias e mundiais entre 1850 e 1914.
8 Pelo Artigo 5º da convenção, o privilegiado "ficará sujeito à obrigação de
usar seu privilégio, na conformidade das leis do país onde introduzir os
objetos privilegiados"; ver a Coleção das Leis do Império do Brasil de 1884
(Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1885), Parte II, Tomo XLVII, pp. 268-
276: Decreto n° 9.233, de 28 de junho de 1884, promulga a
convenção assinada em Paris a 20 de março de 1883, pela qual o Brasil e outros
Estados (Bélgica, Espanha, França, Guatemala, Itália, Países Baixos, Portugal,
El Salvador, Sérvia e Suíça) se constituem em União para a proteção da
propriedade industrial; acessão ulterior da Grã-Bretanha, da Tunísia, do
Equador e de outros Estados.
9 Nesse "Congresso dos Estados da América do Sul", celebrado em Montevidéu para
formular tratados em matéria de direito internacional privado, foram ainda
discutidas convenções sobre direito penal, direito civil e exercício de
profissões liberais, nenhuma delas suscetível de aprovação pelo Brasil, por
divergências em relação à legislação interna; ver Relatório apresentado à
Assembléia Geral Legislativa na quarta sessão da vigésima legislatura pelo
Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros Rodrigo Augusto da
Silva. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1889, pp. 5-11.
10 Cf. Relatório de 1889, op. cit., pp. 16-18 e 69-73.
11 Pela manutenção do Escritório, o Brasil pagaria, numa proporção calculada em
função da população, uma quota de 5.250 dólares, de um total de 36 mil,
enquanto os Estados Unidos ficariam com 18.800 e a Argentina 1.462 dólares; cf.
Anexo ao Relatório de 1900, pp. 107-109.
12 Idem, pp. 11-16. Como informa Clovis Melo, "A verdade é que, sem a
modernização da década de 80, a agroindústria açucareira não teria suportado o
golpe da libertação dos escravos"; cf. Os Ciclos Econômicos do Brasil. Rio de
Janeiro: Laemmert, 1969, p. 47. Em nova conferência
açucareira realizada em Bruxelas, em 1902, da qual resultou uma União
Internacional do Açúcar, tratou-se de criar um imposto adicional nos Estados
importadores de açúcar subsidiado, mas esse tipo de decisão não teve o
envolvimento do Brasil.
13 Ver a propósito José C. Gnaccarini, "A economia do açúcar: processo de
trabalho e processo de acumulação" in Boris Fausto, História Geral da
Civilização Brasileira, Tomo III, O Brasil Republicano, 1º volume, Estrutura de
Poder e Economia, 1889-1930. 5ª ed.; Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989, pp.
309-344.
14 Cf. Murphy, op. cit., pp. 50-55.
15 Idem, pp. 82-118.
16 Cf. Murphy, op. cit., p. 137.
17 Cf. David Thomson, Pequena História do Mundo Contemporâneo. Rio de Janeiro:
Zahar, 1967, p. 93.
18 Ver o capítulo 5, "Liberal Learning and the free world order" (pp. 153-187),
que analisa a emergência das "internacionais" do pós-guerra. O quadro de
organizações do entre guerras foi retirado da Tabela 6: "New world
organizations of the League and UN eras (established from 1919 through 1970)",
pp. 154-157.
19 Cf. Murphy, op. cit., p. 166.
20 Idem, p. 177.
21 Em face da meia dúzia de entidades "multinacionais" do século passado,
estima-se em cerca de 350 as organizações existentes atualmente, sendo pelo
menos uma centena de base universal; cf. Jean-Paul Jacqué, Les organisations
internationales contemporaines. Paris: Pedone, 1988, citado
pelo Professor Ricardo Seitenfus, Manual das Organizações Internacionais. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 1997, p. 21.
22 Para uma reconstituição extremamente profissional dos principais lances da
diplomacia econômica no período recente ver Luis Augusto Souto Maior, "A
diplomacia econômica brasileira no pós-guerra (1964-1990) in José Augusto
Guilhon de Albuquerque (org.), Sessenta Anos de Política Externa Brasileira
(1930-1990), Vol. II: Diplomacia para o Desenvolvimento. São Paulo: Cultura
editores associados, 1996, pp. 267-296, com ênfase na
problemática desenvolvimentista e na cooperação política e econômica regional.
23 Ver meus trabalhos "O Fim de Bretton-Woods?: a longa marcha da Organização
Mundial do Comércio", Contexto Internacional,vol. 16, nº 2, jul-dez 1994, pp.
249-282 e "OCDE, UNCTAD e OMC: uma perspectiva comparada
sobre a macroestrutura política das relações econômicas internacionais" in
Paulo Borba Casella e Araminta de Azevedo Mercadante (orgs.), Guerra Comercial:
aspectos de Direito Internacional: a Organização Mundial do Comércio e o
direito brasileiro. São Paulo: Ltr Editores, a ser publicado em 1998.
24 O tratamento político dado ao problema fundamentalmente econômico da chamada
"cláusula social" no comércio internacional do século XIX pode ter como
antecedente histórico a questão do tráfico escravo no século XIX; tratei desse
tipo de analogia, não de todo anacrônica, em meu artigo "A cláusula social no
comércio internacional", RBCE Comércio Exterior.Rio de Janeiro: Funcex, nº 40,
jul-ago-set 1994, pp. 52-60.
25 Cf. Murphy, op. cit., pp. 241-242.
26 Compilada novamente a partir da Tabela 6: "New world organizations of the
League and UN eras (established from 1919 through 1970)", pp. 154-157.
Novembro de 1997