A cooperação técnica do Brasil com a África: comparando os governos Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002) e Lula da Silva (2003-2010)
Apenas muito recentemente, os estudos sobre a política externa brasileira têm
buscado, de maneira mais sistemática, superar a sua tradição ensaística e
normativa, no sentido da busca de um mais amplo lastreamento empírico. É também
com o intuito de contribuir neste esforço de amadurecimento do subcampo que se
apresenta este trabalho, cujo objetivo parece-nos tão singelo como relevante e
inovador: analisar, comparativamente, a cooperação técnica provida pelo Brasil
para os países africanos durante os governos Fernando Henrique Cardoso (1995 -
2002) e Lula da Silva (2003 - 2010). Buscaremos identificar e comparar o número
e os tipos de acordos firmados, a sua dispersão geográfica no continente
africano e a diversidade temática dos projetos de cooperação técnica
horizontal, desenvolvidos pelo Brasil junto a seus mais tradicionais e aos
novos parceiros africanos. Pretende-se analisar os dados comparativos com o fim
de identificar, principalmente, traços característicos de uma política externa
que se orientou, em distintos momentos, por meio de um potencial - apesar de
subutilizado - poder brando. Outro aspecto que nos motivou a escrutinar a
dinâmica das atividades de cooperação técnica brasileira se relaciona à sua
baixa politização, não obstante o evidente paradoxo, para grande parte da
opinião pública, de um país em desenvolvimento como o Brasil ser reconhecido
como referência internacional nas atividades de cooperação horizontal.
Para a consecução destes objetivos, o artigo está estruturado da seguinte
maneira: na primeira seção, traçamos um breve panorama do desenvolvimento da
Cooperação técnica entre países em desenvolvimento (CTPD) do Brasil. A segunda
seção é dedicada a uma apreciação geral das relações do Brasil com a África nos
governos FHC e Lula. A terceira seção é iniciada por uma nota metodológica,
onde apresentamos a maneira como foi feita a pesquisa no banco de dados do
Departamento de Atos Internacionais (DAI) do Ministério das Relações
Exteriores. Em seguida, procedemos à comparação da CTPD provida pelo Brasil na
África durante os dois governos em questão. Nas considerações finais, os
padrões descobertos são reconectados às diretrizes mais gerais da política
externa dos governos FHC e Lula.
Um panorama do Brasil na cooperação técnica entre os países em desenvolvimento
Desde a década de 1940, a missão social da cooperação técnica internacional
(CTI) não significou, para os tomadores de decisões, a contrapartida ou o
corretivo potencial que justificasse o seu pleno empreendimento, capaz, por
exemplo, de estabelecer o equilíbrio entre o crescimento econômico e o
benefício social. Porém, foi este viés que orientou a organização e o
gerenciamento da CTI do Brasil, sobretudo até a década de 1980, com o objetivo
de agregar sempre mais consumidores e produtos ao mercado nacional.
Além do papel histórico de captação do conhecimento e da tecnologia que coube à
cooperação internacional brasileira, desde a transição para a industrialização
no país, esta passaria a ser utilizada, tanto no nível bilateral, desde a
década de 1930, quanto no nível multilateral, principalmente após a Segunda
Guerra, "como financiadora social, valendo-se de estratégias e mecanismos para
apoiar o desenvolvimento econômico, em razão da redução dos recursos
multilaterais para o desenvolvimento" (Valler_Filho_2007, 91).
Durante o período áureo do sistema internacional de CTI - fim dos anos 1960 a
início dos 1980 - condições quase ideais foram criadas no Brasil para o
desempenho dos agentes de cooperação. Eram elas, segundo Cervo:
a) inserção racional da CTI na política exterior; b) flexibilidade
para aceitar fins próprios e não-próprios definidos para a CTI pelos
países avançados; c) montagem de um sistema nacional articulado de
gerência da cooperação técnica; d) implantação de agências internas
bem preparadas em termos de recursos humanos e equipamentos para
cooperar; e) filosofia desenvolvimentista a impregnar a opinião
pública. (Cervo 1994, 40)
A CTPD brasileira, desde o início, mas sobretudo a partir da criação da Agência
Brasileira de Cooperação (ABC), em 1987, procurou diferenciar-se
consideravelmente da cooperação técnica tradicional (ou "vertical"). Procurou-
se esvaziar o discurso de assimetria entre prestador e recebedor, encurtando a
distância entre os participantes da CTPD, justificando, assim, o sentimento de
parceria que deveria forjar a aliança entre os membros do eixo Sul-Sul. Dessa
forma, rejeitava-se o caráter de assimetria e de desigualdade entre prestador e
receptor, tão presentes na cooperação Norte-Sul. (Valler_Filho_2007)
Não obstante, no plano mais geral, é relevante ressaltar que, atualmente, a
CTPD brasileira está de certa forma baseada em práticas e expectativas
consolidadas em fóruns e organismos multilaterais que atuam há décadas na
cooperação para o desenvolvimento. O modelo de concepção e de execução da CTPD
brasileira procura refletir a influência das categorias de análise, dos métodos
de trabalho, do instrumental e da própria lógica prevalecente no ambiente da
cooperação multilateral internacional, o que tende a reduzir o hiato entre os
processos mais modernos de accountability da cooperação promovida por países
desenvolvidos, classificados como doadores oficiais e membros do Comitê de
Assistência ao Desenvolvimento, em comparação com a cooperação entre países em
desenvolvimento.
Articular a cooperação para elevar a competitividade das bases produtivas
nacionais, como país prestador e recebedor de projetos, constituiu desafio à
cooperação brasileira. Para tanto, foram adotadas como diretrizes pela ABC a
priorização de programas e projetos escolhidos com base no critério de
qualidade, para valorizar a excelência nos âmbitos espacial e temático; a
escolha de iniciativas dentro do marco de referência maior da política externa
e das prioridades nacionais (Valler_Filho_2007).
Após a constituição da ABC, elaborou-se no Brasil, de acordo com Valler_Filho_
(2007), uma noção abrangente e complexa de cooperação internacional, ao ponto
de se poder intercambiá-la com a noção de política exterior, haja vista a
função de fomentadora do desenvolvimento nacional, requerida de ambas. Ademais,
percebe-se uma evolução conceitual no pensamento brasileiro e na prática
política do país, principalmente nas duas últimas décadas, quando a CTI
transitou de sua acepção original, como assistência técnica, para a da
cooperação para o desenvolvimento.
Essa evolução conceitual concluiu-se no momento em que se percebeu a
potencialidade da CTI promovida pelo sistema da ONU, que incluía a CTPD
(Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento). Sob o ponto de vista
brasileiro, a cooperação assistencial passou a causar ojeriza, visto que se
requeria da política exterior uma cooperação econômica, científica e
tecnológica a implementar-se entre as partes, em condições cada vez mais
igualitárias, em contraponto às alianças tradicionais. "A CTI prestada pelo
Brasil passa a integrar, progressivamente, a política exterior brasileira com
finalidades não próprias, ou seja, para criar e aprofundar laços econômicos,
tecnológicos e culturais." (Cervo_1994, 43)
As motivações da CTPD brasileira estiveram, em sua origem, também associadas à
necessidade de renovar o sistema de cooperação internacional, para reforçar as
capacidades dos países em desenvolvimento e facilitar-lhes a busca do
desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, conforme explica Puente:
O Brasil identificou na CTPD uma forma de reforçar sua aproximação
com países da América Latina e com países africanos de língua
portuguesa. Houve, portanto, na origem da cooperação técnica
horizontal do Brasil uma conjugação de elementos motivacionais
geopolíticos (vizinhança, entorno geográfico), com fatores
decorrentes de vínculos históricos e culturais, além de certo
componente ético, baseado na solidariedade entre as nações em
desenvolvimento. (Puente 2010, 114)
Antes de tratarmos, mais especificamente, da CTPD do Brasil com a África nos
governos FHC e Lula, buscando comparar as iniciativas brasileiras nos dois
períodos, apresentaremos a seguir, muito brevemente e de maneira geral, as
relações bilaterais durante os dois governos em questão, destacando o seu
significado no âmbito mais abrangente das relações internacionais do Brasil.
As relações entre o Brasil e a África nos governos FHC e Lula da Silva
O período que corresponde à gestão presidencial de FHC (1995-2002) desenrolou-
se quando ainda se consolidava a nova ordem internacional do pós-Guerra Fria. A
política externa brasileira, como é usual, não se restringiu ao âmbito
comercial, mas levou em conta, ademais, certas estratégias políticas que,
conforme o discurso oficial justificaram a seletividade das parcerias do país
com o continente africano. Conforme Ribeiro, essas estratégias "[...] derivam
de uma estratégia mais ampla, ou seja, do projeto de redefinição da inserção do
país no sistema internacional" (Ribeiro_2008, 288). A institucionalização da
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em 1996, que vinha sendo
articulada desde o governo Sarney (1985-1989), e a reaproximação com a África
do Sul pós-apartheid são iniciativas que ilustram esse formato seletivo de
parceria com a África, que, não obstante, contribuiu para o estreitamento de
relações comerciais e para a concertação política entre as partes.
Contudo, acreditamos que foi o pragmatismo na esfera comercial, sobretudo, que
norteou as ações de maior relevo na África, com destaque para as trocas
comerciais do Brasil com a Nigéria e com Angola, concentradas, mormente, em
óleo bruto. Sinal claro dessa orientação fora evidenciado quando FHC chefiava a
pasta das relações exteriores, durante o governo Itamar Franco (1993-1994).
Segundo o próprio FHC, chanceler à época:
[...] a insistência ou promoção de relações com países africanos
haveria sido um equívoco, tendo servido apenas para os militares
brasileiros afirmarem uma pretensa hegemonia no Atlântico Sul, sem
que o Brasil nada ganhasse em termos econômicos. (Cardoso 1993, 317)
Já como chefe do Executivo, após 1995, e dando prosseguimento ao processo
seletivo de articulação de parcerias, que em ampla medida excluía a África de
suas prioridades, embaixadas foram fechadas, durante sua gestão, em diversos
países africanos: em Adis Abeba (Etiópia), Dar Es Salam (Tanzânia), Iaundé
(Camarões), Kinshasa (República Democrática do Congo), Lomé (Togo) e Lusaca
(Zâmbia) (Ribeiro_2010). A diminuição da participação do Estado na economia,
componente estratégico do projeto político implementado no período, relegou a
África ao restrito investimento privado no que toca ao fomento e à prospecção
de investimentos no continente, principalmente no setor de construção civil.
Essa condição reduziu drasticamente o volume de recursos transacionados, sendo
que os esforços foram concentrados na regionalização Platina e nas trocas com
os países desenvolvidos. De acordo com dados de Saraiva_(2010), o volume de
comércio entre o Brasil e a África Negra na década de 1990 retornou ao que fora
registrado nas décadas de 1950 e de 1960. Conforme o autor, em comparação com a
década de 1980, na qual a corrente de comércio atingira 10%, na década em
análise o montante não compreenderia o total de 2% de produtos transacionados.
Apesar dessa conjuntura, a consolidação da CPLP revelou-se paradigmática,
porquanto se tratava de um projeto político, que se iniciou no governo Sarney,
mas que se institucionalizou no governo FHC, corroborando, pois, as diretrizes
seletivas de sua gestão. Os países lusófonos, inseridos na política de
seletividade do período, deram modesto alento às reduzidas relações com a
África, de onde podemos registrar, inclusive, alguns acordos de cooperação
técnica entre países em desenvolvimento (CTPD), dentre os quais podemos
destacar a criação do centro de treinamento técnico de Cazenga, em Angola,
construído em 1998. Desse modo, segundo Ribeiro, torna-se possível sugerir que
"a política externa brasileira em relação ao continente africano não chega a
registrar mudanças drásticas de agenda, mas de intensidade" (Ribeiro_2010, 74).
É digno de menção, também, o apoio brasileiro à estabilização da paz em Angola,
sob a égide das Nações Unidas, haja vista que o país liderou, durante a década
de 1990, a missão Unavem, o que ocorreria depois também em Moçambique, em
consonância com a política de seletividade que incorporava os países lusófonos
na esfera estratégica do Brasil. (Hirst e Pinheiro 2008).
Interessante material, que sintetiza com detalhes as relações do Brasil com a
África durante o governo FHC, foi elaborado pelo embaixador e à época Diretor-
Geral do Departamento de África e Oriente Próximo do Ministério das Relações
Exteriores, José Vicente de Sá Pimentel, e publicado em revista especializada,
no ano de 2000. Dando destaque ao maniqueísmo das relações com o continente
africano, Pimentel estabelece dois grupos extremados de abordagem: os
catastrofistas e os nostálgicos.
Os nostálgicos costumam sublinhar as nossas responsabilidades históricas e se
queixam de que já não há uma política africana com brilho e ousadia comparáveis
à dos anos 70. Proclamam que o Governo tem obrigação de fazer mais, em
decorrência de nossa dívida irresgatável para com a África. Os catastrofistas
brandem estatísticas e vociferam que o Brasil não tem mais nada a fazer com os
africanos. [...] o que distingue, de fato, os catastrofistas é a descrença em
que os africanos possam reverter esse quadro. Há gradações de racismo
indisfarçáveis em seu pretenso realismo. (Pimentel_2000, 6)
Pimentel_(2000) situa a política externa do Brasil para a África, em sentido
amplo, entre os dois extremos, justificando essa postura com base na
necessidade de seletividade das parcerias. Segundo o embaixador, seletividade
[...] não significa desinteresse pelas grandes causas comuns a todos
os africanos - de resto, a toda a humanidade - como a busca da paz, o
desenvolvimento econômico, a democracia, os direitos humanos. Denota,
apenas, pragmatismo na alocação de recursos limitados. (Pimentel
2000, 7)
A falta de atratividade pelo continente africano, durante a gestão de FHC, é
justificada pelo embaixador como decorrência dos seguintes condicionantes: do
regionalismo no Cone Sul, da prioridade conferida às parcerias com os países
desenvolvidos e de um ensaio de aproximação com o sudeste asiático. Outro
ponto, entretanto, que é retomado como um óbice ao estreitamento de relações
comerciais, principalmente, diz respeito ao vínculo privilegiado dos países
africanos com a União Europeia, que fora recentemente constituída após o
Tratado de Maastricht, em 1992.
Com base no contexto descrito acima, avalia-se que a conjuntura da década de
1990 não teria propiciado ao país vislumbrar outro formato, ao menos no curto
prazo, de ruptura do modus operandi brasileiro no período pós-Guerra Fria. A
leitura do texto de Pimentel_(2000), pelo menos no tocante à África, sugere
que, no período, foi feita uma leitura determinista e inexorável, pelo menos no
tocante à África, o que justificaria uma postura passiva do Brasil ante o
vizinho no Atlântico Sul. Fica subentendida, nesse sentido, a interpretação
segundo a qual a responsabilidade por iniciativas proativas - com o fim de
retirar a África da marginalidade das relações internacionais - caberia
exclusivamente aos países ricos.
Há, no entanto, considerável mudança nas diretrizes das relações bilaterais
entre o Brasil e a África ao longo dos dois mandatos presidenciais de Lula da
Silva (2003-2010), notadamente em regiões sem vínculo tradicional com a
diplomacia pátria. Isso, pelo menos, se levarmos em consideração os princípios
e iniciativas que predominaram em grande parte da década de 1990.
Na política externa de Lula da Silva, identifica-se, pois, o estreitamento de
relações com o continente africano e com outras regiões do chamado Sul Global,
pensado como uma possibilidade da ampliar o poder de barganha do Brasil no
sistema internacional. Ademais, o governo Lula empreendeu medidas
administrativas no âmbito do Ministério das Relações Exteriores para dinamizar
a ampliação da presença brasileira no continente africano, merecendo destaque o
desmembramento do Departamento da África e do Oriente Médio, que veio dar lugar
à reativação de um Departamento dedicado exclusivamente para o continente
africano (Ribeiro_2010). Ainda acerca do Itamaraty, acrescenta Visentini_
(2005):
O governo Lula devolveu ao Itamaraty a posição estratégica que anteriormente
ocupara na formulação e execução da política exterior do Brasil, pois, no
governo anterior, FHC dominara a parte política ("diplomacia presidencial"), e
o ministro Malan, a agenda econômica internacional, restando ao Ministério das
Relações Exteriores apenas a parte técnico-burocrática das negociações e o
recebimento das críticas. (Visentini_2005,_389).
A política externa de Lula da Silva, portanto, deu ênfase à diversificação de
parcerias, embalada, também, pelos fins pragmáticos da busca de alternativas ao
esgotamento do modelo vertical de inserção internacional, sem desconsiderar,
entretanto, a vertente ideológica da diplomacia solidária, responsável pela
legitimidade e pela boa aceitação de suas diretrizes por grande parte da
comunidade internacional. Não se limita ela, no entanto, à mera reprodução da
Política Externa Independente e do Pragmatismo Responsável do passado: a
ampliação e a horizontalização do diálogo com os países africanos tornam-se,
desde o início do século 21, prementes para a consecução dos propósitos de
ambos os interlocutores (Hirst e Pinheiro 2008). Os laços étnicos e culturais,
exclusivamente, não são mais vistos como suficientes para o estreitamento de
relações com a África - se já o foram algum dia -, a pujança da economia
africana e a sua expressiva demanda por mão de obra qualificada responderão, a
partir desta primeira década do século 21, principalmente, como fator adicional
a atrair a atenção brasileira, e não apenas, para o continente africano.
A (re)aproximação com a África, apesar do auspicioso crescimento de sua classe
média e da enorme demanda por mão de obra qualificada, não responde apenas aos
interesses e estratégias de curto prazo. O relançamento da política africana do
Brasil durante o governo Lula inova desde a maneira de se abordar o
relacionamento bilateral, não mais pelo discurso culturalista, mas agora pela
abordagem da parceria horizontal, sem pré-condições inegociáveis, em um esforço
simbiótico de superação de fragilidades sociais de ambas as regiões (Saraiva
2004). É por meio do reconhecimento da dívida do país com a África, contraída
durante séculos de escravidão, que mancharam a nossa história, e pelo
consentimento de que o Brasil não é uma fantasiosa "democracia racial" que
agora regressa ao continente africano. Nesse sentido, uma política externa de
associação anti-hegemônica, articulada ao Sul e ao Norte, de corte multipolar,
pragmática e idealista, porém com interesses e valores comuns que necessitam
ser tratados no plano prático, em especial nos múltiplos e simultâneos
tabuleiros de negociação então em curso, mostrar-se-ia, segundo a percepção do
período, a mais apta a promover o desenvolvimento social, no âmbito interno, e
a justa representatividade, no plano internacional, de ambas as regiões em um
sistema global de expressiva assimetria na esfera política e na econômica
(Mendonça_Júnior_2013).
Na vertente diplomática, em consonância com a estratégia que buscava equilibrar
idealismo (laços culturais e políticas sociais) com pragmatismo (concertação
política e aumento no fluxo de comércio), verificou-se a abertura e/ou
reativação de 19 novas embaixadas em solo africano (Jorge_2011). No que diz
respeito à chamada diplomacia presidencial, cabe recordarmos que, se FHC, como
presidente, fez 5 viagens à África, tendo visitado apenas 3 países, Lula fez,
durante os seus dois mandatos, 32 viagens, tendo visitado 21 países africanos
(Faria_e_Paradis_2013). Esses dados das viagens do presidente refletem o teor
da mudança de abordagem, tendo em vista a comparação com seu antecessor. Vale
lembrarmos, ainda, que foi João Figueiredo o primeiro presidente sul-americano
a visitar o continente africano em novembro de 1983.
Em resposta a esta estratégia do governo Lula, foram abertas em Brasília, no
período, 17 novas embaixadas de países africanos1. No que diz respeito ao seu
chanceler, o Ministro Celso Amorim visitou, durante sua gestão no governo Lula,
31 países africanos, em 67 viagens ao continente (Brasil 2012c).
Além disso, observa-se que a execução da política externa brasileira para a
África distinguiu-se da prática desenvolvida pelos governos predecessores, que
enfocaram sobremaneira as relações do Brasil com os PALOP (Países Africanos de
Língua Oficial Portuguesa). No governo de Lula da Silva, como será visto em
mais detalhe na próxima seção, verificou-se um nítido esforço para a ampliação
do raio de atuação da diplomacia brasileira no continente africano, apesar de
grande parte dos esforços diplomáticos e de cooperação técnica terem continuado
se concentrando nos países lusófonos daquele continente. De forma sintética, a
mudança de abordagem é definida por Saraiva_(2004) da seguinte maneira:
[...] a novidade do discurso do presidente Lula é a sua ruptura com o
cinismo do discurso culturalista. [...] ao sugerir um Brasil menos
exótico e artificialmente africanizado em favor de um Brasil mais
verdadeiramente africano, por meio do reconhecimento da herança
perversa da escravidão. [...] Essa linguagem é muito mais palatável
para as lideranças africanas e mais próxima à realidade cotidiana dos
descendentes dos africanos no Brasil. Ele propõe um encontro de
iguais, relações horizontais entre parceiros, no esforço comum da
superação das dificuldades sociais e econômicas dos mais
enfraquecidos dos dois lados do Atlântico Sul. (Saraiva 2004, 302)
Essa nova postura brasileira se coaduna com ambas as vertentes da dialética
Idealismo-Pragmatismo, ao combinar o compromisso com uma ordem social e
econômica mais justa e solidária, em uma postura dita "não indiferente" às
mazelas que afligem os países menos desenvolvidos, consoante o discurso do ex-
chanceler Celso Amorim, com o pragmatismo das coalizões plurilaterais. Na
esfera idealista-solidária, por exemplo, o governo brasileiro perdoou a dívida
africana de alguns países em quase US$ 1 bilhão. Apenas em Moçambique, em 2004,
a renúncia da dívida atingiu o montante de 95% (IPEA_2010). Nesse mesmo país,
verifica-se a vertente pragmática da política africana de Lula da Silva, ao
analisarmos o financiamento, com juros subsidiados pelo BNDES, da construção do
aeroporto de Nacala, conduzida pela empresa brasileira Odebrecht (Dantas_2011).
Na próxima seção, por fim, com o intuito de ampliar o lastro empírico das
análises sobre a retomada e repriorização das relações entre Brasil e África,
buscaremos analisar comparativamente a cooperação técnica provida pelo Brasil
para os países africanos durante os governos Fernando Henrique Cardoso e Lula
da Silva. Procuraremos identificar e comparar o número e os tipos de acordos
firmados, a dispersão geográfica desses acordos e a diversidade temática dos
projetos de cooperação técnica horizontal desenvolvidos pelo Brasil naquele
continente. A fonte principal das informações analisadas, ainda pouco explorada
pela literatura acadêmica brasileira, é o banco de dados do Departamento de
Atos Internacionais do Ministério das Relações Exteriores.
Comparando a CTPD provida pelo Brasil na África durante os governos FHC e Lula
Antes de procedermos à comparação entre os dois governos, faz-se necessário
explicitarmos alguns detalhes da metodologia empregada, o que é importante até
porque ainda é pouco usual o recurso à importante fonte oficial por nós
utilizada.
A CTPD provida pelo Brasil na África nos governos FHC e Lula
A Tabela_1 apresenta o número de acordos de CT firmados anualmente pelo Brasil
com países africanos desde o primeiro ano do governo FHC (1995) até o final do
governo Lula (2010), sendo também discriminados os países recipiendários.
Tabela 1. Países africanos recipiendários de CT brasileira.
Ano Nº de Nº de países Países
acordos africanos
1995 2 1 Namíbia
1996 3 3 África do Sul, Angola e Egito
1997 0 0 –
1998 4 3 Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique
1999 2 2 Angola e Moçambique
2000 6 4 África do Sul, Angola, Nigéria e São Tomé e Príncipe
2001 12 5 Guiné-Bissau, Moçambique, Namíbia, São Tomé e Príncipe e Tunísia
2002 7 5 Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Senegal e Tunísia
Subtotal 36 23
FHC
2003 36 6 África do Sul, Angola, Burkina Faso, Moçambique, Namíbia e São Tomé e Príncipe
2004 7 4 Cabo Verde, Marrocos, Moçambique e Nigéria
2005 22 14 Angola, Argélia, Benim, Camarões, Etiópia, Gâmbia, Guiné-Bissau, Guiné-
Equatorial, Moçambique, Nigéria, Quênia, São Tomé e Príncipe, Senegal e Sudão
2006 14 9 Angola, Argélia, Benim, Botsuana, Cabo Verde, Gana, Moçambique, Tunísia e Zâmbia
2007 44 11 Angola, Benim, Burkina Faso, Cabo Verde, Camarões, Congo, Gana, Guiné-Bissau,
Moçambique, São Tomé e Príncipe e Senegal
2008 42 14 Angola, Argélia, Cabo Verde, Gana, Guiné-Bissau, Marrocos, Moçambique, Quênia,
São Tomé e Príncipe, Seicheles, Serra Leoa, Suazilândia, Tanzânia e Congo
2009 24 14 Benim, Burundi, Cabo Verde, Congo, Guiné-Equatorial, Guiné-Bissau, Libéria,
Líbia, Maláui, Mali, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Senegal e Togo.
Angola, Argélia, Botsuana, Burkina, Camarões, Congo, Guiné-Bissau, Lesoto,
2010 49 18 Libéria, Mali, Moçambique, Nigéria, Quênia, São Tomé e Príncipe, Tanzânia, Togo,
Zâmbia e Zimbábue
Subtotal 238 90
Lula
Total 274 113
Fonte: Elaboração própria a partir de Brasil (2014a).
Se, em seus oito anos de governo, FHC assinou 39 acordos de cooperação técnica
com países africanos, Lula, em igual período de oito anos, firmou 238, ou seja,
um número quase seis vezes superior. Note-se, ademais, a grande ampliação do
número de parceiros, que foi de 23 no primeiro período e de 90 no governo Lula
(como fica evidente na tabela, vários países foram contabilizados mais de uma
vez). A Figura_1 apresenta esses dados de uma outra maneira, evidenciando duas
questões importantes, quais sejam: que é a partir do final do segundo mandato
de FHC que a CT com a África começa a deslanchar e que, durante o governo Lula,
há um forte crescimento, ainda que não linear.
Figura 1. Número de acordos de CT bilaterais Brasil/África (1995-2010). Fonte:
Elaboração própria a partir de Brasil (2014a).
No que diz respeito aos países recipiendários, a Tabela_2 apresenta apenas o
que chamamos de "novos parceiros" africanos, ou seja, aqueles que, durante os
dois governos em questão, firmaram, pela primeira vez, acordos de CT com o
Brasil.
Tabela 2. Novos parceiros africanos da CT brasileira.
FHC (1995–2002) Lula da Silva (2003–2010)
4 16
Namíbia, África do Sul, Zimbábue,Burkina Faso, Sudão, Guiné-Equatorial, Gâmbia, Etiópia, Benim, Zâmbia,
Tunísia Suazilândia, Serra Leoa, Tanzânia, Maláui, Libéria, Líbia, Burundi, Lesoto,
Botsuana
Fonte: Elaboração própria a partir de Brasil (2014a).
O que a Tabela_2 evidencia é a grande expansão das fronteiras da CT brasileira
na África durante os anos Lula. Isso porque o número de "novos parceiros" em
solo africano foi quadruplicado (de 4 para 16). Não obstante, é importante
destacar que os 4 novos parceiros estabelecidos no governo FHC dinamizam uma
suposta nova fronteira austral do Brasil na África.
De acordo com os dados compilados do sítio eletrônico do DAI, elaboramos a
Tabela_3 com a discriminação da natureza dos acordos de cooperação firmados com
a África nos dois governos. Há quatro classificações principais de acordos de
CT adotadas pelo Brasil: os protocolos de intenções (PIs), os memorandos de
entendimentos (MEs), os ajustes complementares (ACs) e os acordos gerais (AGs).
Este último diz respeito, em tese, à primeira manifestação de interesses das
partes em promover a cooperação, o que, vale ressaltar, na prática nem sempre
corresponde ao primeiro ato de cooperação entre os países.
Tabela 3. Modalidades de acordos na CT bilateral (Brasil e África).
Tipo de Acordo FHC (1995–2002Lula da Silva (2003–2010)
PI 6 41
ME 3 28
AC 24 160
AG 3 9
Total 36 238
Fonte: Elaboração própria a partir de Brasil (2014b).
O protocolo de intenções (PI) costuma ser utilizado para referir-se tanto aos
acordos bilaterais quanto aos multilaterais. É utilizado para designar acordos
menos formais que os tratados ou acordos complementares ou interpretativos de
tratados ou convenções anteriores. Na atividade diplomática cotidiana, tem sido
usado, muitas vezes, para sinalizar um início de compromisso entre as partes
(Brasil 2012b).
O memorando de entendimento (ME), nomenclatura comum para atos redigidos de
forma simplificada, é destinado a registrar princípios gerais que orientarão as
relações entre as partes, seja nos planos político, econômico, cultural ou em
outros. Contanto que não preveja "compromissos gravosos" para a União, pode
normalmente entrar em vigor na data da assinatura. (Brasil 2012b)
Os ajustes complementares (ACs) são assinados para dar execução a outro ato
internacional, anterior, devidamente concluído e em vigor, ou para discriminar
áreas de entendimento específicas, abrangidas por aquele ato. Em decorrência
disso, são normalmente colocados ao abrigo de um acordo-quadro ou acordo-básico
(Brasil 2012b).
Ao analisarmos a Tabela_3, verifica-se um aumento expressivo durante o governo
Lula da Silva, sobretudo, dos acordos complementares (567%), o que, em tese,
sinaliza para um aprofundamento dos protocolos de intenções (PIs) e dos
memorandos de entendimento (MEs). Essa característica nos leva a inferir que
parte desses acordos sofreram ajustes e incrementos, ressaltando a relevância
dos acordos de cooperação técnica para o aprofundamento das relações inter-
regionais.
Por fim, é importante analisarmos, também, as áreas temáticas dos acordos de
cooperação técnica firmados entre Brasil e África nos dois períodos em questão.
A Tabela_4 sintetiza os resultados da pesquisa feita no banco de dados do DAI/
MRE.
Tabela 4. Área temática dos acordos de CT Brasil e África.
Área temática FHC Lula da Silva
Administração Pública 2 13
Agricultura 2 29
Agropecuária - 6
Científica e Técnica 2 1
Comissão Mista - 3
Cultura 2 13
Defesa 2 2
Desporto - 15
Direitos Humanos - 3
Econômica e Comercial - 1
Educação 10 23
Energia - 9
Formação Profissional 4 22
Fortalecimento Institucional 1 1
Infraestrutura - 3
Meio Ambiente - 12
Mineração 1 3
Pecuária - 7
Políticas Públicas 1 16
Saúde 4 44
Turismo 2 3
Total 33 2292
Fonte: Elaboração própria a partir de Brasil (2014b).
O que se percebe inicialmente dos dados apresentados é que a CTPD brasileira
com a África foi expandida durante o governo Lula, em contraste com o ocorrido
durante o período FHC, não apenas no que diz respeito ao número de acordos e à
diversidade de parceiros, mas também no tocante às áreas temáticas envolvidas.
Outro ponto importante evidenciado na Tabela_4 é que os acordos feitos durante
o governo Lula abarcam todas as áreas envolvidas naqueles firmados durante o
governo anterior, tendo o arco temático se expandido em nove (09) novos campos.
Ademais, no período Lula foi ampliado o número de acordos em todos os campos já
desenvolvidos no governo FHC, com exceção da área "Científica e técnica", que
sofreu redução, e das áreas de "Fortalecimento institucional" e de "Defesa",
onde se manteve o mesmo número de acordos.
No que diz respeito aos dados da Tabela_4, vale ressaltar as áreas temáticas de
maior concentração de acordos, ponto esse em que há distinções interessantes
entre os dois governos. No período FHC, o campo da Educação foi o
preponderante, com dez (10) acordos firmados, seguido pela área da Formação
Profissional (4) e da Saúde (4). Durante o governo Lula, o campo de maior
destaque é o da Saúde, com 44 acordos, seguido não muito de perto pela
Agricultura (29) e pela Educação (23). Talvez possamos pensar que os três
campos de cooperação mais acionados pela CTPD prestada pelo governo Lula aos
países africanos reflitam o ideário de compartilhamento de tecnologias
autóctones brasileiras, que seriam específicas, por exemplo, de países
tropicais.3 De qualquer forma, torna-se explícito, em decorrência do expressivo
aumento da prestação de CT em algumas áreas destacadas na Tabela_4, o papel de
"exportador de tecnologia social" (Stuenkel_2014), assumido pelo Brasil, em
virtude, sobretudo, da busca de replicação de programas sociais bem sucedidos
no âmbito nacional e que contam, progressivamente, com significativa expertise
brasileira e com crescente aceitação por parte de países recipiendários, A
exportação de "tecnologia social" e de expertise nos campos da agricultura e da
saúde tropical tornou-se, durante o governo Lula da Silva, uma auspiciosa
ferramenta de poder brando brasileira para o estreitamento das relações
bilaterais.
Considerações finais
Como é amplamente reconhecido (Saraiva_2012; Puente_2010; Penna Filho 2013;
Pecequilo_2012; Visentini_2013, Cervo e Bueno 2008), um dos pontos estratégicos
da política externa de Lula da Silva foi a intensa retomada do universalismo,
com ênfase no diálogo Sul-Sul. Em sintonia com essa diretriz, a CT brasileira
prestada para a África, como ficou aqui evidenciado, traduziu para o plano
prático o discurso da diplomacia solidária, que norteou a gestão deste
presidente (Faria_e_Paradis_2013). Tornava-se premente a conquista de novos
mercados e a aproximação de outros interlocutores, o que, segundo o discurso
oficial, respondia pelos intentos de diversificação de parcerias e da reforma
da governança global.
Ao lado da ativa diplomacia presidencial, responsável pelo expressivo número de
21 países africanos visitados, durante os oito anos do governo Lula, constatou-
se o também considerável número de acordos de CT firmados, principalmente com
países sem vínculo tradicional com o Brasil, como apresentamos na Tabela_2.
Apenas no governo Lula da Silva foram assinados 16 acordos pioneiros de CT com
novos parceiros africanos, quais sejam: Zâmbia, Gâmbia, Burkina Faso, Benin,
Guiné Equatorial, Sudão, Serra Leoa, Suazilândia, Tanzânia, Zimbábue, Libéria,
Lesoto, Burundi, Maláui, Líbia e Etiópia. .Grande parte desses países,
inclusive, inauguraram embaixadas em Brasília nos oito anos do governo de Lula
da Silva (Brasil 2012c).
Ao analisarmos a Tabela_1, pudemos identificar, de forma clara, a expressiva
dispersão geográfica dos acordos de CT brasileiros na África, notadamente os
que representam as novas parcerias. Se compararmos essa tabela com os dados do
sítio eletrônico do MRE, verificamos que apenas o Burundi e a Suazilândia não
foram agraciados com novas representações diplomáticas brasileiras, inauguradas
ou reabertas durante o governo de Lula da Silva, o que, por sua vez, corrobora
o alinhamento dos acordos de CT com a agenda diplomática e com as estratégias
propostas pela política externa de Lula da Silva. Identifica-se, ademais, a
mencionada implementação da "diplomacia solidária", que não esconde o propósito
de busca de uma ampla projeção internacional para o país e de maior
interlocução com os eixos horizontal e vertical, o que pode ser comprovado
também pelo aumento na demanda por projetos trilaterais na África com o
envolvimento de países desenvolvidos em parceria com a expertise brasileira
(Brasil 2012a).
Percebe-se, pois, que a Política Africana de Lula da Silva remonta aos
princípios políticos e culturais que permearam a busca de articulação entre os
países lusófonos desde a Política Externa Independente. Inova a política
externa do ex-presidente, contudo, ao conciliar os ideais do universalismo,
tradicionalmente caros à chancelaria brasileira, com os fins pragmáticos e
estratégicos do diálogo Sul-Sul, ao propiciar o aumento, intensificação e
diversificação da projeção do Brasil no continente africano. Segundo o Ministro
Marco Farani, diretor-geral da ABC durante o governo Lula, a instituição previa
o aporte de 65 milhões de dólares para pôr em prática a expansão dos projetos
de CTPD para 37 países africanos, entre os anos de 2011 e 2013 (IPEA_2010).
Apesar de os projetos de cooperação técnica (CT) para a África nortearem-se
pela demanda dos países recipiendários, sem a imposição de condicionalidades
para sua execução, consoante as palavras do Ministro Marco Farani4, podemos
sugerir que os projetos de CTPD constituem-se em profícuos instrumentos de
"poder brando"5 da política externa brasileira (Puente_2010; Mendonça_Júnior
2013). A agenda social do governo Lula, nesse sentido, coadunou-se com a sua
diplomacia solidária (Faria_e_Paradis_2013), o que parece ter-lhe garantido
respaldo, por grande parte dos países do Sul, para exportar boas práticas para
os países africanos, sobretudo nas áreas da saúde e da agricultura. Nesse
sentido, não foi casual a abertura de uma sucursal da Embrapa em Gana, em 2007,
e de uma sucursal da Fiocruz em Maputo/Moçambique, conforme acordo assinado em
2008.
De qualquer forma, ao retomarmos a dualidade idealismo-pragmatismo da política
externa de Lula da Silva, deparamo-nos, mais uma vez, com os princípios de
solidariedade na formulação da agenda externa de sua gestão, desenvolvendo-se,
pari passu, com a intenção de consolidar uma imagem de prestígio na comunidade
internacional. A cooperação técnica horizontal apresenta-se, pois, como
ferramenta potencial para a política externa brasileira, que requer, contudo,
maior aperfeiçoamento para se tornar mais abrangente e mais dinâmica no que diz
respeito aos propósitos de estreitamento de relações bilaterais e de projeção
internacional do país nos distintos foros multilaterais de negociação.