Rhusmos e movimento dos átomos na física de Demócrito
A noção de rhusmos ocupa um espaço importante na física atomista,
particularmente na descrição dos átomos e de seu movimento. Na célebre passagem
do livro A da Metafísica (A, IV, 985 b 14-17), Aristóteles testemunha acerca do
papel fundamental desempenhado pela diferença entre os átomos na explicação das
diferenças qualitativas constatadas nos corpos compostos:
Ora estas diferenças são, segundo eles [os atomistas], em número de
três: a forma, a ordem e a posição (tautas mentoi treis einai
legousi, skhêma te kai taxin kai thesin). As diferenças do ser, dizem
eles, não vêem senão do rhusmos, da disposição e do lugar (diapherein
gar phasi to on rhusmoi kai diathigê kai tropê monon). Ora o rhusmos,
é a forma, a disposição é a ordem, e o lugar é a posição (toutôn de
ho men rhusmos skhêma estin he de diathigê taxis de tropê thesis).
É por intermédio dos rhusmoi dos átomos, de sua disposição e lugar nos
compostos que se explica, não apenas a existência de diferentes compostos
atômicos, mas, também, os diferentes tipos de movimento. Trata-se, pois, de
precisar o sentido exato do termo nos fragmentos e testemunhos de que dispomos,
tarefa que se mostra indispensável quando se quer compreender a natureza dos
átomos e dos seus movimentos no vazio e nos compostos atômicos. Os comentadores
modernos se esforçaram, por caminhos diversos em oferecer uma definição de
rhusmos e em compreender o papel particular desta noção na física atomista. Nós
pretendemos, neste artigo, verificar o estado da questão e avançar algumas
interpretações sobre o tema.
Segundo Demócrito, existem substâncias em número infinito, aos quais chamou
ideai, e, sobretudo a partir de Aristóteles e da tradição aristotélica se
convencionou designar atomoi, dada a sua indivisibilidade, que se movem,
dispersas no vazio infinito. " Quando se aproximam uma das outras,
testemunha Plutarco, encontrando-se e combinando-se (ê sumpesôsin ê
periplakôsi)" ou bem se aglomeram em corpos compostos mais simples como a água,
o fogo, ou em mais complexos como os das árvores e dos homens. A essas
substâncias, continua Plutarco, ele chamou "formas insecáveis (tas atomous
ideas)", dizendo serem elas "impassíveis e imutáveis em razão de sua solidez
(ek de tôn ontôn mêden na genesthai tôi mête paskhein mête metaballein tas
atomous hupo sterrotêtos)"1.
Este testemunho de Plutarco apresenta em suas grandes linhas a física
democritiana, suas substâncias elementares, princípios de todas as coisas, e o
processo mediante o qual vêem a ser todas as coisas. Ao lado destas ideai, e
como elas igualmente princípio e, logo, realidade eterna e infinita, postula o
vazio/to kenon. A respeito do vazio, Aristóteles escreve na Física:
Aqueles, ao invés, que afirmam como sendo necessário o vazio (einai
kenon hôs anankaion) acabam antes por chegar, se prestamos atenção ao
que dizem, à conclusão contrária, isto é, que é impossível que algum
ser possa se mover se existe o vazio (mê endekhesthai mede hen
kineisthai, ean hêi kenon).2
Os átomos e o vazio constituem os princípios do universo. A estrutura do mundo
é a mesma em cada um dos "pequenos mundos" existentes:
Se tudo isso pode acontecer no interior do animal, o que impediria
que as mesmas coisas acontecessem no conjunto da realidade? Se isso
acontece em um mundo pequeno (ei gar en mikrôi kosmôi ginetai),
acontece também em um mundo grande (kai en megalôi)." (DK 68 B 34; L
10)3.
Trata-se, pois, de compreender como é possível que a partir de substâncias
simples, ideai/atomoi, um universo tão variado pode vir a ser, em outras
palavras, como coisas tão distintas como a água, as árvores e os homens puderam
se constituir. Resumindo, como a partir de princípios, ao mesmo tempo múltiplos
e simples, como os corpúsculos elementares, e infinito como o vazio, uma
multiplicidade de "mundos" teve sua origem.
De um lado os átomos, de outro, o vazio. O vazio não é simplesmente um não
átomo, um nada, mas uma extensão infinita que constitui o espaço onde os átomos
se deslocam e que lhes permite se reunirem e dar origem a uma multiplicidade
infinita e complexa de corpos compostos. É, pois, interrogando-se acerca do que
sejam os átomos que é possível alcançar uma compreensão da multiplicidade de
corpos compostos e que a variedade e complexidade do universo pode encontrar
sua explicação. Em uma conhecida passagem do livro A da Metafísica (A, IV, 985
b 14-17) Aristóteles precisa o papel fundamental desempenhado pela diferença
entre os átomos na explicação das diferenças qualitativas constatadas nos
corpos compostos:
Ora estas diferenças são, segundo eles [os atomistas], em número de
três: a forma, a ordem e a posição (tautas mentoi treis einai
legousi, skhêma te kai taxin kai thesin). As diferenças do ser, dizem
eles, não vêem senão do rhusmos, do contato recíproco e da disposição
a volver (diapherein gar phasi to hon rhusmôi kai diathigêi kai
tropêi monon). Ora o rhusmos, é a forma, o contato recíproco é a
ordem, e a disposição a volver é a posição (toutôn de ho men rhusmos
skhêma estin hê de diathigê taxis hê de tropê thesis).
É, portanto, por meio do rhusmos, do contato recíproco e da disposição a volver
os átomos em um corpo composto que é possível explicar a natureza particular de
cada coisa e a dinâmica que lhe é própria. E o que vale para os corpos
compostos na explicação de sua natureza singular e peculiar, serve também para
explicar nele a mudança e o movimento, assim como a diversidade de movimentos
dos átomos no vazio e nos compostos, bem como sua maior ou menor
susceptibilidade a um ou outro tipo de movimento. Com efeito, estas três
diferenças poderiam ser reduzidas a duas: uma diferença intrínseca, o rhusmos,
que não concerne senão ao átomo individualmente considerado naquilo que o
distingue de outros, e uma diferença extrínseca ou relacional, a disposição a
girar e a entrelaçar e o contato recíproco, o que supõe a relação entre os
átomos4.
Antes de prosseguirmos com nossa análise desta tese, gostaríamos de considerar
o procedimento aristotélico de redução operado pela substituição dos termos
democritianos. Compartilhamos, quanto a isso, a compreensão de M. L. Gemelli
Marciano a este respeito:
Aristóteles traduz, portanto, em uma terminologia mais adequada aos
problemas teóricos do atomismo do seu tempo os termos originais
democritianos tendo como resultado uma transformação do átomo como
corpo em movimento em uma entidade espacial abstrata (...) [ele]
transforma o átomo em uma figura estática e abstrata nos moldes das
figuras geométricas platônicas.5
Em outras palavras, a transposição que opera Aristóteles não é uma mera
substituição de um termo por outro. Com efeito, observamos uma mudança
significativa da concepção atomista na substituição de rhusmos por skhêma, de
diathigê por taxis e de tropê por thesis. Sobre o termo rhusmos nos ocuparemos
mais detidamente na sequência de nossa exposição. Ocupemo-nos, no momento, dos
dois outros pares de quase-sinônimos. Como apontamos antes, cada um dos termos
que propõe Aristóteles em substituição aos termos originais implica uma perda
em termos do caráter dinâmico dos átomos. O termo tropê traz implícita a ideia
de mudança e, no vocabulário da guerra, diz respeito ao movimento de fazer meia
volta e retroceder diante do inimigo. Este é um dos sentidos principais com os
quais o vemos empregado em Heródoto6, Tucídides7, trágicos8 e em Aristófanes9.
A favor desta acepção temos ainda a sequência do fragmento democritiano em
Aristóteles: "Estas essências estão em luta uma contra a outra e se movem no
vazio por causa da sua desigualdade e das outras diferenças antes mencionadas
e, movendo-se, se chocam e se entrelaçam...". As imagens destes choques e
entrelaçamentos nos fazem pensar na stasis, a sedição ou guerra civil. Alguns
átomos, ao se chocarem com outros, ricocheteiam e "partem em retirada". Outros
se prendem uns aos outros. O contexto aqui é cosmogônico, como bem lembrou
Gemelli Marciano: "neste caso a 'reviravolta' não comporta uma 'retirada', mas
determina simplesmente um arranjo diverso do próprio composto: o corpo muda,
por exemplo, de cor."10 Esta suscetibilidade a volver, a mudar, é enfraquecida
pela adoção do termo thesis, que como sabemos, provém do verbo tithêmi,
estabelecer, pôr, colocar, instituir, o que sugere algo estático. Aristóteles
não apenas elimina seu aspecto dinâmico e o caráter relacional do termo desta
"disposição a volver" em face do outro, como apaga as imagens e conotações
sócio-políticas presentes em tropê.
Se alguns átomos ao se encontrarem com outros partem em retirada, outros vão se
entrelaçando nestes embates, ficando "aprisionados", abraçados ou envolvidos,
adaptando-se a esta circunstância, sem, contudo se fundirem uns aos outros numa
'união completa'11. A este processo de "contato recíproco" Demócrito deu o nome
de diathigê, o qual Aristóteles substituiu pelo termo taxis. Derivado do verbo
thinganô que significa não apenas "tocar", mas, também, "abraçar" 12 e ter
relações sexuais, o termo diathigê se refere, também, a uma espécie de luta em
que os contatos sendo forçados podem se transformar em força capaz de
engendrar. Ao substituir o termo por taxis, ordem dos átomos em um composto,
mais uma vez Aristóteles altera o sentido original, eliminando, desta vez, o
caráter de reciprocidade e o dinamismo que dele decorre. Temos aqui uma redução
matemática que se afasta da perspectiva física em que se inscreve a reflexão
atomista de Demócrito e Leucipo. Do mesmo tipo de redução foi objeto o termo
rhusmos ao dar lugar ao termo skhêma.
O rhusmos
Para precisar em que consiste o rhusmos dos átomos constitutivos dos corpos,
nós podemos nos apoiar em uma série de testemunhos e fragmentos provenientes da
obra de Aristóteles, mas, também, de fontes de outras tradições.
O que nos interessa, num primeiro momento, é saber o que determina a
aglomeração dos corpos primordiais nos corpos compostos ou secundários, e, num
segundo momento, sua relação com o tipo de movimento que se percebe em um
determinado composto. Quando Aristóteles substitui rhusmos por skhêma, ele
privilegia um aspecto da realidade, sua determinação formal, deixando de lado
outro aspecto, ainda mais fundamental da natureza do átomo - pois é graças a
ele que os corpos compostos são engendrados e variados -, aquele compreendido
na noção de rhusmos: o fato dos átomos se encontrarem sempre em movimento, o
que lhes possibilita se ordenarem em sempre novas configurações13. Mas o que é,
afinal, o rhusmos de um átomo?
A importância deste termo no âmbito da cosmologia e da física atomistas pode
ser atestada já no exame do catálogo de Trasilo que nos transmitiu Diógenes
Laércio: entre os livros sobre a natureza, se encontram os seguintes títulos:
Sobre os diferentes rhusmoi/Peri ton diapherontôn rhusmôn e Sobre as
alternâncias de rhusmoi/Peri ameipsirhusmiôn, e entre os livros sobre música o
título
Sobre os ritmos14 e a harmonia
/Peri rhuthmôn kai harmoniês. Precisar o sentido exato do termo nos testemunhos
e fragmentos de que dispomos se mostra, apesar das dificuldades de
interpretação, indispensável quando se trata de compreender o que permite
distinguir os átomos em sua singularidade e nos compostos. Um debate animado
envolveu os comentadores e intérpretes modernos em seu esforço para oferecer
uma definição do termo rhusmos e compreender seu papel particular na economia
da filosofia atomista. O debate se faz ainda mais animado porque as
dificuldades que o suscitaram remontam às fontes mesmas a que recorremos para
conhecer a filosofia dos antigos atomistas.
Faz-se ainda mais necessário compreender o termo rhusmos quando se constata o
emprego múltiplo, mas uniforme, que dele faz Demócrito, seja no contexto da
física e da cosmologia, seja naquele de seus fragmentos éticos. A título de
exemplo, mencionamos dois deles que analisaremos posteriormente. O primeiro nos
foi conservado na obra de Clemente de Alexandria:
Natureza e educação são coisas bastante semelhantes (hê phusis kai hê
didakhê paraplêsion). Pois é verdade que a educação transforma o
homem (kai gar hê didakhê metarhusmoi ton anthrôpon), e esta
transformação produz natureza (metarhusmousa de phusiopoiei).15
Neste fragmento temos o termo rhusmos precedido do prefixo verbal meta- no
verbo metarrhuthmizô16, aqui presente em dialeto jônio17. É, pois, a própria
estrutura do homem, sua natureza, que será transformada pela educação.
Transformação esta que é explicada neste contexto por um outro verbo de criação
democritiana, phusiopoiein, "produzir natureza". Ora, se a natureza de alguma
coisa concerne sua estrutura atômica, é a disposição dos átomos no composto que
padece a mudança. Essa disposição à mudança explica, de resto, o fato que a
natureza humana pode ser modificada, que ela pode se tornar outra sem perder
sua identidade.
Um outro fragmento, desta vez do Léxico de Hesíquio18, o confirma:
"ameipsirhusmein (alternar os rhusmoi): mudar <no que concerne> a mistura, ou
mudar de forma (metamorphousthai)"19.
A relação "alternar os rhusmoi", "mudar de forma", atestada por Hesíquio sugere
qual teria sido o tema da obra a que se faz referencia em DK 68 B 8a : PERI
AMEIPSIRHUSMIÔN/Sobre a alternância dos rhusmoi. Examinemos, primeiramente, as
observações de E. Benveniste em seu artigo "La notion de 'rythme' dans son
expression linguistique"20.
A interpretação de E. Benveniste para o termo rhusmos
A maior parte dos dicionários sustenta que rhusmos/rhuthmos é o abstrato de
rhein, "fluir". Boisacq pensa que o sentido do termo tenha sido "tomado de
empréstimo ao movimento regular das águas" (p. 327).
Para E. Benveniste não é difícil, do ponto de vista morfológico, ligar rhuthmos
a rheô, ao contrário a pretendida ligação semântica entre "ritmo" e "cor" por
meio do "movimento regular das águas" lhe parece improvável à primeira vista.
Escreve Benveniste: "nunca rhein se diz do mar, e, além disso, rhuthmos nunca é
empregado para o movimento das águas" (p. 328). Termo ausente dos poemas
homéricos, rhuthmos aparece nos autores jônios e na poesia lírica, assim como
na prosa ática e nos filósofos. Nos poetas líricos o termo é atestado desde o
século VII com o sentido de skhêma ou de tropos, e serve a definir a "forma"
individual e distintiva do caráter humano (Arquíloco, II, 400, Bergk), as
"formas" particulares do humo ou do caráter (Anacreonte, fr. 74, 2), ou ainda
os traços distintivos do homem (Teógnis, 964) (p. 330). Nos poetas trágicos o
termo e os verbos derivados conservam este sentido. O autor retém uma passagem
em particular. Trata-se do verso 318 da Antígona de Sófocles, em que, em
resposta a uma questão posta pelo guardião - "é nas orelhas ou em tuas almas
que minha voz lhe faz sofrer?" - Creonte responde: "a que serve lhe figurar a
localização de minha dor (ti de rhuthmizeis tên emên lupên hopou)?".
De acordo com Benveniste este é precisamente o sentido de rhuthmizô, "dar uma
forma". Em Eurípides, o emprego de termos derivados permite melhor precisar o
sentido. Ele emprega o termo eurhuthmôs, designando por ele "uma maneira
conveniente" de realizar uma certa ação (Cycl., 563) e o termo arrhuthmos, para
se referir a uma paixão "desproporcional" (Hipp., 529). O mesmo se passa com a
prosa atica do século V. Xenofonte se refere com eurhuthmos à qualidade de bela
couraça (Mem., III, 10, 10), e para Platão rhuthmos quer dizer a "disposição
proporcional" entre a opulência e o desnudamento (Leis, 728 e).
Mas é no vocabulário da filosofia jônica que nos podemos captar melhor o valor
específico de rhusmos, e particularmente em Leucipo e Demócrito. Como observou
P. Sauvanet21 "podemos situar nos atomistas a verdadeira data de nascimento do
conceito de ritmo em filosofia". Constatação que já se encontrava presente em
E. Benveniste: "Estes filósofos fizeram de rhuthmos (rhusmos)22, um termo
técnico, uma das palavras chaves de sua doutrina, e Aristóteles, graças a quem
chegaram até nós muitas citações de Demócrito, nos transmitiu sua significação
exata"23. Trata-se da equivalência que estabelece Aristóteles entre skhêma e
rhusmos na passagem que antes examinamos da Metafísica (A, 4, 985 b 14-17).
Como podemos constatar, para E. Benveniste, é sempre no sentido de forma que
Demócrito o emprega; a forma dos átomos, como na passagem em questão, mas
também a forma das instituições como no fragmento conservado por Estobeu: "não
existe nenhuma disposição na forma atual <das leis> que impeça que alguém faça
mal aos magistrados (...)"24. Parece, segundo ele, ser também este o sentido
dos verbos rhusmô, metarrhusmô, metarrhusmizô? no âmbito da física e da ética:
"os espíritos insensatos são transformados pelos ganhos da fortuna, mas os
homens de experiência por aqueles da sabedoria"25; "a educação transforma o
homem"26; "é preciso que os skhêmata mudem de forma (para passar de angulosos
ao redondo)"27. Demócrito emprega ainda o adjetivo epirrhusmios no sentido de
"dotado de uma forma", ao contrário do que pensaram Bailly ("courant, que se
répand") e Liddell-Scott ("adventitions"): "nós não conhecemos nada
autenticamente sobre nada, mas cada um da forma à sua crença"28.
Essas indicações levam E. Benveniste a reconhecer que não existe "nenhuma
ambiguidade" no emprego de rhusmos em Demócrito, que seu sentido estará sempre
associado àquele de "forma distintiva", ou de "arranjo característico das
partes em um todo"29. E esse sentido pode se confirmar, segundo ele, também
para a totalidade dos exemplos antigos. Em razão do que ele conclui "1) que
rhuthmos não significa nunca 'ritmo' desde a origem até o período ático; 2) que
ele nunca é aplicado ao movimento regular das águas; 3) que o sentido constante
é o de 'forma' distintiva; figura proporcionada; disposição".30 E justifica sua
objeção dizendo que ela não se deve à variação ela mesma (rheôrhuthmos), "mas
ao sentido inexato de rhuthmos que dela foi deduzido".
Sua análise toma uma direção que nos parece particularmente interessante.
Examinando a formação das palavras em -(th)mos, e o sentido que este sufixo
confere aos termos abstratos, ele constata que ele não indica a "a realização
da noção, mas a modalidade particular de sua realização, tal que ela se
apresenta aos olhos"31. Como exemplos cita: "orkhêsis?é o fato de dançar,
orkhêthmos a dança particular vista em seu desenrolar; khrêsis é o fato de
consultar um oráculo, khrêsmos a resposta particular obtida do deus; thesis é o
fato de pôr, thesmos a disposição particular; stasis é o fato de deter,
stathmos a maneira de se deter, donde: equilíbrio de uma balança ou parada
ocasional". Mas, se E. Benveniste reduz rhusmos a forma, como fica a associação
de rhusmos à skhêma.
E. Benveniste estabelece uma distinção os dois termos - rhusmos e skhêma - que
alguns autores equivocadamente tomam por sinônimos. Enquanto skhêma se refere à
ekhô, "eu (me) tenho", "forma" fixa, realizada, posta de algum modo como um
objeto, rhusmos, nos contextos em que aparece, concerne "a forma no instante
que ela é assumida pelo que é móvel, fluido, a forma do que não tem
consistência orgânica", isto é, "a forma improvisada, momentânea,
modificável"32.
É assim que devemos compreender o uso que Demócrito faz do termo. Para ele,
todas as coisas se constituem a partir dos agregados atômicos, de configurações
particulares de átomos que, em razão de seus diferentes rhusmoi, dão origem a
corpos distintos e particulares. E é por isso que rhuthmos, enquanto "maneira
particular de fluir", foi o termo mais adequado a descrever as "disposições" ou
as "configurações" sem fixidez e resultante de arranjos sempre sujeitos à
mudança.
Entretanto, a interpretação proposta por E. Benveniste não é objeto de
unanimidade. M. Serres, por exemplo, lhe reprova por não ter "nunca navegado em
água doce" e o acusa de uma "falta de atenção ao real". Ele escreve: "Demócrito
vê o ritmo onde ele se encontra, Benveniste não o viu "33. Isto quer dizer que
se fixando no aspecto abstrato do termo ele teria negligenciado a dimensão da
experiência real do ritmo, ou mesmo "sua própria realidade".
P. Sauvanet também, mesmo reconhecendo a contribuição "inegável" de E.
Benveniste, pensa que convém nuançar seu artigo em dois pontos: primeiramente,
diz que é preciso "reabilitar o sentido 'fluido' de rhuthmos, na medida em que,
segundo o próprio Benveniste, 'a relação de rhuthmos com rheo não constitui em
si mesmo causa de objeção' ", e é preciso voltar, ainda, antes da época de
Platão, avançada pelo linguista para " o nascimento do ritmo como retorno de
parâmetro regular ou 'forma fixa', mesmo se é efetivamente com ele que o
sentido evolui na direção daquele de metro ou de medida (metron) "34. Conclui-
se que, para proceder a uma genealogia do conceito que desempenha um papel
fundamental na física e na ética democritianas, é preciso conciliar a
contribuição da linguística àquela da experiência vivida, como o sugere M.
Serres. Vejamos, ainda, outras interpretações da noção de rhusmos em Demócrito.
Outras interpretações
V.E. Alfieri se interroga a propósito das razões que teriam levado Demócrito a
empregar o termo rhusmos para designar a forma em lugar de recorrer a skhêma ou
morphê. A razão disso seria a faculdade que tem a função de designar qualquer
tipo de movimento regular, aquele da dança tanto quanto aquele dos soldados em
marcha, de significar a forma ou a configuração de objetos móveis ou mesmo
estáticos (uma tropa, um caçador, as letras do alfabeto), e mais tarde a
proporção, a justa medida, ou mesmo o estado de espírito35. Alfieri discute a
interpretação proposta por K. Von Fritz36, para quem o termo rhusmos
não representa como eidos o visível, isto é a forma como ela se
apresenta aos observadores, mas a lei objetiva de conformação do
objeto em si; e por isso ele representa a forma não em sua condição
estática de coisa que veio a ser (in ihrem starren Gewordensein),
como morphê = forma, mas a faz nascer de uma certa maneira no
movimento fora dela mesma (sondern låsst sie gewissermassen aus sich
selbst heraus sich bewegend entstehen).
K. Von Fritz e E. Benveniste se limitam a uma análise semântica do termo, sem
precisar qual seria o fundamento de tal emprego. V. E. Alfieri, por sua vez,
apresenta assim sua posição: no termo rhusmos os atomistas teriam provado a
ressonância da ideia originaria de movimento no sentido de "adaptabilidade" ou
"capacidade de agregação", em resumo a atitude bem determinada a se associar a
outros átomos37. E propõe, então, que se traduza rhusmos por "medida" ou por
qualquer outro termo capaz de dar a ideia de "forma" enquanto "forma
geométrica" ou "dimensão".
Examinemos, agora, os testemunhos que o termo é empregado, tendo em vista
esclarecer o sentido que lhe é o seu na lingua democritiana, prestando atenção
ao aspecto do movimento que parece ter sido, segundo boa parte dos
comentadores, a razao de ser da escolha deste termo.
A nuance de movimento
Diante de tal quadro de interpretações, tendemos a concordar com P. Sauvanet
que o ritmo é "a forma que tomam os átomos em conjunção efêmera"38. Esta parece
ser também a posição de M. L. Gemelli Marciano, para quem o rhusmos veicula uma
imagem dinâmica: "o 'ritmo' é o passo cadenciado da dança e da marcha. Os
poetas arcaicos o utilizam, pois, para indicar uma 'disposição' do ser humano
em uma sequência mutável ou em uma variedade de estados de ânimo". Estas
posições nos parecem interessantes porque conservam o dinamismo que comporta o
termo do ponto de vista seja dos átomos considerados em sua individualidade e
isoladamente, seja da ação dos átomos no interior dos agregados. Acreditamos
ser possivel, por esta via, esclarecer um ponto que se encontra na origem de
não poucas divergências entre os estudiosos. Trata-se da dificuldade em
estabelecer se quando os atomistas falam de uma diferença de rhusmos, tem-se em
mente os átomos considerados em sua singularidade ou os compostos atômicos.
Ora, ao tomarmos rhusmos como a forma dinâmica delineada por um átomo no seu
movimento natural, deveríamos admitir que ela concernisse os átomos
individualmente, não sua substância ou aspecto fixo, mas sua maneira de ser,
isto é a maneira com que se movem no vazio ou no interior de um agregado. Tal
constatação nos incita, então, a examinar o conceito mesmo de movimento para
poder compreender o movimento dos átomos e os rhusmoi que os distinguem em seu
movimento.
Para Aristóteles, Demócrito teria sido o único a se interessar pela "maneira
como se manifestam a alteração e o aumento nas coisas"39:
Demócrito e Leucipo, imaginando as figuras (poiêsantes ta skhêmata)
dos átomos, explicam por essas figuras a alteração e a geração (tên
alloiôsin kai tên genesin ek toutôn poiousi), a saber por sua
dissociação e associação, a geração e a destruição, por sua ordem e
sua orientação, a alteração. Mas como eles acreditavam que a verdade
estivesse situada nas aparências, e como as aparências são contrárias
e infinitamente variadas, eles imaginaram os átomos e as suas figuras
em numero infinito (ta skhêmata apeira epoiêsan). Graças a esta
hipótese, as mudanças em um objeto composto de átomos (tais
metabolais tou sunkeimenou to auto) podem ter por efeito que o mesmo
objeto apareça sob aspectos opostos a tal observador e a tal outro, e
que um corpo muda (metakineisthai) se um corpo estrangeiro, mesmo
pequeno, vem se misturar e aparece inteiramente mudado
(metakinêthentos) se uma só parte muda de lugar; com as mesmas
letras, com efeito, se pode compor uma tragédia e uma comédia.40
Esta passagem de Aristóteles ilustra bem a relação entre os rhusmoi dos átomos
e a mudança ou transformação, uma vez que as diferenças entre os primeiros
explicam a ocorrência dos processos observaveis nos compostos atômicos. Ele se
serve de diversos termos para explicar a mudança: alloiôsis, metabolê,
metakineisthai. Cada um deles tem em Aristóteles um sentido próprio que não
parece, todavia, ter sido objeto de atenção por parte dos antigos atomistas. A
argumentação de Aristóteles supõe conceitos que foram bem desenvolvidos na sua
Física. Para ele todo movimento é mudança, mas não toda mudança é movimento, e
a única mudança que pode ser considerada movimento é aquela que vai de um
substrato a outro substrato (ex hupokeimenou eis hupokeimenon). E distingue,
então, três tipos de movimento e de motor. 1) "Segundo a qualidade" (kata to
poion), o "movimento de alteração" (kinêsis alloiôsis) cujo motor é "o
alterante" (to alloioun) ; 2) "segundo a quantidade" (kata to poson), "o
movimento de crescimento rumo à grandeza acabada" (auxêsis eis to teleion
megethos) ou "diminuição partindo da grandeza acabada" (phthisis ek to teleion
megethos) cujos motores são "o que faz crescer" (to auxon) e "o que faz
diminuir" (to phthinon) ; 3) "segundo o lugar" (kata topon), "que não tem um
nome próprio" (anônumos) - Aristóteles se refere a ele com o verbo pheresthai
substantivado - é "o movimento local"/"transporte" (to pheresthai) cujo motor é
"o transportante" (to pheron).
Demócrito não considerou com a mesma atenção e distinção que Aristóteles estas
diversas categorias de movimento. O interesse de Demócrito se concentrava antes
em descobrir e tornar evidente a natureza movente dos átomos e a estrutura dos
compostos atômicos em sua predisposiçao à mudança. Ele pretendia, assim, dar
conta da diversidade do real, da existência de corpos mais ou menos pesados,
mais ou menos densos e, por conseguinte, mais ou menos propensos ao movimento -
como é o caso da alma, constituída de átomos portando figuras as mais sutis,
lisas e redondas -, ou ainda sua maior ou menor predisposição à mudança. Deste
modo, a "forma dinâmica" (rhusmos) e o tipo de movimento a que diferentes
rhusmoi predispõem os compostos nos quais se encontram circunstancialmente
reunidos, permitem a Demócrito a formulação de uma hupothesis que torna
possível, a um só tempo, oferecer uma resposta ao problema da unidade e da
multiplicidade, e àquele do movimento e do relativo repouso, por meio de um
principio que satisfaz à economia do real e do discurso sem destituí-los de sua
inesgotável complexidade. Às exigências aristotélicas expressas no De caelo -
"a Leucipo e a Demócrito, que afirmam que os corpos primeiros se movem sempre
no vazio e no infinito, se deve pedir para precisar qual seja o seu movimento
(tina kinêsin) e qual seja, portanto o seu movimento segundo à natureza (tis hê
kata phusin auton kinêsis)" (De caelo III 2, 300 b 8) - e na Metafísica - "Com
relação ao movimento (Peri de kinêseôs), de onde provenha e como advenha
(hothen ê pôs huparkhei), também estes filósofos, analogamente aos outros,
negligentemente passaram em silêncio41 - podemos dizer que, anacronicamente e
graças aos próprios testemunhos de Aristóteles, os Atomistas as satisfizeram em
termos. O movimento e o movimento segundo a natureza, nos remetem aos rhusmoi
dos átomos. Se não nos forneceram as causas do movimento, segundo o próprio
Aristóteles teriam dito que se movem porque não podem não se mover, dado o
caráter inato de seu movimento. E, como diz Aristóteles, "não é oportuno buscar
o princípio do que é eterno". Podemos concluir, então, que é através da noção
de rhusmos que os Atomistas, e particularmente Demócrito, se empenharam em
apresentar uma explicação para o movimento dos corpos simples - os átomos - no
vazio e nos compostos, e para o movimento e a mudança dos corpos compostos, o
conjunto dos aglomerados atômicos dotados de vida.
1 PLUTARCO, Contra Colotes, 8, 1110 F : 68 A 57 DK.
2 ARISTÓTELES, Física, IV 8, 241 b 28.
3 ARISTÓTELES, Física, VIII 2, 252 b 24. Outros testemunhos atestam esta
homologia: DAVID, Proleg. 38, 14 Busse; GALENO, De usu part. III 10 (III 241
K., I 177, 10 Helmr.) ; SEXTO EMPÍRICO. Adv. math. VII 116-117.
4 Cf. Wismann, H., "Réalité et matière dans l'atomisme démocritéen", Siculorum
Gymnasium, XXXIII, 1980, p. 61 - 74 (=Congrès de Catane, 1979) : "la 'forme'
est susceptible d'être considérée comme une propriété intrinsèque de l'atome
[individuel], tandis que l''ordre' et la 'position' supposent déjà une
relation, un rapport avec le milieu où évoluent d'autres atomes. " (p. 69), e
SAUVANET , P., Le rythme grec d'Héraclite à Aristote. Paris : PUF, 1999: "Par
rapport aux deux autres modalités du texte, le rythme apparaît comme une donnée
intrinsèque: sur l'exemple choisi, la différence entre A et N est intrinsèque,
tandis que la différence entre AN et NA (ordre) ou Z et N (position) est
extrinsèque"(p. 42).
5 Gemelli Marciano, M. L., Democrito e l'Accademia. Studi sulla trasmissione
dell'atomismo antico da Aristotele a Simplicio. Berlim/New York: Walter de
Gruyter, 2007, p. 203-202.
6 HERODOTO, Hist 1.30.24: teleutê biou lamprotatê epegeneto: genomenês gar
Athênaioisi makhês pros tous astugeitonas en Eleusini boêthêsas kai tropên
poiêsas tôn polemiôn apethane kallista, kai min Athênaioi dêmosiêi te ethapsan
autous têi per epese kai etimêsan megalôs.
7 TUCIDIDES, Guerra do Peloponeso, 2.19.2.1-4: kai kathezomenoi etemnon prôton
men Eleusina kai to Thriasion pedion kai tropên tina tôn Athênaiôn peri tous
Rheitous kaloumenous epoiêsanto (...).
8 ÉSQUILO, Agamemnon, 1236-1237: hôs d'epôloluxato hê pantotomos, hôsper en
makhês tropêi; EURÍPEDES, Rhesus, 82: oud'hôde g'aiskhrôs epeson en tropêi
doros.
9 ARISTOFANES, Equestre, Eq 246: All'amunou kai diôke kai tropên autou poiou.
10 Gemelli Marciano, M. L., Op. cit., p. 204.
11 A expressão é de M. L. Gemelli Marciano, Op. cit., p. 204.
12 Encontramos o termo empregado neste sentido, por exemplo, no verso 300 das
Fenícias e nos versos 885 e 1044 do Hipólito de Eurípedes, e no verso 329 do
Édipo em Colono de Sófocles.
13 Morel, P.-M., Démocrite et la recherche des causes. Paris : Klincksieck,
1996, p. 59.
14 Aqui nós conservamos o termo ritmo porque nos encontramos no contexto da
música.
15 CLEMENTE DE ALEXANDRIA, Stromata IV, 151 : DK 68 B 33.
16 Cf. Montanari, F., Vocabolario della Lingua Greca. Turin: Loescher Editore,
1996, p. 2193, Col. 3, que indica justamente este fragmento de Demócrito como
exemplo do emprego deste verbo. O verbo aparece, também, ainda no século V, nos
Econômicos de Xenofonte, 11.16-17: epeidan de elthô eis agron, an te moi
phuteuontes tunkhanôsin an te neiopoiountes an te speirontes an te karpon
proskomizontes, tauta episkepsamenos hopôs hekasta gignetai, metarrhuthmizô,
ean ekhô ti beltion tou parontos. No século IV, temos uma única ocorrência do
termo em Teofrasto, em As Causas das Plantas. O curioso é que ele emprega o
termo em um contexto em que se refere a Demócrito: Dê. Aqui nós conservamos o
termo ritmo porque nos encontramos no contexto da música.
CLEMENTE DE ALEXANDRIA, Stromata IV, 151: DK 68 B 33.
Cf. Montanari, F., Vocabolario della Lingua Greca. Turin: Loescher Editore,
1996, p. 2193, Col. 3, que indica justamente este fragmento de Demócrito como
exemplo do emprego deste verbo. O verbo aparece, também, ainda no século V, nos
Econômicos de Xenofonte, 11.16-17: epeidan de elthô eis agron, an te moi
phuteuontes tunkhanôsin an te neiopoiountes an te speirontes an te karpon
proskomizontes, tauta episkepsamenos hopôs hekasta gignetai, metarrhuthmizô,
ean ekhô ti beltion tou parontos. No século IV, temos uma única ocorrência do
termo em Teofrasto, em As Causas das Plantas. O mokritôi men Ge pôs pote ex
allêlôn hê genesis aporêseien an tis. Anankhê gar ê ta skhêmata
metarrhuthmizesthai kai ek skalênôn kai oxugôniôn peripherê ginesthai, ê pantôn
enuparkhontôn tôn te tou struphnou kai oxeos kai glukeos ta men ekkrinesthai ta
tôn proteron aei thatera de hupomenein ta oikeia kath' hekaston, ê triton ta
men exienai ta d'epeisienai. (6.7.2.1-8) O termo parece ter sido um neologismo
democritiano.
17 De certa maneira, acrescentar o prefixo meta- ao radical de rhusmos reforça
a ideia de movimento, mas isso poderia soar também como um pleonasmo, pois
rhusmos que comporta já este aspecto, poderia bastar a exprimir a nuance em
questão.
18 Hesíquio de Alexandria compôs o seu Léxico no século V ou VI d.C., reunindo
palavras cujo sentido era considerado obscuro. Ele baseou seu trabalho em um
léxico mais antigo, aquele de Diogeniano, provavelmente do século II a.C.. O
trabalho de Hesíquio consiste em uma lista de termos poéticos e dialetais,
frases e pequenos provérbios, e se apresenta como os nossos modernos
dicionários. Ele constitui a única fonte para um grande número de termos raros.
O único manuscrito conservado deste léxico se encontra bastante e seriamente
corrompido. A melhor edição disponível é aquela de L. Latte (1953-66=TLG) e de
P. Hansen (2005), mas ela contém somente os termos de A - S. Para o resto do
alfabeto o texto padrão é a editio maior de Moritz Schmidt (1858-68=TLG), que
compreende o conjunto do alfabeto, mas é bastante diferente da de Latte. Cf.
DICKEY, E., Ancient Greek Scholarship. A Guide to Finding, Reading, and
Understanding Scholia, Commentaries, Lexica, and Grammatical Treatises, from
Their Beginnings to the Byzantine Period. Col. "American Philological
Association". Oxford/New York: Oxford University Press, 2007, p. 88-90.
19 HESIQUIO, Léxico; 68 B 139 DK.
20 Benveniste, E., Problèmes de linguistique générale. Paris: Gallimard, 1966.
21 Sauvanet, P., Le Rythme grec d'Héraclite à Aristote. Paris: PUF, 1999, p.
39.
22 O termo se encontra grafado em uma ou outra destas formas. Trata-se de uma
variaçao dialetal.
23 Benveniste, E., Op. cit., p. 328.
24 ESTOBEU, Florilégio, IV, V, 48: 68 B 266 DK: oudemia mêkhanê tôi nun
kathestôti rhuthmôi mê ouk adikein tous arkhontas.
25 ESTOBEU, Florilégio, III, IV, 71: 68 B 197 DK: anoêmones rhusmountai tois
tês tukhês kerdesin? hoi de tôn toiônde daêmones tois tês sophiês.
26 CLEMENTE DE ALEXANDRIA, Stromata, IV, 151: 68 B 33 DK: hê didakhê
metarhusmoi ton anthrôpon (...).
27 TEOFRASTO, Causa das plantas, VI, VII, 2: 68 B 132 DK: anankê . . .ta
skêmata metarrhuthmizesthai.
28 SEXTO EMPIRICO, Contre les mathématiciens, VII, 137: 68 B 7 DK: eteêi ouden
ismen peri oudenos, all' epirrhusmiê hekastoisin hê doxis.
29 Benveniste, E., Op. cit., p. 330.
30 Benveniste, E., Op. cit., p. 332.
31 Benveniste, E., Op. cit., p. 332.
32 Benveniste, E., Op. cit., p. 333.
33 Serres, M., La Naissance de la physique dans le texte de Lucrèce. Fleuves et
Turbulences. Paris: Les Éditions de Minuit, 1997, p. 190 : "La linguistique
suit ici sans contradiction la pratique usuelle, la nature des choses, la
théorie abstraite. Démocrite voit le rythme où il est, Benveniste ne l'a pas
vu. L'irréversible d'Héraclite est rythmé çà et là par Démocrite, et tous les
atomistes".
34 Sauvanet, P., Op.cit., p. 20.
35 Alfieri, V.E., Atomos Idea. L'origine del concetto dell'atomo nel pensiero
greco. Galatina: Congedo Editore, 1979, p. 71 - 72.
36 Von Fritz, K., Philosophie und sprachlicher Ausdruck bei Demokrit, Plato und
Aristoteles. New York, 1939, p. 26.
37 Alfieri, V.E., Op. Cit., p. 73 : "'capacità d'aggregazione', ossia quella
bene determinata attitudine ad associarsi con altri atomi che è in funzione
della forma, secondo che questa sai uncinata, ricurva, spigolosa, ecc. (...)".
38 Sauvanet, P., Op. Cit., p. 43-44.
39 ARISTOTELES, Da geração e da corrupção, I, 315 a 31 - 35.
40 Ibidem, I, 315 b 6 - 15.
41 ARISTOTELES, Metafísica, A 4, 985 b 19.