A reforma da previdência no Brasil: estudo comparativo dos governos Fernando
Henrique Cardoso e Lula
Introdução
Nos anos de 1980 e 1990, a América Latina passou a enfrentar um problema que os
países desenvolvidos já têm debatido há algum tempo: a necessidade de promover
reformas no sistema previdenciário. No Brasil, o crescente déficit fiscal - em
parte causado pelos benefícios incorporados à Constituição de 1988 -, a
diminuição na taxa de crescimento populacional e o aumento da expectativa de
vida, entre outros fatores, vêm contribuindo para que a reforma previdenciária
ocupe o centro da agenda política no país. Da mesma forma, a estabilidade
macroeconômica e o fim do imposto inflacionário fizeram com que os gastos
previdenciários crescessem continuamente a partir de 1994.
No processo de reforma dos sistemas previdenciários, a maioria dos países
latino-americanos optou por algum grau de privatização, com auxílio técnico e
financeiro do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (Brooks, 2004).
Essas reformas também foram influenciadas pelos resultados das políticas
adotadas em países "pares" relevantes, sendo que o aparente sucesso do "modelo
chileno" acabou se tornando referência para os defensores das mudanças
estruturais que buscavam estabelecer um sistema de contribuições definidas
(Brooks, 2002).
A mudança de um sistema de benefícios definidos para contribuições definidas é
um processo complexo, particularmente do ponto de vista fiscal, na medida em
que envolve altos custos de transição. Com a criação das contas individuais,
não só os governos param de recolher contribuições dos atuais trabalhadores,
mas também têm que continuar pagando benefícios aos aposentados e trabalhadores
da ativa e que permanecerão no sistema de repartição simples. Além disso, os
custos de transição podem dificultar a privatização do sistema previdenciário
em função do impacto negativo das reformas sobre o orçamento fiscal no curto
prazo, levando a "dificuldades políticas intransponíveis" em países com
sistemas previdenciários mais maduros (Pierson, 1994).
Contrariando uma tendência verificada em outros países da região, onde a maior
parte das mudanças levou à privatização parcial (Argentina) ou total (México,
Chile) dos respectivos sistemas previdenciários, o Brasil decidiu fortalecer o
sistema pay-as-you-go (PAYGO) e, ao mesmo tempo, desenvolver um esquema de
pensões complementares. Como resultado, os custos de transição acabaram
impactando o processo de promoção de contas individuais em diferentes níveis.
No caso do México, a questão fiscal não representou um problema decisivo na
privatização total da previdência devido à presença de uma população jovem, à
limitada cobertura do sistema previdenciário e pelo fato de os benefícios não
estarem indexados à inflação, reduzindo o valor pago em termos reais ao longo
do tempo (Madrid, 2003, pp. 61-97). Em outros países com sistemas mais antigos
e de maior cobertura, os custos de transição teriam que ser financiados pelo
aumento da receita ou redução da dívida.1 Essas medidas poderiam ser
implementadas sob regimes autoritários, mas não constituem alternativas
politicamente viáveis para as democracias latino-americanas que desejam adotar
reformas semelhantes.
Apesar dos altos níveis de obrigações do sistema previdenciário, Argentina e
Brasil adotaram diferentes tipos de reforma. O primeiro foi capaz de aprovar a
legislação, criando um sistema misto, que reduzirá o déficit a níveis
aceitáveis nos próximos cinqüenta anos; o segundo optou por efetuar reformas
paramétricas, que contribuíram para reduzir o problema fiscal no curto-prazo,
mas que não serão capazes de impedir o aprofundamento do déficit no longo
prazo.2 A Tabela_1 mostra a comparação entre os custos de transição e as
reformas em alguns países da América Latina.3
Embora os custos de transição tenham sido importantes, outros fatores
políticos, históricos e institucionais contribuíram para definir o formato do
atual sistema previdenciário no Brasil, cujo processo de reformas levou a duas
emendas constitucionais. A primeira foi aprovada no final do primeiro mandato
de Fernando Henrique Cardoso, em dezembro de 1998; a segunda conseguiu apoio da
maioria na Câmara dos Deputados e no Senado ao final do primeiro ano do
primeiro mandato de Lula, em outubro de 2003.
Atualmente, existem três tipos de esquemas de pensões no sistema previdenciário
brasileiro. Dois são financiados com recursos públicos: o Regime Geral da
Previdência Social (RGPS), para trabalhadores do setor privado, e um Regime
Especial para Servidores Públicos. Uma das principais características tanto do
esquema público como do privado é o fato de ambos operarem sob o esquema PAYGO
em que aposentados, pensionistas e dependentes recebem benefícios
independentemente da contabilidade do orçamento do sistema previdenciário. O
terceiro é o Regime de Pensões Complementares (RPC), um esquema facultativo
composto por pensões voluntárias e fundos de pensão.
O déficit do sistema previdenciário vem aumentando desde 1996, tendo chegado a
5% do PIB em 2003, mantendo-se acima deste patamar desde então. Em 2006, os
Regimes Próprios corresponderam a cerca de 60% do déficit do sistema, enquanto
o RGPS equivaleu a cerca de 40% do total. Em 2006, o RGPS teve déficit
acumulado no ano de R$ 42,1 bilhões, equivalentes a 2 % do PIB, mesmo com o
aumento do emprego formal e a arrecadação, que atingiu R$ 123,5 bilhões. O
déficit no Regime Especial, compreendido os três poderes, corresponde a cerca
de 3,2% do PIB, pela estimativa dos autores. Em outras palavras, o sistema de
pensões para trabalhadores do setor público, com quase um terço do total de
beneficiários, produz um déficit maior do que o regime dos trabalhadores do
setor privado. Estas disparidades levantaram a necessidade de condução de
reformas distintas para os dois grupos de trabalhadores.
As abordagens adotadas por Fernando Henrique e Lula na reforma do sistema
previdenciário sugerem diversas questões: por que Fernando Henrique não
conseguiu implementar a ambiciosa reforma inicialmente almejada? Quem foram os
vencedores e perdedores com as reformas, e como esses atores tentaram
influenciar o processo de decisão? O que levou Lula a se opor à reforma do
sistema previdenciário em 1988 e a propor um novo plano em 2003? Quais fatores
impediram que Lula conduzisse uma reforma mais abrangente, apesar de um clima
político potencialmente favorável? Seria Lula um político historicamente
vinculado à esquerda, o mais capacitado para promover as urgentes reformas no
sistema previdenciário de que o país tanto necessita?
No presente estudo, essas questões foram discutidas por meio da comparação
entre as reformas de 1998 e 2003. Em particular, foram analisados os aspectos
institucionais que influenciaram as emendas finais, considerando as diferenças
na condução e o nível de apoio político dos atores institucionais. Na próxima
seção, serão apresentados os principais elementos teóricos da literatura neo-
institucionalista. Em seguida, são descritos os atores institucionais
envolvidos, bem como são analisados os processos e os resultados decorrentes
das reformas no contexto analítico neo-institucionalista. As conclusões seguem
ao final.
O neo-institucionalismo
Os princípios do neo-institucionalismo, suas vertentes histórica e racional4
foram sucintamente descritas por Hall e Taylor (1996). Apesar das limitações
inerentes a definições esquemáticas, tal diferenciação facilita a organização
das idéias e o entendimento das hipóteses mais relevantes para a análise do
papel das instituições.5
Tanto proponentes do institucionalismo histórico como defensores da abordagem
racional acreditam que as instituições definem preferências ao contribuir para
a determinação dos objetivos políticos e a mudança de percepções relativas a
ganhos e perdas.
Para os institucionalistas históricos, as instituições atuam como "processos
formais ou informais, rotinas, normas e convenções imbuídas na estrutura
organizacional do regime [polity] ou da economia política [...], estruturando o
comportamento coletivo e gerando diferentes resultados" (Hall e Taylor, 1996,
p. 6). Ao ressaltar as características "estruturais", os institucionalistas
históricos posicionam as instituições no centro do processo decisório, não
apenas por servir como canal das aspirações coletivas, mas também por
contribuir decisivamente para os resultados finais.
Os institucionalistas racionalistas mostram preferência por argumentos
funcionalistas quando afirmam que "as instituições solucionam muitos dos
problemas de ação coletiva que as legislaturas habitualmente confrontam" (Idem,
p. 11), ao mediar conflitos entre grupos com diferentes interesses e contribuir
para definir políticas e objetivos políticos. Em outras palavras, conforme
sintetizado por North, "as instituições são construídas para reduzir incertezas
no intercâmbio humano" (1993, p. 2). Além disso, tanto teóricos históricos como
racionalistas reconhecem que os fenômenos políticos são caracterizados pela
presença de múltiplos pontos de equilíbrio, embora mostrem visões distintas
sobre a maneira pela qual os atores organizam suas escolhas. Para os
racionalistas, os atores têm preferências fixas e tentam maximizar os
resultados (outcomes) por meio da análise do jogo político, não apenas sob a
óptica do cálculo estratégico, mas também levando em consideração as
expectativas de outros atores (Hall e Taylor, 1996, p. 12). Dessa forma, os
arranjos institucionais tenderiam a limitar os problemas de ação coletiva ao
maximizar o potencial do atendimento ao interesse público.
Entre os institucionalistas históricos existem diferentes visões sobre a
maneira como as instituições influenciam os indivíduos. De acordo com o
calculus approach, o comportamento humano é condicionado por cálculos
estratégicos, ao passo que, na abordagem "cultural", as escolhas são baseadas
em interpretações contextuais. Essa vertente também enfatiza a assimetria de
poder - em que vencedores e perdedores são claramente definidos entre
diferentes grupos de interesse - e os fatores ideacionais como determinantes
para os desdobramentos políticos (Hall e Taylor, 1996, pp. 8-10). Ressalta,
ainda, todo o contexto, em vez de fatos isolados, e observa a interação entre
as instituições e os processos, numa abordagem de path dependence. Ao contrário
dos racionalistas, que se concentram na coordenação das funções das
instituições, path dependence destaca o tempo (timing) e a sucessão de eventos
por meio de uma perspectiva de processo histórico, enfatizando as
características distintas das origens e dos desenvolvimentos de arranjos
políticos ou critical junctures - períodos que reforçam certas trajetórias
(Pierson, 2000, p. 251). Essa abordagem freqüentemente encontra-se associada à
noção de retornos crescentes, de forma que o desvio dessas trajetórias se torna
cada vez mais oneroso com o passar do tempo, para os quais não apenas os
eventos iniciais, mas também os mecanismos de reprodução, mostram-se essenciais
(Idem, pp. 263-264).
Na próxima seção, são descritos os principais atores institucionais envolvidos
nas reformas e como esses contribuíram para definir o sistema previdenciário em
vigor no país.
Atores institucionais
Haggard e Kaufman (1992) sugerem que a pressão de grupos de interesse, aliada à
natureza e ao planejamento de certas instituições, produz os incentivos que
motivam líderes governamentais na busca de determinados objetivos políticos. Os
autores também argumentam que a densidade e a distribuição dos grupos sociais,
bem como os meios pelos quais esses grupos expressam seus interesses,
determinam os resultados dos processos políticos. Portanto, embora o debate em
torno da reforma previdenciária tenha sido conduzido primordialmente no
Congresso, muitos outros atores institucionais estiveram envolvidos na reforma.
Com o intuito de avaliar a extensão da sua influência, utilizou-se a descrição
dos atores efetuada por Alston et al. (2004) e Savoia (2005). Em seguida,
comenta-se, brevemente, o papel de cada um desses atores na aprovação das
emendas de 1998 e 2003.
Governo federal
O governo federal foi o ator institucional mais importante, tendo sido
responsável pelo início da reforma da previdência nos governos Fernando
Henrique e Lula. A prioridade na agenda política é um fator essencial, não
apenas em função da submissão da emenda constitucional ao Congresso, mas também
pela necessidade de implementação de legislação complementar necessária para
operacionalizar o sistema. Por outro lado, o Executivo está longe de apresentar
o comportamento de uma entidade unitária, e o processo decisório encontra-se
diluído em diversas instâncias, nas quais os interesses são, por vezes,
conflitantes entre si.
No Brasil, a regulação e a supervisão das estruturas encontram-se divididas
entre os Ministérios da Previdência Social (Regime Geral, Regimes Especial e
Fundos de Pensões) e o Ministério da Fazenda (Regime Complementar). Essa
separação dificulta a implementação de uma política previdenciária de facto,
não raro exigindo mediação direta do presidente e do Ministério da Casa Civil
na resolução das controvérsias. Assim como em outros países, o Ministério da
Previdência Social brasileiro defende um sistema de cobertura básica universal
e busca alcançar o equilíbrio entre os benefícios de todas as partes
envolvidas. De outra maneira, influenciado pelos objetivos de equilíbrio fiscal
e crescimento econômico, o Ministério da Fazenda tem apoiado o desenvolvimento
de um esquema de previdência complementar, com participação ativa de
trabalhadores e empresas, com o intuito de elevar a poupança doméstica e
reduzir a presença do Estado na provisão das pensões.
Estados e municípios
Os sistemas previdenciários dos estados e municípios são relativamente recentes
e encontram-se em diferentes estágios de maturação. Dessa forma, as pressões
fiscais têm sido relativamente menos severas quando comparadas aos gastos
federais crescentes com a previdência. Com poucas exceções, em 1998, a maior
parte dos estados ainda não tinha sido afetada pelo déficit crescente, ao
contrário do que já vinha ocorrendo na esfera federal. Naquele contexto, a
maior parte dos servidores públicos estaduais e municipais já integrava o
Regime Geral.
O cenário era diferente em 2003: não apenas estados e municípios passaram a ser
pressionados pelos mecanismos que têm contribuído para o déficit crescente do
sistema previdenciário federal, mas também a lei de responsabilidade fiscal,
aprovada em 2001, estabeleceu limites legais para os gastos públicos, levando
prefeitos e, especialmente, governadores a defender a reforma previdenciária.
Câmara dos deputados
Fernando Henrique precisou de mais de três anos para ter sua reforma
previdenciária aprovada no Congresso. Nesse período, os partidos de oposição
alteraram a proposta original e votaram sistematicamente contra as reformas. Em
particular, o PT notabilizou-se por enviar provisões individuais para serem
votadas em separado na Câmara dos Deputados, os chamados "destaques",
bloqueando a agenda do Congresso. Ao mesmo tempo, Fernando Henrique teve que
lidar com insurgências dentro de sua própria base aliada. Embora a maior parte
dos deputados do PSDB e do PFL (atualmente, DEM), que representavam o núcleo de
apoio ao governo, apoiasse as reformas, outros partidos, como o PMDB e PPB
(atualmente, PP), freqüentemente alteravam suas posições, dependendo dos
resultados da barganha política nas negociações com o Executivo (Madrid, 2003).
Por outro lado, em dezembro de 2003, apenas oito meses após ter submetido sua
proposta para votação, Lula contou com o apoio decisivo dos partidos que
formavam a coalizão no governo Fernando Henrique.
Senado
No início de 1998, Fernando Henrique encaminhou uma nova proposta de emenda ao
Senado, após ter sido derrotado na Câmara. Nesse caso, a recepção foi mais
favorável, não só porque a maioria dos senadores apoiava as reformas, mas
também porque no Senado, ao contrário da Câmara, as regras são mais rígidas, e
as votações dos destaques não são permitidas sem o consenso da maioria.
Em 2003, o governo federal não encontrou maiores dificuldades para apoiar a
reforma no Senado: Lula tinha tanto o controle da maioria dos votos - com todos
na base aliada, à exceção de um senador do PT, que votou a favor da emenda -
como conseguiu assegurar o apoio de metade do PSDB.
Judiciário
O poder Judiciário, principalmente a parte composta pelos magistrados e juízes,
apoiou a emenda em 1998, mas foi contra em 2003, temendo a perda de privilégios
com a reforma das pensões dos servidores públicos. Os servidores públicos do
sistema judiciário deixaram de fazer oposição à reforma de Lula, uma vez
garantida a manutenção dos benefícios durante a produção da proposta final
enviada ao Congresso.
Sindicatos
O movimento sindical também se caracterizou por diversas posições. De um lado,
entidades, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) - fortemente ligada ao
PT e representante dos interesses da maior parte dos servidores públicos -,
opuseram-se às reformas do sistema previdenciário. De outro, a Força Sindical
(FS), tradicionalmente mais conservadora e próxima do setor privado, apoiou as
reformas e expressou interesse em instituir seu próprio fundo de pensão
(Pinheiro, 2004, pp. 10-12).
Associações de classe, empresários e imprensa
Como esperado, os aposentados opuseram-se a ambas as reformas. Embora tivessem
direito a um assento nos fóruns de discussão do Conselho Nacional da
Previdência Social (CNPS), sua influência não foi tão significativa quanto à de
outros atores. Em contrapartida, a classe empresarial, talvez o grupo que mais
apoiou as reformas dentre os setores da sociedade civil, mobilizou-se em favor
das reformas propostas por ambos os governos, motivados pela possibilidade de
oferecer serviços financeiros para os portadores de planos de pensões
individuais, ao mesmo tempo em que esperavam que a expansão dos fundos de
pensão gerasse liquidez, a qual supostamente deveria estimular o mercado de
capitais.
Como ator, a imprensa foi capaz de mudar a natureza do debate ao influenciar a
opinião pública, especialmente durante a reforma de Lula, de duas formas:
primeiro, ao trazer o assunto para uma audiência ampla, a mídia manteve a
discussão na agenda política; segundo, ao colocar a questão previdenciária como
solução para os problemas fiscais, em vez de se concentrar no corte de
benefícios previstos pela Constituição, a imprensa ajudou a criar um ambiente
propício para o debate sobre a reforma das aposentadorias do setor público. A
maior parte da imprensa apoiou as reformas da previdência, sobretudo os jornais
de grande circulação, que exercem grande influência entre o público formador de
opinião.6 O impacto da mídia pode ser aferido por uma pesquisa realizada em
junho de 2003, mostrando que mais da metade dos entrevistados estava ciente da
emenda e que 74% dos servidores públicos tinham ouvido falar das reformas. Além
disso, 61% dos entrevistados afirmaram ser favoráveis à criação de um teto
limitando os benefícios tanto do setor privado como do público.7
Organismos internacionais
As principais instituições financeiras internacionais, em particular o Banco
Mundial e o Fundo Monetário Internacional, exerceram influência na proposta de
Fernando Henrique, não por conta de fatores condicionais, mas, principalmente,
por meio das idéias (Brookes, 2004). Essas instituições influíram muito pouco
na reforma de Lula.
A reforma da previdência dos governos Fernando Henrique e Lula
A reforma da previdência no Brasil vem sendo conduzida por um processo gradual,
não apenas pela necessidade de leis complementares que possam tornar a emenda
operacional, mas também em função da seqüência de eventos que se desdobraram ao
longo de ambas as administrações. No governo Fernando Henrique, o novo sistema
previdenciário atingiu principalmente os trabalhadores do regime geral. Por
outro lado, a reforma de Lula teve por objetivo reestruturar a previdência do
setor público, em particular ao promover mudanças significativas para os novos
servidores, sem que os atuais empregados do setor público fossem prejudicados.
No plano político, enquanto Fernando Henrique teve que digladiar por mais de
três anos no Congresso até que a reforma fosse promulgada em dezembro de 1998,
Lula levou menos de um ano para que sua emenda obtivesse aprovação na Câmara e
no Senado em 2003.
Fernando Henrique estabeleceu dois objetivos principais para o seu governo:
manter a estabilidade macroeconômica e reformar o Estado.8 Em seu primeiro
mandato, entre 1995 e 1998, seu governo empreendeu uma série de reformas de
primeira geração, como a privatização de empresas estatais, ao mesmo tempo
mantendo uma política monetária ortodoxa, com o intuito de assegurar a
estabilidade econômica obtida com o plano Real, de 1994. Nesse ínterim, a
reforma da previdência e outras reformas de segunda geração começaram a ser
debatidas. A proposta de reforma do sistema previdenciário foi enviada ao
Congresso pela primeira vez em abril de 1995, onde permaneceu até a sua
aprovação em dezembro de 1998.
Fernando Henrique, inicialmente, tentou passar uma emenda abrangente, almejando
equilibrar os benefícios previdenciários dos setores público e privado,
reduzindo privilégios, acirrando critérios de elegibilidade e atacando outros
focos que contribuíssem para agravar o déficit fiscal. Assim como as reformas
de primeira geração, o objetivo principal era cortar despesas em vez de
expandir a rede de proteção social. Ademais, o governo demorou a decidir se
adotaria a privatização total da previdência, como recomendado pelo Banco
Mundial, antes de optar por promover reformas paramétricas no sistema de
repartição.
No plano legislativo, Fernando Henrique encontrou oposição entre os setores
tradicionais resistentes a mudanças no sistema previdenciário: os partidos de
esquerda (liderados pelo PT), a CUT e os servidores públicos. Em função da
fragmentação do sistema político e da ausência de disciplina partidária, o
governo sofreu defecções entre seus próprios aliados. Ao final, Fernando
Henrique foi capaz de passar sua proposta, ainda que com diversas modificações,
por meio de concessões e liberação de verbas para fins específicos,
encaminhados por parlamentares, e também aceitando uma versão limitada do
projeto original.
As principais mudanças efetuadas no regime geral com a emenda de 1998 foram: o
maior rigor para a obtenção da aposentadoria, o estabelecimento de período
mínimo de contribuição, além de mudanças no cálculo dos benefícios advindos da
introdução do fator previdenciário, que funcionou como uma fórmula de ajuste
atuarial para os contribuintes elegíveis à obtenção da aposentadoria. Para os
servidores públicos, o aspecto mais significativo foi a eliminação da
aposentadoria proporcional para os novos servidores, que, anteriormente,
garantia a possibilidade de antecipação da aposentadoria.
Enquanto alguns autores argumentam que aqueles foram "ajustes mínimos ao modelo
existente", outros afirmam que a reforma dos regimes geral e complementar foi
bem-sucedida. O governo Fernando Henrique empreendeu grandes esforços para
quebrar a rigidez imposta pela Constituição de 1988, com o intuito de obter
maior flexibilidade e implementar as mudanças utilizando os canais legais
regulares. Nesse contexto, uma das maiores conquistas para a reforma de 1998
foi "desconstitucionalizar" a regra de cálculo dos benefícios para os
trabalhadores sob o Regime Geral, possibilitando a mudança da idade e o limite
das aposentadorias especiais. Ainda assim, a reforma não efetuou mudanças
substanciais no sistema previdenciário, especialmente no que tange às
aposentadorias do setor público, levando a uma percepção generalizada de que um
dos principais fatores do desequilíbrio permaneceu intocado.
Em contrapartida, Lula encontrou um ambiente institucional muito mais propício
e oportuno para a consecução das reformas de segunda geração, uma vez que as
alianças formadas no Congresso lhe garantiam maioria, e o PSDB, agora na
oposição, comprometera-se a votar com o governo na reforma da previdência. Os
mercados financeiros já se haviam acalmado após o turbulento período entre a
eleição e a transição para a nova administração, devido à sinalização de Lula
de que as medidas de estabilização macroeconômica adotadas por seu antecessor
teriam continuidade. Do ponto de vista legal, as barreiras constitucionais que
poderiam ter prejudicado as tentativas de ajuste do orçamento fiscal através
das reformas da previdência haviam sido eliminadas com a emenda aprovada em
1998. Com o intuito de avaliar o ambiente em ambas as reformas, Savoia (2005)
estima o peso das instituições e o nível de apoio de cada um desses atores em
ambas as reformas (Tabela_3). Ao calcular o apoio total recebido por Fernando
Henrique e Lula em suas respectivas reformas, numa escala normalizada, observa-
se que o primeiro tinha aproximadamente 55% de todo o apoio institucional,
enquanto o segundo contava com menos de 37% do suporte dos atores considerados.
Quando o PT assumiu o poder, não havia proposta formal para o problema da
previdência, apesar de algumas referências genéricas de que a questão seria
abordada, conforme apresentado no Programa de Governo de Lula. Desde o início,
o governo procurou discutir com diferentes setores da sociedade, estabelecendo
diálogo com as administrações estaduais e organizando debates sobre a reforma
previdenciária no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social entre
fevereiro e abril de 2003. Com base na experiência negativa da falta de debate
público, que acabou prejudicando seu antecessor até os estágios finais de
tramitação no Congresso, Lula enfatizou a importância da transparência e
abertura na apresentação de sua proposta. Em particular, as autoridades
governamentais preocuparam-se em dissociar a idéia de reforma da privatização
do sistema.
No início de seu governo, Lula confrontou o Judiciário numa série de questões,
fazendo com que juízes e outros profissionais da Justiça se sentissem
particularmente ameaçados com a possibilidade de mudanças em suas
aposentadorias. Após assegurar que tais benefícios seriam mantidos, o ambiente
acalmou-se e o presidente pôde incluir a taxação dos inativos na proposta
final, um dos pontos mais polêmicos de seu projeto original. Além disso, grande
parte da população apoiou a reforma do sistema previdenciário devido à
discrepância entre os benefícios oferecidos aos trabalhadores dos setores
público e privado.
Por fim, o governo acabou adotando dois procedimentos distintos, alterando o
teto de benefícios do Regime Geral e, ao mesmo tempo, reformando o Regime
Próprio dos servidores públicos, com o intuito de promover a convergência de
ambos os sistemas no longo prazo. O plano de unificar os diferentes benefícios
sob um sistema universal foi substituído por uma nova estratégia que priorizava
os ajustes nas aposentadorias dos servidores públicos e em critérios de
elegibilidade. Numa segunda rodada, apesar da defecção de congressistas do PT e
de outros partidos, o governo foi capaz de obter 358 votos, 50 a mais do que o
necessário para passar a emenda, incluindo 70 votos do PSDB, PFL e outros
partidos da oposição.
Para os servidores públicos na ativa, a idade mínima de aposentadoria foi
mantida (53 anos para homens e 48 para mulheres), mas com uma redução de 5% por
ano, aplicada àqueles que decidissem se aposentar antes da idade de referência
(60 e 55, para homens e mulheres, respectivamente), para aqueles que haviam
ingressado no serviço público antes de 16 de dezembro de 1998. O benefício
seria calculado com uma média das contribuições, tal qual no Regime Geral. Como
incentivo para aqueles que decidissem adiar sua aposentadoria, um adicional de
11% foi incluído. Para os novos servidores, as regras serão semelhantes àquelas
adotadas no Regime Geral, em que os benefícios seriam calculados com base no
conjunto das contribuições anteriores, até o limite de R$ 2.400,00,
complementados por esquemas voluntários de contribuição.
No caso dos aposentados do setor público, a principal mudança foi a taxação em
11% para aqueles cujos benefícios fossem superiores a R$ 1.440,00, no serviço
público federal, ou R$ 1.200,00, para as demais esferas. A exceção ficou por
conta daqueles portadores de direitos adquiridos, que permaneceriam livres do
imposto. Para os trabalhadores do setor privado na ativa, os benefícios seriam
elevados a R$ 2.400,00, em comparação ao limite anterior de R$ 1.869,00. A
emenda também possibilitou a provisão da aposentadoria de um salário mínimo
para trabalhadores de baixa renda. Para os futuros trabalhadores, o benefício
de R$ 2.400 foi mantido, com uma redução de 30% aplicada sobre o montante
excedendo esse limite.
A reforma do sistema previdenciário: uma visão institucionalista
As reformas previdenciárias de 1998 e 2003 foram iniciadas por motivações
semelhantes (pressão do déficit fiscal), enfrentaram dificuldades comuns
(fragmentação política e jogos de interesses) e compartilharam um mesmo palco
(Congresso). Mas o conteúdo das reformas diferiu substancialmente, assim como
as forças contrárias com as quais cada governo teve que se defrontar. Com o
objetivo de entender o papel dos atores institucionais e os processos
envolvidos na reforma da previdência, uma abordagem neo-institucionalista, por
meio das vertentes histórica e racional, oferece um arcabouço teórico adequado
para a presente discussão.
Sob as lentes do institucionalismo histórico é possível compreender a adoção
das políticas macroeconômicas liberais por Fernando Henrique e a abordagem
pragmática de Lula em suas reformas. Na presidência, as preferências são
definidas não apenas pelas responsabilidades inerentes à posição de liderança
(cultural approach), mas também por meio da avaliação das perdas e dos ganhos
que integram as negociações no contexto do jogo político (calculus approach).
Nesse contexto, o institucionalismo histórico ajuda a esclarecer o papel do
Congresso e de outras instituições no processo de definição das reformas. De um
lado, as ações de Fernando Henrique foram limitadas por provisões
constitucionais que tiveram de ser alteradas para que mudanças subseqüentes no
sistema previdenciário fossem implementadas, pelo nível dos custos de
transição, levando ao abandono da idéia da privatização total do sistema, e
pela falta de coordenação e disciplina entre os partidos da base aliada. De
outro lado, seu governo foi capaz de contar com o apoio de diferentes forças no
Congresso, apesar de uma oposição organizada, para passar a reforma. Em última
instância, a dinâmica política que levou à concretização das mudanças na
previdência foi determinada por uma trajetória path dependent, em que a reforma
de Lula seguiu os passos iniciados por Fernando Henrique ao priorizar o
equilíbrio fiscal em vez de estender os benefícios pela ampliação do sistema.
Se a instituição de benefícios previdenciários, no começo da década de 1920,
compõe o cenário inicial da presente discussão, outros eventos subseqüentes
definiram o sistema previdenciário atualmente em vigor. Por exemplo, a
unificação de todas as aposentadorias do setor privado sob um fundo público
único administrado pelo governo ocorrida em 1967 serviu como base para o Regime
Geral. Da mesma forma, uma nova regulação iniciada nos anos de 1970 estabeleceu
os fundamentos do sistema de contribuições voluntárias que correspondem ao
atual regime de previdência complementar. Além disso, o cálculo da dívida
implícita tem sido o argumento mais convincente em suporte às reformas
paramétricas e, desde a sua incorporação ao debate das reformas, tem havido
consenso de que a privatização total do sistema previdenciário seria
politicamente inviável. Finalmente, os altos custos de transição e as grandes
diferenças sociais são fatores determinantes para a manutenção do atual sistema
de repartição.
Lula elegeu a reforma da previdência como uma das prioridades do início de seu
governo por pelo menos duas razões: para reforçar seu compromisso com a
manutenção da estabilidade econômica e para tirar proveito do momento político
após a vitória nas urnas. A decisão de reformar a previdência dos servidores
públicos pode ser analisada da perspectiva dos custos políticos. Caso se
mantivesse indiferente ao problema que permanecera pendente na reforma
anterior, o governo Lula seria prejudicado com o déficit crescente, devido ao
aumento dos gastos com a previdência dos servidores públicos e com a perda de
credibilidade por não se empenhar na resolução de um problema com grande
impacto sobre o orçamento da União.
À primeira vista, ao optar por enfatizar a reforma da previdência do setor
público, Lula teve que se defrontar com interesses desse setor, grupo com o
qual tem fortes laços históricos. No presente caso, o governo encontrou um
problema típico de ação coletiva, o que poderia contradizer uma suposição
baseada no pensamento racional, em que os atores são dotados de preferências
predeterminadas. Entretanto, o fato de a reforma ter se concentrado nos
benefícios dos futuros servidores é parte evidente da barganha política que
manteve os benefícios dos atuais servidores. Esse aspecto reforça o
comprometimento de Lula com os atuaistrabalhadores no serviço público, que se
beneficiaram às custas dos futuros servidores. Numa análise mais ampla, o
institucionalismo racional poderia esclarecer a estratégia de Lula ao promover
a reforma da previdência, em que seus laços com o trabalho organizado
claramente facilitaram a passagem da emenda. Tais ligações não apenas
contribuíram para minar a resistência dos sindicatos e dos partidos de
esquerda, mas também ajudaram a construir uma relação de confiança entre o
governo e as potenciais forças contrárias às reformas, essencial para a
definição das expectativas e a conclusão das negociações.
Pinheiro (2004) também utilizou a lógica da ação coletiva para explicar por
que, apesar dos planos de uma reforma ambiciosa, Fernando Henrique precisou de
"mais de três anos para passar uma versão restrita da emenda em novembro de
1998". Embora o presidente tenha encontrado um ambiente institucional menos
favorável tanto no Congresso como na sociedade civil, alguns dos itens da
proposta original foram mantidos na emenda constitucional, mesmo após várias
batalhas legislativas nos subcomitês e no plenário. Ainda assim, a previdência
dos servidores públicos permaneceu quase intocada em função da capacidade de
mobilização da oposição contra as reformas.
Se, de um lado, a lógica da ação coletiva ajuda a entender por que certos
grupos são capazes de bloquear as reformas, de outro, não explica a capacidade
do governo em promover reformas paramétricas, apesar de feroz oposição. Como
Lula foi capaz de promover reformas que feriam os interesses de alguns dos
principais aliados de seu partido? Tal questão não é explicada pela lógica da
ação coletiva, que tende a superestimar a capacidade dos grupos de bloquear a
agenda com o intuito de promover seus interesses particulares.
Ao mediar o jogo político, os elementos institucionais em última instância
possibilitaram que as reformas tivessem algum grau de sucesso, na visão de seus
proponentes. Enquanto os fatores institucionalistas históricos foram
instrumentais na "escala" das decisões, definindo os atores mais atingidos
pelas mudanças, o institucionalismo racional relaciona-se a um segundo nível de
análise, em que os atores institucionais contribuíram para definir o "escopo"
dos resultados finais, diferenciando a forma como atuais e futuros
beneficiários seriam afetados pelas reformas. Para Fernando Henrique, esse
cenário levou-o a aceitar uma solução subótima decorrente das limitações
institucionais existentes. Para Lula, pode ter comprometido o projeto inicial
do governo em promover um sistema previdenciário mais equilibrado para
trabalhadores dos setores público e privado, em benefício dos atuais
servidores.
Conclusões
Desde que a democracia e a estabilidade macroeconômica foram alcançadas, tem-se
visto um novo conjunto de prioridades na agenda política brasileira. A reforma
do sistema previdenciário tem sido uma parte importante na busca pelo
equilíbrio fiscal do governo. Ainda assim, foi apenas na segunda metade da
década de 1990 que a sustentabilidade do sistema previdenciário passou a ocupar
espaço de destaque no cenário político. Isso se deve aos reajustes reais de
benefícios e à estabilização, que tornaram explícitos os desequilíbrios
orçamentários da previdência.
O objetivo inicial de conduzir amplas reformas não correspondeu às expectativas
iniciais de Fernando Henrique por diversas razões, entre elas, a fragmentação
política e a frágil disciplina partidária, que acabaram minando a possibilidade
de encaminhar uma proposta mais extensa do que aquela aprovada pelo Congresso
em 1998. Mas o governo também falhou ao deixar de empreender uma ação
coordenada que poderia ter levado a um consenso inicial dentro da própria
administração, o que teria facilitado as negociações no âmbito do Congresso.
Como as soluções foram discutidas principalmente no nível "tecnocrático", sem
abertura para o debate público, a ausência de transparência acabou gerando
reações negativas em diversos setores da sociedade civil.
Apesar de um ambiente comparativamente favorável à implementação da reforma
previdenciária, Lula também frustrou aqueles que esperavam uma resposta efetiva
ao problema do déficit fiscal causado pelo desequilíbrio na previdência. Não só
o desempenho de Lula ao lidar com a aposentadoria dos trabalhadores do setor
privado foi mínimo como também a reforma falhou ao deixar de contemplar os
benefícios dos atuais servidores e dos trabalhadores inativos no setor público,
principalmente aqueles lotados nos órgãos federais, uma das mais importantes
distorções do presente sistema.
Com o intuito de explicar como Fernando Henrique e Lula abordaram a questão da
reforma previdenciária, utilizou-se o institucionalismo histórico e racional
como fundamento teórico. Nesse contexto, path dependence foi o instrumental
para a discussão da escala da agenda e dos processos políticos, ao passo que a
abordagem racionalista ajudou a compreender o escopo da reforma de Lula. Além
disso, foram utilizados elementos da lógica da ação coletiva para mostrar como
os atores sociais se organizam, embora também se tenha enfatizado os limites
dessa abordagem, que não explica por que foi possível aprovar versões ainda que
limitadas da reforma da previdência.
O Congresso foi apresentado como o principal palco para o aprimoramento do
sistema previdenciário, e concluiu-se que a habilidade de negociar o processo,
levando-se em consideração as limitações impostas pela Câmara dos Deputados e
Senado, oferece tanto desafios como oportunidades para os proponentes das
reformas. No passado, Fernando Henrique teve problemas com uma fraca coalizão
ao lidar com uma oposição organizada. No caso de Lula, a evolução das reformas
dependeu da capacidade do governo de superar suas batalhas internas, ao mesmo
tempo em que teve que conviver com os limites impostos pelo próprio PT.
Em resumo, ao comparar a reforma da previdência de Fernando Henrique e Lula,
concluiu-se que as instituições são elementos fundamentais na determinação dos
processos e dos resultados finais caracterizados por vencedores (atuais
servidores públicos) e perdedores (os futuros servidores públicos e a população
em geral). Se, de um lado, as instituições têm contribuído para diminuir o
ritmo das reformas, de outro, têm criado oportunidades no processo de ajuste do
sistema previdenciário brasileiro. O problema ainda persiste.
NOTAS
1 Depoimento de Steven J. Kay em 11 de fevereiro de 1999 (ver Testimony Before
the House Committee on Ways and Means, Hearing on Social Security Reform
Lessons Learned in Other Countries).
2 Ver Social Security Privatization: Experiences Abroad, Washington, D.C.,
Congressional Budget Office, 1999.
3 O cálculo dos custos de transição é complexo e diferentes números são
encontrados na literatura, conforme descrito por Bravo e Uthof (1999), Mesa-
Lago (2000) e Gil, Packard e Yermo (2005).
4 Embora uma terceira vertente "sociológica" também seja encontrada na
literatura neo-institucionalista, optou-se por focar a discussão nas duas
variedades apresentadas neste estudo.
5 Thelen (1999, pp. 369-371) argumenta que a fronteira entre o
institucionalismo histórico e o racional vem sendo erodida, algo com que Hall e
Taylor também concordam quando argumentam que "outros racionalistas começaram a
incorporar 'cultura' e 'crenças' em seu trabalho" (1996, p. 23).
6 Em editorial, o jornal O Estado de São Paulo publicou que "interesses
particulares e corporativos são prejudicados na mudança e, sendo assim, não são
muitas as pessoas dispostas a considerar que o que se visa é a correção de um
sistema que vem provocando enormes transferências de renda dos trabalhadores do
setor privado para os do setor público, além de ser o maior fator estrutural do
desequilíbrio das contas públicas". Ver O Estado de São Paulo, "Governo vence a
primeira prova", 7/8/2003, no site http://www.previdenciasocial.gov.br/reforma/
opiniao/outros_20030807.htm.
7 Ver Folha de São Paulo, "Maioria é contra taxação de inativos, diz pesquisa",
30/6/2003, no site http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u50675.shtml.
8 Palestra de Fernando Henrique Cardoso proferida à comunidade acadêmica
brasileira da Universidade de Columbia (Columbia University School of Law, Nova
York, 2005).