Aplicação de Modelação Numérica e Física para o Estudo da Reabilitação e
Proteção da Praia de Colwyn Bay, País de Gales, Reino Unido
1. Introdução
A praia de Colwyn Bay localiza-se na costa norte do País de Gales no Reino
Unido (Figura_1). Possui valor histórico significtivo como estância balnear e
valor económico, relevante para a população e administração local, como recurso
turístico. Neste contexto, Colwyn Bay é conhecida pelo desenvolvimento
urbanístico da sua frente marítima ao longo de uma extensão de linha de costa
com cerca de 3,5 km. No entanto, atualmente, esta praia sofre de notável
erosão, que se traduz numa redução da largura de praia e num rebaixamento da
berma e face de praia, e consequentemente, de acentuada degradação da maioria
das infraestruturas marítimas existentes (Figura_2). Atualmente, em situações
de preia-mar, o Mar da Irlanda alcança o paredão (defesa longitudinal aderente)
que limita a praia ao longo de toda a sua extensão longitudinal, provocando a
degradação desta estrutura centenária (já reforçada no passado). Em situações
de tempestade, quando ocorrem ventos fortes e baixas pressões atmosféricas, as
elevadas alturas de onda e sobrelevação do nível do mar dão frequentemente
origem a galgamentos que causam inundações da estrada marginal adjacente à
defesa longitudinal aderente, pondo em perigo pessoas, bens e infraestruturas.
Em suma, a praia encontra-se em avançado estado de degradação das suas funções
recreativa (como zona de lazer e uso balnear) e de proteção costeira, e a
defesa longitudinal aderente encontra-se fragilizada estruturalmente e não
garante proteção contra os galgamentos. Dada a situação, a autoridade local
(Conwy County Borough Council) decidiu desenvolver um plano de defesa costeira
baseado no redimensionamento da defesa longitudinal aderente e na reabilitação
e proteção da praia (CCBC, 2007). O estudo que aqui se descreve insere-se no
âmbito de uma estratégia de gestão costeira baseada em defesa da acção do mar e
teve como objetivo testar, analisar e avaliar soluções alternativas de
reabilitação e proteção da praia baseadas numa estratégia de alimentação
artificial e soluções alternativas estruturais para melhoria da defesa
longitudinal aderente. Neste contexto, realizou-se a caracterização da dinâmica
da praia para, com base no seu conhecimento, testar soluções alternativas de
longo prazo baseadas em alimentação artificial com e sem estruturas de
retenção/proteção (esporões, esporões em Y e quebra-mares destacados). O teste
destas soluções baseou-se em modelação numérica da morfodinâmica de curto prazo
e da evolução da linha de costa a longo prazo.
Procedeu-se também ao teste de soluções alternativas do perfil transversal da
defesa longitudinal aderente recorrendo a modelação física realizada em canal
de ondas, para verificação da sua estabilidade e dos galgamentos.
Na próxima secção descrevem-se os métodos aplicados na caracterização da
dinâmica da praia, na análise de soluções alternativas para a reabilitação e
proteção da praia e na análise de soluções alternativas para a melhoria da
defesa aderente. Os principais resultados são apresentados na secção seguinte e
é com base na sua análise crítica que se conclui sobre a eficiência das
soluções e se fazem recomendações relativamente às soluções a implementar.
2. Métodos
2.1. Análise de dados e modelação numérica da praia
2.1.1. Caracterização da dinâmica hidro-sedimentar
A caracterização da dinâmica da praia consistiu: a) na análise da evolução
morfológica da face e berma de praia, b) na análise da composição
sedimentológica das mesmas zonas, c) na análise do regime de agitação marítima
(e em particular das tempestades), d) na análise do nível do mar
(especificamente, da componente devida à maré astronómica e da componente
devida à sobrelevação meteorológica) e e) na análise do transporte longitudinal
na zona ativa submersa (faixa adjacente à linha de costa, do lado do mar, onde
ocorre transporte sedimentar significativo na componente longitudinal). A
metodologia aplicada, esquematizada naFigura_3, baseou-se num vasto conjunto de
dados observados: levantamentos topo-hidrográficos desde 1956, fotografias
aéreas de diversas datas, informação sobre os sedimentos da face e berma de
praia, uma série temporal de 19 anos de parâmetros de agitação marítima e uma
série temporal de 15 anos do nível do mar.
De forma sucinta, descreve-se seguidamente a metodologia aplicada:
a) A análise da evolução morfológica baseou-se em levantamentos topo-
hidrográficos de diferentes datas, compreendidas entre 1956 e 2007, e incluiu
os seguintes aspetos: a evolução da posição da linha de costa; a evolução
tridimensional (3D) da face de praia; e a evolução do perfil transversal de
praia. A evolução da posição da linha de costa, isolinha correspondente à
elevação igual a 0 m relativa ao Ordinance Datum Newlyn (ODN), foi determinada
com base na ferramenta Digital Shoreline Analysis System (DSAS), que estende as
funcionalidades do software ArcGIS (ESRI), permitindo a automatização de grande
parte das tarefas relacionadas com a análise quantitativa da evolução da linha
de costa (Thieler et al., 2009). As datas dos levantamentos analisados foram
1956, 1980, 1990, 2002 e 2007. A evolução 3D da face da praia incluiu a sua
totalidade, desde o limite do paredão (2,5 m ODN) até à cota aproximada de -1,5
m ODN, e baseou-se na comparação dos modelos digitais de elevação construídos
com base em levantamentos topográficos datados de Outubro de 2001 a Novembro de
2007 (aproximadamente 2 levantamentos anuais). A zona de análise consistiu na
área comum dos levantamentos, correspondendo a uma área total de 433,8 x 103
m2. Obtiveram-se balanços volumétricos e taxas de erosão e assoreamento para
cada período de comparação. A evolução do perfil transversal da praia baseou-se
em dois tipos de dados: levantamentos históricos de 103 perfis de praia datados
entre 1956 e 1995; e levantamentos topográficos mais recentes, de Novembro de
1997 a Maio de 2009. Foram avaliados vários indicadores morfológicos sobre a
evolução de cada perfil, designadamente a variação média, máxima e a taxa de
variação da elevação da face de praia na base da defesa longitudinal aderente.
Dos levantamentos mais recentes foram analisados os datados de Outubro de 2001
a Maio de 2009 (2 levantamentos por ano), nomeadamente 5 perfis transversais
(por apresentarem melhor consistência nas direções), desde a defesa
longitudinal até aproximadamente à elevação -4 m ODN. Os parâmetros
morfológicos analisados foram: largura da praia a diferentes níveis de
referência (0, -2 e -3 m ODN); área da praia, estimada em cada perfil acima do
0m ODN e entre 0 e -2 m ODN; e volume subaéreo da praia, considerando que cada
perfil tem uma extensão lateral igual à soma de metade da distância entre dois
perfis consecutivos.
b) A análise da composição sedimentológica foi efetuada com base em sondagens
curtas ao longo de 9 perfis (3 sondagens por perfil e 3 amostras por sondagem
recolhidas às elevações 1,5 m, 0,0 m e -2,6 m ODN). Foram determinados os
parâmetros diâmetro mediano, D50, e coeficiente de graduação, s ( igual a (D84/
D16)0,5, em que D16 e D84 são os valores de diâmetro abaixo dos quais 16% e 84%
da distribuição têm diâmetros inferiores, respetivamente). A densidade das
partículas foi determinada para algumas amostras, assim como a composição
mineralógica da fração arenosa, que foi avaliada através de observação à lupa
binocular.
c) A análise da agitação marítima foi efetuada com base no processamento de
três séries (correspondentes a três posições ao largo em frente à praia: Oeste,
Central e Este) de valores horários dos seguintes parâmetros: altura de onda
significativa, Hs, período médio da onda, Tz, e direção média da onda, ?. Estas
séries foram obtidas através de um modelo de reconstituição (hindcast) da
agitação marítima forçado pelo vento ocorrido ao longo de 19,5 anos, entre
1986/10/01 e 2006/03/31.
Verificou-se que as falhas (lacunas) das séries de agitação marítima
resultantes da falta de dados de vento (ou vento nulo), correspondentes a 13%
dos dados, se encontravam bem distribuídas ao longo do ano. Tendo em vista a
reconstituição das séries, essas falhas foram colmatadas da seguinte forma: por
valores interpolados, no caso do intervalo de falha ser inferior a um dia; e
pelos valores médios diários anuais (ou considerando todos os registos naquele
dia em todos os anos) no caso de falhas com duração superior a um dia. A
caracterização do regime médio foi feita em classes de 0,25 m para Hs, 1 s para
Tz e 10° para ?.
d) A análise do nível do mar baseou-se na série temporal de dados do marégrafo
de Llandudno (a cerca de 8 km a Oeste de Colwyn Bay), entre Maio de 1994 e
Dezembro de 2008. Os dados contêm: níveis de água medidos a cada 15 minutos
(referidos ao Admiralty Chart Datum Reference (ACD), cuja relação com ODN é
ACD=ODN-3.85 m), e os resíduos calculados pela diferença entre os valores
medidos e os níveis de maré previstos pelo BODC (British Oceanographic Data
Centre). As falhas encontradas nos registos, por ano, oscilam entre
aproximadamente 45% (em 1994) e 0% (ano completo, em 2005). O período máximo
com falhas é de 3,5 meses. Tendo em vista a construção de uma série temporal
contínua de nível do mar com início em 1987/01/01 (início do período
considerado para a agitação marítima) aplicou-se a seguinte metodologia: i)
calcularam-se as constituintes de maré utilizando o software T_TIDE
(Pawlowicz et al., 2002), com base nos dados do período entre 1995/01/01 e
2000/12/31 (6 anos); ii) reconstituiu-se a série de níveis de maré para o
período completo de 19 anos com início em 1987/01/01, a partir das
constituintes de maré; iii) adicionou-se a sobrelevação registada na série
original aos valores previstos para o nível de maré (usaram-se exatamente os
valores registados para o período entre 1995 e 2005, e para o período entre
1987 e 1994 utilizaram-se os resíduos medidos em outros anos).
e) A análise do transporte longitudinal na zona ativa submersa foi efetuada com
base na aplicação do modelo Litdrift (DHI, 2008) para os 19 anos completos
(1987-2005) das séries de agitação marítima e nível do mar (esta última
construída conforme descrito acima). Foi aplicado um modelo numérico do tipo
perfil (2D-vertical), baseado nos principais processos físicos costeiros
determinantes para o transporte sedimentar (em suspensão e de fundo) na zona de
rebentação, que inclui a variação granulométrica (através do parâmetros D50 e
s) dos sedimentos na direção transversal da praia. O cálculo do transporte
longitudinal num perfil representativo da morfologia da praia (aproximadamente
no centro da zona de estudo) foi antecedido por uma análise de sensibilidade
aos parâmetros sedimentológicos, uma vez que se verificou a existência de
grande variabilidade do valor destes parâmetros, assim como a existência de
afloramentos argilosos, na face de praia. Aplicou-se um espaçamento horizontal
de 2 m ao longo do perfil transversal e a cada ponto associaram-se os
respetivos parâmetros sedimentológicos (extrapolados com base nos resultados
das amostras superficiais e nas conclusões da análise de sensibilidade
realizada). Através da aplicação do modelo determinou-se o transporte
sedimentar instantâneo, de 3 em 3 horas, em cada ponto do perfil, para os 19
anos em apreço. Com base neste resultado calculou-se a capacidade de transporte
sedimentar em cada sentido longitudinal da praia (Este e Oeste) e a extensão da
zona onde ocorre 90 e 95% do transporte (assim como a correspondente
profundidade). Com base nestes resultados também foi possível concluir sobre
outros parâmetros de caracterização da dinâmica sedimentar da praia, tais como
a variabilidade anual e sazonal do transporte longitudinal.
2.1.2. Soluções alternativas
Tendo em vista definir soluções alternativas de reabilitação e proteção
baseadas numa estratégia de alimentação artificial, implementou-se uma
metodologia constituída por duas partes principais, que tiveram por objetivo: a
primeira, a definição do perfil de enchimento; e a segunda, o teste de soluções
de longo prazo, algumas com estruturas de retenção/proteção (esporões, esporões
em Y e quebra-mares destacados) (Figura_3).
O dimensionamento do perfil de enchimento e, consequentemente, a estimativa do
volume de enchimento, foi baseado: i) no conceito de perfil de equilíbrio, para
a face e zona submersa ativa; e ii) na resiliência do perfil em condições de
tempestade, para a berma. Neste caso de estudo, foi considerado o efeito da
grande amplitude de maré (entre 4 a 8 m) na geometria do perfil de longo prazo,
tendo sido usado um perfil de equilíbrio de dois-declives baseado no método
2S-EBP (2 Slope'Equilibrium Beach Profile) de Bernabeu et al. (2003). Este
método incorre na determinação de 4 coeficientes de forma da praia que são
função do número adimensional de queda das partículas, Ω = Hs/wT (onde T foi
considerado o período médio da onda, Tz), que por sua vez contém a dependência
da dimensão característica dos sedimentos através da velocidade de queda, w.
Determinaram-se perfis de equilíbrio para 3 diâmetros característicos dos
sedimentos: D50=0,25, 0,5 e 0,75 mm. A cota do topo do perfil de praia foi
dimensionada em função do nível máximo de água ou do nível de água excedido
somente uma pequena percentagem de tempo.
O dimensionamento da berma foi baseado em:
i) condicionamentos económicos (considerando que quanto mais estreita for a
berma menor será o volume de recarga), ii) necessidade de uma largura razoável
para utilização balnear e de recreio (apesar de também vir a ser condicionada
pelas alterações da forma plana a longo prazo) e iii) manutenção de uma largura
mínima de segurança para evitar a ação direta da agitação sobre o paredão em
condições de tempestade. Foi no âmbito desta última condição que se testou a
resiliência do perfil em condições de tempestade.
Considerando uma largura de berma de 50 m e a dimensão das partículas
sedimentares disponíveis para o enchimento (informação obtida através da
prospeção da área de empréstimo), que se associou à respetiva configuração de
perfil 2S-EBP, estabeleceu-se um conjunto de casos de teste (Tabela_1).
Simulou-se a evolução do perfil de enchimento sob ação erosiva para estes
casos. Aplicou-se o modelo numérico Litprof (DHI, 2008), 2D-vertical, do tipo
modelo de perfil, baseado nos processos físicos litorais de morfodinâmica de
curto prazo. Testaram-se as tempestades ocorridas em Fev/1990 e Dez/1990
(Figura_4). A primeira correspondeu ao período mais longo de ondas consecutivas
com Hs superior a 3 m da série de 19 anos de agitação marítima. A segunda
correspondeu ao período em que o nível do mar alcançou níveis mais elevados
devido à sobrelevação (gerada por baixas pressões meteorológicas). Nos testes
1-5 a berma foi considerada plana ao nível 4 m ODN. Nos testes 6-7 a berma foi
considerada com declive 1:100, desde o nível 5 m ODN, junto ao paredão, até ao
nível 4,5 m ODN.
O teste das soluções alternativas de longo prazo foi baseado na aplicação de
dois modelos numéricos de evolução da linha de costa, os modelos Litmod
(Vicente, 1991; Vicente e Clímaco, 2003) e Litline (DHI, 2008). A aplicação dos
dois modelos deve-se ao facto deles terem diferentes abordagens metodológicas e
consequentemente diferentes capacidades e limitações. Por exemplo, o Litline
simula a variação instantânea do nível do mar devida à maré e o Litmod não (foi
aplicado para o nível médio do mar); o Litmod simula o efeito de esporões em
forma de Y e o Litline não. A aplicação de ambos permitiu testar um conjunto
alargado de soluções de reabilitação.
A primeira fase da metodologia de modelação das soluções alternativas consistiu
na calibração dos modelos. Foi realizada para o período Out/2001 ' Jul/2005,
porque o primeiro levantamento completo da zona foi realizado em Out/2001 e a
série temporal de agitação marítima termina em 2005. As linhas de costa (nível
0 m ODN) utilizadas no processo de calibração foram: a linha de Out/2001, como
linha inicial; e as quatro linhas Out/2002, Jul/2003, Maio/2004 e Jul/2005,
como linhas de verificação. Foram considerados os perfis de praia de Out/2001
em consonância com a data da linha de costa inicial. Considerou-se o gradiente
(variação espacial) de energia incidente na praia ao longo da direção
longitudinal através da utilização dos três climas de agitação (Oeste, Central
e Este) em ambos os modelos. No modelo Litline utilizaram-se espaçamentos de
células iguais a 40 e 2 m ao longo da linha de base (linha de referência do
modelo) e do perfil, respetivamente, e consideraram-se as seguintes condições
fronteira: zona ativa bloqueada até ao quebra-mar destacado (com difração) na
fronteira Oeste, e zona ativa totalmente aberta na fronteira Este. No modelo
Litmod utilizou-se a fórmula de Kamphuis (Kamphuis, 1991) para o cálculo do
transporte sólido litoral, um passo de cálculo de 0,01 dia e células com 40 m
de comprimento ao longo da linha de base. As condições fronteira consistiram:
na taxa de transporte imposta na fronteira Este e na taxa de transporte a Oeste
resultante do processo de evolução morfológica (erosão/acreção) observado entre
fronteiras.
A segunda fase da metodologia para modelação das soluções alternativas
consistiu no teste de duas soluções de alimentação artificial sem estruturas de
proteção. Testou-se a evolução (para os 19 anos da série de agitação marítima)
do enchimento da praia para dois tipos de sedimentos e respetivos perfis (2S-
EBP e berma com declive 1:100 entre os níveis 5 e 4,5 m ODN). Estas soluções
corresponderam a: 3,3 milhões de m3 de areia com D50=0,25 mm (área de
enchimento 1,6 milhões de m2); e 2,2 milhões de m3 de areia com D50=0,45 mm
(área de enchimento 1,3 milhões de m2s).
A terceira fase da metodologia para modelação das soluções alternativas
consistiu no teste de soluções de alimentação com estruturas de proteção, tais
como esporões, esporões em Y e quebra-mares destacados. O objetivo foi analisar
o efeito das estruturas implementadas na retenção do volume de areia depositado
na praia.
2.2. Modelação física da defesa aderente
Nesta secção descrevem-se aspectos de modelação física relacionados com a
análise da estabilidade e dos galgamentos das várias soluções alternativas do
perfil transversal da defesa longitudinal aderente de enrocamento, que foi
inicialmente pensada para ser utilizada no extremo Este de Colwyn Bay.
Descreve-se a configuração do modelo físico no que diz respeito às instalações
de ensaio, à escala do modelo, aos perfis transversais, aos fundos do modelo,
ao programa de ensaios e à avaliação da estabilidade e dos galgamentos dos
perfis.
2.2.1. Instalações de ensaio e escala do modelo
Realizaram-se ensaios com vista à análise da estabilidade e dos galgamentos, em
modelo físico bidimensional, num canal de ondas irregulares, com cerca de 50 m
de comprimento, 1,6 m de largura e 1,2 m de profundidade (largura e
profundidade úteis de 0,8 m) (Reis et al., 2010). Utilizou-se um batedor de
pistão com um sistema de absorção ativa da reflexão, AWASYS (Troch, 2005),
controlado pelo software SAM (Capitão, 2002).
Os modelos foram construídos e explorados de acordo com a semelhança de Froude,
tendo sido utilizada a escala geométrica de 1:25. Esta escala foi selecionada
de maneira a garantir que os principais aspetos da interação onda-estrutura
(reflexão, dissipação e transmissão, especialmente por galgamento), eram bem
reproduzidos no modelo, eram evitados efeitos de escala significativos,
especialmente no que se refere à reprodução da rebentação e do escoamento nos
mantos da estrutura, e as condições de teste definidas podiam ser reproduzidas
na instalação de ensaio com os recursos disponíveis (Hughes, 1993; De Rouck et
al., 2005).
2.2.2. Perfis transversais e fundos do modelo
Foram construídas e testadas oito alternativas para o perfil transversal da
defesa longitudinal aderente de enrocamento, denominadas Alternativas 1 a 8. A
Tabela_2 apresenta as principais características da Alternativa 1 e as
diferenças desta para as restantes alternativas (2 a 8). As oito alternativas
diferiam principalmente na inclinação do talude do manto exterior, na geometria
e permeabilidade da berma do coroamento e na geometria do muro-cortina. A
Alternativa 1 foi desenvolvida a partir do perfil transversal preliminar que
foi identificado no plano de defesa costeira (CCBC, 2007) e da avaliação
empírica do seu desempenho relativamente aos galgamentos. As alternativas
subsequentes foram testadas para avaliar o impacto provocado pela alteração de
diferentes características da estrutura. A Figura_5 apresenta os perfis
transversais das Alternativas 1, 5, 7 e 8.
No modelo, os fundos em frente ao local de implantação da defesa longitudinal
aderente foram reproduzidos por intermédio de um fundo fixo, desde o pé do
talude da estrutura até ao nível de -0,164 m, o que correspondia no protótipo
ao nível de 0 m ACD (-4,1 m ODN, Figura_6). O fundo foi reproduzido por duas
rampas de diferente inclinação: 1:50 nos 5 m (125 m no protótipo) existentes
imediatamente em frente à estrutura e 1:100 nos restantes 4,4 m (110 m no
protótipo).
2.2.3. Programa de ensaios
Para cada uma das alternativas propostas para o perfil transversal da defesa
longitudinal aderente, o programa de ensaios especificava uma sequência de
testes, realizados com ondas irregulares, com uma configuração espectral
empírica de JONSWAP (com um fator de esbelteza, ?=3,3). A cada um deles
correspondiam valores nominais pré-definidos de altura de onda significativa,
Hos, e período médio, Tom, na batimétrica -4,1 m ODN, e um nível de maré
(Tabela_3). Estas condições resultaram de uma análise de probabilidade conjunta
de ocorrência de ondas e marés realizada para a frente marítima de Conwy (HR
Wallingford, 2004) e os níveis de maré tiveram em conta previsões de futuras
subidas do nível do mar indicadas nas atuais recomendações da DEFRA (2006).
Os valores de Hos e Tom variaram entre 1,8 m e 4,0 m e 5,6 s e 8,6 s,
respetivamente, abrangendo uma grande gama de condições com períodos de retorno
entre 1 e 200 anos, que incluíam os potenciais casos mais desfavoráveis de
probabilidade conjunta que tinham sido identificados em estudos preliminares de
avaliação empírica do galgamento. No total, foram realizados 96 testes, cada um
deles com uma duração aproximada de 1000 ondas.
Para a medição da superfície livre, o canal foi equipado com quatro sondas de
condutância (Figura_6). Foram colocadas duas sondas fixas (sondas 1 e 2)
próximas do batedor, necessárias ao funcionamento do sistema de absorção ativa
da reflexão. A terceira sonda (sonda 3) foi localizada no final da parte
horizontal do canal. A quarta sonda (sonda 4) foi posicionada em frente à
estrutura. Os sinais provenientes das sondas foram adquiridos à taxa de 40 Hz
(escala do modelo), guardados em formato digital e analisados através do
software SAM.
2.2.4. Avaliação da estabilidade e galgamentos
Para cada alternativa, a estabilidade do manto exterior foi analisada, em cada
teste, através da contagem do número de quedas de blocos de enrocamento de 3 t
a 6 t e da determinação da respetiva percentagem, calculada através da divisão
daquele número pelo número total de blocos utilizado no modelo. Considerou-se
que houve queda de um bloco sempre que este se movimentou da sua posição
original numa distância igual ou superior ao seu diâmetro nominal.
O número de quedas de blocos por cada teste foi avaliado através da observação
visual do modelo durante o teste, pela comparação de fotografias tiradas antes
e depois do teste e pela análise do respetivo vídeo.
A percentagem de quedas de blocos foi comparada com a percentagem máxima
aceitável de 5% recomendada em CIRIA/CUR/CETMEF (2007), designada como a
inexistência de danos (no damage condition).
Para determinar os valores médios de caudais galgados por metro linear de
estrutura, Q (l/s/m), foi colocado um tanque de recolha de água a jusante da
obra e a água era direcionada para o tanque através de uma rampa de 0,30 m de
largura (Figura_6). Dentro do tanque instalaram-se uma bomba e um limnímetro,
ligados a um computador que monitorizava e registava a variação de nível em
cada ensaio com uma frequência de 40 Hz. Quando era atingido, no tanque, um
nível máximo de água pré-estabelecido, a bomba era ativada por um período fixo
de tempo. O volume de água bombada foi determinado com base na curva de
calibração da bomba. A medição da variação do nível de água no tanque durante
um ensaio, juntamente com a curva de calibração da bomba, permitiam determinar
os valores médios de caudais galgados por metro linear de estrutura, Q.
Os valores de Q obtidos para cada teste foram comparados com o valor máximo
aceitável de 0,1 l/s/m que tinha sido identificado como sendo adequado para os
principais utilizadores da zona costeira protegida pela defesa longitudinal
aderente (peões e/ou veículos), de acordo com as atuais recomendações
disponíveis em Pullen et al. (2007).
3. Resultados
3.1. Caracterização da dinâmica da praia
Os resultados da análise da evolução da posição da linha de costa entre 1956 e
2007 (Figura_7) mostram uma variação considerável da posição desta linha, tendo
o valor máximo residual de deslocamento sido de 50 e 20 m, de recuo e avanço,
respectivamente (Figura_7A). O deslocamento médio da linha de costa foi de 13 m
(recuo), correspondendo a uma área de cerca de 51x103 m2. Entre 1956 e 1980
praticamente toda a praia mostrou uma progressiva acreção, mais evidente no
sector central. No período entre 1980 e 1990 ocorreu uma situação de recuo
generalizado da linha de costa, com uma taxa média de erosão de 5 m.ano-1 e
máxima perto de 8 m.ano-1 (Figura_7B). Esta situação terá estado associada a
eventos de agitação marítima mais energéticos, que ocorreram entre 1988 e 1990,
mas também à construção, nesse período, de estruturas de defesa costeira
(quebra-mares de Rhos-on-Sea, Figura_1, e Penrhyn Bay, a Oeste do primeiro) que
terão alterado a contribuição sedimentar à praia. Após este período, a praia
mostrou uma recuperação ligeira com taxas de acreção média e máxima entre 1990
e 2002 de 2 e 5 m.ano-1, respetivamente. Depois de 2002, verificou-se a sua
estabilização, a uma taxa inferior a 0,5 m.ano-1. No período total de análise a
praia perdeu, em área, cerca de 51x103 m2, da qual cerca de 50% foi recuperada
após 1990.
A evolução 3D da face da praia, entre Outubro 2001 e Novembro 2007, mostra a
dominância do processo erosivo, com perda de sedimento da ordem de 40x103 m3, a
uma taxa de 7x103 m.ano-1, o que corresponde a um rebaixamento vertical médio
de 15 mm.ano-1 (Figura_8). Entre Outubro de 2001 e Maio de 2002 a taxa de
erosão observada foi a mais elevada, igual a 49x103 m3.ano-1, seguindo-se a
recuperação da praia na mesma ordem de grandeza. No entanto, as oscilações
volumétricas subsequentes promoveram a erosão geral da mesma. Os resultados
mostraram que o sentido da variação volumétrica nem sempre está associado à
sazonalidade do clima de agitação.
A evolução vertical da zona superior da face de praia (na base da defesa
longitudinal aderente) mostra que houve um rebaixamento longitudinal
praticamente constante, com variação máxima entre 1984 e 1990, no valor de 1,6
m, e uma taxa de evolução de 0,2 m.ano-1 (Tabela_4). Os resultados para o
período 1984-1988 refletem a acumulação observada no extremo Oeste da praia
como consequência da construção do quebra-mar de Rhos-on-Sea. A evolução dos
perfis transversais de praia evidencia a acentuada variabilidade morfológica
dos mesmos, quer longitudinal, quer transversal. De um modo geral, os perfis
que apresentam maior variabilidade morfológica são os dos extremos Oeste e
Este, sendo a zona inferior da face de praia o sector onde a variação
volumétrica é mais evidente. Não se observou uma correlação entre a
variabilidade morfológica dos perfis e a sazonalidade do clima de agitação.
Os resultados da análise da composição sedimentológica mostraram que os
sedimentos da praia de Colwyn Bay são principalmente areias. No entanto,
encontra-se uma fração importante de material mais grosseiro (cascalho e
blocos) na parte superior da face de praia ou em pequenas depressões ao longo
da zona inferior do perfil. No extremo Oeste, na zona protegida pelo quebra-mar
de Rhos-on-Sea, sedimentos vasosos cobrem a zona inferior da face de praia e
níveis de argila compacta afloram na zona inferior da face de praia,
principalmente no seu extremo Este. Na zona superior da face da praia, as
areias são grosseiras a cascalhentas, com D50 entre 0,6 e 3 mm, e mal
calibradas (s>3). Em alguns locais, os sedimentos são praticamente constituídos
por bioclastos. Na zona inferior do perfil, as areias apresentam grão fino a
médio (D50=0,2-0,3 mm) e são bem calibradas (s~1). Para além da triagem
granulométrica transversal, o diâmetro mediano dos sedimentos apresenta
variabilidade longitudinal, com aumento do D50 nos extremos da praia, sectores
com maior variabilidade morfológica, e particularmente em direção a Este. A
densidade média das partículas é de 2,7.
Os resultados da análise do regime médio de agitação marítima ao largo (ver
histogramas para a posição Central na Figura_9) mostraram que predominam os
períodos de calmaria, com Hs<0,25 m e 2<Tz<4 s. As direções de agitação mais
frequentes (somando 65% das ocorrências) são as compreendidas entre
285°<?<345°, seguindo-se a agitação proveniente do quadrante Nordeste
(totalizando 28% das ocorrências). A altura de onda significativa máxima é
inferior a 3,25m, oriunda da direção ?=0°, enquanto o valor médio de Hs é igual
a 0,44 m (Tz=3 s).
Os resultados da análise de tempestades para 3 diferentes limiares de altura de
onda (Hs>2,0, 2,5 e 3,0 m) e quatro intervalos de duração da tempestade (t<1, 2
e 3 dias, e t>3 dias) mostraram que ocorreram mais temporais no período entre
1987-1993 do que nos anos seguintes. A maior tempestade (maior Hs maior e mais
longa duração) ocorreu de 7 a 12 de Dezembro de 1990, secundada pela ocorrida
de 26 de Fevereiro a 2 de Março de 1990, e utilizada para o dimensionamento do
perfil ótimo da praia, devido à sua conjugação com níveis de água extremos.
Os resultados da análise do nível do mar a partir da série temporal
(reconstituída) de 19 anos de níveis de água mostraram que o nível máximo
estimado foi 5,2 m, e os níveis de 4,0, 4,5 e 5,0 m ODN são somente excedidos,
em média, 5 dias por ano, 1 dia por ano e 1 dia em 50 anos, respetivamente.
Estes três níveis foram escolhidos para duas hipóteses de configuração da berma
e perfil de enchimento. Determinou-se ainda a amplitude de maré modal (mais
frequente), igual a 6,25 m.
Os resultados da análise do transporte longitudinal na zona ativa submersa para
os 19 anos de agitação marítima e nível do mar, entre 1987 e 2005, mostraram
grande variação interanual da capacidade de transporte sedimentar, entre
51,9x103 e 187,5x103 m3.ano-1 para a resultante do transporte (diferença entre
as componentes dirigidas para Este e para Oeste) (Figura_10b). Constatou-se que
existe uma predominância do transporte para Este, de cerca de 95% do transporte
total, tendo sido o valor médio do transporte para Oeste e para Este de 6,3x103
e 109,9x103 m3.ano-1, respetivamente (Figura_10a). Como consequência, os
transportes resultante e total (diferença e soma entre as duas componentes)
médios foram bastante semelhantes: 103,5x103 e 116,3x103 m3.ano-1,
respetivamente (Figura_10b). A análise da distribuição transversal do
transporte longitudinal ao longo da zona ativa submersa mostrou que os valores
médios da extensão transversal (ao longo do perfil) onde ocorre 90 e 95% do
transporte total são 218 e 249 m, respetivamente. As profundidades
correspondentes são -3,0 e -3,6 m ODN, respetivamente. Ao contrário da grandeza
do transporte, estes parâmetros evidenciaram uma pequena variação interanual.
Tal dever-se-á ao facto de dependerem maioritariamente da ocorrência de ondas
com maior capacidade de transporte, as ondas com maior altura, que iniciam o
seu processo de rebentação mais ao largo.
Os resultados descritos permitiram não só caracterizar a dinâmica da praia,
conforme demonstrado, mas também foram fundamentais para a modelação das
soluções
alternativas, quer em perfil, quer em planta, pois foi com base neles que se
estabeleceram as condições geomorfológicas iniciais, de calibração e de
verificação, e as condições de hidrodinâmica que permitiram executar as
previsões do comportamento hidro-sedimentar da futura praia, apresentadas na
secção seguinte.
3.2. Soluções alternativas de reabilitação e proteção da praia
Estabelecidos os perfis de enchimento resultantes da combinação de duas
configurações para a berma (plana e inclinada) e cinco configurações para o
perfil (três do tipo 2S-EBP, para D50=0,25, 0,45 e 0,75 mm, e duas de declive
constante), realizaram-se testes para a análise da morfodinâmica de curto
prazo, nomeadamente para simular a ação erosiva das tempestades de Fev/1990 e
Dez/1990, Tabela 1. Os resultados da variação morfológica ao longo do perfil
(Figura_11 e Tabela_5) mostraram que a tempestade de Fev/1990, em que os níveis
do mar atingiram valores mais elevados, causou maior erosão (apesar das ondas
terem cerca de metade da altura das ocorridas na tempestade de Dez/1990, Figura
4). A berma horizontal ao nível 4 m ODN permaneceu inalterada sob ação da
tempestade de Dez/90 para os três testes efetuados (testes 1-3), nos quais
apenas ocorreu erosão da face de praia (Figura_11a e Tabela_5). Contudo, sob
ação da tempestade de Fev/90, a mesma berma (testes 4-5) foi quase totalmente
erodida (Figura_11b e Tabela_5). Constatou-se que a dispersão granulométrica,
s, é um parâmetro bastante influente na estabilidade do perfil de praia. Os
resultados numéricos indicaram que este parâmetro pode ser mais relevante do
que o diâmetro mediano, D50, no processo de erosão. Concluiu-se que uma berma
horizontal com 50 m de largura ao nível 4 m ODN é insuficiente para evitar a
ação direta das ondas sobre o paredão, quando submetida à pior tempestade
conhecida. Para estas condições de estado do mar, apenas a berma de
50 m de largura e declive 1:100, implementada desde o nível 5 m ODN junto ao
paredão até ao nível 4,5 m ODN, mostrou resiliência ao processo de erosão
(Figura_11c e Tabela_5). Salienta-se que, mesmo para esta geometria de topo de
praia, apenas um perfil com pequena dispersão granulométrica, da ordem do valor
aqui testado, s =1,72, pode garantir uma largura mínima da berma de segurança.
Os resultados dos testes das soluções alternativas de longo prazo (para os 19
anos das séries de agitação marítima e nível do mar), ou seja, a evolução da
forma plana da praia obtida com os modelos de evolução da linha de costa, para
as soluções baseadas em alimentação artificial sem estruturas de proteção,
mostraram uma boa concordância entre os dois modelos na previsão das perdas de
sedimentos durante os primeiros 10 anos. Estimou-se uma perda de 17% com o
modelo Litline e 20% com o modelo Litmod, para ambos os casos (3,3 milhões de
m3 de areia com D50=0,25 mm e 2,2 milhões de m3 de areia com D50=0,45 mm).
Ambos os modelos identificaram os extremos dos enchimentos como locais críticos
de erosão (recuo da linha de costa) e o sector central como a zona mais
estável. O extremo Este do enchimento foi o que mostrou maior recuo, 79 m com o
modelo Litline para a solução de enchimento com
D50=0,25 mm. Uma vez que o volume de enchimento considerando D50=0,25 mm é
superior ao volume para D50=0,45 mm, a perda de sedimentos é superior, logo, o
enchimento com D50=0,45 mm seria potencialmente mais económico.
Com o objetivo de diminuir as perdas de areia ao longo do tempo verificadas nas
soluções alternativas anteriores, testaram-se os seguintes arranjos baseados em
alimentação artificial e obras fixas de contenção: i) um esporão em Y com 250 m
de comprimento; ii) dois esporões em Y com 250 m de comprimento, distanciados
de 1000 m (Figura_12); iii) dois esporões com 250 m de comprimento,
distanciados de 1000 m (Figura_13); iv) três quebra-mares destacados com 280 m
de comprimento (Figura_14); v) dois esporões em Y com 250 m de comprimento,
distanciados de 1600 m. Estas soluções foram avaliadas e comparadas qualitativa
e quantitativamente. Os parâmetros qualitativos foram: partição da praia,
uniformidade da largura de praia, aproveitamento de estruturas existentes,
segurança para uso recreativo, vista para o mar e provável ocorrência de
problemas associados a sedimentação (incluindo de salubridade). A solução
minimalista (em termos de implementação de estruturas), que consistiu na
implementação de esporões, alternativa iii), é a que oferece condições mais
compatíveis com a futura utilização da praia, que será prática balnear, de
desportos náuticos, passeios com vista para o mar e outros tipos de uso
recreativo. Os parâmetros quantitativos usados para avaliar e comparar as
soluções alternativas foram: a posição da linha de costa após 1, 5, 10 e 19
anos de simulação, a posição do topo do 2S-EBP (linha ao nível 4,5 m ODN) após
10 anos, e a perda de sedimentos do trecho de enchimento após 10 anos. Os
principais resultados foram:
* Ao fim de 10 anos, a perda de sedimentos correspondente ao enchimento variou
apenas 3% entre as soluções alternativas (entre 17 e 20%);
* A pior solução foi a alternativa iv), com 20% do enchimento perdido ao fim de
10 anos. A linha de costa, que ao fim de 5 anos já se apresentava bastante
irregular, continuou a recuar na parte central e no extremo Este de cada
quebra-mar destacado até ao final da simulação. O elevado recuo do perfil de
praia nestas localizações poderá causar erosão se for exercida uma ação
direta da onda sobre o paredão devido à ausência de berma;
* O esporão em forma de Y é mais eficiente em reter areia na sua área
adjacente, particularmente na zona de abrigo da estrutura, o lado Este, do
que o esporão com o mesmo comprimento (comparando alternativas ii) e iii));
* O deslocamento para Oeste do esporão em Y localizado a Oeste reduz a
uniformidade da largura de praia no trecho entre os esporões em Y, em
particular no lado Este desse esporão (comparando alternativas ii) e v)).
Também foram testadas as três primeiras alternativas considerando um aumento de
50 m no comprimento das estruturas transversais. Os resultados mostraram que a
perda de areia ao fim de 10 anos foi reduzida para 12% do volume de enchimento,
para os três casos. Este melhoramento deve-se ao facto da profundidade de fecho
ser maior (situar-se mais ao largo) do que a profundidade a que se localizam os
extremos destas estruturas, e consequentemente o seu prolongamento causar um
aumento significativo da capacidade de retenção.
3.3. Solução para reabilitação da defesa aderente
No que diz respeito à estabilidade do manto resistente de enrocamento, os
ensaios em modelo físico mostraram que as Alternativas 1 a 8 eram muito
estáveis: a percentagem de quedas de blocos de enrocamento foi sempre inferior
a 1%. Quando ocorreram estragos, estes limitaram-se à camada superior do manto,
não ficando os filtros visíveis em qualquer situação. Durante o decurso dos
ensaios, considerou-se que seria possível diminuir o peso do enrocamento sem
comprometer a estabilidade da estrutura, embora esta situação não tivesse sido
testada.
As Figuras_15_a_18 apresentam os valores dos caudais de galgamento das 8
alternativas ensaiadas para os seis níveis de maré testados. As figuras mostram
que o nível de maré 4,8 m ODN foi, para todas as alternativas consideradas, o
menos favorável no que diz respeito ao galgamento. Quando se consideram os
valores dos caudais de galgamento obtidos com as Alternativas 1 e 2, verifica-
se que na primeira delas o galgamento excedeu, por uma margem considerável, o
critério aceitável de 0,1 l/s/m. No entanto, a observação visual do modelo
mostrou que o muro-cortina era muito eficaz a limitar o volume de água
associados aos galgamentos. Na Alternativa 2, o aumento da altura do muro-
cortina em
0,5 m para um valor igual a 8,5 m ODN, reduziu de uma forma muito significativa
os níveis de galgamento, apesar de ainda se manterem acima do critério exigido
para os testes TC10 a TC12 e para TC16 (ver Tabela_3 e Figura_15). O aumento da
cota de coroamento do muro-cortina melhorou o nível de serviço, que passou de
menos de 50 anos para entre 50-100 anos, se não for considerada a subida do
nível médio do mar, e de 10 anos para mais de 20 anos se for considerada a
subida do nível do mar prevista para os próximos 75 anos, segundo as atuais
recomendações da DEFRA (2006).
Os resultados das Alternativas 3 e 4 demonstraram que um talude mais inclinado,
de 1:2,5, com uma berma de betão mais larga em frente ao muro-cortina não foi
tão eficaz a reduzir os galgamentos como o talude mais suave, de 1:3, com uma
berma de betão mais estreita.
Os resultados da Alternativa 5 mostraram que uma berma de enrocamento mais
larga foi eficaz na redução dos galgamentos. Esta alternativa proporcionou um
desempenho muito semelhante ao da Alternativa 2, com um nível de serviço acima
de 50 anos, sem ter em consideração a subida do nível do mar, descendo para 20-
50 anos se for considerada a subida do nível do mar prevista para os próximos
75 anos.
Nas Alternativas 6 e 7 (que não continham a laje de betão no coroamento), foi
necessário que a berma de enrocamento estivesse à cota 9 m ODN, com um muro
deflector de
1 m de altura (cota de coroamento igual a 10 m ODN) para que fosse possível
manter o nível de galgamentos dentro do critério exigido, o que pode vir a
revelar-se problemático na sua integração com os atuais arranjos propostos para
a zona adjacente à costa. Na Alternativa 7, apesar dos níveis de galgamento
terem excedido o critério exigido em TC12 e TC16 e do vento não ter sido
reproduzido no modelo, os galgamentos verificados foram considerados
aceitáveis, já que apenas ultrapassaram por uma pequena margem o valor limite
de galgamento.
Na Alternativa 8, a eficácia do talude mais suave, do muro-cortina deflector e
da berma de coroamento permeável (de enrocamento) foi utilizada para tentar
reduzir os galgamentos para valores aceitáveis, mantendo, em simultâneo, as
cotas de coroamento tão reduzidas quanto possível. Os níveis de galgamento
excederam o critério exigido em TC11, TC12, TC16, TC18, TC20, TC21, TC24, TC26
e TC27. A Alternativa 8 proporcionaria um nível de serviço acima de 50 anos se
não for levada em consideração a subida do nível do mar, ou de 20-50 anos se
for considerada a subida do nível do mar prevista para os próximos 75 anos.
De todos os perfis testados, a Alternativa 7 foi aquela que apresentou o melhor
desempenho relativamente aos galgamentos. Em geral, proporcionaria um nível de
serviço de 100 anos se não forem levadas em consideração futuras subidas do
nível do mar, ou de 50 anos se forem consideradas as subidas do nível do mar
previstas nos próximos 75 anos.
4. Conclusões e recomendações
A componente relativa à modelação numérica do estudo para a reabilitação e
proteção da praia de Colwyn Bay teve como objetivo a definição de soluções
alternativas baseadas em alimentação artificial e foi dividida em duas partes:
a caracterização da dinâmica da praia e o teste de soluções alternativas. Esta
última parte baseou-se na otimização do perfil de enchimento e na previsão da
evolução da linha de costa a longo prazo para as soluções alternativas. No
âmbito da caracterização da dinâmica da praia foram processados, produzidos e
analisados dados geomorfológicos e de hidrodinâmica que também foram usados
como dados iniciais e de verificação/controlo para os modelos numéricos
aplicados, quer na otimização do perfil de enchimento, quer no teste das
soluções alternativas de longo prazo.
As principais conclusões e recomendações desta componente do estudo foram:
* O enchimento da praia deve contemplar um volume que garanta uma largura de
berma de segurança que evite a ação direta das ondas sobre a defesa
longitudinal aderente durante a ocorrência de tempestades. Por isso,
recomenda-se a implementação de uma berma com declive 1:100 entre o nível 5 e
4,5 m ODN, seguida de um perfil do tipo 2S-EBP.
* Das soluções alternativas baseadas em alimentação artificial com estruturas
de retenção testadas, as que tiveram melhor desempenho na retenção do
enchimento foram as baseadas em estruturas normais à praia, e, entre estas, a
que oferece maior garantia de retenção do volume de enchimento e
simultaneamente oferece condições compatíveis com o futuro uso da praia é a
alternativa ii), dois esporões em Y com 250 m de comprimento, distanciados de
1000 m.
* O aumento de 50 m do comprimento dos esporões das alternativas i), ii) e iii)
beneficiaria a redução da perda de sedimentos, que ao fim de 10 anos passaria
de 18 para 12% do enchimento total.
* A monitorização da morfologia da praia, desde a defesa longitudinal aderente
até ao limite da futura zona ativa da praia submersa (aproximadamente -5 m
ODN), deve ser realizada durante e depois do projeto, pois não só permitirá a
avaliação do seu desempenho, mas também a quantificação das transferências
transversais e longitudinais de sedimentos, e assim, alertar no caso de
ocorrerem situações atípicas ou fora do esperado.
* A comparação de soluções alternativas foi realizada com base numa análise
estritamente técnica. Por isso, recomenda-se a realização de uma análise de
custo-benefício para suportar a escolha da solução mais sustentável.
A componente relativa à modelação física do estudo para a reabilitação e
proteção da praia de Colwyn Bay teve como objetivo examinar a eficácia e
definir configurações para a nova defesa longitudinal com base em ensaios em
modelo físico para a análise da estabilidade e galgamentos das secções
transversais alternativas previstas para o extremo Este de Colwyn Bay. Ensaiou-
se uma ampla gama de combinações de características da agitação marítima e
níveis de maré, com 1 a 200 anos de período de retorno. Foram consideradas oito
configurações diferentes (Alternativas 1 a 8) da secção transversal da defesa
longitudinal, com diferentes inclinações do talude do manto exterior, diversas
geometrias e permeabilidade da berma de coroamento e distintas geometrias do
muro-cortina.
As principais conclusões e recomendações desta componente do estudo foram:
* O manto exterior, composto por duas camadas de blocos de enrocamento de 3 t a
6 t, com um declive de 1:2,5 ou de 1:3, e com um filtro de uma camada de
blocos de enrocamento de 300 kg a 1 t, mostrou-se uma estrutura estável que
provisiona uma proteção adequada.
* No que respeita aos galgamentos, para o tipo de alternativas testadas, a
combinação entre uma menor inclinação de talude, um muro-cortina deflector e
um coroamento permeável foi a que apresentou maior eficácia na redução dos
galgamentos. Assim, a Alternativa 7 foi aquela em que a estrutura sofreu
menos galgamentos, seguida das Alternativas 8 e 5.
* Tendo em conta a relação entre o custo de construção das estruturas e o
critério económico definido para o investimento, as Alternativas 1, 2 e 8
foram consideradas as mais adequadas para a zona em estudo, uma vez que
seriam aquelas que melhor se interligariam com os arranjos propostos para a
zona adjacente à linha de costa, garantindo também uma adequada proteção
costeira.
* A decisão final sobre o perfil de defesa mais adequado para a zona em estudo
deve contemplar, em termos de projeto, aspetos adicionais, em particular a
relação entre o nível de risco que é considerado aceitável e os custos
adicionais necessários para proporcionar diferentes níveis de proteção.