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EuPTCEEx1646-88722012000400001

EuPTCEEx1646-88722012000400001

variedadeEu
ano2012
fonteScielo

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Editorial

A abordagem integrativa deste volume temático é a pesca artesanal. Aspectos sociais, econômicos e de manejo da pesca costeira artesanal de pequena escala têm um papel importante em comunidades pesqueiras. Os modos de vida dos pescadores artesanais e de pequena escala estão integrados em um contexto amplo de tendências ambientais e socioeconômicas relevantes para o manejo de áreas costeiras. A sustentabilidade pode ser assegurada desde que seja dada a devida atenção aos pescadores artesanais, contribuindo para a sua participação mais efetiva e fortalecendo seu empoderamento e participação na governança de áreas costeiras. Também o conhecimento plural e o conhecimento ecológico tradicional dessas comunidades devem ser considerados na gestão da zona costeira, juntamente com a valorização social das comunidades de pesca artesanal. Este número temático representa uma visão geral de alguns temas atuais de gestão da pesca artesanal e das suas implicações para os ambientes costeiros. Dada a complexidade das questões acima aludidas, o objetivo deste volume não é ser tematicamente ou tampouco geograficamente completo. Um total de 15 artigos, todos revisados por pares, oriundos do Brasil (9), Portugal (3), Espanha (1), Moçambique (1) e Indonésia (1), cobrem diferentes assuntos em torno da temática da pesca artesanal.

O primeiro artigo, intitulado A pesca enquanto atividade humana: pesca artesanal e sustentabilidade, de autoria de Marco Pais Neves dos Santos, Sónia Seixas, Raphael Bastos Mareschi Aggio, Natalia Hanazaki, Monica Costa, Alexandre Schiavetti, João Alveirinho Dias e Ulisses M. Azeiteiro, é uma monografia sobre a relação humana com os recursos pesqueiros marinhos, mais especificamente sobre a evolução histórica da relação portuguesa e brasileira com esses recursos. A abordagem integradora deste trabalho é a pesca artesanal sustentável.

No segundo artigo, A importância dos conhecimentos e dos modos de vida locais no desenvolvimento sustentável: estudo exploratório sobre o impacto da Reserva Natural das Ilhas Berlengas (Portugal) na comunidade piscatória, António João Farinha Ribeiro dos Santos, Ulisses Miranda de Azeiteiro, Fátima de Sousa e Fátima Alves apresentam os resultados de um estudo exploratório feito por um grupo multidisciplinar de pesquisadores sobre o impacto da Reserva Natural das Ilhas Berlengas sobre o modo de vida de seus habitantes locais, mais especificamente sobre a sua comunidade piscatória local, como evidenciado por suas concepções e representações. O estudo teve como objetivo analisar as interações culturais, sociais e econômicas entre a reserva e a população local, sendo um elemento fundamental da estratégia de conservação da biodiversidade e gestão sustentável.

Ana Delicado, Luísa Schmidt, Susana Guerreiro e Carla Gomes, em Pescadores, conhecimento local e mudanças costeiras no litoral Português, discutem as mudanças climáticas como um dos grandes desafios que as sociedades humanas estão enfrentando. As comunidades costeiras são particularmente vulneráveis, pois as suas casas e meios de subsistência estão cada vez mais expostos a riscos de erosão costeira e aumento do nível do mar. Pescadores que vivem na e da costa têm uma perspectiva privilegiada das mudanças costeiras. Devido à atividade que desenvolvem, os pescadores têm conhecimentos que, apesar de não serem técnicos, baseiam-se na experiência e são específicos para aquele local.

Apesar de ter sido bem documentado na literatura científica, o papel do conhecimento local - leigo, ecológico, indígena, ou mesmo conhecimento de atores sociais, como tem sido diversamente descrito na literatura - no planejamento e decisões relacionadas ao ambiente ainda não está claro.

O quarto artigo é de autoria de Carlos Norman Barea, Guerrero Daniel Ortega Albarral e Carmen González e intitula-se Áreas de Proteção Marinha de Pesca em Andaluzia. Trata-se de um estudo comparativo de áreas marinhas protegidas para a pesca (AMPP) no sul da Espanha. Os autores concluíram que a administração das pescas deverá promover iniciativas de proteção, tendo em mente a gestão compartilhada ou co-gestão e plano de gestão integrada da zona costeira.

O quinto artigo, intitulado Discussões do conselho deliberativo da Reserva Extrativista de Canavieiras, Bahia, Brasil: da gestão pesqueira à ambiental, por Leriane Silva Cardozo, Micheline Flôres Porto, Patrícia Carla Barbosa Pimentel, Jaqueline Sicupira Rodrigues, Alexandre Schiavetti e Sofia Campiolo é sobre Reservas Extrativistas. Os autores identificam e analisam as discussões que ocorreram sob o conselho deliberativo da Reserva Extrativista de Canavieiras (sul da Bahia, Brasil), que influenciaram e/ou influenciam as decisões sobre as atividades de pesca, em um processo de tomada de decisão participativa. A identificação e análise da discussão do Conselho Deliberativo em relação às atividades de pesca e de gestão ambiental, bem como os princípios da boa governança, permitiram a compreensão da relação de responsabilidade e responsabilização, aspectos ligados à governança ambiental em áreas protegidas.

O sexto artigo, Influência da precipitação nas pescarias artesanais tropicais - o estudo de caso da região norte de Moçambique, de Antonio Mubango Hoguane, Ezidio da Lucia Cuamba e Tor Gammelsrød, pode contribuir para prever a produção pesqueira e, assim, melhorar as medidas de gestão da pesca artesanal, através do estabelecimento de quotas de pesca sustentáveis. Os resultados da pesquisa contribuem para melhorar a nossa compreensão da influência climática na pesca artesanal e, assim, fornecer insights de sua vulnerabilidade e capacidade de adaptação à mudança climática.

No sétimo artigo, A análise da cadeia produtiva dos catados como subsídio à gestão costeira: as ameaças ao trabalho das mulheres nos manguezais e estuários brasileiros, por Tatiana Walter, John Wilkinson e Patrícia de Araújo e Silva, apresenta uma aplicação do contexto analítico de sistemas agroalimentares localizados associados à Sociologia Econômica na análise de questões relacionadas com a pesca artesanal, tendo como perspectiva uma abordagem sistêmica e territorializada, que é central para a gestão costeira. Assim, a cadeia produtiva extrativista do marisco foi analisada em oito municípios no litoral da Bahia, de uma forma teórica e analítica diversificada, o que permite a compreensão dos diferentes fenômenos que afetam o trabalho das mulheres nessa produção, incluindo aqueles da dinâmica territorial.

No artigo Articulação e encaminhamento das questões da pesca artesanal: uma análise do fórum da pesca do litoral norte do Rio Grande do Sul, Brasil, Loyvana Perucchi, Rumi Kubo e Gabriela Coelho-de-Souza analisam a gestão da Pesca pelo Fórum do Litoral Norte do Rio Grande do Sul, com ênfase na sua capacidade de articular as questões relacionadas às embarcações de pesca profissional nos ambientes lagunares, estuarinos e marinhos. As autoras concluem que o Fórum Pesca do Litoral Norte do Rio Grande do Sul é uma área de implementação de gestão compartilhada, que foi incentivada pelo governo e pela representação adequada dos pescadores. No entanto, as exigências para ser associado com a gestão de recursos comuns e territórios compartilhados, que estão sendo apropriados por segmentos da sociedade apoiada pela lógica da propriedade privada, são fixadas por acordos institucionais envolvidos na gestão compartilhada e estão atualmente em disputa na sociedade.

O nono artigo, intitulado Gestão da pesca artesanal na costa da Paraíba: uma abordagem utilizando o processo analítico hierárquico, por Eugenio Pacelli Nunes Paulo Júnior, Henrique Josias de Amorim Xavier, Roberto Sassi e de Ricardo Souza Rosa, é um estudo que tem por objetivo caracterizar a gestão na pesca artesanal e estimular o desenvolvimento de alternativas sustentáveis, através de processos de construção social e de políticas com a participação de atores sociais envolvidos na pesca. O potencial da pesca tem sido afetado devido à perda dos recursos naturais em ambientes aquáticos, especialmente devido à sobrepesca. A análise da gestão de recursos torna-se um fator relevante, que a atividade de pesca em si pode causar impactos negativos locais. Este assunto tem sido tratado em todo o mundo, enfatizando a importância de uma abordagem mais ampla, que abrange os diversos setores da gestão pesqueira. Assim, o problema está além das questões ambientais, envolvendo também os aspectos socioeconômicos e políticos, como representado na pesca ao longo do litoral do estado da Paraíba, Nordeste do Brasil.

O décimo artigo, intitulado Mecanismos socioecológicos e práticas tradicionais de pesca na comunidade caiçara da ilha Diana (Santos, Brasil) e suas transformações, de Fernanda Terra Stori, Nivaldo Nordi e Denis Moledo de Souza Abes, é sobre os aspectos de resiliência e sustentabilidade em sistemas socioecológicos para adaptação a momentos de crise, que têm sido amplamente discutidos na comunidade científica. Os autores escolheram para analisar o caso da comunidade caiçara tradicional de Ilha Diana (município de Santos, Brasil), que tem estado relativamente isolada do mundo comercial até hoje e agora passa por uma transformação considerável devido à poluição do estuário, ao declínio da pesca artesanal e à expansão do complexo industrial e portuário de Santos - Estado de São Paulo. Os autores concentraram-se na identificação dos aspectos da cultura caiçara, nos mecanismos sociais e nas práticas tradicionais de gestão de recursos pesqueiros e suas transformações.

Keuwy Sousa Rocha, Rayane Vieira da Silva e Rodrigo Randow de Freitas, autores de Uma análise da percepção ambiental e transformação socioeconômica de uma comunidade de pescadores artesanais em região estuarina no sudeste do Brasil tiveram como objetivo analisar se a atividade de cultivo era realmente um transformador socioeconômico para a realidade de uma associação de pescadores (considerando também a percepção socioeconômica e ambiental dos piscicultores sobre o cultivo). Apesar das características negativas, a aquicultura mostrou complementar a renda da associação dos pescadores, trazendo melhorias consideráveis na qualidade de vida local e transformando a realidade socioeconômica dos produtores (tendo em conta seus rendimentos). Porém essas melhorias não estão acarretando mudanças em relação à alfabetização, à infraestrutura instalada, à qualidade da água do rio, e a cursos de treinamento. Isto mostra que embora tenham ocorrido mudanças em relação à renda, outros problemas ainda permanecem com a introdução desta atividade.

Irendra Radjawali, em Conservação e desenvolvimento local: recursos pesqueiros no Arquipélago de Spermonde na Indonésia analisa e discute o projeto de reabilitação e manejo de recifes de coral na Indonésia. A pesca Live reef food fish (LRFF) é um dos mais importantes meios de subsistência para as pessoas das comunidades das ilhas costeiras do arquipélago Spermonde, na Província de Sulawesi do Sul, Indonésia. No entanto, a pesca LRFF e o comércio são considerados uma ameaça para o ecossistema recifal devido à sobrepesca e ao uso de cianeto como um método de aumentar as capturas. Este artigo analisa a eficácia do desenvolvimento de uma iniciativa de conservação conhecida como COREMAP (Coral Reef Rehabilitation and Management Project), que visa a proteger, reabilitar e manter a utilização dos recifes de coral e seus ecossistemas associados na Indonésia.

O décimo terceiro artigo, intitulado Análise das práticas de biossegurança no cultivo de tilápias (Oreochromis niloticus) em região estuarina no sudeste do Brasil, de autoria de Mayara da Costa Assis e Rodrigo Randow de Freitas, é sobre a aquicultura (cultivo de tilápias) e pescadores tradicionais. Os autores analisaram as práticas de biossegurança que são desenvolvidos na APESAM (Associação de Pescadores de São Mateus), na comunidade de pescadores tradicionais chamada Pedra D'água, em São Mateus, ES, Brasil. Os resultados mostraram que o norte do Espírito Santo, apesar do seu potencial para o desenvolvimento da cultura da tilápia, tem algumas deficiências relacionadas ao uso de melhores práticas de gestão, saúde e biossegurança, que estão entre os principais desafios para a expansão desta atividade, bem como deficiências relacionadas com a assistência técnica prestada pela cidade por agências de fomento e da aquicultura.

No artigo Potencialidade social e econômica da pesca e maricultura no sudeste do Brasil, por J.B. Teixeira, A.C. Lima, F.P. Boechat, R.L. Rodrigues e R.R.

Freitas, os autores fornecem informações detalhadas quanto aos aspectos econômicos e sociais da pesca e aquicultura no Espírito Santo (sudeste do Brasil). Essa informação pode contribuir para a definição de áreas estratégicas para o desenvolvimento da pesca e aquicultura de forma sustentável, subsidiando a formulação de políticas públicas. O principal resultado encontrado pelos autores foi o de identificar a necessidade de instituições públicas do Estado e dos municípios para estabelecer políticas de incentivo permanente para a pesca e aquicultura, com linhas de crédito de acordo com o perfil do pescador tradicional. O fortalecimento da associação entre pescadores e governo, a identificação de limitações e a adaptação devem ser a pauta principal para permitir o desenvolvimento da sustentabilidade da pesca/aquicultura e a redução das desigualdades sociais.

Por fim, temos uma nota técnica intitulada Conservação da zona estuarina dos rios Goiana e Megaó no nordeste do Brasil: uma análise das estratégias adotadas pelas comunidades de pescadoras, de autoria de Amanda Braga de Melo Fadigas e Loreley Gomes Garcia, sobre as estratégias adotadas por uma comunidade de pescadoras para proteger seu território em zona estuarina no nordeste brasileiro. As autoras verificaram que as mulheres dirigiram seus esforços para uma gestão sustentável dos recursos pesqueiros e para uma ação política eficaz para obter a criação da Reserva Extrativista Acaú-Goiana. A análise mostrou que as comunidades locais, como essas pescadoras, são fundamentais para a conservação costeira, dado o seu conhecimento sobre o meio ambiente e a sua participação nos processos de gestão.

Este número temático representa uma contribuição para um conhecimento mais sólido sobre a pesca artesanal. Trata-se de uma ferramenta que esperamos ser útil para as comunidades de pesca costeira, pesquisadores, bem como para diferentes instituições, tomadores de decisão, atores sociais, ONGs ambientais (organizações não-governamentais) e associações ambientais, ajudando-os a tomar decisões bem informadas e com embasamento científico em relação às suas futuras estratégias de sustentabilidade e de empoderamento destas comunidades pesqueiras costeiras.

Além deste número temático, a RGCI - Revista de Gestão Costeira Integrada continua a receber manuscritos abordando este tema. Sua importância em todo o mundo, independentemente do clima, ambiente ou cultura, é indubitável e acreditamos que a academia precisa reivindicar seu papel como um dos interessados em questões da pesca artesanal. A observação, relato e tradução científica (juntamente com ações in situ positivas) são a nossa contribuição crucial para o estabelecimento da justiça social, econômica e ambiental para as pessoas das zonas costeiras.

Finalmente, gostaríamos de aproveitar a oportunidade para prestar nosso agradecimento a todos aqueles que contribuíram para este volume temático da RGCI - Revista de Gestão Costeira Integrada e agradecemos calorosamente a todos os autores que submeteram seus manuscritos para a consideração de inclusão neste volume. A análise dos artigos submetidos (27 manuscritos) foi efetuada por 6 dezenas de avaliadores independentes e credenciados, aos quais agradecemos pelo tempo que dedicaram a este processo. As críticas e sugestões que efetuaram foram essenciais para os autores melhorarem os manuscritos e, assim, ampliarem o nível científico dos artigos publicados.


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