A Fileira do Papel e do Cartão e a Fileira das Embalagens: Análise de Contexto
Introdução
As indústrias da pasta de madeira, do papel e cartão e, até certo ponto, as das
embalagens, constituem actividades fundamentais no desempenho económico
nacional. Esta circunstância é testemunhada, designadamente, pela sua boa
integração nos mercados nacionais e internacionais, onde as exportações assumem
uma preponderância notável, assim como pelas boas produtividades do trabalho e
sua consequência em salários médios com frequência acima da média nacional. O
bom desempenho destas indústrias é também confirmado pela crescente integração
no processo produtivo de produtos recuperados, em paralelo com os aumentos de
capacidade.
O presente trabalho, documenta a evolução das fileiras do papel e cartão e das
embalagens ao longo de 45 anos (entre 1961 e 2006), analisando informação
específica assim como as variáveis de contexto que se entende poderem
influenciar o seu desempenho. Este trabalho continua a série iniciada com o
artigo intitulado "A fileira da construção e do mobiliário: análise de
contexto" (LOURO, et al., 2009), enquadrando-se no estudo global sobre o
modelo económico nas fileiras silvo-lenhosas.
Apesar das diferenças entre as fileiras do papel e cartão e das embalagens,
elas são descritas em conjunto neste artigo por integrarem actividades
económicas interligadas. No artigo "A fileira da construção e do
mobiliário: análise de contexto" (LOURO, et al., 2009) descreve-se o
conjunto de actividades e produtos destinados, quase exclusivamente, às
indústrias da construção e do mobiliário.
Na linha metodológica descrita para a fileira da construção e do mobiliário,
desenvolvida na publicação atrás referida, também aqui os factores relevantes
para o estudo do modelo económico das fileiras em estudo foram diferenciados
por variáveis de contexto e variáveis internas.
Metodologia
No conjunto das variáveis descritas nos quadros_1 e 2, em anexo, as mais
relevantes para a compreensão do funcionamento da indústria (fluxos de
produção, estrutura das empresas e do trabalho), das tendências na produção, do
comércio internacional e do contexto específico e geral da procura
(macroeconómico e de mercado) são analisadas de seguida, separadamente, para a
fileira do papel e do cartão e para a fileira das embalagens.
Fileira do papel e do cartão
Descrição da indústria
Fluxos_de_produção
[1]
Em Portugal, as indústrias do papel e cartão são de longe as maiores
consumidoras de madeira, tendo em 2006 consumido 6 459 milhares de metros
cúbicos de madeira (CELPA, 2006), os quais correspondem a cerca de 67% do
consumo interno total (9 669 milhares de metros cúbicos) de toros de madeira
(Figura 1).
Figura_1 - Principais fluxos físicos e financeiros (valores reais na base 2006)
verificados em 2006 nas fileiras do papel e do cartão e do papel e cartão de
embalagem. Realça-se que os números entre parênteses têm como unidade, antes do
ponto e vírgula, milhares de metros cúbicos, no caso dos toros de madeiras, e
milhares de toneladas, nos restantes produtos, e, depois do ponto e vírgula,
milhões de euros. (fonte: FAO, base de dados FAOSTAT, obtida por consulta do
URL da FAO)
Os boletins estatísticos da CELPA indicam, ainda, a quase exclusividade do uso
de matéria-prima nacional (rolaria e aparas de eucalipto e de pinheiro) no
abastecimento da fileira do papel e do cartão, o qual, em 2006, correspondeu a
99% do total de madeira adquirida, comprovando a fraca expressão do mercado
externo no abastecimento de toros de madeira.
O consumo interno (Figura_1) de pastas de madeira e de papel e cartão é
substancialmente inferior à produção nacional (respectivamente de 2 065 e de 1
644 milhares de toneladas), sendo uma parte significativa da mesma exportada
para o mercado externo (Figura_1).
Nas pastas de madeira observa-se a exclusividade quase absoluta das pastas
químicas, representando as pastas mecânicas e dissolvidas quantidades residuais
(Figuras_1 e 2), integralmente importadas do mercado externo.
Figura_2' Importância absoluta (valores reais na base 2006) e relativa, em
2006, do valor total de vendas (consumo interno e exportações) dos produtos
intermédios (a) e dos produtos finais (b) nas fileiras do papel e do cartão e
do papel e cartão para embalagem (fonte: FAO base de dados FAOSTAT, obtida por
consulta do URL da FAO)
O papel e cartão exportado para o mercado externo é constituído sobretudo por
papel de impressão e de escrita e papel e cartão de embalagem (produto que será
tratado adiante com maior detalhe). Estes produtos dominam também as vendas
totais (consumo interno e exportações) de papel e cartão (Figura 2).
Já nos restantes tipos de papel e cartão, com destaque para o papel de jornal,
as quantidades consumidas internamente são principalmente asseguradas pelas
importações (Figura_1).
Estas características enfatizam a importância dos mercados externos nas
indústrias da pasta de madeira e do papel e cartão, actividades onde as
decisões de negócio se estabelecem fundamentalmente à escala internacional.
Reflectindo as limitações no abastecimento de material lenhoso, em 2006, a
utilização de produtos recuperados (pasta e papel e cartão) no processo
produtivo (Figuras_1 e 3) é significativa (respectivamente de 24% e 26% do
consumo total de pastas e de papel e cartão) atestando que os aumentos de
capacidade têm também sido acompanhados por melhoria nos processos de
recuperação.
Figura_3 - Importância absoluta (valores reais na base 2006) e relativa, em
2006, do consumo interno de pastas de madeira e de pastas de fibra recuperada
(a), bem como de papel e cartão e de papel recuperado (b) (fonte: FAO base de
dados FAOSTAT, obtida por consulta do URL da FAO)
Estrutura_das_empresas_e_do_trabalho
A evolução do número de empresas (Figura 4a), tem-se mantido praticamente
constante na pasta, sofrendo uma significativa redução no papel e cartão e
verificando a partir de 1996, um acentuado aumento, no caso dos artigos de
papel e cartão.
Figura 4' Evolução do número de estabelecimentos em actividade (a) e do número
de pessoas ao serviço (b) (fonte: GEP/MTSS ' Quadros de Pessoal, fornecidos
para este estudo; INE, Estatísticas da Produção Industrial, obtidas por
consulta do URL do INE; CELPA, Boletins estatísticos publicados de 1982 a 2007)
Estes comportamentos diferenciados reforçam características estruturais
distintas nestes três sectores de actividade económica, podendo indiciar
diferentes estádios no processo de reestruturação empresarial com (Figura 4a):
- as indústrias da pasta estrategicamente concentradas num pequeno número de
empresas, contabilizadas actualmente em 5 unidades;
- as indústrias do papel e cartão a evidenciarem um claro esforço no sentido de
aumentos de competitividade, verificando uma redução no número de empresas em
actividade, apesar das produções crescentes, como se constatará adiante;
- as indústrias de artigos de papel e cartão evidenciam (apesar do valor mínimo
verificado em meados da década de noventa) uma maior pulverização do tecido
empresarial num número de unidades substancialmente superior ao das actividades
anteriores.
As indústrias da pasta de madeira e do papel e cartão têm sido objecto de um
esforço continuado de reestruturação (Figuras 4, 5). Estas indústrias
observaram reduções significativas no número de pessoas ao serviço (Figura 4b),
o que conjuntamente com o aumento das produções (de que falaremos adiante)
resulta em aumentos de produtividade (Figura 5a) incomparavelmente superiores
aos observados na fileira da construção e do mobiliário (Figura 4b de LOURO, et
al., 2009). Assim, apesar da redução da importância destas actividades na
manutenção de empregos, reforça-se a sua relevância na economia nacional.
Figura 5' Produtividade do trabalho (a) e remuneração média mensal (b), em
valores reais na base 2006 (fonte: FAO, base de dados FAOSTAT, obtida por
consulta do URL da FAO; GEP/MTSS ' Quadros de Pessoal, fornecidos para este
estudo; INE - Estatísticas da Produção Industrial obtidas por consulta do URL
do INE; Barreto, et al., 1996)
Estes factos têm tido repercussões nas remunerações médias mensais praticadas
pelas indústrias da pasta e do papel e cartão que têm sido sempre
substancialmente superiores às remunerações médias dos trabalhadores por conta
de outrem (Figura 5b), reflectindo as também superiores produtividades no
trabalho. Esta constatação é menos evidente nas indústrias de artigos de pasta
para papel e de papel e cartão, onde o número de pessoas ao serviço é
relativamente constante entre 1985 e 2006 (Figura 4b), encontrando-se as
respectivas remunerações reais ligeiramente abaixo do valor médio real das
remunerações dos trabalhadores por conta de outrem (Figura 5b).
Tendências na produção e no comércio internacional
Desde 1961 as produções de pasta de madeira (Figura 6b) e de papel e cartão
(Figura 6c) têm aumentado de modo consistente. Nos toros de madeira esses
aumentos verificaram-se até finais da década de oitenta, evidenciado desde essa
altura tendência para a estabilização ou mesmo redução da produção, com
flutuações cíclicas.
Figura_6 ' Evolução das produções, do comércio internacional e do consumo
interno nos toros de madeira (a), na pasta de madeira (b) e no papel e cartão
(c) (fonte: FAO, base de dados FAOSTAT, obtida por consulta do URL da FAO)
Observa-se também que, em oposição aos toros de madeira (Figura 6a), as pastas
de madeira e o papel e cartão apresentam importantes quantidades
comercializadas no mercado externo, em particular nas exportações. Isso também
se verifica, no caso do papel e cartão (Figura 6c), quanto às importações.
É ainda de assinalar a incorporação contínua, desde finais da década de
setenta, de quantidades crescentes de papel e cartão reciclados no ciclo
produtivo (Figura 7), facto demonstrativo da robustez e dos progressos
tecnológicos da fileira do papel e do cartão enquanto actividade económica. É
também de destacar, quanto a este produto, a importância assumida pelas
exportações e a fraca expressão das importações, o que torna esta actividade
interessante, no contexto da economia nacional.
Figura_7 - Evolução das produções, do comércio internacional e do consumo
interno de papel recuperado (fonte: FAO, base de dados FAOSTAT, obtida por
consulta do URL da FAO)
Contexto da procura
Contexto_específico_de_procura
O consumo de papel de impressão e de escrita e o papel de jornal, produtos que,
em 2006, representam 65% das vendas totais dos produtos finais da fileira do
papel e do cartão (Figura_2), está intimamente associado ao rendimento/nível de
vida da população (BUONGIORNO, et al., 2003; KLEMPERER, 1996), avaliado por
diversos indicadores macroeconómicos, entre os quais o produto interno bruto
per capita (PIB per capita).
O número e a tiragem de publicações (Figura 8), actividades consumidoras de
papel de impressão e de escrita e de papel de jornal, têm acompanhado a
evolução macroeconómica positiva verificada em Portugal no PIB per capita, como
se constatará no ponto seguinte.
Figura_8 ' Evolução do número de publicações periódicas, sua tiragem e
exemplares vendidos (fonte: INE - Anuários Estatísticos de Portugal, obtidos
por consulta do URL do INE)
Já o número de exemplares de publicações periódicas vendidas regista, no
corrente milénio, uma ligeira redução, podendo esta resultar da opção por meios
de difusão desmaterializados, como sejam os associados aos formatos digitais
divulgados na internet.
Contexto_macroeconómico
O valor acrescentado bruto real (VAB) da indústria da pasta, do papel e cartão,
seus artigos, e da edição de publicações verifica, apesar das flutuações
cíclicas, uma evolução positiva e tendencialmente semelhante à evolução do
produto interno bruto real (PIB) e do valor acrescentado bruto real (VAB)
nacionais (Figura 9a), assim como do PIB per capita (Figura 9b). A importância
daquele indicador no VAB nacional oscilou entre 1,3% e 2,4%, reduzindo-se
apenas de 0,29% entre o início do período (1977) e o seu fim (2006).
Figura_9 - Evolução real (base 2006) do produto interno bruto (PIB) português e
dos valores acrescentados brutos (VAB) nacional e da indústria da pasta, do
papel e cartão, seus artigos e edição de publicações (a), assim com do PIB per
capita (b) (fonte: INE ' Anuários Estatísticos de Portugal, obtidos por
consulta do URL do INE, e base de dados fornecida para este estudo; Barreto et
al., 1996)
Conclui-se, assim, que a procura na fileira do papel e do cartão e a edição de
publicações beneficiou com o desempenho positivo da economia nacional, apesar
das limitações físicas ligadas ao abastecimento de matérias-primas nacionais.
Os preços dos combustíveis e da energia constituem uma importante fatia nos
custos de produção e de transporte tendo por isso reflexos no preço final dos
produtos. Em Portugal o custo da energia eléctrica verifica uma tendência
sustentada de descida, enquanto aos preços dos combustíveis de origem fóssil,
como o gasóleo, se associam flutuações que concorrem para acentuar contextos de
maior instabilidade ao funcionamento das actividades económicas (Figura 10).
Estes aspectos demonstram a urgência em racionalizar as fontes de energia,
promovendo o recurso a energia de origem não fóssil.
Figura_10 ' Evolução real (base 2006) do preço do gasóleo rodoviário (a) e do
preço da energia eléctrica (b) por tipo de consumidor (fonte: Direcção-Geral de
Energia e Geologia)
Consumo_interno
A evolução dos consumos internos (resultantes da adição das importações e
subtracção das exportações relativamente à produção) de toros de madeira, de
pasta de madeira, de papel e cartão e de papel e cartão reciclado, podem ser
observados nas figuras_6 e 7. A análise dessas figuras comprova o que atrás se
referiu sobre tendências da produção e das quantidades exportadas e importadas,
ou seja:
- Os toros de madeira têm, quase exclusivamente, como destino o consumo interno
no mercado nacional;
- O consumo interno de pastas de madeira é manifestamente inferior às
quantidades produzidas, destinando-se uma fracção ainda considerável das mesmas
a serem exportadas para o mercado externo;
- O consumo interno de papel e cartão tem acompanhado os aumentos nas
quantidades produzidas, em paralelo com os aumentos também verificados nas
quantidades comercializadas no mercado externo, quer na componente de
exportação como na de importação.
Eficiência_na_utilização_da_matéria_prima
O quociente entre a quantidade de pasta produzida anualmente e o respectivo
consumo de madeira (toros) é um bom indicador da evolução da eficiência desta
actividade na transformação das matérias-primas. Entre 1975 e 2007 este
indicador foi evoluindo positivamente, verificando tendência para o aumento da
eficiência na transformação de toros em pasta de madeira (Figura 11).
Figura 11 ' Eficiência na transformação de toros em pastas de madeira (fontes:
FAO, base de dados FAOSTAT, obtida por consulta do URL da FAO; CELPA, 1989,
1990, 1991; CELPA, 1992 a 2007; Instituto dos Produtos Florestais, 1986;
Direcção-Geral das Florestas, 1991)
Comércio_internacional
Ao longo da série temporal de 1961 a 2006 os valores unitários reais de
importação e de exportação em Portugal, na Europa Ocidental e no Mundo (Figura
12) nas pastas de madeira têm verificado uma forte convergência. Essa tendência
é igualmente observada na última década para o papel e cartão. Esta constatação
vem reforçar a competitividade desta fileira nos mercados internacionais e a
sua adaptação ao actual contexto de crescente globalização da economia.
Figura 12' Comparação dos valores unitários reais (base 2006) de importação e
de exportação da pasta de madeira (a) e do papel e cartão (b), no Mundo, na
Europa Ocidental e em Portugal, entre 1961 e 2006 (fonte: FAO, base de dados
FAOSTAT, obtida por consulta do URL da FAO)
Fileira das embalagens
Descrição da indústria
Fluxos_de_produção
[2]
As figuras_1 e 2 incluem a informação relativa à fileira do papel e cartão de
embalagem, no que diz respeito a fluxos e a vendas totais em 2006. A sua
observação destaca:
- A importância do mercado interno no escoamento deste produto (consumo
interno 56%, do papel e cartão consumido). Além da produção nacional, o elevado
consumo interno de papel e cartão de embalagem é também sustentado por um fluxo
significativo de importações do mercado externo (46% do total das importações
dos produtos de papel e cartão) (Figura_1);
- As exportações de papel e cartão de embalagem, embora menos significativas do
que as de papel de impressão e de escrita representam, ainda assim, a segunda
posição, 10%, no total de exportações de papel e cartão (Figura_1). Este facto
é reflectido nas vendas totais (consumo interno e exportações) de papel e
cartão de embalagem (Figura_2), que representam 28% das vendas totais dos
produtos de papel e cartão, a seguir ao papel de impressão e de escrita (62%).
Como informação adicional nota-se que a importância dos produtos recuperados
(pasta, papel e cartão) observada nas figuras_1, 3 e 7 é particularmente
relevante neste ramo da actividade económica, visto aqueles produtos se
destinarem essencialmente à produção de papel e cartão de embalagem.
As embalagens de madeiras no conjunto dos produtos que utilizam madeira serrada
representam 5% do consumo interno e 4% das vendas totais em euros (Figuras 13 e
14). Estes valores reforçam a importância da fileira da construção e do
mobiliário no contexto dos produtos da madeira.
Figura_13 - Principais fluxos físicos e financeiros (valores reais na base
2006) verificados em 2006 na fileira das embalagens de madeira. Realça-se que
os números entre parênteses têm como unidade milhares de metros cúbicos e
milhões de euros, respectivamente, antes e depois do ponto e vírgula (fonte:
FAO, base de dados FAOSTAT, obtida por consulta do URL da FAO; INE,
Estatísticas da Produção Industrial 2006, obtidas por consulta do URL do INE)
Figura 14' Importância absoluta (valores reais na base 2006) e relativa, em
2006, do consumo interno (a) e do valor total de vendas (b) na fileira das
embalagens de madeira comparativamente com outros produtos finais de madeira
serrada (fonte: INE Estatísticas da Produção Industrial 2006, obtidas por
consulta do URL do INE)
Estrutura_das_empresas_e_do_trabalho
A evolução do número de empresas que operam na produção de embalagens, quer de
papel e cartão como de madeira (Figura 15a), verificou, a partir de 1996, um
acentuado aumento. No papel e cartão de embalagem o número de empresas aumentou
de 28 empresas, em 1995, para 61, em 2006, e, nas embalagens de madeira de 46
empresas, em 1995, para 95, em 2006.
Figura 15 ' Evolução do número de estabelecimentos em actividade e do número de
pessoas ao serviço na fileira das embalagens (GEP/MTSS ' Quadros de Pessoal,
fornecidos para este estudo; INE - Estatísticas da Produção Industrial obtidas
por consulta do URL do INE)
Nas embalagens de madeira, o número de pessoas ao serviço, entre 1985 e 2006,
aumentou de forma pouco expressiva. No papel e cartão de embalagem, a ligeira
tendência para a diminuição da quantidade de pessoas ao serviço foi
interrompida, em meados da década de noventa, por um marcado aumento nessa
quantidade, seguida de um período de relativa estabilidade na mesma (Figura
15b).
Estas especificidades têm reflexos na produtividade das respectivas indústrias
(Figura 16a) a qual apresenta as seguintes características:
- o papel e cartão de embalagem verificou uma relativa estabilidade na
produtividade, denotando uma estratégia mais centrada na manutenção/criação de
emprego, e independentemente dos significativos aumentos de produção de que se
falará adiante;
- as embalagens de madeira, abstraindo das oscilações, apresentam
produtividades crescentes. No entanto estas produtividades são bastante
inferiores às determinadas na fileira da construção e do mobiliário para os
painéis de madeira, e, apenas ligeiramente superiores à das restantes
actividades económicas a ela associadas (LOURO, et al., 2009).
Figura 16' Produtividade do trabalho (a) e remuneração média mensal (b), em
valores reais na base 2006 (fonte: INE - Estatísticas da Produção Industrial
obtidas por consulta do URL do INE; GEP/MTSS ' Quadros de Pessoal, fornecidos
para este estudo; Barreto, et al., 1996)
A evolução das remunerações médias mensais praticadas na fileira das embalagens
(Figura 16b) acompanha os aumentos das remunerações reais (base 2006) dos
trabalhadores por conta de outrem. Contudo, embora a sua magnitude seja, no
papel e cartão de embalagem, quase coincidente com a correspondente remuneração
dos trabalhadores por conta de outrem, nas embalagens de madeira elas são
inferiores à mesma e à remuneração média praticada no conjunto das indústrias
da madeira e do mobiliário (LOURO, et al., 2009), reflectindo possivelmente a
menor qualificação profissional dos trabalhadores nestas indústrias.
Os factos atrás referidos demonstram que as empresas de produção de embalagens
ainda manifestam fragilidades, nomeadamente nas remunerações médias mensais, na
actividade das embalagens de madeira, e na produtividade, na actividade de
papel e cartão de embalagem.
Tendências na produção e no comércio internacional
No período de 1961 a 2006, as quantidades físicas produzidas e envolvidas no
comércio externo de papel e cartão de embalagem (Figura 17a) (divulgadas na
base de dados FAOSTAT, da FAO) verificaram aumentos tendenciais com algum
significado e um crescente dinamismo do mercado externo.
Figura_17' Evolução das produções, do comércio internacional e do consumo
interno no papel e cartão de embalagem (a) e nas embalagens de madeira (b)
(fonte: FAO - base de dados FAOSTAT, obtida por consulta do URL da FAO; INE -
Estatísticas da Produção Industrial, obtidas por consulta do URL do INE)
No período de 1985 a 2006, o valor das exportações de embalagens de madeira,
(calculadas a partir da informação sobre vendas, totais e nacionais, divulgadas
pelas estatísticas da produção industrial, do INE) (Figura 17b), aumentou até
ao final do século passado, tendo, posteriormente, verificado uma relativa
estabilização.
Essa evolução demonstra que, apesar das fragilidades atrás apontadas, estas
actividades económicas tiveram um desempenho razoável, evidenciado, em
particular, pelo aumento das quantidades produzidas (papel e cartão de
embalagem) e pelo relativo dinamismo dos mercados externos. Destaca-se,
nomeadamente, alguma expressividade das exportações, no conjunto das outras
variáveis representadas.
Contexto da procura
Contexto_específico_de_procura
As exportações totais nacionais (quantidade física e financeira) foram
incluídas como variáveis de contexto por se assumir que a exportação de
produtos para o mercado externo implica, necessariamente, um processo prévio de
embalagem dos mesmos, nomeadamente, com papel e cartão ou com madeira.
Esses volumes (Figura 18) cresceram de forma particularmente acentuada a partir
dos anos oitenta, reforçando o bom desempenho da economia nacional no período
em estudo, em coerência com os outros indicadores macroeconómicos analisados -
figura_9 do presente artigo e figuras_7 e 8, do artigo "A fileira da
construção e do mobiliário: análise de contexto" (LOURO,et al., 2009).
Figura 18 ' Evolução das exportações física e financeira, em valores reais na
base 2006 (fonte: INE ' Anuários Estatísticos de Portugal, obtidos por consulta
do URL do INE, e base
Contexto_macroeconómico
A descrição do contexto macroeconómico da fileira das embalagens é realizada,
no presente artigo, quando da descrição da fileira do papel e do cartão
(Figuras_9 e 10). No caso das embalagens de madeira, essa descrição foi
apresentada no artigo "A fileira da construção e do mobiliário: análise de
contexto" - figuras_7, 8, 9 e 10 - (LOURO, et al., 2009). Essa descrição
destaca a divergência dos índices macroeconómicos da indústria da madeira
relativamente ao desempenho positivo da economia nacional, enquanto que, no
caso da fileira do papel e cartão eles acompanham esse desempenho.
Consumo_interno
A evolução do consumo interno de papel e cartão de embalagem (Figura17a) e de
embalagens de madeira (Figura_17b) foi positiva, tendo acompanhado o
crescimento do PIB per capita nacional (Figura_9b), assim como o incremento das
exportações de produtos nacionais (Figura 18), o qual obriga à prévia sujeição
a um processo de empacotamento.
Comércio_internacional
[3]
A comparação entre Portugal, a Europa Ocidental e o Mundo (Figura 19) revela a
redução contínua, nesses espaços geográficos, dos valores unitários reais de
importação e de exportação de papel e cartão de embalagem, assim como alguma
convergência dos valores unitários reais de importação, verificados em
Portugal, com os dos restantes espaços analisados.
Figura 19' Comparação dos valores unitários reais (base 2006) de importação e
de exportação do papel e cartão de embalagem, no Mundo, na Europa Ocidental e
em Portugal, entre 1961 e 2006 (fonte: FAO ' base de dados FAOSTAT, obtida por
consulta do URL da FAO)
Já os respectivos valores de exportação mantêm-se ligeiramente abaixo dos
correspondentes valores da Europa Ocidental e do Mundo. Estes resultados
confirmam a competitividade de Portugal nos mercados internacionais, quanto a
esta actividade económica, e o interesse estratégico em promover uma maior
integração das pastas de madeira nos ciclos produtivos nacionais, nomeadamente
através do aumento da produção de papel e cartão de embalagem, não só para o
consumo interno, como atrás se demonstrou, mas também, para a exportação.
Síntese final
A descrição dos factores considerados relevantes para a explicação das fileiras
em estudo demonstra que o valor acrescentado bruto (VAB) do conjunto das
actividades económicas que integram o processo produtivo cujo produto final é o
papel e cartão teve, entre 1961 e 2006, um comportamento tendencialmente
similar à dos indicadores macroeconómicos nacionais (produto interno bruto
(PIB), valor acrescentado bruto (VAB) e PIB per capita).
Conclui-se, assim, que a procura relativamente aos produtos desta fileira
beneficiou com o crescimento positivo da economia nacional. Essa conjuntura não
se verificou nas embalagens de madeira, onde os indicadores macroeconómicos
divulgados para o conjunto da indústria da madeira e da cortiça " não
acompanharam esse desempenho positivo, verificando mesmo uma ligeira
diminuição, podendo induzir-se que o desempenho das respectivas actividades
económicas se encontra próximo da sua capacidade produtiva potencial,
possivelmente pelas limitações quanto ao abastecimento em matérias-primas,
nacionais e internacionais" (LOURO, et al., 2009).
Ainda ao nível do contexto macroeconómico, um aspecto a assinalar refere-se à
necessidade demonstrada de racionalizar a utilização de energia, reduzindo, em
coerência com o que é preconizado na Estratégia Nacional para a Energia
(Resolução do Conselho de Ministros nº 169/2005) a dependência, face ao
exterior, da energia de origem fóssil.
Além dos indicadores macroeconómicos atrás referidos, o bom desempenho da
fileira do papel e do cartão é, também, reforçado pela importância crescente do
consumo interno e das exportações, o que também se verifica no papel e cartão
de embalagem. A importância crescente da procura de papel e cartão é
consistente com o aumento no número e tiragem de publicações e no volume de
exportações, enquanto actividades que consomem, respectivamente, papel de
impressão e de escrita e papel e cartão de embalagem. Já os possíveis futuros
aumentos na produção nacional de pastas de madeira têm outras limitações, tanto
quanto ao abastecimento de toros de madeira de origem nacional, como por
competirem com outras actividades económicas no abastecimento de matérias-
primas. Quanto ao primeiro aspecto é de referir a tendência para o aumento na
eficiência da transformação de toros de madeira em pastas de madeira.
Enquanto actividade económica, as indústrias das pastas de madeira e de papel e
cartão, com excepção dos artigos de papel e cartão, e do papel e cartão de
embalagem, apresentam uma estrutura das empresas e do trabalho competitiva, a
qual é reflectida, nomeadamente, pelas excelentes produtividades, no contexto
dos produtos originados a partir de matérias-primas silvo-lenhosas. As
indústrias associadas à fileira das embalagens, de papel e cartão e de madeira,
assim como aos restantes artigos de papel e de cartão evidenciam uma
estruturação empresarial baseada num maior número de empresas e menores
salários, mas uma importante componente na criação de emprego.
Apesar de algumas fragilidades, a fileira das embalagens tem verificado
aumentos substanciais nas exportações e no consumo interno, em sintonia com o
aumento no volume das exportações nacionais, o que demonstra uma conjuntura
favorável à sua promoção enquanto actividade económica, apostando em acções que
visem melhorar o seu desempenho.
Assinala-se, ainda, a matriz vincadamente internacional dos mercados dos
produtos da indústria da pasta de madeira e do papel e cartão, incluindo o
papel e cartão de embalagem. São prova disso a significância dos volumes
físicos e financeiros associados à generalidade do comércio internacional dos
respectivos produtos. O comportamento tendencialmente convergente com outros
espaços geográficos, nomeadamente, dos valores unitários associados ao comércio
externo e dos índices de confiança, atestam, também, a importância do contexto
internacional nesta fileira.