Subsídios para o conhecimento da Flora do Porto Santo
Notas do Herbário Florestal do INRB (LISFA): Fasc. XXXIII
∫1. Novarum Flora Lusitana Commentarii
In memoriam A.R. Pinto da Silva (1912 ' 1992)
Subsídios para o conhecimento da Flora do Porto Santo
O estudo da flora do Porto Santo evidenciou que as populações do endemismo
madeirense Helichrysum melaleucum Rchb., existentes nesta ilha, apresentam
brácteas involucrais dos capítulos rosadas a branco-rosadas, principalmente na
base, e as cimeiras mais compactas (Figura 1), enquanto a maioria das
populações da ilha da Madeira e das Desertas apresentam as brácteas brancas e
cimeiras menos compactas.
Figura 1 - Helichrysum melaleucum Rchb. subsp. roseum (Lowe) R.Jardim &
M.Seq. (A, habit; B, capitula)
LOWE (1868) menciona estas diferenças e descreve a variedade Helichrysum
melanophthalmum DC. var. rosea Lowe., para incluir as populações do Porto Santo
e de duas localidades da encosta norte da ilha da Madeira. MENEZES (1914)
também reconhece a variedade roseum proposta por Lowe, porém os autores
subsequentes não a reconhecem taxonomicamente.
Atendendo a que as características referidas são constantes nas populações de
H. melaleucum do Porto Santo propomos o reconhecimento da variedade descrita
por Lowe ao nível subespecífico como:
Helichrysum melaleucum Rchb. in Holl subsp. roseum (Lowe) R.Jardim &
M.Seq., comb. nov.
≡ Helichrysum melanophthalmum DC. var. β rosea Lowe, Man. Fl. Madeira 1: 483
(1868) (Bas).
No trabalho de campo efectuado em 2011 na ilha do Porto Santo, foram
assinalados pela primeira vez para esta ilha, os seguintes taxa:
Amaryllis belladona L.
Amaryllidaceae
Espécie originária da África do Sul, naturalizada na ilha da Madeira, é agora
assinalada pela primeira vez para o Porto Santo, onde ocorre nas bermas e
taludes da estrada do Pico Castelo.
PORTUGAL, MADEIRA, Porto Santo: Pico Castelo, vertente W, na berma da estrada,
alt. 230m, 05-X-2011, Roberto Jardim, 1801, UMad.
Asplenium onopteris L.
Aspleniaceae
Espécie indígena do Porto Santo, muito rara, que ocorre nos taludes e fendas
das rochas do Pico do Facho e do Pico da Gandaia, entre os 450 e 460m de
altitude.
PORTUGAL, MADEIRA, Porto Santo: Pico da Gandaia, talude N, alt. ca. 460m, 12-
VII-2011, Roberto Jardim, 1692, UMad; Pico do Facho, talude N, alt. ca. 450m,
05-X-2011, Roberto Jardim, 1794,UMad.
Bromus catharticus Vahl
Poaceae
Espécie nativa do continente Americano, naturalizada no leito da Ribeira da
Vila e em zonas ruderais da Fonte do Tanque.
PORTUGAL, MADEIRA, Porto Santo: Fonte do Tanque, alt. 46m, 22-V-2011, Roberto
Jardim, 1615, UMad; Ribeira da Vila Baleira, no leito, próximo da foz, alt. 7m,
15-VII-2011, Roberto Jardim, 1782, UMad.
Cotyledon orbiculata L.
Crassulaceae
Espécie sul-africana, cultivada nos jardins do Pico Castelo, encontrando-se
naturalizada nas encostas do mesmo pico. Esta espécie não se encontra
naturalizada na ilha da Madeira.
PORTUGAL, MADEIRA, Porto Santo: Pico Castelo, vertente S, alt. 390m, 08-X-2011,
Roberto Jardim, 1830, UMad.
Nicandra physalodes (L.) Gaertn., Solanaceae
Espécie nativa do Peru, ruderal, naturalizada no leito do Ribeiro Cochino.
PORTUGAL, MADEIRA, Porto Santo: Ribeiro Cochino, no leito próximo da ponte,
alt. 70m, 17-IV-2011, Roberto Jardim, 1273, UMad.
Paspalum dilatatum Poir.
Poaceae
Espécie originária da América do Sul, encontrada no leito da Ribeira da Vila,
nas proximidades da foz.
PORTUGAL, MADEIRA, Porto Santo: Ribeira da Vila Baleira, no leito, próximo da
foz, alt. 7m, 15-VII-2011, Roberto Jardim, 1785, UMad.
Ruppia maritima L.
Ruppiaceae
Espécie indígena do Porto Santo, cosmopolita.
Na ilha do Porto Santo ocorre em duas ribeiras, na Ribeira da Serra de Dentro,
a aproximadamente 900 a 500m distante do mar, entre os 25 e os 50m de altitude
(Figura 2) e na Ribeira do Tanque, a cerca de 1200m do mar e a uma altitude de
45m, chegando mesmo a ser observada num tanque de rega.
Figura 2 - Ruppia maritima L., Ribeira da Serra de Dentro, 11-VII-2001. A,
habitat; B, detalhe de plantas frutificadas
Esta espécie ocorre em lagunas, canais pouco profundos de águas salobras ou
hipersalinas, o que indicia o elevado grau de salinidade da água das ribeiras
do Porto Santo.
Em relação ao arquipélago da Madeira, esta espécie foi considerada muito rara,
tendo sido apenas referida para uma localidade do sul da ilha da Madeira, Paul
do Mar (MENEZES, 1914; PRESS, 1994), mas actualmente é considerada extinta
(JARDIM & MENEZES DE SEQUEIRA, 2008), pois o seu habitat foi destruído por
diversas construções, e.g., campo de futebol, habitações e estradas. A
descoberta desta espécie na ilha do Porto Santo é de grande importância, pois
trata-se de um taxon característico da classe de vegetação Ruppietea maritimae
que assim continua a existir no arquipélago da Madeira.
PORTUGAL, MADEIRA, Porto Santo: Ribeira da Serra de Dentro, alt. ca. 40m, 11-
VII-2011, Roberto Jardim, 1689, UMad; Ribeira do Tanque, próximo da Fonte do
Tanque, alt. 45m. 33° 04'02,48"N, 16°20'27,42"W, 14-VII-2011, Roberto Jardim,
LM6012, MA 841264; Ribeira da Serra de Dentro, alt. ca. 25m, 15-VII-2011,
Roberto Jardim, 1777, UMad; Ribeira da Serra de Dentro, alt. ca. 30m, 07-X-
2011, Roberto Jardim, 1823, UMad.
Senecio angulatus L.f.
Asteraceae
Espécie originária do Sul de África, cultivada como ornamental no Porto Santo,
encontrando-se naturalizada na falésia do Porto dos Porcos e no Pico Castelo.
Esta espécie não se encontra naturalizada na ilha da Madeira.
PORTUGAL, MADEIRA, Porto Santo: Morenos, linha de água da falésia do Porto dos
Porcos, alt. ca. 100m, 13-IV-2011, Roberto Jardim, 1156, UMad.
Os trabalhos de campo efectuados em 2011 permitiram ainda confirmar a presença
no Porto Santo de duas espécies muito raras associadas a habitats florestais.
Brachypodium sylvaticum (Huds.) P. Beauv.
Poaceae
Espécie nativa do Porto Santo, considerada rara e mencionada apenas para a
Rocha de Nossa Senhora por MENEZES (1914) e PICKERING (1962). COPE (1994)
refere a não existência de dados recentes sobre este taxon no Porto Santo. Em
2011 foram encontradas três populações, duas no Pico do Facho e outra no Pico
da Gandaia, ambas na encosta norte, entre os 430 e os 480m de altitude. De
acordo com CAPELO et al.(2004) trata-se de uma espécie característica de
comunidades de ervas vivazes esciófilas de orlas e clareiras naturais do bosque
(Trifolio-Geranietea sanguinei).
PORTUGAL, MADEIRA, Porto Santo: Pico do Facho, vertente N, alt. 430m, 22-V-
2011, Roberto Jardim, 1626, UMad; Pico do Facho, vertente N, alt. 430m, 12-VII-
2011, Roberto Jardim, 1693, UMad; Pico da Gandaia, vertente N, alt. 460m, 12-
VII-2011, Roberto Jardim, 1702, UMad.
Sibthorpia peregrina L.
Scrophulariaceae
Espécie endémica da Madeira, muito comum na ilha da Madeira, mas referida como
muito rara na ilha do Porto Santo (MENEZES, 1914; SHORT, 1994), não tendo sido
assinalada nas últimas décadas e considerada extinta por JARDIM & MENEZES
DE SEQUEIRA (2008). Foi confirmada a sua presença na localidade citada na
literatura, Pico do Facho, mas também para o Pico da Gandaia.
Verificou-se a expansão destas populações de Abril a Outubro de 2011, apesar de
terem sido observados alguns sinais de herbivoria por coelhos. Estas populações
são recentes, principalmente as que ocorrem nas zonas mais elevadas, pois
ocorrem em áreas de clareiras formadas pela morte e queda de Cupressus
macrocarpa Hartw. (Figura 3), e consequente maior insolação, possivelmente
associada à maior precipitação dos dois últimos anos. Estes factores podem ter
promovido a germinação e expansão desta espécie que não tinha sido observada
nos últimos anos. Trata-se de um taxon nemoral característico da aliança
Sibthorpio peregrinae-Clethrion arboreae (CAPELO et al., 2004).
Figura 3 - Sibthorpia peregrina L., Pico do Facho, clareiras entre Cupressus
macrocarpa, 05-X-2011; A, habitat; B, detalhe de plantas em flor
PORTUGAL, MADEIRA, Porto Santo: Pico do Facho, vertente N, alt. 450, 21-IV-
2011, Roberto Jardim, 1411, UMad; Pico do Facho, vertente N, alt. 450, 22-V-
2011, Roberto Jardim, 1652, UMad; Pico do Facho, vertente N, alt. 450, 12-VII-
2011, Roberto Jardim, 1706, UMad; Pico da Gandaia, alt. 460m 12-VII-2011,
Roberto Jardim, 1715, UMad; Pico do Facho, alt. 480, 05-X-2011, Roberto Jardim,
1792,UMad.