Avaliação da nutrição de plantações jovens de eucalipto por análise foliar e
métodos não destrutivos
INTRODUÇÃO
A gestão apropriada dos resíduos de abate e dos nutrientes é considerada
crucial para aumentar a produtividade e garantir a sustentabilidade de
plantações florestais (Powers et al., 1990; Smethurst & Nambiar, 1990; Proe
& Dutch, 1994). Neste contexto, assume particular relevância a gestão das
plantações de eucaliptos (Eucalyptus globulus) exploradas intensivamente em
regime de talhadia (Adams & Attiwill, 1986; Jones et al., 1999; Shammas et
al., 2003), dada a elevada quantidade de nutrientes que se acumula nos
respectivos resíduos de abate e nas camadas orgânicas (Madeira et al., 1995;
Spangenberg et al., 1996; Jones et al., 1999). A remoção ou manutenção (à
superfície ou nas camadas superficiais do solo) dos resíduos de abate é
polémica devido não só à relação entre a gestão dos resíduos e a qualidade do
solo, mas também à necessidade urgente de novas formas de energia com vista à
substituição dos combustíveis fósseis (Cowie et al., 2006; Stupak et al.,
2007).
Para além da gestão dos resíduos de abate das plantações florestais, outros
sistemas devem ser testados com o fito de melhorar a fertilidade e qualidade do
solo e o crescimento das árvores (Fisher & Binkley, 2000). Em Portugal, não
têm sido observadas diferenças significativas entre as várias opções de gestão
dos resíduos de abate no respeitante ao crescimento e estado de nutrição das
árvores e às características do solo em plantações de eucalipto, tanto no caso
de replantação como no de segunda rotação (Magalhães, 2000; Soares et al.,
2002). O efeito da aplicação de fertilizantes (na ausência de resíduos de
abate) tem-se mostrado positivo (Pereira et al., 1996), mas as diferenças não
foram significativas. Porém, a interacção entre os sistemas de gestão dos
resíduos e a aplicação de fertilizante não é conhecida. Dados os desafios de
competitividade que o sector florestal enfrenta, é importante compreender, nas
condições Mediterrânicas, o efeito conjugado de diferentes sistemas de gestão
de resíduos de abate e o uso de fertilizantes azotados ou de plantas fixadoras
de azoto no incremento da produtividade das plantações de eucaliptos.
A utilização de técnicas não destrutivas para análise foliar (medidor portátil
de clorofila SPAD-502) tem permitido estimar o teor relativo de clorofila com
precisão. Contudo, a maioria dos estudos referidos na literatura apenas
relaciona a clorofila total com os valores de SPAD, não se conhecendo a
correlação com os carotenóides. Tem-se observado forte correlação entre os
valores de SPAD e o teor de azoto foliar, por exemplo, em laranjeiras (Pestana
et al., 2004), espécies folhosas (Chang & Robison, 2003), plantações jovens
de E. globulus e E. nitens (Pinkard et al., 2006) e pés-mãe de E. globulus
(Ribeiro et al., 2009). Por esta razão, o SPAD pode ser uma metodologia
alternativa e promissora relativamente à tradicional e morosa análise foliar.
Neste contexto, instalou-se um sistema experimental numa área representativa de
plantações de eucaliptos, no centro de Portugal, com os objectivos de (a)
avaliar a influência da gestão dos resíduos de abate (remoção, distribuição à
superfície ou incorporação no solo) e o uso de fertilizante azotado e
associação com leguminosa no crescimento e nutrição das jovens árvores, de
forma a identificar o sistema de gestão mais apropriado para optimizar a
produtividade das plantações; (b) comparar o desempenho de análises foliares
destrutivas e não destrutivas para determinar o estado nutricional das árvores.
MATERIAL E MÉTODOS
Sistema e desenho experimental
O sistema experimental foi instalado na Quinta do Furadouro (Óbidos; lat. 39º
20' N, long. 09º 14' W, alt. 50 m), numa área de replantação de E. globulus,
após o abate (Outono de 2001) da plantação anterior com 34 anos de idade. A
área útil das parcelas era de 225 m2, correspondendo a 25 árvores que foram
objecto de estudo.
A área de estudo assenta em formações do Cretácico (arenitos) (Grés de Torres
Vedras; Zbyzewski & Almeida, 1960), e o relevo apresenta declives entre 5
e 12%. Os solos são maioritariamente Cambissolos dístricos e Regossolos
dístricos (WRB, 2006), apresentando textura franco arenosa a franca, valores de
pH (H2O) < 5,3, teores baixos de C orgânico (10,9 ' 24,3 g kg-1) e muito baixos
de P extraível (< 5 mg kg-1) (Jones et al., 1999). A temperatura média anual é
de 15,2ºC, enquanto que a média mensal varia de 10,4 a 19,8 ºC, em Janeiro e
Agosto, respectivamente. A precipitação média anual é de 607 mm, mas apenas 10%
ocorre no período compreendido entre Maio e Setembro (Reis & Gonçalves,
1981; estação climatológica das Caldas da Rainha, 39º 24' N, 09º 08' W, alt. 70
m).
Os tratamentos aplicados (repetidos em quatro blocos) incluíram: incorporação
dos resíduos de abate no solo por intermédio de gradagem a uma profundidade
média de 20 cm (I); I com aplicação de fertilizantes no final do Inverno
(Março) nos três anos seguintes ao da plantação (IF); I com sementeira de
leguminosas (Lupinus luteus) (IL); remoção manual da totalidade dos resíduos de
abate (R); R com aplicação de fertilizantes (RF); R com sementeira de
leguminosas (RL); manutenção e distribuição uniforme dos resíduos de abate na
superfície do solo (S); S com aplicação de fertilizantes (SF). A leguminosa foi
semeada por uma escarificação ligeira, aplicando-se 110 kg de semente e 220 kg
de superfosfato a 18% por hectare. A rebentação das touças foi controlada pela
aplicação de glifosato (Roundup).
Após a aplicação dos tratamentos, a plantação (ao covacho) realizou-se, entre
as linhas de touças da plantação anterior e a um compasso de 3 x 3 m, no final
de Março de 2002. À plantação aplicou-se 150 g de adubo composto ternário (12%
N, 24% P2O5e 12% K2O), metade de cada lado da planta e a cerca de 20-25 cm
desta. Em Março de 2003, 2004 e 2005 aplicou-se manualmente 200 kg ha-1de um
fertilizante azotado (ENTEC 26, 26% N, do qual 7,5% de N-NO3e 18,5% de N-NH4+e
32,5% de anidrido sulfúrico, SO3solúvel em água) nas parcelas dos tratamentos
IF, RF e SF.
Medições e amostragens
Antes da instalação do sistema experimental quantificou-se a massa dos resíduos
de abate que existiam nas parcelas delimitadas, a que se seguiu a
caracterização dos respectivos solos por intermédio da abertura e descrição de
seis perfis. Os resíduos de abate (total de 38 t ha-1) incluíam folhas (11 t
ha-1), ramos (18 t ha-1), raminhos e casca (10 t ha-1) (Madeira et al., 2009).
Os resíduos continham cerca de 165 kg ha-1de N e 15 kg ha-1de P, ocorrendo
principalmente nas folhas (66 e 56% de N e P, respectivamente), e cerca de 443
kg ha-1de Ca distribuídos por folhas e ramos. Na camada superficial do solo (0-
10 cm), os teores de C orgânico e N eram baixos (13,6 e 0,53 g kg-1,
respectivamente), a razão C/N alta (25,9), e a disponibilidade das bases de
troca razoável (2,96, 0,66, 0,27 e 0,08 cmolc kg-1, respectivamente, para Ca,
Mg, K e Na).
A mortalidade das jovens árvores foi determinada em Outubro de 2002 e Setembro
de 2003. A altura e o diâmetro à altura do peito (DAP) foram medidos para
avaliar a evolução do crescimento das árvores. A altura das árvores foi medida
em Outubro de 2002, Setembro de 2003, Agosto de 2004, Setembro de 2005, Agosto
de 2006 e Novembro de 2007 (7, 18, 29, 42, 53 e 68 meses após a plantação,
respectivamente) e o DAP foi medido nas quatro últimas amostragens. O volume
das árvores (m3ha-1) foi calculado segundo a equação
V = 0,00003739 D1,8151H1,1455,
onde D é o diâmetro à altura do peito e H a altura da árvore (Tomé et al.,
2007).
A componente aérea da vegetação sob coberto (expressa em biomassa, g m-2) foi
estimada no final das Primaveras de 2002 a 2006 e para tal usou-se uma
estrutura de madeira (0.5×0.5 m2) quatro vezes em cada parcela do respectivo
tratamento.
Para a medição da área foliar (Portable Area Meter Model Li-3000A, LI-COR),
teor foliar de azoto (método de Kjeldahl, sistema de destilação Kjeltec Auto
1030 Analyser), de fósforo (CEM Microwave Digestion System Model MDS-81 D e
colorimetria pelo método do ácido ascórbico), e teor relativo de clorofila
(SPAD-502, Minolta Corporation, Ramsey, NJ) foram feitas sete amostragens
(cinco para o SPAD), tendo em duas árvores por tratamento e por bloco sido
colhidas oito folhas completamente expandidas em quatro ramos do terço superior
da copa, segundo as quatro direcções dos pontos cardeais.
Os teores de clorofila e de carotenóides totais foram obtidos por extracção em
acetona a 100% e ascorbato de sódio, a partir de discos (0,7 cm diâmetro)
obtidos de oito folhas por tratamento. Os teores (µg cm-2) foram então
calculados de acordo com as equações de Lichtenthaler (1987). Nas áreas
correspondentes aos discos usados para extracção dos pigmentos foram feitas
leituras com o SPAD para posterior correlação e calibração.
Análise estatística
O efeito dos tratamentos no crescimento e estado de nutrição das árvores foram
testa-dos por análise de variância (ANOVA) e a comparação das médias dos
tratamentos pelo Tukey multiple range test. Os procedimentos estatísticos foram
efectuados através do Statistica 6.0 software package (StatSoft, 1996). Para
discriminar a importância relativa dos factores que foram considerados (gestão
de resíduos, leguminosas e aplicação de fertilizante azotado), foi aplicada uma
análise de variância de três factores; para este procedimento estatístico usou-
se o Statgraphics plus 5.1 (Manugistics Inc.).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Vegetação sob coberto
A biomassa da componente aérea da vegetação sob coberto mostrou grande
variabilidade entre tratamentos durante todo o período de amostragem. No fim da
primeira Primavera após a plantação (2002, Quadros 1 e 2), e antes da primeira
fertilização, a biomassa foi significativamente superior (P<0,001) nos
tratamentos com leguminosa (RL e IL) do que nos outros; a biomassa da vegetação
sob coberto revelou também ser superior (P<0,05) nos tratamentos com resíduos
relativamente aos sem resíduos (Quadros 1 e 2). Nas amostragens efectuadas em
2003, 2004 e 2005, as diferenças entre os tratamentos não foram significativas,
quer para o efeito das leguminosas, quer para os dos resíduos e da
fertilização. Porém, a última amostragem, realizada em 2006 (Quadro 1), mostrou
que apenas a fertilização aumentou significativamente a biomassa da vegetação
sob coberto (P<0,005; Quadro 2), não tendo a gestão dos resíduos ou a
instalação de Lupinus tido qualquer efeito significativo (P>0,05).
Quadro_1
' Biomassa (g m-2) da vegetação sob coberto determinada no final da Primavera
de 2002 e 2006.
Quadro_2
' Resultados da ANOVA multifactorial relativamente aos efeitos dos resíduos de
abate (sem e com resíduos), da instalação de Lupinus (com e sem leguminosa) e
da aplicação de fertilizante azotado (com e sem fertilização) na biomassa da
vegetação sob coberto (BVC) e na altura, diâmetro à altura do peito e volume
das árvores.
O efeito positivo das leguminosas na acumulação de biomassa, na fase inicial da
rotação, sugere claramente que estas espécies poderão ter uma efeito bastante
positivo nos inputs de N no sistema, o que poderá ter repercussões no estado de
nutrição das árvores e também na acumulação de carbono orgânico no solo.
A acção positiva da fertilização azotada na biomassa da vegetação sob coberto,
um ano após a última aplicação, sugere também um efeito positivo na ciclagem de
nutrientes e na acumulação de carbono orgânico no solo. Com efeito, a massa da
vegetação sob coberto, bem como a quantidade de nutrientes nela acumulados, são
maiores do que os correspondentes à folhada anual das plantações de eucalipto
na área de estudo (Madeira et al., 1995). Assim, a vegetação sob coberto poderá
contribuir indirectamente para dilatar o efeito temporal da fertilização
azotada, contribuindo para o aumento da fertilidade do solo e do respectivo
stock de C. Porém, é imprescindível obter informação pertinente sobre o efeito
da fertilização na biomassa da parte subterrânea da vegetação sob coberto para
melhor avaliar tais tendências.
Crescimento das árvores
A mortalidade das árvores, avaliada 7 e 18 meses após a plantação (MAP), foi
baixa (7 a 12%) e sem diferenças significativas entre tratamentos.
A incorporação de resíduos de abate (e também das camadas orgânicas) no solo
(I) parece melhorar o crescimento das jovens árvores, relativamente à sua
remoção (R) ou distribuição na superfície (S). Contudo, as diferenças entre
tratamentos diminuíram com o tempo. No fim do estudo (68 MAP, Figura 1), apesar
das árvores do tratamento I serem mais altas (13,6 m) e mais grossas (10,7 cm)
do que as dos tratamentos S (12,2 m e 9,1 cm, respectivamente) e R (12,1 m e
9,0 cm, respectivamente), não se observaram diferenças significativas (Figura
1). Com efeito, no início do estudo, 7 MAP, a altura das árvores do tratamento
I era cerca de 1,3 vezes maior do que nas de S e R, comparativamente a 1,16 e
1,12 a 68 MAP. Esta tendência, também observada para o DAP, sugere que o efeito
positivo do tratamento I no crescimento das árvores se esbateu em fase mais
avançada da rotação. Assim, não obstante o menor volume ter sido medido nos
tratamentos S e R (41,3 e 45,2 m3ha-1) (68 MAP; Figura 1), este não foi
significativamente inferior ao observado no tratamento I.
Figura_1 – A. altura das árvores medida 7 meses após a plantação (MAP); B.
altura e diâmetro à altura do peito (DAP) medidos 53 MAP; C. altura e DAP
medidos 68 MAP (no fim do período experimental); D. volume do tronco (m3 ha-1)
das árvores medidos 68 MAP. As barras representam o desvio padrão.
Os resultados do presente estudo contradizem os obtidos por Soares et al.
(2002) num ensaio lisimétrico em condições controladas e na ausência de
cobertura vegetal do solo, onde as árvores de I mostraram um crescimento
inicial mais lento do que em S e semelhante a R. No presente estudo, a
perturbação causada pelo operação de gradagem na incorporação dos resíduos pode
ter diminuído a massa volúmica e a compactação do solo, como já observado
anteriormente por Madeira et al. (1989), favorecendo condições para uma mais
rápida e profunda expansão do sistema radicular e, portanto, um melhor uso da
água e dos nutrientes das camadas subsuperficiais. Em conformidade com Fabião
et al. (1990), o sistema radicular do E. globulus tem uma expansão rápida,
atingindo camadas profundas de solo, durante a primeira estação de crescimento,
o que parece explicar as diferenças de crescimento observadas no tratamento I.
A menor biomassa de vegetação espontânea nas parcelas deste tratamento (Quadro
1) pode também ter implicado me-nor restrição no crescimento das árvores
relativamente a R e S.
No presente estudo, a manutenção dos resíduos na superfície do solo (S), apesar
da elevada quantidade de nutrientes neles acumulada, não aumentou o crescimento
das árvores quando comparado com a sua remoção (R), o que corrobora os
resultados de Jones et al. (1999) para o crescimento de plantações jovens de
eucaliptos em solos com características semelhantes (nas imediações da área do
presente estudo) e na Galiza (Espanha). Porém, os nossos resultados são
contrários aos relatados por Nzilla et al. (2002) no Congo, Merino et al.
(2003) na Galiza (Espanha) e Xu et al. (2004) na China, onde a manutenção dos
resíduos melhorou o crescimento e as condições nutricionais das árvores. Esta
discordância pode ser atribuída às condições mediterrânicas, em que a
produtividade está principalmente limitada pela disponibilidade de água
(Pereira et al., 1989; Pereira et al., 1996), bem como a maiores
disponibilidades e reserva de nutrientes no solo do presente estudo.
No início da rotação, a sementeira de Lupinus levou a um menor crescimento em
altura das árvores comparativamente com os tratamentos sem leguminosa (P<0,001;
Quadro_2); os resíduos de abate (presença ou ausência) não afectaram
significativamente a altura (P>0,05). A leguminosa L. luteus afectou mais
negativamente as árvores em solos com a incorporação de resíduos de abate,
sendo a sua altura em IL (1,0 m) significativamente mais baixa do que em I (1,7
m) a 7 MAP (Figura_1). Esta diminuição de crescimento corrobora resultados de
Malik et al. (2001) e Mendham et al. (2004), os quais sugerem es-tar
relacionado com a competição pela água entre as árvores e a vegetação
espontânea, ou leguminosas, mormente se o sistema radicular das jovens árvores
não tenha colonizado as camadas mais profundas de solo. Contudo, o efeito
negativo das leguminosas na fase inicial da rotação modificou-se fortemente a
meio do período da mesma. De facto, 68 MAP (Figura_1) a altura das árvores em
IL era muito próxima da observada em I (13,2 e 13,6 m, respectivamente). Pelo
contrário, a altura das árvores em RL era maior do que em R (13,8 e 12,1 m,
respectivamente; Figura_1), ao invés do padrão observado 7 MAP (Figura_1). Este
comportamento parece estar relacionado com o balanço entre a remoção de N
contido nos resíduos de abate e a adição de N pela leguminosa.
Tal como para a biomassa da vegetação sob coberto, a fertilização azotada teve
um efeito positivo e significativo nos tratamentos onde foi efectuada
relativamente aos que não tiveram aplicação, quer para a altura, quer para o
DAP (P<0,005 e P<0,01, respectivamente; Quadro_2). A aplicação do fertilizante
em Março de 2003 e 2004 aumentou a altura das árvores nos tratamentos IF (8,0
m), SF (7,1 m) e RF (6,0 m) relativamente aos outros, sendo as diferenças
significativas entre SF e S, e entre IF e IL (29 MAP; Quadro 3). A altura das
árvores foi 1,3, 1,5 e 1,2 vezes maior nestes tratamentos, respectivamente, do
que nos respectivos não fertilizados I, S e R. Similarmente, o DAP foi 1,3 (IF
e RF) e 1,5 (SF) vezes maior, respectivamente. No termo do estudo (68 MAP;
Figura_1), as árvores foram 1,1 (IF e RF) e 1,2 (SF) vezes mais altas e mais
grossas do que nos tratamentos homólogos não fertilizados, sendo o tratamento
IF significativamente diferente dos tratamentos R e S. O efeito da remoção dos
resíduos de abate parece ter sido compensado pelo fertilizante, dado que o
crescimento das árvores em RF foi semelhante ao observado nos tratamentos I e
S. O volume foi maior nos tratamentos fertilizados (P<0,005; Quadro_2)
relativamente aos não fertilizados e não foi significativamente afectado pela
manutenção dos resíduos de abate ou da leguminosa (P>0,05).
Quadro_3 ' Evolução dos teores de N foliar (mg g-1), clorofila total (CLT) e
carotenóides totais (CART) expressos em µg cm-2, e valores de SPAD para todos
os tratamentos durante o período experimental; os valores representam a média e
o desvio padrão (entre parêntesis).
A falta de resposta significativa, em termos nutricionais, à gestão dos
resíduos de abate é também suportada pelo facto de que o crescimento das
árvores aumentou (31, 18 e 40% nos tratamentos I, R e S, respectivamente) pela
repetida fertilização azotada tanto na ausência como na presença de resíduos,
sugerindo que as taxas de mineralização de N foram insuficientes para que um
crescimento optimizado ocorresse. O crescimento destas árvores em resposta à
fertilização corrobora os resultados obtidos em eucaliptais jovens, onde a
adição de fertilizante em solo arenoso sem resíduos (de abate ou orgânicos)
aumentou a produtividade em 19% (Pereira et al., 1989; Pereira et al., 1996).
A manutenção dos resíduos de abate no solo pode ter também efeitos de sinergia
com a fertilização, dado que o aumento no crescimento foi superior em I (31%) e
S (40%) do que em R (18%). Assim, em solos com baixa fertilidade,
independentemente do sistema de gestão dos resíduos de abate, haverá a
necessidade de aumentar o fornecimento de N ao sistema através de fertilização
para que se atinja a taxa de crescimento optimizada.
Análise foliar e SPAD-502
Antes da primeira aplicação de fertilizante azotado (8 MAP), o teor foliar de N
foi maior em IL (26,7 mg g-1) e RL (25,5 mg g-1) do que nos outros tratamentos
(21,0-21,8 mg g-1) (Quadro_3), o que se atribui ao aumento de inputs de N
devido às leguminosas; a similitude entre os tratamentos I, S e R corrobora os
resultados relatados por Jones et al. (1999), para tratamentos semelhantes
localizados próximo da área do presente estudo.
Dois meses após a primeira fertilização (14 MAP), o N foliar em IF, RF e SF foi
estatisticamente superior (22,4-23,6 mg g-1) ao obtido nos outros tratamentos
(14,7-16,5 mg g-1). No entanto, o teor de N diminuiu relativamente às
amostragens imediatamente anterior e posterior, o que pode estar relacionado
com uma infecção por Micosphaerella spp. que afectou as folhas das árvores. Não
obstante o fertilizante ter suplementado apenas N, teores de P mais elevados
foram também observados em IF, RF e SF (1,7, 1,5 e 1,5 mg g-1, respectivamente;
Quadro_3), mas somente IF foi estatisticamente diferente de R, RL e S (1,3 mg
g-1). A razão N/P foi também estatisticamente superior nos tratamentos
fertilizados (15,2) do que nos não fertilizados (11,7).
Oito meses após a primeira fertilização (20 MAP), a diferença verificada entre
os tratamentos fertilizados (26,9-28,0 mg g-1) e os não fertilizados (25,1-26,0
mg g-1) não foi tão pronunciada como a verificada 14 MAP. A segunda
fertilização azotada (Março 2004) não afectou igualmente os tratamentos 26 MAP:
o teor de N nas folhas foi de 28,3, 23,0 e 21,2 mg g-1, em IF, RF e SF,
respectivamente, sendo estatisticamente diferentes apenas os valores
correspondentes a IF e SF. Um teor mais elevado de P foi medido em IF (1,8 mg
g-1) nesta amostragem, sugerindo um efeito conjugado positivo entre a
fertilização azotada e a incorporação de resíduos no solo. A terceira aplicação
de fertilizante (Março 2005) não afectou o N foliar em IF, RF e SF. Pelo
contrário, os valores mais altos de N, 44 e 50 MAP, foram medidos no tratamento
IL, o que sugere o efeito combinado a médio prazo da incorporação de resíduos e
da leguminosa L. luteus.
O teor de pigmentos fotossintéticos e os valores de SPAD foram estatisticamente
semelhantes a 8, 20 e 32 MAP (Quadro_3). Contudo, 14 MAP foram observadas
diferenças significativas entre os tratamentos fertilizados e os não
fertilizados, sendo esta diferença relacionada com o maior teor de N foliar nos
tratamentos fertilizados. Embora não tenham sido observadas grandes diferenças
nos valores de SPAD entre tratamentos a 26 MAP, a clorofila total em SF (63,1
µg cm-2) foi estatisticamente superior à extraída das árvores dos tratamentos
IL, RL e R (45,4, 47,2 e 48,1 µg cm-2, respectivamente; Quadro_3). Também, o
teor de carotenóides mais elevado ocorreu em SF (13,6 µg cm-2) relativamente a
IL e RL (cerca de 10,0 µg cm-2). A partir de 32 MAP, não se observaram
diferenças significativas entre tratamentos para os teores de pigmentos
fotossintéticos e valores de SPAD.
Para além da lacuna de informação sobre a utilização do SPAD como medidor de
carotenóides, ela também é escassa relativamente à clorofila a e b, excepto
para plantas hortícolas (Madeira et al., 2000, 2005) e uma espécie florestal -
a bétula (Richardson et al., 2002). Assim, neste estudo analisaram-se as
correlações entre os referidos pigmentos e os valores de SPAD, sendo os
coeficientes de determinação (R2) destas correlações muito elevados a 14 e 20
MAP (Quadro 4). A forte correlação com os carotenóides totais sugere que o
SPAD-502 pode ser também muito útil na determinação do teor relativo deste
pigmento.
Quadro 4 ' Equações de regressão para a relação entre os valores de SPAD (x) e
os pigmentos fotossintéticos (y, µg cm-2) a 14, 20 e 26 MAP.
Contudo, o R2diminuiu 26 MAP (Quadro 4) e ainda mais 32 MAP (inferior a 0,50
para todos os pigmentos, dados não incluídos). De facto, o aumento verificado
nos teores dos pigmentos não foi acompanhado pelo aumento dos valores de SPAD
e, por essa razão, esta técnica não foi utilizada nas últimas amostragens. Este
padrão parece estar relacionado com a idade das árvores e a maturidade das
folhas, relativamente às alterações que se verificam na sua estrutura interna e
espessura, o que provavelmente afecta as leituras do SPAD a 940 nm (dependente
da estrutura foliar). A coloração verde-escura típica das folhas de eucalipto
adultas, associada ao aumento do teor de clorofila, pode ter afectado a
absorção da luz a 650 nm, diminuindo a transmissão da luz neste comprimento de
onda, como foi sugerido por Richardson et al. (2002). Donde, ter-se observado
uma diminuição da transmissão para 940/650, valor que representa a leitura sem
dimensões do SPAD, isto é, o teor relativo de clorofila.
Uma correlação (P<0,05) linear relativamente forte foi obtida num estudo
preliminar (Madeira et al., 2009) entre o N foliar (mg g-1) e os valores de
SPAD (R2=0,74) a 14 MAP (Maio 2003, dois meses após a primeira fertilização
azotada), tendo porém diminuído (<0,15) nas outras amostragens. Maiores
coeficientes de determinação foram obtidos, contudo, quando o N foliar foi
expresso por unidade de área foliar (mg cm-2; Figura 2), como também relata-do
por Chang & Robinson (2003).
Figura 2 ' Relação entre o teor de N (mg cm-2) e os valores de SPAD em folhas
de E. globulus, a 8 (Nov. 2002), 14 (Maio 2003), 20 (Nov. 2003) e 26 (Maio
2004) MAP.
Alterações na morfologia das folhas, sazonalidade e condições nutricionais das
árvores podem condicionar a correlação entre o teor de N e os valores de SPAD.
Contudo, a sazonalidade não parece ter uma grande influência em R2(Figura 2),
visto o seu valor variar de 0,63 (Nov. 2002) e 0,75 (Nov. 2003) a 0,16 (Nov.
2004, dado não incluído), e de 0,81 a 0,51 em Maio de 2003 e 2004,
respectivamente; de forma semelhante a idade da folha não parece ter afectado
os teores de N e valores de SPAD até 20 MAP (Maio 2003). Os coeficientes
determinados para cada tratamento (Quadro 5) variaram de 0,08 a 0,98, entre
datas (8, 14 e 20 MAP) e tratamentos, e mostram a inexistência de uma tendência
comum em termos de idade foliar ou sazonalidade, isto é, diminuem com a idade
principalmente quando os resíduos são removidos (R, RL e RF), enquanto que
aumentam quando os resíduos são incorporados (IL e IF) ou distribuídos à
superfície (S e SF).
Quadro 5 ' Coeficientes (R2) para correlações lineares entre a concentração de
N (mg cm-2) e os valores de SPAD, para cada tratamento (n=8), a 8, 14 e 20 MAP.
Neste contexto, sugere-se que o medidor de clorofila pode ser usado para
monitorizar o teor de azoto em E. globulus jovens (até dois anos de idade),
desde que convenientemente calibrado.
CONCLUSÕES
O crescimento e o estado de nutrição de jovens árvores de E. globulus não
parecem ter sido afectados pelos resíduos de abate, quer estes tenham sido
mantidos ou removidos do sítio. A sua incorporação no solo promoveu o
crescimento, mas as diferenças iniciais verificadas entre tratamentos
esbateram-se com o tempo. A leguminosa L. luteus (IL e RL) gerou um aumento
inicial do teor de N foliar, mas afectou negativamente o crescimento das
árvores; contudo, no fim do estudo, o teor de N foi superior em IL, mas o
crescimento foi semelhante ao de outros tratamentos. A aplicação de
fertilizante azotado, pelo contrário, aumentou os teores de N e de pigmentos
fotossintéticos, bem como os valores de SPAD, aproximadamente até 20 meses após
a plantação, quer os resíduos de abate tenham sido mantidos ou removidos do
sítio; o fertilizante promoveu o crescimento das árvores, principalmente quando
os resíduos foram incorporados no solo. Atendendo à correlação entre o N foliar
e os valores de SPAD, o medidor de clorofila parece ser uma técnica promissora
para avaliar o teor de azoto em jovens plantações (até dois anos de idade). Nas
condições Mediterrâneas em que o presente trabalho foi efectuado, o melhor
sistema de gestão para o incremento da produtividade correspondeu à
incorporação dos resíduos de abate associada à aplicação repetida de
fertilizante azotado.