Acumulação e translocação de elementos vestigiais em Cistus Ladanifer L. de
áreas mineiras da FPI portuguesa
Acumulação e translocação de elementos vestigiais em Cistus Ladanifer L. de
áreas mineiras da FPI portuguesa
INTRODUÇÃO
Na Faixa Piritosa Ibérica (FPI) existem áreas mineiras abandonadas em distintos
períodos e que possuem, algumas delas, graves problemas ambientais. Apesar de
nestas áreas ocorrerem factores de stresse para as plantas, relacionados com as
características do solo e as condições meteorológicas da área, crescem aí
algumas espécies arbustivas autóctones que melhoram as características do
ecossistema.
O Cistus ladanifer L. (esteva) é um arbusto que cresce naturalmente na área
mediterrânea num vasto gradiente de latitude, clima e tipos de solo (Kidd et
al., 2004). Esta espécie cresce em áreas sujeitas a diferentes condições de
stresse, nomeadamente: elevada radiação solar e temperatura, baixos conteúdos
de água e matéria orgânica no solo, elevadas concentrações de elementos
vestigiais no solo e baixo pH. Esta espécie apresenta por isso elevada
plasticidade tendo desenvolvido mecanismos de tolerância aos vários factores de
stresse (Nuñes-Oliveira et al., 1996; Santos et al., 2009). Em zonas mineiras
da FPI coloniza e cresce com muita frequência onde a maioria das plantas tem
dificuldade em sobreviver (Murciego et al., 2007; Abreu e Magalhães, 2009).
Embora apresente pequeno porte, alguns indivíduos podem atingir até 2,5 m de
altura (Correia, 2002). Desde a antiguidade, a esteva tem sido usada como
planta medicinal bem como para a produção de ládano e óleo essencial (Correia,
2002; Aziz et al., 2006).
O Cistus ladanifer tem sido alvo de alguns estudos, sobretudo no âmbito de
áreas mineiras (Pratas, 1996; Alvarenga et al., 2004; Pratas et al., 2005;
Santos et al., 2009) referindo-se a sua potencial utilização para a
fitoestabilização de áreas contaminadas por elementos vestigiais. A esta planta
tem sido reconhecida capacidade de absorção de Sb e W em áreas mineiras (Pratas
et al., 2005) e de acumular na parte aérea Cd, Co, Cr, Mn, Zn e Sn (Batista,
2003; Freitas et al., 2004; Lázaro et al., 2006; Murciego et al., 2007; Batista
et al., 2009; Santos et al., 2009). As estevas podem contribuir para acelerar
os processos de meteorização e pedogénese e melhorar as características físico-
químicas dos solos incipientes (Antrossolos ou Leptossolos) das áreas mineiras.
Além disso, podem também minimizar a dispersão dos elementos químicos
contaminantes e ainda, porque são pioneiras, contribuir para a instalação de
outras espécies vegetais (Abreu e Magalhães, 2009).
Este estudo teve como objectivo avaliar a capacidade de acumulação e
translocação de As, Cu, Pb e Zn de diferentes populações de Cistus ladanifer
que crescem espontaneamente em quatro áreas mineiras abandonadas da FPI
Portuguesa (Brancanes, São Domingos, Chança e Caveira) onde as concentrações de
elementos vestigiais são relativamente variáveis. Comparam-se estas populações
com as que crescem em duas áreas não contaminadas do Pomarão e Caldeirão.
Pretende-se também avaliar a capacidade desta espécie para fitoestabilização de
outras áreas mineiras com características semelhantes.
MATERIAIS E MÉTODOS
Caracterização das áreas de estudo
Para este estudo seleccionaram-se quatro áreas mineiras abandonadas da FPI
Portuguesa (Brancanes, Caveira, Chança e São Domingos) e duas áreas não
contaminadas com elementos vestigiais (Caldeirão e Pomarão).
A área mineira de Brancanes localiza-se no concelho de Castro Verde, a sudoeste
da mina de Neves Corvo em formações geológicas do Complexo Vulcano Sedimentar,
e a formação aflorante é a Formação de Mértola, de idade Carbónica, composta
por turbiditos de origem marinha (Carvalho e Ferreira, 1993). A mina de
Brancanes foi explorada para Cu, em lavra subterrânea, até final do século XIX
em filão quartzoso no sub-sector Pomarão-Castro Verde.
A área mineira do Chança está localizada na região do Baixo Alentejo, Concelho
de Mértola a cerca de 5 km a SE da Mina de São Domingos. Esta mina, abandonada
no princípio do século XX, consistia de uma pequena jazida de pirite maciça
acompanhada de rara calcopirite e blenda, que apresentava à superfície um
gossan constituído por hematite, goethite, sílica e possível cuprite (Alvarenga
et al., 2002). A exploração do minério ocorreu exclusivamente em lavra
subterrânea.
A área mineira de São Domingos situa-se também no concelho de Mértola. Nesta
área, a exploração mineira iniciou-se nos tempos pré-romanos, tendo conhecido
na era romana uma forte exploração, a partir do gossan, testemunhada pela
quantidade importante de escórias datadas dessa época. Na mina de São Domingos
foi extraído Au, Ag, Cu e S cessando a sua exploração nos anos 60 do século XX.
Nos séculos XIX e XX, a exploração teve maior incidência nos sulfuretos maciços
de Cu com teores elevados de As, Zn e Pb, tendo ocorrido em lavra subterrânea
(Quental et al., 2002).
A mina de Caveira pertence ao concelho de Grândola e situa-se a NO da mina de
São Domingos. A exploração da mina remonta à epoca romana e nos tempos
modernos, de 1854 até 1919, realizou-se de uma forma irregular na parte
superficial das massas de sulfuretos. Posteriormente, entre 1936 e a década de
mil novecentos e setenta, quando ocorreu o seu encerramento, a exploração da
mina, em lavra subterrânea baseou-se na produção de S e H2SO4 (Matos e Martins,
2006).
Os dois locais de referência para este estudo situam-se no Pomarão e na Serra
do Caldeirão. O Pomarão está localizado na margem direita do rio Guadiana, a 18
km da mina de São Domingos (Concelho de Mértola), tendo sido o porto a partir
do qual o minério proveniente de São Domingos era exportado para Inglaterra. O
substrato litológico é constituído por xistos e grauvaques incluídos na
Formação de Mértola, do Grupo do Flysh do Baixo Alentejo (Oliveira et al.,
1990). A Serra do Caldeirão localiza-se no Sul de Portugal, no sotavento
Algarvio. A litologia da área estudada insere-se, fundamentalmente, no complexo
de xistos argilosos e grauvaques incluídos na Formação de Mira, do Grupo do
Flysh do Baixo Alentejo (Oliveira et al., 1992).
O clima nas áreas de Chança, São Domingos e Pomarão é tipicamente mediterrâneo,
caracterizando-se por verões longos, quentes e secos e por invernos
moderadamente frios e húmidos. A precipitação média anual é de 456 mm (INMG,
1990) e ocorre maioritariamente no inverno e de uma forma irregular. Nas áreas
de Brancanes e Caveira, o clima é também do tipo mediterrâneo com precipitações
médias anuais, respectivamente, de 432 e 500 mm (INMG, 1990). Na Serra do
Caldeirão, embora o clima seja igualmente do tipo mediterrâneo, as temperaturas
são mais amenas no verão, pois está situada a 475 m de altitude, e a
precipitação média anual é de 991 mm (INMG, 1990).
Materiais
Para este estudo colheram-se, nas quatro áreas mineiras e nas duas áreas não
contaminadas, amostras compósitas (um mínimo de três subamostras) de solos (0-
15/20 cm de profundidade) e plantas de Cistus ladanifer (parte aérea e, com
excepção de São Domingos, Pomarão e Caldeirão, também a parte radicular) nos
mesmos locais de colheita dos solos. Cada amostra de plantas resultou de uma
mistura homogénea de 15 indivíduos nas áreas do Caldeirão, Pomarão e São
Domingos e nas restantes áreas de pelo menos três indivíduos, por cada amostra
compósita de solo. Os solos são incipientes (Antrossolos e Leptossolos) e
desenvolveram-se sobre diferentes substratos. A área de amostragem em São
Domingos, onde foram colhidas amostras em três subáreas situadas na zona
envolvente da corta da mina, mais precisamente a NNE desta, faz parte de uma
grande escombreira constituída fundamentalmente por materiais resultantes da
exploração do chapéu de ferro (gossan) e rochas encaixantes. Os solos de
Caveira (duas amostras) desenvolveram-se sobre escórias modernas, e no Chança
desenvolveram-se sobre materiais de gossan (três amostras) e sobre britados de
pirite e rocha encaixante (três amostras). A área de amostragem na Serra do
Caldeirão situa-se na aldeia do Barranco do Velho, e a do Pomarão a cerca de 2
km do porto do Pomarão e a 25 m da antiga linha-férrea por onde era
transportado o minério, sendo os solos (três amostras em cada área)
provenientes de rochas do complexo xisto grauváquico. Os solos da área mineira
de Brancanes (cinco amostras) também se desenvolveram sobre formações de xisto.
Métodos
Após secagem à temperatura ambiente, os solos foram homogeneizados e crivados.
A fracção <2 mm dos solos foi caracterizada física e quimicamente (Póvoas e
Barral, 1992): pH em água (1:2,5 m/v); análise granulométrica; C orgânico por
oxidação por via húmida; capacidade de troca catiónica (CTC) e catiões de troca
(método do acetato de amónio a pH 7); N total (método de Kjeldahl) e P e K
extraíveis (método de Egner-Riehm).
A análise química total de As, Cu, Pb e Zn nos solos (fracção <2 mm) foi
realizada por análise instrumental por activação de neutrões (INAA) ou
espectrofotometria de emissão atómica com plasma acoplado indutivamente (ICP-
EAS) após digestão ácida com HF+HClO4+HNO3+HCl (ActLabs, 2010a).
O material vegetal foi lavado abundantemente em água corrente, seguida de água
destilada, seco a 40 ºC e finamente moído. A parte aérea das estevas (folhas)
colhidas em São Domingos, Caldeirão e Pomarão foi analisada por
espectrofotometria de absorção atómica em chama (F-AAS), espectrofotometria de
absorção atómica em câmara de grafite (GF-AAS) e com geração de hidretos (GH-
AAS) após extracção através de digestão ácida com HNO3 concentrado sob pressão.
As amostras da parte aérea e raiz colhidas nas restantes áreas (Brancanes,
Caveira e Chança) foram reduzidas a cinzas (475 ºC) e posteriormente sujeitas a
digestão ácida com HNO3, sendo em seguida quantificados os elementos químicos
por espectrometria de massa com fonte de plasma indutivamente acoplado, ICP-MS
(ActLabs, 2010b).
Calcularam-se os coeficientes de transferência solo-planta (CT = [elemento na
parte aérea da planta]/[total do elemento no solo]) e os coeficientes de
translocação ([elemento na parte aérea]/[elemento na raiz]). Uma espécie é
considerada acumuladora de um elemento químico quando apresenta um coeficiente
de transferência >1. O coeficiente de translocação indica a mobilidade do
elemento entre a parte radicular e a parte aérea. Plantas que concentram os
elementos vestigiais na parte aérea não são aconselháveis para recuperação
ambiental em termos de fitoestabilização, pois constituem uma possível fonte de
transferência de elementos químicos tóxicos na cadeia trófica.
Os dados foram analisados através da comparação de grupos de médias "1-Way
ANOVA". Comparam-se médias das concentrações dos elementos químicos, através do
teste de Tukey, no solo, raiz ou parte aérea entre pares de todos os grupos de
áreas mineiras, com o objectivo de avaliar, entre estes, quais tinham média
significativamente diferente (p<0,05). Considerando que também foram estudados
dois grupos de controlo (Pomarão e Caldeirão), foi ainda utilizado o teste de
Dunnett no sentido de comparar os grupos de áreas mineiras com cada grupo de
controlo. O uso dos dois testes foi necessário, por o número de indivíduos ser
diferente em cada área e, por nos grupos de controlo não terem sido analisadas
as raízes das plantas. É ainda de salientar que alguns dos pares não foram
validados porque o nível de significância era muito baixo (este nível depende
do número de graus de liberdade, directamente ligado ao número de indivíduos).
Resultados e discussão
As características dos solos amostrados nas áreas mineiras e áreas de controlo
constam do Quadro 1. Os solos apresentam uma variabilidade relativamente ampla
em relação ao pH (3,7 a 6,2), em função dos materiais que lhes deram origem, e
podem classificar-se desde muito ácidos a pouco ácidos.
Quadro_1
' Concentração total (mg kg-1) de As, Cu, Pb e Zn e características físico-
químicas dos solos das áreas mineiras de Brancanes, Caveira, Chança e São
Domingos e das áreas de controlo do Caldeirão e Pomarão (não contaminadas). (Os
valores indicam o intervalo entre o mínimo e o máximo)
A capacidade de troca catiónica é média-baixa a baixa na maioria dos solos,
porém os solos da área de Caveira apresentam valores de CTC elevados (22 cmolc
kg-1). Tendo em conta que a textura dos solos de Caveira é grosseira (franco-
arenosa) e que a matéria orgânica apresenta também valores baixos (8,5-11 g kg-
1), estes valores de CTC devem estar relacionados com o tipo de minerais
argilosos desses solos. As concentrações mais elevadas de C orgânico foram
determinadas nos solos colhidos nas áreas mais húmidas como o Caldeirão e
algumas zonas na área mineira do Chança em solos desenvolvidos sobre materiais
de gossan. A concentração de K extraível é variável, mas na maioria dos solos
pode considerar-se alta e está dependente do tipo dos materiais de substrato.
Os valores do N total são também muito variáveis, porém em todos os solos a
concentração em P extraível é muito baixa (<10 mg kg-1) apesar disso, as
plantas de Cistus ladanifer colhidas nas diferentes áreas não evidenciavam
sinais exteriores de carências.
Os solos das áreas mineiras apresentam valores bastante diferentes para as
concentrações totais de As, Cu, Pb e Zn. Considerando a legislação da
Comunidade Autónoma do País Basco (Urzelai et al., 2000) para protecção dos
ecossistemas, com excepção do Zn, as concentrações dos elementos nas áreas
mineiras de Caveira, Chança e São Domingos ultrapassam, em geral, os valores
máximos admitidos (35 mg As kg-1; 250 mg Cu kg-1; 330 mg Pb kg-1; 840 mg Zn kg-
1).
Na área de Brancanes apenas uma amostra de solo apresenta concentração em As
acima do limite máximo. Relativamente ao Cu, no Chança apenas os solos
desenvolvidos sobre britados de pirite apresentam concentrações acima dos
valores máximos admitidos pela Comunidade Autónoma do País Basco (Urzelai et
al., 2000) e em São Domingos estão mesmo ligeiramente abaixo destes valores,
embora de acordo com a legislação portuguesa (Decreto-Lei n.º 276/2009)
ultrapassem o máximo admissível (50 mg Cu kg-1). No Chança, o Pb está dentro
dos valores admitidos para efeitos de protecção do ambiente.
As menores concentrações dos elementos químicos observadas nos solos do Chança
e Brancanes, em particular do As e Pb, mas também do Cu, podem relacionar-se
com a existência de uma atenuação natural já que estas minas se encontram
abandonadas há cerca de um século.
A Figura 1 permite comparar o comportamento do C. ladanifer, em termos de
concentração do As e dos metais na parte aérea e raiz, face às concentrações
dos mesmos elementos no solo. Por outro lado, no quadro 2 apresentam-se as
diferenças significativas obtidas através da comparação das médias das
concentrações. Apesar das concentrações de As nos solos de São Domingos e
Caveira serem diferentes, embora só significativamente diferentes em relação às
áreas controlo, as populações de esteva não apresentam, de uma maneira geral,
variação na concentração deste elemento na parte aérea (<1,7 mg As kg-1). No
entanto, ao nível da raiz, as plantas de Caveira apresentam concentrações mais
elevadas do que as de Brancanes (Figura 1 e Quadro 2).
Figura_1 ' Comparação das concentrações de As, Pb, Cu e Zn no Cistus ladanifer
(parte aérea-PA e raiz) e nos solos das áreas mineiras de Brancanes (B),
Caveira (CAV), Chança (CH) e São Domingos (SD) e nas áreas controlo de
Caldeirão (CAL) e Pomarão (P).
Quadro_2
' Diferenças significativas obtidas através da comparação das médias das
concentrações de As, Cu, Pb e Zn dos grupos das populações de Cistus ladanifer
e solos das áreas mineiras (Brancanes, Caveira, Chança e São Domingos; teste de
Tukey p<0,05), e destas com cada uma das áreas controlo (Caldeirão e Pomarão;
teste Dunnett p<0,05)
A concentração de Cu na parte aérea (6-11 mg kg-1, excepção de uma amostra no
Chança com 21 mg kg-1) e na raiz (3-9 mg kg-1, excepção de três amostras no
Chança com 27 e 58 mg kg-1) das estevas é, em geral, muito semelhante nas
várias áreas, apesar da heterogeneidade das concentrações deste elemento nos
solos (28-504 mg kg-1). Este facto, pode estar associado a diferenças na
concentração da fracção disponível do elemento no solo ou, ao nível da planta,
à distinta absorção do elemento químico, transporte no xilema e acumulação nas
células das folhas (Clemens et al., 2002).
Relativamente ao Pb, o C. ladanifer tem um comportamento algo aleatório, pois
nas áreas controlo a concentração deste elemento químico na parte aérea das
plantas é superior ao obtido para as áreas mineiras independentemente da
concentração total do elemento no solo (Figura_1). Assim, as plantas colhidas
nas áreas não contaminadas contêm entre 48 e 60 mg Pb kg-1, o que corresponde a
cerca de quatro vezes mais Pb do que o contido nas plantas de Caveira, e
concentrações relativamente próximas das de São Domingos (máximo de 49 mg Pb
kg-1). No entanto, os solos destas áreas mineiras apresentam concentrações em
Pb da mesma ordem de grandeza e significativamente superiores (100 a 200 vezes)
às das áreas controlo (Quadros 1 e 2). Embora os solos colhidos no Chança e em
Brancanes apresentem concentrações de Pb semelhantes aos do Pomarão e
Caldeirão, as plantas destas áreas não contaminadas também apresentam
concentrações de Pb superiores (cerca de 50 a 60 vezes) às das áreas mineiras.
É ainda de salientar que as plantas de Caveira apresentam maior concentração de
Pb nas raízes (entre 8 e 500 vezes mais) que a população do Chança (Figura_1 e
Quadro_2). Todos estes factos podem sugerir a existência de distintas formas de
Pb no solo que condicionam as taxas de absorção, retenção nas raízes e
transporte para a parte aérea (Yang et al., 1993; Sharma e Dubey, 2005) bem
como, diferentes concentrações do elemento na fracção disponível no solo.
A concentração de Pb nas plantas de São Domingos e das áreas controlo atingiu
valores considerados tóxicos para as plantas (30-300 mg Pb kg-1; Kabata Pendias
e Pendias, 2001), no entanto estas não apresentavam quaisquer sinais visíveis
de toxicidade sugerindo uma elevada tolerância da espécie a este elemento.
O C. ladanifer apresenta nas áreas de estudo um comportamento variável
relativamente ao Zn; concentrações mais altas na parte aérea das plantas
provenientes das áreas controlo e em São Domingos, embora não se observem
diferenças significativas entre as concentrações daquele elemento nos solos. As
concentrações de Zn nas raízes das plantas de Brancanes e Chança foram
diferentes entre si, independentemente de uma variação significativa entre os
pares relativos às concentrações no solo (Figura_1 e Quadro_2). Estes
resultados podem relacionar-se com a existência de diferentes concentrações na
fracção disponível de Zn no solo das diferentes áreas e ainda da sua capacidade
de translocação para a parte aérea.
As plantas de São Domingos foram as únicas que apresentaram na parte aérea
valores de de Zn considerados fitotóxicos (100-400 mg Zn kg-1; Kabata Pendias e
Pendias, 2001), porém estas plantas não mostravam sinais visíveis de toxicidade
sugerindo uma elevada tolerância ao Zn.
A variabilidade das concentrações dos elementos químicos estudados nesta
espécie pode também ser influenciada pela coexistência, absorção e/ou
translocação de outros elementos vestigiais na planta, bem como pelas condições
ambientais existentes em cada local (Kabata Pendias e Pendias, 2001).
Quando se comparam as médias dos grupos das populações de C. ladanifer colhidas
em áreas mineiras e em áreas controlo (Quadro_2) observa-se uma clara distinção
entre os grupos de controlo e os grupos das áreas mineiras, relativamente à
concentração na parte aérea das estevas do As, Pb e Zn. De uma maneira geral, o
desvio das áreas de Brancanes e Chança das outras áreas mineiras, embora com
baixo nível de significância entre os pares, pode sugerir a ocorrência de uma
estabilização química natural (atenuação natural) da contaminação em elementos
vestigiais nos solos das áreas onde a exploração mineira terminou, no caso de
Brancanes no final do século XIX e no Chança nos anos trinta do século XX. Esta
atenuação natural terá sido, em parte, devido à instalação da vegetação da qual
o C. ladanifer é uma das espécies dominantes.
As concentrações dos elementos químicos estudados nas plantas não ultrapassam o
limite de toxicidade para animais domésticos (30 mg As kg-1; 40 mg Cu kg-1; 100
mg Pb kg-1 e 500 mg Zn kg-1; Mendez e Maier, 2008) o que permite a utilização
desta espécie em programas de fitoestabilização de solos contaminados nestes
metais.
Os valores do coeficiente de transferência dos elementos solo-planta e do
coeficiente de translocação dos elementos químicos para a parte aérea da planta
constam do Quadro 3.
Quadro_3
'Coeficientes de transferência ([elemento na parte aérea da planta]/[total do
elemento no solo]) e de translocação ([elemento na parte aérea]/[elemento na
raiz]) de As, Cu, Pb e Zn, calculados para as plantas nas áreas mineiras e de
controlo
.
As plantas de C. ladanifer apresentaram variações dentro de cada população
relativamente à capacidade de transferência dos elementos químicos do solo para
a planta, contudo de uma maneira geral, tiveram um comportamento semelhante de
não acumuladoras de As (CT <1). O C. ladanifer não é, em nenhuma das áreas
amostradas, uma espécie acumuladora de Cu e nas áreas mineiras também não é
acumuladora de Pb apesar dos valores das concentrações totais do elemento nos
solos de Caveira e São Domingos serem bastante elevadas (5 a 9 g Pb kg-1 de
solo). Os estudos realizados por Alvarenga et al. (2004) e Chopin e Alloway
(2007) nas áreas mineiras de Aljustrel, Tharsis e Rio Tinto também indicaram
que as estevas apresentavam um comportamento de não acumuladoras de As, Cu e
Pb. Contudo, nas duas minas da FPI espanhola também foi referido que algumas
estevas eram acumuladoras de Pb (Chopin e Alloway, 2007). Esta diferenciação de
comportamentos pode relacionar-se com a existência de variações na capacidade
de adaptação das plantas face aos factores de stresse e concentração da fracção
disponível dos elementos vestigiais nos solos.
Com excepção das áreas mineiras de Brancanes e de Caveira (na qual só foram
analisadas duas amostras compósitas de plantas), as plantas amostradas em todas
as outras áreas são acumuladoras de Zn, apesar da concentração deste elemento
químico nos solos ser relativamente baixa (Quadro_1). No Chanca, apenas as
estevas que crescem nos solos derivados de gossan são acumuladoras de Zn. Esta
diferença relativamente à outra área de amostragem, na mesma zona mineira, onde
os solos se desenvolvem sobre britados de pirite e rocha encaixante poderá
estar, eventualmente, relacionada com a maior disponibilidade do Zn nesses
solos. Diferenças no carácter acumulador de Zn entre plantas desta espécie
crescendo em substratos diferentes foram também referidas por Alvarenga et al.
(2004). Ao contrário do observado nas áreas em estudo, nas áreas mineiras de
Aljustrel, Tharsis e Rio Tinto as estevas apresentaram, em geral, comportamento
de não acumuladoras de Zn (Alvarenga et al., 2004; Chopin e Alloway, 2007).
O Cu e o Zn são, em todas as áreas, translocados facilmente para a parte aérea
das estevas (coeficiente de translocação: 1,0-3,5; Quadro_3) enquanto que o As
e o Pb são preferencialmente retidos na raiz. Esta imobilização dos elementos
não-essenciais ao nível da raiz pode sugerir um mecanismo de tolerância e
protecção das partes da planta fotossinteticamente activas. As plantas colhidas
na área mineira do Chança apresentam comportamento diferente consoante os solos
onde se desenvolveram; as plantas colhidas nos solos desenvolvidos sobre
britados de pirite e rocha encaixante translocam para a parte aérea mais As e
menos Cu, Pb e Zn.
CONCLUSÕES
Os solos das áreas mineiras de Brancanes e Chança são semelhantes aos solos das
áreas controlo, não contaminadas de Caldeirão e Pomarão relativamente à
concentração de As, Zn e Pb. Aquelas áreas mineiras poderão ser consideradas
áreas em processo de atenuação natural relativamente ao impacto gerado pela
actividade mineira que cessou há cerca de um século atrás.
A concentração de As e dos elementos metálicos no Cistus ladanifer parece ser
independente da concentração total dos mesmos elementos nos solos das
diferentes áreas. Esta espécie é, no geral, acumuladora de Zn com excepção das
plantas colhidas na área mineira de Caveira. Dos elementos químicos estudados,
apenas o Pb na parte aérea das plantas das áreas controlo e São Domingos excede
as concentrações consideradas fitotóxicas. Porém, as plantas não apresentam
sintomas visíveis de toxicidade. A concentração de As e metais na parte aérea
do C. ladanifer é inferior ao máximo tolerável para os animais domésticos.
O C. ladanifer pode ser usado na fitoestabilização de outras áreas mineiras da
Faixa Piritosa Ibérica, pois os teores totais dos elementos analisados no solo
não influenciam o comportamento das diferentes populações.