Produção de mudas de Duranta repens L. pelo processo de estaquia
INTRODUÇÃO
Pertencente à família Verbenaceae, a Duranta repens L. tem sido muito utilizada
em todo o território brasileiro pela facilidade de adaptação que apresenta
quanto ao clima e solo. Essa espécie é popularmente conhecida como pingo-de-
ouro, sendo uma planta arbustiva lenhosa, de ramagem densa e ornamental,
apresentando folhas de cor amarelo-dourado, principalmente nas folhas jovens,
sendo muito utilizada em bordaduras e renques. A propagação da D. repens tem
sido realizada de forma empírica principalmente pelo processo de estaquia,
embora as informações técnicas na literatura quanto a tipo de estaca e
necessidade de uso de auxinas exógenas ainda sejam muito escassas (Lorenzi,
2001).
No processo produtivo, a formação de mudas constitui-se numa das etapas mais
importantes do cultivo de plantas ornamentais, uma vez que dela depende o
desempenho final das plantas nos canteiros (Oinam et al., 2011). A produção de
mudas de alta qualidade torna-se, portanto, estratégia fundamental para quem
quer tornar mais competitiva a produção vegetal. De acordo com (Minami, 1995),
60% do sucesso de uma cultura residem no plantio de mudas de boa qualidade.
Entre os métodos de propagação vegetativa, a estaquia apresenta maior
simplicidade, rapidez e baixo custo, sendo muito importante na propagação
vegetativa de arbustos ornamentais. Esta importância é devido ao grande número
de mudas obtidas, uso de pequeno número de plantas matrizes, numa área
reduzida, além da multiplicação de genótipos de interesse com grande
uniformidade (Hartmann et al., 2002). No entanto, o potencial de enraizamento,
bem como a qualidade e a quantidade de raízes nas estacas, podem variar com a
espécie, cultivar, condições ambientais (fatores externos) e condições internas
da própria planta (Karami e Salehi, 2010).
De acordo com (Oinam et al., 2011) as auxinas são os reguladores de crescimento
mais utilizados para favorecer o processo de formação de raízes, sendo o ácido
indol-butírico (AIB) a principal auxina sintética utilizada para este fim,
porém, apresenta resultados bastante variáveis conforme a espécie e/ou
cultivar, tipo de estaca, época do ano, concentração, modo de aplicação,
condições ambientais, entre outros fatores.
O presente trabalho teve como objetivo avaliar a produção de mudas de Duranta
repens L. pelo processo de estaquia com o fornecimento de auxina exógena em
diferentes estações do ano nas condições de Bom Jesus, Piauí, Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido com estacas de Duranta repens L. no Setor de
Horticultura do Campus Profa. "Cinobelina Elvas", da Universidade Federal do
Piauí, situado no município de Bom Jesus, Piauí, localizado à 09º04' S,
44º21' W com altitude média de 277 m.
Os dados climáticos referentes a temperatura do ar, umidade relativa do ar e
precipitação foram monitorados e as médias encontram-se na Figura 1,
respectivamente para ambos os períodos de execução dos experimentos.
Figura 1 - Dados climáticos durante o período de produção de mudas de Duranta
repens L. Bom Jesus, Piauí, Brasil
O delineamento experimental adotado foi inteiramente casualizado, com os
tratamentos distribuídos em esquema fatorial 4x3x2, referentes às quatro
concentrações de AIB (0, 1000, 3000 e 5000 mg kg-1), três tipos de estacas
(herbáceas, semilenhosas e lenhosas) e duas épocas do ano (chuvosa e seca).
Foram utilizadas quatro repetições e dez estacas por parcela, perfazendo um
total de 960 estacas.
Foram coletadas estacas de uma planta matriz, na região mediana da copa em
pleno desenvolvimento vegetativo, onde se retirou estacas herbáceas apicais (10
cm de comprimento, com um par de folhas definitivas e gema apical),
semilenhosas (12 cm de comprimento, dois pares de folhas definitivas) e
lenhosas (15 cm de comprimento, três pares de folhas definitivas) com corte em
bisel na parte inferior. A planta matriz foi oriunda de pé franco conduzida sem
tratos culturais específicos quanto a adubação, poda e controle de pragas e
doenças.
A aplicação do AIB (ácido indolil-3-butírico, Merck®, Alemanha), foi realizada
na forma de pó segundo a metodologia descrita por (Hartmann et al., 2002) nas
concentrações de 0, 1000, 3000 e 5000 mg kg-1. Posteriormente as estacas foram
dispostas verticalmente em caixas plásticas de 30 cm x 50 cm x 10 cm (largura x
comprimento x altura) contendo como substrato areia lavada, e posteriormente
mantidas em telado com 50% de luminosidade. Foram desenvolvidos dois
experimentos, um na época chuvosa e outro na época seca, sendo o cultivo
caracterizado pela época chuvosa realizado entre maio e junho de 2009 e, na
época caracterizada como seca, entre junho e julho de 2009.
As avaliações foram realizadas no final de cada época quanto a número de
estacas com raízes, número de estacas vivas, número de brotações por estaca,
massa seca de raiz (g) e de parte aérea (g) e comprimento médio da maior raiz
(cm). Para obtenção das massas secas de raiz e de parte aérea, as plantas foram
separadas nas respectivas partes e secas em estufa à 70 oC com circulação
forçada até atingirem massa constante. De posse desses resultados foram
calculadas as porcentagens de estacas enraizadas e de sobrevivência.
Os dados foram submetidos à análise de variância, pelo teste "F", para
diagnóstico de efeito significativo e os tratamentos foram comparados entre si
pelo teste de Tukey (P<0,01) no software ASSISTAT (Silva, 2008) para avaliação
de diferença significativa. Foram efetuadas análises quantitativas de regressão
simples conforme recomendações de (Ferreira, 2000).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pelos resultados da análise de variância apresentados no Quadro 1, observaram-
se diferenças significativas entre as doses de ácido indol-butírico (IBA)
somente para a percentagem de estacas enraizadas e massa seca da raiz. De
acordo com Hartmann et al. (2002) as auxinas são os reguladores de crescimento
mais utilizados para favorecer o processo de formação de raízes, sendo o ácido
indol-butírico (AIB) a principal auxina sintética utilizada para este fim,
porém, apresenta resultados bastante variáveis conforme a espécie e/ou
cultivar, tipo de estaca, época do ano, concentração, modo de aplicação,
condições ambientais, entre outros fatores.
Quadro_1
- Estacas enraizadas (EE), sobrevivência de estacas (SE), número de brotos por
estaca (NBE), comprimento médio da maior raiz (CMMR), massa seca da parte aérea
(MSPA) e massa seca da raiz (MSR) em estacas de Duranta repens L., em função
das doses (D), época de cultivo (E) e tipos de estacas (TE).
Entre as épocas de cultivo (chuvosa e seca), houve diferenças significativas em
todas as variáveis estudadas. Em trabalho realizado por Almeida et al. (2008)
com estacas de mini-ixora (Ixora coccinea L.), observaram que as estacas
dispostas em câmara úmida apresentaram os melhores resultados devido à retenção
de umidade que é proporcionada neste ambiente.
A percentagem de enraizamento das estacas foi drasticamente influenciada pelas
épocas de cultivo (chuvosa e seca) (Figura 2A) com praticamente 100% de
enraizamento para os três tipos de estacas na época chuvosa. Por outro lado, na
época seca as estacas apicais, dentre os tipos de estacas, obtiveram um melhor
desenvolvimento em comparação com as demais, apresentando 25% de enraizamento.
Esses resultados podem ser atribuídos às condições ambientais, em especial, a
umidade, fato que concorda com os resultados de Guo et al. (2009) também em
estudo com uma potencial espécie ornamental, a Paeonia. De acordo com Hartmann
et al. (2002), a umidade é um dos fatores mais relevantes para o processo de
enraizamento de estacas, pois com o excesso ou insuficiência de umidade,
ocorrerá a morte das estacas. Considerando o tipo de estaca, de uma maneira
geral, as herbáceas apresentam maior capacidade de enraizamento em relação às
lenhosas, sendo um dos fatores devido ao maior grau de lignificação (Fachinello
et al., 2005).
Figura_2 - Enraizamento das estacas (A), sobrevivência das estacas (B),
crescimento médio da maior raiz (C) e massa seca da parte aérea (D), de estacas
de Duranta repens L. em função da época de estaquia e tipo de estaca.
[EA=estaca apical; ESL=estaca semilenhosa; EL=estaca lenhosa).
De uma forma geral houve influência das doses de IBA no enraizamento das
estacas de D. repens (Quadro_1). Nesse sentido, em muitas plantas ornamentais,
o enraizamento é maximizado pela aplicação de auxinas como em Malvaviscus
arboreus (Loss et al., 2009), Allamanda cathartica (Loss et al., 2008) e
Jasminum mesnyi (Althaus et al., 2007). Segundo Pio et al. (2003), vários
fatores podem influenciar o enraizamento das estacas, tanto intrínsecos,
relacionados à própria planta, quanto extrínsecos, ligados às condições
ambientais. Dentre os principais fatores que afetam o enraizamento de estacas
destacam-se as condições fisiológicas da planta (presença de carboidratos,
substância nitrogenadas, aminoácidos, auxinas e compostos fenólicos), e também
as condições climáticas, principalmente a temperatura, pois provoca estresse e
danos aos tecidos.
Para tipo de estaca de D. repens, não ocorreu diferença significativa para
número de brotos por estacas e para o crescimento médio da maior raiz.
A percentagem de sobrevivência das estacas, independentemente do tipo, durante
o período chuvoso foi de quase 100% (Fig. 2B). No período seco houve um menor
percentual de estacas sobreviventes para todos os tipos de estaca, destacando-
se que o máximo de sobrevivência foi de aproximadamente 50% para as estacas
apicais. A maior sobrevivência das estacas apicais (herbáceas) durante o
período seco pode ser atribuída provavelmente a maior capacidade de
enraizamento das estacas apicais, visto que a presença de raízes permite que as
estacas absorvam nutrientes necessários à sua manutenção conforme verificado
também por Bastos et al. (2004). Adicionalmente, Druege et al. (2004) afirmaram
que a sobrevivência de estacas pode ser limitada pela reserva inicial das
estacas, o qual varia entre o tipo da estaca quanto ao seu grau de
lignificação.
Para o comprimento médio da maior raiz (Figura_2C), as médias indicam um
crescimento de acordo com o grau de lignificação, para a época chuvosa, com
distribuição de médias contrárias na época seca. Em relação à massa seca da
parte aérea (Figura_2D), tendência semelhante foi registrada àquela do
comprimento médio da maior raiz, fato atribuído à presença das duas folhas e
gema apical presente antes do plantio, as quais favoreceram o desenvolvimento
do vegetal.
Durante a época chuvosa (Figura 3A) houve um incremento do número de brotos por
estaca até a dose 3000 mg kg-1 de IBA seguido de decréscimo. Esse resultado
evidencia, conforme descrito por Hartmann et al. (2002) que há um limite de uso
de auxinas exógenas acima do qual as plantas não irão responder, fato que pode
ter ocorrido com a D. repens na época chuvosa. Para a mesma variável durante a
época seca houve redução gradativa com o incremento das doses de IBA,
caracterizando um efeito deletério do uso dessa auxina durante o período seco.
Figura 3 - Número de brotos por estaca de Duranta repens L. em função das
épocas de estaquia (A=seca e B=chuvosa) e doses de AIB.
A Figura 4 apresenta a sobrevivência dos diferentes tipos de estacas em relação
às doses de AIB. Na Figura 4A observa-se que para as estacas apicais, ocorre um
aumento na sobrevivência até 3000 mg kg-1 e a partir desta dose, ocorre uma
queda na taxa de sobrevivência. De forma semelhante ocorre para as estacas
semi-lenhosas (Figura 4B), porém o decréscimo ocorre a partir da dose 1000 mg
kg-1, mostrando que as doses de 3000 mg kg-1 e 5000 mg kg-1 inibem o
desenvolvimento das estacas. A sobrevivência das estacas lenhosas (Figura 4C)
mostra um crescimento significativo até a dose de 1000 mg kg-1 e em seguida
ocorreu uma estabilidade na sobrevivência das estacas conforme aumentam as
doses. Este resultado demonstra que as doses de 3000 mg kg-1 e 5000 mg kg-1 não
tiveram resultados positivos em relação a dose de 1000 mg kg-1.Segundo
Alvarenga e Carvalho (1983), o aumento na concentração de auxinas, aplicadas em
estacas, pode propiciar aumento no enraizamento até um ponto máximo, a partir
do qual, qualquer acréscimo torna-se inibitório. Porém, de acordo com Hartmann
et al. (2002), quando concentrações de auxina são utilizadas abaixo do nível
ideal, não há formação de raízes adventícias.
Figura 4 - Sobrevivência de estacas de Duranta repens L. em função do tipo de
estaca (A=estaca apical, B=estaca semilenhosa e C=estaca lenhosa) e doses de
AIB.
CONCLUSÕES
Pelos os resultados obtidos no presente trabalho, pode-se concluir que:
' A dose de 3000 mg kg-1 AIB pode ser indicada para a propagação de D. repens
por estaquia;
' As estacas herbáceas e semilenhosas são as mais indicadas para a produção de
mudas de D. repens;
' A época chuvosa é a mais propícia para a produção de mudas de D. repens com
melhor qualidade pelo processo de estaquia.