Da Classificação de Viena para a Nova Classificação de Montreal: Caracterização
Fenotípica e Evolução Clínica da Doença de Crohn
Da Classificação de Viena para a Nova Classificação de Montreal: Caracterização
Fenotípica e Evolução Clínica da Doença de Crohn
From the Vienna Classification to the New Montreal Classification: Phenotype
Characterization and Clinical Evolution of Crohn´s Disease
Ana Rebelo, Bruno Rosa, Maria João Moreira, José Cotter
Em resposta à Carta ao Editor publicada pelo Sr. Prof. Fernando Magro:
Os autores agradecem a reflexão e os comentários efectuados por F. Magro. De
uma forma clara e sucinta é feito um ponto de situação relativo à classificação
da Doença de Crohn, nomeadamente as importantes modificações à Classificação de
Viena1 com a nova Classificação de Montreal2,3, assim como acerca da
importância e da necessidade de estratificação de risco destes doentes.
O objectivo do nosso trabalho foi analisar o impacto destas modificações
através da análise de uma série de doentes com Doença de Crohnprovenientes da
Consulta de Doença Inflamatória Intestinal do nosso Serviço Hospitalar. Apesar
das limitações inerentes à dimensão da amostra e ao follow-uprelativamente
limitado (entre 6 meses a 10 anos), foi possível constatarmos um dos aspectos
mais importante desta reclassificação, no que respeita ao fenótipo
comportamento (B) - a exclusão de doença perianal (p) do grupo doença
penetrante (B3). Este subgrupo de doentes (p) caracterizam-se por uma história
natural divergente, com menor necessidade de cirurgia e maior uso de
imunossupressores4. Já o novo grupo B3 pela Classificação de Montreal
apresentou uma percentagem significativamente mais elevada de cirurgia
abdominal (75% vs 64% no subgrupo B3 pela Classificação de Viena). Em outras
séries, que não a nossa, conseguiu também constatar-se diferenças relativas ao
fenótipo idade de diagnóstico (A), nomeadamente na separação da idade
pediátrica (A1, pela Classificação de Montreal), que está associada a serótipos
e genótipos próprios, são mais corticodependentes, têm uma maior necessidade de
imunossupressão e uma maior prevalência de manifestações extra-
intestinais3,5,6; e ao fenótipo localização (L), em que o atingimento do tracto
digestivo superior (L4) é acrescido às restantes localizações íleo-cólicas e ao
qual se associa um pior prognóstico, com benefício na introdução mais precoce
de imunomoduladores7.
Assim, embora a etiopatogenia da Doença de Crohnpermaneça não totalmente
esclarecida, a avaliação crescente da história natural a longo prazo da doença
e a tentativa de classificações fenotípicas mais precisas (para que subgrupos
mais homogéneos possam ser explorados) poderão permitir desenvolver abordagens
terapêuticas mais dirigidas/ eficazes8,9.
Contudo, como apontado por F. Portela em Editorial do GE ' Jornal Português de
Gastrenterologia10, o percurso entre Viena e Montreal não permitiu ainda que se
construísse mais do que uma classificação clínica, na qual não foi ainda
possível integrar dados genéticos ou serológicos, de forma a que ao
classificarmos um doente aquando do diagnóstico lhe possamos associar um
percurso clínico provável.