Eficácia da BCG percutânea versus intradérmica na prevenção de tuberculose em
crianças na África do Sul: Estudo randomizado
Coordenador: Renato Sotto-Mayor
Autor: Maria de Lurdes Carvalho
Eficácia da BCG percutânea versusintradérmica na prevenção de tuberculose em
crianças na África do Sul: Estudo randomizado*
Efficacy of percutaneous versus intradermal BCG in the prevention of
tuberculosis in South Africa infants: Randomised trial*
A Hawkridge
M Hatherill
F Little
MA Goetz
L Barker
H Mahomed
J Sadoff
W Hanekom
L Gaiter
The South African BCG trial team
Equivalência das duas vias e administração na incidência cumulativa
das três apresentações de casos de tuberculose, conforme definidos. O
número acumulado de recém-nascidos com BCG e tuberculose (três formas
definidas) nos primeiros 2 anos de vida, diagnosticada em
internamento hospital, foi de 362 nos casos com vacinação
intradérmica e de 376 com vacinação percutânea.
Ocorrência de alguns casos de tuberculose disseminada, sem
diferença estatística entre a via de administração. A meningite
tuberculosa ocorreu em três crianças com vacinação intradérmica e em
uma com vacinação percutânea. A tuberculose miliar ocorreu apenas em
uma criança com vacinação percutânea, assim como um caso de
tuberculose abdominal e outro vertebral.
Quanto aos resultados secundários:
O total de 2180 crianças foi internado neste intervalo de tempo,
com icidência cumulativa semelhante entre os 2 grupos;
A mortalidade teve uma incidência cumulativa de 1,59%, 102 crianças
no grupo com vacinação intradérmica e 84 percutâea. Nenhum caso se
relacionou com a intervenção, nem a tuberculose foi considerada causa
directa de morte;
Reacções adversas significativas foram encontradas em 21 casos, sem
diferença significativa entre os 2 grupos. Destas, 16 casos de
quelóides (10 no grupo de vacinação intradérmica e 6 na percutânea) e
5 casos de linfadenite axilar supurativa (2 no grupo de vacinação
intradérmica e 3 na percutânea). Num caso com imunodeficiência
primária vacinado por via percutânea, surgiu BCG disseminada.
Os autores concluem que foi encontrada equivalência entre a vacinação BCG
intradérmica e percutânea relativamente à incidência de tuberculose num grupo
de crianças vacinadas à nascença e seguidas durante 2 anos, sem diferença de
segurança entre ambas. Sugerem que a OMS reveja a política preferencial de
vacinação intradérmica, permitindo os programas nacionais de vacinação
escolherem a via percutânea se a considerarem mais prática.
Comentário
A eficácia da vacinação BCG na protecção contra a tuberculose pulmonar a nível
mundial varia entre 0 e 80%, segundo os diferentes estudos em diferentes
populações. Comprovadamente, a mesma vacinação BCG reduz a incidência de formas
graves de tuberculose na criança, como a miliar ou a meningite tuberculosa, em
pelo menos 70%.
Assim, a eficácia da vacina pode ser controversa no primeiro caso, mas é
inquestionável no segundo.
A OMS estima que o número de casos de meningite tuberculosa prevenidos pela
vacina seja de 1 por cada 12 500 a 16 667 crianças vacinadas com menos de 5
anos. Este cálculo é baseado em dois factos constatados, primeiro a incidência
de meningite tuberculosa em crianças com menos de 5 anos é de 1% do risco anual
de infecção e, segundo, a prevenção conseguida pela vacina contra esta forma de
tuberculose é consistente entre os estudos.
A via de administração da vacina foi inicialmente a oral, recomendada por
Calmette em França nos anos 20 do século passado. Cedo se sobrepôs a via
intradérmica pelo uso de muito menor quantidade de produto e maior eficácia na
conversão tuberculínica.
Alguns países, como o Japão e a África do Sul, adoptaram a via percutânea, com
vantagem devido a maior simplicidade da técnica, embora menos consistente na
quantidade de produto administrado e na imunogenicidade obtida.
Este estudo, comparando os dois métodos, concluiu pela semelhante eficácia e
segurança, o que pode ser um importante factor a ponderar na escolha da forma
de vacinação em países de elevada prevalência e baixos recursos.
Provavelmente, o estudo não levanta questões a aplicar em Portugal, mas tem
outros méritos que mereceram a sua escolha, ao relembrar a elevada mortalidade
infantil em África, a existência, não negligenciável, de disseminação da
tuberculose primária, mesmo em casos com vacinação BCG, e a dificuldade de
diagnóstico de tuberculose na criança, onde a imagiologia e a micobacteriologia
são ajudas menos consistentes do que nas formas do adulto.
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|Mensagem |
| A vacinação BCG é eficaz na redução da morbilidade e da mortalidade por |
|tuberculose em crianças; |
| A OMS e a maioria dos países recomendam a administração intradérmica da |
|vacina; |
| Este estudo propôs-se comparar a eficácia e a segurança das duas formas de|
|administração, dado nenhum estudo ter comprovado com rigor até à data a |
|superioridade de uma técnica; |
| Neste estudo, as duas técnicas foram equivalentes na prevenção de tubercul|se
|e_na_segurança_da_vacina.______________________________________________________|