Uso dos equipamentos de proteção individual em unidade de terapia intensiva
Introdução
Os pacientes críticos hospitalizados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) são
mais vulneráveis à infecção hospitalar, em comparação às demais unidades. O
risco de infecção é diretamente proporcional à gravidade da doença, às
condições nutricionais, à natureza dos procedimentos diagnósticos e/ou
terapêuticos, bem como, ao tempo de internação, entre outros aspectos ( Vincent
et al., 2009; Silva e Ravanello, 2009). É destacado que na UTI os pacientes têm
de cinco a 10 vezes mais probabilidades de contrair uma infecção hospitalar e
que esta pode representar cerca de 20% do total de infecções de um hospital
( Vincent, 2003).
Vale a pena ressaltar que os pacientes críticos são comumente agredidos por
múltiplos procedimentos invasivos e têm os mecanismos imunológicos de defesa
comprometidos, tanto pelo uso de medicamentos imunossupressores, quanto por
terapias antimicrobianas, sendo mais vulneráveis a infeções interferindo em seu
prognóstico (Barsanti e Woeltje, 2009). Além desse fator, a realização de
procedimentos inadequados com falhas de técnica asséptica também contribui para
a exposição desses pacientes a infecção (Martins, Franco e Duarte, 2007).
Dentro desse contexto, os hospitais devem adotar medidas habituais de prevenção
e controle de infecções, através das precauções padrão (Aguiar, Lima e Santos,
2008). As mesmas podem ser definidas como sendo um conjunto de medidas
empregadas no atendimento a todos os pacientes hospitalizados, independente de
seu estado infectado ou não, e na manipulação de equipamentos e artigos
contaminados ou sob suspeita de contaminação, almejando reduzir a transmissão
de agentes patogênicos. Nesse grupo estão incluídos os equipamentos de proteção
individual (máscaras, óculos, protetor facial, luvas, avental) e a higienização
das mãos (HM) (Couto et al., 2009).
De destacar que devido à abrangência do termo higienização das mãos, esse
procedimento engloba a higienização simples, a higienização antissética, a
fricção antissética e a antissepsia cirúrgica das mãos. As indicações para a
utilização de cada uma dessas técnicas são variáveis no âmbito hospitalar,
exigindo do profissional de saúde uma análise criteriosa da situação para
adotar a técnica mais adequada.
Durante a assistência ao paciente, os trabalhadores de enfermagem podem
contribuir para redução dos índices de infecção hospitalar através da adoção de
tais precauções, porém temos observado na prática o uso inadequado ou o desuso
dos equipamentos de proteção individual (EPIs) por esses profissionais, além da
não lavagem das mãos após a realização dos procedimentos. Isso acontece porque,
na prática, muitas vezes os trabalhadores de enfermagem executam o cuidar
dentro da perspectiva do fazer e, consequentemente, não adotam as medidas de
biossegurança necessárias à sua proteção durante a assistência que realizam, o
que pode ocasionar agravos à sua saúde e à do paciente sob seus cuidados. De
referir que a utilização correta e frequente de EPIs pelos profissionais,
associada à higienização das mãos e ao seguimento de técnicas assépticas nos
procedimentos invasivos, desempenha um papel importante na redução do risco de
infecção, bem como, para sua própria proteção.
Então, diante da vulnerabilidade dos pacientes internados na UTI, onde há um
maior número de pacientes graves, submetidos a diversos procedimentos invasivos
e, portanto, um maior risco de infecções, faz-se relevante a elaboração de um
estudo que avalie a utilização de EPIs pelos trabalhadores de enfermagem. A
partir de situações presenciadas por nós durante o exercício profissional,
passamos a refletir sobre as razões dos trabalhadores de enfermagem não
valorizarem a implementação do uso dos EPIs como medida de biossegurança,
durante a sua prática assistencial. Assim, questionamos: O que leva os
trabalhadores de enfermagem a não usarem os EPIs?
É objetivo deste estudo analisar a utilização de EPIs pelos trabalhadores de
enfermagem nas unidades de terapia intensiva em uma instituição de emergência,
com o intuito de ampliar e/ou preencher lacunas no conhecimento daqueles que
prestam assistência de enfermagem em UTI, acerca da importância do uso de EPIs
como medida de biossegurança no respectivo âmbito de atuação profissional.
No que se refere à assistência, a expectativa é a de que o conhecimento mais
aprofundado sobre o assunto permita aos profissionais de enfermagem identificar
e corrigir as situações de risco às quais estão expostos no ambiente
hospitalar, em especial na UTI. E que, assim, possam adotar e implementar
medidas que tornem mais segura a prática cotidiana de trabalho não só para
eles, mas também para os pacientes sob seus cuidados.
Ademais, poderá favorecer a realização de novas pesquisas sobre o tema,
considerando a diversidade de aspetos a respeito que ainda não foram enfocados
e que podem vir a ser abordados ou aprofundados, de acordo com o interesse do
pesquisador nas questões de biossegurança do trabalho.
Metodologia
Trata-se de um estudo exploratório, descritivo e transversal sobre a utilização
dos EPIs pelos trabalhadores de enfermagem. O estudo de natureza descritiva
permite detalhar acontecimentos, situações e depoimentos, enriquecendo a
análise das informações e propiciando ao pesquisador maior conhecimento sobre
um determinado problema. Estudos exploratórios não elaboram hipóteses a serem
testadas no trabalho, restringindo-se a definir objetivos e buscar maiores
informações sobre determinado assunto (Polit, Beck e Hungler, 2004). O estudo
foi realizado nas quatro unidades de terapia intensiva de um hospital de
emergência, de abrangência estadual e regional, localizado no município de
Fortaleza/Ceará, no Brasil. A coleta de dados ocorreu nos meses de setembro e
outubro de 2008.
A população acessível deste estudo foi composta de trabalhadores que fazem
parte da equipe de enfermagem da UTI. O serviço de enfermagem contava com 72
trabalhadores nas categorias: enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem;
que estavam distribuídos nos turnos matutino, vespertino e noturno, e
trabalhavam no esquema de plantão. A amostra do estudo foi composta por 45
trabalhadores de enfermagem, nas categorias de técnico e/ou auxiliar de
enfermagem, atuantes havia mais de um ano nas referidas unidades. Foram
excluídos os trabalhadores que, durante o período proposto para coleta de
dados, estavam de licença médica ou férias.
Os dados foram coletados por meio de entrevista e observação, e registrados
manualmente, via utilização de um roteiro estruturado. A primeira parte
contemplou a caracterização dos participantes segundo o sexo, faixa etária,
categoria profissional, turno de trabalho e o uso dos EPIs. Já a segunda parte
foi destinada ao registro dos procedimentos realizados por cada membro da
equipe de enfermagem durante a prestação do cuidado, tais como higienização das
mãos, preparo das medicações, aspiração endotraqueal, punção venosa, banho no
leito e higiene íntima, aferição dos sinais vitais, administração de dieta e
esvaziamento do saco coletor de urina, e a utilização ou não dos EPIs.
O instrumento foi aplicado por turno, a cada trabalhador de enfermagem, assim
como as observações. Os participantes foram informados do propósito do estudo e
do caráter voluntário da participação, além de receberem explicações para o
preenchimento do instrumento. Também receberam e assinaram um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
Antes da coleta de dados o projeto foi submetido à apreciação do Comitê de
Ética em Pesquisa da instituição, visando a preservação dos aspectos éticos
relacionados à pesquisa envolvendo seres humanos. Os dados foram analisados com
base nas experiências dos entrevistados face ao uso dos EPIs e na literatura
selecionada, sendo representados em quadros, tabelas e categorias. As
categorias resultantes foram: Uso e manuseio dos EPIs pelos técnicos e
auxiliares de enfermagem; Dificuldades percebidas para o uso de EPIs;
Higienização das mãos; Recursos e incentivos à prevenção de infecção
hospitalar.
Resultados
Inicialmente estão apresentados os resultados relativos à caracterização da
amostra e, em seguida, a análise quantiqualitativa das variáveis significativas
quanto ao uso dos EPIs.
Foram entrevistados 45 trabalhadores que compunham a equipe de enfermagem da
UTI, distribuídos entre 25 auxiliares e 18 técnicos de enfermagem. Em sua
totalidade eram do sexo feminino, com idades de 20 a 51 anos. Em relação à
jornada de trabalho, 4 trabalhavam no período diurno e 6 no vespertino. Havia
também os que trabalhavam em dois turnos, sendo 1 no período da manhã e tarde,
22 na tarde e noite, 7 na manhã e noite. A destacar que 5 ainda trabalhavam sem
turno fixo.
O uso e manuseio dos EPIs pelos técnicos e auxiliares de enfermagem
De acordo com a Tabela 1, observamos o predomínio do uso do gorro, da máscara e
das luvas de procedimento (28,8%) pela equipe de técnicos e auxiliares, durante
a execução de atividades práticas não invasivas. Já nas atividades invasivas,
observamos o maior uso do gorro, máscara, avental e luvas estéreis (6,6%).
Ressalta-se que durante a aspiração endotraqueal, não foram utilizados todos os
EPIs necessários. Neste caso, nos referimos ao protetor ocular que não era
disponibilizado pelo hospital.
TABELA_1
- Distribuição dos técnicos e auxiliares de enfermagem, de acordo com a
utilização dos EPIs durante procedimentos invasivos e não invasivos, em Unidade
de Terapia Intensiva. Fortaleza/Ceará, 2008
Dificuldades percebidas para o uso dos EPIs
Ao serem questionadas acerca das dificuldades encontradas durante o uso dos
EPIs, quinze entrevistadas afirmaram deparar-se diariamente com situações que
inviabilizavam a utilização dos mesmos; catorze afirmaram que às vezes, dez
raramente e seis que nunca enfrentavam essas situações, como pode ser
visualizado a seguir: [...] sou alérgica a máscara e o gorro dói por trás das
orelhas (A11). [...] quando estou gripada, não consigo ficar muito tempo com
a máscara (T7). [...] raramente consigo puncionar acesso venoso com luvas
(A30). [...] mesmo sabendo que é para a minha proteção, às vezes me dirijo ao
cliente sem a devida precaução (T3). [...] não são oferecidos óculos e nem
propés descartáveis (A16).
TABELA 2 ' Dificuldades indicadas pelos técnicos e auxiliares de enfermagem
para o uso dos EPIs, segundo rotina de utilização. Fortaleza/Ceará, 2008
Higienização das mãos
Ao serem questionados sobre a frequência da higienização das mãos (HM), 78% dos
respondentes afirmaram que realizavam a adequada antissepsia das mãos antes de
todos os procedimentos a serem realizados; e 22% apenas às vezes, sob a
alegação de falta de tempo. A HM é considerada a ação isolada mais importante
no controle de infecções em serviços de saúde. Quando se lava as mãos
utilizando a técnica correta, eliminam-se bactérias da microbiota transitória e
parte da residente, removendo microrganismos, células mortas, sujidades e
oleosidade da pele. Porém, a baixa adesão dos profissionais de saúde a essa
prática é, ainda, uma realidade que vem sendo constatada ao longo dos anos e
tem sido objeto de estudo em diversas partes do mundo.
TABELA 3 ' Distribuição da equipe de técnicos e auxiliares de enfermagem
segundo a indicação da lavagem das mãos no desenvolvimento das atividades
diárias. Fortaleza/ Ceará, 2008
Recursos e incentivos à prevenção de infecção hospitalar, segundo o suporte da
instituição
De acordo com a Tabela_1, 82% das técnicas e auxiliares de enfermagem afirmaram
que o hospital disponibilizava os materiais necessários a uma assistência de
qualidade. Das que afirmaram o oposto, 18% referiram-se aos protetores
oculares, que não eram disponibilizados pelo hospital, e aos propés, que não
eram mais fornecidos aos profissionais da unidade por orientação da Comissão de
Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) da instituição.
Ao buscarmos a opinião dos auxiliares e técnicos de enfermagem, confirmamos que
51% destes reconheciam a inadequação e desfavorecimento das instalações do
hospital para o controle de infecções, como pode ser observado nos relatos que
se seguem: [...] não existe isolamento para paciente e o fluxo de pessoas que
não são do setor é muito grande [...] (T10). [...] pias não adequadas para a
lavagem das mãos [...] (A41). [...] o leito de isolamento ainda está sendo
providenciado [...] (T7).
TABELA 4 ' Proporção de recursos e incentivos à prevenção de infecção
hospitalar, segundo o suporte da instituição. Fortaleza/Ceará, 2008
Discussão
As máscaras, gorros e óculos de proteção devem ser usados na realização de
procedimentos em que haja possibilidade de respingo de sangue ou outros fluidos
corpóreos nas mucosas da boca, nariz e dos olhos (Scheidt, Rosa e Lima, 2006).
A não observação de tais medidas representa risco tanto para o profissional que
executa a técnica, quanto para quem recebe o cuidado (Ximenes Neto et al.,
2007).
Chamou-nos a atenção o fato de os profissionais, por diversas vezes, utilizarem
EPIs mal posicionados, expondo não apenas a si, mas também os pacientes sob
seus cuidados. Estudo realizado em uma UTI apontou que 44% dos trabalhadores de
enfermagem não utilizavam os EPIs no momento em que se acidentaram com material
biológico, evidenciando a importância do uso desses equipamentos durante as
situações práticas (Bonni et al., 2009).
A adesão aos EPIs é uma importante medida de proteção aos profissionais de
saúde, embora a não obediência a certos critérios, tais como uso adequado e
frequência de troca, possam expor os profissionais a acidentes e contaminações
(Souza et al., 2008). Estudo realizado com profissionais que atuam no centro
cirúrgico de uma instituição americana apontou que 51,4% dos participantes
sofreram cortes durante o desempenho de suas funções, 62,1% foram expostos a
fluidos biológicos e 39,6% foram expostos a ambos. O mais significativo é que,
nessas ocorrências, o uso dos EPIs foi negligenciado por 14,1% dos que sofreram
cortes e por 5% dos que sofreram exposição a fluidos de biológicos (Gailiene e
Cenekiene, 2009). Apesar da maior parcela dos respondentes possuírem
conhecimento acerca da utilização correta dos EPIs, a prática diária mostrou o
contrário. Mesmo após ser orientada pela enfermeira do plantão quanto ao uso
correto dos EPIs em determinadas práticas, a equipe ainda conservou hábitos
inadequados, tais como dirigir-se aos leitos contaminados sem os equipamentos
necessários, entrando em contato direto com o paciente, além de não higienizar
as mãos antes de seguir ao próximo leito.
Muitos dos depoimentos revelam que a não utilização dos EPIs durante as
atividades práticas pela equipe avaliada estava relacionada mais à comodidade
dos profissionais, do que a problemas de ordem logística. Não que este último
motivo seja menos relevante que o primeiro, mas a postura inadequada das
técnicas e auxiliares de enfermagem, em não respeitar determinadas normas e
orientações por conveniência, é um aspecto que merece ser trabalhado pelas
instituições empregadoras, bem como, as formadoras.
Observações cotidianas no ambiente de trabalho permitiram constatar que ainda
existem, entre os técnicos e auxiliares de enfermagem, muitas dificuldades em
aceitar novas práticas de controle de infecção hospitalar, apesar de já
existirem protocolos estabelecidos com essas práticas em cada uma dessas
instituições (Kunzle et al., 2006). Destaca-se nesses documentos a recomendação
para a utilização de solução antisséptica de base alcoólica para higienização
das mãos sempre que estas não estiverem visivelmente sujas, além de outros
cuidados, tais como a utilização de EPIs durante os diversos procedimentos.
A adesão ao uso dos EPIs está diretamente relacionada à percepção que os
profissionais têm acerca dos riscos aos quais estão expostos e da
susceptibilidade a esses riscos (Lio et al., 2010). Desse modo, medidas de
cunho educativo podem ser uma alternativa para melhoria do serviço prestado por
esses sujeitos, no que se refere à adesão às precauções padrão. Muitas vezes a
formação dispensada ao profissional técnico e auxiliar de enfermagem não
contempla conteúdos relativos à problemática da infecção hospitalar, com ênfase
nas medidas de prevenção e controle.
Em relação ao acesso e disponibilidade dos materiais, observa-se através dos
relatos que a instituição não oferecia todos os EPIs necessários ao exercício
das atividades assistenciais da equipe, contradizendo o que é preconizado nos
protocolos de prevenção de transmissão de agentes infecciosos nos serviços de
saúde. Esses achados vêm ao encontro dos dados de outros estudos envolvendo a
utilização de EPIs pela equipe de enfermagem, onde, além das questões de ordem
comportamental e logística, também são apontados como aspectos dificultadores
da adesão aos EPIs a falta de tempo, situações de emergência, sobrecarga de
trabalho, desconhecimento acerca do uso, entre outros (Bonni et al., 2009;
Efstathiou et al., 2011; Lio et al., 2010).
A literatura recomenda que, para a adequada HM, o profissional deve estar
desprovido de qualquer tipo de adorno (anéis, pulseiras e relógios), para
iniciar o procedimento. As mãos devem ser friccionadas de forma vigorosa,
utilizando-se água e sabão abundantes, durante o período de 40 a 60 segundos,
dando especial atenção ao dorso, área interdigital, polegares, falange, unhas e
punho. Vale ressaltar que a eficácia desse procedimento está diretamente
relacionada ao uso do agente tópico com eficácia antimicrobiana, à técnica
executada, ao tempo utilizado e à continuidade dessa ação (Brasil, 2007). Tendo
por base tais parâmetros, observamos que, na prática, 23 das 45 auxiliares e
técnicas de enfermagem entrevistadas gastavam em média de 4 a 14 segundos
realizando a lavagem das mãos; as outras 21 gastavam em média de 15 a 30
segundos; e uma gastou aproximadamente 50 segundos higienizando as mãos. Pouco
mais da metade (53%) das respondentes realizaram a lavagem das mãos com fricção
vigorosa e quantidade ideal de sabão.
Observamos ainda situações onde, além da higienização ser realizada em um
período curto, de 4 a 14 segundos, não houve o uso de sabão. Percebemos também
situações esporádicas onde, ao término de determinados procedimentos, como
banho no leito, higienização e aspiração endotraqueal, não se realizou a
higienização das mãos, prosseguindo para o leito seguinte. Estudos apresentam
diferentes motivos para a baixa adesão à higienização das mãos, como falta de
motivação, ausência de pias próximas ao paciente e de recursos adequados,
reações cutâneas nas mãos, falta de tempo, irresponsabilidade, falta de
consciência sobre a importância das mãos na transmissão de microrganismos
(Neves et al., 2006). Como medida de controle de infecção hospitalar, a HM é
recomendada ao se iniciar o turno de trabalho e após o seu término, entre um
procedimento e outro, antes e após o contato com o paciente, quando as mãos
estiverem visivelmente sujas ou contaminadas por material biológico, antes do
preparo e manipulação de medicamentos, antes de calçar as luvas e após retirá-
las, entre procedimentos que envolvam dispositivos invasivos ou em ocasiões
onde exista risco para disseminação de patógenos aos pacientes e ao ambiente
(Brasil, 2007; Siegel et al., 2007).
A instituição de saúde deve ser um ambiente seguro para o desempenho adequado
das atividades laborais da equipe de enfermagem. Durante o período de
observação, foi possível identificarmos algumas falhas na estrutura física da
unidade que favoreciam a disseminação de contaminantes, tais como a localização
do expurgo que era utilizando pelas três UTIs. Como não existia uma orientação
diferenciada para descarte de material e o retorno às UTIs, o corredor
principal acabava favorecendo a propagação de possíveis contaminantes entre as
dependências. Chamou a atenção o quantitativo insuficiente de lavatórios para a
correta HM de profissionais e visitantes do setor. Eles devem ser de fácil
localização, além de possuírem dispensadores de sabão e porta papel-toalha ou
secador elétrico para a correta execução da HM. Outro ponto que deve ser
observado diz respeito à separação entre os lavatórios destinados aos
profissionais e aos visitantes. É importante fazer essa segregação, a fim de se
evitar a contaminação do ambiente de trabalho, além de contribuir para maior
organização do setor.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), por meio da Aliança Mundial para a
Segurança do Paciente, tem dedicado esforços na elaboração de diretrizes e
estratégias de implantação de medidas visando à adesão de profissionais de
saúde às práticas de HM ( World Health Organization, 2006). Dentre essas
medidas, merecem ser destacadas as de cunho educativo, a exemplo da educação em
serviço, na busca por melhores práticas entre os profissionais.
Quando questionados em relação à existência de programas de incentivo à
utilização de EPIs promovidos pela instituição empregadora, 78% dos auxiliares
e técnicos de enfermagem entrevistados responderam que o hospital cumpria esse
papel; já 22% afirmaram não reconhecer esse estímulo. Em relação à existência
de programas educacionais para o combate e controle das infeções hospitalares,
71% dos entrevistados afirmaram saber da existência de tais programas e 29%
relataram não serem informados de tais programas.
Através do relato verbal dos profissionais, percebemos que esta menor
porcentagem de auxiliares e técnicos de enfermagem que afirmaram desconhecer a
existência de cursos e palestras estava relacionada à divulgação ineficaz dos
mesmos. Muitos profissionais chegavam ao setor de educação continuada depois do
prazo estabelecido para o encerramento ou quando o curso já havia sido
iniciado. Em contrapartida, a instituição alegava fazer a divulgação de
momentos educativos voltados a diversas temáticas, com especial destaque para a
problemática da infecção hospitalar, através de panfletos afixados nos murais
de avisos espalhados pelas unidades.
A educação é uma forma viável de implementar estratégias de prevenção e
controle de infecções no contexto assistencial, pois favorece a adoção de novas
práticas a partir das informações dispensadas (Souza et al., 2008). Desse modo,
fica evidente a necessidade de se reavaliar a forma de divulgação adotada pela
instituição empregadora, a fim de ampliar o número de profissionais habilitados
a lidar com as situações diversas que compõem o cuidar, no contexto das UTIs.
Conclusão
Conhecer não significa ter atitudes corretas. Partindo desse pressuposto, tem-
se discutido bastante a lacuna existente entre o conhecimento e a atitude.
Embora muitas vezes o profissional de saúde relate dispor de conteúdos
teóricos, ele ainda apresenta atitudes incompatíveis com o mencionado. Isso é
reflexo de falhas no processo de formação dos profissionais de nível técnico,
que se agravam com as limitações de ordem estrutural e logística das
instituições de saúde às quais pertencem.
A adesão às precauções padrão pela equipe avaliada ainda não atendia ao que é
preconizado como ideal. Muitos profissionais ainda conservam certos hábitos
inadequados, comprometendo a qualidade da atenção dispensada, além de aumentar
as chances de acidentes ocupacionais. Em se tratando do uso dos EPIs, a baixa
adesão sofreu influência de aspectos comportamentais, tais como o desconforto
durante o uso, a dificuldade para realizar determinados procedimentos, dentre
outros.
Em vista desses resultados, é imprescindível a elaboração de estratégias de
cunho educativo que motivem os profissionais a desenvolver posturas mais
eficazes no desenvolvimento de suas atividades laborais. Investimentos dessa
natureza são fundamentais ao exercício consciente e seguro da profissão,
contribuindo para a redução dos índices de infecção hospitalar e adoção de
práticas mais seguras. A HM das mãos, neste estudo, demonstra uma realidade que
merece ser melhor trabalhada nas instituições de saúde. A desinformação do
profissional em relação à higienização adequada reduz significativamente a
eficácia e a adesão a este método tão importante na prevenção e controle das
infecções hospitalares. Evidenciou-se que as dificuldades percebidas pelas
técnicas e auxiliares de enfermagem estavam relacionadas à qualidade e
disponibilidade de equipamentos (lavatórios, dispensadores de sabão, porta
papel-tolha) e de insumos (água, sabão, papel-toalha). Desse modo, torna-se
necessário que as instituições ofereçam a estrutura adequada ao desempenho das
atividades assistenciais.
Os resultados deste estudo oferecem bases para uma reflexão quanto à
importância das precauções padrão no contexto do cuidado em UTI, além da
identificação de facilidades e dificuldades encontradas pela equipe de técnicos
e auxiliares de enfermagem na utilização das mesmas e sobre o reconhecimento
das condições oferecidas pelas instituições empregadoras para o desenvolvimento
das atividades assistenciais.