Abertura
Abertura
Nos últimos tempos a política portuguesa sobre drogas e toxicodependência foi
alvo de uma atenção especial por parte de vários especialistas e órgãos de
comunicação de vários países, que atribuíam à lei portuguesa que
descriminalizou o consumo de drogas a boa evolução da situação portuguesa.
Não temos qualquer dúvida em considerar que as alterações legais referidas, e
que podem ainda ser aperfeiçoadas, constituíram um avanço na política
portuguesa, tornando-a mais adequada e justa. E que hoje é possível verificar
que nenhuma das previsões alarmistas que alguns políticos então fizeram se
concretizou.
No entanto, consideramos que o sucesso da política portuguesa não decorre
dessas alterações legais mas sim da extensa rede de intervenção que foi sendo
organizada em Portugal desde a criação do SPTT, com o Projecto Vida e mais
tarde o IPDT entretanto fundidos no actual IDT.
Esta rede, que sempre articulou recursos públicos com privados, intervindo na
prevenção, na dissuasão precoce, no tratamento (com os seus vários modelos), na
reinserção social e na redução de riscos (com medidas nem sempre bem
compreendidas) e cujos fundamentos estão expressos na Estratégia Nacional de
Luta contra a droga, aprovada em Conselho de Ministros (Resolução nº 46/99), é
uma originalidade portuguesa: a ela se deve atribuir a boa evolução da situação
em Portugal.
Infelizmente esta rede já teve mais recursos do que tem hoje, nomeadamente na
área dos meios terapêuticos. É particularmente notória a dificuldade em
continuar a assegurar a componente médica e psiquiátrica em estru-turas de
tratamento.
Assim vemos com particular alarme que as medidas de contenção orçamental possam
pôr em causa as estrutu-ras de proximidade, que tão necessárias são hoje na
intervenção em relação à SIDA, Hepatites, tuberculose e que têm constituído o
caminho possível para que os toxicodependentes mais marginalizados possam
encontrar uma saída digna para a sua vida e abandonar trajectórias de
insucesso, de delinquência ou até de actividade criminal.
E há economias que não são reais. Será que preferimos gastar o nosso dinheiro
na política de proximidade que temos desenvolvido ou em alternativa resignarmo-
nos ao recrudescimento do problema e suportar o provável aumento da
criminalidade, com os consequentes gastos na segurança e sistema prisional?
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