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EuPTCVHe1645-05232009000100004

EuPTCVHe1645-05232009000100004

variedadeEu
ano2009
fonteScielo

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Impacto da prática regular de exercício físico no equilíbrio, mobilidade funcional e risco de queda em idosos institucionalizados

INTRODUÇÃO O envelhecimento é acompanhado pelo marcado declínio das capacidades funcionais. Sendo um processo complexo, o envelhecimento resulta da interacção de diversos factores (p.e. factores genéticos, estilo de vida, doenças crónicas) determinando o declínio da capacidade funcional. No entanto, a manutenção de um estilo de vida activo através da realização regular de exercício físico (p.e. exercício aeróbio e/ou exercício de força) contribui para um envelhecimento mais saudável, que se caracteriza entre outros aspectos por níveis de aptidão que se relacionam com menor risco de morbilidade e mortalidade(1).

O declínio da capacidade funcional resulta, em parte, de alterações neuromusculares tais como a desnervação muscular, a atrofia e perda selectiva de fibras musculares (especialmente das fibras tipo II) com redução da massa muscular total e a diminuição da força e da potência muscular. Estas alterações repercutem-se negativamente no equilíbrio e na mobilidade funcional dos sujeitos idosos pela redução da eficácia dos mecanismos de ajustamento postural e do controlo motor(2), contribuindo para o aumento do risco de quedas e fracturas na população idosa(3). Risco esse que é particularmente elevado em idosos institucionalizados, uma vez que, entre outros factores, os níveis de aptidão funcional são inferiores aos de idosos não institucionalizados o que poderá explicar parcialmente a maior prevalência de quedas com fractura do colo do fémur que se tem observado neste segmento populacional(4, 5).

O padrão de declínio da força muscular não é uniforme em todas as regiões corporais e grupos musculares. A força dos membros inferiores diminui mais rapidamente com a idade do que a dos membros superiores. À diminuição da força dos membros inferiores associa-se menor capacidade de realização de certas acções e actividades da vida diária, tais como: levantar de uma cadeira, apanhar um objecto do chão, caminhar e subir escadas(1). Contudo, vários autores sugerem que independentemente do sexo, a participação de idosos em programas de exercício físico promove aumento da massa muscular, da força muscular(1, 2, 6) e do equilíbrio(1), reduzindo o risco de quedas(1, 7, 8) e consequentemente de fracturas(1).

O aumento da população idosa e os elevados níveis de inactividade física que em diversos países se registam nesta população, níveis esses que são mais acentuados nos idosos institucionalizados(9), fazem prever o aumento da prevalência e incidência de quedas nesta faixa populacional. Deste modo, o exercício físico poderá desempenhar um papel chave na manutenção do equilíbrio, da mobilidade funcional e consequentemente na prevenção de quedas em idosos.

Tendo em consideração o anteriormente exposto constituiu-se como objectivo deste estudo a comparação do equilíbrio, da mobilidade funcional e da proporção de sujeitos em categorias de risco de queda em função do desempenho nos testes de aptidão funcional, entre idosos institucionalizados treinados e não treinados. Adicionalmente, procurou-se determinar o risco de queda (odds ratio) em função de os idosos serem ou não praticantes de exercício.

MATERIAL E MÉTODOS Recrutamento e selecção dos participantes A amostra foi recrutada em Lares de Idade, da área metropolitana da cidade do Porto, que ofereciam aos seus residentes programas de exercício físico. Os responsáveis dos Lares de Idade foram contactados telefonicamente e convidados a aderirem ao estudo. Posteriormente, após obtida adesão dos responsáveis dos lares, foi efectuado convite aos residentes para participarem no estudo. Todos os que concordaram em participar no estudo foram entrevistados para recolher a história médica e determinar a sua elegibilidade para participar no estudo. Para ser incluído no estudo os sujeitos deveriam ser institucionalizados, com idade igual ou superior a 65 anos e não ter nenhum dos seguintes critérios de exclusão: lesões osteo-articulares ou músculo-tendinosas recentes envolvendo os membros inferiores; patologia vestibular e/ou do sistema nervoso central; hipotensão postural; patologia impeditiva da prática de exercício físico; e, estar a tomar medicação com influência no equilíbrio.

Adicionalmente, a todos os voluntários foi aplicado um questionário para a determinação daqueles que praticavam regularmente exercício físico estruturado nos 12 meses anteriores ao inicio do estudo (sessões de 60 minutos pelo menos 3 vezes por semana) e daqueles que não praticavam. As informações referentes à organização e estrutura das sessões de exercício foram obtidas junto dos responsáveis pela sua supervisão, recolhendo-se informação respeitante ao tipo de exercício, frequência semanal e duração das sessões. De acordo com as informações prestadas, as sessões dividiam-se em 3 fases, uma fase inicial de aquecimento, uma fase principal e uma fase final de retorno à calma. A parte principal das sessões era fundamentalmente composta por exercícios dirigidos para o desenvolvimento da aptidão cardiorespiratória, do equilíbrio, da coordenação, da força muscular e da flexibilidade.

Amostra A amostra final foi constituída por 144 idosos institucionalizados, com idade compreendida entre 65 e 96 anos. Os sujeitos foram divididos em dois grupos: exercício (n=65, 51 sujeitos do sexo feminino; idade: 76.7 ± 8.1 anos; peso: 73.9 ± 15.2 kg; altura: 159.6 ± 7.8 cm) e sem exercício (n=79, 51 sujeitos do sexo feminino, idade:78.9 ± 8.4 anos; peso: 70.1 ± 12.8 kg; altura: 158.2 ± 8.5 cm).

Todos os sujeitos deram o seu consentimento informado por escrito e todos os procedimentos foram efectuados de acordo com a declaração de Helsínquia.

Avaliação do equilíbrio e da mobilidade funcional Todos os sujeitos completaram a recolha de dados numa única sessão matinal, após familiarização com o protocolo experimental e com os instrumentos de avaliação.

A avaliação do equilíbrio foi efectuada com recurso ao Functional Reach Test (FRT) e a mobilidade funcional ao Timed Up & Go Test (TUG). Durante a realização dos testes todos os sujeitos foram instruídos a usar o mesmo tipo de calçado. Antes da avaliação, o examinador familiarizava o sujeito com os procedimentos através da explicação, demonstração e da realização de uma ou mais repetições práticas. Para cada teste, cada sujeito executou três repetições retirando-se a melhor das três para análise.

O FRT é um teste de performance que mede a distância máxima que um sujeito, na posição de , pode alcançar anteriormente mantendo os pés fixos. Na posição inicial, o sujeito encontra-se de com o membro superior dominante numa posição de flexão do ombro a 90º, cotovelo em extensão e segurando um pequeno objecto cilíndrico na mão. Em seguida, é-lhe pedido que, com base de sustentação fixa, faça flexão do tronco projectando anteriormente o membro superior sem que os calcanhares deixem de estar em contacto com o solo. O valor do teste é definido pela distância percorrida pela mão ao deslocar-se horizontalmente à altura dos ombros. A distância foi medida numa fita métrica fixada na parede e colocada ao nível do acrómio. O ponto de referência para a medição inicial e final foi a extremidade distal do terceiro metacarpo(10).

Mobilidade funcional é um termo usado para descrever o equilíbrio e a marcha usadas nas actividades da vida diária (p.e. sentar e levantar de uma cadeira, marcha, mudança de direcção). Para avaliar a mobilidade funcional com recurso ao TUG, foi dada instrução oral aos sujeitos para se levantarem de uma cadeira, caminhar três metros de forma segura e o mais rapidamente possível, atravessar uma linha marcada no chão, dar a volta, fazer o caminho inverso e voltar a sentar-se. Mede-se em segundos(11).

Análise Estatística A análise estatística foi realizada utilizando o programa estatístico SPSS versão 16.0 (SPSS Inc., Chicago, IL, USA). Para a descrição dos dados foram usados os valores da média e desvio padrão. O teste de Kolmogorov-Smirnov foi utilizado para testar a normalidade de distribuição. Para comparação de médias entre grupos foi utilizado o teste t independente. Numa segunda fase foram computadas: (i) uma variável binária com os valores de TUG, considerando os valores acima e abaixo de 16 segundos, e (ii) uma variável de FRT com 4 categorias, considerando os valores acima de 24.4 cm, entre 15.24 e 25.40 cm, abaixo de 15.24 cm e incapacidade de realizar o teste (0 cm). O valor de referência do TUG foi determinado tendo em consideração que um valor superior a 16 segundos é preditor de elevado risco de quedas num período de 5 anos (12).

Relativamente aos valores de FRT, foi demonstrado que a capacidade de alcance superior a 24.4 cm, entre 15.24-25.40 cm e inferior a 15.24 cm, assim como a incapacidade de realizar o teste, correspondem a baixo, moderado, elevado e muito elevado risco de quedas(10). O Teste do Chi-quadrado foi utilizado para analisar a proporção de idosos em cada categoria do FRT e do TUG, e a associação entre a prática de exercício e os valores de desempenho no FRT e no TUG. A probabilidade de ocorrência de quedas (em função da distribuição dos idosos pelas categorias acima descritas) associada à prática ou ausência de prática de exercício físico foi analisada através da regressão logística binária e da regressão logística multinomial. O nível de significância foi estabelecido em 5%.

RESULTADOS Os grupos não apresentam diferenças relativamente à idade, peso e altura.

Idosos institucionalizados a realizar exercício físico estruturado nos 12 meses anteriores à realização do estudo apresentaram melhor equilíbrio, expresso nos valores do FRT (19.3 ± 9.6 cm vs. 14.6 ± 5.3 cm; p <0.001) (Figura 1), e melhor mobilidade funcional, expressa nos valores do TUG (13.0 ± 4.2 s vs. 17.6 ± 7.5 s; p <0.001) (Figura 2), do que idosos que não realizaram exercício físico estruturado durante o mesmo período de tempo. A leitura dos valores médios obtidos no FRT e no TUG permitem verificar que, em média, os idosos que realizaram exercício físico obtiveram 25% melhor performance no FRT e 35% melhor performance no TUG do que idosos que não participaram em programas de exercício.

Figura 1. Comparação da medida de equilíbrio (FRT) entre os grupos de exercício vs. sem exercício

Figura 2. Comparação da medida de mobilidade funcional (TUG) entre os grupos de exercício vs. sem exercício

O número de idosos que apresenta risco de queda nos próximos 5 anos em função do desempenho no TUG é significativamente superior no grupo que não pratica exercício comparativamente ao grupo de exercício (12 vs. 36; c2=12.0, df=1, p=0.001). A comparação dos grupos por categorias de risco, em função do desempenho no FRT, revelou que o grupo de exercício apresenta um maior número de sujeitos em baixo risco de queda (14 vs. 5; c2=4.26, df=1, p=0.039) e um menor número de sujeitos em elevado risco de queda (30 vs. 52; c2=5.9, df=1, p=0.015) (Tabela 1). A prática de exercício apresenta uma associação significativa com o equilíbrio (FRT, c2=8,91; df=2; p=0.012; f2=0.06 representado um efeito médio) e com a mobilidade funcional (TUG, c2=11.8; df=1; p=0.001; f2=0.07 representado um efeito médio).

Tabela 1.Frequência absoluta e relativa (%) de sujeitos dos dois grupos para cada categoria do risco de queda em função dos valores de desempenho no FRT e TUG

Os idosos que praticam exercício apresentam uma diminuição significativa do risco queda nos próximos 5 anos comparativamente aos idosos sem exercício (odds ratio, 0.27, 95% IC 0.126-0.582, p=0.001). A prática de exercício diminui a probabilidade de estar em risco de queda nos próximos 5 anos em 63%. Da mesma forma, a prática regular de exercício diminui em 79% a probabilidade de apresentar risco elevado de queda, em função do desempenho no FRT (odds ratio, 0.21, 95% IC 0.068-0.629, p=0.006).

DISCUSSÃO Os resultados deste estudo revelaram que idosos institucionalizados a participar regularmente em sessões de exercício físico supervisionado apresentam melhor equilíbrio e mobilidade funcional do que idosos não treinados, apresentando consequentemente menor risco de queda.

Os problemas de mobilidade em idosos estão geralmente associados a uma combinação de défices de equilíbrio, marcha e força muscular dos membros inferiores, défices esses que são também factor de risco de queda e de perda de autonomia para a realização das actividades da vida diária(13-15). De facto, as alterações associadas ao envelhecimento tais como o declínio da massa muscular e a diminuição da acuidade do sistema sensoriomotor são factores importantes associados à diminuição do equilíbrio e da mobilidade funcional que se observa em idosos(16-18). Especialmente em idosos institucionalizados, que por estarem menos envolvidos nas rotinas das actividades diárias ou porque à partida apresentam patologias crónico-degenerativas que condicionam uma vida autónoma e independente, a força muscular pode-se deteriorar até um ponto em que se torna difícil ser independente na marcha e nas actividades da vida diária(19). No entanto, a participação regular em programas de exercício revela-se uma intervenção efectiva na redução/prevenção do declínio funcional associado ao envelhecimento(1), existindo evidência de que programas de exercício físico que incluam o fortalecimento muscular dos membros inferiores e o treino de equilíbrio melhoram a função física, o equilíbrio, a mobilidade funcional (p.e.

velocidade da marcha, transferências, subir escadas e levantar-se a partir da posição de sentado) e reduzem o risco de quedas(7, 20-23).

È expectável que melhor equilíbrio e mobilidade funcional se repercuta no risco de queda. De facto, a interpretação em categorias dos valores de equilíbrio e mobilidade funcional, segundo os pontos de corte propostos Duncan et al.(10) e Okumiya et al.(12) respectivamente, suportar esta concepção. Os idosos do grupo de exercício apresentaram menor probabilidade de serem classificados como apresentando risco elevado de queda e de estarem em risco de sofrer uma queda nos próximos 5 anos do que os idosos do grupo sem exercício. Estes dados revestem-se de particular importância pelo facto das quedas serem um grave problema de saúde pública que se estima afectar uma em cada três pessoas com mais de 65 anos(24). A queda apresenta numerosas consequências directas e indirectas, que vão desde fracturas e contusões, até à incapacidade física a longo termo requerendo longos períodos de reabilitação, dependência e institucionalização. O risco aumentado de queda associa-se positivamente a várias alterações decorrentes do processo de envelhecimento, tais como diminuição da força muscular, flexibilidade, input sensorial, coordenação e equilíbrio(25, 26). Estima-se que 10% a 25% das quedas estejam associadas a défices de equilíbrio e anomalias no padrão de marcha(21). Contudo, é importante observar que estes factores de risco de queda são influenciados pela ausência de hábitos regulares de exercício físico(27, 28). De facto, vários estudos têm demonstrado a eficácia de programas de exercício não na redução do risco de queda (29-31), como também na redução do medo de cair(32, 33). Este aspecto também se reveste de extrema importância uma vez que o medo de cair pode levar à restrição da actividade, ao isolamento social, à diminuição da função física e da qualidade de vida, podendo o exercício físico desta forma fraccionar o ciclo vicioso negativo existente entre o medo de cair, a inactividade física e o risco aumentado de quedas(34).

No contexto da população idosa institucionalizada, a deterioração da aptidão funcional e o risco de queda são especialmente elevados(4, 5, 19), pelo que os resultados deste estudo são particularmente encorajadores na exacta medida em que aqueles que realizam regularmente exercício físico têm menor risco de queda muito provavelmente pelo facto de serem funcionalmente mais aptos.

Uma das limitações do presente estudo advém do facto de não se ter avaliado a experiência anterior de queda e o medo de cair, tentando estabelecer uma associação entre os níveis de aptidão nos itens avaliados e a experiência de queda e o medo de cair nos idosos de ambos os grupos. Limitação esta que deverá ser tida em consideração na realização de futuros estudos. Da mesma forma, futuros estudos nesta área específica de conhecimento devem avaliar o efeito de diferentes programas de exercício, procurando estabelecer o tipo de exercício mais benéfico a curto e longo prazo.

Em conclusão, este estudo apresenta resultados complementares à evidência que suporta a efectividade de programas de exercício físico como estratégia terapêutica na prevenção de quedas, uma vez que demonstra que idosos institucionalizados a participar regularmente em programas estruturados de exercício físico, apresentam melhor mobilidade funcional, melhor equilíbrio e menor risco de queda do que idosos não treinados.


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