Hábitos desportivos dos jovens do interior norte e litoral norte de Portugal
INTRODUÇÃO
As noções de que a actividade física regular assume um papel relevante na
promoção de um estilo de vida saudável e de que níveis elevados de actividade
física durante a infância e juventude aumentam a probabilidade de uma
participação similar quando adultos são bastante consensuais. No entanto, a
realidade nacional tem revelado uma fraca aquisição de hábitos desportivos dos
homens e mulheres portuguesas, sendo este quadro ainda mais preocupante no que
se refere aos jovens, condicionando assim a qualidade de vida da nossa
população. Apesar de uma melhor implementação da prática física e desportiva,
os hábitos de prática desportiva na sociedade portuguesa, quando comparados com
outros países da Comunidade Europeia, são inferiores
(15)
.
Segundo Fernando
(8)
um dos caminhos a seguir para melhorar o nível físico-desportivo das
populações é a investigação da prática desportiva e o conhecimento dos motivos
mais profundos que levam a população a praticar desporto. Será mais fácil fazer
corresponder a oferta aos motivos básicos da população, e não às ideias pré-
concebidas frequentemente cheias de ideologias e preconceitos, contrários ao
que deve ser um desporto cultural e popular para todos.
Kenyon
(12)
criou um dos primeiros instrumentos (ATPA, ou seja, Attitudes Towards Physical
Activity) para estudar a adesão da população à prática desportiva, baseando-se
num modelo conceptual de seis dimensões: experiência social, saúde e condição
física, vertigem, aspectos estéticos, catarse e ascetismo.
Mais tarde, Simons e Smoll
(26)
adaptaram este instrumento para populações mais novas (CATPA, isto é, Children
Attitudes Towards Physical Activity), tendo
(28)
examinado a natureza e o grau de associação entre os resultados fornecidos pelo
instrumento e o envolvimento desportivo de estudantes do quarto ao sexto nível
de escolaridade. A análise de correlações canónicas identificou uma associação
positiva e significativa entre as variáveis. O CATPA foi ainda utilizado por
Smoll e Schutz
(27)
num estudo longitudinal conduzido com rapazes e raparigas do quarto, quinto e
sexto ano de escolaridade. Esta investigação detectou alguma fragilidade devido
ao facto da versão original do inventário ter sido concebida para adultos.
Sonstroem
(29, 30)
e Sonstroem & Kampper
(31)
desenvolveram o Physical Estimation and Attraction Scales(PEAS). Apesar de
possuir aceitáveis propriedades psicométricas, o instrumento não teve grande
sucesso na predição do grau de envolvimento dos jovens na prática desportiva.
Com base na amostra de classes universitárias de Educação Física, Weick
(37)
mostrou que o divertimento e a necessidade de prática regular de exercício
físico foram os motivos mais apontados para explicar a adesão às classes, que
eram opcionais. Soudan & Everett
(32)
, num estudo bastante idêntico, destacaram outros dois motivos: estar com boa
saúde e estar fisicamente apto.
Gould
(11)
apresentou os resultados de um inquérito dirigido a 23 psicólogos do desporto
e 33 treinadores de jovens e administradores de programas desportivos infanto-
juvenis, indicando que why young athlete participate in sports? foi apontado
como dos tópicos mais relevantes na área do desporto para crianças e jovens.
Em Portugal as primeiras utilizações do questionário de Gill et al.
(10)
acontecem no final da década de 1980, pela mão de investigadores da
Universidade do Minho
(5, 6, 7)
, que produziram a versão intitulada Questionário da Motivação para a
Participação Desportiva' QMPD. Esta versão utilizou a escala de respostas 1
(pouco importante), 2 (mais ou menos importante) e 3 (muito importante).
Ligeiramente mais tarde, Serpa
(22)
publica o trabalho de Serpa & Frias
(24)
, apresentando uma outra versão portuguesa, designada Questionário de Motivos
para a Participação Desportiva' QMAD. Esta última versão foi amplamente
aplicada pelas escolas universitárias de Educação Física e Desporto de Lisboa
(3, 34)
, Porto
(2, 9, 23)
, Trás-os-Montes
(1,
35, 36)
(dos quais, o primeiro trabalho efectuado com jovens da Graciosa, Açores). O
QMAD destacou-se ainda pela adopção de uma escala mais ampla de respostas,
sendo 1, nada importante, 2, pouco importante, 3, importante, 4, muito
importante, 5, totalmente importante.
Medir e avaliar as atitudes dos jovens face ao desporto tem sido uma
preocupação dos investigadores, em especial a partir da última metade da década
de 90 do século XX Shields D, Bredemeier B, Power F
(25, 38)
. O problema reside não só na dificuldade de encontrar instrumentos adequados
ao objecto de estudo, como em estabelecer um enquadramento conceptual que torne
evidente a expressão de condutas que os jovens praticantes julgam como as mais
adequadas às situações desportivas e permitam, ao mesmo tempo, a intervenção
dos agentes de ensino.
A prática desportiva das crianças e jovens é fomentada e incentivada devido às
suas virtudes formativas ' carácter, disciplina, vontade, de preparação para a
vida e pró-sociais. Assistimos nas últimas décadas a um vertiginoso aumento da
oferta desportiva para idades cada vez mais baixas, chegando-se à actual
situação em que a participação em actividades desportivas representa a maior
fatia de ocupação de tempo livre, não lectivo, entre as crianças e os
adolescentes
(4, 21)
.
Parece, assim, ser claro que os factores ligados ao envolvimento social estão
inquestionavelmente associados aos hábitos desportivos evidenciados por
crianças e jovens
(20)
.
O suporte social, nomeadamente a família e os pares, tem sido identificado como
elemento crítico no desenvolvimento da criança e do jovem no que diz respeito
ao interesse e à participação em actividades físicas.
De acordo com Wold e Andersen
(39)
, um estudo realizado pela Organização Mundial de Saúde em diferentes países
europeus, com crianças e jovens de idades compreendidas entre os 11 e os 15
anos, demonstrou que quando três ou mais pessoas consideradas importantes para
o jovem (melhor amigo, pais e ou irmãos), participavam em actividades físicas,
84% dos indivíduos do sexo masculino e 71% do sexo feminino realizavam uma
prática desportiva duas ou mais vezes por semana. Pelo contrário, quando
nenhuma dessas pessoas participava nas referidas actividades, apenas 52% dos
meninos e 30% das meninas referiam ser activos.
É então inequívoco que a actividade física constitui um comportamento de grande
importância na promoção de um estilo de vida saudável, tanto na infância e
juventude, como na idade adulta
(20)
.
Neste sentido, é imperioso, que o futuro planeamento do desporto estude e
analise pormenorizadamente a oferta existente, a procura actual e a previsão da
procura futura, de tal maneira que qualquer acção, obedeça a padrões reais e o
mais ajustada possível às reais necessidades e carências dos cidadãos
(19)
, e neste caso específico dos jovens.
Não basta afirmar que o desporto tem o estatuto de direito do cidadão, para que
todos o possam e queiram praticar, é necessário que as políticas desportivas e
as instituições responsáveis pela sua aplicação, tratem de tomar medidas no
sentido de concretizar as intenções manifestadas na legislação nacional e nas
cartas e acordos internacionais, levando a que mais cidadãos, independentemente
da idade e do sexo, acedam ao desporto e às suas actividades. Para tal, é
imprescindível que todos sejam capazes de pôr em prática os pressupostos
inerentes a um correcto planeamento da actividade desportiva.
Assim, foi nosso objectivo desenvolver um estudo que permitisse identificar a
realidade da prática de actividade física dos jovens nas regiões do Interior
Norte e Litoral Norte de Portugal. Para tal consideramos: Interior Norte os
concelhos de Vila Real, Vila Pouca de Aguiar, Bragança e Vila Flor; Litoral
Norte os concelhos de Guimarães, Penafiel, Viana do Castelo e Vizela.
O presente estudo torna-se fundamental como instrumento operativo na definição
e estruturação do desenvolvimento desportivo nas referidas regiões.
Objectivos
O principal objectivo deste trabalho é a caracterização da prática desportiva
dos jovens no Interior Norte e Litoral Norte do País.
Assim, definimos como objectivos específicos: (1) conhecer a adesão à prática
de actividade física extracurricular, do Interior Norte e do Litoral Norte de
Portugal dos jovens em idade escolar; (2) confrontar a adesão à prática de
actividade física extracurricular dos jovens nestas duas regiões; e (3)
conhecer as envolventes que levam à não prática dos jovens no Interior Norte e
Litoral Norte do País.
METODOLOGIA
Caracterização da amostra
Através de uma análise descritiva procedemos à caracterização da amostra em
três níveis: amostra total, amostra do interior norte e amostra do litoral
norte (Quadro 1).
Quadro 1. Caracterização da amostra relativamente ao género, ano de
escolaridade e prática desportiva.
A amostra inquirida é constituída por 1304 alunos pertencentes aos graus de
ensino do 3º Ciclo e Secundário das escolas públicas de ensino dos concelhos:
Vila Real, Vila Pouca de Aguiar, Bragança e Vila Flor (População do Interior
Norte); Guimarães, Penafiel, Viana do Castelo e Vizela (População do Litoral
Norte). Dos alunos inquiridos, 54,5% (711) afirma praticar actividade física
fora do âmbito das aulas de educação física, e 45,5% (593) declara que não
realiza qualquer tipo de actividade física ou desporto.
Relativamente à idade dos alunos verificamos que as idades variam entre os 12 e
os 21 anos, sendo que a média de idades é de 15,82±1,76 anos (CV
[1]
=8,98%).
Instrumento
Com o objectivo de avaliar os hábitos desportivos dos jovens desenvolvemos um
questionário validado por peritagem para a presente investigação. O processo de
validação cumpriu com os requisitos impostos na literatura científica da
especialidade
(17)
.
O instrumento é de preenchimento individual, anónimo e confidencial constituído
por questões de resposta aberta e fechada estruturada em duas partes. A
primeira parte permite caracterizar a amostra segundo: (1) ano de nascimento;
(2) ano de escolaridade; (3) sexo; e (4) praticante / não praticante
desportivo.
A segunda parte permite discriminar entre os alunos com prática desportiva
extra-escolar e os alunos sem essa prática. Assim, a segunda parte do
questionário é constituída por dois grupos, sendo que os alunos só preenchem a
parte que melhor os caracteriza. O primeiro grupo pretende unicamente
caracterizar os motivos da não prática desportiva, enquanto que o segundo grupo
é preenchido unicamente pelos alunos com prática desportiva extra-escolar e
caracteriza-se por: (1) regularidade semanal; (2) duração diária; (3) local de
prática; e (4) contexto social.
Procedimentos
O questionário foi elaborado considerando a especificidade do estudo, tendo
sido validado e pré-testado por peritagem através de quinze profissionais das
ciências do desporto.
Como único critério de inclusão para o nosso estudo definimos que os alunos
teriam que frequentar o 3º ciclo ou secundário numa das escolas públicas dos
concelhos em causa.
Os questionários foram preenchidos pelos alunos no início de uma aula de
Educação Física, tendo sido informados dos objectivos do estudo, do modo de
preenchimento do questionário, bem como do carácter voluntário do mesmo.
Para a realização do estudo foram salvaguardadas as devidas autorizações, tanto
do Conselho Executivo das escolas, como dos próprios alunos.
Quadro 2. Estatística descritiva dos motivos da não prática desportiva.
Procedimentos estatísticos
Para a análise dos dados recolhidos, utilizamos o programa estatístico
Statistical Package for the Social Sciences
(SPSS®) versão 15.0 for Windows
®, para proceder ao tratamento estatístico dos dados, no qual introduzimos os
dados relativos a todas as informações constantes no questionário.
De modo a cumprir os objectivos e também caracterizar a amostra em estudo,
analisamos as frequências de resposta, utilizando a estatística descritiva,
nomeadamente a frequência (n), a percentagem (%), a média (M), o desvio padrão
(±DP), o coeficiente de variação (CV).
Tendo em consideração a dimensão da amostra (n=1304), iremos utilizar as
técnicas estatísticas paramétricas, uma vez que a dimensão se encontra bem
acima do recomendado por Pestana e Gageiro (2005) para a utilização desta
categoria de testes (n=30).
Com objectivo de verificar se existem diferenças estatisticamente
significativas entre as variáveis independentes dicotómicas (sexo, ano de
escolaridade e região) e as variáveis dependentes (regularidade semanal,
duração diária, local de prática e contexto social), ou seja comparar as médias
das distribuições dos diversos grupos em estudo, utilizamos o teste t de
Student (procedimento estatístico paramétrico). O nível de significância foi
mantido em 5% (p=0,05) para todos os procedimentos estatísticos utilizados.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Não prática desportiva
Após todos os dados estatisticamente tratados obtivemos, relativamente à não
prática, que um dos factores mais referidos pelos inquiridos sobre o motivo de
não praticarem qualquer actividade extra-escolar deve-se a “sem motivação” com
uma média de 2,19±1,24 (CV=1,77%). Não havendo diferenças estatisticamente
significativas neste motivo para a não prática na nossa amostra, entre as
regiões estudadas.
Contraditoriamente do que se verificou em outros estudos
(16)
a falta de tempo é apontada como principal razão da não prática desportiva, o
que nos leva a reflectir sobre a preocupante falta de motivação dos jovens não
praticantes, tanto no Interior Norte como Litoral Norte.
Em seguida uns dos motivos apresentados para a não prática é “falta de
transporte”, em que este é mais representativo para a população do Interior
Norte (2,36±1,35 CV=1,75%) comparativamente com o Litoral Norte (1,98±1,22
CV=1,62%). O que nos leva a pensar na falta de oferta de transportes no
Interior Norte, que em tudo reflecte a situação do Interior face ao Litoral em
todo o País nesta questão. O que reflecte as assimetrias económicas e
financeiras verificadas entre o litoral e interior.
Após estes motivos mais manifestos para a não prática dos inquiridos,
destacamos outros que nos parecem também bastante intrigantes quando comparados
entre as duas regiões. No Interior Norte “sem instalações” e “sem saúde” com
médias de 1,99±1,19 (CV=1,67%) e 1,73±1,41 (CV=1,23%) respectivamente,
comparado com os valores dos inquiridos no Litoral Norte, “sem instalações”
1,79±1,07 (CV=1,67%) e “sem saúde” 1,51±0,91 (CV=1,66%). Que nos leva a mais
uma realidade distinta entre o Interior e o Litoral quer a nível de condições
para a prática desportiva, quer em termos de saúde para a prática. Por outro
lado, parece-nos preocupante o facto de que uma parte destes jovens referem não
ter jeito para o desporto (1,89±1,09 CV=1,73%). Este é um dos factores
fortemente influenciadores no sentido da não prática, estes apresentam-se
altamente resistente à mudança. Assim, é importante definir estratégias
integradas e concretas de modo a despertar o interesse pela prática desportiva
e pela adopção de hábitos desportivos saudáveis. Consideramos ainda importante
salientar que, apesar dos motivos apresentados serem referidos, pelos jovens,
como os principais motivos pelo facto de não praticarem desporto, verificamos
que a importância atribuída, em média é de nível 2, ou seja, “discordo”.
Prática desportiva
Relativamente às modalidades escolhidas por aqueles alunos que procuram ocupar
parte do seu tempo através da prática desportiva, verificamos que a mais
praticada é o Futebol. Este obtém índices de prática muito semelhantes quer no
Interior Norte (45,9%) quer no Litoral Norte (45,7%). Em segundo o Basquetebol
é o desporto mais praticado pelos inquiridos no Interior Norte (11,2%), sendo
que, no Litoral Norte a Natação é o segundo desporto de preferência para os
jovens desta região (12,5%). Este facto pode-se associar à realidade das duas
regiões quer em termos de instalações desportivas específicas, quer em termos
culturais que cada uma impõe aos seus jovens.
De salientar que no Interior Norte a terceira modalidade mais escolhida pelos
jovens é a natação, com cerca de 10,4% de praticantes o que faz com que esta
esteja muito próxima da segunda mais praticada, o mesmo já não se denota no
Litoral em que a terceira modalidade mais referenciada foram as Actividades de
Academia em que apenas regista uma percentagem de 6,6% dos praticantes. Esta
última apresenta valores mais representativos quando comparado com o Interior
Norte (2,2%).
A prática de Voleibol apresenta também um “fosso” entre as duas regiões, sendo
que o Interior Norte não apresenta uma prática visível da modalidade em
contraste com Litoral Norte (3,4%). Continuando assim estas duas regiões a
diferenciarem-se culturalmente e socialmente em questões de prática desportiva.
Existem ainda um conjunto de alunos que procura uma variedade de modalidades
desportivas que no entanto não se manifestaram representativas para o estudo.
No que diz respeito à regularidade semanal da prática desportiva ambas as
regiões apresentam valores similares sendo que tanto os alunos praticantes do
Interior Norte (28,6%) como do Litoral Norte (29,9%) afirmam ter prática
desportiva pelo menos três vezes por semana, fazendo com que seja o número de
dias mais globalizado quanto à regularidade semanal.
Comparativamente com os estudos de (16), que verificou uma média de dois dias
por semana de prática desportiva, podemos defender que os jovens praticantes
das duas regiões em estudo apresentam níveis muito aceitáveis de prática
desportiva, no que concerne à frequência de prática.
Já a duração diária estabelece algumas diferenças quando comparada nas duas
regiões. A maior porção dos inquiridos no Interior Norte (22,7%) afirma que a
duração diária não ultrapassa uma hora de duração. Em contraste os alunos do
Litoral Norte (26%) declaram que esta tem uma duração de uma hora e trinta
minutos, sendo que outros 24,2% afirmam que esta dura duas horas.
Quanto ao local de prática destacamos o facto de que os alunos do Interior
Norte referem em média 3,40±1,36 (CV=2,50%) a Rua como principal local de
prática enquanto que no Litoral Norte estes apenas referem a Rua numa média de
2,68±1,33 (CV=2,02%).
Quadro 3. “Top ten” das modalidades mais praticadas.
Quadro 4. Caracterização da prática desportiva relativamente à sua regularidade
semanal e duração diária.
O Clube e a Natureza aparecem também como locais com diferenças
estatisticamente significativas em que o nível de significância é =0,05, em que
é atribuída uma média de 2,61±1,68 (CV=1,56%) no Litoral Norte e 2,28±1,52
(CV=1,50%) ao Interior Norte relativamente ao clube sendo que 2,68±1,33
(CV=2,02%) e 2,99±1,44 (CV=2,08%) são estabelecidas para a Natureza no Litoral
Norte e Interior respectivamente. Podemos afirmar então que existe uma clara
preferência por locais distintos quando comparamos as duas regiões, no Interior
é privilegiado os espaços abertos, a natureza e os elementos do meio enquanto
no Litoral as condições para a prática desportiva apresentam-se mais em conta,
devido á oferta desta nos distintos locais. Isto vai de encontro ao objecto de
estudo acima abordado relativo à falta de instalações como um dos motivos para
não praticar qualquer tipo de actividade desportiva extra-escolar.
Quadro 5. Estatística descritiva da prática desportiva relativamente ao local e
contexto social desta.
No contexto social não existindo diferenças estatisticamente significativas
podemos afirmar perante os dados recolhidos que os alunos inquiridos praticam
actividade desportiva extra-escolar mais frequentemente entre os amigos
(4,08±1,00 CV=4,08%) e colegas (3,84±1,13 CV=3,40%) na maioria das vezes.
CONCLUSÕES
Com base nos resultados obtidos e nos objectivos a atingir, concluímos que a
adesão à prática desportiva nas duas regiões está um pouco aquém dos valores
médios obtidos na Comunidade Europeia (64%).
Verificamos que os alunos inquiridos tanto no Interior Norte como no Litoral
Norte apresentam como principal de motivo para a não prática, a falta de
motivação.
Concluímos também relativamente aos motivos da não prática que no Interior
norte os factores mais relevantes para a não prática prendem-se pela falta de
transporte e instalações. Estes também são apresentados pelo Litoral Norte mas
com uma ênfase bastante mais reduzida comparativamente com o Interior Norte, o
que nos leva á distinção clara destas duas regiões em termos de oferta
desportiva e redes de transporte.
Também relativamente aos motivos da não prática, conclui-se que uma porção dos
alunos refere não ter jeito para o desporto.
Sendo que o valor estipulado para a definição do motivo da não prática é de em
média 2 ou seja “discordo” podemos defender que ainda não conseguimos
caracterizar o factor crítico pelo qual os jovens não aderem à prática
desportiva extra-escolar. Neste sentido, defendemos a necessidade de se
realizar um estudo especificamente para estudar este assunto.
Por isto no que concerne aos aspectos negativos para a não prática, pensamos
ser fundamental a criação de estratégias e planos de acção no sentido de
sensibilizar e despertar o interesse dos jovens para o desporto, bem como uma
adaptação dos horários das instalações e das actividades.
Relativamente às modalidades preferidas dos jovens inquiridos, salientamos o
elevado peso que o futebol, tem na globalidade das escolhidas, tanto no
Interior Norte como no Litoral Norte.
Devido à especificidade de instalações nas diferentes regiões, o Basquetebol
apresenta-se como segunda modalidade mais praticada pelo Interior Norte e a
Natação pelo Litoral Norte. Assim, sem perder de vista a universalidade de
escolha e do individualismo das práticas desportivas, deve o poder local e
central apostar no desenvolvimento das condições que oferecem aos seus
praticantes.
Do ponto de vista da regularidade de prática desportiva, salientamos a ajustada
e adequada proporção de exercício físico semanal, bem como a duração média por
sessão. É com boas perspectivas que pensamos que a adesão ao exercício físico
por parte destes jovens se manterá ao longo do tempo e manterão a sua
influência na captação de novos praticantes.
Parece ser também evidente a distinção entre Interior e Litoral no que se
refere ao local de prática. Em que o meio ambiente tem uma importante conotação
no Interior, sendo que o associativismo desportivo tem mais impacto no Litoral
relativamente à oferta de prática desportiva extra-escolar, apresentando- se o
clube como o principal representante. Neste sentido, defendemos que os espaços
sejam conservados e dotados de melhores condições no caso do Litoral Norte, e
que no Interior Norte sejam criadas sinergias entre o movimento associativo
para melhor a oferta e prática desportiva desta população em condições que
assim o permitam. Pretendemos com isto, salientar, o apoio ao nível da formação
de dirigentes e ao nível da gestão do desporto, que nos parecem pontos
importantes a desenvolver e não exclusivamente o apoio financeiro, numa lógica
de dependência subsidiária.
Tanto a escola como o clube deveriam unir esforços para que se criem, nas
crianças e jovens, hábitos desportivos. Os clubes desportivos devem assumir uma
cultura organizativa adequada ao contexto social onde estão inseridos, aos
tempos actuais e entre outros aspectos, responder adequadamente às necessidades
dos praticantes desportivos.
Por outro lado, o facto de os jovens afirmarem não terem instalações
desportivas no concelho, poderemos propor o aproveitamento das potencialidades
que as actividades de exploração da natureza para a realização de prática
desportiva regular.
A prática desportiva das crianças e jovens é fomentada e incentivada devido às
suas virtudes formativas – carácter, disciplina, vontade, de “preparação para a
vida” e pró-sociais
(4)
.
É então inequívoco que a actividade física constitui um comportamento de grande
importância na promoção de um estilo de vida saudável, tanto na infância como
na juventude
(20)
.
Com o presente trabalho pensamos que estamos a dotar a sociedade civil e
política, de dados científicos que deverão, juntamente com os demais estudos
nacionais, servir de base à tomada de decisão no que concerne à definição de
políticas públicas desportivas e de estratégias de desenvolvimento desportivo.
NOTAS
[1]
CV – Coeficiente de Variação: M/DPx100 (%).