Associação entre níveis de atividade física e transtorno mental comum em
estudantes universitários
INTRODUÇÃO
A prática regular de atividade física (AF) ajuda na promoção da saúde e na
qualidade de vida, proporcionando benefícios significativos à saúde física e
mental da população (Cid, Silva, & Alves, 2007; Nahas & Fonseca, 2004).
O baixo nível de sua prática está associado ao desenvolvimento de doenças que
afetam a saúde física e mental, resultando em maiores gastos para a saúde
pública (Fontes & Vianna, 2009).
A população tem acesso a informações sobre os prejuízos que o baixo nível de
atividade física (NAF) causam à saúde, no entanto estudos recentes ainda
mostram uma redução do NAF de diferentes populações, uma dessas populações é a
de universitários (Fontes & Vianna, 2009; Tondo, Silva, & Roth, 2011).
Um estudo realizado com 281 estudantes da área de saúde de Brasília,
identificou alto índice de sedentarismo (65.5%) (Marcodelli, Costa, &
Schmitz, 2008). Outro estudo utilizando o Questionário Internacional de
Atividade Física (IPAQ-longo), realizado com discentes de uma universidade da
Paraíba-Brasil, relatou a prevalência de baixo NAF entre os estudantes (31.2%)
(Fontes & Vianna, 2009). Outra pesquisa utilizando o Questionário de
Atividade Física Habitual (QAFH) para medir o NAF e as barreiras percebidas
para a prática de AF entre estudantes de uma universidade federal do Rio Grande
do Sul-Brasil, relatou a prevalência de pouca AF entre os estudantes (Tondo et
al., 2011).
Os estudos citados mostram que a referente população tem reduzido a prática de
AF, o que poderá causar futuras perdas nas atividades académicas e na saúde em
geral. Exigências da sociedade faz aumentar a concorrência entre os
universitários antes mesmo de chegarem ao mercado profissional (Calais et al.,
2007), podendo deixar os estudantes, mais ocupados e estressados com suas
atividades, com as exigências do curso, com a aquisição de experiência e
aprendizado.
O ingresso na universidade pode expor os estudantes a estressores específicos
(ansiedade, problemas de moradia, distância da família) (Calais et al., 2007).
E os últimos períodos na universidade podem sobrecarregá-los, devido à
ansiedade da conclusão do curso, a dedicação e pressão psicológica durante a
preparação do trabalho de conclusão de curso (TCC) (Calais et al., 2007), à
incerteza do futuro profissional, que podem oferecer riscos à saúde mental (SM)
dos estudantes podendo deixá-la debilitada (Polydoro, Primi, Serpa, Zaroni,
& Pombal, 2001).
A SM seria um equilíbrio mental entre sentimentos internos e experiências
externas (Lino, 1997). Algumas doenças, agressões exógenas, excesso de
trabalho, fadiga física e psíquica, e outros problemas devastam o equilíbrio
mental, tornando-o angustiado, deprimido, nervoso e neurótico. Esses fatores
ligados à predisposição genética são desencadeadores de transtornos mentais,
que vão de um extremo psicótico (apresenta delírio) ou não-psicótico (não
apresenta delírios). Logo, a reunião de alguns sintomas característicos de
ansiedade, depressão e somatoformes compõem o que se pode denominar de
transtornos mentais comuns (TMC) (Roeder, 1999), que são alterações do
funcionamento da mente que podem prejudicar o indivíduo na vida familiar,
social, pessoal, profissional, nos estudos, e na compreensão de si e dos outros
(Ballone, 2008; Ludemir & Filho, 2002).
O termo TMC é usado para indicar agrupamentos de sinais e sintomas associados a
alterações de funcionamento da mente sem origem conhecida (Ludemir & Filho,
2002), que são relacionados com problemas na SM. Para combater e/ou minimizar
esses fatores de risco das afeções mentais, a AF é usada na prevenção e
manutenção da SM, buscando desenvolver um estilo de vida ativo (Roeder, 1999).
A relação entre a SM e a prática de AF são processos particulares de expressão
das condições e estilo de vida de uma população, logo, a prática de AF busca
contribuir para a melhoria da SM das pessoas que possuem algum transtorno
mental, melhorando a sua condição de vida, contribuindo para a melhoria do
sono, do humor, da memória, da irritabilidade e na dificuldade de concentração
(Araújo, Pinho, & Almeida, 2005), que são fatores que caracterizam
problemas de SM, e influenciam na saúde em geral. Universitários justificam que
os hábitos estão mais sedentários após o ingresso na universidade, devido ao
aumento nas horas de estudo. E que podem desenvolver algum tipo de TMC, devido
à sobrecarga psicológica e a falta de AF (Fontes & Vianna, 2009).
Na literatura, muitos estudos são referentes aos universitários (Silva, Silva,
Silova, Souza, & Tomazi, 2010; Souza, Santos, & José, 2010), alguns
avaliam o NAF, e outros buscam identificar problemas na SM dessa população
(Calais et al., 2007; Fiorotti, Rossini, Borges, & Miranda, 2010; Lima,
Domingues, & Cerqueira, 2006), mas, ainda é escasso o número de estudos que
busquem associar esses fatores nesta população.
Assim, esse estudo procurou verificar a associação entre o NAF e a SM de
estudantes universitários da área de saúde da Universidade Federal de Alagoas
(UFAL), além de identificar e comparar os NAF, a presença de um provável TMC e
os aspetos sociodemográficos entre os diferentes cursos.
MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa de caráter quantitativo, de corte transversal. O
estudo foi desenvolvido numa universidade federal (UFAL), em diferentes cursos
ministrados num campus dessa instituição.
Participantes
A população alvo do estudo foi formada por estudantes dos cursos da área de
saúde da UFAL (Educação Física, Odontologia, Farmácia, Nutrição, Medicina,
Enfermagem e Ciências Biológicas), existindo cerca de 1930 estudantes de
Bacharelado matriculados nos primeiros e últimos períodos.
A população de estudantes dos cursos da área de saúde da UFAL (Educação Física,
Nutrição, Enfermagem, Odontologia, Medicina, Farmácia e Ciências Biológicas)
era formada por 2523 universitários (de acordo com dados de matricula de 2011,
coletados nas coordenações dos cursos), sendo 593 estudantes de Licenciatura e
1930 estudantes de Bacharelado. O presente estudo trabalhou apenas com a
população de estudantes universitários de Bacharelado, por ser mais direcionado
à área de saúde e ter um número significativo de pessoas.
O tamanho da amostra foi calculado a partir da estimativa de prevalência de
transtornos mentais comuns em indivíduos jovens (Fiorotti et al., 2010). Tomou-
se como base para o cálculo a presença de TMC como fator de risco. Dessa forma,
tendo um risco alfa de 5% e um risco beta de 20%, sendo necessários 10% do
total de estudantes matriculados em cada curso, ou seja, Educação Física tinha
247 estudantes matriculados (10%= 25), Nutrição tinha 210 estudantes (10%= 21),
Enfermagem tinha 237 estudantes (10%= 24), Odontologia tinha 305 estudantes
(10%= 30), Farmácia tinha 265 estudantes (10%= 26) e Biologia tinha 186
estudantes (10%= 19).
O curso de Medicina terminou por não fazer parte da coleta de dados devido
algumas restrições da coordenação do curso e do pequeno tempo disponível para
cumpri-las. A percentagem da amostra de estudantes de medicina que seria
coletada foi redistribuída com os outros cursos, com o intuito de se manter o
número inicial da amostra.
Após a percentagem de estudantes de cada curso necessária para compor a amostra
ser encontrada, ela foi dividida em 50% que cursem um dos períodos iniciais do
curso (1º/2º período) e 50% que cursem um dos períodos finais (7º/8º ou 9º/
10º), A coleta nos períodos finais se deu dessa forma devido a alguns cursos
que fazem parte do estudo, ou seja, Odontologia, Farmácia, Enfermagem e
Nutrição terem como últimos períodos o 9º e o 10º, enquanto os cursos de
Educação Física e Biologia têm como períodos finais o 7º e 8º.
Foi utilizado como critério de inclusão no estudo: alunos com idade ≥ 18 anos,
que estivessem cursando um dos dois primeiros períodos de um dos cursos de
saúde ou um dos dois últimos períodos, devidamente matriculados num dos
períodos citados no segundo semestre letivo de 2011.
O aluno já graduado, ou que estivesse participando de alguma intervenção do
tipo psicológico ou psiquiátrico, foi excluído do estudo.
Instrumentos e Procedimentos
Para verificar o NAF foi utilizado o Questionário Internacional de Atividade
Física (IPAQ), com a validade testada no Brasil (Matsudo et al., 2001),
composto por 19 perguntas relacionadas às atividades realizadas uma semana
antes de sua aplicação. A pontuação é obtida pela soma de dias, minutos ou
horas das atividades, considerando a frequência, a intensidade e a duração.
Os dados foram tabulados, avaliados e classificados segundo o IPAQ (Matsudo et
al., 2001; Silva et al., 2007), que divide e conceitua as categorias em:
Sedentário; Insuficientemente Ativo, essa categoria divide-se em dois grupos,
Insuficientemente Ativo A e Insuficientemente Ativo B; Ativo; Muito Ativo.
Contudo para a facilitação das análises os grupos foram categorizados (Alves,
Borges, Ribeiro, Gadelha, & Santos, 2010; Guedes, Santos, & Lopes,
2006; Rodrigues, Cheik, & Mayer, 2008). Os universitários que foram
classificados pelo IPAQ como muito ativo e ativo, foram categorizados como
ativos, já os classificados como insuficientemente ativo A/B e sedentários,
passaram a ser classificados como Inativos.
O SRQ-20 é a versão de 20 itens do SRQ-30 para rastreamento de transtornos
mentais não-psicóticos (Mari & Williams, 1986). As respostas são do tipo
sim/não. Cada resposta afirmativa pontua com o valor 1 para compor o escore
final por meio do somatório destes valores. O ponto de corte utilizado foi ≥ 7
(Mari & Williams, 1986).
O questionário sociodemográfico utilizado foi elaborado tendo como base aspetos
do domicílio e sociais, dicotomizados para análise. A idade foi dividida em 18-
20 anos e 21-35 anos. A situação laboral foi dividida em trabalha (quando
possui atividade laboral remunerada) e não trabalha (quando não possui
atividade laboral remunerada). O número de residentes no domicílio foi
categorizado como apropriado (até 4 pessoas) ou inapropriado (mais de 4
pessoas). Quanto à situação socioeconómica, a amostra foi dividida inicialmente
em quatro classes (A, B, C e D), dicotomizadas em seguida para a análise, em
duas classes (A+B) e (C+D). Tal classificação resultou de uma pontuação
construída segundo o poder económico das famílias e o grau de escolaridade do
chefe da casa, através do que preconiza a Associação Brasileira de Empresas e
Pesquisas (ABEP, 2003).
A pesquisa seguiu todas as prerrogativas da Declaração de Helsinque e da
Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS, 196/96) para pesquisas com seres
humanos, sendo submetida e aprovada pelo Comité de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal de Alagoas (CEP/UFAL), recebendo a aprovação sob protocolo
nº 013810/2011-38. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi
entregue aos sujeitos da pesquisa para assinatura e consentimentos.
Análise Estatística
Para análise dos dados, foi utilizada a estatística descritiva, com a
distribuição de frequência, média e desvio-padrão. Para a comparação dos grupos
foi utilizado o teste qui-quadrado. Para medida da associação foi utilizado o
odds ratio(OR) com intervalo de confiança de 95% para verificar a associação
entre os níveis de atividade física e o transtorno mental comum dos
universitários investigados. O nível de significância utilizado foi p< 0.05.
RESULTADOS
A amostra final foi composta por 220 estudantes universitários dos cursos da
área de saúde da UFAL, Campus Maceió, sendo 65.9% do sexo feminino e 34.1% do
masculino. Já a média de idade do grupo foi de 22 anos. Enquanto 43.2% da
amostra total apresentou classificação positiva para o TMC.
A tabela_1 descreve as prevalências de TMC entre os cursos da área de saúde
investigados no estudo. O curso de farmácia apresentou a maior prevalência
(24.2%). Já o curso de Nutrição apresentou a menor prevalência (9.5%), dentre
os seis cursos considerados.
A tabela_2 descreve as frequências de estudantes ativos e inativos entre os
cursos da área de saúde investigados no estudo. O curso de Farmácia apresentou
a maior prevalência de estudantes considerados ativos (68.4%). Já o curso de
Enfermagem apresentou a maior prevalência de estudantes considerados inativos
(58.3%).
A tabela_3 descreve os resultados dos possíveis fatores de risco para o TMC.
Dentre os fatores considerados nenhum apresentou associação significativa. Vale
ressaltar a tendência encontrada nas variáveis de sexo e escolaridade do chefe
da casa.
A tabela_4 evidencia os fatores associados aos níveis de atividade física
categorizados a partir do IPAQ. Observa-se um percentual maior de inativos com
TMC (67.4%) em relação aos ativos (32.6%), com risco significativo (OR= 3.202,
IC95%: 1.83−5.60). Os estudantes com perfil académico inicial (1º e 2º
períodos) apresentaram mais ativos (55.3%) em relação aos alunos concluintes
(7º/8º/9º/10º períodos) com 41.5%, indicando um fator de proteção significativo
(OR= 0.575, IC95%: 0.337−0.980). Cabe destacar a variável de situação laboral,
que apresentou uma tendência, quando considerada na associação aos níveis de
atividade física.
DISCUSSÃO
Apesar de existirem diversos estudos (Almeida et al., 2007; Amaral et al.,
2008; Facundes & Ludemir, 2005; Fontes & Vianna, 2009; Guedes et al.,
2006; Sakae, Padão, & Jordana, 2010; Silva et al., 2007; Souza et al.,
2010) referentes ao NAF e à SM de diferentes populações, ainda são escassas as
pesquisas que verifiquem sua associação na população de universitários. Esses
fatores terminam por dificultar a comparação dos resultados em estudos com
tais objetivos.
Através de pesquisas utilizando o SRQ e outros questionários, que verificam a
presença de TMC, alguns estudiosos (Baldisserotto, Filho, Nedel, & Sakae,
2005; Cavestro & Rocha, 2006) estimam que mais de 15% dos estudantes
universitários apresentem ou possam vir a apresentar algum tipo de TMC durante
a formação académica.
Já outros estudos (Lawlor & Hopker, 2001; Sakae et al., 2010) têm
demonstrado que a reunião de sintomas ansiosos, depressivos e somatoformes
acometem diferentes populações, inclusive a de universitários, prejudicando a
qualidade de vida. Entretanto, a prática de atividades físicas pode surtir
efeito protetor aos sintomas do TMC (Faulkner & Taylor, 2005), ou seja, se
sua prática for regular poderá influenciar em uma melhor qualidade do sono, em
melhorias nas funções cognitivas, no humor, na autoestima e no condicionamento
físico, produzindo efeitos que protegem o organismo contra um desequilíbrio na
saúde mental e física, que poderiam levar um indivíduo a desenvolver um TMC
(Calfas & Taylor, 1994).
Os resultados encontrados quanto à associação do NAF e TMC mostram que dos
estudantes ativos apenas 32.6% apresentavam predisposição a desenvolver algum
tipo de TMC, já os inativos apresentaram 67.4% de predisposição a desenvolver
algum tipo de TMC. Como não foi encontrado trabalho similar nas fontes
consultadas, optou-se por descrever estudos de base populacional que contemplem
em seus resultados essa associação. Num estudo de base populacional, realizado
no Colorado, também foi encontrada associação entre a atividade física e a
saúde mental da população estudada demonstrando que a população universitária
se encontra em situação de risco (Demont-Heinrich, 2009).
Foi encontrada maior prevalência de TMC em estudantes de Farmácia (24.2%),
seguido de Enfermagem com 22.1%, Biologia com 16.8%, Odontologia com 14.7%,
Educação Física com 12.6% e Nutrição com 9.5%. Um estudo realizado na
Universidade Federal de Pernambuco, com alunos dos cursos da área de saúde,
sobre prevalência de TMC e utilizando-se do SRQ-20 obteve como resultado uma
taxa de TMC de 34.1% entre os participantes, sem, contudo, considerar os cursos
separadamente, como no presente estudo (Facundes & Ludemir, 2005).
O presente estudo também mostra que quando verificada a frequência de
estudantes ativos e inativos dos cursos da área da saúde, o curso de Farmácia
obteve os melhores resultados, sendo 68.4% estudantes ativos e 31.6% estudantes
inativos. O curso de Educação Física teve como resultado 65.8% ativos e 34.2%
inativos; Nutrição teve 55.9% ativos e 44.1% inativos; Biologia teve 53.1%
ativos e 46.9% inativos; Odontologia teve 45.2% ativos e 54.8% inativos;
Enfermagem teve 41.7% ativos e 58.3% inativos.
Os resultados encontrados no curso de Farmácia mostraram que os universitários
apresentaram um maior nível de atividade física; no entanto, também apresentou
a maior prevalência de TMC. Uma possível explicação para esses achados é que
alguns desses estudantes podem estar realizando AF em excesso, em locais e
horários inadequados, e isso pode estar contribuindo negativamente com a alta
predisposição desses universitários ao desenvolvimento de TMC, visto que a
atividade física é benéfica desde que seja realizada na frequência, na
intensidade e na quantidade necessária ao bom funcionamento do organismo
(Scully, Kremer, Meade, Grahan, & Dudgeon, 1998), refletindo em pontos
positivos para a boa saúde mental.
Dentre os resultados de prevalência de TMC o menor encontrado foi no curso de
Nutrição, sendo que possível hipótese para o resultado encontrado é que os
universitários do curso estão conseguindo um equilíbrio fundamental entre suas
atividades do quotidiano, que inclui os estudos e outras tarefas diárias, e a
prática adequada e regular de atividade física.
Os estudantes concluintes (2 últimos períodos) dos cursos apresentaram maior
inatividade (58.5%), já os iniciantes apresentaram 44.7%, com associação
significativa (OR= 0.575, IC95%: 0.337−0.980). Resultados parecidos foram
encontrados em outros estudos (Bray & Born, 2004; Silva et al., 2007)
respetivamente no Canadá e no Brasil, que identificaram a presença de
estudantes mais ativos no início do curso que no término. Uma possível
explicação seria que no início da vida académica os estudantes tentam
equilibrar a vida de estudante com a vida pessoal e ao se aproximar do término
do curso eles tendem a reduzir seu NAF devido à redução de horas e/ou dias
disponíveis (devido a estágio, entrega de trabalho de conclusão de curso e
ofertas de emprego), que pode influenciar inicialmente na frequência e na
intensidade da prática de atividade física e posteriormente na ausência dela
(Silva et al., 2007). Logo estar no período inicial é um fator de proteção para
ser considerado ativo.
Neste estudo a prevalência de TMC foi maior no sexo feminino (47.6%)
comparativamente com o masculino (34.7%), no entanto sem uma diferença
estatisticamente significativa (p= 0.085). Resultados parecidos foram
encontrados no estudo de Lima et al. (2006), realizado na cidade de Botucatu '
São Paulo, onde verificaram a prevalência de TMC em estudantes de Medicina,
obtendo como resultado uma prevalência de 47.6% entre as mulheres e 39.7% entre
os homens. Outros estudos realizados em Pernambuco com cursos da área de saúde
(Facundes & Ludemir, 2005) e realizado em uma universidade da Bahia
(Almeida et al., 2007) comprovam o resultado encontrado na população de
universitários.
As características sociodemográficas foram apresentadas para caracterizar a
amostra, além de terem sido utilizadas na realização das associações com o
objetivo da pesquisa. Não houve associação estatisticamente significativa entre
as condições sociodemográficas, o NAF e a SM dos universitários. A possível
explicação é que devido o grupo de estudantes serem homogéneos em suas
características sociodemográficas e económicas, as pequenas diferenças perderam
sua importância; isso também aconteceu no estudo de Fiorotti et al. (2010) que
verificavam TMC em estudantes de Medicina e no estudo de Lima et al. (2006) que
verificaram a prevalência de fatores de risco para a saúde mental de estudantes
de Medicina.
No entanto a variável de situação laboral apresentou uma tendência, quando
considerada na associação aos níveis de atividade física, os estudantes que
trabalham foram identificados como mais ativos (59.7%), já os universitários
que não trabalhavam (44.9%) foram indicados como ativos. Isso pode ter
acontecido devido à prática de atividade física realizada muitas vezes na
própria função laboral que acaba por favorecer a prática regular de atividade
física de universitários que trabalham. O resultado encontrado indicou uma
tendência, talvez se o número da amostra fosse maior ou se abrangesse uma
quantidade de indivíduos mais velhos o resultado encontrado pudesse ser
significativo.
A categorização dos níveis de AF pode ter sido uma limitação dos instrumentos
do estudo, talvez por não deixar explicito os dados encontrados com a aplicação
do IPAQ e sua classificação antes da categorização, o que impede o conhecimento
dos dados agrupados e da distribuição exata em cada uma delas (Guedes et al.,
2006; Rodrigues et al., 2008). Deve ser considerado ainda que a equivalência
das variáveis investigadas possa variar em função da percentagem da amostra
(Hallal et al., 2005).
CONCLUSÕES
No presente estudo foi encontrada associação significativa entre os níveis de
atividade física e saúde mental dos estudantes universitários dos cursos de
saúde da UFAL, onde os estudantes classificados como inativos apresentaram três
vezes mais possibilidades de desenvolver transtorno mental comum que os
estudantes universitários ativos. Esse resultado contribui como evidência que o
período de graduação pode ser uma fase de risco para os universitários, seja
devido aos diversos estressores, à ausência de hábitos saudáveis, e à pouca e/
ou inadequada prática de AF durante esse período.
Logo é de fundamental importância para a saúde dessa população que sejam
elaboradas estratégias de prevenção e intervenção voltadas para esse grupo
populacional, sobretudo considerando programas de atividade física como
propostas para esse grupo na universidade.
Futuras pesquisas podem contribuir para uma melhor compreensão dos fatores de
risco e seus efeitos no desenvolvimento de TMC e sua relação com o nível de
atividade física em diferentes cursos universitários, visto que cada curso
apresenta características próprias e, no entanto, compartilham de condições
comuns que podem comprometer a saúde e prática de hábitos saudáveis dos
estudantes durante a sua formação académica.