Home   |   Structure   |   Research   |   Resources   |   Members   |   Training   |   Activities   |   Contact

EN | PT

EuPTCVHe1646-69182013000100017

EuPTCVHe1646-69182013000100017

variedadeEu
ano2013
fonteScielo

O script do Java parece estar desligado, ou então houve um erro de comunicação. Ligue o script do Java para mais opções de representação.

História da Sociedade Portuguesa de Cirurgia História da Sociedade Portuguesa de Cirurgia

Joaquim José Monteiro Bastos

Vivi a maior parte da minha vida profissional sob a direcção do Prof. Joaquim Bastos. Mais de trinta anos, num convívio que me deixou recordações tão profundas que a voracidade do tempo as apagará. Sabemos sempre muito pouco daqueles de que somos continuadores a não ser do que lhes é exterior. Ignoramos toda a sua vida interior e os pensamentos mais íntimos, onde procuramos penetrar pela análise dos actos do dia-a-dia. Tudo em vão.

O ambiente do seu mundo, no qual activamente participei, oscilava entre a frieza de um inverno rigoroso e a suavidade duma primavera cheia de alegria e força criadora. De feitio imprevisível gerava receios, mas também, e talvez por isso, uma vontade enorme de cumprir. E cumpríamos com lealdade, respeito e espírito de cooperação.

A sua honestidade e sentido de justiça despertavam admiração, estima e, por vezes, perplexidade.

Homem de cultura extraordinária, o seu génio criador aliado a uma capacidade de decisão invulgar permitiram-lhe participar activamente na reorganização dum mundo em acelerada mutação.

Pacheco Neves, amigo e colega, traçou um dia, assim, o seu perfil: "Homem profundamente crente, possuidor duma elevada formação moral e religiosa, talhado com a dureza das figuras medievais, procurou sempre vencer os obstáculos com que deparava e as dificuldades que iam surgindo com tenacidade férrea e com uma persistência que não quebrava… mas tudo quebrava..." O Prof. Joaquim Bastos por força da sua vocação original de saber, nunca teve repouso; aguilhoado pela ânsia de conhecer, viveu no contínuo esforço da inteligência para criar e transmitir aos seus discípulos o saber adquirido e incorporado profundamente na sua personalidade.

Paradigma de lealdade, honestidade e brio profissional, assim continuará nas nossas vidas e, através delas, nas dos nossos descendentes, marcando um momento histórico que com muita saudade recordaremos através do tempo que nos for dado viver.

NOTAS BIOGRÁFICAS Joaquim José Monteiro Bastos nasceu em Viana do Castelo, a 20 de Agosto de 1909.

Filho do saudoso Prof. Álvaro Teixeira Bastos, que foi catedrático de Clinica Cirúrgica da Faculdade de Medicina do Porto (FMP), licenciou-se nesta Faculdade em 1932, com 20 valores.

Foi então nomeado Assistente de Cirurgia, tendo trabalhado nos seguintes Centros de Estudo: Serviço de Clínica Cirúrgica (Profs. A. Teixeira Bastos, Morais Frias e Álvaro Rodrigues); Laboratório de Cirurgia Experimental da FMP (Prof. Hernâni Monteiro) 1934-1938; Centro de Estudos de Medicina Experimental do Instituto de Alta Cultura (Prof.

Hernâni Monteiro); Laboratório de Análises Clínicas (Prof. Malafaya Baptista) 1934-1938; Em 1938, prestou provas públicas de doutoramento, defendendo a tese "Notas sobre alguns efeitos de desperdício biliar", sendo aprovado por unanimidade.

Após o doutoramento, o Instituto de Alta Cultura concedeu-lhe uma bolsa de estudo em Itália, onde trabalhou no Instituto do Cancro em Milão sob a direcção dos Profs. Donati, Bulacossi e Pietro Rondoni. Mais tarde, com o Prof. Fasiani no Instituto de Clinica Cirúrgica de Milão, dividiu a sua actividade pelos dois Centros.

Em 1943 foi encarregado da regência do Curso de Propedêutica Cirúrgica e director de duas enfermarias de Cirurgia Geral do Hospital de Santo António.

Em 1946 concorreu ao lugar de Professor Extraordinário de Cirurgia da FMP, prestando provas públicas. Foi aprovado por unanimidade.

Merece referência muito especial a sua actividade como Professor de Propedêutica Cirúrgica.

Ficou a dever-se-lhe a organização e reestruturação dos programas de Semiótica Cirúrgica.

Em 1955-1956 a convite do Prof. Francisco Gentil frequentou o IPO de Lisboa.

Com a transferência da FMP para o Hospital de S. João (1959), foi nomeado Director do Serviço de Propedêutica Cirúrgica.

Em Julho de 1960, concorreu à cátedra de Propedêutica Cirúrgica então criada.

Foi aprovado por unanimidade.

Em Outubro de 1960, comemorando a 1000ª operação realizada no Hospital de S.

João, recebeu a medalha de ouro do Hospital.

Foi presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (1966). Eleito sócio titular da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa (1966).

Nomeado membro da Comissão Directiva do IPO (1967), teve papel destacado na criação do Instituto de Oncologia do Norte.

Membro da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia e Membro titular da Société Internationale de Chirurgie e do Colégio Internacional de Cirurgiões.

Nomeado Director Clínico do Hospital de São João (1970). Dirigiu o Laboratório de Radioisótopos da FMP (1964-1975).

Eleito primeiro Presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia (1979-1980).

Sucedendo ao Prof. Álvaro Rodrigues, ocupou a Cátedra de Clinica Cirúrgica, passando a dirigir o Serviço de Clínica Cirúrgica do Hospital de São João (1974).

Jubilou-se em Junho de 1979, tendo, sido condecorado pelo Sr. Presidente da República, General Ramalho Eanes, com o grau de Grande Oficial de Instrução Pública.

Após a jubilação, manteve a actividade científica. Publicou na totalidade 147 trabalhos científicos, 17 dos quais depois de jubilado, muitos deles em prestigiadas revistas estrangeiras.

Escreveu vários artigos de feição humanista e publicou uma autobiografia: "Fragmentos de uma vida". Jubilado, recebeu, entre outras, as seguintes distinções: Homenageado nas 8ªs Jornadas Portuguesas de Informação Médica, organizadas pelo Prof. Nuno Grande (1985), foi distinguido pelo Ministro da Saúde, com a Medalha de Ouro de Serviços Distintos do Ministério da Saúde.

Convidado de honra do XII Curso Internacional de Actualização de Cirurgia Digestiva (Madrid 1989) foi nomeado Membro de Honra da Associação Espanhola de Cirurgia, sendo o primeiro cirurgião português a receber esta distinção.

Em 1990 foi convidado de honra do Curso de Cirurgia Geral do Hospital de Santo António.

Faleceu na sua residência em Nevogilde, Porto, em 6 de Junho de 1996.

Valdemar Cardoso Pedro Bastos

Jaime Augusto Croner Celestino da Costa

O Professor Jaime Augusto Croner Celestino da Costa nasceu em Lisboa em 16 de Setembro de 1915 e faleceu em 2 de Fevereiro de 2010. Licenciou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa em 1998, com 18 valores de média. Dedicou- se à cirurgia e foi Professor de Cirurgia e Director de Serviço. Fez Escola e nas cerca de três décadas nesta actividade, influenciou, directa ou indirectamente, a formação de mais de meia centena de médicos que desempenharam depois lugares de destaque na Universidade e no Serviço Nacional de Saúde. Foi também um dos pioneiros da Cirurgia Cardio-Torácica entre nós, promovendo o seu desenvolvimento e lutando depois tenazmente para a sua individualização.

Carreira Hospitalar nos Hospitais Civis de Lisboa Internato Geral (1938 - por concurso competitivo de provas públicas) Internato Complementar de Cirurgia (1940 - idem) Cirurgião dos Hospitais (1948 - idem) Carreira Académica na Faculdade de Medicina de Lisboa.

2º Assistente de Cirurgia (1941 - por concurso competitivo de provas públicas) Doutoramento em Medicina (1945) Primeiro Assistente de Cirurgia (1946) Professor Extraordinário de Cirurgia (1951 - por concurso competitivo de provas públicas) Professor Catedrático de Cirurgia (1961 - idem) Lugares de Direcção no Hospital de santa Maria Director de Serviço de Cirurgia (1958) Chefe de Internos (1960) Director do Serviço de Urgência (1966) Director Clínico (1972/1975) Presidência de Sociedades Cientificas Sociedade Portuguesa de Cirurgia (1981/82) Sociedade Portuguesa de Cirurgia Cardio-Torácica e Vascular Associação Portuguesa de Pacing Cardíaco (Presidente Honorário) Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa (Vice-Presidente) Sociedade Portuguesa de Cardiologia (Vice-Presidente) Prémios Prémio Archibald Young (1938) Prémio Sânitas (1946) Distinções Honoríficas Oficial da Legião de Honra (1974) Grande Oficial da Ordem da Instrução Pública (1985) Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago de Espada (1985) Medalha de Honra da F.M.L. (2005) Medalha de Honra do Ministério da Saúde (2005 Publicações e Comunicações Foi escritor e comunicador, autor de numerosos artigos e intervenções (mais de duas centenas e meia), não na área estritamente científica, mas também em temas de relevância profissional (o "Relatório das Carreira Médicas", 1959, de que foi um dos autores e signatário, teve reconhecida influência na organização médica nacional), reflexões sobre o ensino médico e biografias, uma delas, "Um certo conceito de Medicina" é uma autobiografia acompanhada de comentários e reflexões sobre pessoas e acontecimentos do seu tempo.

Dados Pessoais Era um homem ético, intransigentemente coerente com os seus princípios. Tinha as características natas de líder, e assim foi, e sê-lo-ia sempre em qualquer profissão. Espírito naturalmente jovem, aberto à inovação e avesso ao conformismo, de inteligência viva, memória fiel, palavra fluente e sentido de humor, constituía uma presença apreciada e estimulante. Cultura abrangente nas artes e nas ciências como revelam os seus escritos, era seduzido sobretudo pela música clássica, sendo melómano apaixonado, além de pianista muito razoável e possuidor de conhecimento erudito da música e dos seus intérpretes. Uma palavra ainda para a Arte Equestre, onde adquirira também reconhecida e respeitada competência. Não era apenas o prazer lúdico da equitação, mas sim a arte de adestrar um animal, convertendo-o num complemento da vontade do cavaleiro, pronto a executar os mais esforçados passes da Alta-Escola.

Conclui-se assim o sumário biográfico desta personalidade que ficará entre os Mestres da Cirurgia Portuguesa.

Fernando Paredes

Bártholo Thumannn do Valle Pereira

O Professor Doutor Bártholo do Valle Pereira, nasceu no Porto em 25 de Maio de 1918, e se licenciou em Medicina em Julho de 1941 tendo sido doutorado em 1946 pela Universidade do Porto. Oriundo da escola do Prof. Doutor Álvaro Rodrigues, ainda no Porto e enquanto 1º Assistente da Faculdade de Medicina do Porto, estagia em Londres a partir de Janeiro de 1950 no Brompton Hospital e no National Heart Hospital, com a intenção de se diferenciar em cirurgia pulmonar e cardíaca e de actualizar a cirurgia esofágica.

É, após este estágio em Londres e depois de concluído o concurso para Professor Extraordinário de Cirurgia em Julho de 1957, que é convidado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra para ocupar uma vaga do grupo de Cirurgia, entretanto muito carenciado. Assim, em Novembro de 1957, assume a direcção do Serviço de Patologia Cirúrgica que manteve durante quatro anos e meio, passando depois e até à sua jubilação em 1988, a assumir a direcção do Serviço de Clínica Cirúrgica e a reger a respectiva cadeira da Faculdade de Medicina de Coimbra.

Se, durante a sua estadia no Porto e na sequência da sua aprendizagem em Londres, lhe foi possível efectuar as primeiras esofagectomias e intervenções de cirurgia cardíaca, como a comissurotomia mitral e a operação de Blalock é, efectivamente em Coimbra, que realiza intervenções pioneiras, nomeadamente a cirurgia de coração fechado com particular destaque para a primeira correcção da coartacção da aorta em Portugal pela operação de Crafoord, em 1958, a pericardiectomia e a correcção da persistência do canal arterial.

Saliente-se ainda que é com ele que, em Coimbra, se iniciam de uma forma consistente e segura a esofagectomia total e sub-total com esofagocoloplastia, a cirurgia da hipertensão portal, a duodenopancreatectomia cefálica, a ressecção anterior do recto e a cirurgia da glândula supra-renal.

Toda esta evolução foi possível porque o Prof. Doutor Bártholo Pereira era dotado de uma técnica operatória exímia e de uma elegância gestual que, aliada aos seus vastos conhecimentos científicos e ao seu reconhecido bom senso no momento na decisão operatória, lhe permitiram a concretização destas diferentes intervenções com elevadas taxas de sucesso, das quais são credores os seus inúmeros doentes.

A sua paixão pela cirurgia cardíaca levou-o a criar um sector de Cirurgia Cardiotorácica, que veio a ser o embrião do actual Serviço de Cirurgia Cardiotorácica dos HUC.

Enquanto director do Serviço de Clínica Cirúrgica e como seus colaboradores, passaram cirurgiões que procurou influenciar e orientar para áreas como a Cirurgia Plástica, a Cirurgia Maxilo-Facial, a Cirurgia Pediátrica, especialidades que progressivamente e ao longo dos anos se foram individualizando e por esses mesmos cirurgiões foram chefiadas. De referir a existência no Serviço de um sector de Ortopedia, então com três colaboradores, que vieram a integrar o Serviço de Orto-traumatologia criado após o 25 de Abril.

O seu indiscutível prestigio, justificou o facto de ter sido um dos primeiros Presidentes da Sociedade Portuguesa de Cirurgia, (9º) cumprindo o seu mandato em 1983/84.

Durante os anos em que esteve à frente do Serviço de Clínica Cirúrgica dos HUC numerosos foram os seus colaboradores, quer como assistentes da Faculdade quer como médicos da carreira médica hospitalar, que tiveram o privilégio de com ele aprender e de conviver usufruindo da excelência das suas qualidades científicas. O Prof. Doutor Bártholo Pereira era um homem íntegro e de grande verticalidade, imbuído de apurados princípios humanistas que fizeram dele um exemplo de Cirurgião e Homem, o que justifica a admiração de todos os que com ele trabalharam.

Os seus discípulos não se confinaram à Faculdade ou a Coimbra e foram guarnecendo diferentes Serviços de Cirurgia no País, alargando a influência da sua escola, conferindo-lhe um prestígio abrangente que orgulha todos os que tiveram o privilégio de a ela pertencer, contribuindo assim, para perpetuar a sua Memória de notável Professor e de Cirurgião.

Eduardo Xavier da Cunha xavierdacunha@mail.telepac.pt

Artur Manuel Giesteira de Almeida

Um dos mais distintos dos cirurgiões portugueses e um insigne professor universitário, nasceu no Porto em 1925, onde fez o curso liceal e a licenciatura em Medicina e Cirurgia que concluiu em 1948, com a média de 17 valores.

Durante o curso trabalhou voluntariamente no Instituto de Anatomia e Cirurgia Experimental e no Serviço de Anatomia Patológica, na procura do saber que lhe foi corporizando a vocação para a exigente carreira de cirurgia.

Iniciou a sua carreira docente universitária no Serviço de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina do Porto (F.M.P.) como assistente voluntário (1948), depois como 2º Assistente (1949) e em 1956 como 1º Assistente após provas de doutoramento em que foi aprovado com 18 valores.

Consciente de que o exercício da medicina exige uma aprendizagem permanente realizou estágios em Hospitais de Madrid (1955), de Paris (1960), de Santiago de Compostela (1978) e de Londres (1980, 1981 e em 1982); fez visitas de estudo a Hospitais de Joanesburgo e da cidade do Cabo; frequentou múltiplos cursos de actualização.

Iniciou a sua actividade no Serviço de urgência destacado na turma de Clínica Cirúrgica, primeiro no Hospital Geral de Santo António desde 1953 e a partir de 1959, no Hospital de S. João, como chefe da respectiva turma, até à sua saída para Moçambique.

Em 1962, em concurso, é aprovado por unanimidade para uma vaga de professor Extraordinário do 7º Grupo da F.M.P.. Nesta qualidade e após convite é nomeado em comissão de serviço para desempenhar funções nos Estudos Gerais de Moçambique. Em 1967 concorreu à vaga de Professor Catedrático de Propedêutica Cirúrgica da Universidade de Lourenço Marques (U.L.M.), provas realizadas na F.M.P., tendo ficado aprovado.

Nesta U.L.M. para além das funções docentes e da missão de estruturar o ensino das cadeiras de cirurgia, como membro do Senado, estudou e colaborou no estudo das novas perspectivas para o ensino superior.

Entretanto foi nomeado para desempenhar as funções de Director Clínico do novo Hospital da U.L.M. e, nessa qualidade, pertencer à respectiva Comissão Instaladora e Administrativa. Nestas exigentes actividades foi um infatigável entusiasta e dedicado obreiro da U.L.M..

A título gracioso foi Consultor Técnico de Cirurgia do Exército em Moçambique e estabeleceu as bases de interligação médico-cirúrgica entre o Hospital da Universidade e o Hospital Militar de Lourenço Marques.

Finda a Comissão de Serviço Público, em 1970, regressou ao Porto e retoma as suas funções ao lado do seu Mestre, Professor Doutor Álvaro Rodrigues. Pouco depois é-lhe conferida a regência da cadeira de Medicina Operatória e, por inerência, é nomeado Director do respectivo Serviço do Hospital de S. João (H.S.J.).

Sucessivamente foi-lhe atribuída a regência de Patologia Cirúrgica (1975-1976) e depois de Clínica Cirúrgica (1981-1982). Na docência sempre motivou os alunos a uma participação activa e passou a fornecer um sumário detalhado com bibliografia respeitante a cada aula teórica.

Foi eleito Coordenador da Comissão Científica do 7º Grupo (Cirurgia) e por inerência, membro do Conselho Científico da F.M.P., até à sua reforma. Sempre se preocupou com a formação médica pós-graduada e assim no Serviço organiza reuniões clínicas semanais e uma biblioteca actualizada, além de promover no H.S.J., três Simpósios Internacionais.

O seu sentimento institucional pela cirurgia leva-o a aceitar a Direcção do Bloco Operatório e a estar disponível para a apoiar a Unidade de Cirurgia Pediátrica. Em 1974, apoia a montagem e funcionamento no Serviço de uma Unidade de Endoscopia Digestiva e Biopsias que orientámos e que foi da maior utilidade assistencial.

Como médico activo e interveniente foi eleito para o cargo de Vogal do Conselho regional do Norte da Ordem dos Médicos (1959-1961) tendo participado em particular na discussão das carreiras médicas.

Sócio de várias Sociedades Cientificas, devido ao seu elevado prestígio foi eleito para Presidente da Sociedade de Cirurgia, no biénio de 1985-1986 Da cerca de meia centena de trabalhos científicos publicados a destacar a sua Tese de Doutoramento, clínica e experimental, sobre "Alguns aspectos Etiopatogénicos das Pancreatites Agudas" e um trabalho sobre "Hipotermia Selectiva do Fígado. Estudo Experimental de uma Nova Técnica Operatória" (2º Prémio Pfizer, 1964).

Foi praticante de esgrima e de alguma culinária!.. Numa das vezes que por amizade fui convidado para jantar em sua casa, com surpresa foi servido, com requinte, um delicioso assado de um pargo recheado, por si confeccionado.

Em 2010 passou para além da vida e do tempo mas a sua dimensão humana e profissional perdurará na memória dos qualificados cirurgiões que formou e de todos os que privilegiaram com a sua convivência.

António Manuel Estima Martins

José Manuel de Britoe Castro Mendes de Almeida

Nasceu a 19/9/1931, na Vila de Fronteira, Alentejo.

Filho de um médico que foi o seu primeiro modelo profissional. Teve uma mãe admirável. Tem tido praticamente sempre a representação da família, que se manteve unida ao longo dos anos.

Em 1948, entrou para a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, onde frequentou os três primeiros anos, tendo-se transferido, no quarto ano, para a Faculdade de Medicina de Lisboa. Conheceu, nessa altura, a sua mulher, Judite, fantástico apoio em toda a sua vida.

Em 1954,começou, ainda aluno, a trabalhar com o Professor Cândido da Silva, no Serviço do Professor João Cid dos Santos. Em 1957,entrou em concurso de Provas Públicas para o Internato dos Hospitais Civis de Lisboa. Em 1961, teve uma Bolsa de Estudos concedida pela NATO, para aperfeiçoamento em queimaduras e em cirurgia plástica e da mão. Frequentou Cursos Pós graduados em Londres, Paris, Roma e nos Estados Unidos da América do Norte, que muito contribuíram para a sua formação.

Ainda em 1961,foi reincorporado nas Forças Armadas e fez uma comissão de serviço em Angola até 1964,tendo sido o seu mérito reconhecido pelo Comandante do Batalhão de Páraquedistas com um extenso louvor por acção em combate.

Em 1974, com o Prof. Machado Macedo e o Dr. António Marques da Costa, sentiu a necessidade de criação da Sociedade Portuguesa de Cirurgia. Foi criada uma comissão para seu início com Machado Macedo, Veiga Fernandes, Marques da Costa e Cabrita Carneiro. Seria presidida pelo Prof. João Cid dos Santos, cujo precoce desaparecimento provocou considerável atraso. Em 1976, conseguiu fundos dados por todos os cirurgiões, que permitiram realizar a 1ª Reunião da Sociedade, a qual decorreu no IPO de Lisboa. Em 1978, tiveram lugar as primeiras eleições, tendo sido eleito Secretário Geral da Sociedade Portuguesa de Cirurgia.

Em 1986, foi eleito Presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia.

Em 1970,tinha sido aprovado, em mérito absoluto e relativo, para Cirurgião dos Hospitais Civis de Lisboa, o título mais difícil e cobiçado daquela época.

Foi Director do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital de Stª. Marta e seu Director Clínico por eleição. Em 1989,foi convidado para Director da Clínica Cirúrgica 9 e Director de Departamento de Cirurgia do IPO de Lisboa, funções que desempenhou até à aposentação em 2001.

Foi Secretário Geral, durante catorze anos, e Presidente da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa (1996-2000).

Foi Presidente da Sociedade Médica dos Hospitais Civis de Lisboa. Foi, ainda, Director Clínico do Hospital CUF-Descobertas.

É Membro Honorário da Associação Francesa de Cirurgia e do Colégio Brasileiro de Cirurgiões Gasteroenterológicos. Faz parte do American College of Surgeons.

Foi fundador do GEEMO, Grupo Europeu para as Doenças do Esófago e foi Presidente da sua Reunião em Lisboa.

Foi membro fundador da Associação Europeia de Video-Cirurgia e foi Presidente da sua Reunião em Lisboa.

É Cidadão Honorário e foi-lhe atribuída a Medalha de Ouro da sua terra de nascimento.

Possui a Medalha de Ouro atribuída pelo Ministério da Saúde pelos serviços prestados.

Foi-lhe atribuída, também, a Medalha de Ouro pela Ordem dos Médicos.

Foi agraciado com a Ordem de Mérito pelo Presidente da República, Prof. Cavaco Silva em 10 de Junho de 2010.

Com habilidade cirúrgica notável, inteligente, sensato, arguto e inovador era constante a sua preocupação na transmissão de conhecimentos. O seu interesse na formação pós graduada é um exemplo a seguir. Incentivou e enviou vários colaboradores para centros no estrangeiro. Foi, em várias áreas da cirurgia, uma referência nacional, nomeadamente na cirurgia da hipertensão portal, no cancro do esófago e cárdia, no carcinoma do estômago e no cancro do recto.

Contemporâneo e amigo de E. Moreno Gonzalez, Alberto Peracchia, J. Rudiger Siewert David B Skinner, Murrey F. Brennan, De Meester, T. Lerut, e Jean-Marie Collard, convidou-os, entre outros, a vir a Portugal como palestrantes.

Não esquece os seus colaboradores e discípulos que têm por ele o maior apreço: António Júdice Pargana, Carlos Falcão Afonso, Victor Melo Santos, Eugénio Albergaria, Jorge Rosa Santos, Carlos Canto Moniz, Álvaro Sousa Ramos, Luis Orey Manoel, Miguel Abecassis, José Crespo Mendes de Almeida, Nuno Abecassis, Maria da Conceição Santinho, Manuel Limbert e eu próprio.

Nesta fase da sua vida, penso haver uma palavra que o define: EMÉRITO.

António Bettencourt antbettencourt@hotmail.com

Luís José Moreira Martins Raposo

É-me sempre grato e motivo de recolhimento desfolhar páginas da minha memória referentes ao Professor Doutor Luís José Raposo. Tive a ventura de o acompanhar durante mais de trinta anos e de usufruir da riqueza de tão distinto Mestre Universitário, Cirurgião e Cidadão.

A sua figura, a sua postura sugeriam tratar-se de alguém que transparecia serenidade e distinção. Elegante nas maneiras e no trato, dava atenção e era prestável a quem dele se abeirasse, sem discriminar destrinças pessoais.

Em Luís José Raposo transparecia a figura insigne de seu Pai, o Professor Luís Raposo, cidadão de mais elevada estirpe com total entrega à Pátria - como médico esteve nas trincheiras da linha da frente na primeira Guerra Mundial e por actos heróicos recebeu múltiplas condecorações que incluíram a Cruz de Guerra - à Família, à Faculdade de Medicina, ao Hospital e ao Instituto Português de Oncologia, de cujo Centro em Coimbra foi fundador.

Iniciou a sua carreira na época em que surgiam os antibióticos e no Serviço dirigido por seu Pai e estagiou em Serviços de Cirurgia de renome mundial, de Barcelona, Lyon e Paris. Assim conviveu com Mallet Guy, Santz, Bertrand, Marcel Bernard, Hepp, d'Allaines, Caroli, cujas amizades cultivou.

Ao longo de quase meio século acompanhou e exerceu alguns dos imensos avanços da cirurgia e ajudou a divulgá-los pelo País: aconteceu na Cirurgia Pulmonar, na cirurgia dirigida à úlcera duodenal, ao cancro da mama, do cólon e do recto, à cirurgia das vias biliares e da hipertensão portal, à microcirurgia, à laparoscopia. Nas situações em que não era cirurgião a sua presença de apoio e estímulo era certa.

Para além de ter sido protagonista nas mudanças de conceitos fisiopatológicos e de técnicas cirúrgicas, foi-o também de mentalidades, nomeadamente das mentalidades comportamentais que agrediam os colaboradores para neles criarem respeito temeroso.

Não facilitava mas instigava os colaboradores a estabelecerem contactos nacionais e internacionais. Foi pois um chefe aberto à iniciativa e desenvolvimento individual, à criação de "competências" nos diversos campos da cirurgia, sem que isso significasse desmembramento do Serviço, antes formação de um todo diversificado, uno e coeso.

Concerteza que o Serviço não esteve isento de problemas, incómodos e divergências de opiniões. Mas Luís José Raposo possuía atributos que não permitiam o afastamento da rota que decidira e fazia cumprir. Era escrupuloso na observância do que assumia ser seu dever e hábil na prevenção e na resolução de conflitos que geria com imparcialiadade e coerência.

As suas preocupações eram dirigidas pela pedagogia. O rigor, a que se obrigava na leccionação pré-graduada era exemplar e os colaboradores seguiam-no naturalmente. Idêntica era a postura no ensino pós-graduação.

Não era por acaso que acorriam interessados a estagiar no Serviço que dirigia.

É que sabiam que indicava caminhos, ajudava cada um a progredir na senda que escolhia, mas não contemporisava com desvios, antes exigia elevada eficiência e qualidade, competência científica e técnica.

Mesmo quando na crítica correctiva era veemente, fazia-a com rudeza mas sem vexar nem agredir.

Sob a sua tutela formaram-se múltiplos cirurgiões que se distribuíram por todo o País. Alguns prestaram Provas de Aptidão Pedagógica e outros, três, doutoraram-se e progrediram nas carreiras hospitalar e universitária.

Na técnica cirúrgica era exímio pela leveza e elegância dos gestos que completavam as características científicas do cirurgião. Não temia as dificuldades, mas conhecia as possibilidades que o acto operatório permitia.

Conjugava a ponderação, a segurança e o talento com a prudência.

Sempre foi considerada a sua relevante eficiência e intenção permanente de valorizar e projectar a sua Faculdade, o seu Hospital e o IPO cuja cirurgia dirigiu durante décadas.

No Homem a dimensão material está intimamente ligada, prolongada, na dimensão espiritual. Alguns minutos após ter conhecido a amplitude da sua doença, deu conhecimento a dois colaboradores; fê-lo em confidência e em aceitação serena de quem conhece e sentido à existência efémera. A serenidade traduzia a formação espiritual sedimentada e enriquecida e estruturada ao longo dos anos no seio da sua Família, dos seus discentes, dos seus pares, dos seus doentes.

João Baptista Patrício

António Manuel Sampaio Araújo Teixeira

António Manuel Sampaio Araújo Teixeira nasceu no Porto em 29 de Novembro de 1931. Frequentou a instrução primária no Colégio Universal e o Liceu no D.

Manuel II, ambos na cidade do Porto.

Licenciou-se em Medicina em 1956 na Universidade do Porto com a classificação de 18,4 valores. Em 1966 doutorou-se na mesma Universidade com 19 valores com a dissertação "Repercussões Coledócica e Hepática na Cirurgia do Esfincter de Oddi". Concorreu a Professor Extraordinário tendo sido classificado em Mérito Absoluto por unanimidade. Em 1976, após concurso de provas públicas foi aprovado por unanimidade como Professor Catedrático de Cirurgia tendo tido a seu cargo sucessivamente a regência de Medicina Operatória, Patologia Cirúrgica e Clínica Cirúrgica. Foi ainda coordenador do ensino de Cirurgia.

Iniciou a sua carreira hospitalar no Hospital de Santo António onde foi classificado com 19 valores no Internato Geral e com 20 valores no Internato de Cirurgia.

Foi convidado médico eventual do Hospital de S. João e Assistente da Faculdade de Medicina até 1969.

Frequentou durante doze meses o Serviço de Cirurgia do Hospital Bichat em Paris sob a direcção do Doutor Jacques Hepp e Professor Maurice Mercadier tendo-lhe sido atribuído o título de Assistente Estrangeiro da Faculdade de Medicina de Paris.

Organizou e foi Director do 10 Serviço de Cirurgia do Hospital de Vila Nova de Gaia entre 1967 e 1975. Foi neste ano eleito Director Clínico do mesmo Hospital.

No Hospital de S. João foi Director do Internato Médico, Director do Serviço de Cirurgia Experimental, Director do Bloco Operatório e Director do Serviço de Cirurgia II até 2001 altura em que se jubilou.

A Ordem dos Médicos concedeu-lhe os títulos de Especialista em Cirurgia e em Gastrenterologia. Desempenhou as funções de Presidente do Conselho Científico da Faculdade, Presidente do Colégio dos Cirurgiões da Ordem dos Médicos, Presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia, Presidente da Sociedade Portuguesa de Coloprotologia, Delegado Português do International College of Surgeons, Delegado Português do International Society of Surgery, Vice-Presidente do 34th Congress I.S.S/S.I.C.

(Cairo). Realço a organização da Reunião Internacional de Cirurgia Digestiva durante vinte e cinco anos consecutivos. É igualmente justo destacar a organização do Congresso Mundial de Cirurgia, em Lisboa, a cujo comité local presidiu, evento que mais de meio século não se efectuava em Portugal.

Orientou as teses de doutoramento do Prof. Catedrático A. Carlos Saraiva, Prof Auxiliar A. Costa Cabral e do Professor Associado com Agregação João Paulo Araújo Teixeira.

Foi convidado por várias Universidades estrangeiras a proferir palestras sobre Oncologia Colo-rectal (Chicago, Toronto, Tókio, Hong-Kong, Paris, Bolonha, Genéve, Madrid, Pádua e Atenas).

É sócio de várias Sociedades Científicas nacionais e estrangeiras e integrou a Comissão Editorial de algumas Revistas quer portuguesas quer estrangeiras.

Após a Jubilação desempenhou ou desempenha variados cargos no Instituto Piaget de Portugal da mais alta importância e responsabilidade.

Foram-lhe concedidas as seguintes distinções: Membro da Academia Francesa de Cirurgia, Membro de Honra da Associação Francesa de Cirurgia, Medalha de Mérito da Cidade do Porto, Louvor do Ministério da Saúde, Légion d'Honneur National de France, Prémio Nacional de Oncologia, Grã-Cruz da Ordem de Instrução Pública.

O seu serviço foi uma referência na Cirurgia Digestiva Portuguesa. Foi pioneiro da Cirurgia Mini-invasiva e da Transplantação Hepática, na cidade do Porto.

Por fim, seja-me permitido referir o grande orgulho e honra por ter sido leal colaborador durante dezenas de anos no Serviço de Cirurgia II e na Clínica Privada do Homem, do Mestre e do Amigo.

José Ramalhão

Jorge Eduardo Ferreira Girão

Conheci pessoalmente o Dr. Jorge Girão em 1974 quando mudei de Hospital e de Serviço de Cirurgia, para continuação do Internato da Especialidade em condições e perspectivas que considerei serem-me mais vantajosas.

Uma destas perspectivas era, precisamente, poder trabalhar e aprender a arte da cirurgia com o Dr. Jorge Girão.

O Dr. Girão era um dos grandes cirurgiões de Lisboa e um dos chamados "Grands Patrons" daquela época, designação e personalidades que desapareceram entretanto, com o passar do tempo e com a evolução da prática da cirurgia.

Era também considerado - por quem o não conhecia - como uma pessoa "difícil"; vim a verificar que isto não correspondia, de todo, à realidade e que mais não era do que a manifestação de uma personalidade tímida e que assim reagia ao que o rodeava. No entanto, sabia bem impor as suas directivas e as suas regras de trabalho.

Foi Director do Banco de Urgência do Hospital de S. José; gostava muito da actividade da urgência e procurou intensivamente melhorar a estrutura e as condições de trabalho no Banco.

Foi Director Clínico do Hospital da CUF (ainda antes de ser "CUF Infante Santo") e, numa fase difícil daquele Hospital, pertenceu ao pequeno grupo de "ferrenhos" que o salvou da insolvência e o manteve, não a funcionar, mas com o seu prestígio conservado, bem como com o seu modo de funcionamento, peculiar naquela ocasião, como suporte para muitos dos trabalhadores que a ele recorriam, por via dos seus direitos assistenciais e de uma segurança social precursora e existente no Grupo CUF.

Foi o pioneiro português da Cirurgia hepática ao começar a dedicar-se a este tema quando estava ainda colocado no Hospital de Santa Maria, efectuando a primeira hepatectomia regrada em Portugal, quando esteve colocado no serviço 5 do Hospital dos Capuchos.

Passou mais tarde para o serviço 6 do Hospital dos Capuchos onde permaneceu até se retirar, primeiro como Chefe de Serviço (Assistente como eram chamados na altura), e depois como Director.

A sua passagem e início de Carreira no Hospital Universitário terá sido a grande influenciadora da sua paixão pelo ensino, que bem tentou implementar, de forma estruturada, nos Hospitais Civis de Lisboa, no Serviço 6, imediatamente após o 25 de Abril; falhou essa tentativa por posicionamentos a que foi alheio e que muito o entristeceram. O ensino nos HCL foi implementado bastante mais tarde e nele esteve envolvido, ainda que não da forma que entendia como tendo sido a mais desejável.

Durante o período em que esteve no serviço 6 esteve ligado a uma actividade cirúrgica muito pujante. Com grande número de cirurgias major e com a introdução progressiva e sempre atempada de todas as inovações em manuseamento de doentes cirúrgicos, quer quanto a métodos de diagnóstico quer quanto a implementação de técnicas cirúrgicas.

Esteve ligado à introdução de várias inovações técnicas na cirurgia, sobretudo na área Hepato-bilio-pancreática que tanto acarinhava. Sendo um cirurgião profundamente tradicional e um clássico representante da velha escola nacional e europeia desses tempos (anos 60 e subsequentes) tinha, contudo, espírito muito aberto e a vontade de conhecer novas perspectivas, o que permitiu que viesse a estar envolvido - directa e indirectamente - na introdução em Portugal de muitos avanços cirúrgicos importantes: arteriografia selectiva hepática, coledocoscopia, técnicas percutâneas transhepáticas, intubações de tumores das vias biliares, ultrassonografia intra-operatória e técnicas de microcirurgia transanal. Também esteve ligado a uma tentativa de introdução do manuseamento das técnicas de endoscopia por parte dos cirurgiões, em especial ao procurar aplicar técnicas de destruição por laser de tumores esofágicos.

No caso particular da cirurgia laparoscópica, apesar das suas reticências quanto à validade e senso da técnica, foi com a referida curiosidade e abertura científica que a viu evoluir e nunca obstaculizou a sua aprendizagem nem o seu desenvolvimento e introdução no Serviço, o que levou a que fosse efectuada a segunda colecistectomia laparoscópica entre nós. Mais tarde veio a render-se em grande parte às vantagens da técnica, tendo-a adoptado em várias ocasiões.

Nessa mesma linha entusiasmou-se pelo projecto de lançamento em Portugal de um programa de transplantação hepática, projecto que contribuiu para a sua passagem pelo Hospital de S.Francisco Xavier onde pretendia aplicar um plano que levaria ao arranque de uma estrutura inovadora, quer quanto à organização e funcionamento do Serviço de Cirurgia, quer quanto a todo o Hospital. Este plano, por razões várias, não se conseguiu concretizar, nos moldes então propostos.

Os ventos da fortuna não lhe foram favoráveis nestes dois últimos anos e, tendo-se mantido activo e em boa forma até muito tarde, acabou por se decidir pela reforma para gozar a vida e os seus entretenimentos pessoais, muitos deles culturais, complementados por uma excelente colecção de arte moderna que se completava por profundos conhecimentos da mesma. O infortúnio de uma doença súbita e grave atirou-o para um internamento prolongado, iniciado muito pouco tempo após a retirada e durando até aos dias de hoje; merecia bem poder ter tido a oportunidade de apreciar os prazeres de uma vida sem as responsabilidades clínicas.

José Manuel Schiappa de Carvalho schiappa.lund@net.vodafone.pt

Francisco José Franqueira de Castro e Sousa

Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, desde 1990, Francisco José Franqueira de Castro e Sousa nasceu em Coimbra a 19 de Maio de 1947, filho de Francisco de Castro e Sousa e de Maria de Lourdes de Azevedo Franqueira Dias de Castro e Sousa.

Em 1969, obteve, com a classificação final de 19 valores, a licenciatura em Medicina pela Universidade de Coimbra, onde, em Outubro de 1982, prestou provas públicas de Doutoramento em Medicina com a dissertação "Tratamento Cirúrgico da Ascite Cirrótica" sendo aprovado por unanimidade, com distinção e louvor.

Abraçou, com entusiasmo, a Cirurgia Geral, especialidade que obteve em 1976 com a classificação final de Muito Bom com distinção e louvor.

Para além de uma carreira académica notável, também na carreira hospitalar se distinguiu. Chefe de Serviço dos Hospitais da Universidade de Coimbra, desde 1988 e com a classificação final de 20 valores, é, desde 25 anos, Diretor do Serviço de Cirurgia III dos Hospitais da Universidade de Coimbra (agora designado por Serviço de Cirurgia A do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra) de que foi membro da Direção Clínica (1988 a 1995).

Foi "Médecin Resident Étranger dês Hôpitaux de Paris" no Serviço do Professor Henri Bismuth e do Professor Monod-Brocca (1977 a 1980).

Na qualidade de Professor e Cirurgião, visitou ou realizou vários estágios no "Mount Sinai Hospital" em Nova York, no "Hospital Kobenhvns" na Dinamarca, no "New England Deaceness Hospital" em Boston, na "Lahey Clinic" em Burlington, no "Hôpital Paul Brousse - Centre Hépato-Biliaire" em Paris, na "Mayo Clinic" de Rochester, no "Hospital Clínico de Barcelona", entre outros.

É membro da Sociedade Portuguesa de Cirurgia (desde 1976), tendo sido seu Presidente (1994 a 1996), e exercendo atualmente as funções de Coordenador do Capítulo de Cirurgia Hepato-Bílio-Pancreática.

Foi Presidente da Sociedade Portuguesa de Coloproctologia (1997 a 1999).

É Professor Honorário da Universidade Complutense, e membro honorário da "Association Française de Chirurgie", da "Academia Romana di Chirurgia" e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Digestiva.

Membro efectivo de várias Sociedades Científicas Nacionais ou Internacionais, foi Vice-Presidente da direcção do "International College of Surgeons" (1988 a 1990), Presidente do Capítulo Português da "World Hepatic, Pancreatic and Biliary Association" (1989 a 1991), membro da Direcção da "Euro Surgery" (1995 a 1997), membro da Comissão Científica da "European Association of Video-Surgery", delegado português da "International Society of Surgery (ISS) / Sociétè International de Chirurgie (SIC) (desde 2009), Presidente do Capítulo Português do "American College of Surgeons" (desde 2009).

Criador de conhecimento, colabora ou colaborou nas mais prestigiosas revistas nacionais e internacionais de Cirurgia onde são inúmeras as publicações de que é autor. Não menos foram as conferências e comunicações a congressos, vários dos quais organizou, assim como cursos nacionais e internacionais que ministrou ou concretizou.

"Personalidade de referência da Escola que representa", "universitário e cirurgião insigne com inegáveis qualidades de chefia", "trabalhador incansável e exigente consigo próprio", "notável investigador e pioneiro em diversas técnicas cirúrgicas", "um dos mais conhecidos cirurgiões portugueses no estrangeiro", são inequívocos os contributos de Francisco Castro e Sousa para a Cirurgia, e inquestionável a forma como prestigiou a Cirurgia Portuguesa, a Universidade de Coimbra, a Faculdade de Medicina e os Hospitais da Universidade de Coimbra, que sempre serviu.

É, pois, um exponente vivo da Alma Mater Conimbricense! José Guilherme Tralhão jglrt@hotmail.com

António Germano Pina da Silva Leal

O Professor Doutor António Germano Pina da Silva Leal, nasceu na Cidade do Porto, em 15 de Junho de 1931.

Concluiu o curso liceal no Liceu Normal de D. Manuel II do Porto, atingindo a licenciatura, em 21 de Janeiro de 1957, com a média final de 17 valores.

Foi contratado como médico eventual do Serviço de Clínica Cirúrgica passando a 2º assistente da Faculdade de Medicina do Porto desde essa data até 1 de Abril de 1970, data em que foi nomeado 1º assistente, sob a égide do Professor Doutor Álvaro Rodrigues e, a partir de 1994, sob a do Professor Doutor Amarante Júnior.

Doutorou-se com a tese «Pancreatites agudas - contribuição experimental» em 24 de Novembro de 1973.

Professor auxiliar da Faculdade de Medicina desde 12 de Dezembro de 1973.

Ministrou aulas teóricas de Patologia e Clínica Cirúrgica em comissão efectuada em Angola.

Colaborou, intensamente, em várias iniciativas da Universidade e da Faculdade tendo sido nomeado membro da Comissão Pedagógica durante o período de 1974 a 1979.

Eleito pela Assembleia de Docentes para representar a Faculdade de Medicina na Comissão de reestrutura e democratização do Hospital de S. João, em Outubro de 1974.

Contactou e trabalhou com várias individualidades relevantes da Cirurgia Nacional e Internacional, durante toda a sua vida profissional.

Chefe de equipa, durante vários anos, no Serviço de Urgência do Hospital de S.

João.

Adquiriu o título de gastrenterologista em Março de 1971 e de Chefe de Serviço de Cirurgia em 1977. Director da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto de 1986 até 1991.

Representante, em 1977, da «Comissão Pró - Sociedade Portuguesa de Cirurgia», presidindo ao acto eleitoral, realizado em Julho desse ano em Lisboa.

Director do Serviço de Propedêutica Cirúrgica - Cirurgia 1, de 9 de Julho de 1994, até à sua jubilação em 15 de Junho de 2001.

Presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia, no biénio de 1996/1998.

No seu consulado prestaram provas, respectivamente de doutoramento e agregação, o actual Professor Doutor José Adelino Lobarinho Barbosa e o Professor Doutor Jorge Pires Maciel Barbosa, além de terem adquirido a especialidade de Cirurgia vários médicos estagiários do Serviço.

A actividade científica foi continuamente apoiada pelo Professor Doutor António da Silva Leal. As inúmeras publicações em que participou como autor, co-autor, ou que apadrinhou, são documentos cabais do interesse que sempre lhe mereceu esta actividade académica e científica.

O «Serviço de Cirurgia 1 - Propedêutica Cirúrgica» foi sede de cirurgiões de técnica cirúrgica apurada, que exerceram a sua actividade cirúrgica sob a orientação do Professor Doutor António da Silva Leal, (nomeadamente no campo da cirurgia esofágica, gástrica, rectal, hepática, vias biliares, mama, endócrina e da parede abdominal) e local de prática de inúmeras técnicas de apoio à Cirurgia, que sempre por ele foram acarinhadas (Ecografia, Informática, Laserterapia, Alimentação Assistida, Quimioterapia antitumoral, Endoscopia digestiva, Manometria e pHmetria esofágica e rectal), valências que se mantiveram até à sua jubilação.

A Direcção do Hospital de S. João, a Faculdade de Medicina do Porto e a Ordem dos Médicos, homenagearam-no e distinguiram-no com a medalha de Honra da Ordem dos Médicos.

O Professor Doutor António da Silva Leal, professor e cirurgião de mérito e emérito, é um homem de carácter vincado, nunca pactuando com sectarismos ou demagogias, sempre tendo tomado atitudes de cidadania notáveis e corajosas, nos conturbados tempos de 1974/75 e não .

A sua maneira de ser, obrigou-o sempre a tomar posições, claras, destemidas e inequívocas, em todas as situações, tendo-se revelado um elemento precioso e de primeiro plano, no restabelecimento da ordem democrática e institucional no Hospital de S. João, na Faculdade de Medicina do Porto e na Secção Regional da Ordem dos Médicos do Porto, em que desempenhou vários cargos directivos (Vice - Presidente em 1978 e membro do Conselho Regional de 1978 a 1980).

Fernando Reis Lima

Carlos Manuel Nunes Alves Pereira

Carlos Manuel Nunes Alves Pereira nasceu em Lisboa, em 24 de Março de 1932.

Concluiu a Licenciatura em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medicina de Lisboa em 1958, com a classificação final de 17 valores e a defesa de tese sobre Fístula Gastro-jejuno-cólica.

Fez toda a então Carreira Hospitalar dos Hospitais Civis de Lisboa e obteve, em 1970, o 1º lugar no último e tão prestigiado Concurso para Cirurgião dos Hospitais. Desempenhou funções como Chefe de Equipa no Banco do Hospital de S.

José e no Serviço 6 do Hospital dos Capuchos, de onde em 2002 se aposentou como Diretor.

De 1980 a 2002 foi sucessivamente Professor Convidado e Catedrático, em Cirurgia I e II, na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, onde em 1991 concluiu, com distinção e louvor, provas de doutoramento sobre o tema A cirurgia nas obstruções do cólon e do recto por cancro.

Foi Cirurgião Militar na Guiné, onde assumiu e desempenhou funções de Chefia em tempo e zona de guerra, de 1963 a 1965. Permaneceu posteriormente como Cirurgião Civil no Hospital Militar Principal até 2002, como Consultor e Assessor Científico do Exército.

Foi Presidente da Sociedade Médica dos Hospitais Civis de Lisboa de 1982 a 1984 e da Sociedade Portuguesa de Cirurgia de 1998 a 2000. É membro de 18 outras Sociedades Científicas.

Fez parte da Direcção da Secção Regional Sul da Ordem dos Médicos de 1982 a 1990 e do primeiro Colégio de Cirurgiões em 1980-81.

Em 1961 fez parte do grupo fundador da Comissão para o Relatório das Carreiras Médicas, cuja actividade esteve na origem das Carreiras Médicas Nacionais.

Tem 84 trabalhos publicados, 18 filmes e vídeos e cerca de 200 participações em reuniões científicas, proferindo palestras e conferências, apresentando ou apoiando e supervisionando a apresentação de comunicações do seu grupo de trabalho.

Em 1998 foi Editor do tratado Cirurgia - Patologia e Clínica,actualizado e reeditado com 1250 páginas em 2006, onde foi responsável por vários capítulos, sempre procurando dar igualmente voz à maioria dos mais reputados especialistas nacionais nas respetivas áreas.

Foi entre nós precursor de várias opções e técnicas cirúrgicas. Sendo de salientar diversas áreas da patologia de urgência, vascular, digestiva gástrica e colo-rectal, mas com incontornável destaque para a Cirurgia Laparoscópica, onde em 1991 foi pioneiro entre os pioneiros nacionais, com a realização da primeira colecistectomia laparoscópica.

O Prof. Alves Pereiraé do meu conhecimento pessoal e profissional desde Junho de 1975. Integrei a sua equipa de trabalho até 1993, tanto no Hospital dos Capuchos, como na Faculdade e no Hospital Militar. Quando o conheci, no decurso do então Serviço Militar obrigatório, era um Cirurgião distinto, profissional de referência e muito considerado. De trato caloroso e fino, culto e viajado, com interesses alargados no campo da Cultura tais como na Ética e a História de Arte.

São 37 anos de mútuo conhecimento, com mais de 18 de estreita convivência diária, pelo que, ao ter a honra de o resumidamente biografar, devo salientar que o Prof. Alves Pereira é, não um cidadão de excepção, como uma fonte de inspiração para quem com ele privar.

Recordo, por contemporâneo testemunho, os nomes de Alves da Conceição, Pereira Henriques, Pereira Alves, Queiroz Pinto, Silva Martins, Moradas Ferreira, Manuel Ratão, Lopes Henriques, Guedes da Silva, José Neves, Pereira Gens, Trindade Soares, Ana Formiga, Maria do Céu Santo, João Corte Real, Pedro Moniz Pereira, José Carlos Santos e Jorge Penedo. Entre os muitos outros colegas, internos e alunos que poderiam igualmente testemunhar do profissional o desempenho hábil, do mestre o estímulo, o apoio e o ensino afável e do cidadão a humanidade experiente, vivida, culta, atenta e disponível.

Por quem foi e quem é para todos nós, Bem haja ! João Gíria Lisboa, 1 de Janeiro de 2019 João Gíria joaogiria@gmail.com

João Alberto Baptista Patrício

João Alberto Baptista Patrício, que viria a ser Presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia no biénio 1999-2001, licenciou-se em Coimbra em 1961, iniciando em 1964 uma brilhante Carreira Hospitalar e Académica. De 1974 a fins de 1976 estagiou em Paris nos Serviços de Cirurga Visceral dos Professores Loygue e Germain e de Microcirurgia na equipa de Alain Gilbert.; colaborou em cursos de microcirurgia no Centro de Investigação Cirúrgica no Hospital Henry Mondor e obteve em 1977 o título de Chirurgien Agrégé (à titre Étranger). Como corolário do prestígio clínico e académico granjeados, João Patrício doutorou- se pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra no ano de 1984, com uma dissertação sobre Vagotomia Super-Selectiva, em que vertia para o papel o gosto pela minúcia do gesto cirúrgico e fazia adivinhar todo o encanto que para si constitui a investigação pura da Ciência Médico-Cirúrgica. Dois anos após faz Concurso para Professor Associado, coroando o seu brilhante percurso Académico, em 1991, como unanimemente foi reconhecido pelos seus pares, com a Cátedra de Cirurgia.

João Patrício desenvolveu, também, uma notável Carreira Médico-Hospitalar, escalando todos os seus degraus com reconhecido mérito. Em 1988 atingiu o topo da ascensão hospitalar com a nomeação para a Direcção do Serviço de Cirurgia II dos Hospitais da Universidade de Coimbra, onde permaneceu até 1995, para então passar a dirigir o nosso Serviço, o de Cirurgia I, até à sua jubilação em 2006.

Dentro do vasto campo que é a cirurgia contemporânea, elegeu a Microcirurgia como a área de investigação preferencial, da que foi um dos pioneiros no nosso País e se constituiu assim uma referência nacional e internacional. Esta área cirúrgica encontrou na pessoa de João Patrício a laboriosa perseverança para se desenvolver e afirmar entre nós, tendo por si sido realizadas as primeiras intervenções de reimplantação de membros, e de segmentos de membros, de diversos tipos de autotransplantes, de diferentes tipos de enxertos e retalhos e da cirurgia do plexo braquial. As múltiplas técnicas cirúrgicas originais por si idealizadas, descritas, desenvolvidas e divulgadas, são hoje uma afirmação do seu labor científico e das suas profundas preocupações sociais.

Reconhecendo as dificuldades crescentes que rodeiam a formação do cirurgião dos nossos dias, com a evolução acelerada da nova cirurgia em que a informação chega em catadupa, pensou um espaço que permitisse uma aprendizagem e actualização técnica e teórica de rigor. Em 1988 cria e dirige o Laboratório de Investigação Experimental dos Hospitais da Universidade de Coimbra, embrião de uma Escola Universitária de Cirurgia, onde se desenvolveu uma meritória actividade pré e pós-graduada.

No Serviço por si dirigido, proporcionou o ambiente indispensável a uma correcta actividade assistencial, à realização de programas de investigação cirúrgica e experimental, à introdução de técnicas cirúrgicas inovadoras. Os diversos prémios conseguidos por trabalhos efectuados são disso um bom exemplo.

O extenso número de comunicações e publicações, com artigos em revistas de referência internacional, os capítulos e livros da sua autoria («Atlas de Patologia Cirúrgica», «Microcirurgia», «Video-Atlas/Chirurgie Humaine») dados à estampa por Editoras consagradas (Masson, Springer, Glypher, Imprensa da Universidade de Coimbra, Fundação Calouste Gulbenkian), as citações em diversos trabalhos de renome mundial, a participação em inúmeras mesas-redondas nacionais e internacionais, revelam o enorme prestígio que João Patrício alcançou, e a contribuição determinante que teve, e tem, para a dignificação da Escola Cirúrgica Portuguesa.

Anotem-se, ainda, os diversos cargos de direcção e representação ocupados em tantos outros organismos e ocasiões: Sócio-Fundador e Presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia no biénio 1999-2001, Sócio-Fundador e 1º Presidente da Sociedade Portuguesa de Microcirurgia, Presidente, em 1990, do Groupe pour L'Avancement de la Microchirurgie, Presidente de 1999 a 2001 da Federação Europeia das Sociedades de Microcirurgia, delegado nacional junto da European Society of Surgical Research, Sócio-Fundador da Associação Portuguesa de Patologia Experimental, Sócio-Honorário da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Plástica, membro do Corpo Editorial da Revista Microsurgery. É membro de diversas Sociedades Científicas, Académico Correspondente da Academia Portuguesa de Medicina e Associado Estrangeiro da Academia de Cirurgia (Paris).

De grande envergadura intelectual, alia ao gosto pelo munus Universitário e Hospitalar uma enorme paixão pela arte e outras expressões de cultura. A cativante eloquência, a firmeza doutrinária, a devoção ao doente, a ajuda ao semelhante e o respeito pela vida humana, caracterizam indelevelmente a personalidade ricamente plurifacetada que é o Professor Doutor João Patrício.

João Pimentel j_m_pimentel@vizzavi.pt

José Guimarães dos Santos

José Guimarães dos Santos é um dos nomes incontornáveis da actual cirurgia oncológica e da génese e implementação do Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil, Centro do Porto.

Oriundo das seculares terras da Vila da Feira, onde tem origem as suas profundas raízes, terminou o seu percurso académico na Faculdade de Medicina de Coimbra, tendo após a licenciatura, rumado para os Estados Unidos da América onde iniciou os seus primeiros passos no mundo da medicina e cirurgia. Neste país, onde permaneceu durante vários anos, conseguiu atingir, não níveis de conhecimento elevados como também, pelo seu trabalho e reconhecimento da sua capacidade profissional, postos como Chefe de Internos, nomeadamente no Mount Sinai Hospital.

Regressado a Portugal, o Dr. José Guimarães dos Santos vai ocupar o cargo de Chefe de Serviço em 1973 no Instituto Português de Oncologia, no Porto, ao lado de outros tantos que na altura ainda eram pagos com verbas do Instituto de Lisboa.

É neste contexto que Guimarães dos Santos integra o Centro do Porto do IPO FG onde, para além dos ensinamentos e escola que proporciona a todos os novos "aprendizes de feiticeiro", luta pela implementação do Centro do Porto do Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil, que seria, não fora o 25 de Abril, e, alguns grandes nomes, uma dependência de doentes cancerosos a quem nesse tempo poucos dariam atenção.

É este Homem juntamente com outros, nomeadamente com o Dr. José Cardoso da Silva, que percebeu com uma visão extraordinária que o cancro seria o principal problema de saúde pública no séc. XXI, e que seria uma patologia com uma incidência crescente e que a curto prazo os hospitais, todos eles, teriam como principal patologia a operar - o cancro.

Era um homem de trato muito fácil e afável, insinuante, conversador nato, bem disposto e sempre disponível em qualquer situação. Encarava os problemas de frente, era um combatente, um resistente e uma personalidade que nunca desistia. A sua personalidade, os seus conhecimentos e a sua capacidade de argumentação fizeram que em poucos anos se tornasse Director da Instituição.

Neste seu percurso, durante longos anos, ele percorreu todos os caminhos possíveis para atingir a sua meta fundamental - implementar e aumentar o Centro do Porto do Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil, de modo que não ficasse como uma unidade satélite de qualquer outro grande Hospital.

Cedo conheceu e reconheceu todos os sinuosos caminhos dos bastidores políticos.

Embora não sendo um político nato, sabia perfeitamente a maneira e os labirintos que deveriam ser percorridos para atingir certos fins em benefício da obra que sonhou e concretizou.

Sempre apresentou uma capacidade enorme de inovação, de implementação de tecnologia de ponta, tendo conseguido com a sua argumentação e perseverança, contrariando todos os ventos adversos que muitas vezes sopravam forte, atingir os seus desideratos - tornar o Instituto Português de Oncologia Centro do Porto num hospital moderno, bem apetrechado e com profissionais adequados.

Por todos estes motivos, Guimarães dos Santos granjeou grandes amigos, grandes apoios e igualmente fez a sua escola de cirurgia. Sempre procurava que as suas ideias fossem acatadas por todos o que, como é evidente, também lhe proporcionou antagonismos em diversas áreas e Instituições.

Guimarães dos Santos foi um dos Fundadores da Sociedade Portuguesa de Oncologia, da qual foi Presidente, tendo sido igualmente, Presidente de todas as Sociedades Nacionais ligadas à Oncologia.

Foi o iniciador e principal incentivador dos Grupos Cooperativos do Cancro da Mama, do Cancro Ginecológico, do Cancro Digestivo e de tantos outros.

Igualmente, começou a movimentar-se a nível internacional tendo obtido reconhecimento não na América Latina, nomeadamente a nível do Brasil, bem como na Europa e noutros países, tendo realizado grandes Congressos Internacionais.

A nível internacional, foi presidente da European Surgical Society of Oncology- ESSO e foi um dos membros fundadores da Federação Mundial das Sociedades de Oncologia Cirúrgica - WFSOS.

Procurou sempre que os seus discípulos fizessem mais e melhor e por isso mesmo, proporcionou-lhes não o maior número de estágios de curta e longa duração, como também os impulsionou a fazerem exames internacionais que proporcionaram prestígio não aos próprios como à Instituição.

A nível nacional, Guimarães dos Santos foi e será sempre reconhecido como um grande cirurgião. Como um homem que soube evoluir dentro da própria cirurgia e cedo compreendeu que o cancro não era unicamente do cirurgião mas deveria, ser encarado como uma entidade que envolvia várias especialidades e daí a criação do conceito de multidisciplinaridade.

Pensamos que uma das suas maiores frustrações foi nunca ter sido possível ter criado a sua Sociedade de Oncologia Cirúrgica, bem como o respectivo programa e treino de avaliação. Pensamos que esta situação é desejada por muitos, porque conforme o mesmo indica, "o cirurgião oncológico deve ser um cirurgião de doença e não um cirurgião de órgão".

Guimarães dos Santos ficará na história da cirurgia nacional não como um dos pais da oncologia nacional e da oncologia cirúrgica, mas também, como um dos fundadores do maior Centro de Oncologia do país.

Por todos estes motivos, todos os cirurgiões e todos os médicos lhe deverão prestar a sua homenagem e reconhecer a sua capacidade, a sabedoria, a visão, o espírito de comando, e finalmente, a capacidade de diálogo e de educação dos mais novos.

Vítor Veloso

Jorge Manuel Guimarães dos Santos Bessa

O Professor Jorge Santos Bessa e Eu Caminhos Conjuntos Falar sobre o Prof. Jorge Santos Bessa é uma tarefa difícil, mas, como um dos seus mais antigos colaboradores, não devo fugir a essa responsabilidade.

Conheci-o em 1972, ainda como aluno do 2º ano da Faculdade, no Serviço 3 do Hospital de S. José e na Equipa de Banco chefiada pelo Dr. Borges de Almeida, onde o Prof. Jorge Bessa era um jovem assistente. Notei imediatamente uma das suas características mais importantes -o espírito de Equipa-que nos marcou a todos durante as nossas vidas.

Em 1980 foi admitido no concurso de provas públicas para Chefe de Serviço de Cirurgia Geral dos HCL, sendo o candidato mais novo entre muitos concorrentes.

Também em 1980 o Prof. Jorge Bessa foi Secretário-Geral do 6º Congresso Mundial do Collegium Internationale Chirurgiae Digestivae (CICD), realizado em Portugal.

Na mesma década fez parte da Direcção da Sociedade Médica dos HCL demitindo-se por divergências com orientações dadas pela Ministra da Saúde, Dra. Leonor Beleza. Não pactuar com aquilo em que não acredita é uma das suas características.

Em 1981 começou um dos períodos mais importantes da sua vida cirúrgica quando foi nomeado para chefiar uma das Equipas da recém-criada Unidade de Urgência Cirúrgica (UUC) do Hospital de S. José, sendo seu Director de 1989 a 1991 altura em que esta se extinguiu. Neste ano assumiu a Presidência do Congresso Mundial de Cirurgia de Urgência realizado em Portugal.

Sou testemunha do quanto esta experiência com equipas dedicadas à cirurgia de urgência se reflectiu na formação dos muitos cirurgiões que por passaram. A casuística era impressionante pela concentração.

Em 1992, mais um desafio veio ao encontro de um desejo confesso do Prof. Jorge Bessaa Carreira Universitária. Entusiasmado e apoiado por vários colegas entre os quais o Patrono da sua Tese, Prof. Araújo Teixeira concluiu em 1996 as provas de Doutoramento com a Tese sobre "Perfuração de Úlcera Duodenal", assunto a que se dedica durante vários anos da sua vida. Seis anos mais tarde fez as provas de agregação com outro tema muito do seu agrado - o refluxo gastro-esofágico patológico - assumindo as funções de Professor Associado.

Desde muito cedo e em todo o percurso profissional foi sua preocupação comunicar á comunidade científica a evolução do seu pensamento, com comunicações, publicações, mesas redondas, conferências e palestras, num total que ultrapassa as três centenas.

Em 1992, integrou o Ensino do 5º ano de Cirurgia na Faculdade de Ciências Médicas, iniciando concomitantemente funções de Direcção no Serviço de Cirurgia do Hospital Egas Moniz deixando sua Instituição de sempre, os HCL. Destaco aqui a capacidade organizativa do Prof. Jorge Bessa e, acima de tudo, a exigência da formação clínica baseada na execução de histórias clínicas obrigatórias que faziam parte da avaliação final dos alunos.

Teve no novo serviço como primeiros colaboradores, para além de mim próprio, Fernando Cássio, Teresa Santos, Luis Viana Fernandes e Luis Féria.

No mesmo período promoveu o desenvolvimento do ATLS em Portugal fazendo parte, como Educator, do grupo inicial que recebeu formação nos Estados Unidos.

Foi presidente da Mesa daAssembleia Regional do Sul e, em dois mandatos consecutivos, vogal do Conselho Disciplinar da Ordem dos Médicos.

Uma das características do Prof. Jorge Bessa é a sua independência e insubmissão á ineficiência e burocracia. Em 2007 decidiu aposentar-se deixando assim a Direcção do Serviço.

Desde esta altura o nosso contacto tem sido menor mas a sua actividade mantém- se. É membro do Conselho Literário do Grémio Literário tendo proferido uma palestra sobre o meu tetravô Rodrigo da Fonseca Magalhães, sócio fundador do Grémio.

Por fim uma palavra para a sua Presidência da Sociedade Portuguesa de Cirurgia.

Teve oportunidade de me confidenciar várias vezes que foi este de entre os múltiplos cargos que exerceu o que lhe deu mais prazer e satisfação.

Foi Vice-Presidente no mandato do Dr. Guimarães dos Santos e Presidente no biénio seguinte.

Mas o que marcou claramente a sua passagem na Sociedade foi a nova Sede.

Comprada no mandato do Dr. Guimarães dos Santos, reconstruída e inaugurada pelo Prof. Jorge Bessa, esta sede satisfez um desejo antigo de todos os sócios: ter um local próprio para o funcionamento da Sociedade.

Concluo esta viagem por caminhos conjuntos referindo um aspecto que sei ser muito caro ao Prof. Jorge Bessa. Pela sua tutela e formação passaram um número importante de colegas de Cirurgia Geral e de outras Especialidades, que chegaram ao grau máximo da Carreira Hospitalar, muitos deles a funções de Direcção.

Como ele diz, formar uma Equipa é tarefa de uma vida, mas acima de tudo, com o seu exemplo, conseguiu transmitir a todos quantos tivemos o prazer e a felicidade de com ele trabalhar e conviver, uma forma muito especial de estar na cirurgia e na vida. Não tenho dúvidas que o seu exemplo perdurará e será transmitido por todos nós, seus discípulos, aos nossos discípulos.

Rodrigo Costa e Silva rod.costasilva@gmail.com

Fernando José Martins Serra de Oliveira

O Professor Fernando José Martins Serra de Oliveira, que presidiu à S.P.C. de 2006 a 2008, nasceu em Coimbra a 26/10/1947, cidade onde concluiu o liceu e se matriculou nos preparatórios de Engenharia em 1965. Em 26/06/1972 conclui no Instituto Superior Técnico a Licenciatura em Engenharia Electrotécnica.

Amigos e contemporâneos na universidade sabiam que não era a Engenharia a sua vocação e, de facto, logo se matricula em Medicina, em Coimbra, onde conclui a licenciatura em Outubro de 1977, com dezoito valores.

Tendo feito a sua formação em Cirurgia no nosso Serviço (Professor Fernando de Oliveira, que recordamos com gratidão e saudade), constatámos as suas qualidades de inteligência, capacidade de trabalho, preparação teórica e dedicação à especialidade.

A sua vinda para o Serviço dinamizou e incentivou-nos a publicar e apresentar trabalhos de revisão casuística, casos clínicos e de investigação clínica, que muito valorizaram o seu e o Curriculum de todos nós.

Tive o prazer de integrar o júri para o grau de Consultor em Março de 1994, onde realizou excelentes provas.

A avaliação da sua carreira depreende-se facilmente da leitura atenta da síntese curricular que se segue, porém, uma qualidade que gostaria de salientar: a sua capacidade, como Director de Serviço, de criar condições para a realização integral de um cirurgião, não polarizando em si as intervenções mais complexas, observador das regras de segurança e responsabilidade, o que se reflecte, estou certo, na qualidade e satisfação profissional dos seus colaboradores.

Carreira Hospitalar Janeiro de 1986 - Exame final do Internato Complementar Junho de 1986 - Especialista em Cirurgia Geral pela Ordem dos Médicos, após provas públicas Outubro de 1987 - Assistente Hospitalar do Quadro dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) após provas públicas Março de 1994 - Grau de Consultor da Carreira Médica Hospitalar, após provas públicas Agosto de 1994 - Assistente Graduado de Cirurgia Geral Novembro de 1995 - Chefe de Serviço de Cirurgia Geral do Quadro de Supranumerários dos HUC Agosto de 2002 - Chefe de Serviço do Quadro dos HUC, após provas públicas Junho de 2006 - Director de Serviço de Cirurgia Geral Entre Janeiro de 2004 e Março de 2012 Coordenador da Unidade de Transplantação Hepática dos HUC Carreira Académica Doutoramento - Julho de 1988 (Derivações Porto Sistémicas e Atrofia Hepática.

Fluxo versus Factores Hepatotróficos) Agregação - Maio de 1992 Carreira Docente Julho 1988 - Professor Auxiliar Junho 1995 - Professor Associado Setembro 2002 - Professor Catedrático Regências É Regente de uma disciplina de Cirurgia da Faculdade de Medicina de Coimbra desde 1988, sucessivamente, Propedêutica Cirúrgica, Cirurgia I, Patologia Cirúrgica I e II.

Sociedade Portuguesa de Cirurgia Secretário Geral-Adjunto - 1996-1998 Vice-Presidente - 1998-2000 Presidente - 2006-2008 Outros Títulos - Fellow of the European Board of Surgery (FEBS) - Académico Titular da Academia Nacional de Medicina - Consultor Honorário do Hospital do Meixoeiro (Vigo) Outros Lugares - Membro da Comissão de Garantia de Qualidade dos HUC (1991-92) - Membro da Comissão Oncológica dos HUC (1997-99) - Membro do "Discipline Oriented Group on Health Technology and Development and Assessment Biomedical and Health Research Programme of the Commission of the European Communities" (1993-97) Trabalhos Publicados 142 trabalhos publicados, dos quais 24 em revistas internacionais 5 monografias Conferências 183 conferências proferidas, das quais 26 no estrangeiro Diversas participações em mesas redondas Comunicações 183 comunicações em Congressos e Reuniões Nacionais e Internacionais Prémios A sua actividade científica foi distinguida com a atribuição de diversos prémios, nomeadamente pela Sociedade Portuguesa de Cirurgia Conselho Científico de Revistas Pertenceu ou pertence ao Conselho Científico das seguintes revistas: - Arquivos Portugueses de Cirurgia - Coimbra Médica (Chefe de Redacção) - Cirurgia - Gastric Cancer - The European Journal of Coelio-Surgery - Surgical Endoscopy (Revisor) Carlos Pereira

Amadeu Pinto de Araújo Pimenta

"Someone once told me, that the greatest gift of God Was to see something of yourself, if only once, Reflected on the face of another Human Being…"

Thomas E. Starzl

Amadeu Pinto de Araújo Pimenta, nasceu em Ponte de Lima em 29 de Novembro de 1943 e licenciou-se em 1968 pela Faculdade de Medicina do Porto. Cirurgião e académico distinto, percorreu com brilhantismo todos os graus das carreiras universitária e hospitalar, consagrando-se como Professor Catedrático de Cirurgia da Faculdade de Medicina do Porto e Director do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital de S. João, instituições onde exerceu a sua actividade profissional.

Concluído o internato na ilustre Escola cirúrgica de Joaquim Bastos, decidiu especializar-se em cirurgia esofágica, opção que marcaria indelevelmente a sua vida profissional e ilustra a sua coragem e tenacidade, atendendo às escassas condições hospitalares então existentes, para a prática de cirurgias de alto risco.

Regressado de Paris após um estágio com Lortat-Jacob e François Feketé, rapidamente estabeleceu as bases do que seria o sector de patologia esofagogástrica do Serviço de Cirurgia 4 e, posteriormente, a Unidade Esofagogástrica do Serviço de Cirurgia Geral do S. João, consolidada ao longo de mais de 30 anos como um incontornável centro de referência altamente diferenciado. Trabalhador incansável, escravo do compromisso assumido perante os doentes, não tinha horário, sábados ou domingos porque, como dizia, "a doença não tem feriados nem descansa aos fins-de-semana".

Amadeu Pimenta concebeu importantes contributos para a cirurgia esofágica, sendo o mais conhecido, pela significativa repercussão internacional, um aparelho de sutura circular em eversão.

Um perfeccionista, filmava as suas operações, não apenas para melhorar sua performance mas, sobretudo, para transmitir aos mais novos toda a sua experiência, proporcionando um contributo relevantíssimo para o reconhecimento do filme científico como meio de transmissão do conhecimento. Docente da FMUP, dedicou muito tempo ao ensino pós-graduado promovendo sucessivas Reuniões Internacionais de Actualização em Cirurgia do Esófago e do Estômago, entre muitas outras iniciativas, e desenvolveu intensa actividade de investigação com o Serviço de Anatomia Patológica da FMUP e o IPATIMUP, cuja estrutura integrou como investigador sénior em 1996.

Foi membro activo de numerosas sociedades científicas e ocupou o cargo mais honroso a que um cirurgião português pode aspirar, o de Presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia cujo mandato, infelizmente, não chegou a terminar.

Mas Amadeu Pimenta foi mais do que o simples conjunto dos inegavelmente impressionantes feitos nos campos da cirurgia, da investigação e do ensino.

Cativava pela sua genuína modéstia, pela gentileza no trato, pelo humanismo e pela amizade leal e desinteressada nas suas relações com colegas e doentes.

Alguém com quem privou, escreveu que o cirurgião, no seu percurso no tempo e no espaço, é alumiado pela luz intensa e conjugada de quatro estrelas cintilantes que simultaneamente lhe esclarecem o caminho e lhe controlam a acção: a Ciência, a Arte, a Ética e o Humanismo, a melhor definição, afinal, da personalidade e vida de Amadeu Pimenta.

Quis o acaso, que fosse escolhido para seu sucessor na Direcção do Serviço e (talvez por isso...) para escrever estas linhas, alguém que, durante muito tempo, não teve a oportunidade de um contacto próximo com ele.

Mas esta real desvantagem, permite, porventura, uma perspectiva que, não se centrando em aspectos técnicos e científicos, pretende realçar o que realmente marcou e perdura na minha relação com Amadeu Pimenta: Recordo vivamente a sua dignidade tranquila, o respeito e cordialidade na relação connosco, seus colaboradores, sem por isso abdicar dos valores que colocava acima de tudo: o respeito supremo pela Pessoa doente e a excelência na actuação clínica. Lembro a sua preocupação com a qualidade da formação dos Internos e o permanente interesse em acompanhar e estimular os seus progressos.

Lembro, finalmente, a forma como encarou a sua doença, contraída no exercício da profissão que amava, e que constituiu a melhor prova do seu carácter e uma verdadeira lição de vida. No final de uma luta de mais de duas décadas, viu acumularem-se os sinais do inevitável desfecho que não deixou de reconhecer, sem, no entanto, lhe ouvirmos uma palavra de revolta pelo fim que adivinhava próximo. Pelo contrário, evidenciou sempre um admirável optimismo e procurou manter a sua actividade, chamando ao seu quarto hospitalar médicos e secretárias para que os projectos em curso não sofressem adiamentos e redigindo, num supremo esforço, a saudação que dirigiu ao XXX Congresso Nacional de Cirurgia.

Mas nem uma pessoa com as excepcionais qualidades de Amadeu Pimenta seria capaz de alcançar os patamares que atingiu, sem contar, por felicidade mas sobretudo por mérito, com o suporte inabalável dum grupo de leais colaboradores, dos quais destaco Joaquim Sousa Rodrigues, alma gémea que o acompanhou ao longo da sua vida profissional.

Finalmente, e nunca como aqui os últimos serão os primeiros, Amadeu Pimenta contou, ao longo de toda a sua vida, com uma retaguarda familiar inexpugnável que lhe proporcionou a estabilidade que lhe permitiu dedicar-se, sem constrangimentos, à sua vida profissional.

Amadeu Pimenta faleceu a 17 de Fevereiro de 2010. Deixou reflectido em todos os que com ele tiveram o privilégio de contactar, algo de si como cirurgião, como académico, mas sobretudo como Pessoa leal. Reconhecê-lo, é, talvez, a mais singela mas sentida homenagem que, quotidianamente, lhe possamos fazer.

AGRADECIMENTO: Ao Prof. Pedro Bastos, pela amável colaboração, sem a qual não teria sido possível este documento

José Costa Maia

Henrique Manuel Bicha Castelo

Depois de ter feito parte de duas Direcções anteriores, como Vogal e Vice- Presidente, o Prof. Doutor Henrique Bicha Castelo foi eleito Presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia para o biénio de 2010/2012.

Sob a sua direcção, a Sociedade manteve as actividades formativas habituais, reforçadas por: Aumento da capacidade de intervenção dos Capítulos; Introdução em Portugal de Cursos Avançados de Cirurgia Laparoscópica sob a égide e patrocínio da EAES e de dois Cursos de Simulação Computorizada de Realidade Virtual com o apoio da Laparoscopic Skills Foundation; Protocolo de Colaboração com o Instituto de Medicina Legal; Protocolos de Cooperação com a Macau University of Sciences and Technology e a integração na Mediterranean and Middle Eastern Endoscopic Surgery e na European Society of Trauma and Emergency Surgery; Foram nomeados Membros de Honra da SPC os seguintes cirurgiões de reputação internacional: Daniel Jaeck de Estrasburgo, René Adam, Abe Fingerhut e Daniel Azoulay de Paris, Bernard Sastre de Marselha, e Joaquim Potel Lesquereux de Santiago de Compostela.

Como Cirurgião, não cometerei o agravo de enumerar os seus atributos que o definem como figura de relevo, tanto a nível nacional como internacional.

Membro das várias sociedades nacionais e internacionais, o Prof. Henrique Bicha Castelo é Fellow do American College of Surgeons, do Royal College of Surgeons, da Macau Surgery Association e Membre d'Honneur da Académie National de Chirurgie de Paris, da Association Française de Chirurgie e Honorary Member da Egyptian Society of Surgery.

Não deixarei contudo de citar alguns dos seus colaboradores mais próximos que o definem como Cirurgião Académico de rigor, no pensamento clínico, na estratégia terapêutica e no gesto cirúrgico; persistentena concretização dos seus objectivos, pessoais e do Serviço; com grande capacidade de trabalho, que tentamos acompanhar; exigente, não mais com os outros que consigo próprio; solidáriocom os seus pares; aberto à modernidade, como o demonstra o ter sido um dos pioneiros da cirurgia laparoscópica; atento ao mundo da cultura, como o prova a inclusão sistemática de conferências não médicas nas Reuniões Internacionais do seu Serviço, em que deu voz a artistas da palavra, oral e escrita, da música e da escultura.

Realço apenas e finalmente o gosto pelo acto cirúrgico: "Porque vai dar mais um ponto?" "Para ficar bonito!" Se a cirurgia é uma Arte, a obra deve ser perfeita.

Como Pessoa, nada melhor que o testemunho de um amigocomum, António Lobo Antunes: Henrique Por fora a exigência, o rigor, o sentido ético do trabalho e da vida, o carácter, a honestidade por vezes rude, a falta de complacência para com a mediocridade e a preguiça, a doação total de si mesmo que implica a doação daqueles que com ele privam.

Por dentro a bondade, a sensibilidade à flor da alma, a compaixão, o equilíbrio, sempre tão difícil, entre as razões da vida e as razões do coração, a capacidade de se emocionar, a ausência de inveja, a nos homens, a ternura, o amor sem pieguice, a delicada atenção de um homem atormentado, lutando em silêncio com os fantasmas interiores onde Jacob e o anjo prosseguem, sem repouso, o seu combate eterno mas, sobretudo, um Homem na acepção mais nobre da palavra.

Terá defeitos? Decerto. Mas tem os defeitos das suas qualidades tal como um automóvel os travões adequados à potência do motor.- E eu posso dizer, com comovida gratidão, que o admiro, o respeito e o amo.

António Santos Ruivo


transferir texto