A Transição Profissional dos Licenciados em Sociologia pela FLUP: novos
resultados em 2006
1. Na continuidade dos estudos do Observatório do Emprego dos Licenciados em
Sociologia: abordagem teórico-metodológica
No momento atual em que o contexto económico é cada vez mais pautado por traços
de instabilidade e incerteza, a precariedade profissional é mais intensa e
assume diferentes formas de manifestação. A mais comummente assinalada é a
mudança da relação de emprego estável para um trabalho contratual e salarial
instável, com características que se vêm agudizando desde a década de 70 do
século XX, período marcado pelo alargamento da heterogeneidade dos estatutos
laborais. A partir de então, as transformações económicas e sociais
repercutiram-se ao nível do mercado do emprego numa crise de quantidade e de
qualidade do mesmo 5, marcando o fim da noção de emprego para toda a vida. Em
sequência deste fenómeno, torna-se importante refletir sobre o papel de um
título universitário num mercado de trabalho em contínua transformação e que
apresenta desfasamentos objetivos e subjetivos vários entre um sistema
educativo plenamente massificado e um sistema económico caracterizado pelo
princípio da individualização da relação salarial. Com efeito, os jovens
enquanto segmento preferencial das práticas de emprego flexível nas suas
diferentes dimensões ' salarial, contratual e qualificacional ' adquirem no
sistema educativo saberes e capacidades, mas também desenvolvem aspirações
relativamente à sua posição no mercado de emprego que não encontram, nem linear
nem automaticamente, possibilidades de concretização imediata ao nível do
sistema produtivo (Gonçalves, Parente e Veloso, 2001) 6.
Constata-se, por conseguinte, que a questão do acesso ao emprego e permanência
no mercado de trabalho dos diplomados do ensino universitário, abordada sob
diferentes expressões, inserção profissional, entrada na vida ativa ou
transição ao trabalho, ganhou um considerável destaque enquanto problema social
enfrentado pela juventude atual e, em consequência, tem sido objeto de
contínuas medidas (de intenções) políticas alcançando centralidade,
nomeadamente nos discursos reflexivos de vários atores, quer políticos, quer
académicos, quer da opinião pública (Rose, 1984; 1996; Alves, 1998; Gonçalves,
Parente e Veloso, 1997; 2004; Alves, 2008).
É sobre esta problemática que o artigo versa ao debruçar-se sobre os ritmos,
modos e condições de acesso e permanência no mercado de trabalho dos
licenciados em Sociologia da FLUP. A análise proposta surge na continuidade de
dois outros textos publicados por Gonçalves, Parente e Veloso (2001 e 2004) no
âmbito do Observatório do Emprego dos Licenciados em Sociologia produzidos no
âmbito do ISFLUP, e retoma, ao mesmo tempo que desenvolve conceptualmente, a
problemática teórica já delineada.
A nível metodológico, o levantamento que esteve na origem da recolha de dados
do Observatório do Emprego dos Licenciados em Sociologia, no ano de 2006,
acontece inserido num projeto de investigação mais amplo desenvolvido no ISFLUP
7. A informação tratada resultou de um inquérito por questionário administrado
por via eletrónica, que contou, como população alvo, com 236 licenciados da
FLUP, diplomados entre os anos letivos de 1996/97 e 2003/04. Obtiveram-se dessa
recolha 101 respostas válidas, o que corresponde a uma taxa de retorno
significativamente satisfatória, e equivalente a 42,7% 8.
O inquérito por questionário é idêntico aos dois anteriormente aplicados em
1998 e 2003, cujos resultados foram publicados nos anos de 2001 e 2004
respetivamente.9 Neles se privilegia uma abordagem retrospetiva que incide
sobre a evolução da inserção e sobre os modos de acesso dos licenciados ao
mercado de trabalho, de forma a reconstruir o seu percurso profissional desde a
saída da universidade (entre os anos letivos de 1996/97) até à sua situação
profissional à data da resposta ao inquérito, passando pela entrada na vida
ativa com o primeiro emprego regular. Deste modo, procura-se captar o acesso ao
mercado de trabalho e as trajetórias profissionais, que têm uma duração máxima
de 9 anos para os que terminaram a licenciatura em 1997, e uma duração mínima
de 18 meses para aqueles que a concluíram em 2004.
2. Discussão de resultados
A discussão dos resultados que é proposta nos subpontos seguintes começa por
caracterizar a situação socioprofissional dos licenciados no emprego que
detinham à altura de aplicação do inquérito, para depois recuar no tempo das
suas trajetórias profissionais e caracterizar os ritmos, os modos de acesso e
obstáculos da transição ao primeiro emprego, bem como a situação
socioprofissional vivenciada, a mobilidade profissional experimentada e o
desemprego vivido. A caracterização social dos inquiridos e dos respetivos
agregados familiares e os seus valores e satisfação face ao trabalho ocupam a
última parte da exposição.
2.1. Situação socioprofissional em 2006 ' emprego atual
Comecemos por analisar a situação socioprofissional detida em 2006, altura da
aplicação do inquérito. O acesso a este emprego foi obtido maioritariamente por
via de anúncios e concursos (Quadro_1). Se atentarmos a uma leitura comparativa
com os resultados dos dois estudos anteriores, 1998 e 2001, verifica-se que
esta prática prevalece10 numa posição privilegiada nos três estudos, embora
este recurso tenha vindo a conhecer um decréscimo de importância relativa.
Numa leitura de conjunto, os meios formais definidos como aqueles que exigem um
relacionamento institucionalizado com os empregadores (anúncios e concursos, na
sequência de um estágio) ou com mediadores para o emprego (centros de emprego e
instituições de formação profissional), foram acionados e concretizados com
sucesso por 42,1% dos inquiridos. Este valor consubstancia uma formalização dos
processos de acesso ao emprego, ao qual teremos de agregar o conjunto daqueles
que tomaram uma postura pró-ativa face ao mercado de trabalho por intermédio da
sua autoproposta (10,8%), ou que se candidataram a bolseiros para prosseguir
estudos, ou integrados em projetos de investigação académica (4,8%).
Importa salientar que 8,4% dos inquiridos ocupavam um emprego por intermédio de
programas de inserção na vida ativa como a UNIVA, Centros de Emprego e Centros
de Formação Profissional, valores que revelam a intervenção reguladora do
Estado no mercado de trabalho, visando promover uma maior empregabilidade dos
diplomados do ensino superior.
A importância dos meios informais (colegas e docentes do curso, familiares e
amigos) é de igual modo significativa (30,1%). Destacamos que a informalidade
se mantém bastante próxima dos valores registados para os estudos anteriores;
no entanto não deixa de se observar a importância relativa que têm os
familiares, amigos e colegas de faculdade, conferindo um significativo destaque
à mobilização das redes e relações de interconhecimento primárias situadas fora
do espaço da Faculdade, bem como à importância das redes de pares adquiridas ao
longo da trajetória académica, práticas assentes no volume de capital social
dos inquiridos (Bourdieu, 1980). A constatação da força dos meios informais no
acesso a um emprego não é de todo recente. Já Granovetter (1983;1995) destacava
a relevância desta relação ao argumentar que os contactos esporádicos e menos
próximos assumiam maior influência no acesso a um emprego quando comparados com
a influência das relações mais próximas, tais como os familiares e amigos.
Ainda que os nossos resultados apontem para importância dos laços sociais, não
é possível afirmar, em virtude da própria construção dos indicadores, quais os
contactos mais dinamizadores na obtenção de um emprego, uma vez que familiares,
amigos e colegas de licenciatura aparecem agregados no mesmo item. Apesar
disso, e contrastando com a proposta de Granovetter, é aqui notório o papel
residual dos professores de faculdade que assumem uma relação tendencialmente
mais casual com os alunos após o términos da licenciatura, e que, à luz daquele
autor, prefiguraria uma condição favorável no acesso a um emprego. É
notoriamente reconhecido pelos inquiridos (86,5%) que o facto de serem
licenciados em sociologia teve importância para o acesso ao emprego detido, à
altura da aplicação do inquérito. Esta ocorrência demonstra a valorização
positiva atribuída à formação universitária em sociologia como qualificante
para o emprego.
A análise do quadro_2 mostra que, em termos de profissão principal atual, se
destacam os especialistas das profissões intelectuais e científicas, dos quais
47, 6 % se rotulam de sociólogos. Os docentes do ensino secundário e superior
ocupam a segunda posição, todavia com um valor relativamente afastado da
primeira. Um conjunto de 8,5% dos licenciados encontra-se em posições
caracterizadas por menores recursos qualificacionais, remuneratórios e de
prestígio social (pessoal administrativo, pessoal dos serviços, vendedores e
trabalhadores não qualificados).
Estes resultados, se comparados com os estudos anteriores, introduzem duas
novidades: em primeiro lugar, o aumento significativo do peso percentual
daqueles que ocupam funções nos quadros superiores e, em segundo, o
aparecimento de licenciados a desempenharem tarefas não qualificadas. Constata-
se uma tendência, já exposta anteriormente, de concentração dos indivíduos na
profissão de sociólogo, o que indica uma manutenção da sua representatividade
no mercado de trabalho, bem como um reconhecimento pelas entidades empregadoras
das competências e qualificações adquiridas ao longo da formação académica.
A maioria dos licenciados exercia a atual profissão a tempo inteiro, todavia
frequentemente em situação de precariedade contratual: cerca de 50%, incluem-se
numa relação jurídica alicerçada no contrato de trabalho a termo certo e em
regime de prestação de serviços. Observa-se que, dentre os 19,3% respondentes
que afirmam exercerem um contrato em regime de prestação de serviços, seis eram
assalariados ocultos11 . As duas relações jurídicas de trabalho mencionadas
evidenciam as diferentes situações de risco e de incerteza que os licenciados
enfrentam face ao futuro profissional.
À semelhança do que foi explorado nos estudos anteriores, estes dados
corroboram o sentido e a natureza da evolução do mercado de trabalho no nosso
país nas últimas décadas. Com efeito, a externalização das relações de trabalho
expressas naquelas duas formas precárias de relação jurídica laboral ' contrato
a termo certo e regime de prestação de serviços ' têm sido utilizadas para
reduzir o volume e os custos do trabalho. Estes instrumentos de flexibilização
quantitativa do emprego assumem-se nas visões neo-liberais como imprescindíveis
ao crescimento económico e do emprego (Boltanski e Chiapello, 1999), permitindo
enfrentar os desafios e superar as limitações geradas pela intensificação da
competitividade resultante da internacionalização das trocas económicas. Para
além dos fatores macroeconómicos, subsiste, tal como já fora referido em textos
anteriores, uma estratégia de gestão de mão de obra por parte das entidades
empregadoras que incide sobre a flexibilização do emprego interno. Mais
adiante, no decorrer deste texto, estreitaremos a articulação entre a natureza
precária do trabalho e a situação profissional dos jovens.
Perante a importância da precariedade contratual, afigura-se pertinente
caracterizar os respondentes a vivenciar uma situação contratual precária à
data da aplicação do inquérito, tendo em conta a sua distribuição pela
profissão principal e pelo tipo de organização (quadro_3). Trata-se de
especialistas intelectuais e científicos, bem como de docentes do Ensino
Secundário e Superior que integram a administração pública central, regional e
local, seguido das Instituições Privadas de Solidariedade Social e das empresas
privadas.
O quadro_4 sistematiza o perfil das organizações onde se encontram a trabalhar
os diplomados em Sociologia. Integram-se sobretudo nos setores do Ensino/
Formação e Investigação, da Ação Social e da Administração pública, defesa e
segurança social obrigatória, exercendo profissão em organizações públicas
(central, regional e local) (34,1%), em empresas privadas, e em organizações
sem fins lucrativos (41,4%) e dentre estas, em Instituições Particulares de
Solidariedade Social (IPSS). A leitura do quadro_4 indica que, não obstante
manter-se alguma diversidade nos setores de atividade e no tipo de organização
empregadora dos licenciados, é contudo notório um decréscimo relativo na
Administração Pública e um acréscimo que, em contraponto, se difunde por outros
tipos de organização12 . Em suma podemos destacar duas áreas de forte captação
de sociólogos: a área tradicional da docência e a investigação por um lado, a
ação social por outro, embora com uma capacidade empregadora estatal
enfraquecida, quando comparada com os períodos estudados anteriormente. Tal
como mencionado por Baptista e Machado (2010), o contínuo alargamento dos
perfis profissionais dos sociólogos face àqueles que caracterizavam as
primeiras gerações de diplomados em sociologia, sobretudo vinculados à docência
e à investigação, traduzem os impactos das mudanças económicas e sociais, assim
como a amplitude de solicitações sociais daí decorrentes colocadas aos saberes
sociológicos.
Assinale-se que a maioria dos licenciados estava inserida em organizações com
menos de 100 trabalhadores. Somente 18,3% trabalham em organizações com 500 e
mais trabalhadores13 , dentre os quais 46,7% pertenciam à Administração
Pública.
Em termos salariais, o rendimento modal auferido pelos licenciados à data da
aplicação do inquérito é um indicador premente para avalia os benefícios
materiais granjeados pela profissão na atualidade. Observa-se que para cerca de
70% dos licenciados aquele não ultrapassa os 1100 líquidos mensais.
A ultimar a análise do emprego detido pelos licenciados em 2006, abordamos a
avaliação que os mesmos fazem da compatibilidade entre a sua formação académica
em sociologia e a função que desempenham, patente no quadro_6.
É reconhecida, ainda que por motivos diferenciados, a utilidade da formação
académica, particularmente pela mobilização de conhecimentos técnicos e
competências relacionais e estratégicas, bem como pelo facto de os licenciados
a considerarem uma condição necessária e muito adequada ao desempenho da função
atual.
2.2. O acesso ao primeiro emprego: ritmos, modos e obstáculos de transição
Trataremos neste ponto do primeiro emprego detido pelos licenciados,
diferenciando aqueles que já se encontravam no mercado de trabalho antes da
conclusão da licenciatura, os rotulados trabalhadores-estudantes, dos restantes
estudantes, alguns dos quais na condição de estudantes-trabalhadores. A
observação das atividades laborais dos estudantes durante a frequência do seu
curso parte de uma evidência empírica já levantada por ocasião dos estudos
anteriores (Gonçalves, Parente e Veloso, 2001 e 2004) de que existe ao longo do
tempo um número crescente de estudantes-trabalhadores, bem como demonstra que
aquelas atividades profissionais constituem um de entre outros fatores de
influência na trajetória profissional após a obtenção do diploma. Nesta
sequência, o estudo de 1998 indiciava que a experiência profissional permite
um acesso mais rápido a um emprego regular e estável, a uma remuneração
salarial mais elevada e à obtenção de uma posição profissional mais prestigiada
socialmente (Gonçalves, Parente e Veloso, 2001). Desta forma importa reter esta
dimensão de análise quando se aborda a transição ao trabalho por parte dos
jovens, designadamente quando se procura delinear os ritmos e os modos da
inserção profissional. A observação do quadro_7 mostra que uma grande parte dos
respondentes assumia em exclusividade o papel de estudantes universitários
apesar de ser considerável o exercício de atividades ocasionais, bem como da
dedicação a uma atividade regular durante o curso. Este enquadramento remete-
nos para dois segmentos de população diferenciada face ao trabalho. Vejamos
cada um deles.
Os inquiridos que exerceram uma profissão regular no decurso dos dois últimos
anos do curso integram-se na categoria jurídico-administrativa dos
trabalhadores-estudantes. De uma forma geral a sua entrada no mercado de
trabalho foi anterior ao ingresso no curso de sociologia e subsequentemente é a
partir daí plausível deduzir que a procura deste estivesse relacionada com a
aspiração da posse de um diploma académico de nível universitário, potenciador
de uma progressão profissional ou até de uma mudança para outra profissão. Tal
como já fora exposto noutro artigo (Gonçalves, Parente e Veloso, 2001), esta
procura associa-se a estratégias, nem sempre bem sucedidas, de reclassificação
socioprofissional, acalentando um movimento de mobilidade social
intrageracional. Este segmento de licenciados que apresentava uma presença
regular no mercado de trabalho antes da frequência da licenciatura, detém
propriedades sociais específicas que os singularizam face aos que desempenhavam
atividades ocasionais. São maioritariamente assalariados que exercem atividade
no setor público e em empresas privadas (quadro_8), desempenhando profissões
diversas, entre as quais se destaca a docência no Ensino Básico e Secundário ou
nos Serviços Administrativos. Distribuem-se entre o contrato a termo certo e
uma situação contratual estabilizada14 . No entanto e em comparação com o que
verificávamos nos estudos anteriores (Gonçalves, Parente e Veloso, 2001 e 2004)
observa-se um decréscimo temporal entre os trabalhadores-estudantes a exercerem
a sua atividade profissional em situação contratual estabilizada. Se em 1998 a
estabilidade contratual caracterizava o vínculo laboral de cerca de 49% dos
respondentes, em 2006 essa relação caracterizava apenas cerca de 39% dos
inquiridos. Como demonstra o a quadro_9 , a maioria dos licenciados que tiveram
trabalhos ocasionais, realizaram tarefas de apoio à investigação, entre as
quais sobressaem atividades de aplicação de inquéritos e realização de
entrevistas, transcrição de entrevistas e inserção de dados em suporte
informático. Seguem-se as atividades de animação sócio-cultural, com a
dinamização de atividades desportivas, culturais e recreativas que totalizam
cerca de 9% destes inquiridos. Estas atividades mobilizam saberes e capacidades
adquiridos no decorrer da licenciatura em sociologia, o que já não se verifica
para as atividades de prestação de serviços no comércio, restauração e tarefas
administrativas, as quais, apesar de serem relevantes entre os estudantes-
trabalhadores, se encontram distanciadas da natureza e conteúdos da formação
escolar frequentada. A irregularidade destas atividades dificilmente poderá
estar associada a uma forma de autofinanciamento total da licenciatura. De
qualquer modo e tal como já foi expresso nos dois artigos anteriores, o
crescimento da dedicação a atividades ocasionais durante a licenciatura poderá
ser um aspeto a considerar dada a sua evolução crescente e a possibilidade de
contribuir, ainda que ocasionalmente, para o financiamento daquela. Ademais,
poderá ser um sinal da quantidade da oferta desses trabalhos pontuais, da
própria disponibilidade dos então alunos para os aceitar, e espelhar ainda a
natureza das redes sociais subjacentes a esses recrutamentos. Um indicativo
importante da densidade e funcionalidade das redes sociais torna-se percetível
se tomarmos em consideração os meios acionados para a obtenção dos trabalhos
ocasionais.
Destacam-se os inquiridos que acederam a essas atividades por meio dos docentes
do curso (28,6%) e dos colegas da universidade ou do curso (14,3%). Não
obstante, importa sublinhar a redução para perto de metade nos valores
apresentados por estes meios face aos dois estudos anteriores. Trata-se de um
aspeto que demonstra uma diluição da densidade das redes sociais informais
desenvolvidas e geridas no interior da própria faculdade ou então, e dada a
dificuldade de inserção após a obtenção do diploma, o redireccionamento de uma
bolsa de emprego (Gonçalves, Parente e Veloso, 2001), prioritariamente para
aqueles que concluíram a licenciatura, permitindo assim compensar o desemprego
de inserção. A prática dos docentes em solicitar a colaboração dos estudantes
para o desempenho de tarefas específicas e pontuais no âmbito dos seus projetos
de investigação é comum no sistema universitário português (Gonçalves, Parente
e Veloso, 2004); no entanto, parece possível e plausível levantar a hipótese de
que, face ao contexto económico vivenciado atualmente, diante da falta endémica
de emprego e da crescente flexibilização do trabalho, a procura para o
exercício de tarefas ocasionais na investigação se direcione para aqueles que,
já diplomados, se encontram sujeitos a dificuldades de inserção no mercado de
trabalho. Verificada esta premissa, tal indicaria a crescente dificuldade
enfrentada pelos estudantes em encontrar trabalhos ocasionais coincidentes com
o seu percurso de formação, invalidando a aquisição de uma experiência
profissional qualificante, e não contribuindo assim para facilitar a obtenção
do primeiro emprego.
Dos cinquenta licenciados que manifestam sentir dificuldades de acesso ao
primeiro emprego (quadro_10), observamos que, tal como no estudo anterior
(2004), ganham expressão, por um lado os que se ligam ao dinamismo do mercado
de trabalho, revelados principalmente em contexto de decréscimo de emprego '
fraca oferta de empregos para licenciados da sua área ' e, por outro, aqueles
que referem a ausência de atributos valorizados para uma inserção bem sucedida
no mercado de trabalho ' falta de experiência profissional-, bem como aqueles
que referem aspetos relativos ao dinamismo organizacional pelo desinteresse
dos empregadores pelos licenciados da área. Ao contrário do que sucedera com
os estudos realizados em 1998 e 2001 (Gonçalves, Parente e Veloso, 2001 e 2004)
nos quais as dificuldades sentidas pelos diplomados exprimiam sobremaneira esta
última dimensão, os inquiridos deste estudo apontam, como principais obstáculos
de acesso ao primeiro emprego, dois tipos de motivos: um de caráter mais
estrutural associado ao fraco dinamismo económico da sociedade portuguesa, e
outro relacionado com apreciações individuais, nomeadamente a ausência de
experiência profissional sentida pelos diplomados.
Assim, ao contrário da postura verificada pelos diplomados nos estudos
anteriores, a atitude dos atuais respondentes já não salienta exclusivamente
conceções de desemprego entendidas pela debilidade macroeconómica e pelo
funcionamento organizacional ligado à própria gestão dos recursos humanos,
passando a privilegiar questões de foro individual subjacentes à categoria
falta de experiência profissional15 . O fomento das práticas de formação para
os jovens na procura ativa de emprego e na gestão das carreiras empreendidas
pelas próprias Universidades e organizações contíguas poderão constituir um dos
fatores que explicam posturas mais individualizantes face à conceção de
desemprego.
A mudança nas representações expressa, sem dúvida alguma, as transformações
económicas que paulatinamente afetaram o funcionamento social nas últimas
décadas. Assiste-se a mutações que alteraram os sentidos da esfera laboral: a
desregulamentação dos mercados globais a par da concomitante competitividade
entre empresas, a desregulamentação, formal e informal, do mercado de trabalho
e a segmentação do mesmo, a expansão do desemprego e as várias formas de
flexibilização do emprego, são aspetos que têm conduzido a uma crescente
complexificação nos processos de inserção no mercado de trabalho por parte dos
jovens (Gonçalves, Parente e Veloso, 2001 e 2004). Com efeito, a partir dos
anos 70 do século XX, deparamo-nos com uma pluralidade de processos de entrada
na vida ativa, de natureza não linear (Pais, 1999), sobressaindo as situações
atípicas marcadas pela precariedade do vínculo jurídico bem como pelos
percursos profissionais entrecortados por períodos de emprego, formação,
desemprego e inatividade, resultante do desemprego crescente e dos múltiplos
tipos de desadequação entre formação escolar e tarefas laborais. Em suma,
vários estudos no contexto europeu apontam o movimento destas mudanças que
exprimem a rutura no paradigma de emprego seguro e para toda a vida,
característico dos anos 60 do século XX, dando mote a Beck (1998) que fala
sobre sociedades de risco ou Sennett (2001) em corrosão do caráter.
Um dos principais indicadores sobre o acesso ao mercado de trabalho
materializa-se no tempo de espera para a obtenção do primeiro emprego regular,
o que Alaluf et al. (1987 in Gonçalves; Parente; Veloso, 2001) denominam de
velocidade de inserção e que exprime as dificuldades da passagem à vida ativa.
Alguns estudos nacionais16 revelam a existência de cursos caracterizados por
uma maior velocidade de inserção no mercado de trabalho, o que indica um mais
elevado potencial de empregabilidade. No projeto de investigação mais amplo
sobre a Precariedade Profissional dos diplomados da Universidade do Porto em
Ciências Sociais, Humanidades e Administração e alternativas de inserção futura
(Parente, Veloso, 2010), que sustenta o levantamento empírico do estudo agora
apresentado, destacam-se a este propósito aspetos que importam revelar. Aí se
verificou que os cursos de gestão e de economia são os menos afetados pela
precariedade ao longo das suas trajetórias profissionais e que é o género
feminino o mais penalizado (Parente e Veloso, 2009).
Importa agora ter em consideração o modo como o tempo de acesso ao emprego se
diferenciou entre 1997 e 2004, subdividido em dois arcos temporais.
Na relação entre o tempo de espera até ao primeiro emprego regular e os anos de
conclusão do curso subsistem alguns aspetos de especial relevo. É entre os
alunos licenciados entre 2001 e 2004 que se verifica a maior percentagem dos
que obtiveram o acesso a um emprego imediatamente após a titulação académica.
Todavia, estes valores merecem uma interpretação mais cuidada, uma vez que esse
mesmo período conta com um maior número de trabalhadores-estudantes diplomados
face ao período de 1997 e 2000 (19,4% e 16,7%, respetivamente), e que, vendo o
seu percurso académico finalizado, se mantiveram a trabalhar na mesma empresa/
organização. Por seu turno, encontramos uma situação inversa quanto ao
desemprego de longa duração (DLD). A proporção de licenciados nessa situação
aumenta muitíssimo do período de 1997 e 2000 até ao homólogo entre 2001 e 2004,
passando de 9,1% no primeiro segmento temporal, para 17,1% no segundo. Neste
último período, verifica-se mesmo uma duplicação daqueles que vivenciaram uma
situação de desemprego igual ou superior a 16 meses, sinal de uma exclusão do
mercado de trabalho qualificado. Com efeito, atendendo à distribuição genérica
dos valores do período temporal mais recente, verificamos que os tempos de
inserção na vida ativa são aí mais distendidos, assistindo-se a um alongamento
do período de transição ao mercado de trabalho por parte dos licenciados. Tal
tendência ajusta-se aos padrões de evolução da taxa de desemprego em Portugal,
demonstrada pelo estado da conjuntura económica durante estes dois períodos:
vejamos que durante o primeiro período à taxa de desemprego global variou
respetivamente entre os 5% e os 3,9% enquanto no segundo entre 4,1% e os 6,7%.
Mais interessantes são os dados relativos a taxa de desemprego nas camadas mais
jovens (15-24 anos) que diminui de 1998 a 2000 cerca de 1,8%, tendo voltado a
aumentar entre 2001 e 2004 para 5,9%17 . Em todo o caso, resultados mais
recentes obtidos em 2008 sobre sociólogos desempregados vêm demonstrar que o
desemprego atinge tanto aqueles que estão à procura de um primeiro emprego,
como toca diretamente os que já se encontram inseridos no mercado de trabalho
(Baptista; Machado, 2008). Tal facto traduz que o desemprego de inserção é uma
característica constante do percurso profissional desta atividade. Nas duas
últimas décadas, a Europa tem vindo a conhecer uma expansão do desemprego,
acompanhada pelo crescimento do desemprego juvenil e pelo contínuo alongamento
do tempo de espera para aceder ao primeiro emprego. O primeiro emprego
consubstancia assim um momento de particular significado na transição ao
trabalho. Assiste-se ao corte com o estatuto de estudante enquanto posição
predominante e a um reposicionamento em termos de reconhecimento social. Para
se compreender aquele acesso é importante dar conta dos meios que foram
acionados pelos próprios licenciados. Face a este indicador observamos que os
inquiridos se dividem em dois grupos quanto aos meios utilizados (quadro_12):
os que acionam redes formais (35,3%) e os que mobilizam redes de natureza
informal (56,9%). Com menor expressividade que as anteriores presencia-se
também a existência de práticas de autoproposta e de criação do próprio
emprego/empresa.
As redes de relações sociais informais detêm um importante papel no acesso ao
emprego, facto que os valores apresentados no quadro_12 expressam quando se
verifica que 56,9% dos licenciados mobilizam este recurso. Esse é um aspeto
indicativo do acionamento das redes de interconhecimento através da posse de
capital social, às quais se acrescenta a pertinência o papel dos contactos
esporádicos no acesso ao emprego, ao invés do que atrás mencionámos para o
emprego atual (Granovetter, 1983). Ao contrário nos dois estudos anteriores
observámos, no período de acesso ao primeiro emprego, a inversão da posição
modal, que destacava sobretudo o acionamento dos meios formais em benefício de
um substancial acréscimo dos meios informais, tal como referimos linhas acima.
Como também já tivemos oportunidade de salientar, esta predominância das redes
sociais não se verifica para o acesso ao emprego que os respondentes ocupavam à
data da aplicação do inquérito, predominando as vias formais. O primeiro
emprego ao constituir-se como o momento da trajetória profissional mais próximo
da trajetória académica é, por isso mesmo, mais mobilizador também das redes
sociais aí constituídas. Neste sentido, quanto mais tempo passar da saída da
formação académica, menor será a ligação com as redes adquiridas durante aquele
período. Por sua vez, estas serão mobilizadas por aqueles que a frequentaram
mais recentemente. Trata-se de uma questão de proximidade e de visibilidade no
campo académico.
2.3. O primeiro emprego: breve caracterização da situação socioprofissional
No primeiro emprego detido, a maioria dos inquiridos em análise integra-se em
dois grupos: os assalariados e os trabalhadores independentes. Caracterizam-
e em termos modais por ocuparem o grupo dos especialistas das profissões
intelectuais e científicas, sendo que 60% se rotulavam como sociólogos.
Globalmente encontram-se numa posição de precariedade laboral (96,7%). A
análise que a seguir propomos acerca do primeiro emprego detido pelos
licenciados em análise, incide sobre um número mais restrito de inquiridos.
Deste modo, na temática do primeiro emprego trabalha-se com uma subpopulação de
51 indivíduos que transitaram até à atualidade, pelo menos, entre dois
empregos. Os indivíduos que se mantiveram empregados no mesmo emprego desde a
sua entrada no mercado de trabalho até à atualidade foram considerados apenas
na caracterização do emprego atual. Constata-se que as situações de bolseiro e
estagiário são significativas (21,6%) e constituem uma das respostas possíveis
face ao processo estrutural de redução do emprego.
Igualmente revelador é o facto do assalariamento se equiparar ao número
daqueles que exercem a sua profissão como trabalhadores independentes, todavia
em situação de assalariamento oculto. Esta particularidade é um aspeto já
recorrente nos dois estudos anteriores. Neste estudo verificamos um
assalariamento oculto de 31, 6%. A precariedade laboral18 é uma característica
marcante do primeiro emprego dos licenciados em sociologia atingindo 88,2% dos
indivíduos e revela semelhanças, porém com tendência para agravamento, face aos
dados levantados pelos dois estudos anteriores: 76,5% de indivíduos em 2001 e
83,9% em 2004. Outros estudos (Sousa, 2003; Alves, 2005 e Alves, 2008),
corroboram esta característica penalizante do emprego dos jovens, evidenciando-
se, em particular para os diplomados, um início de atividade profissional
marcado pela insegurança e forte incerteza face ao futuro.
Perante estes dados parece-nos pertinente, no âmbito dos objetivos a que o
Observatório pretende responder, isolar para análise os respondentes com uma
situação contratual precária (quadro_14). Observando os 45 licenciados que
vivenciaram precariedade contratual, concluí-se que predominam os especialistas
das profissões intelectuais e científicas a trabalharem na Administração
Pública, o que sustenta a continuidade do papel indutor e normalizador de
precariedade laboral que o Estado tem vindo a desempenhar na sociedade
portuguesa (Gonçalves, Parente e Veloso, 2004).
As instituições de Administração Pública Central, Regional e Local são aquelas
que apresentam um maior peso relativo de inquiridos em situação de
instabilidade contratual (42,3%), revelando uma degradação das práticas de
gestão de recursos humanos quando confrontamos estes valores com os do primeiro
estudo19 . Salienta-se igualmente o papel da precariedade induzido pela
Administração Pública, a saber 42,3%, enquanto no Terceiro Setor a precariedade
se situa nos 26,6%, seguidos por 20% do Setor Privado.
A análise do quadro_15 traça o perfil das organizações que os sociólogos
integram na circunstância do seu primeiro emprego. O ensino/investigação e a
ação social emergem como os setores mais representativos de uma atividade
exercida em empresas privadas, na Administração Pública central e regional e,
com menor expressividade, na local. Deste modo aponta-se que embora subsista
diversidade é forte o papel do Estado como empregador dos sociólogos (42,9%).
Constata-se igualmente a diminuição de indivíduos a trabalhar em pequenas e
médias empresas, com valores elevados em 1998 e 2003, 76,2% e 74,3%
respetivamente (Gonçalves, Parente; Veloso, 2001:57; 2004:279). No atual
levantamento de dados os valores mais expressivos oscilam entre as pequenas e
médias empresas (40,4%) e as organizações com mais de 100 trabalhadores
(40,4%). Passemos agora à avaliação que os respondentes fazem da utilidade da
sua formação académica em sociologia e da função que desempenharam no âmbito do
seu primeiro emprego. Tomar esta relação pela perspetiva dos próprios
diplomados permite-nos aferir as representações e expectativas sociais face à
sua vivência profissional. Como fora afirmado em artigo anterior (2001), estas
avaliações são diretamente modeladas por dois fatores de ordem diferente, não
obstante complementares entre si: o modo como os licenciados se identificam com
a sociologia e o perfil-tipo ideal de atividade de sociólogo tido como
referência de identificação. A observação do quadro_16 permite-nos afirmar que
uma expressiva maioria declara que a licenciatura nesta área consubstanciou uma
condição necessária no acesso ao primeiro emprego, o que remete tanto para a
natureza específica da formação, como reforça o facto de grande parte dos
respondentes não conhecerem situações de desclassificação laboral, e se
identificarem como sociólogos. Com efeito, recordando o quadro_13, observa-se
que 68,9% dos respondentes exerciam atividades em profissões intelectuais e
científicas, o que comprova existir, para uma parte substancial destes
licenciados, uma adequação entre a profissão e a formação universitária.
2.4.Mobilidades profissionais e desemprego
Observadas as situações profissionais dos licenciados à data da aplicação do
inquérito (2006) e no seu primeiro emprego, dedicamos este ponto a uma análise
dos fluxos de mobilidade profissional que existiram entre os momentos da
transição ao trabalho em estudo, incluindo também dados relativos ao
desemprego. Tal como foi fundamentado no primeiro artigo (Gonçalves, Parente e
Veloso, 2001) esta análise permite dar conta do conceito de trajetória
profissional. Importa referir que esta definição conceptual consubstancia uma
característica do Observatório, em que as variáveis apontadas já indicavam a
possibilidade de ultrapassar uma abordagem unicamente estruturada na entrada na
vida ativa, procurando assim a articulação das estruturas com a ação dos
sujeitos numa perspetiva diacrónica (Gonçalves, Parente e Veloso, 2001).
Verifica-se que a maioria dos nossos respondentes (50%) teve, à data da
aplicação do inquérito, dois ou mais empregos (quadro_17). No entanto, se a
maioria vivenciou um processo de mudança, o mesmo não aconteceu para 27% dos
respondentes, que só teve um emprego.
Se tivermos em conta a distribuição da rotatividade no mercado de trabalho
pelos anos de conclusão da licenciatura, verificamos a mesma falta de
linearidade que já fora possível identificar nos estudos anteriores. Note-se
que seria previsível que fosse o conjunto dos licenciados diplomados entre os
anos de 1997 a 2000 a demonstrar o peso mais elevado (64,1%) daqueles que
vivenciaram duas ou mais mudanças de emprego. No entanto, não obstante os
diplomados entre 2001 e 2004 serem o grupo onde se interpreta a maior parcela
daqueles que nunca protagonizaram um processo de mobilidade (31,1%), verifica-
se que tal não corresponde necessariamente a trajetórias mais estabilizadas
neste período de tempo. Assim, 66,7% dos diplomados no ano de 2002 conheceram
dois ou mais processos de rotatividade de emprego. O mesmo sucede a uma
significativa parcela de 35,2% dos respondentes que se diplomaram no ano de
2003.
Uma hipótese mais clarificadora para a reflexão sobre a mobilidade de empregos
dos licenciados, nomeadamente da sua correlação com a precariedade laboral,
encontra-se sintetizada no quadro_18 que permite uma leitura do motivo de
abandono do primeiro emprego. Verifica-se assim que a forma de abandono mais
relevante é a cessação de contrato (61%), a termo certo ou de prestação de
serviços. Ao contrário do que sucedera nos estudos anteriores, a opção
voluntária pela rescisão de contrato é agora bastante reduzida, representando
apenas 21% no peso total dos inquiridos, parcela esta, tal como referíamos,
bastante menos expressiva20 . Esta diferença testemunha o facto de estarmos
perante uma conjuntura laboral insegura, desfavorável e precária que retirou a
margem de liberdade aos diplomados na escolha do seu emprego.
Todavia, verifica-se que, entre o primeiro emprego regular dos licenciados e o
emprego à data da aplicação do inquérito, se assiste a um acréscimo relativo da
segurança laboral (quadro_19).
Se no primeiro emprego, a precariedade é a condição que se aplica à maioria dos
inquiridos, a situação no emprego atual, por seu lado, consubstancia uma
inclinação no sentido de estabilização da vivência laboral. Esta tendência
geral tem sido verificada igualmente nos estudos anteriores, o que poderá
permitir aferir uma regularidade nas trajetórias profissionais no sentido de
uma melhoria relativa da qualidade do emprego articulado ao tempo de
permanência no mercado do trabalho. A propensão para a estabilização do vínculo
contratual associada ao tempo de permanência no emprego, explicará, em época de
recessão do emprego, a não opção dos licenciados abandonarem os empregos por
iniciativa própria. Uma análise mais fina dos diversos fluxos de mobilidade
contratual (gráfico_1) evidencia que o percurso mais representativo se encontra
na passagem da prestação de serviços para a do contrato a termo certo (15,7%).
Esta situação indica que a transição do primeiro emprego para o atual funcionou
provavelmente como um tempo de espera de uma situação de assalariamento oculto
para uma situação laboral, que apesar de precária, representa uma maior
estabilidade contratual ao estar afeta a um contrato a termo certo. Já foi
possível traçar algumas características estruturais do mercado de trabalho que
propiciam esses tipos de percurso e que colocam a prestação de serviços como
uma das principais formas de transição ao trabalho por parte dos licenciados.
Igualmente naqueles que transitaram do contrato a termo certo (7,8%) e do
regime de prestação de serviços (11,8%) para o de contrato efetivo assiste-se a
uma melhoria explícita da situação laboral.
Ao comparar estes movimentos de mobilidade contratual com os verificados nos
dois estudos anteriores, destaca-se a fraca representatividade das trajetórias
de mobilidade descendente21 , sendo que a parcela mais expressiva dos
licenciados que vivenciaram uma degradação da situação laboral (3,9%) passou de
um contrato a termo certo, no primeiro emprego, para um regime de prestação de
serviços, no emprego à data da aplicação do inquérito. A parcela maioritária
dos nossos respondentes viu-se transferida de um vínculo de maior precariedade
contratual para outro de menor ou mesmo ausência da mesma.
A leitura do quadro_20 demonstra que uma significativa maioria de licenciados
inquiridos (61,9%) vivenciaram pelo menos uma situação de desemprego com
destaque para o facto de 45,2% terem estado apenas uma vez desempregados.
Este cenário reflete tanto a vulnerabilidade laboral dos inquiridos como também
denota uma tendência cada vez mais comum, a saber, a rotatividade entre emprego
e desemprego. Deste modo, assistimos a fortes processos de mobilidade entre
diferentes empregos, intermediados por períodos de desemprego ou de prossecução
de formação, académica e/ou profissional.
2.5. Pertenças sociais e profissionais
Após termos abordado os principais indicadores sobre o primeiro emprego à data
da aplicação do inquérito e imediatamente após o acesso ao mercado de trabalho,
iremos focar-nos agora na caracterização social dos inquiridos e respetivos
agregados familiares. Em termos de caracterização dos respondentes, constata-se
que 76,2% dos inquiridos são do sexo feminino e 23,8% do sexo masculino,
característica de género que vem corroborar a forte tendência de feminização da
sociologia feminina identificada noutros estudos (Baptista; Machado, 2010). A
idade média dos diplomados à data da aplicação do inquérito era de 31 anos,
sendo a grande maioria solteira (52,5%), natural e residente na área do Grande
Porto. A análise da categoria socioprofissional dos inquiridos demonstra a
importância dos profissionais técnicos e de enquadramento, seguida dos
empresários, dirigentes e profissionais liberais que absorve, na atualidade,
uma maior proporção de inquiridos do que a observada em 2001 então com 11,9%.
Sublinhando o peso expressivo de licenciados integrados nestas duas categorias,
apenas uma parcela reduzida dos mesmos ocupa categorias genericamente providas
de recursos económicos e organizacionais mais baixos tendo em conta os acima
mencionados.
Se tomarmos em consideração como unidade de análise o grupo doméstico atual
(quadro_22), observamos o mesmo perfil de categorias socioprofissionais
referido para os inquiridos. Estes resultados reforçam o que já foi avançado
nos estudos anteriores: o avanço da nova classe média que, desde os anos 80
do século XX, se manifesta por um substancial movimento de recomposição social,
relacionado com o acréscimo dos níveis de escolarização, principalmente a
universitária, e que se repercute num aumento das profissões científicas e
técnicas nas organizações, à escala de um processo mais geral de modernização
do sistema económico e de reconfiguração do Estado Providência (Viegas; Costa,
1998). O quadro_23 demonstra os fluxos de mobilidade social entre os
indicadores socioprofissionais dos agregados domésticos atuais e os de origem.
Por um lado, é notória a existência, em termos quantitativos, de situações de
reprodução intergeracional de lugares de classes, designadamente no que toca a
empresários, dirigentes e profissionais liberais (30,8%) e os profissionais
técnicos e de enquadramento (40,4%), com uma taxa de autorrecrutamento mais
significativo nos segundos, ao contrário do que se verificava num estudo
anterior (Gonçalves, Parente e Veloso, 2001) cuja taxa de recrutamento era mais
significativa no caso dos empresários, dirigentes e profissionais liberais
(50%). Refere-se novamente que estes traços de reprodutibilidade constituem um
traço caracterizador do perfil da composição classista dos estudantes
universitários portugueses. Por outro lado, os empresários, dirigentes e
profissionais liberais, e os profissionais técnicos e de enquadramento são
grupos cujas trajetórias sociais demonstram significativos fluxos de mobilidade
ascendente (19,2% respetivamente) que, contradizendo a tendência de
seletividade social, em estrito senso, ocorrida no sistema universitário,
indicam movimentos de recomposição social que vêm ocorrendo na população
estudantil.
2.6. Valores e satisfação face ao trabalho
Sempre que se atende às transformações ocorridas no sistema produtivo e
económico das sociedades contemporâneas levantam-se questões sobre o sentido
atribuído ao emprego para assim dar conta das mudanças de atitudes e valores
atuais com os do passado. Autores tais como Inglehart (2008) problematizam o
impacto das mudanças, provocado pelo incremento da qualidade de vida que grande
parte da população das sociedades ocidentais conheceu após a Segunda Guerra
Mundial. Para estes autores, o facto de as gerações nascidas depois desse
período não terem suportado as privações materiais conhecidas pelas gerações
anteriores, impulsionou a emergência de novas aspirações e expectativas face às
várias dimensões da vida social, designadamente, orientações distintas face ao
trabalho e ao emprego.
Neste sentido, procura-se compreender quais os aspetos mais valorizados no
trabalho e emprego, questão pertinente sobretudo quando contextualizada no
espectro mais lato das novas formas laborais, sustentadas por condições sócio-
económicas e reforços ideológicos que afastam o anterior cenário do emprego
para toda a vida. Assiste-se a um trabalho assalariado que apresenta novas
configurações que volatilizam as certezas anteriores relativas a vínculos
contratuais, rendimentos e carreiras estáveis. Perante a concomitante diluição
de definições identitárias que tais circunstâncias promovem a nível subjetivo,
torna-se legítimo questionar se deste cenário emergem condições necessárias
para que se transmute o peso das motivações económicas do emprego em favor das
motivações intrínsecas e relacionais inerentes ao mesmo.
Com efeito, o quadro_23 indica que é precisamente na dimensão extrínseca do
trabalho que os licenciados afirmam valores de satisfação mais reduzidos,
declarando-se mais satisfeitos com as dimensões expressivas ligadas ao
desenvolvimento pessoal, verificável pelo peso percentual da satisfação nas
dimensões relacional e intrínseca. Embora não possamos inferir diretamente
destes dados a questão ligada às motivações que orientam os sujeitos,
depreende-se da leitura do quadro 26 que as dimensões onde os respondentes
encontram maiores níveis de satisfação se relacionam com as de natureza
intrínseca e relacional, privilegiando sobretudo na primeira, as categorias
relacionadas com a autonomia e responsabilidade no trabalho, bem como a
variedade de tarefas e aprendizagem de novos conhecimentos. De destacar
igualmente que a presença destes valores não pode ser analisada sem que se
proceda à leitura da formação específica em Ciências Sociais, e em particular
em Sociologia, na produção de valorizações e expectativas particulares no
âmbito do exercício da atividade profissional.
Considerações finais
À semelhança do que fora já exposto nos dois estudos anteriores, confirma-se
neste terceiro momento que a denominada transição dos jovens para o emprego se
pauta pela complexidade e diversidade das formas sociais que toma. Deste modo,
assiste-se à intensificação de um contexto laboral no qual os perfis e
trajetórias profissionais adquirem uma natureza cada vez mais transitória
marcada por contornos indefinidos. Estas características resultam da
instabilidade estrutural prevalecente no tecido económico que tem vindo a
evidenciar-se durante as últimas décadas e cujos impactos alteraram
significativamente a relação entre o sistema de ensino e o mercado de trabalho
(Pinto, 2010), nomeadamente impondo novos ritmos e modos de acesso ao mesmo
(Gonçalves, Parente e Veloso, 2001 e 2004). Os diplomados em análise neste
artigo, tal como os dos estudos anteriores, enquadram-se nas tendências mais
gerais do mercado de trabalho em Portugal e confirmam o que já fora exposto
anteriormente quanto ao sentido e natureza da evolução do mesmo nas últimas
décadas: emprego marcado pela precariedade ao qual subjaz uma crescente lógica
de flexibilização quantitativa dos recursos humanos. Com efeito, constata-se
uma significativa externalização das relações de trabalho que tem funcionado
para reduzir volume, custos e tempo de trabalho, num processo mais amplo de
flexibilização quantitativa do trabalho. A ilustrar este ponto, verifica-se que
o exercício da profissão é predominantemente realizado sob a forma de uma
relação jurídica alicerçada nos contratos de trabalho a termo certo e em
regimes de prestação de serviço, transversal em todos os momentos da trajetória
profissional dos diplomados em sociologia. Verifica-se que a precariedade é
sobretudo de caráter contratual e não tem como corolário um processo de
desqualificação, uma vez que, tanto no primeiro como no emprego à data da
aplicação do inquérito, a maioria dos licenciados exerce a profissão de
sociólogo, facto que corrobora a importância da formação universitária nesta
área disciplinar como qualificativa para o emprego, o que ao mesmo tempo revela
que a identificação prevalecente entre os diplomados em sociologia a exercer
uma profissão se mantém vinculada à sua área de formação. Assim, é face a um
contingente maioritário de respondentes que se identificam como sociólogos que
se encontra manifesta uma correspondência objetiva e subjetiva entre a formação
em sociologia e o desempenho laboral profissional. Tal traduz que os espaços de
inserção no mercado de trabalho são tendencialmente mobilizadores das
competências adquiridas ao longo da formação académica em sociologia ao
fomentar circunstâncias laborais que valorizam e potenciam o exercício
analítico, metodológico e técnico próprio a esse saber. Não obstante, as
virtualidades aqui subjacentes podem correr o perigo de diluir-se perante a
natureza precária das formas laborais que enquadram essas atividades, uma vez
que sob este contexto se assiste à pulverização das carreiras estáveis e
lineares a favor de uma pluralidade e diversidade de circunstâncias laborais
que exigem dos profissionais a reconfiguração contínua das suas práticas à luz
de novos enquadramentos e objetivos organizacionais. Vislumbram-se os desafios
que condicionam, aos mais diversos níveis, os percursos de vida da geração
saída do sistema de ensino nos últimos anos, antecipando-se aí que a crescente
transitoriedade das trajetórias laborais exerça impactos significativos tanto à
escala individual, nas trajetórias laborais e familiares dos diplomados
(Gonçalves, 2010), quer ao nível coletivo, no âmbito do ensino e da
profissionalização da sociologia em Portugal. Perante este cenário atravessado
de contínuas mudanças ocorridas quer no sistema educativo, quer no sistema
económico, a investigação do percurso dos jovens licenciados em sociologia
assume-se como um exigência cada vez mais necessária para avaliar os alcances e
desafios atuais que se colocam à sociologia portuguesa. Avaliar o impacto da
institucionalização do processo de Bolonha ao nível do emprego e desemprego, da
precariedade e da opção pelo prolongamento dos estudos, bem como a forma como a
nova configuração formativa responde às novas exigência das sociedades
globalizadas em geral e do mercado de trabalho em particular, num contexto
marcado pela redefinição das relações laborais, é o repto que este artigo nos
deixa para a próxima análise no âmbito do Observatório do Emprego dos
diplomados em Sociologia.
Notas
1 Agradecemos a revisão ortográfica da responsabilidade da Dra. Olímpia
Loureiro.
2 Socióloga. Professora Auxiliar com Agregação no Departamento de Sociologia da
Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e investigadora do
Instituto de Sociologia da mesma instituição (ISFLUP) (Porto, Portugal).E-mail:
cparente@letras.up.pt
3 Mestre em Sociologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP)
(Porto, Portugal). À época do estudo, bolseira de integração na investigação da
Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) no Observatório do Emprego dos
Licenciados em Sociologia. E-mail: nadiamaria.costa@gmail.com
4 Aluna do mestrado em Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do
Porto (FLUP) (Porto, Portugal). À época do estudo, bolseira de integração na
investigação Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) no Observatório do
Emprego dos Licenciados em Sociologia. E-mail: maffagomes@gmail.com
5Embora estejamos diante de processos que, dada a sua complexidade, não
recolhem unanimidade em torno de fatores explicativos nem tampouco, e pela
mesma razão, são objeto de teses unívocas e determinísticas, verifica se porém
a presença de variáveis consensualmente reconhecidas como tendo um impacto
decisivo na transformação do mercado de trabalho. A nível meso empresarial,
estas dizem respeito à alteração dos processos de organização do trabalho e da
gestão da mão de obra na qual se destaca a adoção de uma estratégia empresarial
assente na redução de recursos humanos e na introdução das tecnologias da
informação e de comunicação. A nível macro económico, estas orientações
coexistem com pressões suscitadas pela intensificação da concorrência
internacional e pelos movimentos de diversificação do consumo e da produção.
6Nos estudos extensivos conduzidos no âmbito do World Values Survey
(www.worldvaluessurvey.org), Inglehart e colaboradores (2008) desenvolvem uma
perspetiva sociológica que assenta no princípio teórico de que as mudanças nos
valores e atitudes dos sujeitos, como as configurações sócio politicas
instauradas nas sociedades ocidentais a partir da segunda metade do século XX,
foram largamente impulsionadas pelas transformações económicas e tecnológicas
ocorridas desde então, nomeadamente em cenários de crescimento e prosperidade
económica. Inglehart e colaboradores defendem que as diferenças
intergeracionais mais notáveis encontradas nos valores e atitudes dos sujeitos
socializados a partir da II Guerra Mundial, demonstram uma deslocação de
sentido dos valores materialistas, com prevalência na segurança económica, para
valores pós materialistas com ênfase na autonomia e autoexpressão. Segundo os
autores, este movimento fundamenta a transição para a designada
"sociedade pós industrial". Porém, parece pertinente evidenciar que
ainda que esta perspetiva teórica não levante objeções lógicas em contexto de
crescimento e relativa estabilidade económica, os cenários económicos instáveis
e recessivos que têm marcado recentemente as sociedades ocidentais levantam
desafios teórico metodológicos à perspetiva da modernização social que é
proposta por Inglehart.
7O projeto Precariedade Profissional dos diplomados da Universidade do Porto em
ciências sociais, humanidades e administração e alternativas de inserção futura
(POCI/SOC/58441/2004), financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia,
tinha como investigador responsável Carlos Manuel Gonçalves. Integraram a
equipa de investigação igualmente Cristina Parente e Luísa Veloso.
8Em termos técnico metodológicos importa ressalvar algumas notas sobre a
população: o período referente à situação profissional dos licenciados em
sociologia pela FLUP aqui retratado, inclui o período entre os anos letivos de
1997/98 e 2001/02 que já fora objeto de observação no estudo anterior
(Gonçalves, Parente e Veloso, 2004). Esta reincidência justifica se pela
necessidade de fundamentar este estudo em dados robustos, contornando as
limitações existentes em termos de taxa de resposta, impostas quer pelo
inquérito postal, como pelo inquérito eletrónico, e que derivam da
impossibilidade da cobertura da população alvo na sua íntegra.
9Para um maior desenvolvimento da estratégia metodológica, cf. Gonçalves;
Parente; Veloso (2001 e 2004).
10Com efeito, o primeiro artigo publicado em 2001, Licenciados em Sociologia:
Ritmos e formas de transição ao trabalho, indicava que 38,9% dos diplomados
tinham acedido por anúncio ou concurso público ao emprego no qual se
encontravam na altura da realização do inquérito. No estudo posterior,
Licenciados em Sociologia e mercado de trabalho na transição do milénio,
publicado no ano de 2004 verificamos uma incidência de 28,4% nesta prática de
acesso ao emprego.
11O assalariamento oculto, também designado por falso trabalho independente,
remete para relações contratuais baseadas em contratos de prestação de
serviços/recibo verde. Contudo regulamentadas por situações de trabalhadores
por conta de outrem, dada a execução de tarefas regulares e constantes,
persiste a utilização de meios de trabalho pertencentes à organização
contratante e o cumprimento de horários de trabalho e enquadramento na cadeia
hierárquica da organização. Deste modo, caracterizam situações laborais cuja
configuração é idêntica à dos trabalhadores assalariados em termos de deveres e
obrigações, porém ausentes dos respetivos direitos.
12Com efeito, no estudo publicado em 2001 observa se que 21,7% dos respondentes
exercia funções no setor da Administração Pública, Defesa e Segurança Social
obrigatória, e no ano de 2004 registou se um acréscimo sobre esse valor
atingindo os 27,5%.
13Em 1998, 22,5% dos diplomados trabalhavam em organizações com 500 e mais
trabalhadores, valor que decresceu ligeiramente em 2001 para 21,4% (Gonçalves,
Parente e Veloso, 2001 e 2004).
14 O peso dos trabalhadores estudantes com contrato precário aumenta
significativamente em 2006. Observamos que essa era a situação contratual para
44,4% dos mesmos, enquanto que em 1998 verificávamos que apenas 17% deste
segmento de inquiridos detinha um contrato a termo certo, e em 2001 este grupo
representava 11% dos respondentes.
15Lembramos os valores do estudo publicado em 2001 para o indicador em causa e
que traduzem a inversão de sentido atribuída à conceção de desemprego
supracitada: Desinteresse dos responsáveis das organizações pelas atividades
dos licenciados em Sociologia, apontado por 43,2% dos inquiridos, enquanto que
a Falta de experiência profissional traduzia uma proporção de 28,4% dos
respondentes (Gonçalves, Parente e Veloso, 2001: 48).
16Arroteia e Martins, 1998; ODES, 2001; Marques, 2003; Alves, 2008.
17Fonte: INE, Inquérito ao Emprego.
18Por precariedade laboral devem entender se os seguintes vínculos contratuais:
contrato a termo certo, contrato de prestação de serviços / recibos verdes, sem
contrato, bolsa (investigação, mestrado, doutoramento) e estágio.
19Vejamos que no primeiro estudo realizado em 1998, 10,6% dos contratos a termo
certo incidiam sobre diplomados que exerciam funções na Administração Central,
perdurando uma inexistência de licenciados nesta situação na Administração
Regional.
20No primeiro estudo verificou se que 59,7% dos licenciados em sociologia entre
1988/89 e 1996/97 tinha rescindido o contrato por iniciativa própria na altura
do primeiro emprego. Um peso substancialmente idêntico (57,1%) fê lo na
sequência do segundo emprego. Observando os diplomados entre os anos letivos de
1997/98 e 2001/02, verificam se de igual modo valores significativos para as
formas de abandono em ambas as situações de emprego: o primeiro e o emprego à
altura de aplicação do inquérito com 67,9% e 42,9% respetivamente.
21No estudo publicado em 2001, 7% dos respondentes com um contrato a termo
certo no primeiro emprego trabalhavam à data da aplicação do inquérito em
regime de prestação de serviços. E 4,2 % dos respondentes que possuíam um
vínculo permanente no primeiro emprego trabalhavam sob um contrato a termo
certo por altura da inquirição. Em 2004, os dados homólogos são ainda mais
incidentes: 17,9% passam do contrato a termo certo para o regime de prestação
de serviços, 12,8% do contrato sem termo para o contrato a termo certo e 7,7%
vivenciam o percurso socialmente mais gravoso em termos de precariedade e que
consubstancia a passagem do contrato sem termo para o regime da prestação de
serviços.