Nota de Abertura
Nota de Abertura
Quando, meses atrás, redigimos o texto do call for paperspara este número de
COeG, dedicado à Gestão do Conhecimento, referimos que, apesar da sua não muito
longa história, esta é uma temática que reúne já uma herança não negligenciável
de contributos resultantes de acções em torno dela desenvolvidas. Emergentes de
diferentes contextos, dizíamos então, as referidas acções têm sido empreendidas
procurando responder aos desafios que permanentemente se têm colocado a todos
quantos investigam e/ou intervêm neste domínio. Procura-se, assim, antes de
mais, responder a necessidades e problemas sentidos quer pelos diferentes
actores ou diversos stakeholders organizacionais, quer por aqueles que gerem e
intervêm para além das próprias fronteiras organizacionais.
O conjunto de oito artigos que consubstancia este número temático reúne
contribuições de vinte autores, oriundos de cinco países (Brasil, Espanha,
Itália, Portugal e Reino Unido) e representando dez Instituições de Ensino
Superior (Instituto Superior do Trabalho e da Empresa, Fundação Dom Cabral,
Manchester Metropolitan University, Universidade de Aveiro, Universidade da
Beira Interior, Universitá di Bologna, Universidade de Coimbra, Universidade
Federal de Minas Gerais, Universitat de Valência, e Escola Superior de
Tecnologia de Setúbal).
Uma análise mais detalhada aos artigos em questão, permite-nos concluir que
estes se centram em torno de questões relacionadas com a aprendizagem em
equipa, com a criação e partilha do conhecimento, com a sua gestão estratégica,
e, ainda, com a gestão de recursos humanos, com o comprometimento dos
diferentes actores organizacionais (na interface estabelecida com os processos
organizacionais relacionados com o conhecimento), e com a conduta ética das
empresas e dos seus trabalhadores. Apresentam-se seis investigações
quantitativas ou de design fixo e duas de natureza qualitativa, sendo
predominantes os estudos realizados em contexto industrial, e os resultados
obtidos a partir de dados recolhidos recentemente (maioritariamente em 2007),
por recurso à técnica do questionário (construído e/ou adaptado para o efeito).
Considerando, agora, cada um dos contributos em particular, salientaríamos, no
que concerne ao primeiro (da autoria de uma equipa de investigadores da
Universidade de Valência), a abordagem ao conceito de aprendizagem em equipa e
o contributo decorrente do desenvolvimento e validação de um instrumento de
medida (TLQ) que viabiliza a sua avaliação. A validade de constructo e a
fiabilidade desta escala, que evidencia uma estrutura tetradimensional, foram
testadas com base nos dados recolhidos junto de uma amostra constituída por 566
trabalhadores de uma central nuclear espanhola.
O segundo (resultante de um trabalho conjunto desenvolvido por investigadores
da Universidade de Coimbra e da Universidade de Bolonha) focaliza a relação
entre comportamentos de partilha de conhecimento e desempenho individual, sendo
os primeiros estudados por recurso à metodologia de Análise de Redes Sociais e
o segundo avaliado com base em indicadores de gestão em uso na organização
estudada, uma empresa portuguesa de software. O questionário utilizado na
recolha de dados foi desenvolvido propositadamente para esta investigação,
tendo sido tratados os dados relativos a 244 colaboradores. As conclusões desta
investigação apontam para a existência de uma associação positiva entre
comportamentos de partilha de conhecimento e desempenho individual.
No que respeita ao terceiro contributo (oriundo de investigadores da
Universidade de Coimbra e da Universidade da Beira Interior), salientaríamos o
facto de se centrar nas dimensões humana e comportamental da gestão do
conhecimento, procurando analisar o impacto dos pressupostos da gestão de
recursos humanos no grau de aplicação da gestão do conhecimento. Foram
utilizados 4 questionários (1 já existente - GC - e 3 construídos
- PPFP, PPAD, PPSR), sendo a amostra constituída por 55 empresas do
sector português da cerâmica, no âmbito das quais foram recolhidos dados
relativos a 1364 colaboradores. De entre o conjunto dos resultados obtidos,
destacaríamos aqueles que apontam no sentido da existência de um maior impacto
da gestão de recursos humanos na gestão do conhecimento quando a primeira é
considerada num quadro de gestão integrada dos seus diversos processos (e não
de cada um destes isoladamente considerado).
O quarto estudo (resultante de uma parceria entre investigadores da
Universidade de Coimbra e da Universidade de Valência) constitui um contributo
para a análise da importância do comprometimento organizacional para a gestão
do conhecimento. É utilizado um instrumento previamente existente (GC) para a
avaliação do grau de aplicação dos processos organizacionais relacionados com o
conhecimento e adaptado um outro (ASH-ICI) para a recolha de dados relativa ao
comprometimento organizacional. Foi estudada uma amostra de 13 empresas do
sector português da cerâmica, tendo sido analisados os dados relativos a 300
colaboradores. Os resultados obtidos permitem concluir pela importância do
comprometimento organizacional para a gestão do conhecimento, destacando-se o
papel do comprometimento pessoal face ao de necessidade.
No quinto artigo (da autoria de investigadores do Instituto Superior de
Ciências do Trabalho e da Empresa) acedemos às conclusões o btidas numa
investigação realizada com o objectivo de identificar os parâmetros que poderão
permitir avaliar a gestão do capital intelectual, através da aplicação de um
modelo de auditoria a uma amostra constituída por 46 pequenas empresas. Para o
efeito foi desenvolvido um instrumento, composto por questões mistas,
construído com base no questionário oficial do Programa REDE. Os resultados
obtidos apontam para o facto de as pequenas empresas apresentarem melhor
performance no campo económico e social, quando equilibram os vários factores
do modelo usado.
No sexto artigo é apresentada uma investigação de natureza qualitativa
(realizada por investigadores da Fundação Dom Cabral e da Universidade Federal
de Minas Gerais) que envolve, numa primeira etapa, o estudo de 20 casos
descritos na literatura e que serviu de base para o desenvolvimento de uma
abordagem teórica posteriormente testada através de um estudo qualitativo
realizado em três organizações brasileiras de grande dimensão. Os resultados
obtidos validaram o modelo teórico adoptado e originaram novas questões de
investigação relacionadas com a implementação de um modelo organizacional
baseado no conhecimento.
Num contributo que nos chega de um trabalho conjunto de investigadores da
Universidade de Aveiro e da Manchester Metropolitan University Business School,
apresenta-se (para usar as palavras dos autores) uma abordagem idiossincrática
de investigação - a revisão sistemática da literatura - no contexto
da qual se analisam as actuais tendências que afectam a criação do conhecimento
nas actividades de I&D empreendidas pela indústria farmacêutica a nível
mundial. São revistos os artigos científicos publicados entre 1980 e 2005 e
apresentados resultados que incluem as tendências promissoras na inovação
farmacêutica e na gestão dos seus recursos humanos, bem como as suas potenciais
implicações nas práticas actuais de I&D no sector, considerando as
perspectivas da gestão e da governança.
O último trabalho incluído neste número temático (que, tal como já referimos,
nos chega de um investigador da Escola Superior de Tecnologia de Setúbal)
apresenta uma selecção dos resultados obtidos num estudo empírico realizado em
Portugal, em 2004, com o objectivo de avaliar diversos aspectos da conduta
ética das empresas e seus trabalhadores. Foi realizado um inquérito por
questionário, tendo sido tratados os dados recolhidos numa amostra de
conveniência, constituída por 640 participantes. Destacamos, do conjunto de
resultados apresentado pelos autores, o impacto positivo ao nível cognitivo da
implementação dos elementos de ética formal na empresa, o decréscimo de
confiança nas empresas nacionais à medida que o sentimento de segurança de/no
emprego se reduz e a predominância de documentos escritos de ética nas empresas
de origem estrangeira e a sua escassez nas empresas portuguesas.
Encerramos esta Nota de Abertura agradecendo a todos os autores dos artigos
aqui apresentados e, antecipadamente, a todos os seus leitores. A uns e a
outros o nosso muito obrigada. As palavras finais não podem, contudo, deixar de
ser dirigidas a alguém a quem muito admiramos e a quem é devida uma palavra de
apreço e reconhecimento, ao Professor Jorge Gomes. Todos quantos se interessam
pelo comportamento nas e das organizações e pela sua gestão têm colhido frutos
do modo como, desde 2003, conduziu os destinos de uma revista que constitui
hoje uma importante referência nas edições científicas produzidas em Portugal.
Leonor Cardoso
(Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra)
ISPA - Instituto Superior de Psicologia Aplicada
Rua Jardim do Tabaco, 34
1149-041 Lisboa, Portugal
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