Multinacionais de Obras Públicas na América Latina
1. INTRODUÇÃO
As obras públicas são uma actividade que desempenha um papel preponderante no
desenvolvimento económico e social de qualquer região, pelo que a construção de
infra-estruturas, que sejam social e economicamente eficientes, é um pré-
requisito ao crescimento económico e à utilização mais eficiente dos recursos
de cada país. Neste sentido as organizações políticas, económicas,
governamentais e não-governamentais estão de acordo sobre a relevância do
sector.
As obras públicas assentam essencialmente em duas grandes vertentes: a
construção e a manutenção. Registe-se que a construção em geral, e as obras
públicas em particular, são actividades económicas baseadas em grande
diversidade de projectos. Não existe uma padronização de produtos ou de
processos, (Rodrigues, 2005), e cada obra é normalmente um caso particular,
embora saibamos que na construção podem existir projectos que permitem alguma
réplica de diversos produtos finais, sendo disso exemplo a edificação de blocos
de apartamentos ou de casas. Neste contexto somos conduzidos a que a noção de
irreversibilidade faça com que a escolha de um projecto condicione, para um
dado horizonte temporal, outras opções em termos de novas obras e sua natureza
(Rodrigues, 2005).
Consideramos que é relevante retermos que o desenvolvimento desta actividade
contribui para a melhoria do nível de bem-estar das populações, podendo, neste
sentido, falar-se em criação de riqueza, a qual se enquadra em diversas
tipologias.
2. OBJECTIVO
O estudo da internacionalização das empresas insere-se num campo de
investigação muito rico, dado que as variáveis a analisar são enquadradas em
diversos vectores temáticos, ou, se quisermos, são diversas as questões que têm
de ser ponderadas e respondidas quando se prepara e implementa um processo de
abordagem dos mercados externos. O objectivo deste estudo é tentar analisar se
a internacionalização das grandes empresas de obras públicas ou, se quisermos,
dos grandes empreiteiros, para o Mercado da América Latina, se enquadra no
Modelo de Uppsala e na Teoria das Redes. Para a concretização do estudo, e de
forma a ter uma linha de orientação que evite a dispersão da análise face à
complexidade da investigação, a opção foi formular as seguintes hipóteses:
· Hipótese 1
As conclusões do Modelo de Uppsala são aplicáveis na internacionalização das
empresas de obras públicas para o Mercado da América Latina.
· Hipótese 2
A análise da variável cultural, falando-se em distância psicológica, é
relevante na internacionalização das empresas de obras públicas para o Mercado
da América Latina.
· Hipótese 3
Tem significado considerar o enquadramento da internacionalização das empresas
de obras públicas para o Mercado da América Latina na Teoria das Redes,
sustentado em variáveis específicas do impacto internacional desta actividade.
3. MODELOS DE INTERNACIONALIZAÇÃO
3.1. ENQUADRAMENTO GERAL
Uma decisão relacionada com o investimento além-fronteiras não pode ser
analisada de forma isolada em relação a decisões futuras, ou seja, olhando para
uma decisão no passado, e considerando que dessa forma a mesma não é
compreensível, se a inserirmos num contexto sequencial de opções assumidas pela
empresa vamos perceber a lógica que esteve subjacente à sua efectiva escolha
num determinado momento, (Aharoni, 1966).
Existem dois grandes grupos de modelos de internacionalização, (Tayeb, 2000):
· modelos sequenciais;
· modelos de simultaneidade ou modelos simultâneos.
Os modelos sequenciais, conforme se pode inferir da própria denominação,
resultam de se proceder a uma internacionalização por etapas, sendo
identificáveis os momentos em que se desenvolveram diversas acções visando o
envolvimento em negócios internacionais, desde a forma mais simples até se
atingirem graus de internacionalização mais sofisticados. Realça-se, no
entanto, que não são obrigatoriamente percorridas todas as formas de
internacionalização, desde que uma empresa decide entrar por esta via de
expansão da sua actividade até atingir o grau de envolvimento internacional
objectivado e que se coaduna com a estratégia formulada, (Tayeb, 2000).
Tendo por base orientações culturais, o mesmo autor refere que, numa orientação
etnocêntrica, a cultura doméstica, ou seja, do país de origem, é sempre a
dominante, e é ela que vai condicionar as possibilidades e as decisões de
expansão da empresa. As preocupações com as orientações culturais são já
estudadas nos anos 60, referindo-se a importância da influência do país de
origem nas decisões de internacionalização de cada firma, (Perlmutter, 1969).
Por seu lado, quando existe uma expansão internacional, que vai respeitando as
diferenças entre a cultura doméstica e as culturas locais dos diversos países
onde se vai desenvolver uma actividade negocial, estamos perante uma estratégia
formulada com base numa orientação policêntrica.
Finalmente temos a orientação geocêntrica, em que a empresa opera como uma
multinacional global, ou seja, considerando a formulação das estratégias
globais de internacionalização, quando a empresa actua com base na estratégia
global, em que se procuram os pontos de contacto ao nível mundial, (Tayeb,
2000).
O autor conclui que o importante é perceber que os modelos sequenciais estão
associados a uma maior preocupação com o grau de incerteza dos resultados que
se irão verificar com a internacionalização, e que a empresa encara com
responsável cuidado, dado que entrar em novos mercados implica riscos
acrescidos.
A opção por níveis de compromisso mais defensivos, no intuito de se adquirir,
paulatinamente, experiência internacional, permitindo que se vá conhecendo
progressivamente as características e os factores determinantes do
funcionamento do novo mercado, conduz directamente ao processo de expansão
etapa por etapa.
O aumento do conhecimento sobre o mercado e a melhor percepção que se vai
adquirindo da sua idiossincrasia, permitem que se progrida no sentido de um
maior envolvimento internacional, eventualmente através de parcerias
estratégicas ou outras formas de colaboração com firmas locais, até se optar
pela realização directa de investimento no estrangeiro, (Tayeb, 2000).
Esta teoria foi defendida por Johanson and Vahlne (1990), que tinham estudado o
processo de internacionalização procurando:
· fazer um paralelismo entre o acréscimo de conhecimento do mercado externo e o
aumento do grau de envolvimento no mesmo;
· estudar a redução de incerteza, ou seja, do grau de risco, através da entrada
suave no mercado externo, com baixo nível de compromisso financeiro e
patrimonial, para depois se poder optar por maior envolvimento no negócio
internacional.
Concluía-se, assim, pela afirmação de que o processo de internacionalização é
um somatório de fases incrementais, cada uma suportada por um conjunto de
decisões de gestão, as quais são sempre resultado da ponderação do somatório de
experiências adquiridas. O mesmo autor refere que, após este estudo, estas
noções se tornaram elementos chave do processo de internacionalização, apesar
da evidência empírica ter sido resultado de uma análise baseada num número
muito restrito de empresas. Esta é, aliás, uma das principais criticas às
conclusões dos estudos referidos, embora as condicionantes em termos de
recursos e a aversão ao risco sejam factores que levaram a que se confirmasse
posteriormente que as pequenas e médias empresas preferiam consolidar a sua
posição num novo mercado antes de darem um outro passo no processo de
internacionalização, (Tayeb, 2000).
No entanto, desde os anos 90 que a literatura publicada apontava para processos
de internacionalização mais rápidos, mesmo em empresas condicionadas em termos
de recursos e dimensão, (Bridgewater et al., 2004). Um dos factores referidos
para justificar esta evolução concerne ao aumento do número de nichos de
mercado com reflexo em novas oportunidades de internacionalização, em que as
vantagens competitivas assentam na capacidade para desenvolver e explorar
inovações de produtos ou de processos, bem como na flexibilidade para se
adaptar as organizações à mudança.
Segundo Buckley (1989), as pequenas e médias empresas podem não ficar em
desvantagem face às grandes multinacionais quando os alvos são mercados
especializados e sem economias de escala significativas.
Podemos assim considerar outro grande grupo de modelos de internacionalização,
os denominados modelos simultâneos, baseados nos argumentos de convergência
internacional de preferências e de gostos dos consumidores, que podemos
considerar modelos de convergência global, em que o mesmo produto se pode
vender em qualquer parte do mundo, sem alterações relevantes no product mix,
utilizando a mesma estratégia de comunicação e sem preocupações relevantes de
segmentação de mercado.
Os gostos dos consumidores, independentemente da localização geográfica destes
últimos, estão, por vezes, a tornar-se similares. Esta convergência será fruto
da globalização das telecomunicações, da inovação tecnológica e da velocidade
de circulação da informação, o que já era referido, nos anos 80, como a
proletarização da informação, (Levitt, 1983).
Gostaríamos de realçar que a globalização de preferências, ou de gostos, não
pode ser extensível a todos os tipos de produtos, nomeadamente aos mais
relacionados com perfis culturais, com condições naturais da região onde se
habita, como sejam o clima, a geografia ou a orografia, ou com valores
religiosos, pelo que se deve ter sempre em atenção as limitações de
aplicabilidade generalizada deste conceito.
Tayeb (2000), refere precisamente que a similitude, ou mesmo a homogeneização
de gostos, conduz a que se acredite na existência de mercados globais para
alguns produtos ou serviços, não afirmando, naturalmente, que tal se pode
aplicar de forma indiscriminada, citando ele próprio Levitt (1983), dado que
este autor já salvaguardava esta realidade.
A entrada nestes mercados permite às empresas a opção pela sua penetração
simultânea, daí a adopção dos modelos simultâneos de internacionalização, visto
que o benefício em economias de escala é muito significativo.
Se os gostos dos consumidores ganham alguma homogeneidade e as comunicações e o
transporte de mercadorias estão mais facilitados, então a rendibilização da
estrutura produtiva passa por aumentar o volume de negócios, e, como tal, essa
rendibilização obriga a que se tenha como alvo um mercado mais vasto que o
doméstico ou o da região onde o país se insere, para se pensar no mercado
internacional como um todo, (Tayeb, 2000).
Ambos os modelos apresentados estão essencialmente baseados na observação do
processo de internacionalização do sector das indústrias transformadoras, sendo
um facto que o nível de investimento requerido para a instalação de raiz de uma
unidade fabril influencia a opção por um dos modelos acima referidos.
Um maior grau de exigência financeira, criando estruturas físicas menos
flexíveis, associadas a níveis de exploração de maior volume, como forma de
obter retorno do capital investido, implicam que se tenha mais ponderação na
decisão de expansão internacional, sendo natural que a mesma se faça por
etapas, levando a abordagens iniciais dos mercados com opção por menor grau de
envolvimento, (Hollensen, 2007).
Este autor refere que as características do meio envolvente e as tipicidades da
empresa são os dois grandes grupos de factores a ter em atenção na construção
do modelo de internacionalização.
As características do meio envolvente, a estrutura industrial do país de
destino do investimento, o grau de internacionalização do mercado, o seu
potencial, o nível de concorrência existente e os produtos substitutos, a par
das distâncias geográficas e da composição demográfica e cultural, são os
parâmetros relevantes a serem alvo de análise, (Hollensen, 2007).
No tocante aos factores que caracterizam a empresa, o autor realça o grau de
internacionalização já atingido, mesmo que o envolvimento no negócio
internacional seja realizado pela forma mais simples, referindo ainda, os
recursos disponíveis, as características da actividade produtiva, os objectivos
a atingir com a expansão do negócio para o mercado externo e as relações e
redes em que se insere internacionalmente.
Vejamos agora o Modelo de Uppsala e a Teoria das Redes.
3.2. O MODELO DE UPPSALA
Um dos modelos mais frequentemente utilizados para estudar o processo de
internacionalização, nomeadamente das pequenas e médias empresas, é o Modelo de
Uppsala, o qual está associado aos trabalhos de investigação desenvolvidos, em
meados dos anos 60, na Universidade de Uppsala, por um grupo de investigadores
liderado pelo Professor Sune Carlson. Comparando os países nórdicos com a
maioria das regiões do mundo, encontramos uma área de grande homogeneidade
(Björkman e Forsgren, 1997). Os países têm dimensões geográficas similares, a
sua História entrecruza-se e a proximidade linguística é significativa. Todas
elas são economias abertas e as empresas procuraram no exterior oportunidades
de negócio, eventualmente, segundo os mesmos autores, pelas dimensões limitadas
da região em que se inseriam. A importância e relevância do comércio
internacional influenciaram igualmente os académicos e os investigadores
nórdicos. Os estudos retratavam duas percepções fundamentais. A primeira tinha
a ver com o facto de se considerar que existe uma profunda diferença entre as
operações no mercado doméstico e as operações nos mercados externos, as quais
devem ser analisadas tendo em atenção as limitações de conhecimento internas à
própria empresa. A segunda questão fundamental seria que o conceito de empresa
subjacente ao estudo dos investigadores nórdicos não era o mesmo que o
utilizado nas principais correntes teóricas sobre economia. Em meados dos anos
70 houve estudos que tomaram como ponto de partida o modelo acima referido,
destacando que ele se caracterizava, precisamente, por considerar que o
processo de internacionalização se traduzia numa progressão incremental que
levava a sucessivas fases de maior envolvimento no mercado externo, através de
modos de operação internacional com crescente grau de exigência em termos de
recursos, e em que as distâncias geográficas, entre o país de origem da empresa
e os mercados alvo, iam aumentando (Johanson e Wiedersheim-Paul, 1975), e
(Johanson e Vahlne, 1977).
O Modelo de Uppsala deve ser considerado em dois planos: o operacional e o
teórico (Petersen e Pedersen, 1997). Afirmam esses mesmos autores, que ele
começou por ser estudado no plano operacional para depois se inferir o plano
teórico. Fica explícito que o processo incremental tem essencialmente
subjacente a variável geográfica, considerando-se que as empresas preferem
iniciar o processo de internacionalização por mercados que apresentam
semelhanças com o doméstico, falando-nos em distância psíquica. O conceito de
distância psíquica tem um cariz cultural, e deve ser considerado com base em
decisões de indivíduos e não como uma variável independente que explica o
processo de internacionalização das empresas (Langhoff, 1997). Na verdade, o
autor refere que a distância psíquica não é um factor objectivo, não podendo
ser considerada uma variável independente que influencia todas as empresas da
mesma maneira. Assim sendo, questiona-se se distância psíquica não deverá ser
um conceito que abrange as diferenças ou semelhanças culturais. O autor chama
claramente a atenção para que se perceba que o modelo em análise assume que
todas as empresas, num determinado estádio de internacionalização, são levadas
a ponderar as diferenças culturais, e estas exercem a sua influência no mesmo
sentido, ou seja, da importância do estudo das referidas diferenças, quer se
trate de pequenas e médias empresas, quer de multinacionais. Por outro lado, a
distância psíquica, neste sentido lato, abarcando a componente geográfica e a
componente cultural, não deve ser analisada da perspectiva da unidade país, mas
sobretudo tendo em atenção regiões com alguma homogeneidade.
3.3. TEORIA DAS REDES
A existência de um conjunto de organizações, mesmo de reduzida dimensão, que se
relacionam regularmente entre si, forma uma rede de trocas, compreendendo-se
que pode ser no sentido de intercâmbio económico, social, cultural, entre
outros campos possíveis, (Cook e Emerson, 1978).
Os sistemas industriais implicam que as empresas estejam integradas em
processos de produção, distribuição e consumo de bens e serviços, constituindo
estes sistemas redes de relações empresariais. A divisão de actividades, de
acções e de trabalhos entre as diversas unidades económicas consideradas
revelam que estas estão dependentes entre si. No entanto, as diversas
actividades que ocorrem entre os elementos da rede, e entre estes e o espaço
exterior à mesma, têm de ser coordenadas, não existindo uma unidade central de
gestão de todo o sistema. É através da interacção das diferentes firmas que
integram a rede que se consegue a coordenação dos esforços de cada componente.
O preço poderá ser, por exemplo, uma das variáveis, entre muitas outras, a
conduzir a situações de equilíbrio, (Johanson e Mattsson, 1988).
As organizações ligadas a actividades de negócio, em geral, operam em ambientes
que incluem um número definido de actores. Estes estão em constante
relacionamento entre si e esta situação conduz ao desenvolvimento de uma
estabilidade relacional que se vai traduzir num processo organizado de trocas.
No longo prazo, o mútuo conhecimento que se vai consolidando, leva a que se
reduza o risco do desenvolvimento do processo de relacionamento dentro da rede,
(Axelsson e Easton, 1992).
A internacionalização depende da organização do conjunto das relações na rede,
sendo os padrões desenvolvidos e os comportamentos manifestados o corolário das
relações que se estabelecem entre os vários actores, introduzindo-se um
elemento multilateral na internacionalização, (Johanson e Vahlne, 1992). A
internacionalização é influenciada pelo contexto onde a empresa opera, (Madsen
e Servais, 1997). Segundo estes autores, o grau de internacionalização da
empresa dependerá, assim, das redes estabelecidas na indústria, bem como da
posição que ela ocupa nessa rede, sendo essa posição fortemente determinada
pela vantagem específica de cada empresa, ou seja, dificilmente uma unidade
económica sem nada para oferecer acederá a este tipo de redes ou desenvolverá o
seu processo de internacionalização. O desenvolvimento industrial das empresas
em novos mercados confronta-se com uma multiplicidade de factores integrantes
do meio envolvente que afectam as relações de negócio. Neste sentido, é
relevante perceber a base da construção de redes como forma de abordagem do
mercado, o que tem a ver com a compreensão de se combinarem recursos
heterogéneos com actores diversos e várias actividades (Nieminen e Törnross,
1997). Considerando uma relação focada no negócio entre um fornecedor e um
cliente, é expectável que, para que ambos possam aceder a recursos controlados
por terceiros, não sendo esses recursos naturalmente coincidentes, as duas
empresas tenham outras relações de troca que vão para além da denominada
relação focal. No entanto, essas relações com terceiros podem ter impactos
nesta última, positivos e negativos, fruto de interdependências entre relações
com ligação em rede, (Holm e Johanson, 1997).
4. ESTUDO EMPÍRICO
4.1. ENQUADRAMENTO GERAL
De acordo com os relatórios elaborados pela McGraw Hill Construction,
nomeadamente na sua publicação denominada Engineering News Record, o mercado
internacional de obras públicas continuava fluorescente nos anos 2005 e 2006,
sendo um negócio forte nos países desenvolvidos e um negócio em crescimento nos
países em vias de desenvolvimento. Nestes últimos, o investimento interno,
nomeadamente o investimento público, bem como o investimento externo e o apoio
de organizações internacionais, sobretudo do sector financeiro, tem sido
fortemente canalizado para a construção de grandes infraestruturas,
consideradas indispensáveis ao desenvolvimento económico, como são exemplo as
redes rodoviárias e as estruturas de saneamento básico e produção de energia.
Em 2006 os projectos de obras públicas afectos aos maiores empreiteiros
internacionais ascendiam a 224,43 biliões de dólares, o que representava um
crescimento de 18,5% em relação ao ano de 2005, em que o valor homólogo era de
189,41 biliões de dólares.
4.2. GRANDES EMPREITEIROS INTERNACIONAIS – CONCEITO E RANKINGS
A Mcgraw Hill Construction elabora anualmente uma listagem das 225 maiores
empresas internacionais de obras públicas, segundo o critério do volume de
negócios fora do mercado doméstico donde cada empreiteiro é oriundo. Neste
sentido, podemos ter como grandes empresas internacionais unidades económicas
que, no conjunto de obras em que participam, apresentam um volume de actividade
inferior ao de outras empresas que têm uma importante carteira de trabalhos no
mercado doméstico. Adicionalmente a mesma entidade elabora uma listagem das
grandes empresas de obras públicas, numa perspectiva global, em que se
considera o valor total do volume de negócios. Em termos geográficos são
considerados nove grandes mercados: América do Norte, América Latina, Caraíbas,
Europa, Norte de África, África Subsariana, Médio Oriente, Ásia e Oceânia. No
período 2005/2006 os 225 maiores empreiteiros internacionais eram oriundos de
37 países, sendo 51 empresas originárias dos Estados Unidos, 49 originárias da
China, 22 da Turquia, 15 do Japão, 11 de Itália e 10 da Coreia do Sul. Em
apenas 6 países encontramos cerca de 70% dos grandes empreiteiros
internacionais. Na maioria dos países, as grandes empresas internacionais do
sector são simultaneamente as grandes empresas em termos globais, embora com
algumas excepções. No caso dos Estados Unidos as grandes empresas
internacionais são cerca de metade das grandes empresas em termos globais, o
que traduz, certamente, um mercado doméstico forte e com um nível de procura
que permite a situação retratada. No que concerne à República Popular da China
temos a situação inversa. São as empresas numa perspectiva global que
representam cerca de metade das empresas fortes em termos internacionais. Tudo
indica que existe uma preocupação em ocupar espaço nos mercados externos,
podendo inferir-se que internamente a carteira de trabalhos é alvo de algum
planeamento central, que evita uma concorrência aguerrida. O terceiro realce
vai para a Turquia, em que as empresas presentes no ranking internacional quase
que representam o triplo do número de empresas que estão no ranking global. No
caso vertente parece-nos mais plausível acreditar que se trata de um mercado
doméstico ainda pouco dinâmico e menos consistente em termos económicos para
permitir uma concorrência interna que viabilize várias empresas de obras
públicas com dimensão minimamente significativa. Por outro lado, ganhar
expressão internacional e aproveitar negócios no mercado externo que suportem o
crescimento de empreiteiros turcos justifica a relação que referimos entre
empresas internacionais e empresas globais. Nos restantes casos as empresas
internacionais coincidem, com uma ou outra excepção, com as empresas fortes nos
respectivos mercados domésticos.
Mercado da América Latina
O mercado da América Latina é aqui considerado com 19 países: Argentina,
Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala,
Guyana, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai,
Venezuela, Suriname.
No Quadro I começamos por dar realce ao peso que o conjunto de empresas
oriundas de um mesmo país tem no investimento total internacional na América
Latina em obras públicas, o que dá uma perspectiva de um interesse
macroeconómico ou geoestratégico com que este mercado é abordado.
Quadro I
Logo numa primeira leitura verificamos que as empresas espanholas fazem uma
forte aposta no mercado da América Latina, seguindo-se as empresas dos Estados
Unidos e de Itália. Em termos de individualização dos países o destaque vai
ainda para as empresas do Brasil, França e China.
No Quadro II apresentamos o número de empresas de cada país que actuava no
global do Mercado da América Latina, no período 2005/2006, destacando-se na
terceira coluna a percentagem que representam face ao total de empresas
internacionais do sector oriundas desse mesmo país, considerando apenas as 225
maiores. Na quarta coluna lemos o número de países em que, em conjunto, as
empresas oriundas de um determinado país estão presentes, e na última coluna a
percentagem que esses mercados representam, em número absoluto, no conjunto dos
19 países/mercados considerados na América Latina.
Quadro_II
Naturalmente que nos casos dos países que têm um grande empreiteiro
internacional, se ele actua no mercado da América Latina então podemos dizer
que estão ali presentes todas as grandes empresas oriundas desse país, embora
aqui a análise tenha pouco significado. Já no que concerne ao caso espanhol a
ideia da sua forte aposta no mercado latino-americano é mais uma vez
corroborada, em complemento à leitura do quadro II, pela presença das suas oito
empresas internacionais.
Nesta mesma perspectiva tem significado realçar os casos de Itália, 7 em 11
empresas, de França, 5 em 8 empresas, dos Estados Unidos, 27 em 51 empresas, o
Japão, 7 em 15 empresas, embora este último com pouco significado em termos de
volume de negócios e a China com 15 em 49 empresas.
Olhando para o número de mercados em que as empresas, por conjunto de país de
origem, estão presentes, verificamos que são os países de origem da maior
quantidade de empresas internacionais em actividade na América Latina aqueles
em que se verifica, simultaneamente, que as suas empresas actuam em maior
número de segmentos geográficos. Esta situação parece ser uma constatação
normal, mas vem confirmar algumas orientações destas multinacionais de obras
públicas na sua presença nos mercados externos em estudo.
Destacando, assim, os dados mais relevantes, temos as empresas espanholas a
aparecerem em 17 mercados, as italianas em 15, as chinesas em 12, as francesas
em 10, e aqui temos também o caso brasileiro em 10, e as estadunidenses em 9.
No caso das empresas oriunda dos Estados Unidos, embora em termos absolutos
sejam 27, estão em apenas nove mercados, e dizemos apenas por comparação com os
casos anteriores em termos do binómio em análise. Este aspecto será relevado no
ponto seguinte.
4.3. SUBSEGMENTAÇÃO DO MERCADO DA AMÉRICA LATINA
Podemos agora visualizar nos Quadros III a VII a localização operacional destes
grandes empreiteiros internacionais pelos 19 países do grande Mercado da
América Latina, considerando o número de empresas por país de origem em cada um
desses mercados, apresentados por ordem alfabética.
Quadro III
Quadro IV
Quadro V
Quadro VI
Quadro VII
A análise conjunta de todos os mercados permitir-nos-á perceber que se podem
identificar alguns padrões de internacionalização dos grandes empreiteiros para
a América Latina. No entanto, antes de iniciarmos essa discussão será relevante
podermos ainda dispor de mais um quadro com informação sobre as dez maiores
empresas internacionais em termos de volume de negócios restrito ao mercado
geográfico em estudo, indicando o país de origem de cada uma delas, embora não
nos tenha sido possível saber o quantitativo do turnover individual em causa.
Encontramos três empresas espanholas nas primeiras dez, bem como três empresas
italianas, restando duas estadunidenses, uma brasileira e uma francesa. Noutra
perspectiva podemos dizer que temos 7 empresas da Europa latina, uma sul-
americana e duas dos Estados Unidos nos principais empreiteiros internacionais
a actuar neste mercado. A análise que se segue é ainda suportada pelo Quadro
apresentado no Anexo_I, que nos dá a conhecer as empresas presentes no mercado
da América Latina, em quantos países cada uma delas está a operar e a sua forma
de operação internacional.
4.4. DISCUSSÃO DAS HIPÓTESES
· Hipótese 1: As conclusões do Modelo de Uppsala são aplicáveis na
internacionalização das empresas de obras públicas para o Mercado da América
Latina.
Gostaríamos de começar por referir que a hipótese em causa não afirma que todas
as empresas se internacionalizam de acordo com o modelo de Uppsala, mas sim que
existe um número suficiente das mesmas a que aquele se aplica.
A importância da solidez financeira e técnica das empresas de obras públicas
implica, em muitos casos, que se desenvolvam trabalhos em diversos mercados,
como forma de rendibilizar os investimentos, sobretudo em activos fixos, embora
se encontre neste sector de actividade frequente recurso à locação operacional.
Não deixa, no entanto, e dependendo da dimensão da empresa, de se constatar que
alguns empreiteiros são mais concentrados em termos do binómio produto/mercado.
Estamos perante a uma primeira hipótese que é a de aceitarmos que o Modelo de
Uppsala, na sua formulação clássica, enforma o processo de internacionalização
de muitas empresas de obras públicas. Consideramos a proximidade geográfica não
apenas quando existem fronteiras terrestres entre dois territórios, mas também
se eles se inserirem em regiões bem delimitadas, em que a proximidade das
componentes territoriais é muito significativa.
De uma forma geral a internacionalização por etapas, teorizada pelo referido
modelo, tem subjacente a falta de informação sobre os mercados externos e a
necessidade de se adquirir, passo a passo, experiência internacional. Neste
sentido percebemos facilmente que, não sendo os países da América Latina
conhecidos por terem um papel muito activo nos mercados externos de obras
públicas, será expectável que as empresas deles oriundas dêem preferência a
operar na região.
Sabemos que a multinacional brasileira, Construtora Andrade Gutierrez SA, 106ª
do rankinginternacional, considerando todos os mercados geográficos, opera
apenas em 5 subsegmentos, sendo 4 na América Latina, e a Construções e Comércio
Camargo Correa, 186ª do ranking, opera em 6 subsegmentos, sendo 5 na América
Latina. A própria empresa brasileira Construtora Norberto Oderbrecht, 21ª do
ranking, de maior dimensão e com uma presença em 7 segmentos geográficos,
trabalha no total em 14 subsegmentos, sendo metade deles na América Latina. A
empresa equatoriana Santos CMI Construction Inc., 214ª do ranking, no total
está em 6 subsegmentos, sendo 5 na América Latina e o outro nas Caraíbas.
Face ao exposto podemos concluir que as empresas latino-americanas, inseridas
neste sector de actividade, se enquadram, no seu processo de
internacionalização, no Modelo de Uppsala. A proximidade geográfica está
igualmente bem presente na internacionalização das empresas dos Estados Unidos
para a América Latina, sendo sobretudo forte nos mais importantes: México, o
mais próximo, e Brasil e Argentina, os mais interessantes, a par daquele, em
termos económicos.
· Hipótese 2: A análise da variável cultural, falando-se em distância
psicológica, é relevante na internacionalização das empresas de obras públicas
para o Mercado da América Latina.
Passamos, agora, à discussão da hipótese da proximidade cultural ser um factor
relevante no processo de internacionalização para este mercado, nomeadamente
ponderando a variável linguística. Esta parece ter grande relevância,
sobressaindo claramente a forte presença de empresas espanholas, pois do Quadro
II concluímos que as 8 multinacionais do ranking internacional operam nesta
zona do globo, estando em 17 dos 19 segmentos de mercado ali considerados. Numa
perspectiva mais lata, considerando as empresas italianas e francesas, a
relação América Latina/Europa Latina parece estreitar-se ainda mais, afirmação
que reforçamos se atendermos ao Quadro VIII. Também a presença de empresas
latino americanas nos mercados dos países da sua região vem ao encontro desta
constatação da relevância da proximidade cultural, em que se destaca,
sobretudo, o caso das empresas brasileiras e da empresa equatoriana. Por outro
lado, verificamos que não há, excepto estes dois casos que referimos, grandes
empresas de obras públicas oriundas de países da América Latina, o que vem
reforçar a ideia de que a sua dependência, neste sector, face a empresas
oriundas de outras zonas do globo, é significativa.
Quadro VIII
De algum modo já era expectável que, para empresas oriundas de países com menor
projecção internacional das suas unidades económicas, as distâncias culturais e
geográficas influenciassem, quase em paralelo, as decisões de
internacionalização, mas a distância psicológica é claramente um factor de
grande relevo na primeira fase de penetração dos mercados externos, mesmo para
empresas com maior experiência internacional. Assim sendo, parece-nos que
podemos considerar, face aos dados disponíveis e à leitura que os mesmos
permitem, a aceitação da hipótese 2.
· Hipótese 3: Tem significado considerar o enquadramento da internacionalização
das empresas de obras públicas para o Mercado da América Latina na Teoria das
Redes, sustentado em variáveis específicas do impacto internacional desta
actividade.
Entramos agora na questão que mais facilmente se aceita, dado que existe um
vasto conjunto de empresas internacionais de obras públicas a actuar na América
Latina, em que claramente não se pode falar nem de proximidade geográfica nem
de proximidade cultural. Certamente que alguns desses casos resultam da
conjunção de dois factores relevantes: a experiência internacional já adquirida
e o interesse económico em realizar determinados trabalhos em mercados que têm
o seu atractivo económico e financeiro. Mas podemos, para algumas das
multinacionais em causa, encontrar relações externas ao negócio propriamente
dito, que explicam ou podem explicar o interesse em ir para a América Latina.
Embora entremos num campo que implica profunda investigação para se conhecerem
os pormenores, há aspectos mais macro que facilmente podemos inferir. No caso
dos Estados Unidos, por exemplo, embora haja uma relativa proximidade
geográfica, tudo indica existirem motivos político-militares, e no caso da
China sabemos que se trata de um país que tem lacunas em termos de matérias-
primas, nomeadamente, petróleo. São essencialmente pistas para investigação
futura, mas que apontam para relações em rede, que extrapolam a interacção
económica e subentendem outros interesses relevantes. Repare-se que a
proximidade entre Japão e Estados Unidos em termos de relacionamento político e
económico, e, mais evidente ainda, a proximidade entre Israel e Estados Unidos,
nos mesmos factores, poderão justificar a presença de empresas japonesas e
israelitas na América Latina, sendo algo relevante o caso japonês. A análise de
composição de alguns consórcios, que não tem lugar no presente estudo, ajudaria
a dar resposta ao que se infere da investigação agora realizada.
5. CONCLUSÕES
Em síntese, o estudo do Mercado da América Latina diz-nos que as empresas de
obras públicas com menos experiência internacional ponderam a proximidade
geográfica como variável subjacente ao processo de internacionalização,
situação que se vai alterando com o ganho de experiência. A proximidade
cultural também é uma variável importante no processo de abordagem dos mercados
externos por parte de muitas empresas com menor grau de internacionalização.
Existem variáveis económicas e políticas que parecem influenciar a
internacionalização das empresas de obras públicas. A relação entre países ou
entre empresas de diferentes países, por razões estratégicas, eventualmente
influenciadas por variáveis de politica internacional, poderão conduzir à
criação de redes específicas, abrindo-se aqui uma linha de investigação.